O documento discute a relação entre contribuição e proteção no sistema previdenciário brasileiro. Defende que a condição de segurado não depende do pagamento de contribuições em dia, mas que há uma correspondência entre contribuição e benefício. Conclui que dependentes podem pagar contribuições em atraso após a morte do segurado, mas não a totalidade delas, para preservar o equilíbrio atuarial do sistema.
O documento discute a relação entre contribuição e proteção no sistema previdenciário brasileiro. Defende que a condição de segurado não depende do pagamento de contribuições em dia, mas que há uma correspondência entre contribuição e benefício. Conclui que dependentes podem pagar contribuições em atraso após a morte do segurado, mas não a totalidade delas, para preservar o equilíbrio atuarial do sistema.
O documento discute a relação entre contribuição e proteção no sistema previdenciário brasileiro. Defende que a condição de segurado não depende do pagamento de contribuições em dia, mas que há uma correspondência entre contribuição e benefício. Conclui que dependentes podem pagar contribuições em atraso após a morte do segurado, mas não a totalidade delas, para preservar o equilíbrio atuarial do sistema.
Com base nas reflexões trazidas no texto proposto para debate, bem como nas explanações realizadas em aula, é essencial frisar que a previdência social brasileira se organiza, dentre outros, segundo dois princípios de igual relevância normativa, a filiação obrigatória e a contribuição financeira dos segurados com o objetivo de preservar o equilibro financeiro e atuarial do sistema como um todo.
Nesse sentido, convém construir os institutos jurídicos do Direito previdenciário
acentuando a conexão entre a proteção obtida e a contribuição devida, embora a correspondência entre ambas as posições jurídicas não se realize aos moldes de uma relação sinalagmática perfeita característica do Direito privado. O recebimento dos diversos benefícios sociais oferecidos pela seguridade social pátria decorre não unicamente da condição de segurado, mas se fundamenta igualmente na participação pecuniária em todo o sistema de socialização de riscos.
Isso não significa que o ônus de financiamento do sistema deva recair
integralmente sobre os segurados ou que a lei não possa prover exceções à imprescindibilidade da contribuição com base em outros valores jurídicos em jogo. Só não se pode perder de vista que a justificação do direito aos benefícios é, como premissa geral, dependente do sacrifício econômico realizado pelo segurado.
Com base nessa compreensão geral da finalidade da previdência social, cumpre
enfrentar o problema proposto, qual seja, a possibilidade de dependentes do contribuinte individual com contribuições em atraso realizarem o pagamento a posteriori do falecimento do segurado, com o objetivo de recebimento da pensão por morte. Do exposto supra, esclarece-se que a condição de segurado não se identifica com o pagamento das contribuições: essa obrigação pecuniária, na realidade, é um efeito jurídico da qualidade de segurado, que se adquire, nos casos de filiação obrigatória, pelo mero fato de realização de atividade econômica. Tanto é assim que há segurados que sequer devem, eles próprios, recolher suas contribuições à Previdência, tendo as quantias retidas da integralidade de sua remuneração diretamente pelo empregador.
Tendo-se em vista a dissociação entre qualidade de segurado e dever de adimplir
as contribuições previdenciárias, é possível que esse dever seja pago por terceiro interessado, a exemplo dos dependentes do contribuinte individual inadimplente. Há, nessa situação, primazia à condição de segurado possuída pelo praticante de atividade econômica, sem vulnerar a lógica de sacrifício econômico para recebimento do benefício, que será realizado, parcialmente, pelos parentes do de cujus.
Entretanto, conforme pondera Renata de Oliveira, ‘a permissão desse
recolhimento extemporâneo das contribuições pode, ainda, representar um estímulo à inadimplência, uma vez que permite ao interessado regularizar o débito do segurado após a ocorrência do sinistro (morte)’. A preocupação da autora lastreia-se em adequada compreensão do sistema de previdência social, porquanto a permissão do recolhimento extemporâneo sem limitações violaria o princípio constitucional do equilíbrio atuarial e financeiro na medida em que cria incentivos para a sonegação previdenciária.
Deveras, em um cenário em que a integralidade das contribuições pode ser
sanada por dependentes após o sinistro, a relação de correspondência (ainda que não plenamente sinalagmática) entre proteção e contribuição transforma-se em uma distorcida relação entre benefício e contribuição. Caso o sinistro da pensão por morte nunca venha a ocorrer, assim, o segurado nunca terá contribuído com a Previdência, prejudicando a coletividade dos filiados ao sistema. Portanto, concordo com a conclusão da autora de que a solução dogmática mais conforme à finalidade do sistema é permitir o pagamento extemporâneo apenas de contribuições faltantes pontuais, sem abranger a integralidade ou a substancial maioria dos pagamentos.
Essa conclusão permite responder a pergunta proposta a debate com maior
objetividade. Entendo que a relação jurídica entre previdência e segurado é unitária, centrando-se na qualidade de filiado, enquanto o pagamento de contribuições é uma obrigação jurídica decorrente dessa relação. A cisão da relação jurídica em uma exclusivamente protetiva e outra exclusivamente contributiva faria desaparecer a correspondência (sinalagma imperfeito) em termos de justificação causal entre a contribuição e a proteção, com base no princípio do equilíbrio financeiro e atuarial, embora sejam reconhecidas exceções nos termos da lei. Essa correspondência torna-se relevante, dentre outros casos, para o deslinde da controvérsia sobre a regularização das contribuições pelos dependentes do segurado falecido contribuinte individual, ao limitar o exercício desse direito subjetivo dos potenciais beneficiários da pensão por morte.
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