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A ESTABILIDADE PROVISÓRIA DA DOMÉSTICA GESTANTE

THE TEMPORARY STABILITY OF THE PREGNANT DOMESTIC

NENA MENDES CASTRO


Centro Universitário Estácio São Luís, São Luís - MA, Brasil.
LARYSSA SARAIVA QUEIROZ
Universidade Federal do Maranhão, São Luís - MA, Brasil.
EMANUEL DE JESUS CARVALHO NETO
Centro Universitário Estácio São Luís, São Luís - MA, Brasil.

Sumário: Introdução, 1. EMPREGADO DOMÉSTICO, 1.1 Conceito de empregados


doméstico e seus requisitos, 1.2 Direito dos empregados domésticos, 1.3 Proteção à
maternidade 2 ESTABILIDADE, 2.1 Disposições gerais, 3. A ESTABILIDADE
PROVISÓRIA DA GESTANTE DOMÉSTICA, 3.1 Estabilidade provisória da gestante
doméstica e as consequências da dispensa irregular, Considerações finais e Referências.

RESUMO

Este trabalho trata sobre os direitos dos empregados domésticos, uma classe profissional que vem
crescendo e, principalmente, conquistando cada vez mais lugar e respeito na sociedade. No passado,
o doméstico era desprovido de garantias e direito no seu ambiente de trabalho, além de não existir a
seguridade. Já na conjuntura atual, é nítido a crescente modernização, o ascendente
desenvolvimento e avanço social na categoria de trabalhadores domésticos, sendo efetivado pelo
legislador ao longo da história das garantias de direitos. A exemplo, um marco que assistiu essa
classe profissional foi a estabilidade provisória da gestante doméstica, através da lei 11.324/2006,
que passará a ser o tema central do referido trabalho. É de suma importância que a
mulher/doméstica saiba desse direito e não se deixe ficar desamparada quando estiver diante de uma
situação que exija sua assistência. O estado gestacional da mulher é um privilégio e esse direito é
salvaguardado às trabalhadoras domésticas.

Palavras-Chave: Direito; estabilidade; gestante; doméstica.

ABSTRACT
This work deals with the rights of domestic workers, a professional class that has been growing and,
above all, gaining more and more place and respect in society. In the past, domestic workers were
devoid of guarantees and rights in their work environment, and there was no security. In the current
situation, the increasing modernization, increasing development and social advancement in the
category of domestic workers is clear, being implemented by the legislator throughout the history of
rights guarantees. For example, a milestone that assisted this professional class was the provisional
stability of domestic pregnant women, through law 11.324/2006, which will become the central
theme of the aforementioned work. It is extremely important that women/domestic workers know
about this right and do not allow themselves to be left helpless when faced with a situation that
requires their assistance. A woman's gestational status is a privilege and this right is safeguarded for
domestic workers.

Keywords: Right. stability. pregnant. Home.

INTRODUÇÃO
Inicialmente, busca-se entender o que é o empregado doméstico, quais seus requisitos, quem
são as pessoas que podem contratar essa classe profissional, assim como quais os seus direitos e
suas garantias. Além disso, é importante passar pela história de conquistas percorridas por essa
classe que tanto já foi discriminada e, atualmente, vem ganhando força tanto perante a sociedade,
como pelo legislador.
Ainda antes de se adentrar ao tema central, falaremos sobre o tema estabilidade, que é uma
garantia ao emprego que todo trabalhador possui, este envolvendo conceito e hipóteses de
cabimento. Chegando-se, então, a tratar sobre a estabilidade provisória, destacando qual o
significado e as consequências jurídicas da dispensa irregular, ou seja, a dispensa do empregado que
está em gozo de uma estabilidade.
Superado este estudo primário, passaremos ao foco deste trabalho, em especial esse foi um
marco importante que assistiu a essa classe profissional, a estabilidade ao emprego da doméstica
gestante.
É de suma importância que a mulher/empregada doméstica saiba desse seu direito e não se
deixe ficar desamparada quando estiver diante dessa situação. O estado gestacional da mulher é um
privilégio e esse direito é salvaguardado às trabalhadoras domésticas. Toda empregada doméstica,
que antes, ao ficar grávida se desesperava ao saber que seus patrões (empregadores) poderiam
mandá-las embora sem nenhum direito, hoje já pode receber a notícia da gestação sem maiores
preocupações, pois a nossa lei salvaguardou e estendeu o direito da estabilidade provisória da
gestante às empregadas domésticas.
A classe dos domésticos vem sendo contemplada cada vez com mais direito e o da
estabilidade provisória da empregada gestante doméstica é de um destaque esplendoroso, pois se
configura para além de um direito, trata-se de um estado transformador na vida de uma mulher.
Dessa forma, é assegurada à doméstica o seu direito ao emprego.
Cientes dos primeiros estágios deste presente trabalho, passaremos, agora, a estudar sobre a
estabilidade provisória da doméstica gestante. O que diz essa estabilidade? Se pode haver
desistência dessa estabilidade? Qual o tempo dessa estabilidade? Entre muitas outras indagações e
circunstâncias que irão nortear os próximos tópicos deste presente trabalho.
O objetivo desta pesquisa é analisar os direitos dos empregados domésticos enfatizando o
direito assistencial à empregada doméstica, qual seja, a estabilidade provisória gestacional.

1. EMPREGADA DOMÉSTICA
Não há como falar em emprego doméstico sem iniciar, ainda que de forma sintetizada, a
evolução legislativa do empregado doméstico. Conforme estudado na doutrina, o empregado
doméstico passou por constantes evoluções, desde a abolição da escravatura (1888) até os dias
atuais. É certo que nesse período até meados de 1972, quando foi editada a lei 5.859, não havia
nenhuma lei específica que amparasse essa classe profissional.
A própria Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) de 1943, em seu artigo 7º, alínea a,
excluiu expressamente esses trabalhadores. Ainda antes da lei dos empregados domésticos
(5.859/72), fora outorgado o Decreto-lei 3,078 de 1941 que disciplinava o regime de trabalho
doméstico, porém tal diploma não estendia os direitos dos empregados celetistas aos domésticos.
Este decreto apenas dispõe sobre os deveres do empregador e do empregado doméstico, bem como
aviso prévio de 8 dias após o período de 6 meses de labor na hipótese de dispensa sem justa causa,
multas por infrações a serem determinadas pela lei. 1
Com o advento da lei 5859 de 1972, que foi ainda alterada com a Constituição Federal (CF)
de 1988, os empregados domésticos passaram a ter uma lei específica que trata, enfim, de seus
direitos. Apesar desta lei específica, não foi estendido a essa classe trabalhadora todos os direitos
conferidos aos empregados urbanos.
Logo veio a Carta Magna, promulgada em 05 de outubro de 1988, que em dispondo no seu
artigo 7º, parágrafo único, estendeu aos empregados domésticos nove direitos do extenso rol de
direitos dos trabalhadores urbanos e rurais da CLT, que fora também modificado pela Emenda

1 Leite, Carlos Henrique Bezerra. A nova lei do Trabalhador Doméstico: comentários à Lei Complementar n.
150/2015/ Carlos Henrique Bezerra Leite, Laís Durval Leite, Letícia Durval Leite. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 19.
Constitucional (EC) nº 72 de 2013, quais sejam, os incisos: IV, VI, VIII, XV, XVII, XVIII, XIX,
XXI E XXIV, bem como a sua integração à previdência social.

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria
de sua condição social:
I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos
de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos;
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
III - fundo de garantia do tempo de serviço;
IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas
necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde,
lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe
preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração
variável;
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da
aposentadoria;
IX - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;
XI - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e,
excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei;
XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos
termos da lei;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro
semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou
convenção coletiva de trabalho; (vide Decreto-Lei nº 5.452, de 1943)
XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de
revezamento, salvo negociação coletiva;
XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento
à do normal; (Vide Del 5.452, art. 59 § 1º)
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o
salário normal;
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e
vinte dias;
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos
termos da lei;
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos
termos da lei;
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e
segurança;
XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na
forma da lei;
XXIV - aposentadoria;
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos
de idade em creches e pré-escolas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de
2006)
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;
XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei;
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a
indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo
prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos
após a extinção do contrato de trabalho;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 28,
de 25/05/2000)
a) (Revogada). (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 25/05/2000)
b) (Revogada). (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 25/05/2000)
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão
por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;
XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do
trabalhador portador de deficiência;
XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os
profissionais respectivos;
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de
qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de
quatorze anos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e
o trabalhador avulso
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos
previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI,
XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em
lei e observada a simplificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais
e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos
incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência
social. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 72, de 2013). (Grifo nosso) 2

Desde então, começaram efetivamente as conquistas dos trabalhadores domésticos, após a


CF/88, veio a Lei 10.208/2001 que acrescentou o artigo 3ª-A à Lei 5.859/72, facultando a inclusão
do empregado doméstico no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e seguro-
desemprego. Destarte, a Lei nº 11.324/2006, deu nova redação ao artigo 3º da lei dos domésticos
(5.859/72), assegurando aos domésticos direitos como a estabilidade a gestante, férias de 30 dias,
proibições de descontos por concessão de algumas utilidades e feriados.
Porém, essa lei 5.859/72 regulou a classe dos empregados domésticos até os dias atuais,
pois, recentemente, em 02 de junho de 2015, ela foi revogada pela Lei Complementar 150/2015, o
que marcou o ápice de conquista dos direitos dos empregados domésticos.

1.1 Conceito de empregado doméstico e seus requisitos


A denominação de doméstico vem do latim e significa domus – casa. Tecnicamente, o
doutrinador Maurício Godinho (2015, p. 1346) define empregado doméstico como “pessoa física
que presta, com pessoalidade, onerosidade e subordinação, serviços de natureza contínua e de
finalidade não lucrativa à pessoa ou à família, em função do âmbito residencial destas”.
No mesmo sentido, a nova lei do trabalhador doméstico (LC nº 150/2015) define empregado
doméstico em seu:

Artigo 1º - Ao empregado doméstico, assim considerado aquele que presta serviços de


forma contínua, subordinada, onerosa e pessoal e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à
família, no âmbito residencial destas, por mais de 2 (dois) dias por semana, aplica-se o
disposto nesta Lei. Parágrafo único. É vedada a contratação de menor de 18 (dezoito) anos
para desempenho de trabalho doméstico, de acordo com a Convenção no 182, de 1999, da
Organização Internacional do Trabalho (OIT) e com o Decreto no 6.481, de 12 de junho de
2008” 3

2 BRASIL. Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Emenda Constitucional n° 72, de 2013.
3 BRASIL. Lei complementar n° 150, de 1° de junho de 2015.
São requisitos basilares para a identificação do empregado doméstico: ser pessoa física
maior de 18 anos, pessoalidade, continuidade ou não eventualidade; subordinação; onerosidade;
finalidade não lucrativa das suas atividades; trabalhar em âmbito residencial; destinação do serviço
a uma pessoa ou família. A maioria desses requisitos estão expressos em lei no artigo 1º e parágrafo
único da LC 150/2015, já citado acima.
O estudioso Mauricio Godinho (2015 p .1346) divide esses requisitos em 3 classes, quais
sejam:

Elementos fáticos jurídicos gerais, trata-se de elementos que se compreendem, no trabalho


doméstico, a partir dos mesmos dados empíricos e conceituais verificados em outros
segmentos da realidade socioeconômica, são eles: a Pessoa física do prestador; a
Pessoalidade – como a circunstância de ser a prestação de trabalho infungível no que tange
à figura específica do trabalhador; a Subordinação, como o liame distintivo da relação de
emprego em face das modalidades mais verticalizantes de submetimento que foram
características de relações sociais dominantes em outras épocas (servidão e escravidão,
particularmente). Também na relação doméstica a subordinação tem de ser compreendida,
evidentemente, sob uma ótica objetiva e não subjetiva. Finalmente a Onerosidade – objetiva
e subjetiva examinada, como o elemento que lança o matiz sinalagmático próprio ao
contrato bilateral empregatício.

Elemento fático jurídico da não eventualidade, o elemento da não eventualidade na relação


de emprego doméstico deve ser compreendido como efetiva continuidade, por força da
ordem jurídica especial regente da categoria.

Elementos fáticos especiais, dizem respeito à Finalidade não lucrativa dos serviços – quer a
lei que o trabalho exercido não tenha objetivos e resultados comerciais ou industriais,
restringindo-se ao exclusivo interesse pessoal do tomador ou sua família. Trata-se, pois, de
serviços sem potencial de repercussão direta fora do âmbito pessoal e familiar, não
produzindo benefícios para terceiros. Prestação laboral à pessoa ou família sem exceções;
Âmbito residencial de prestação laborativa, ou seja, os serviços tem que ser prestados no
âmbito residencial do empregador. 4

Visto todos esses requisitos, surge uma dúvida: quem são as pessoas que podem contratar
essa classe doméstica? Podem ser empregador de trabalhadores domésticos, aqueles que se
enquadram na Seção II, da Lei n° 8212/91 cujo tema é Da Empresa e do Empregador Doméstico,
vejamos:

Art. 15. Considera-se:


I - empresa - a firma individual ou sociedade que assume o risco de atividade econômica
urbana ou rural, com fins lucrativos ou não, bem como os órgãos e entidades da
administração pública direta, indireta e fundacional;
II - empregador doméstico - a pessoa ou família que admite a seu serviço, sem finalidade
lucrativa, empregado doméstico.5

4 Delgado, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. – 14. ed. – São Paulo: LTr. 2015, p. 396, 399 e 403.
5 BRASIL. Lei orgânica da seguridade social nº 8.212, de 24 de julho de 1991.
1.2 Direito dos empregados domésticos
Ao longo de décadas, somos testemunhas do avanço legislativo sofrido pelos empregados
domésticos. Cada vez mais, esta categoria vem conquistando espaço e respeito na sociedade, assim
como tem se destacado com a gama de direitos atualmente conquistados.
É merecido todos os avanços implantados e estendidos a essa classe profissional, que tanto
já fora discriminada, tanto no âmbito familiar, do passado onde eram tidos como escravos, quanto
como serventes, para agora ter uma denominação digna prescrita na lei “Trabalhadores ou
Empregados Domésticos”. Junto a direitos rigorosamente concedidos, que antes, apesar de alguns já
existirem, como por exemplo o pagamento do FGTS, faltava regulamentação para que pudessem
surtir efeito. O que foi realizado através da tão saudada nova lei dos empregados domésticos, a LC
150/2015.
São direitos constitucionais adquiridos pelos empregados domésticos os contidos no art. 7º
da CF/88, os incisos são: IV-salário mínimo; VI-irredutibilidade salarial; VIII-décimo terceiro
salário; XV-repouso semanal remunerado preferencialmente aos domingos; XVIII-gozo de férias
anuais com acréscimo de um terço; XVIII-licença à gestante de 120 dias, sem prejuízo do
empregado e dos salários; XIX-licença – paternidade; XXI-aviso prévio; parágrafo único -
integração à Previdência Social. 6
Sob essa visão, ainda é possível citar vários outros direitos dos empregados domésticos
como os que foram renovados, os regulamentados e outros que foram estendidos aos domésticos
pela LC 150/2015. São eles: Anotação da CTPS artigo 9º; Décimo terceiro salário; Férias artigo 17,
§6º; Vale transporte artigo 19, §único; Salário mínimo artigo 3º; Proteção ao salário; Repouso
semanal remunerado artigo 2º, §8º; Aviso prévio artigo 24 caput e § único, Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço (FGTS) artigo 34, IV; Seguro desemprego artigo 26; Direitos decorrentes da
gravidez artigo 25, caput e § único; Jornada de trabalho e horas extras artigo 2º §2º; Adicional
noturno art. 14 e §§; Proteção contra os riscos à saúde, higiene e segurança do trabalho; Proteção
contra atos discriminatórios; Negociação coletiva; Suspensão Interrupção Alteração do contrato de
trabalho do doméstico.; Rescisão de trabalho doméstico; Simples doméstico artigos 31 à 35;
Programa de recuperação previdenciária dos empregados domésticos (REDOM) artigo 41. 7
Antes que seja tratado especificamente do tema proposto, qual seja, a estabilidade provisória
da gestante doméstica, é válido perpassar pela proteção à maternidade, seu fundamento e evolução
enquanto direito social.

6 BRASIL. Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Emenda Constitucional n° 72, de 2013.
7 BRASIL.Do contrato de trabalho doméstico n° 150, de 1° de junho 2015.
1.3 Proteção à maternidade
A proteção à maternidade foi consagrada enquanto direito fundamental social pelo art. 6º, da
CF/888. Ao tempo em que a legislação trabalhista buscou instrumentalizar tal previsão por meio de
direitos sociais tais como a licença-maternidade; o direito à estabilidade no emprego; a proteção do
mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei; além de redução
dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança9.
Contudo, é válido observar que embora tenha figurado no texto constitucional como direito
social pela primeira vez na Constituição Federal de 1988, a proteção à maternidade já havia
alcançado o patamar constitucional desde a Constituição de 1934, influenciada diretamente pelo
constitucionalismo social das Constituições do México, de 1917 e de Weimar, de 191910.
Cumprindo ainda destacar que se atribui ao capitalismo industrial o aumento do ritmo do
ingresso das mulheres no mercado de trabalho que vale dizer, é historicamente discriminado, com
pagamento de salários inferiores e jornadas de trabalho mais exaustivas se comparadas com as dos
homens. Nesse sentido:

No decorrer da Revolução Industrial (Século XIX), o trabalho da mulher foi muito


utilizado, principalmente para a operação de máquinas. Os empresários preferiam o
trabalho da mulher nas indústrias porque elas aceitavam salários inferiores aos dos homens,
porém faziam os mesmos serviços que estes. Em razão disso, as mulheres sujeitavam-se a
jornadas de 14 a 16 horas por dia, salários baixos, trabalhando em condições prejudiciais à
saúde e cumprindo obrigações além das que lhe eram possíveis, só para não perder o
emprego. Além de tudo, a mulher deveria, ainda, cuidar dos afazeres domésticos e dos
filhos. Não se observava uma proteção na fase da gestação da mulher, ou de
amamentação.11

Logo, foi por esta razão que buscou-se assegurar a inserção da mulher no processo de
produção e reprodução de riqueza social, respeitando-se suas diferenças biológicas. E no que tange
à proteção à maternidade, um dos temas centrais é a proteção trabalhista, que também encontra
guarida constitucional ao longo dos incisos do art. 7º da CF/88. Nesse sentido, vale mencionar:

A importância desse valor é tamanha que, a partir dele, reconhecem-se outros direitos
instrumentais, igualmente previstos na Carta Magna. Assim se colocam os direitos sociais
de licença-gestante, defesa contra despedida arbitrária, proteção do mercado de trabalho
feminino e redução geral de riscos no meio ambiente laboral (FERME; TRINDADE, 2019,
p. 83).

8 BRASIL. Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Emenda Constitucional n° 72, de 2013
9 BRASIL.Aprova a consolidação das leis do trabalho. Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943
10 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 34. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
11 Ibidem, p. 921.
Nesta senda, o art. 5º, I, da Constituição Federal de 1988 estabeleceu a igualdade de direitos
e obrigações entre homens e mulheres, deixando a proibição da diferença de salários, de exercício
de funções e de critérios de admissão por motivos de sexo, idade, cor e estado civil a cargo do art.
7º, XXX, Além do inciso XVIII, que aumentou o prazo da licença-maternidade de 90 para 120 dias,
sem prejuízo do emprego e do salário, inclusive para as domésticas, avulsas e rurais12.
Como consectário, o art. 10, II, alínea b, do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias assegurou que, até que fosse promulgada a lei complementar a que se refere o art. 7º, I,
estaria vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa da empregada gestante, desde a confirmação
da gravidez até cinco meses após o parto13.
Por fim, é oportuno mencionar que a previdência social e a assistência social possuem dentre
seus objetivos a proteção da maternidade, conforme disposto nos arts. 201 e 203 da CF/88.
Contudo, para além da compreensão do sentido e o alcance da proteção constitucional da
maternidade, destaque-se que a proteção à maternidade repousa, em última instância, na própria
dignidade da pessoa humana, elencado dentre os fundamentos do Estado Democrático de Direito
pelo art. 1º, III, da CF/88. Logo, deve nortear o legislador na elaboração das leis e os aplicadores do
direito na interpretação das normas.
Tomando tudo isso como base, a partir de agora, voltemos os olhos especificamente à
questão da estabilidade.

2 ESTABILIDADE
A estabilidade é um estudo voltado às garantias decorrentes da relação de trabalho. Para
Vólia Bomfim (2011, p.1177), estabilidade e garantia de emprego são institutos afins, porém, não
podem se confundir. Para ela, a garantia de emprego é uma política sócio econômica, enquanto a
estabilidade é um direito do empregado. A estabilidade é uma espécie dentro do gênero que é a
garantia de emprego.
Já Mauricio Godinho (2015, p .1346) diz que a estabilidade é a vantagem jurídica de caráter
permanente deferida ao empregado em virtude de uma circunstância tipificada de caráter geral, de
modo a assegurar a manutenção indefinida no tempo do vínculo empregatício, independentemente
da vontade do empregador.14
É certo que a estabilidade é uma das garantias concedidas aos trabalhadores podendo ser
definitiva perdurando ao longo dos anos ou provisória, a depender de uma situação específica
prescrita em lei que autorize tal fato.

12BRASIL. Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Emenda Constitucional n° 72, de 2013.
13Ibidem, Emenda Constitucional n° 72, de 2013.
14 Delgado, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. – 14. ed. – São Paulo: LTr. 2015, p. 1346.
2.1 Disposições gerais
A estabilidade como bem enfatizado por Maurício Godinho (2015, p. 1346) é uma vantagem
que depende de uma circunstância para se concretizar, ou seja, é preciso que um certo fato ocorra
para ensejar a estabilidade. Na atualidade, existe, segundo esse estudioso, três tipos de estabilidade
permanente:

a) Estabilidade Celetista- regulada pela CLT, o trabalhador que adquirisse a


estabilidade, alcançada com “mais de dez anos de serviço na mesma empresa, não poderia
ser dispensado se não por meio de falta grave ou circunstância de força maior, devidamente
comprovada (artigo 462, CLT).
b) Estabilidade do art. 19 do ADCT (Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias) – esta estabilidade atingiu os servidores públicos civis em exercício na data da
promulgação da Constituição a pelo menos 05 anos continuados que não tenham sido
admitidos por meio de concurso público. No tocante aos servidores concursados, já seriam
estáveis na data da Constituição, obviamente a teor do artigo 41 da CF/88.
c) Estabilidade do art. 41 da Constituição Federal/88 – a EC 19 de 1998 deu nova
redação ao art. 41 da CF/88, determinou serem estáveis após 3 anos de efetivo exercício os
servidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público. 15

Dessa forma, a estabilidade é definitiva e a garantia de emprego é um período certo,


predeterminado de início e fim. Podemos citar como exemplos de estabilidades provisórias a de
origem constitucional; que é a imunidade Sindical, dirigentes de CIPA e mulher gestante. E as de
ordem legal que são as do empregado acidentado, cooperativas, conselho nacional de previdência
social e todos os estabelecidos em lei.
Segundo Maurício Godinho (2015, p.1354), a imunidade sindical é a mais importante
estabilidade temporária referida pela constituição, é a que imanta o dirigente de entidades sindicais.
“É vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de
direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do
mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei” (artigo 8º, VIII, CF/88). Trata-se do único
caso onde se tem jurisprudência pacificada, quando a exigência de inquérito policial, pelo
empregador, para a dispensa por justa causa de empregado favorecido por garantia temporária de
emprego (estabilidade provisória), súmula 370, TST. Essa garantia sindical abrange também a
inamovibilidade do dirigente e seu suplente, assegura a CLT, art. 543, caput. “O empregado eleito
para o cargo de administração sindical ou representação profissional, inclusive junto a órgão de
deliberação coletiva, não poderá ser impedido do exercício de suas funções, nem transferido para
lugar ou mister que lhe dificulte ou torne impossível o desempenho das suas atribuições sindicais”.
Os dirigentes da CIPA também são beneficiários de estabilidade temporal/provisória,
“empregado eleito para cargo de direção de comissões internas de prevenção de acidentes, desde o
registro de sua candidatura até um ano após o final de seu mandato" (artigo 10, II, “a”, ADCT).

15 Delgado, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. – 14. ed. – São Paulo: LTr. 2015, p. 1347 a 1349.
Essa garantia é para trabalhadores eleitos representantes dos empregados na direção da CIPA,
titulares e suplentes, a teor da súmula 339, I, TST, não abrangendo os representantes escolhidos
pelos empregadores.
A empregada gestante também goza de estabilidade provisória durante seu estado gravídico
e até 5 meses após o parto, assim como reza o art. 10, II, “b” do ADCT: “empregada gestante, desde
a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto”.
A estabilidade do empregado acidentado está prevista no artigo 118 da lei 8.213/91, onde
menciona que este empregado goza de estabilidade até 12 meses após a cessação do auxílio doença.
Nesse sentido, a súmula 378, I do Tribunal Superior do Trabalho (TST) destaca:

Súmula nº 378 do TST


ESTABILIDADE PROVISÓRIA. ACIDENTE DO TRABALHO. ART. 118 DA LEI
Nº 8.213/1991. (inserido item III) - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e
27.09.2012
I - É constitucional o artigo 118 da Lei nº 8.213/1991 que assegura o direito à estabilidade
provisória por período de 12 meses após a cessação do auxílio-doença ao empregado
acidentado. (ex-OJ nº 105 da SBDI-1 - inserida em 01.10.1997)
II - São pressupostos para a concessão da estabilidade o afastamento superior a 15 dias e a
conseqüente percepção do auxílio-doença acidentário, salvo se constatada, após a
despedida, doença profissional que guarde relação de causalidade com a execução do
contrato de emprego. (primeira parte - ex-OJ nº 230 da SBDI-1 - inserida em 20.06.2001)
III - O empregado submetido a contrato de trabalho por tempo determinado goza da
garantia provisória de emprego decorrente de acidente de trabalho prevista no art. 118 da
Lei nº 8.213/91.

Por sua vez, a estabilidade do Conselho Nacional da Previdência Social (CNPS) está
prescrita na Lei 8.213/91 em seu artigo 3º, §7º, onde garante aos representantes dos empregados no
CNPS, titulares e suplentes, a estabilidade desde a nomeação até um ano após o término do
mandato.

Artigo 3º, § 7º- Aos membros do CNPS, enquanto representantes dos trabalhadores em
atividade, titulares e suplentes, é assegurada a estabilidade no emprego, da nomeação até
um ano após o término do mandato de representação, somente podendo ser demitidos por
motivo de falta grave, regularmente comprovada através de processo judicial. 16

Dessa forma, ao analisarmos brevemente sobre a estabilidade e as garantias de emprego,


passaremos ao ápice deste estudo, a estabilidade provisória da gestante doméstica.

3 A ESTABILIDADE PROVISÓRIA DA GESTANTE DOMÉSTICA


Como já mencionada, a estabilidade provisória é uma vantagem jurídica que guarda ao
empregado em determinados momentos da relação de trabalho. Neste caso falaremos sobre a

16 BRASIL. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. lei n° 8.213, de 24
de julho de 1991
estabilidade provisória destinada às empregadas domésticas quando em estado gestacional.
Até o advento da Lei 11.324/2006, não se aplicava à doméstica a estabilidade prevista no art.
10, II, “a”, do ADCT já que este artigo regulamentou provisoriamente o artigo 7º da CF/88. O
parágrafo único deste referido artigo, não mencionou o inciso I no rol dos direitos estendidos aos
domésticos. Desta forma, a jurisprudência e a doutrina entendiam que as empregadas domésticas
não faziam jus a determinado direito. Alguns estudiosos até diziam que em se tratando de
doméstico, que era um empregado de confiança, não se poderia estender a eles qualquer tipo de
estabilidade, razão pela qual foram excluídos da CLT.17
Porém, com a lei 11.324/06, a doméstica passou a ter direito a estabilidade da gestante, visto
que esta mencionada lei acrescentou o art. 4º - A à Lei dos empregados domésticos 5.859/72, onde
reza “é vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa da empregada doméstica gestante desde a
confirmação da gravidez até 5 (cinco) meses após o parto”. 18
Essa estabilidade provisória, a qual a doméstica gestante faz direito, se estende desde aos
contratos por prazo indeterminado, até aos por prazo determinado, excetuando-se apenas os
contratos de experiência.
O novel art. 391-A, CLT, é prova disto, “a confirmação do estado de gravidez advindo no
curso do contrato de trabalho, ainda que durante o prazo do aviso prévio trabalhado ou indenizado,
garante à empregada gestante a estabilidade provisória prevista na alínea “b” do inciso II, do artigo
10 do ADCT”. Para se afastar qualquer dúvida ainda a esse respeito, preconiza o artigo 25,
parágrafo único, da LC nº 150/2015 (nova lei dos trabalhadores domésticos):

Art. 25. A empregada doméstica gestante tem direito a licença-maternidade de 120 (cento e
vinte) dias, sem prejuízo do emprego e do salário, nos termos da Seção V do Capítulo III do
Título III da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Parágrafo único. A confirmação do estado de gravidez durante o curso do contrato de
trabalho, ainda que durante o prazo do aviso prévio trabalhado ou indenizado, garante à
empregada gestante a estabilidade provisória prevista na alínea “b” do inciso II do art. 10
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. (grifo nosso). 19

A estabilidade provisória da gestante doméstica, ainda é devida, mesmo que a empregada


perca o bebê, ou seja, mesmo que ocorra um aborto. Esse entendimento é salvaguardado pelo artigo
395, CLT, aplicável à doméstica por força do art. 25, da LC150/15, que dispõe: “em caso de aborto
não criminoso, comprovado por atestado médico oficial, a mulher terá um repouso remunerado de 2

17 Cassar, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. – 5. Ed.- Niterói: Impetus, 2011, p. 395.
18 BRASIL. Altera dispositivos das Leis nº s 9.250, de 26 de dezembro de 1995, 8.212, de 24 de julho de 1991, 8.213,
de 24 de julho de 1991, e 5.859, de 11 de dezembro de 1972; e revoga dispositivo da Lei nº 605, de 5 de janeiro de
1949. lei nº 11.324, de 19 de julho de 2006.
19 Ibidem, Art.25
(duas) semanas, ficando-lhe assegurado o direito de retornar à função que ocupava antes de seu
afastamento”.20 Vale ressaltar que esse entendimento ainda não é pacificado.21
Não há como se falar da estabilidade provisória da gestante doméstica sem citar a almejada
súmula 244 do TST:

Súmula nº 244 do TST


GESTANTE. ESTABILIDADE PROVISÓRIA (redação do item III alterada na sessão
do Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26
e 27.09.2012
I - O desconhecimento do estado gravídico pelo empregador não afasta o direito ao
pagamento da indenização decorrente da estabilidade (art. 10, II, "b" do ADCT).
II - A garantia de emprego à gestante só autoriza a reintegração se esta se der durante o
período de estabilidade. Do contrário, a garantia restringe-se aos salários e demais direitos
correspondentes ao período de estabilidade.
III - A empregada gestante tem direito à estabilidade provisória prevista no art. 10, inciso II,
alínea “b”, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, mesmo na hipótese de
admissão mediante contrato por tempo determinado.22

Evidencia-se que não importa que a empregada tenha ciência do estado de gravidez ou não,
sendo invalidada qualquer cláusula contratual que estabeleça o dever de a empregada comunicar o
empregador de tal fato. A comprovação da gravidez é feita geralmente por atestado médico ou
laudo laboratorial que estabelece aproximadamente o dia que iniciou a gravidez. 23
O estudioso Sérgio Pinto (2015, p. 482 e 484) faz menção à mãe de aluguel, dizendo que a
mesma também gozará desta garantia de emprego, porque houve gestação. Porém, a fornecedora do
óvulo não terá a mesma garantia, porque não teve gestação. E ainda completa arguindo que a
garantia de emprego da gestante se estende a quem tiver a guarda do filho, em caso de falecimento
da genitora (artigo 1º, da LC 146/14).
Assim, podemos concluir que é inquestionável o direito à estabilidade provisória ou
temporária, como define Maurício Godinho sobre a empregada doméstica, definição destacada
anteriormente.

3.1 Estabilidade provisória da gestante e as consequências da dispensa irregular


Tendo-se afastado qualquer dúvida com relação à estabilidade da gestante doméstica,
veremos as consequências da despedida irregular das empregadas que gozam de tais garantias de
emprego.

20BRASIL. Aprova a consolidação das leis do trabalho. decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943.
21 Leite, Carlos Henrique Bezerra. A nova lei do Trabalhador Doméstico: comentários à Lei Complementar n.
150/2015/ Carlos Henrique Bezerra Leite, Laís Durval Leite, Letícia Durval Leite. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 111.
22 BRASIL. Gestante. estabilidade provisória. (redação do item III alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em
14.09.2012) - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012. Súmula nº 244 do TST
23 Leite, Carlos Henrique Bezerra. A nova lei do Trabalhador Doméstico: comentários à Lei Complementar n.
150/2015/ Carlos Henrique Bezerra Leite, Laís Durval Leite, Letícia Durval Leite. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 110.
A nova LC 150/15, já apelidada de nova lei dos domésticos, em seu artigo 27 menciona as
causas de despedida por justa causa no gozo de estabilidades:

Art. 27. Considera-se justa causa para os efeitos desta Lei:


I - submissão a maus tratos de idoso, de enfermo, de pessoa com deficiência ou de criança
sob cuidado direto ou indireto do empregado;
II - prática de ato de improbidade;
III - incontinência de conduta ou mau procedimento;
IV - condenação criminal do empregado transitada em julgado, caso não tenha havido
suspensão da execução da pena;
V - desídia no desempenho das respectivas funções;
VI - embriaguez habitual ou em serviço;
VII - (VETADO);
VIII - ato de indisciplina ou de insubordinação;
IX - abandono de emprego, assim considerada a ausência injustificada ao serviço por, pelo
menos, 30 (trinta) dias corridos;
X - ato lesivo à honra ou à boa fama ou ofensas físicas praticadas em serviço contra
qualquer pessoa, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;
XI - ato lesivo à honra ou à boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o empregador
doméstico ou sua família, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;
XII - prática constante de jogos de azar. 24

O empregador doméstico só poderá dispensar por justa causa os empregados que se


encontrarem em um dos incisos mencionados acima. Caso contrário, a despedida será considerada
arbitrária, irregular e ilegal, arcando com as consequências de quem o fez, no caso o empregador, “o
patrão”.
O empregador doméstico terá que provar, em juízo, a existência, ineditismo (non bis idem),
nexo de causalidade, pessoalidade, recentidade e gravidade da justa causa que amparou a dispensa
imotivada. Caso contrário, o juiz poderá ordenar a reintegração ao emprego, com o pagamento dos
salários acumulados durante o período de afastamento involuntário da trabalhadora dispensada (art.
495 da CLT e súmula 244, II, TST). E caso a reintegração seja inviável, ensina o art. 496, CLT:
“quando a reintegração do empregado estável for desaconselhável, dado o grau de
incompatibilidade resultante do dissídio, especialmente quando o empregador for pessoa física, o
tribunal do trabalho poderá converter aquela obrigação em indenização”. Ressalvando que a
indenização será por completo, recaindo até sobre as parcelas de décimo terceiro, férias com o terço
constitucional, FGTS, multa de 40% correspondente a tal intervalo, além das verbas rescisórias,
considerada a data projetada da garantia de emprego violada indevidamente pelo empregador. 25
Maurício Godinho (2015, p.1346) ainda faz ênfase a hipótese de que se o período de
estabilidade já estiver se exaurido à data da sentença, a reintegração deixará de prevalecer, cabendo
apenas o pagamento das verbas contratuais a título indenizatório, desde a dispensa irregular até o
final do período estabilitário.
24 BRASIL. Do contrato de trabalho doméstico. lei complementar n° 150, de 1° de junho de 2015.
25 Souza Júnior, Antonio Umberto de. Linha doutrinária: O Novo Direito do Trabalho Doméstico/ Antonio
Umberto de Souza Júnior – De acordo com a Lei Complementar n. 150/2015. – São Paulo: Saraiva, 2015, p. 141 e 142
Assim, podemos concluir que caso haja a despedida arbitrária ou imotivada do empregado
em gozo de estabilidade, as consequências serão a reintegração ou a indenização do período da
estabilidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constata-se que ao longo dos anos os empregados domésticos foram ganhando espaço na
sociedade, visto que há muito tempo já estão inseridos no âmbito familiar, seja no passado como
escravos, depois como serventes e, enfim, como empregados domésticos devidamente e legalmente
regularizados com seus contratos em carteira de trabalho.
Pode-se verificar também que, em tempos atrás, o doméstico era desprovido de garantias e
direito no seu ambiente de trabalho e não existia a seguridade que hoje estamos presenciando cada
dia mais. Em meio a um mundo que só cresce, seja pela modernização, desenvolvimento ou avanço
social, está havendo bem menos discriminação com essa classe de trabalhadores. Atualmente, de
fato, os trabalhadores começaram a presenciar que os direitos, aos quais, com muita luta, adquiriu
ao longo de décadas, estão sendo respeitados. Em especial um marco que assistiu a essa classe
profissional foi a estabilidade provisória da gestante doméstica, através da lei 11.324/2006.
Porém, os empregados domésticos apesar de terem seus direitos reconhecidos pela lei,
ainda não gozaram logo de imediato de todos eles. Como é sabido, alguns dos direitos necessitavam
de regularização específica, ou seja, leis que os regulamenta, como é o caso do FGTS, entre
outros. Somente com a LC 150 de 2015, que os empregados domésticos conquistaram efetivamente
vários de seus direitos, pois essa lei, além de confirmar os direitos já adquiridos pelos domésticos,
ainda regularizou outros pendentes de lei específica o que, sem dúvida nenhuma, foi mais uma
grande vitória desta classe profissional que tanto já sofrerá.
Por fim, conclui-se que, em especial, a empregada doméstica foi uma beneficiária dos
direitos que a classe de trabalhadores alcançou, visto que passou a gozar da estabilidade provisória
em caso de gestação. A empregada doméstica que se encontra no estado gestacional não deve mais
se preocupar em ser demitida por seus empregadores, visto que ela está amparada pela nossa Carta
Magna, a nossa lei salvaguarda o direito de permanecer no emprego, desde a confirmação da
gravidez até 5 meses após o parto, entendimento este já pacificado no Tribunal Superior do
Trabalho. Por isso, esse direito à estabilidade da doméstica gestante é uma conquista digna da
mulher brasileira e deve ser sempre divulgada para que essas profissionais não tenham medo de
passar pela maravilhosa experiência de ser mãe, e, principalmente, que não se sintam coagidas
frente a qualquer insinuação de má fé de seus empregadores.
REFERÊNCIAS

Brasil. Consolidação das Leis Trabalhistas. DECRETO-LEI N.º 5.452, DE 1º DE MAIO DE


1943. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso
em: 20 de janeiro de 2024.

Brasil. Lei nº 11.324, de 19 de julho de 2006, Altera dispositivos das Leis nos 9.250, de 26 de
dezembro de 1995, 8.212, de 24 de julho de 1991, 8.213, de 24 de julho de 1991, e 5.859, de 11 de
dezembro de 1972; e revoga dispositivo da Lei no 605, de 5 de janeiro de 1949. Lei nº 11.324, de 19
de julho de 2006 . Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11324.htm>. Acesso em: 18 de
janeiro de 2024.

Brasil. Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências Lei nº 8.813, de 24


de julho de 1991. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm>.
Acesso em: 19 de janeiro de 2024.

Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>.
Acesso em: 10 de janeiro de 2024.

Cassar, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. – 5. Ed.- Niterói: Impetus, 2011.

Delgado, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. – 14. ed. – São Paulo: LTr. 2015.

Estabilidade provisória. Acidente do trabalho. ART. 118 DA LEI Nº 8.213/1991. (inserido item
III) - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012. Súmula 378 do Tribunal Superior do
Trabalho. Disponível em: <
http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_351_400.html#SUM-
378>. Acesso em: 10 de janeiro de 2024.

Lei Complementar Nº 150, De 1º de Junho de 2015. Dispõe sobre o contrato de trabalho


doméstico. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp150.htm>. Acesso
em: 20 de janeiro de 2024.

Martins, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 34. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

Souza Júnior, Antônio Umberto de. Linha doutrinária: O Novo Direito do Trabalho Doméstico/
Antonio Umberto de Souza Júnior – De acordo com a Lei Complementar n. 150/2015. – São Paulo:
Saraiva, 2015.

Tribunal Superior do Trabalho. Gestante. estabilidade provisória (redação do item III alterada na
sessão do Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e
27.09.2012. Súmula 244 do Tribunal Superior do Trabalho. Disponível em:
<http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_201_250.html#SUM-
244>. Acesso em: 20 de janeiro de 2024.

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