Você está na página 1de 2

2) Caso o Reino Unido fosse signatário da CISG, essa convenção se aplicaria à

relação jurídica em discussão de forma direta, nos termos de seu art. 1(1)a.
Dessa forma, convém esboçar os fundamentos da argumentação de cada uma
das partes com base nos preceitos convencionais.

Na perspectiva da BrazilAir, houve descumprimento do contrato em razão de


desconformidade das mercadorias. Isso porque, nos termos do art. 35(2)b, as
lâminas para turbinas de aviões estavam implicitamente vocacionadas a um
uso especial, qual seja, o emprego nos aviões já utilizados pela empresa
brasileira. Essa especificação do uso era exigível da vendedora por duas
razões: a intenção impossível de se ignorar de que as lâminas foram
compradas para uso em seus aviões (art.8(1)) e as práticas das partes (art.
9(1)), na medida em que a vendedora dispunha de um modelo ‘já conhecido’
pelas contratantes.

O inadimplemento fundamental do contrato autoriza ambos o pedido de


substituição de mercadorias e de indenização, já que o primeiro não impede o
exercício do segundo (art.45(2)). Quanto ao primeiro, a comunicação
desconformidade 3 meses após o recebimento das mercadorias foi realizada
em momento razoável, pois o vício de uso só era cognoscível a partir do
momento em que seria empregado nos aviões. Aplica-se, portanto, o direito de
substituição da mercadoria desconforme do art. 46(2).

Quanto à indenização, o valor inclui tanto os danos emergentes com a


destruição da aeronave quanto demais lucros cessantes, conforme o art. 74.
Em relação à aplicabilidade da cláusula penal, ela estaria afastada porque a
resolução do contrato decorre de culpa da vendedora, incidindo
analogicamente a exclusão de responsabilidade do art. 80.

Já os argumentos da Bolls Boyce consistem no dever de a compradora


conhecer as especificações técnicas de sua aeronave e, consequentemente, o
fato de que as lâminas seriam inadequadas para os aviões. Seria aplicado,
assim, o art. 35(3) para afastar o descumprimento do contrato.
Subsidiariamente, a empresa brasileira teria perdido o direito de alegar a
desconformidade por excesso de prazo razoável (art. 39(1)), na medida em que
esperou três carregamentos mensais para empregar a mercadoria em seus
aviões e descobrir a inadequação. Sem qualquer desconformidade, não há
direito de substituição de mercadoria porque foge das normas contratuais.

No que tange à indenização, ainda que aceita a responsabilidade da Bolls


Boyce, não seriam incluídos os prejuízos com os danos sofridos pelo avião,
porque decorreram de imprudência da compradora em empregar as lâminas
para turbina sem verificar sua compatibilidade. Assim, por serem consequência
possível da desconformidade, estariam excluídos da indenização nos termos
do art. 74, 2ª parte. Finalmente, a multa contratual é devida, porque a rescisão
não prejudica disposições contratuais que visam a liquidar o dano em caso de
resolução, como se infere do art. 81(1).

Você também pode gostar