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DTB 0436 – Seguridade Social – Relatório 04

Caio Xavier 10776252


Com base nas reflexões trazidas no texto proposto para debate, bem como nas
explanações realizadas em aula, é essencial frisar que a previdência social brasileira se
organiza, dentre outros, segundo dois princípios de igual relevância normativa, a
filiação obrigatória e a contribuição financeira dos segurados com o objetivo de
preservar o equilibro financeiro e atuarial do sistema como um todo.

Nesse sentido, convém construir os institutos jurídicos do Direito previdenciário


acentuando a conexão entre a proteção obtida e a contribuição devida, embora a
correspondência entre ambas as posições jurídicas não se realize aos moldes de uma
relação sinalagmática perfeita característica do Direito privado. O recebimento dos
diversos benefícios sociais oferecidos pela seguridade social pátria decorre não
unicamente da condição de segurado, mas se fundamenta igualmente na participação
pecuniária em todo o sistema de socialização de riscos.

Isso não significa que o ônus de financiamento do sistema deva recair


integralmente sobre os segurados ou que a lei não possa prover exceções à
imprescindibilidade da contribuição com base em outros valores jurídicos em jogo. Só
não se pode perder de vista que a justificação do direito aos benefícios é, como premissa
geral, dependente do sacrifício econômico realizado pelo segurado.

Com base nessa compreensão geral da finalidade da previdência social, cumpre


enfrentar o problema proposto, qual seja, a possibilidade de dependentes do contribuinte
individual com contribuições em atraso realizarem o pagamento a posteriori do
falecimento do segurado, com o objetivo de recebimento da pensão por morte. Do
exposto supra, esclarece-se que a condição de segurado não se identifica com o
pagamento das contribuições: essa obrigação pecuniária, na realidade, é um efeito
jurídico da qualidade de segurado, que se adquire, nos casos de filiação obrigatória, pelo
mero fato de realização de atividade econômica. Tanto é assim que há segurados que
sequer devem, eles próprios, recolher suas contribuições à Previdência, tendo as
quantias retidas da integralidade de sua remuneração diretamente pelo empregador.

Tendo-se em vista a dissociação entre qualidade de segurado e dever de adimplir


as contribuições previdenciárias, é possível que esse dever seja pago por terceiro
interessado, a exemplo dos dependentes do contribuinte individual inadimplente. Há,
nessa situação, primazia à condição de segurado possuída pelo praticante de atividade
econômica, sem vulnerar a lógica de sacrifício econômico para recebimento do
benefício, que será realizado, parcialmente, pelos parentes do de cujus.

Entretanto, conforme pondera Renata de Oliveira, ‘a permissão desse


recolhimento extemporâneo das contribuições pode, ainda, representar um estímulo à
inadimplência, uma vez que permite ao interessado regularizar o débito do segurado
após a ocorrência do sinistro (morte)’. A preocupação da autora lastreia-se em
adequada compreensão do sistema de previdência social, porquanto a permissão do
recolhimento extemporâneo sem limitações violaria o princípio constitucional do
equilíbrio atuarial e financeiro na medida em que cria incentivos para a sonegação
previdenciária.

Deveras, em um cenário em que a integralidade das contribuições pode ser


sanada por dependentes após o sinistro, a relação de correspondência (ainda que não
plenamente sinalagmática) entre proteção e contribuição transforma-se em uma
distorcida relação entre benefício e contribuição. Caso o sinistro da pensão por morte
nunca venha a ocorrer, assim, o segurado nunca terá contribuído com a Previdência,
prejudicando a coletividade dos filiados ao sistema. Portanto, concordo com a conclusão
da autora de que a solução dogmática mais conforme à finalidade do sistema é permitir
o pagamento extemporâneo apenas de contribuições faltantes pontuais, sem abranger a
integralidade ou a substancial maioria dos pagamentos.

Essa conclusão permite responder a pergunta proposta a debate com maior


objetividade. Entendo que a relação jurídica entre previdência e segurado é unitária,
centrando-se na qualidade de filiado, enquanto o pagamento de contribuições é uma
obrigação jurídica decorrente dessa relação. A cisão da relação jurídica em uma
exclusivamente protetiva e outra exclusivamente contributiva faria desaparecer a
correspondência (sinalagma imperfeito) em termos de justificação causal entre a
contribuição e a proteção, com base no princípio do equilíbrio financeiro e atuarial,
embora sejam reconhecidas exceções nos termos da lei. Essa correspondência torna-se
relevante, dentre outros casos, para o deslinde da controvérsia sobre a regularização das
contribuições pelos dependentes do segurado falecido contribuinte individual, ao limitar
o exercício desse direito subjetivo dos potenciais beneficiários da pensão por morte.

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