Você está na página 1de 16

FACULDADE DOM ALBERTO

MARCELA LHORRANA SILVA

ANÁLISE JURÍDICA SOBRE OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS RELACIONADOS


AO AUXÍLIO RECLUSÃO

LAVRAS
2023
FACULDADE DOM ALBERTO

MARCELA LHORRANA SILVA

ANÁLISE JURÍDICA SOBRE OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS RELACIONADOS


AO AUXÍLIO RECLUSÃO

Trabalho de conclusão de curso


apresentado como requisito parcial à
obtenção do título especialista em
DIREITO PREVIDENCIÁRIO.

LAVRAS
2023
AUXÍLIO RECLUSÃO.

Marcela Lhorrana Silva1

Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também
que ele foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou
extraído, seja parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas
públicas consultadas e corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos
dados resultaram de investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção
deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis,
penais e administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de
plágio ou violação aos direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de
Prestação de Serviços).

RESUMO

Este artigo científico empreende a análise do benefício previdenciário de auxílio-


reclusão, uma questão que tem sido objeto de considerável divergência doutrinária. Esse
benefício, por um lado, visa proporcionar suporte aos dependentes do indivíduo
encarcerado, mas, por outro lado, é percebido como um potencial violação ao Princípio da
Igualdade, uma vez que os familiares da vítima frequentemente não recebem qualquer
forma de apoio estatal devido à burocracia envolvida em litigar contra o poder público.
Diante desse contexto, o presente artigo tem como objetivo examinar tanto os aspectos
positivos quanto os negativos do auxílio-reclusão. A abordagem adotada neste trabalho
fundamenta-se na análise comparativa e explicativa, resultante do estudo das obras de
diversos autores, visando a proporcionar uma compreensão mais abrangente desse
benefício específico.

PALAVRAS-CHAVE: Previdência Social. Dependentes. Segurados. Auxílio Reclusão.


Princípios.

1
marcelalhorranaadv@gmail.com
Introdução

Este artigo tem o objetivo de esclarecer o tema do auxílio reclusão, abordando


quem possui esse direito, quem são os beneficiários, o que está previsto na legislação e
qual é a natureza desse benefício.
O auxílio reclusão é um benefício destinado aos dependentes do segurado de baixa
renda do Regime Geral da Previdência Social, concedido no caso de prisão do segurado,
enquanto perdurar essa privação. Esse benefício é objeto de debates doutrinários que
questionam sua função e constitucionalidade.
I. AUXÍLIO RECLUSÃO - CONCEITO

O auxílio reclusão constitui um benefício previdenciário destinado aos dependentes


do segurado que se encontra detido, em conformidade com as disposições da
Constituição Federal:

Art. 201 - A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de
caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o
11 equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: (Alterado pela
Emenda Constitucional-000.020-1998) [...] IV - Salário-família e auxílio reclusão
para os dependentes dos segurados de baixa renda; Ao conceituar o auxílio
reclusão, Hélio Gustavo Alves (2007, p. 37) explica que, “Auxílio reclusão é um
benefício de prestação continuada, devido aos dependentes do segurado preso,
que não continue recebendo renda, devido ao seu cárcere, tendo os mesmos
critérios da pensão por morte”.

Por outro lado, Juliana de Oliveira Xavier Ribeiro (2008, p. 241) esclarece que o
auxílio reclusão representa um suporte de natureza alimentar destinado aos dependentes
do segurado de baixa renda, que, por razões legais, tem sua liberdade restringida, não
sendo beneficiado por aposentadoria ou auxílio-doença.
Em síntese, pode-se afirmar que o auxílio reclusão é um benefício previdenciário
concedido exclusivamente aos dependentes do indivíduo de baixa renda que se encontra
detido, assemelhando-se à pensão por morte. É crucial destacar que o auxílio reclusão
não tem caráter indenizatório; assim, o detento em si não possui direito ao benefício,
apenas seus dependentes, conforme mencionado anteriormente.
De acordo com o Artigo 331, § 2.º da Instrução Normativa 45/2010, o menor com
idade entre 16 e 18 anos que esteja devidamente matriculado em instituição educacional é
equiparado à condição de preso.
O propósito fundamental desse benefício é evitar que a família do detento fique
desamparada em decorrência da privação da renda proveniente do trabalho que não será
exercido devido à prisão. O risco social coberto por esse benefício é a falta de renda
familiar resultante do recolhimento à prisão de um segurado do Regime Geral de
Previdência Social – RGPS.
1.1 . Natureza Jurídica do Auxílio Reclusão

O auxílio reclusão possui natureza de prestação pecuniária com característica de


benefício, presentando um caráter substitutivo ao visar suprir ou atenuar as necessidades
econômicas dos dependentes. No que se refere à sua natureza jurídica, destaca-se a
análise de Sérgio Pinto Martins (2009, p. 28), que argumenta que a natureza jurídica da
Seguridade Social é de caráter publicista, decorrente de lei (ex lege) e não da vontade das
partes (ex voluntates). A essência legal da seguridade social envolve, assim, o
contribuinte, o beneficiário e o Estado, que arrecada as contribuições, efetua os
pagamentos dos benefícios e administra o sistema.
De acordo com Hélio Gustavo Alves (2007, p. 33), o auxílio reclusão é considerado
um benefício previdenciário, sendo seu pagamento realizado de forma pecuniária e
contínua. Apresenta um caráter familiar, com uma cláusula suspensiva, tornando-se
exigível quando preenchidos os requisitos legais. Sua natureza jurídica é, portanto,
categorizada como benefício previdenciário.

1.2 . Requisitos para a concessão do Auxílio Reclusão

A concessão do benefício do auxílio reclusão encontra-se disciplinada no art. 80 da


Lei nº. 8.213/91, in verbis:

Art. 80. O auxílio reclusão será devido, nas mesmas condições da pensão por
morte, aos dependentes do segurado recolhido à prisão, que não receber
remuneração da empresa nem estiver em gozo de auxílio-doença, de
aposentadoria ou de abono de permanência em serviço. Parágrafo único. O
requerimento do auxílio reclusão deverá ser instruído com certidão do efetivo
recolhimento à prisão, sendo obrigatória, para a manutenção do benefício, a
apresentação de declaração de permanência na condição de presidiário.

A Emenda Constitucional nº 20 promoveu uma alteração na redação do inciso IV,


art. 201, da Constituição Federal, estipulando que, para a concessão do auxílio reclusão, o
segurado deve ser o provedor de uma família de baixa renda, não havendo a necessidade
de cumprir carência de contribuições, ao contrário do que ocorre no benefício de pensão
por morte.
Conforme estabelecido no art. 80 da Lei nº 8.213/91, o primeiro requisito para a
obtenção do auxílio reclusão é a prisão do segurado, que pode se dar nos âmbitos penal,
civil ou administrativo, de forma cautelar ou definitiva. O benefício é devido somente
enquanto o indivíduo estiver recolhido à prisão sob regime fechado ou semiaberto,
permitindo-se, nos demais casos, o exercício de trabalho externo e a obtenção de renda.
É importante ressaltar que, de acordo com o Decreto 3.048/99, no artigo 117, § 1º,
uma vez concedido o benefício, sua manutenção está condicionada à apresentação
trimestral de atestado, assinado por autoridade competente, com o intuito de comprovar a
permanência do segurado na condição de recluso.
Considerando que a base do benefício é o encarceramento, caso o detento escape
do estabelecimento prisional, o pagamento do auxílio reclusão será suspenso até sua
recaptura. Se o contribuinte perder a qualidade de segurado durante o período de fuga, a
concessão não será retomada na data da captura.
O segundo requisito para a concessão do auxílio reclusão é a qualidade de
segurado obrigatório ou facultativo do Regime Geral de Previdência Social no momento da
prisão.
É relevante destacar a definição de segurado, conforme apresentada por Castro e
Lazzari (2009, p. 175):

[...] É segurado da Previdência Social, nos termos do art. 9º e seus


parágrafos do Decreto n. 3.048/99, de forma compulsória, a pessoa física que
exerce atividade remunerada, efetiva ou eventual, de natureza urbana ou rural,
com ou sem vínculo de emprego, a título precário ou não, bem como aquele que a
lei define como tal, observadas, quando for o caso, as exceções previstas no texto
legal, ou exerceu alguma atividade das mencionadas acima, no período
imediatamente anterior ao chamado “período de graça”. Também é segurado
aquele se filia facultativa e espontaneamente à Previdência Social, contribuindo
para o custeio das prestações sem estar vinculado obrigatoriamente ao Regime
Geral de Previdência Social – RGPS ou a outro regime previdenciário qualquer [...].
A filiação após o momento do recolhimento ao cárcere não confere aos
dependentes do indivíduo o direito ao benefício, evitando possíveis fraudes contra o
regime que visa garantir a ideia de seguro social. A qualidade de segurado é mantida
mediante o correto recolhimento das contribuições previdenciárias, assim como no
denominado "período de graça", quando a obrigação de recolhimento não é compulsória
até doze meses após o livramento, preservando todos os direitos perante a previdência
social (Lei 8213/91, art. 16).
O terceiro requisito para a concessão do benefício é a condição de dependente do
segurado. Para fins previdenciários, são considerados dependentes: cônjuge,
companheira, companheiro e filho não emancipados, menor de vinte e um anos ou
inválido (primeira classe), cuja dependência econômica é presumida; os pais (segunda
classe); e irmão não emancipado, menor de vinte e um anos ou inválido (terceira classe).
Nos casos das classes segunda e terceira, destaca-se que é necessário comprovar a
dependência econômica. A ordem é excludente, porém, a existência de mais de um
dependente na mesma classe acarreta o fracionamento da prestação (Lei nº 12.470, de
2011).
O quarto critério estabelece que o detento não deve estar recebendo remuneração
da empresa, nem estar usufruindo de auxílio-doença, aposentadoria ou abono de
permanência em serviço durante o período de encarceramento. Caso contrário, a renda
familiar prevaleceria, não justificando o desamparo dos dependentes. Isso ocorre porque,
em tais situações, o recolhimento à prisão não interrompe o pagamento de nenhum dos
benefícios mencionados. Dessa forma, os dependentes não ficariam desassistidos
financeiramente pela ausência do segurado, cuja renda permanece inalterada (Lei nº
12.470, de 2011).
Como quinto e último requisito, destaca-se a necessidade de comprovação da
baixa renda do segurado, conforme texto adicionado pela Emenda Constitucional n. 20/98.
É importante salientar que a renda considerada é a do segurado, e não a de seus
dependentes. Essa medida visa reduzir o número de beneficiários do auxílio reclusão,
limitando o pagamento dos benefícios às famílias economicamente carentes. No entanto,
há discussões sobre a (in)constitucionalidade da Emenda Constitucional, visto que alguns
entendem que a condição de baixa renda contraria o princípio da universalidade de
cobertura e atendimento, impondo uma condição social ao segurado, e não aos seus
dependentes, resultando na falta de proteção social para quem necessita do benefício.
Nesse contexto, Rita de Cassia relata a existência de uma corrente jurisprudencial
que interpreta a renda bruta mensal como a renda do dependente, não a do segurado,
uma vez que o propósito do benefício seria garantir a subsistência daquele. Esse
entendimento foi consolidado na Súmula nº 5 da Turma Regional de Uniformização JEF
da 4ª Região: "Para fins de concessão de auxílio reclusão, o conceito de renda bruta
mensal se refere à renda auferida pelo dependente e não a do segurado recluso" (2016, p.
13).
No entanto, a questão foi decidida pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do
Recurso Extraordinário 587.365, tendo como relator o Ministro Ricardo Lewandowski. Por
maioria, prevaleceu o entendimento de que a renda mensal a ser considerada para aferir a
baixa renda é a do segurado, não a do dependente.
Atualmente, esse valor está reajustado em R$ 1.754,18 (um mil setecentos e
cinquenta e quatro e dezoito centavos), com validade a partir de 10/01/2023, conforme a
Portaria MPS/MF Nº 26 DE 10/01/2023.
A questão permanece polêmica, com duas correntes de pensamento sobre o
requisito de baixa renda, aplicando-o tanto ao segurado quanto aos seus dependentes,
dependendo do caso concreto.

1.3 . Início – suspensão – término do benefício

Quanto ao início do direito ao auxílio reclusão, adota-se a perspectiva de que este


se origina na data em que o segurado foi recolhido. Entretanto, essa prerrogativa é
mantida se a solicitação for feita à autarquia federal até 30 dias após o recolhimento do
indivíduo. Caso o requerimento seja efetuado após esse período de 30 dias da reclusão
do segurado, o benefício será devido a partir da data do pedido (IBRAHIM, 2009, p. 683).
O art. 344 da Instrução Normativa 45/2010, por sua vez, estabeleceu as
circunstâncias que suspendem o auxílio reclusão:

I - no caso de fuga;
II - se o segurado, ainda que privado de liberdade passar a receber auxílio
doença;
III - se o dependente deixar de apresentar atestado trimestral, firmado pela
autoridade competente, para prova de que o segurado permanece recolhido à
prisão;
IV - quando o segurado deixar a prisão por livramento condicional, por 16
cumprimento da pena em regime aberto ou por prisão albergue.
§ 1º Nas hipóteses dos incisos I e IV do caput, havendo recaptura ou
retorno ao regime fechado ou semiaberto, o benefício será restabelecido a contar
da data do evento, desde que mantida a qualidade de segurado.
§ 2º Se houver exercício de atividade dentro do período de fuga, livramento
condicional, cumprimento de pena em regime aberto ou prisão albergue, este será
considerado para verificação de manutenção da qualidade de segurado.

O benefício será finalizado após o livramento ou a progressão para o regime


semiaberto do segurado que se encontra preso, e nos demais casos relatados no art. 343
da Instrução Normativa 45/2010:

Art. 343. O auxílio reclusão cessa:


I - com a extinção da última cota individual;
II - se o segurado, ainda que privado de sua liberdade ou recluso passar a
receber aposentadoria;
III - pelo óbito do segurado ou beneficiário;
IV - na data da soltura; V - pela ocorrência de uma das causas prevista no
inciso III do art. 26, no caso de filho ou equiparada ou irmão, de ambos os sexos;
VI - em se tratando de dependente inválido, pela cessação da invalidez,
verificada em exame médico pericial a cargo do INSS;
VII - pela adoção, para o filho adotado que receba auxílio reclusão dos pais
biológicos, exceto quando o cônjuge ou o companheiro (a) adota o filho do outro.

No caso de falecimento do segurado, o benefício em vigor será transformado em


pensão por morte.
É relevante destacar ainda o art. 2º da Medida Provisória nº 83, de 12 de dezembro
de 2002, convertida na Lei nº 10.666, de 08 de maio de 2003, que estabelece:
Art. 2° O exercício de atividade remunerada do segurado recluso em
cumprimento de pena em regime fechado ou semiaberto que contribuir na
condição de contribuinte individual ou facultativo não acarreta a perda do direito ao
recebimento do auxílio reclusão para seus dependentes.
§ 1° O segurado recluso não terá direito aos benefícios de auxílio-doença e
de aposentadoria durante a percepção, pelos dependentes, do auxílio reclusão,
ainda que, nessa condição, contribua como contribuinte individual ou facultativo
permitido a opção, desde que manifestada, também, pelos dependentes, ao
benefício mais vantajoso.
§ 2° Em c aso de morte do segurado recluso que contribuir na forma do §
1o, o valor da pensão por morte devida a seus dependentes será obtido mediante
a realização de cálculo, com base nos novos tempos de contribuição e salários-de
contribuição correspondente, neles incluídas as contribuições recolhidas enquanto
recluso facultado a opção pelo valor do auxílio reclusão

Dessa forma, mesmo quando o segurado recluso recebe remuneração durante o


período de prisão, seus dependentes têm o direito de receber o auxílio reclusão. A norma
mencionada acima solucionou a contradição que existia entre a Lei 7.210/84 (Lei de
Execução Penal), a qual permite que o preso exerça atividades remuneradas, seja
internamente (art. 31 a 35) ou externamente (art. 36 e 37), e o art. 80 da Lei 8.213/91, que
anteriormente não permitia que o preso recebesse remuneração para que os dependentes
pudessem ter acesso ao benefício (Saringer, 2018).

1.4 . Princípios constitucionais pertencentes ao Auxílio Reclusão

É relevante salientar que alguns estudiosos se posicionam favoravelmente à


concessão do benefício de auxílio-reclusão, fundamentando-se em princípios
constitucionais e outros que, embora não explicitamente mencionados na Constituição,
desempenham um papel crucial. Neste contexto, serão examinados alguns princípios
considerados essenciais para o trabalho em questão.
Em primeiro lugar, destaca-se o princípio da solidariedade, que sustenta a
concessão do benefício, considerando a prioridade no atendimento à família do segurado.
Essa perspectiva encontra respaldo no art. 226 da Constituição Federal, o qual estipula
que a família é a base da sociedade e goza de proteção especial por parte do Estado
(Constituição Federal de 1988).
A Previdência Social tem como objetivo proteger a família através dos benefícios de
auxílio-reclusão e pensão por morte. Ambos os benefícios visam à proteção da família
diante da perda daquele que era responsável pela sustentação do núcleo familiar. O
auxílio-reclusão busca suprir ou mitigar a ausência do provedor nas necessidades
econômicas da família, desempenhando um papel de prestação pecuniária de caráter
substitutivo.
Outro princípio constitucional associado ao benefício é o da individualização da
pena, previsto no art. 5º, inciso XLV, da Constituição Federal, o qual estabelece que:

Nenhuma pena passará da pessoa condenada, podendo a obrigação de reparar o


dano e a decretação do perdimento de bens serem, nos termos da lei, estendidas
aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio
transferido.

Aqueles que advogam a favor desse princípio argumentam que os familiares


enfrentam situações de sofrimento devido ao afastamento do indivíduo recluso, além de
experimentarem a privação da fonte de renda, o que seria uma extensão da pena aos
dependentes do recluso, os quais não contribuíram para o crime que levou à prisão. Os
defensores desse princípio entendem que cabe ao Estado o dever de zelar pela
minimização desses prejuízos.
Diante do exposto, há quem sustente que a limitação de renda imposta pela
Emenda Constitucional 20/1998 viola o princípio da personalização da pena, o que suscita
discussões sobre sua constitucionalidade.
Outro princípio utilizado para justificar o benefício do auxílio-reclusão é o princípio
da pessoa humana, conforme estabelecido no art. 1º, inciso III, da Constituição. Para uma
compreensão mais aprofundada do princípio da dignidade da pessoa humana, destaca-se
o entendimento de Moraes (2005, p. 128):

A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente à pessoa,


que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da
própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais
pessoas, constituindo-se em um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico
deve assegurar, de modo que apenas excepcionalmente possam ser feitas
limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a
necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos.

Conforme Ferreira (2007, p. 195), a dignidade da pessoa, que constitui o


fundamento central de nosso sistema jurídico, é o elemento crucial para o reconhecimento
e a proteção dos direitos humanos. Essa dignidade representa o objetivo último que
assegura um patamar de direitos capaz de preservar sua finalidade fundamental. Nesse
contexto, o benefício em discussão busca fundamentalmente aprimorar as condições
mínimas para uma vida digna dos necessitados, objetivando a realização da igualdade
social e a proteção da dignidade da pessoa.
Destacam-se também o princípio da erradicação da pobreza, presente no art. 3º da
Constituição Federal, e o princípio da solidariedade social. Assim, seria incumbência do
Estado, em colaboração com a sociedade, proteger as famílias agora desamparadas de
possíveis infortúnios, assim como no caso da pensão por morte. Dessa maneira, justifica-
se a previsão legal do auxílio-reclusão (Constituição Federal de 1988).
Além dos princípios mencionados, é importante ressaltar o princípio da isonomia,
que se relaciona intimamente com o princípio da dignidade da pessoa humana. Para
respeitar o ser humano como uma pessoa digna, é necessário que haja igualdade entre
ele e seus semelhantes, já que ambos os princípios visam a um objetivo comum, a busca
pela justiça.
O princípio da igualdade, preconizado na Constituição Federal, também é abraçado
como um dos princípios da Seguridade Social. Segundo esse princípio, todo e qualquer
dependente deveria ter direito ao benefício previdenciário do auxílio-reclusão. Contudo,
alguns estudiosos acreditam que, com a promulgação da Emenda Constitucional nº 20/98,
estabeleceu-se um critério de desigualdade entre os dependentes do recluso de baixa
renda e aqueles que não se enquadram nesse critério.
Ao relacionar o princípio da igualdade com o auxílio-reclusão, destaca-se o
entendimento de Carvalho (2009) ao afirmar que:

[...] o auxílio reclusão é devido justamente porque o trabalhador não pode mais
arcar com o sustento de seus dependentes. Por estar impedido de exercer o seu
ofício, torna-se inviável a percepção de sua remuneração, o que afeta direta e
intrinsecamente a estabilidade financeira daqueles que contam com seu suporte
para o acesso aos bens da vida. Em termos práticos, deixa-se de receber o
imprescindível ao pagamento dos estudos dos filhos, assistência médica da
família, supermercado do mês, aluguel da casa, impostos devidos ao governo,
dentre outras inúmeras obrigações.

Portanto, a restrição do auxílio-reclusão, contemplada após 1998, exclusivamente


às famílias de baixa renda, configura uma discriminação, caracterizando um vício de
inconstitucionalidade por não conferir um tratamento isonômico a todos (Castro e Lazzari,
2009, p. 642).
Existem defensores da posição de que o critério de baixa renda estabelecido por
meio de ato administrativo é ilegal, indo de encontro à Constituição Federal. Essa
argumentação se sustenta na ideia de que fica a critério do administrador público
determinar quem é e quem não é de baixa renda, ou seja, quem deve ou não receber o
benefício do auxílio-reclusão.
Por fim, é importante destacar que somente a partir da Constituição Federal de
1988 é que o benefício previdenciário do auxílio-reclusão ganhou destaque constitucional,
sendo incluído no plano de previdência social. Entretanto, a alteração introduzida pela
Emenda Constitucional nº 20 manteve a previsão de pagamento do auxílio-reclusão para
os dependentes dos segurados de baixa renda, acrescentando um novo requisito para a
concessão do benefício: a comprovação da baixa renda do segurado instituidor.
II. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme delineado, o benefício do auxílio reclusão encontra respaldo não apenas


nos princípios constitucionais explicitamente mencionados, mas também em outros que
não foram detalhadamente explorados. Sem a intenção de abordar exaustivamente todos
os princípios subjacentes ao benefício do auxílio reclusão, destacou-se a importância dos
princípios da individualização da pena, solidariedade social, dignidade da pessoa humana,
igualdade e erradicação da pobreza.
O propósito fundamental desse benefício é mitigar o risco social associado à perda
da fonte de renda familiar decorrente do encarceramento do segurado, sendo destinado
aos dependentes do recluso.
O auxílio reclusão encontra respaldo na Constituição, que assegura a dignidade da
pessoa humana, promove o tratamento igualitário entre todos e busca proporcionar às
pessoas um padrão de vida que garanta sua dignidade.
III. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei nº 8213, de 24 de julho de 1991. LEI 8213 /91 - ART. 202 DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Lei 8213 /91 - Art. 202 da Constituição Federal. Brasília,
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/busca?q=LEI+8213+%2F91+-+ART.
+202+DA+CONSTITUI%C3%87%C3%83O+FEDERAL. Acesso em: 30 maio 2019.
BRASIL. Lei nº 8213, de 24 de julho de 1991. Art. 1 da Lei de Benefícios da
Previdência Social - Lei 8213/91. Brasília, Disponível em: 24. Acesso em: 30 maio 2019.

JUSBRASIL, Artigo 15 da Lei de Benefícios da Previdência Social – Lei 8213/91.


Disponível em: < https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11359293/artigo-15-da-lei-n-8213-
de-24-dejulho-de-1991>. Acesso em 05/05/2019.

JUSBRASIL, Artigo 17, § 1 da Lei de Benefícios da Previdência Social – Lei


8213/91. Disponível em: < https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11358447/paragrafo-1-
artigo-17-dalei-n-8213-de-24-de-julho-de-1991> acessado em 06/05/2019.

JUSBRASIL, Artigo 17, regulamento da previdência Social – Decreto 3048/99.


Disponível em: < https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11765023/artigo-17-do-decreto-n-
3048-de-06-demaio-de-1999>. Acessado em 06/05/2019.

JUSBRASIL, Artigo 22, regulamento da Previdência Social – Decreto 3048/99.


Disponível em: < https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11763220/artigo-22-do-decreto-n-
3048-de-06-demaio-de-1999>. Acessado em 06/05/2019.

JUSBRASIL, Artigo 26 Regulamento da Previdência Social – Decreto 3048/99.


Disponível em: < https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11761253/artigo-26-do-decreto-n-
3048-de-06-demaio-de-1999>. Acessado em 05/05/2019.

JUSBRASIL, Plano simplificado permite contribuição previdenciária com alíquota de


11%. Disponível em: https://pndt.jusbrasil.com.br/noticias/218334790/plano-simplificado-
permite contribuicao-previdenciaria-com-aliquota-de-11>. Acessado em 08/05/2019.

Você também pode gostar