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SLIDE 6 III – repouso semanal remunerado de 24 (vinte e

quatro) horas consecutivas;


14. MÃE SOCIAL
IV – apoio técnico, administrativo e financeiro no
Considera-se mãe social aquela que, dedicando-se à desempenho de suas funções;
assistência ao menor abandonado, exerça o encargo
V – 30 (trinta) dias de férias anuais remuneradas nos
em nível social, dentro do sistema de casas-lares (Lei
termos do que dispõe o capítulo IV da CLT;
7.644, art. 2º).
VI – benefícios e serviços previdenciários, inclusive,
A mãe social é uma espécie de trabalhadora
em caso de acidente do trabalho, na qualidade de
subordinada atípica cuja atividade laborativa é
segurada obrigatória;
regulada pela Lei 7.644, de 18.12.1987 (DOU
21.12.1987), cujo art. 19 manda aplicar às relações de VII – gratificação de Natal (13º salário);
trabalho da mãe social o disposto nos capítulos I e IV
do Título II, Seções IV, V e VI do Capítulo IV do Título VIII – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço ou
III e nos Títulos IV e VII, todos da CLT. indenização, nos termos da legislação pertinente.

Somente as instituições sem finalidade lucrativa, ou O trabalho desenvolvido pela mãe social é de caráter
de utilidade pública de assistência ao menor intermitente, realizando-se pelo tempo necessário ao
abandonado, e que funcionem pelo sistema de casas- desempenho de suas tarefas.
lares, poderá utilizar o trabalho de mães sociais
Os salários devidos à mãe social serão reajustados de
visando a propiciar ao menor as condições familiares
acordo com as disposições legais aplicáveis, deduzido
ideais ao seu desenvolvimento e reintegração social.
o percentual de alimentação fornecida pelo
Entende-se como casa-lar a unidade residencial sob empregador.
responsabilidade de mãe social, que abrigue até 10
O art. 8º da Lei em tela prevê que a candidata ao
(dez) menores.
exercício da profissão de mãe social deverá submeter-
De acordo com o art. 4º da Lei 7.644, são atribuições se a seleção e treinamento específicos, a cujo término
da mãe social: será verificada sua habilitação. O treinamento será
composto de um conteúdo teórico e de uma aplicação
I – propiciar o surgimento de condições próprias de prática, esta sob forma de estágio.
uma família, orientando e assistindo os menores
colocados sob seus cuidados; O treinamento e estágio não excederão de 60
(sessenta) dias nem criarão vínculo empregatício de
II – administrar o lar, realizando e organizando as qualquer natureza, sendo certo que a estagiária
tarefas a ele pertinentes; deverá estar segurada contra acidentes pessoais e
receberá alimentação, habitação e bolsa de ajuda
III – dedicar-se, com exclusividade, aos menores e à
para vestuário e despesas pessoais.
casa-lar que lhes forem confiados.
O art. 9º da Lei 7.644 estabelece as seguintes
A mãe social, enquanto no desempenho de suas
condições para admissão como mãe social:
atribuições, deverá residir, juntamente com os
menores que lhe forem confiados, na casa-lar que lhe I – idade mínima de 25 (vinte e cinco) anos;
for destinada.
II – boa sanidade física e mental;
Nos termos do art. 5º da Lei 7.644, são direitos da
mãe social: III – curso de primeiro grau, ou equivalente;

I – anotação na Carteira de Trabalho e Previdência IV – ter sido aprovada em treinamento e estágio


Social; exigidos por esta Lei;

II – remuneração, em valor não inferior ao salário V – boa conduta social;


mínimo;
VI – aprovação em teste psicológico específico. dentro do sistema de “casas-lares”, ou seja, unidades
residenciais sob sua responsabilidade, abrigando até
O art. 10 da Lei sob exame prescreve que a instituição 10 (dez) crianças. A mãe social e as crianças a ela
tomadora do serviço manterá mães sociais para confiadas devem residir juntas, e essas serão,
substituir as efetivas durante seus períodos de inclusive, suas dependentes para efeitos dos
afastamento do serviço. A mãe social substituta, benefícios previdenciários (arts. 2º e 3º, caput e § 3º,
quando não estiver em efetivo serviço de substituição, da Lei n. 7.644/87). 2 – Consta como atribuição da
deverá residir na aldeia assistencial e cumprir tarefas mãe social dedicar-se “com exclusividade”, às crianças
determinadas pelo empregador. A mãe social, quando e à “casa-lar” que lhe for confiada, o que abrange:
no exercício da substituição, terá direito à retribuição orientar e assistir as crianças, propiciando o
percebida pela titular e ficará sujeita ao mesmo surgimento de condições próprias de uma família, e
horário de trabalho. administrar a casa, realizando e organizando todas as
Extinto o contrato de trabalho, a mãe social deverá tarefas a ela pertinentes (art. 4º da Lei n. 7.644/87). 3
retirar-se da casa-lar que ocupava, cabendo à – Nesse contexto, não é possível estabelecer ou
entidade empregadora providenciar a imediata controlar a jornada de trabalho da mãe social, já que
substituição (Lei 7.644, art. 13). o conjunto de suas atribuições demanda, por lei,
disponibilidade constante para as crianças. É o que
Sem embargo de a mãe social ser uma trabalhadora estabelece o art. 6º da Lei n. 7.644/87, segundo o qual
subordinada atípica, o art. 20 da Lei 7.644 prevê a o trabalho desenvolvido pela mãe social se realiza
competência da Justiça do Trabalho para dirimir as pelo tempo necessário ao desempenho de suas
controvérsias entre ela e seu empregador. tarefas em caráter “intermitente”, o que significa
dizer que o trabalho se desenvolve mediante
O TST vem reconhecendo vínculo empregatício de
sucessivos períodos de atividade e de paralisações, de
natureza especial entre a mãe social e a instituição
acordo com a dinâmica natural de um lar. 4 – O fato
empregadora, como se infere do seguinte julgado:
de a trabalhadora ficar disponível ao longo de 24
MÃE SOCIAL (OU MÃE-CRECHEIRA) – LEI N. 7.644/87 – horas, podendo ser acionada a qualquer momento,
FEBEM – VÍNCULO DE EMPREGO. A prestação de não desvirtua o caráter intermitente do trabalho da
serviços pela “mãe social”, com fulcro na Lei n. mãe social, ao contrário, é exatamente essa a previsão
7.644/87, caracteriza contrato de trabalho, na medida da lei. Incabível, pois, o deferimento de horas extras.
em que presentes a pessoalidade, a onerosidade e a Ademais, os arts. 5º e 19 da Lei n. 7.644/87 que,
subordinação. Esse contrato reveste-se, no entanto, respectivamente, relacionam os direitos da mãe social
de natureza especial, em razão de os artigos 5º e 19 e os dispositivos da CLT que lhe são aplicáveis, nada
da referida lei disporem, de forma expressa e dispõem sobre a limitação ou controle de jornada e
exaustiva, sobre os direitos assegurados, entre os intervalos. 5 – Registre-se que a limitação da jornada
quais se incluem férias remuneradas, gratificação de de trabalho é direito assegurado aos trabalhadores
Natal, anotação da CTPS, benefícios previdenciários, urbanos e rurais, nos termos do art. 7º, XIII, da
repouso semanal remunerado e indenização ou Constituição Federal. Porém, mesmo esse importante
levantamento do FGTS, no caso de dispensa sem justa direito social comporta exceções, desde que
causa. Recurso de embargos não provido (TST-E-RR legalmente estabelecidas, tal como aquela relativa aos
592198-22.19 99.5.04.5555 – Rel. Min. Milton de empregados domésticos, anterior à Emenda
Moura França – SBDI-1 – DJ 09.06.2006). Constitucional n. 72, de 02.04.2013. 6 – É inegável o
caráter fundamental da atividade da mãe social, e que
Não obstante, o TST vem negando à mãe social o os direitos assegurados por lei estão muito aquém da
direito a horas extras. Nesse sentido: responsabilidade assumida por essas profissionais,
bem como dos deveres que lhe são impostos,
(...) RECURSO DE REVISTA. RECLAMADA. LEI N.
demandando aperfeiçoamento legislativo. Com efeito,
13.015/2014 MÃE SOCIAL. TRABALHO INTERMITENTE.
a mãe social não é responsável apenas pelos cuidados
JORNADA. HORAS EXTRAS 1 – A lei define a mãe social
físicos com a criança, como a higienização e
como aquela que se dedica à assistência da criança
alimentação, mas pelo oferecimento da afetividade
abandonada, exercendo esse encargo em nível social,
necessária ao seu desenvolvimento psicológico, Direito Material de Processual do Trabalho, sendo o
emocional e social. Tais atribuições sequer podem ser qual a “autorização legal permitindo o trabalho da
mensuradas monetariamente, tamanha é a sua gestante e lactante em ambiente insalubre é
importância e complexidade. Não obstante, é inviável inconstitucional e inconvencional porque violadora da
o deferimento de horas extras quando a previsão da dignidade humana, do direito à redução dos riscos
lei é de inexistência de limitação de jornada diária, inerentes ao trabalho, da proteção integral ao
bem como de intervalos fixos para refeição. Julgados. nascituro e à criança e do direito social à saúde.
7 - Recurso de revista de que se conhece e a que se dá Ademais, o meio ambiente do trabalho saudável é
provimento (TST-RR 147300-78.2014.5.13.0004, 6ª T. direito fundamental garantido pela Constituição da
Red. Min. Kátia Magalhães Arruda, DEJT 15.12.2017). república, revestido de indisponibilidade absoluta.
(grifos nossos) Incidência dos arts. 1º, III; 6º; 7º, XXII; 196; 200; 201,
II; 203, I; 225; 226 e 227 da Constituição Federal;
2.1. Empregado hipersuficiente Convenção 103 e 183 da OIT; arts. 25, I e II da DUDH”.

É importante destacar que a Reforma Trabalhista de SLIDE 7


2017 introduziu a canhestra figura do “empregado
hipersuficiente” no parágrafo único do art. 444 da CAPÍTULO III
CLT, inserido pela Lei 13.467/2017, que dispõe:
Sujeitos da Relação de Emprego: o
A livre estipulação a que se refere o caput deste artigo
aplica-se às hipóteses previstas no art. 611-A desta Empregador
Consolidação, com a mesma eficácia legal e
preponderância sobre os instrumentos coletivos, no 1. EMPREGADOR
caso do empregado portador de diploma de nível
A CLT reconhece, literalmente, dois tipos de
superior e que perceba salário mensal igual ou
empregadores: o empregador típico e o empregador
superior a duas vezes o limite máximo dos benefícios
por equiparação. É o que se extrai do seu art. 2º,
do Regime Geral de Previdência Social.
caput, e seu § 1º, que dispõem, in verbis:
Esse dispositivo, a nosso ver, é de induvidosa
Art. 2º Considera-se empregador a empresa,
inconstitucionalidade por atritar com os arts. 1º, III e
individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da
IV, 3º, IV, 7º, caput, e XXXII, e 170 da CF, os quais
atividade econômica, admite, assalaria e dirige a
enaltecem a dignidade da pessoa humana, o valor
prestação pessoal de serviço.
social do trabalho, a função social da empresa e do
contrato de trabalho, a proibição de discriminação de § 1º Equipara-se a empregador, para os efeitos
qualquer natureza e abominam qualquer “distinção exclusivos da relação de emprego, os profissionais
entre trabalho manual, técnico ou intelectual ou entre liberais, as instituições de beneficência, as associações
os profissionais respectivos”. recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos,
que admitirem trabalhadores como empregados.
Na mesma linha, o Enunciado 49 aprovado na 2ª
Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho, Há, contudo, cizânia doutrinária a respeito do critério
que acrescenta violação à Convenção 111 da OIT e utilizado pelo legislador consolidado, tanto no que
enaltece que a “negociação individual somente pode respeita à definição de empregador como “empresa”
prevalecer sobre o instrumento coletivo se mais quanto na equiparação a empregador adotada para as
favorável ao trabalhador e desde que não pessoas e entidades indicadas no § 1º do art. 2º da
contravenha as disposições fundamentais de proteção CLT.
ao trabalho, sob pena de nulidade e de afronta ao
princípio da proteção (artigo 9º da CLT c/c o artigo Alguns autores, como Russomano, Orlando Gomes e
166, VI, do Código Civil)”. Elson Gottschalk, Délio Maranhão e José Augusto
Rodrigues Pinto, sustentam ser atécnica a definição
Em se tratando de empregada gestante e lactante, legal contida na Consolidação, porquanto empregador
invocamos o Enunciado 50 aprovado na 2ª Jornada de é a pessoa física ou jurídica, e não a empresa, pois
esta é sempre objeto e nunca sujeito de direito. Este assunção de riscos, já que as instituições de
último autor critica, com veemência, a definição legal, beneficência não visam lucro e são empregadoras
aduzindo que o legislador cometeu dois deslizes. O típicas. Realça, outrossim, que empregador
primeiro, é que se esqueceu do fator permanência, propriamente dito é a pessoa física ou jurídica que se
pois quem utiliza eventualmente energia de outrem utiliza da prestação subordinada de serviços. A
não poderá ser empregador. O segundo deslize está empresa, o grupo de empresas, o consórcio, o
em considerar empregador a empresa: condomínio e outros entes não dotados de
personalidade jurídica são empregadores por
Tivesse a assimilação decorrido de uma posição equiparação.
sistemática de anticontratualismo que nossa
legislação assumisse, transparente, aliás, no uso da Para Amauri Mascaro Nascimento, empregador é todo
expressão admite, em lugar de ajusta, aceitando ente, dotado ou não de personalidade jurídica, com
empregador e empregado como peças de uma ou sem fim lucrativo, que tiver empregado (...). Não
engrenagem institucional, e diríamos não haver erro cabe aqui dar o conceito de empresa. Pertence ao
na definição, mas opção por uma postura inaceitável direito comercial e não há uniformidade de
dentro de um sistema legal apoiado no contrato, conclusões. Para o direito do trabalho é irrelevante,
como é o da CLT. Basta ver-se, a propósito, o uma vez que o conceito de empregador é reflexo. Será
enunciado de seu Título IV, “Do contrato individual de empregador o ente que tiver empregado. Chega-se à
trabalho”, e o princípio do art. 448, segundo o qual “a identificação do empregador através da presença de
mudança de propriedade da empresa não afetará os empregados291.
contratos individuais de seus empregados”286.
Francisco Meton Marques de Lima acentua:
Outros, como Amauri Mascaro Nascimento, Octavio
Bueno Magano, Francisco Meton Marques de Lima, Em que pese a crítica dos civilistas e intelectuais, a
Vólia Bomfim Cassar e Valentin Carrion, advogam no definição da Consolidação vigente parece-nos mais
sentido de que a empresa também pode ser sujeito de consentânea com a natureza do direito do trabalho,
direito, na condição de uma nova categoria jurídica. porque abrange aspectos mais factuais que jurídicos.
Pode um empregador não estar organizado sob a
Octavio Bueno Magano287 ressalta que a moderna forma de pessoa jurídica (por exemplo, uma
teoria da disregard of legal entity encampa a teoria sociedade de fato). O vocábulo empresa envolve mais
institucionalista difundida por Maurice Hariou. E a atividade que a organização jurídica. E com isso
conceitua empregador como sendo “toda entidade a permite a continuação do emprego, não obstante a
utilizar-se de trabalhadores subordinados. Fala-se em mudança de razão social, a mudança de titular, a
entidade para se estabelecer que empregador não é sucessão292.
apenas a pessoa física ou jurídica senão também
outros entes não dotados de personalidade jurídica”. Valentin Carrion pontifica:
Assegura esse saudoso juslaboralista288 que não há Empregador é a empresa. A expressão é muito
“por que relutar em admitir a figura do empregador, criticada. Empresa é o conjunto de bens materiais,
destituído de personalidade jurídica, como na imateriais e pessoais para a obtenção de um certo
hipótese da empresa, do grupo de empresas, do fim. Juridicamente, a empresa é uma universalidade,
consórcio e do condomínio. Aliás, a CLT já o faz em compreendendo duas universalidades parciais, a de
relação às duas primeiras figuras. No anteprojeto de pessoas (personarum) e de bens (bonorum),
CLT, elaborado pela comissão presidida por Arnaldo funcionando em direção a um fim (CATHARINO,
Lopes Süssekind, depara-se com concepção quiçá Temas). Importante é que a lei quis salientar a
mais clara do assunto, tratando-se do empregador, integração do trabalhador nesse conjunto,
pessoa física ou jurídica, num preceito, e do independentemente da pessoa que seja seu
empregador, como entidade destituída de proprietário, ou venha responder pelas obrigações em
personalidade jurídica, em outro”289. determinado momento (arts. 10 e 448). O vocábulo
Salienta, ainda, Magano290 – com razão – que no empresa é usado como pessoa física ou jurídica que
conceito de empregador não é essencial a ideia de contrata, dirige e assalaria o trabalho subordinado.
Judicioso é o entendimento de Evaristo de Moraes empregadores. Basta que, de fato, se utilizem da força
Filho, para quem dentro da melhor técnica jurídica, de trabalho empregaticiamente contratada. A
somente uma pessoa natural ou jurídica pode presença do empregador identifica-se, portanto, pela
revestir-se da qualidade de empregador, sujeito de verificação primeira da presença de empregado a seus
direitos e obrigações. Pode ser um simples indivíduo, serviços, e não pela qualidade do sujeito contratante
uma firma individual, uma firma societária ou coletiva, de tais serviços. Inexistindo na ordem jurídica
uma instituição ou fundação de qualquer espécie, qualificação específica para que uma entidade seja
com ou sem finalidade econômica. Quisemos com isso considerada empregadora (ao contrário do que ocorre
acabar com a ambiguidade e as confusões do art. 2º com o empregado: apenas pessoa física), disso resulta
da Consolidação das Leis do Trabalho, que coloca a que até mesmo entes juridicamente
empresa como empregador, atribuindo-lhe despersonalizados podem surgir, no plano jurídico,
qualidades subjetivas de titularidade de direitos e como empregadores, desde que se valendo do
obrigações, quando a empresa é objeto de direito, e trabalho empregatício. É o que ocorre com
não sujeito de direito. Ela é da propriedade ou condomínios, espólios e massas falidas, por
titularidade de uma pessoa natural ou jurídica, nada exemplo295.
mais. Esta é que é, a rigor, sujeito de direito (...). Não
há negar que, embora objeto de direito, há uma forte Debruçando-nos sobre os abalizados conceitos
tendência na doutrina universal e no direito positivo formulados pelos autores pátrios, ousamos dizer que
para a subjetivação da empresa. No direito italiano, empregador, no nosso ordenamento, é a pessoa física
perante o Código Civil de 1942293, não hesitam os ou jurídica, de direito público ou privado, ou, ainda,
seus comentaristas, em sua maioria, em classificar a ente despersonalizado equiparável à pessoa jurídica
empresa (impresa), como atividade do empresário, para fins de responsabilidades fiscais, laborais e
dentro da categoria dos sujeitos do direito; deixando previdenciárias, que contratar trabalhadores como
o estabelecimento (azienda) para a de objeto de empregados.
direito. Deve-se notar, no entanto, que tudo isso Nesse sentido, aliás, encontramos as definições
decorre diretamente dos conceitos legais, positivos e semelhantes dadas pela Lei 5.889/73 ao empregador
vigentes, naquele país, nos quais empresa e atividade rural (art. 3º) e pela Lei 8.036/90, (art. 15, § 1º), sendo
do empresário se confundem. Mas nenhum jurista que esta define empregador como
chega a personalizar a empresa propriamente dita,
colocando-a como sujeito de direitos e obrigações “a pessoa física ou pessoa jurídica de direito privado
trabalhistas, em sentido próprio. O que se vem dando, ou de direito público, da administração pública direta,
como é notório, foi o que se denominou de indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da
despersonalização do empregador, isto é, o contrato União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
de trabalho deixou de ser intuitu personae quanto à Municípios, que admitir trabalhadores a seu serviço,
pessoa natural (ou jurídica) do detentor momentâneo bem assim aquele que, regido por legislação especial,
da empresa294. encontrar-se nessa condição ou figurar como
fornecedor ou tomador de mão de obra,
Parece-nos impróprio, segundo a doutrina majoritária, independente da responsabilidade solidária ou
falar-se em empregador por equiparação quanto às subsidiária a que eventualmente venha a obrigar-se”.
pessoas físicas (profissionais liberais) ou jurídicas
(instituições de beneficência, associações recreativas Ademais, o direito do trabalho no Brasil optou,
ou outras instituições sem fins lucrativos) elencadas segundo a doutrina majoritária, pela corrente
no § 1º do art. 2º da Consolidação das Leis do contratualista, com o que se aflora, de lege lata, a
Trabalho, na medida em que todas estas pessoas ou incompatibilidade da teoria da instituição, de feição
entidades são autênticas empregadoras. anticontratualista, com o ordenamento jurídico
nacional.
Não há, portanto, como adverte Maurício Godinho
Delgado, De lege ferenda, rogamos para que o direito do
trabalho discipline expressamente a posição dos entes
uma qualidade especial deferida por lei a pessoas ou entidades despersonalizadas como figuras
físicas ou jurídicas para emergirem como
equiparáveis ao empregador típico, dando cobro às pode ter agências, sucursais ou filiais, tal como prevê,
acaloradas discussões doutrinárias a tal respeito. O v. g., os arts. 355 e 498 da CLT.
Dec.-lei 200/67, por exemplo, que, em seu art. 5º, inc.
II, define a empresa pública como “a entidade dotada O art. 966 do Código Civil considera empresário
de personalidade jurídica de direito privado, com “quem exerce profissionalmente atividade econômica
patrimônio próprio e capital exclusivo da União, organizada para a produção ou a circulação de bens
criada por lei para a exploração de atividade ou de serviços”.
econômica que o Governo seja levado a exercer por Empresário, então, é o sujeito de direito que exerce
força de contingência ou conveniência administrativa, de modo profissional e com habitualidade uma
podendo revestir-se de qualquer das formas atividade econômica organizada para produção ou
admitidas em direito”, já deu o primeiro passo nessa circulação de bens ou de serviços visando à obtenção
direção, embora no âmbito da administração pública. de lucro.

Entretanto, o parágrafo único do art. 966 do Código


1.1. Empresa, empresário e estabelecimento Civil dispõe que: “Não se considera empresário quem
exerce profissão intelectual, de natureza científica,
Empresa, ao que nos parece, é expressão que significa literária ou artística, ainda com o concurso de
o conjunto de bens materiais e imateriais para a auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da
obtenção de um certo fim. Do ponto de vista jurídico, profissão constituir elemento de empresa”.
é uma universalidade de bens e de pessoas.
Podem existir juridicamente o empresário individual
Estabelecimento é, segundo Isis de Almeida, “o local (pessoa física) e a sociedade empresária (pessoa
técnico da prestação do serviço; a unidade técnica de jurídica)299.
produção, em atividade ou não”. Empresa, para os
fins trabalhistas, prossegue o referido autor, “é o Adverte Fábio Ulhoa Coelho, contudo, que os sócios
conjunto das operações econômicas do empregador, de uma sociedade empresária, como empreendedores
e pressupõe a autoridade deste na coordenação dos ou investidores, não são legalmente empresários,
meios e dos instrumentos de produção e da mão de porquanto, neste caso, o empresário é a própria
obra, estabelecendo, quanto a esta, a subor- sociedade, esta sim sujeito de direito com
dinação”296. personalidade autônoma em relação aos sócios.

Para Délio Maranhão, a empresa é a unidade Ouçamos a lição de Fábio Ulhoa Coelho:
econômica, e o estabelecimento, a unidade técnica de Deve-se desde logo acentuar que os sócios da
produção. Aquela traduz, antes, a atividade sociedade empresária não são empresários. Quando
profissional do empresário, considerada no seu pessoas (naturais) unem seus esforços para, em
aspecto funcional mais do que no instrumental. Por sociedade, ganhar dinheiro com a exploração
isso, a rigor, não cabe nem na categoria de sujeito empresarial de uma atividade econômica, elas não se
nem na de objeto do direito. Distingue, assim, “a tornam empresárias. A sociedade por elas constituída,
relação entre o estabelecimento e a empresa. Aquele uma pessoa jurídica com personalidade autônoma,
é a organização produtora que constitui um capital; sujeito de direito independente, é que será
esta, a atividade profissional do empresário”297. empresária, para todos os efeitos legais. Os sócios da
José Augusto Rodrigues Pinto conceitua a empresa no sociedade empresária são empreendedores ou
contexto do direito do trabalho como “a organização investidores, de acordo com a colaboração dada à
destinada a realizar um fim determinado, econômico sociedade (os empreendedores, além de capital,
ou não, mediante a utilização permanente de energia costumam devotar também trabalho à pessoa
pessoal de empregados, sob a direção e retribuição do jurídica, na condição de seus administradores, ou as
organizador”298. controlam; os investidores limitam-se a aportar
capital). As regras que são aplicáveis ao empresário
A empresa pode ter um único estabelecimento ou individual não se aplicam aos sócios da sociedade
vários estabelecimentos, ou seja, além da matriz, empresária – é muito importante apreender isto300.
De outro giro, é importante lembrar que o empresário A Lei 13.874/2019, também chamada de Lei da
pode ser um empresário individual, isto é, a pessoa Liberdade Econômica, inseriu no Código Civil o art. 49-
física que exerce profissionalmente atividade A e seu parágrafo único, dispondo que a “pessoa
econômica organizada, ou uma sociedade empresária, jurídica não se confunde com os seus sócios,
ou seja, a pessoa jurídica que tenha por objeto social associados, instituidores ou administradores” e que a
a exploração de uma atividade produtiva organizada. “autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é um
instrumento lícito de alocação e segregação de riscos,
Em outras palavras, a pessoa física que desenvolve estabelecido pela lei com a finalidade de estimular
uma atividade produtiva pode ser empresário empreendimentos, para a geração de empregos,
individual (titular de empresa individual), nos termos tributo, renda e inovação em benefício de todos”.
do art. 966 do Código Civil. Já a pessoa jurídica pode Esses dispositivos, a nosso sentir, devem ser
ser uma sociedade empresária, porque desenvolve interpretados conforme a Constituição (CF, art. 173),
atividade empresarial301. no sentido de que a pessoa jurídica deve ter uma
Ademais, de acordo com o art. 980-A do CC, o função socioambiental, além de observar as
ordenamento jurídico brasileiro passou a reconhecer disposições legais mínimas de proteção ao trabalho
a empresa individual de responsabilidade limitada, humano.
que “será constituída por uma única pessoa titular da É importante a distinção entre empresa e
totalidade do capital social, devidamente estabelecimento para o direito do trabalho,
integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes porquanto, exemplificativamente, o tempo de serviço
o maior salário mínimo vigente no País”, cujo nome do empregado é contado com base na sua
empresarial deverá ser formado pela inclusão da permanência na empresa (CLT, arts. 4º e 461, § 1º), e
expressão “EIRELI” após a firma ou a denominação não em um de seus estabelecimentos; é lícita a
social da empresa individual de responsabilidade transferência do empregado quando ocorrer extinção
limitada (CC, art. 980-A, § 1º). do estabelecimento em que exercia suas funções
Mas a pessoa natural que constituir EIRELI somente laborais (CLT, art. 469, § 2º).
poderá figurar em uma única empresa dessa
modalidade (CC, art. 980-A, § 2º).
1.2. Cartório não oficializado
O § 3º do art. 980-A do CC permite que a EIRELI
“poderá resultar da concentração das quotas de outra Os servidores dos cartórios oficializados são
modalidade societária num único sócio, servidores públicos que se submetem a concurso
independentemente das razões que motivaram tal público, inexistindo relação empregatícia com a
concentração”. Administração Pública, e sim vínculo de natureza
estatutária (STF-ADI 3.395).
Ademais, o § 5º do art. 980-A do CC dispõe que
poderá ser atribuída à empresa individual de No entanto, existem cartórios não oficializados, mas
responsabilidade limitada constituída para a que também prestam serviços por delegação do
prestação de serviços de qualquer natureza a Poder Público, nos termos do art. 236 da CF, segundo
remuneração decorrente da cessão de direitos o qual “os serviços notariais e de registro são
patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou exercidos em caráter privado, por delegação do Poder
voz de que seja detentor o titular da pessoa jurídica, Público”. Para ser titular desses cartórios não
vinculados à atividade profissional, sendo aplicável à oficializados é preciso ser aprovado em concurso
EIRELI, no que couber, as regras previstas para as público (CF, art. 236, § 3º).
sociedades limitadas (CC, art. 980-A, § 6º).
O art. 21 da Lei 8.935/94 dispõe que o titular dos
Nesse passo, adotando-se a interpretação ampliativa serviços notariais e de registro é responsável pelo
do art. 2º da CLT, tanto o empresário individual gerenciamento administrativo e financeiro, o que
quanto a sociedade empresária podem ser importa reconhecer que é o titular do cartório que se
empregadores. reveste da qualidade de empregador.
O escrevente de cartório extrajudicial (não efeitos da relação de emprego, solidariamente
oficializado) não pode ser tido como servidor responsáveis a empresa principal e cada umas das
estatutário, principalmente quando contratado subordinadas.
diretamente pelo titular do cartório, não tendo o
Estado qualquer responsabilidade pelas obrigações Já o § 2º da Lei 5.889/1973 define o grupo econômico
assumidas pelo titular do cartório não oficializado. É, ou financeiro rural nos seguintes termos:
pois, o titular do cartório o empregador (art. 2º da Sempre que uma ou mais empresas, embora tendo
CLT), respondendo pela serventia extrajudicial, cada uma delas personalidade jurídica própria,
inclusive pelos créditos trabalhistas de seus estiverem sob direção, controle ou administração de
empregados. Nesse sentido: outra, ou ainda quando, mesmo guardando cada uma
RECURSO DE REVISTA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO sua autonomia, integrem grupo econômico ou
TRABALHO. SERVENTUÁRIO DE CARTÓRIO financeiro rural, serão responsáveis solidariamente
EXTRAJUDICIAL. I – O entendimento que prevalece nas obrigações decorrentes da relação de emprego.
nesta Corte é o de que, nos termos do artigo 236 da Octavio Bueno Magano leciona que “o grupo, previsto
Constituição, os serviços notariais e de registro são na Consolidação das Leis do Trabalho, é o grupo
exercidos em caráter privado, por delegação. II – hierarquizado, composto por subordinação, em que
Nesse passo, o titular do cartório, ao contratar e se supõe a existência de uma empresa controladora e
dirigir a prestação do trabalho, equipara-se ao de outra ou outras controladas”302. É o que se
empregador comum e seus empregados estão sujeitos denomina holding company. Acompanham,
ao regime da CLT, mesmo antes do advento da Lei n. majoritariamente, este entendimento Evaristo de
8.935/1994. Arestos. III – recurso de revista conhecido Moraes Filho, Orlando Gomes, José Martins
e provido (TST – RR – 11775-31.2014.5.18.0281 – Rel. Catharino, Barata Silva e outros.
Min. Antonio José de Barros Levenhagen, j.
22.06.2016 – 5ª T. – DEJT 24.06.2016). Corrente minoritária, composta de Russomano,
Arnaldo Süssekind, Délio Maranhão e Pereira Leite,
(...) SERVENTUÁRIO DE CARTÓRIO. REGIME JURÍDICO. sustenta que a expressão empresa principal pode
A relação jurídica havida entre o serventuário e o significar uma pessoa natural, um grupo de acionistas
cartório extrajudicial está sujeita ao regime jurídico da ou uma pessoa jurídica, desde que controlem e
Consolidação das Leis do Trabalho, nos termos do comandem, realmente, um grupo de empresas, não
artigo 236 da Constituição da República, não havendo se exigindo, necessariamente, que a empresa
a possibilidade de se limitar a incidência do regime controladora seja uma sociedade holding company.
jurídico celetista tão somente a partir da opção a que
alude o artigo 48 da Lei n.8.935/94. Agravo de Com o advento da Reforma Trabalhista (Lei
Instrumento a que se nega provimento. (...) (TST – 13.467/2017), houve alteração da definição de grupo
ARR – 1574-58.2011.5.06.0009, Rel. Des. Conv. econômico, como se infere dos §§ 2º e 3º do art. 2º
Marcelo Lamego Pertence, 1ª T., DEJT 11.11.2016). da CLT, in verbis:

1.3. Terceirização (...) § 2º Sempre que uma ou mais empresas, tendo,


embora, cada uma delas, personalidade jurídica
Vide item 3, Capítulo V, deste Título II. própria, estiverem sob a direção, controle ou
2. GRUPO ECONÔMICO administração de outra, ou ainda quando, mesmo
guardando cada uma sua autonomia, integrem grupo
O § 2º do art. 2º da CLT, antes da Lei 13.467/2017, econômico, serão responsáveis solidariamente pelas
dispunha: obrigações decorrentes da relação de emprego.

Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora § 3º Não caracteriza grupo econômico a mera
cada uma delas, personalidade jurídica própria, identidade de sócios, sendo necessárias, para a
estiverem sob a direção, controle ou administração de configuração do grupo, a demonstração do interesse
outra, constituindo grupo industrial, comercial ou integrado, a efetiva comunhão de interesses e a
qualquer outra atividade econômica, serão, para os atuação conjunta das empresas dele integrantes.” (NR
Como se vê, a Lei da Reforma Trabalhista manteve a •direção, que é a exteriorização do controle e consiste
responsabilidade solidária para fins trabalhistas no poder de subordinar/coordenar pessoas e coisas à
quando houver grupo econômico por subordinação realização dos objetivos do grupo;
ou hierarquizado (vertical) ou grupo econômico por
coordenação ou não hierarquizado (horizontal). Pela •administração, que concerne à ideia de organização
nova lei, no entanto, há mais grupo econômico pela visando a um fim imposto ou disciplinado pela
mera identidade de sócios, ainda que estes sejam empresa administradora.
empresas, pois caberá ao trabalhador, em Outro elemento igualmente importante para
princípio303, provar o fato constitutivo da existência caracterizar o grupo para fins justrabalhistas é a
do interesse integrado, a efetiva comunhão de natureza da atividade por ele desenvolvida, que deve
interesses e a atuação conjunta das empresas ser sempre econômica.
integrantes do alegado grupo econômico.
Assim, não há falar-se em formação de grupo para fins
Parece-nos que a mens legislatoris foi blindar os de existência de empregador único quando se está
grupos econômicos horizontais da responsabilidade diante das figuras previstas no § 1º do art. 2º da CLT,
justrabalhista nos casos em que a relação entre as ou seja, grupo de profissionais liberais, de instituições
empresas é apenas de coordenação ou de gestão, de beneficência, de associações recreativas e de
mantendo-se a independência administrativa entre outras entidades filantrópicas ou sem fins lucrativos,
elas, tal como ocorre com as franquias ou quando como as cooperativas, as associações de moradores
existir uma administração comum a todas as de bairro, as associações sindicais etc.
empresas, especialmente os grupos familiares onde se
verifica a troca de empregados, que passam a ser A Lei 13.467/2019, também chamada de Lei da
utilizados indistintamente por todas ou algumas Liberdade Econômica, restringiu mais ainda a
empresas do grupo, bem como a utilização comum de formação de grupo econômico, uma vez que alterou
materiais, equipamentos, tecnologia etc. disposições do Código Civil (arts. 49-A e 50) para
enaltecer que:
Cinco são os elementos componentes da estrutura do
grupo econômico para fins de responsabilidades •a pessoa jurídica não se confunde com os seus
justrabalhistas: sócios, associados, instituidores ou administradores
(CC, art. 49, caput);
•pluralidade de empresas;
•a autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é um
•autonomia de cada uma delas (personalidades instrumento lícito de alocação e segregação de riscos,
jurídicas próprias); estabelecido pela lei com a finalidade de estimular
•relação entre elas de dominação (direção, controle empreendimentos, para a geração de empregos,
ou administração) da empresa-mãe sobre as demais tributo, renda e inovação em benefício de todos (CC,
participantes (grupo econômico vertical) ou relação art. 49, parágrafo único);
de coordenação quando as empresas guardarem •em caso de abuso da personalidade jurídica,
autonomia (grupo econômico horizontal); caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela
•atividade necessariamente econômica; confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da
parte, ou do Ministério Público quando lhe couber
•solidariedade entre todas elas (consequência jurídica intervir no processo, desconsiderá-la para que os
para o direito do trabalho). efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares de
Dos elementos acima, merece destaque o que diz administradores ou de sócios da pessoa jurídica
respeito à relação de dominação (relação vertical) beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso (CC,
entre as empresas do grupo, o qual se opera por meio art. 50, caput);
de três formas:

•controle, que significa, via de regra, preponderância


acionária;
•o desvio de finalidade é a utilização da pessoa pública (patrimônio e um fim, sem finalidade
jurídica com o propósito de lesar credores e para a lucrativa).
prática de atos ilícitos de qualquer natureza;
Quanto aos demais órgãos integrantes da
•entende-se por confusão patrimonial a ausência de administração pública indireta, isto é, as sociedades
separação de fato entre os patrimônios, caracterizada de economia mista e as empresas públicas, ambas
por: I – cumprimento repetitivo pela sociedade de pessoas jurídicas de direito privado que têm por
obrigações do sócio ou do administrador ou vice- objetivo a obtenção de lucros, pode haver formação
versa; II – transferência de ativos ou de passivos sem de grupo econômico para fins de responsabilização
efetivas contraprestações, exceto os de valor justrabalhista.
proporcionalmente insignificante; e III – outros atos
de descumprimento da autonomia patrimonial; A sociedade de economia mista pode integrar grupo
societário, como sociedade dominante (Lei 6.404/76,
•essas regras também se aplicam à extensão das arts. 235, § 2º, e 237, § 1º) ou como sociedade
obrigações de sócios ou de administradores à pessoa controlada (se não detiver a maioria das ações).
jurídica;
Quanto à empresa pública, parece-nos remota a
•a mera existência de grupo econômico sem a possibilidade de formação de grupo econômico com
presença dos requisitos de que trata o caput do art. outras empresas, porquanto o seu capital social é
50 do CC não autoriza a desconsideração da exclusivo da União, do Estado, do Município ou do
personalidade da pessoa jurídica; Distrito Federal.

•não constitui desvio de finalidade a mera expansão Antes de finalizar este tópico, é importante trazer à
ou a alteração da finalidade original da atividade baila a polêmica sobre a existência do “consórcio de
econômica específica da pessoa jurídica. empregadores urbanos”, pois há lacuna no Direito
brasileiro a respeito dessa figura. Daí a controvérsia
É importante lembrar que o § 1º do art. 8º da CLT jurídica que reina na doutrina sobre a sua real
(com redação dada pela Lei 13.467/2017) manda existência, o que vai depender da viabilidade de
aplicar subsidiariamente o Direito Civil ao Direito do aplicação ou não, por analogia, da Lei 10.256/2011
Trabalho sem exigir compatibilidade principiológica. (que inseriu o art. 25-A na Lei 8.112/91), que instituiu
No entanto, pensamos que tanto o Código Civil contribuição previdenciária sobre as remunerações
quanto a CLT devem ser interpretados conforme a pagas pelo consórcio de empregadores rurais, e da
Constituição, sem prejuízo da aplicação da Teoria do Portaria MTP 671/2021, que considera “consórcio de
Diálogo das Fontes304, ou seja, é factível invocar-se a empregadores rurais a união de produtores rurais,
Teoria Menor do CDC (art. 28, § 5º) para fins de se pessoas físicas, com a finalidade única de contratar,
desconsiderar a personalidade jurídica “sempre que gerir e demitir trabalhadores para prestação de
sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao serviços, exclusivamente, aos seus integrantes”. Nos
ressarcimento de prejuízos causados” aos termos do art. 43 da referida Portaria, “constatada a
trabalhadores. Em sentido contrário, o parágrafo violação de preceito legal pelo consórcio de
único do art. 40 do Decreto 10.854/2021 veda a empregadores rurais, o Auditor-Fiscal do Trabalho
caracterização de grupo econômico pela mera deverá lavrar o competente auto de infração”.
identidade de sócios, hipótese em que será
necessária, para a sua configuração, conforme o
disposto no § 3º do art. 2º da CLT, a demonstração: I –
do interesse integrado; II – da efetiva comunhão de De toda a sorte, surgindo, de fato, grupo de
interesses; e III – da atuação conjunta das empresas empregadores que se associam para contratar
que o integrem. trabalhadores urbanos, cremos que todos os
integrantes do grupo serão solidariamente
No âmbito da administração pública, não haverá responsáveis para fins trabalhistas e socioambientais
formação de grupo com relação aos órgãos da em relação aos trabalhadores contratados por alguns
administração direta, autárquica (pessoa jurídica de ou todos os integrantes do consórcio.
direito público que não visa ao lucro) ou fundacional
Aluysio Sampaio e outros, ressaltando-se, porém, que
na solidariedade trabalhista não há “devedores” – no
2.1. Solidariedade trabalhista sentido estrito do termo – da mesma obrigação, e sim
Como já vimos, a temática da solidariedade sujeitos distintos responsáveis perante eventual
trabalhista entre empresas encontra albergue nos §§ credor de um deles, ou seja, não há debitum senão
2º e 3º do art. 2º da CLT. apenas obligatio, razão pela qual o credor
(empregado) não poderia acionar todas as empresas
Discute-se, em doutrina, se a solidariedade prevista do grupo, mas apenas a que formalmente o
no preceptivo em causa é passiva ou ativa. contratou, salvo quando extinta a relação de
emprego.
Trata-se de discussão importante para que se possa
enfrentar a seguinte indagação: O grupo de empresas É de se ressaltar, contudo, que o § 2º do art. 3º da Lei
pode ser considerado um empregador único? 5.889/73 consagra, a nosso ver, a teoria da
solidariedade passiva, na medida em que dispõe, in
Duas teorias se apresentam: a da solidariedade
verbis:
passiva e a da solidariedade ativa.
Sempre que uma ou mais empresas, embora tendo
A Reforma Trabalhista não se preocupou com este
cada uma delas personalidade jurídica própria,
problema, uma vez que os novos §§ 2º e 3º do art. 2º
estiverem sob direção, controle ou administração de
da CLT são insuficientes para responder à indagação
outra, ou ainda quando, mesmo guardando cada uma
supra.
sua autonomia, integrem grupo econômico ou
financeiro rural, serão responsáveis solidariamente
nas obrigações decorrentes da relação de emprego.
2.1.1. Teoria da solidariedade passiva (grifos nossos)

Para os defensores desta teoria, que é decorrente da Vale dizer, a regra alusiva ao grupo econômico de
teoria dualista do direito, a CLT (art. 2º, § 2º) natureza rural prevê a responsabilidade solidária
estabelece a solidariedade entre os empregadores apenas nas “obrigações” decorrentes da relação
agrupados apenas no que diz respeito às obrigações empregatícia, isto é, os créditos do empregado.
trabalhistas, ou seja, aos créditos do empregado
oriundos da relação empregatícia. A teoria da solidariedade passiva ganha força com a
nova redação dada pela Lei 13.467/2017 ao § 2º do
Lembra Maurício Godinho Delgado que “o claro art. 2º da CLT, segundo o qual as empresas
objetivo da ordem justrabalhista (art. 2º, § 2º, CLT; integrantes do grupo econômico “serão responsáveis
art. 3º, § 2º, Lei 5.589/1973) foi assegurar maior solidariamente pelas obrigações decorrentes da
garantia aos créditos trabalhistas em contexto relação de emprego”.
socioeconômico de crescente despersonalização do
empregador e pulverização dos empreendimentos
empresariais em numerosas organizações
2.1.2. Teoria da solidariedade ativa
juridicamente autônomas”305.
Para a teoria da solidariedade ativa, que encontra
Este tipo de solidariedade resulta da lei, como exigia o
fundamento no monismo jurídico, o grupo econômico
art. 896 do Código Civil (de 1916), o que foi mantido
constitui empregador único, razão pela qual os
pelo art. 265 do Código Civil de 2002.
empregados de qualquer empresa do grupo são, na
Neste caso, o empregado poderá pleitear o verdade, empregados de todo o grupo.
adimplemento das obrigações trabalhistas do
Este raciocínio decorre da interpretação extensiva da
empregador que formalmente o contratou, de todas
expressão “para os efeitos da relação de emprego”,
ou de qualquer outra empresa integrante do grupo.
que estava contida na redação do § 2º do art. 2º da
Acompanham tal entendimento Orlando Gomes, CLT antes da vigência da Lei 13.467/2017.
Cesarino Júnior, Rezende Puech, Antonio Lamarca,
São adeptos desta teoria Arnaldo Süssekind (com a 2003, o que reacende a polêmica em torno da
autoridade de ter sido um dos coautores da CLT), José temática em questão, mormente quanto aos aspectos
Martins Catharino, Mozart Victor Russomano, Evaristo processuais para a verificação da existência do grupo
de Moraes Filho, Octavio Bueno Magano e outros. econômico na fase executória do processo.

Magano306, inclusive, aponta quatro consequências Não obstante, a Súmula 239 do TST reconhece que é
da teoria da solidariedade ativa (também chamada de “bancário o empregado de empresa de
teoria do empregador único): processamento de dados que presta serviço a banco
integrante do mesmo grupo econômico, exceto
•reconhecimento do tempo de serviço prestado a quando a empresa de processamento de dados presta
qualquer das empresas do grupo como tempo único; serviços a banco e a empresas não bancárias do
•unidade do vínculo empregatício307; mesmo grupo econômico ou a terceiros”.

•possibilidade de transferência do empregado de uma Convém lembrar, finalmente, que a OJ 411 da SBDI-
para outra empresa do grupo, observadas as mesmas 1/TST aponta no sentido de que o “sucessor não
restrições impostas ao poder de comando de responde solidariamente por débitos trabalhistas de
qualquer empregador; empresa não adquirida, integrante do mesmo grupo
econômico da empresa sucedida, quando, à época, a
•possibilidade de equiparação salarial entre os empresa devedora direta era solvente ou idônea
empregados de empresas diversas pertencentes ao economicamente, ressalvada a hipótese de má-fé ou
mesmo grupo (no que diverge CATHARINO, in: fraude na sucessão”.
Tratado Jurídico do Salário).
Em síntese, e tendo em vista a nova redação dada
Amauri Mascaro Nascimento308 adverte que o grupo pela Lei 13.465/2017 ao § 2º do art. 2º da CLT, perde
de empresas, em face da nossa lei, não é empregador força a teoria do grupo econômico como empregador
único, a menos que se sustente que o grupo de único (solidariedade ativa).
empresas é, por sua vez, uma empresa. Esse raciocínio
seria de difícil aceitação para o caso, porque a lei Colecionamos outros verbetes que revelam o
expressamente declara que no grupo as empresas caminhar da jurisprudência a respeito da
devem ser autônomas, cada uma tendo personalidade solidariedade trabalhista antes e depois da Lei
jurídica própria (CLT, art. 2º, § 2º). 13.467/2017 (Reforma Trabalhista):

Embora sedutora a teoria do empregador único, RECURSO DA 2ª RECLAMADA. RESPONSABILIDADE


estamos com a teoria da solidariedade passiva, com a SOLIDÁRIA. FORMAÇÃO DE GRUPO ECONÔMICO.
advertência feita por Amauri Mascaro Nascimento. CARACTERIZAÇÃO (AÇÃO AJUIZADA ANTES DA
VIGÊNCIA DA LEI 13.467/17). No Direito do Trabalho,
Com efeito, o direito positivo brasileiro em vigor a fixação do grupo econômico não se reveste daquelas
impede que as empresas coligadas possam constituir características e exigências comuns da legislação
uma só, a menos que haja fusão, incorporação, comercial, bastando que haja o elo empresarial, a
transformação, mas aí estar-se-á diante de sucessão integração entre as empresas, que se configura pela
(para fins trabalhistas), e não de solidariedade. concentração da atividade empresarial num mesmo
empreendimento, independentemente de diversidade
A Súmula 129 do Colendo TST, a nosso sentir, parece
da personalidade jurídica, configurando-se o
demonstrar inclinação jurisprudencial pela teoria do
enquadramento legal do § 2º, do artigo 2º, da CLT. No
empregador único.
caso concreto, havendo prova robusta a evidenciar a
Todavia, ao editar a Súmula 205, aquela Corte existência de grupo econômico, a responsabilidade
praticamente desprezou tal teoria, uma vez que, se das reclamadas é solidária. Recurso não provido (TRT
fosse admitida a teoria da solidariedade ativa, não 17ª R., RO 00007593620175170012, Rel. Des. Cláudio
haveria necessidade de as demais empresas do grupo Armando Couce de Menezes, DEJT 30.07.2019).
figurarem como litisconsortes passivos no processo de
EXECUÇÃO. GRUPO ECONÔMICO. NÃO
cognição. A Súmula 205, porém, foi cancelada em
CONFIGURAÇÃO. LEI 13.467/2017. Após a entrada em
vigor da Lei 13.467/2017, que introduziu ao art. 2º da no parágrafo único do art. 27 da Lei n. 8.987, de 13 de
CLT o parágrafo 3º, para a configuração do grupo fevereiro de 1995
econômico, não basta a simples identidade de sócios,
“sendo necessárias, para a configuração do grupo, a § 2º A sociedade de propósito específico poderá
demonstração do interesse integrado, a efetiva assumir a forma de companhia aberta, com valores
comunhão de interesses e a atuação conjunta das mobiliários admitidos a negociação no mercado.
empresas dele integrantes”. Assim, não demonstrado § 3º A sociedade de propósito específico deverá
nos autos o interesse integrado, a efetiva comunhão obedecer a padrões de governança corporativa e
de interesses ou a atuação conjunta das empresas adotar contabilidade e demonstrações financeiras
integrantes do suposto grupo econômico, não há padronizadas, conforme regulamento.
como deferir o requerimento do exequente de
inclusão da empresa no polo passivo e sua § 4º Fica vedado à Administração Pública ser titular da
responsabilização solidária (TRT 3ª R., AP 0011355- maioria do capital votante das sociedades de que
52.2016.5.03.0029, Rel. Des. Paulo Mauricio R. Pires, trata este Capítulo.
10ª T., DEJT 28.06.2018).
§ 5º A vedação prevista no § 4º deste artigo não se
AGRAVO DE PETIÇÃO. GRUPO ECONÔMICO. aplica à eventual aquisição da maioria do capital
EXECUÇÃO TRABALHISTA. SOLIDARIEDADE votante da sociedade de propósito específico por
ECONÔMICA. Em se tratando de grupo econômico, as instituição financeira controlada pelo Poder Público
empresas que formam o conglomerado respondem em caso de inadimplemento de contratos de
solidariamente pelas obrigações trabalhistas. Assim é financiamento.
que, ainda que as empresas integrantes do grupo
Posteriormente, a Lei 11.101, de 09.02.2005, que
tenham cada uma personalidade jurídica própria,
regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a
resta inafastável a solidariedade. E com o
falência do empresário e da sociedade empresária,
cancelamento da Súmula n. 205, do TST, prevalece a
em seu art. 5º, XVI, passou a dispor que:
tese de que os integrantes do grupo econômico
podem ser responsabilizados pelos créditos •Art. 50. Constituem meios de recuperação judicial,
reconhecidos ao trabalhador de qualquer de suas observada a legislação pertinente a cada caso, dentre
empresas, independente de terem integrado o outros:
processo na fase de conhecimento. Agravo de petição
improvido (TRT 63ª R., RO 0010646- •(...) XVI – constituição de sociedade de propósito
64.2017.5.03.0002, Rel. Des. Julio Bernardo do Carmo, específico para adjudicar, em pagamento dos créditos,
5ª T., DEJT 24.05.2019). os ativos do devedor. (grifos nossos)

2.1.3 Sociedade de Propósito Específico (SPE) Essas normas estão em harmonia com os princípios da
livre iniciativa e da liberdade de exercício de qualquer
As chamadas Sociedades de Propósito Específico atividade econômica e encontram albergue na própria
(SPE), com essa denominação, só surgiram ordem econômica do Estado Democrático de Direito
expressamente no ordenamento jurídico309 com o brasileiro, como se infere do parágrafo único do art.
advento da Lei 11.079/2004310, cujo CAPÍTULO IV 170 da CF, que assegura “a todos o livre exercício de
(“DA SOCIEDADE DE PROPÓSITO ESPECÍFICO”), art. 9º, qualquer atividade econômica, independentemente
dispõe, in verbis: de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos
previstos em lei”311.
Art. 9º Antes da celebração do contrato, deverá ser
constituída sociedade de propósito específico, Nessa ordem, e demonstrada a licitude de criação de
incumbida de implantar e gerir o objeto da parceria. Sociedade de Propósito Específico, cumpre lembrar
que essas sociedades vêm sendo utilizadas em
§ 1º A transferência do controle da sociedade de
diversas áreas do setor econômico, tanto para
propósito específico estará condicionada à
viabilizar investimentos quanto para a contratação de
autorização expressa da Administração Pública, nos
obras públicas, sendo ainda utilizadas como forma de
termos do edital e do contrato, observado o disposto
outorgar garantias e, na hipótese analisada neste
Parecer, como meio de se atingir um determinado No campo das relações civis, a responsabilidade
resultado prático, que pode ocorrer por meio da objetiva é adotada como exceção no Código Civil,
transferência de parte de seus ativos da empresa em como se vê do seu art. 927, parágrafo único:
crise.
Haverá obrigação de reparar o dano,
Tendo em vista a ausência de definição legal de SPE, independentemente de culpa, nos casos especificados
apresentamos modestamente o nosso conceito, a em lei, ou quando a atividade normalmente
saber: Sociedade de Propósito Específico consiste na desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
união de duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, natureza, risco para os direitos de outrem. (grifos
de direito público ou privado, que, por intermédio de nossos)
um dos tipos societários previstos na legislação civil,
envidam esforços inerentes aos seus objetivos No âmbito das relações consumeristas, no entanto, a
econômicos e sociais para atingir propósitos responsabilidade objetiva é a regra (artigos 12, 13 e
específicos previamente delimitados, por tempo 14, caput, do CDC), sendo a responsabilidade
determinado ou indeterminado. subjetiva exceção, como se deduz do § 4º do art. 14
do CDC:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde,


3. RESPONSABILIDADE CIVIL E SOCIAMBIENTAL DO independentemente da existência de culpa, pela
EMPREGADOR reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como
Há dois tipos de responsabilidade civil que podem ser por informações insuficientes ou inadequadas sobre
imputadas ao empregador: a subjetiva e a objetiva. sua fruição e riscos.
A responsabilidade subjetiva ocorre quando o ... § 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais
causador de determinado ato ilícito atinge este liberais será apurada mediante a verificação de culpa.
resultado em razão do dolo ou da culpa em sua (grifos nossos)
conduta. Será, portanto, obrigado a indenizar os
danos morais ou materiais apenas se ficar Em suma, a responsabilidade subjetiva ocorre quando
caracterizado o dolo ou culpa em sua conduta. comprovada a culpabilidade do agente que causar
dano a outrem; a responsabilidade objetiva ocorre
O Código Civil adota, em regra, a responsabilidade quando caracterizado o nexo causal entre o ato ou
subjetiva, como se infere dos seus arts. 186 e 187, in omissão do agente e o dano sofrido pela vítima ou
verbis: seus sucessores.
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, Maria Helena Diniz leciona que a “responsabilidade
negligência ou imprudência, violar direito e causar objetiva funda-se num princípio de equidade,
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, existente desde o direito romano: aquele que lucra
comete ato ilícito. com uma situação deve responder pelo risco ou pelas
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um desvantagens dela resultantes (ubi emolumentum, ibi
direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os onus; ubi commoda, ibi incommoda)”312.
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, O fundamento da responsabilidade objetiva, portanto,
pela boa-fé ou pelos bons costumes. decorre do fato de que a atividade exercida pelo
A responsabilidade objetiva ocorre quando o causador agente possa colocar em perigo a vida, a saúde, a
de determinado dano (moral ou material) tem o dever segurança ou a outros bens juridicamente protegidos,
de indenizar, independentemente da comprovação de criando risco de dano para terceiros, como as
que tenha agido com dolo ou culpa, sendo suficiente, atividades destinadas à produção de energia elétrica
portanto, que fique configurado o nexo causal entre a ou de exploração de minas; à instalação de fios
atividade desenvolvida e o dano sofrido pela vítima. elétricos, telefônicos e telegráficos; ao transporte
aéreo, marítimo e terrestre, à construção e edificação
de grande porte313.
No tocante à responsabilidade socioambiental do •exploração que favoreça o bem-estar dos
empregador nas relações empregatícias, o art. 7º, XXII proprietários e dos trabalhadores.
e XXVIII, da CF prevê como um dos direitos
fundamentais sociais dos trabalhadores: No âmbito das relações empregatícias, o risco da
atividade empresarial corre por conta do empregador
XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por (CLT, art. 2º). Mas não é somente isso.
meio de normas de saúde, higiene e segurança;
A interpretação do art. 2º da CLT conforme a
XXVIII – seguro contra acidentes de trabalho, a cargo Constituição autoriza a ilação de que o empregador
do empregador, sem excluir a indenização a que este tem o dever de dar adequada e justa função
está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. socioambiental à sua atividade econômica.
(grifos nossos)
A responsabilidade socioambiental do empregador é,
Além disso, a CF consagra diversas normas de a nosso sentir, sempre objetiva. Nesse sentido vem
proteção ao meio ambiente, incluído o do trabalho, as caminhando paulatinamente a jurisprudência:
quais se harmonizam com o princípio da função
socioambiental da propriedade (CF, art. 5º, XXIII, 200, AGRAVO. RECURSO DE REVISTA. DECISÃO
VIII, e art. 225). MONOCRÁTICA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO
EMPREGADOR. ASSALTOS. BANCO POSTAL.
Aliás, o art. 193 da CF destaca que a “ordem social ATIVIDADE DE RISCO. Prevalece neste Tribunal o
tem como base o primado do trabalho, e como entendimento de que deve ser reconhecida a
objetivo o bem-estar e a justiça sociais”. E o art. 170, responsabilidade objetiva do empregador pelos danos
III, VI, VII e VIII, da CF estabelece que a “ordem sofridos pelos seus empregados em decorrência de
econômica, fundada na valorização do trabalho assalto em agência bancária, inclusive em Banco
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a Postal, em razão do exercício de atividade de risco.
todos existência digna, conforme os ditames da justiça Precedentes. Agravo interno a que se nega
social, observados os seguintes princípios”: provimento (TST-Ag-RR 206280720125200002, Rel.
Min. Emmanoel Pereira, 5ª T., DEJT 31.05.2019).
•função social da propriedade;
RECURSO DE REVISTA. DANO MORAL. TRANSPORTE
•defesa do meio ambiente, inclusive mediante DE VALORES. RESPONSABILIDADE OBJETIVA.
tratamento diferenciado conforme o impacto INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS DEVIDA.
ambiental dos produtos e serviços e de seus processos Acompanha-se o atual entendimento desta Corte, no
de elaboração e prestação; sentido de que o transporte de valores por parte do
•redução das desigualdades regionais e sociais; empregado, como atividade para a qual ele não foi
contratado, tampouco capacitado ou, ainda, quando a
•busca do pleno emprego. exposição ao risco é acentuada, atrai a
responsabilidade objetiva do empregador,
Ademais, o art. 186, II, III e IV, da CF, que pode ser
resguardando, consequentemente, o direito ao
aplicado por analogia à propriedade e à empresa
recebimento da indenização por dano moral. Recurso
urbana, dispõe que: “A função social é cumprida
de Revista conhecido e provido (TST-RR
quando a propriedade rural atende,
4074820175060412, j. 12.12.2018, DEJT 14.12.2018).
simultaneamente, segundo critérios e graus de
exigência estabelecidos em lei, aos seguintes (...) RECURSO DE REVISTA. ACIDENTE DE TRABALHO.
requisitos”: RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO EMPREGADOR.
MOTORISTA DE CAMINHÃO. O Regional entendeu
•utilização adequada dos recursos naturais
serem indevidas as reparações pecuniárias postuladas
disponíveis e preservação do meio ambiente;
(decorrentes dos danos materiais, morais e estéticos)
•observância das disposições que regulam as relações ao fundamento de que não foram demonstrados os
de trabalho; elementos ensejadores da responsabilidade civil
subjetiva das reclamadas, ressaltando que a atividade
de motorista de caminhão não se enquadra como
perigosa nos termos da NR-16 do MTE. Ocorre que o Para Russomano, Valentin Carrion e Maurício Godinho
entendimento desta Corte é no sentido de que a Delgado, a responsabilidade é solidária, sendo
atividade de motorista de caminhão no transporte desnecessária a prova da fraude ou da insolvência do
rodoviário de cargas constitui atividade de risco e subempreiteiro.
autoriza a aplicação da responsabilidade civil objetiva.
Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido Outros autores, como Magano e Wilson de Souza
(TST-RR 105765420165030108, Rel. Min. Dora Maria Campos Batalha, não veem no dispositivo em exame
da Costa, 8ª T., DEJT 14.12.2018). hipótese de solidariedade, e sim de responsabilidade
subsidiária.
(...) RECURSO DE REVISTA. ACIDENTE DE TRABALHO.
TEORIA DO RISCO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. Sabe-se, contudo, que solidariedade não se presume:
CARACTERIZAÇÃO. A regra geral no Direito Brasileiro é decorre da lei ou da vontade das partes (CC, art. 265).
a responsabilidade subjetiva, que pressupõe a O art. 455 da CLT, diferentemente do art. 2º, § 2º, do
ocorrência concomitante do dano, do nexo causal e mesmo diploma legislativo, não fala em solidariedade.
da culpa do empregador. Tratando-se, todavia, de Na verdade, o art. 455 prevê, tão somente, a
acidente de trabalho em atividade de risco, há norma possibilidade de os empregados do subempreiteiro
específica para ser aplicada a responsabilidade voltarem-se contra o empreiteiro principal na
objetiva, conforme se extrai do parágrafo único do hipótese de inadimplemento das obrigações
art. 927 do Código Civil. Esta Corte tem entendido que trabalhistas por parte do primeiro.
o trabalhador da construção civil atua em situação de
risco acentuado. Precedentes. Recurso de Revista Ora, se é condição necessária da responsabilidade do
conhecido e provido (TST-RR 10862220155080005, empreiteiro o inadimplemento contratual pelo
Rel. Min Maria de Assis Calsing, 4ª T., DEJT subempreiteiro, então não há falar-se em
06.04.2018). solidariedade, e sim em subsidiariedade. Tanto é
assim que ao empreiteiro principal fica ressalvado o
No que diz respeito à indenização por danos morais direito de regresso e a possibilidade de retenção das
na responsabilidade objetiva do empregador, os arts. importâncias eventualmente devidas ao
223-E e 223-F da CLT, inseridos pela Lei 13.467/2017, subempreiteiro.
devem, a nosso sentir, ser interpretados à luz dos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, de De tal arte, entendemos que o empregado deverá
modo a se fixar valores indenizatórios conforme o acionar tanto o subempreiteiro como o empreiteiro
grau de participação de cada ofensor no ato lesivo aos principal, sendo que, caso o primeiro não cumpra
direitos da personalidade das vítimas, sendo voluntariamente o comando contido no título judicial,
permitida – como já vêm decidindo os tribunais – a poderá a execução voltar-se contra o segundo. É
cumulação dos danos morais e materiais oriundos do indispensável, para tanto, que este último figure na
mesmo ato – omissivo ou comissivo – lesivo. relação processual de cognição, porquanto o
ordenamento constitucional exige o due process of
law para que alguém possa vir a perder seus bens (CF,
3.1. Responsabilidade do sócio retirante art. 5º, LIV).

Remetemos o leitor ao item 4.1.1 infra. No que respeita à responsabilidade do dono da obra
pelas obrigações não adimplidas pelo empreiteiro,
3.2. Responsabilidade do empreiteiro cremos que a mesma, em princípio, poderá ocorrer na
modalidade subsidiária, e, ainda assim, desde que:
Outra questão que merece destaque é a prevista no
art. 455 da CLT, que estabelece a responsabilidade •o dono da obra seja pessoa cuja atividade econômica
trabalhista entre empreiteiro principal e tenha por escopo a construção; ou
subempreiteiro.
•caso não o seja, se ao tempo da celebração do
Tal responsabilidade é solidária ou subsidiária? contrato de empreitada o empreiteiro era
notoriamente inidôneo. É que aqui restaria
Há divergência doutrinária a respeito.
caracterizada fraude à aplicação das disposições debates dos diversos atores da comunidade jurídica
consolidadas (CLT, art. 9º). justrabalhista, como professores, magistrados,
membros do MPT, advogados e acadêmicos de
Se o dono da obra e o empreiteiro tiverem direito. Na verdade, o Enunciado 13 em questão
convencionado a responsabilidade solidária pelas revela uma nova tendência da constitucionalização do
obrigações trabalhistas, prevalecerá este acordo (CC, direito do trabalho e, por isso, deve ser prestigiado,
art. 265). porquanto harmoniza a legislação trabalhista e
É importante lembrar que, de acordo com a OJ 191 da civilista à luz dos princípios fundamentais do Estado
SBDI-1/TST, “Diante da inexistência de previsão legal Democrático de Direito, notadamente os princípios da
específica, o contrato de empreitada de construção dignidade da pessoa humana e do valor social do
civil entre o dono da obra e o empreiteiro não enseja trabalho.
responsabilidade solidária ou subsidiária nas
obrigações trabalhistas contraídas pelo empreiteiro,
salvo sendo o dono da obra uma empresa construtora 4. SUCESSÃO DE EMPREGADORES
ou incorporadora”.
A sucessão trabalhista, também chamada de sucessão
De tal arte, segundo a OJ 191, a responsabilidade do de empresas ou novação subjetiva do contrato de
dono da obra somente ocorrerá se ele for empresa do trabalho, está regulada nos arts. 10 e 448 da CLT, que
ramo da construção civil. Dito doutro modo, no dispõem textualmente:
contratos de empreitada em que o dono da obra for
pessoa jurídica que não explore atividade econômica Art. 10. Qualquer alteração na estrutura jurídica da
no ramo da construção civil ou for pessoa física ou empresa não afetará os direitos adquiridos por seus
ente despersonalizado equiparável a empregador, não empregados.
haverá lugar para a responsabilidade solidária ou Art. 448. A mudança na propriedade ou na estrutura
subsidiária. jurídica da empresa não afetará os contratos de
Mais amplo, porém, é o entendimento adotado pelo trabalho dos respectivos empregados.
Enunciado 13, aprovado na 1ª Jornada de Direito Esses preceitos normativos guarnecem os direitos
Material e Processual do Trabalho (Brasília-DF, justrabalhistas dos empregados na ocorrência de
2007)314, in verbis: novação subjetiva parcial do contrato de trabalho
Dono da obra. Responsabilidade. Considerando que a (mudança do proprietário da empresa) ou de
responsabilidade do dono da obra não decorre mudança na estrutura jurídica da empresa (fusão,
simplesmente da lei em sentido estrito (Código Civil, incorporação ou fusão).
arts. 186 e 927), mas da própria ordem constitucional A doutrina tradicional sustenta que a sucessão
no sentido de se valorizar o trabalho (CF, art. 170), já trabalhista encontra residência nos princípios da
que é fundamento da Constituição a valorização do continuidade da empresa e da intangibilidade do
trabalho (CF, art. 1º, IV), não se lhe faculta beneficiar- contrato de trabalho.
se da força humana despendida sem assumir
responsabilidade nas relações jurídicas de que A nosso sentir, em função do fenômeno da
participa. Dessa forma, o contrato de empreitada constitucionalização do direito do trabalho e do
entre o dono da obra e o empreiteiro enseja processo do trabalho, além dos referidos princípios
responsabilidade subsidiária nas obrigações infraconstitucionais, a sucessão trabalhista há de ser
trabalhistas contraídas pelo empreiteiro, salvo apenas reinterpretada à luz dos princípios fundamentais do
a hipótese de utilização da prestação de serviços Estado Democrático de Direito, especialmente o da
como instrumento de produção de mero valor de uso, dignidade da pessoa humana, da cidadania e dos
na construção ou reforma residenciais. valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa (CF, art.
1º, II, III e IV).
O verbete acima transcrito não é fonte
jurisprudencial, mas pode ser invocado como fonte Tais princípios fundamentais inspiram outros
doutrinária, já que foi fruto de intensos e profícuos princípios constitucionais específicos da ordem
justrabalhista, como o princípio da relação José Augusto Rodrigues Pinto assinala que a situação
empregatícia protegida contra a despedida arbitrária de mudança de propriedade reveste-se de maior
ou sem justa causa (CF, art. 7º, I), e os princípios complexidade e exige reflexões. A primeira delas, de
específicos da ordem econômica, como o da função que a personalização da empresa é tolerada por
social da propriedade (e da empresa) e da busca do simples conveniência jurídica, mas não corresponde a
pleno emprego (CF, art. 170, II e VIII). atribuir-lhe personalidade. A simples proclamação da
mudança de propriedade coloca a empresa no seu
Para a eficácia jurídica dos referidos princípios preciso lugar de objeto e não de sujeito de direito (...).
constitucionais fundamentais e específicos, a Carta O princípio da continuidade da empresa comporta-se
Republicana de 1988 consagrou outros princípios de como um fator de tranquilidade da relação individual
natureza instrumental/processual, como o do efetivo de emprego, em sua duração, e do empregado, no
acesso à justiça, do devido processo legal (justo) e da mister de identificar e acionar, se necessário, quem
duração razoável do processo (CF, art. 5º, XXXV, LIV e deva responder pelas obrigações do contrato. É a
LXXVIII). todas as luzes, um sólido complemento do princípio
De tal arte, podemos deduzir do sistema jurídico da proteção e uma projeção para dentro da empresa
brasileiro que a preservação da relação empregatícia e do princípio da continuidade da relação de
dos direitos sociais dos trabalhadores em toda a sua emprego316.
plenitude nos casos de sucessão trabalhista encontra- Valentin Carrion assegura que, enquanto o art. 10 visa
se em sintonia com valores e princípios consagrados à proteção dos direitos do empregado, o art. 448 leva
tanto no direito do trabalho como – e principalmente em conta o contrato e, portanto, ambas as partes. O
– na Constituição da República, o que exige do contrato de trabalho é intuitu personae (ou
intérprete e do aplicador do direito uma nova cultura infungível) com referência ao empregado (art. 2º),
a respeito da proteção dos contratos de trabalho mas não quanto ao empregador (art. 448); assim, o
tanto diante da forma tradicional do instituto da empregado não pode recusar-se a trabalhar para o
sucessão trabalhista (CLT, arts. 10 e 448) quanto do novo empregador, salvo em situação absolutamente
novo “dinamismo próprio do sistema econômico excepcional (...). O legislador, ao redigir os arts. 10 e
contemporâneo, em que se sobreleva um ritmo 448, não pretendeu eximir de responsabilidade o
incessante de modificações empresariais e empregador anterior, liberando-o de suas obrigações,
interempresariais”315. de forma imoral. A lei simplesmente concedeu ao
4.1. Sucessão trabalhista e despersonalização do empregado a garantia de voltar-se contra quem
empregador possuir a empresa para facilitar-lhe e garantir-lhe o
recebimento de seus créditos; não há obstáculo na lei
Na perspectiva do direito do trabalho brasileiro, que impeça ao empregado propor ação contra quem
sucessão é um instituto vinculado ao fenômeno da foi seu empregador. Entretanto, essa conclusão não
despersonalização do empregador, segundo o qual o tem apoio jurisprudencial317.
contrato de trabalho é intuitu personae em relação ao
empregado, e não ao empregador. Noutro falar, o Maurício Godinho Delgado obtempera que a
empregado fica vinculado à empresa, e não à pessoa “característica da despersonalização da figura do
física ou jurídica do seu proprietário ou possuidor. empregador consiste na circunstância de autorizar a
ordem justrabalhista a plena modificação do sujeito
Não é por outra razão que o art. 2º da CLT define passivo da relação de emprego (o empregador), sem
empregador como “a empresa, individual ou coletiva, prejuízo da preservação completa do contrato
que, assumindo os riscos da atividade econômica, empregatício com o novo titular”318.
admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de
serviço”. Para esse último autor – com razão –, a
despersonalização do empregador tem “crucial
Há, porém, divergência doutrinária acerca da importância na estrutura e nos efeitos de relevante
interpretação do art. 2º da CLT, porquanto alguns instituto do Direito Individual do Trabalho: a sucessão
autores preferem falar em sucessão de empregador, e trabalhista (CLT, arts. 10 e 448)”319.
não de empresa.
Na verdade, o fenômeno da despersonalização do Ainda no tocante à sucessão, é importante lembrar a
empregador, que vem sendo utilizado em larga escala diferença entre o empresário individual e a sociedade
na doutrina e jurisprudência justrabalhistas, decorre empresária. Esta é uma pessoa jurídica que possui
do fato de que o contrato de trabalho deixou de ser patrimônio próprio, distinto do patrimônio dos sócios
intuitu personae com relação à pessoa física ou que a integram. Dessa forma, em princípio, os bens
jurídica do detentor eventual da empresa. Vale dizer, dos sócios ficam imunes no caso de execução das
o contrato de trabalho – e, lógico, o empregado – fica dívidas da sociedade, ou seja, os bens dos sócios
vinculado diretamente à empresa, à organização, ao somente serão alcançados depois de executados os
complexo empresarial, independentemente de quem bens da sociedade empresária (art. 1.024 do Código
seja o seu proprietário ou possuidor. Civil). Já o empresário individual, por não gozar desse
privilégio da separação patrimonial, responderá com
Assim, para efeito de sucessão trabalhista, o contrato todos os seus bens, presentes e futuros, pelo risco da
de trabalho permanece atrelado diretamente à atividade econômica exercida.
empresa, de maneira que as alterações ocorridas em
relação ao seu proprietário (ou possuidor) ou à sua Em síntese, na sociedade empresária a
estrutura jurídica, não afetam a relação empregatícia, responsabilidade dos sócios é subsidiária e quando se
o que significa dizer que o nosso ordenamento tratar de empresário individual a sua responsabilidade
jurídico protege os direitos adquiridos, presentes e é direta.
futuros dos trabalhadores em suas relações jurídicas
com a empresa. Nesse sentido, o TST já deixou Entretanto, é importante lembrar que, em se tratando
assentado que, mesmo no caso de cisão parcial, a de EIRELI, isto é, de empresa individual de
responsabilidade pelos débitos trabalhistas recai responsabilidade limitada, a Medida Provisória
sobre o sucessor, independentemente da avença 881/2019 inseriu no art. 980-A do CC o § 7º, segundo
estabelecida entre sucedido e sucessor: o qual: “Somente o patrimônio social da empresa
responderá pelas dívidas da empresa individual de
Sucessão trabalhista. Cisão parcial. 1. Na hipótese de responsabilidade limitada, hipótese em que não se
sucessão de empresas, a responsabilidade quanto a confundirá, em qualquer situação, com o patrimônio
débitos e obrigações trabalhistas recai sobre o do titular que a constitui, ressalvados os casos de
sucessor, nos termos dos arts. 10 e 448 da CLT, em fraude”.
face do princípio da despersonalização do
empregador. 2. Irrelevante o vínculo estabelecido 4.1.1. Sucessão trabalhista e responsabilidade do
entre sucedido e sucessor, bem como a natureza do sócio retirante
título que possibilita ao titular do estabelecimento a A Lei 13.467/2017 inseriu na CLT o art. 10-A, que
utilização dos meios de produção nele organizados. 3. dispõe, in verbis:
Dá-se a sucessão de empresas nos casos em que,
mediante Protocolo e Justificação da Cisão e Art. 10-A. O sócio retirante responde
Incorporação, o Poder Público cede parte do seu subsidiariamente pelas obrigações trabalhistas da
patrimônio e a força de trabalho de empregados ao sociedade relativas ao período em que figurou como
sucedido que continua a exploração do negócio, sem sócio, somente em ações ajuizadas até dois anos
solução de continuidade. 4. Recurso de revista de que depois de averbada a modificação do contrato,
não se conhece (TST-RR-566.232/99.3 – 1ª T. – Rel. observada a seguinte ordem de preferência:
Min. João Oreste Dalazen – DJ 03.06.2005).
I – a empresa devedora;
Além disso, o fenômeno da despersonalização do
II – os sócios atuais; e
empregador tem grande utilidade para a aplicação do
instituto da desconsideração da personalidade jurídica III – os sócios retirantes.
da empresa para fins de responsabilização subsidiária
dos sócios da entidade societária, quando restar Parágrafo único. O sócio retirante responderá
frustrada a execução trabalhista por ausência de bens solidariamente com os demais quando ficar
da empresa executada. comprovada fraude na alteração societária decorrente
da modificação do contrato.
Esse novel dispositivo, nitidamente relacionado com •não haja solução de continuidade na prestação de
os institutos da desconsideração da personalidade da serviços.
pessoa jurídica e da sucessão trabalhista, tem o nítido
propósito de blindar, total ou parcialmente, os bens E prossegue o referido autor:
dos sócios que se retiram da empresa empregadora Não sendo o contrato de trabalho, em geral, intuitu
em relação às obrigações de natureza trabalhista. personae em relação ao empregador, nada impede,
Na verdade, a nova regra, contrariando a juridicamente, a substituição de uma pessoa por
jurisprudência atual e dominante, institui uma nova outra, nessa qualidade. Mas o estabelecimento tem
modalidade de responsabilidade subsidiária do sócio um conceito unitário, sendo que o novo empregador
retirante restrita ao período em que figurou como responde pelos contratos de trabalho concluídos pelo
sócio e, ainda assim, desde que a ação trabalhista antigo, porque lhe adquiriu o estabelecimento como
proposta pelo empregado em face da empresa organização produtiva, como um bem que resulta do
empregadora tenha sido ajuizada até dois anos depois conjunto de vínculos existentes entre os fatores de
de averbada a modificação do contrato social da produção, um desses, o trabalho321.
empresa no órgão competente. Alteração jurídica da empresa é a modificação de sua
Além disso, o parágrafo único do art. 10-A da CLT constituição e funcionamento como pessoa jurídica
estabelece a responsabilidade solidária do sócio detentora de direitos e obrigações. São exemplos:
retirante nas hipóteses de fraude comprovada na •fusão (duas ou mais empresas se reúnem e formam
alteração do quadro societário da empresa uma nova empresa, desaparecendo as anteriores);
empregadora.
•incorporação (uma empresa é adquirida por outro
É importante lembrar o que propõe o Enunciado 13 empresário e desaparece do mundo jurídico);
aprovado na 2ª Jornada de Direito Material e
Processual do Trabalho, in verbis: •transformação (ocorre alteração da estrutura jurídica
da empresa, como, por exemplo, uma sociedade
Enunciado 13 – SUCESSÃO TRABALHISTA anônima que se transforma em sociedade por cotas).
Sucessão trabalhista. a teor do art. 1.146 do Código A sucessão trabalhista é admitida pela doutrina e
Civil, aplicável ao Direito do Trabalho (CLT, art. 8º), é jurisprudência nas seguintes hipóteses: a) entre
cabível a responsabilidade solidária do sucedido e do arrendatários que se substituem na exploração do
sucessor pelos créditos trabalhistas constituídos antes mesmo serviço; b) entre pessoas de direito público e
do trespasse do estabelecimento, privado; c) na aquisição de acervo de massa falida.
independentemente da caracterização de fraude.
A simples venda de máquinas ou coisas singulares não
4.2. Requisitos da sucessão trabalhista tem o condão de caracterizar a sucessão trabalhista,
Não é unívoco o entendimento a respeito dos uma vez que esta pressupõe a transferência de uma
requisitos da sucessão trabalhista. Podemos unidade produtiva, ainda que apenas uma parte de
identificar uma vertente clássica, que utiliza o direito um estabelecimento, desde que tenha status de uma
individual do trabalho em si, e uma vertente unidade econômica.
contemporânea, que utiliza a moderna hermenêutica É possível a sucessão num só estabelecimento da
constitucional. empresa, desde que seja um núcleo diferenciado,
4.2.1. Vertente clássica capaz de sobrevivência autônoma juridicamente,
como, por exemplo, um escritório de advocacia (com
Capitaneando a vertente clássica, Délio Maranhão320 advogados empregados da própria empresa) que é
leciona que são dois os requisitos para que ocorra a substituído por outro escritório.
sucessão trabalhista, a saber:
A sucessão trabalhista não exige formalidade especial.
•unidade econômico-jurídica passe de um para outro Para a sua prova, levar-se-ão em consideração os
titular; elementos que integram a atividade empresarial:
ramo do negócio, ponto, clientela, móveis, máquinas, de sucessão trabalhista, tanto nos aspectos materiais
organização e empregados. quanto processuais.

Ao assegurar os direitos adquiridos dos empregados, Essas novas situações no plano fático e jurídico têm
em caso de sucessão, a CLT tem por objetivo: levado a doutrina e a jurisprudência a promoverem
uma reinterpretação dos arts. 10 e 448 da CLT, de
•a responsabilidade do sucessor, mesmo que os atos modo a ampliar o conceito e o objeto do instituto da
sejam do tempo anterior, não obstante possa este sucessão trabalhista no sentido de dar a máxima
voltar-se contra o empregador sucedido em ação efetividade aos direitos sociais dos trabalhadores,
regressiva perante a Justiça comum; independentemente da continuidade fática da
•a continuidade da relação de emprego; prestação dos serviços empregatícios.

•os direitos adquiridos, ou em vias de aquisição Maurício Godinho Delgado faz a seguinte advertência:
(tempo de serviço, estabilidade, férias, jornada, Por essa nova interpretação, o sentido e os objetivos
indenizações etc.). do instituto sucessório trabalhista residem na garantia
Eis um julgado que espelha a vertente tradicional: de que qualquer mudança intra ou interempresarial
não poderá afetar os contratos de trabalho (CLT, arts.
Sucessão trabalhista. Contrato de compra e venda de 10 e 448). O ponto central do instituto passa a ser
ativo e assunção de passivo e outras avenças. 1. Na qualquer mudança intra ou interempresarial
hipótese de sucessão de empresas, a responsabilidade significativa que possa afetar os contratos
quanto a débitos e obrigações trabalhistas recai sobre empregatícios. Verificada tal mudança, operar-se-ia a
o sucessor, nos termos dos arts. 10 e 448 da CLT, em sucessão trabalhista – independentemente da
face do princípio da despersonalização do continuidade efetiva da prestação laborativa322.
empregador. 2. Irrelevante o vínculo estabelecido
entre sucedido e sucessor, bem como a natureza do De tal arte, na linha da vertente contemporânea,
título que possibilitou ao titular do estabelecimento a haverá sucessão trabalhista e, portanto, estarão
utilização dos meios de produção nele organizados. 3. protegidos os contratos de trabalho, não apenas nas
Dá-se a sucessão de empresas nos contratos de hipóteses já consagradas pela vertente tradicional,
compra e venda de ativo e assunção de passivo e mas também quando a alienação ou transferência de
outras avenças, mediante o qual o contratante ocupa- parte significativa dos estabelecimentos ou da
se da exploração do negócio, operando-se a empresa implicar prejuízos diretos ou indiretos para
transferência da unidade econômico-jurídica, bem os trabalhadores da empresa originalmente
como a continuidade na prestação de serviços. 4. contratados. É o que ocorre, por exemplo, quando há
Recurso de revista de que não se conhece, no separação de bens, obrigações e relações jurídicas de
particular (TST-RR 708619-45.2000.5.01.5555 – Rel. um complexo empresarial com o objetivo de transferir
Min. João Oreste Dalazen – 1ª T. – DJ 06.05.2005). a sua parte “saudável” para outra empresa, isto é, dos
seus ativos financeiros, clientela, créditos e direitos,
. permanecendo os trabalhadores vinculados à parte
“empobrecida” da empresa, sendo que esta não tem
4.2.2. Vertente contemporânea
como honrar as dívidas trabalhistas ou a continuidade
A imprecisão terminológica dos arts. 10 e 448 da CLT, dos contratos de trabalho.
aliada aos fatores e valores vinculados direta ou
Para a vertente contemporânea, pois, para que haja
indiretamente ao que se convencionou chamar de
sucessão trabalhista, é condição suficiente a
“globalização econômica”, tais como a desestatização,
transferência da titularidade de uma unidade
a privatização, a reengenharia, a reestruturação do
econômico-jurídica da empresa, independentemente
mercado financeiro, a flexibilização, a terceirização
da continuidade da prestação de serviços
etc., implicou o surgimento de novas formas de
empregatícios.
modificações das estruturas jurídicas das empresas
que inexoravelmente alcançam a concepção clássica Todavia lembra Maurício Godinho Delgado:
Não será, pois, toda e qualquer transferência proteção ao credor hipossuficiente e, em
interempresarial que, isoladamente, será apta a consequência, não se exige formalidade especial para
provocar sucessão trabalhista. Se ela vier sua demonstração. Destarte, a alteração do sujeito de
acompanhada da continuidade da prestação direito localizado no polo passivo do contrato (o
laborativa para o novo titular, ocorrerá, sim, é claro, a empregador) não tem o condão de afetar o elemento
sucessão (vertente tradicional). Porém, não se objetivo do pacto, considerando os princípios da
verificando o segundo requisito, é preciso que se trate intangibilidade objetiva do contrato empregatício, da
de transferência de universalidade empresarial que despersonalização da figura do empregador e da
seja efetivamente apta a afetar os contratos de continuidade da relação empregatícia. Por
trabalho (sob pena de se estender em demasia o conseguinte, não vinga a tese de ilegitimidade passiva
instituto sucessório, enxergando-o em qualquer ad causam, sob o argumento de que não fez parte da
negócio jurídico interempresarial). Conforme já relação processual na presente demanda, o que
exposto, não será toda transferência intraempresarial violaria o seu direito de defesa, pois a sucessora
que propiciará a sucessão de empregador... mas recebe o processo no estado em que se encontra.
somente aquela transferência que afetar de modo Ademais, a partir do momento em que ingressou no
significativo as garantias anteriores do contrato de polo passivo, em respeito ao devido processo legal,
emprego323. todos os meios de defesa e recursos próprios foram
oportunizados. Cessão do uso da marca comercial.
Parece-nos, porém, que há espaço para a Sucessão trabalhista. Na hipótese de cessão de uso da
interpretação dos arts. 10 e 448 da CLT conforme a marca comercial, resta caracterizada a ocorrência de
Constituição (art. 170, III, segundo o qual a ordem sucessão trabalhista, já que a “marca” é o maior
econômica, fundada na valorização do trabalho patrimônio da empresa. Tal entendimento é reforçado
humano e na livre-iniciativa, tem por fim assegurar a quando a empresa sucedida não permanece com
todos existência digna, conforme os ditames da justiça patrimônio suficiente para garantir a satisfação do
social, observados, dentre outros, o princípio da crédito trabalhista (TRT 17ª R., AP 192500-
função social da propriedade), de modo a reconhecer 40.2004.5.17.0007, 2ª T., Rel. Des. Carlos Henrique
a existência de sucessão trabalhista sempre que a Bezerra Leite, DEJT 21.07.2010).
transferência da titularidade ou da reestruturação
jurídica da empresa ou de qualquer dos seus Colacionamos outras ementas sobre sucessão
estabelecimentos ou de seus ativos financeiros, trabalhista:
clientela ou demais bens materiais ou imateriais
afetar, direta ou indiretamente, a continuidade da (...) Recurso de revista. Alteração na estrutura jurídica
relação empregatícia ou os direitos dos trabalhadores em face da alienação total das cotas da empresa.
originariamente contratados. Nesse sentido, é a OJ Sucessão. Responsabilidade subsidiária. Limites. De
261 da SBDI-1/TST, in verbis: acordo com o quadro fático delineado pelo Regional ,
a segunda Reclamada era uma das sócias da
BANCOS. SUCESSÃO TRABALHISTA. As obrigações operadora minerária no Estado do Amapá (Anglo
trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os Ferrous Amapá Mineração Ltda.), até novembro de
empregados trabalhavam para o banco sucedido, são 2013, quando vendeu a totalidade de suas cotas para
de responsabilidade do sucessor, uma vez que a este o grupo Zamin, primeira Reclamada, resultando,
foram transferidos os ativos, as agências, os direitos e inclusive, em uma mudança de denominação
deveres contratuais, caracterizando típica sucessão empresarial para Zamin Amapá Mineração S.A., razão
trabalhista. pela qual se conclui que houve alteração na estrutura
jurídica da empresa e, por consequência, a sucessão
Em um julgado, reconhecemos a existência de de empresas na forma dos arts. 10 e 448 da CLT. Em
sucessão pela simples cessão de uso de marca acréscimo, registrou o Regional que o contrato de
empresarial: trabalho do Reclamante vigorou de 16.02.2014 a
Preliminar de ilegitimidade passiva ad causam. 27.02.2015, isto é, após a modificação jurídica
Sucessão trabalhista. A sucessão trabalhista, à luz dos ocorrida em novembro de 2013. Em vista disso, não se
arts. 2º e 448 da CLT, afigura-se como um instituto de está a falar em despersonalização do empregador ou
em inalterabilidade do contrato de trabalho, uma vez •Desmembramento de Estado ou Município, pois, nos
que não havia contrato de trabalho anterior à termos da OJ 92 da SBDI-1 do TST: “Em caso de
sucessão ocorrida, razão pela qual inaplicáveis, ao criação de novo município, por desmembramento,
caso em exame, como fez o Regional, as disposições cada uma das novas entidades responsabiliza-se pelos
contidas no artigo 1.032 do Código Civil, uma vez que direitos trabalhistas do empregado no período em
o sócio retirante responde, ainda pelo prazo de 2 anos que figurarem como real empregador”.
após a sua saída, pelas obrigações contraídas à época
em que era sócio, o que não ocorreu no caso, visto
que o contrato de trabalho foi celebrado após a saída 4.4. Sucessão trabalhista e a nova Lei de Falências e
da Recorrente do quadro societário. Desse modo, Recuperação de Empresas
mesmo que se mitigue o entendimento de que a
empresa sucessora é a única responsável pelos Fixemos, previamente, os conceitos.
débitos trabalhistas reconhecidos, não há respaldo à
Falência, segundo Maximilianus Führer, “é um
responsabilização da ora Recorrente, visto não ter se
processo de execução coletiva, em que todos os bens
beneficiado da força produtiva do Reclamante.
do falido são arrecadados para uma venda judicial
Recurso de Revista conhecido e provido (TST-ARR
forçada, com a distribuição proporcional do ativo
23098920155080205, Rel. Min. Maria de Assis Calsing,
entre os credores”324.
4ª T., DEJT 16.03.2018).
Recuperação (judicial e extrajudicial) é instituto
Agravo de petição. Sucessão de empregadores. O
relativamente novo no direito brasileiro, pois foi
instituto da sucessão no direito do trabalho é forma
criado pela Lei 11.101/2005, que, em seu art. 47,
de prestigiar o escopo protetor em relação ao
dispõe que a
trabalhador, através dos princípios da continuidade na
prestação de serviços, da intangibilidade do contrato recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a
de trabalho e da despersonalização do empregador, superação da situação de crise econômico-financeira
contanto que haja alteração na titularidade do do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte
empreendimento, a que título for (gratuito ou produtora, do emprego dos trabalhadores e dos
oneroso, público ou privado, permanente ou interesses dos credores, promovendo, assim, a
provisório), e que haja continuidade no exercício da preservação da empresa, sua função social e o
mesma atividade econômica. Assim, pouco importa a estímulo à atividade econômica.
alteração da natureza jurídica da empresa, conforme
estabelece o artigo 10 da CLT ou da sua titularidade Nos termos do art. 141, II, § 2º, da Lei 11.101/2005,
(artigo 448 da CLT), o sucessor responderá por todos
Art. 141. Na alienação conjunta ou separada de ativos,
os créditos trabalhistas dos empregados (TRT 1ª R. –
inclusive da empresa ou de suas filiais, promovida sob
AP 00008465220115010301 – Rel. Des. Jose Antonio
qualquer das modalidades de que trata este artigo:
Piton – 2ª T. – DEJT 18.05.2018).
(...) II – o objeto da alienação estará livre de qualquer
ônus e não haverá sucessão do arrematante nas
4.3. Restrições à sucessão trabalhista obrigações do devedor, inclusive as de natureza
tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as
Não ocorre a sucessão trabalhista nas seguintes decorrentes de acidentes de trabalho.
hipóteses:
(...) § 2º Empregados do devedor contratados pela
•Morte do empregador pessoa física ou constituído arrematante serão admitidos mediante novos
em empresário individual ou empresa individual de contratos de trabalho e o arrematante não responde
responsabilidade limitada (EIRELI, art. 980-A do CC), por obrigações decorrentes do contrato anterior.
sendo, porém, facultado ao trabalhador, em caso de
continuidade da atividade econômica pelos Vê-se, então, que a mudança parcial da propriedade
sucessores, dar por extinto o contrato de trabalho da empresa em recuperação judicial, ou seja, de seus
(CLT, art. 483, § 2º); ativos, não implica sucessão trabalhista do adquirente
(arrematante), sendo certo que os empregados do figura do empregado, indo em contradição efetiva ao
devedor (empresa sucedida) que desejarem continuar que dispõe o art. 2º da CLT (...)328.
trabalhando terão que firmar novos contratos de
trabalho, e o arrematante não responderá por Na recuperação judicial, o art. 60 e seu parágrafo
obrigações decorrentes do contrato anterior. único da Lei 11.101/2005 dispõem, in verbis:

Reconhecida, pois, a antinomia entre essa nova regra Art. 60. Se o plano de recuperação judicial aprovado
da Lei 11.101 e os arts. 10 e 448 e 449 da CLT, indaga- envolver alienação judicial de filiais ou de unidades
se: qual delas deve prevalecer? produtivas isoladas do devedor, o juiz ordenará a sua
realização, observado o disposto no art. 142 desta Lei.
Para Gustavo Filipe Barbosa Garcia325, o art. 141 da
Lei em questão prevalece sob os artigos celetistas, Parágrafo único. O objeto da alienação estará livre de
pois é uma regra específica, ou seja, a regra especial qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante
prevalece sobre a regra geral. nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza
tributária, observado o disposto no § 1º do art. 141
Maurício Godinho Delgado326, na mesma linha, desta Lei.
ressalta, inclusive, que a nova regra é uma das
exceções às previstas nos arts. 10 e 448 da CLT. Como a norma em tela não se refere expressamente à
sucessão trabalhista, parece-nos que a Justiça do
Trabalho continua competente em razão da matéria
(CF, art. 114, I), no caso de recuperação judicial.
Marcelo Papaléo destaca, ainda, que a Lei
11.101/2005 Todavia, o STF (ADI 3.934; RE 583.955-9/RJ, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski) exclui a aplicação da sucessão
apresenta grandes transformações em relação à trabalhista na hipótese de alienação de ativos da
legislação revogada, pois estabelece a extinção do empresa em processo de recuperação judicial. Logo,
instituto da concordata e o surgimento de um novo, a na visão do STF a Justiça do Trabalho é incompetente
recuperação da empresa, com objetivo da para apreciar a questão relativa à sucessão trabalhista
manutenção da atividade produtiva das empresas que e ao prosseguimento do processo em face da empresa
estão em dificuldades econômicas [...] a alteração do em recuperação judicial.
enfoque, pois na legislação revogada o fim era da
liquidação do patrimônio do devedor insolvente, no Na linha do STF, o TST passou a adotar o seguinte
caso o comerciante, para pagamento dos credores (...) entendimento:
Agora, há interesse na manutenção da atividade
produtiva, pois se tem como visão os benefícios desta
para toda a sociedade e, no caso da impossibilidade RECURSO DE REVISTA. RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
da recuperação, procede-se à liquidação do ativo com ALIENAÇÃO DA UNIDADE PRODUTIVA. SUCESSÃO
a falência...327. TRABALHISTA. GRUPO ECONÔMICO.
Em sentido contrário, Marcelo Roberto Bruno Válio RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. O Plenário do
advoga a prevalência das normas da CLT, porquanto Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI n.
estas têm por escopo a efetivação dos direitos 3.934/DF, declarou a constitucionalidade dos arts. 60,
fundamentais dos trabalhadores, encontrando-se, parágrafo único, e 141, II, da Lei n. 11.101/05, os quais
inclusive, em sintonia com o princípio da proteção. estabelecem que o objeto da alienação, aprovado em
Destaca, ainda, esse autor que, plano de recuperação judicial, estará livre de qualquer
ônus e não haverá sucessão do arrematante nas
mesmo tendo a lei o objetivo de proteção à empresa, obrigações do devedor, inclusive as de natureza
a mesma acabou adentrando em terreno estranho à tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as
sua competência, pois está infringindo o que dispõem decorrentes de acidente de trabalho. No mesmo
os arts. 10 e 448 da CLT [...] a lei de falências e de sentido é firme o posicionamento desta Corte
recuperação de empresas, acabou transferindo o ônus Superior de que a alienação de unidade produtiva de
de quem assume o risco da atividade empresarial à empresa em processo de recuperação judicial não
acarreta a sucessão dos créditos trabalhistas pela Consolidação, as obrigações trabalhistas, inclusive as
arrematante, sendo indevida a atribuição de contraídas à época em que os empregados
responsabilidade solidária à empresa que adquiriu a trabalhavam para a empresa sucedida, são de
unidade produtiva. Precedentes. Recurso de revista responsabilidade do sucessor.
conhecido e provido, no particular (TST-RR
486009720075010052, Rel. Walmir Oliveira da Costa, Parágrafo único. A empresa sucedida responderá
1ª T., DEJT 29.03.2019). solidariamente com a sucessora quando ficar
comprovada fraude na transferência.
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. RECUPERAÇÃO O caput do novel art. 448-A da CLT utiliza como
JUDICIAL. SUCESSÃO TRABALHISTA. A Corte de expressões sinônimas a “sucessão empresarial” e a
origem, tendo em vista a decisão proferida pelo STF “sucessão de empregadores”, mas já alertamos em
na ADI 3.934/DF, consignou a inexistência de sucessão linhas transatas que o Direito do Trabalho brasileiro
trabalhista decorrente da alienação da Unidade adotou a teoria da despersonalização do empregador,
Produtiva da VIT Serviços Auxiliares de Transportes ou seja, a sucessão é de empresários, e não de
Aéreos Ltda. (em recuperação judicial), ocasião em empregadores, pois empregador, na linguagem do art.
que afastou a responsabilidade solidária da segunda 2º da CLT, é a empresa.
reclamada quanto aos créditos trabalhistas vindicados Vê-se que o legislador inovou ao dispor que a
na presente demanda. Diante desse contexto, não se sucessão trabalhista, em princípio, implica
verifica ofensa à literalidade dos artigos 10 e 448 da responsabilidade apenas do sucessor pelas obrigações
CLT. Inviável, outrossim, o conhecimento do recurso trabalhistas, ainda que estas tenham sido contraídas à
de revista por contrariedade às Súmulas n. 47 e 448 época em que os empregados prestavam serviços
do TST, haja vista que Regional limitou-se a excluir a para a empresa sucedida.
responsabilidade solidária pelos créditos trabalhistas
postulados nessa lide, não emitindo tese Trata-se de clara violação ao princípio da vedação do
especificamente a respeito do adicional de retrocesso social, na medida em que fragiliza o direito
insalubridade, tampouco foi instado a fazê-lo do trabalhador em ter a segurança de receber seus
mediante a oposição de embargos declaratórios. créditos, pois o empresário ou a sociedade empresária
Logo, em face da ausência de prequestionamento, sucedida não será mais responsável pelas obrigações
incide o óbice da Súmula n. 297 do TST. Ileso o artigo trabalhistas.
5º, XXXV e LV, da CF, porque o devido processo legal
É verdade que o parágrafo único do novel art. 448-A
está sendo observado, com a plena oportunidade do
da CLT dispõe que no caso de fraude – no
reclamante ao contraditório e à ampla defesa, tanto é
procedimento sucessório, ressaltamos – haverá
verdade que a parte vem produzindo todos os meios
responsabilidade solidária entre a empresa sucessora
de prova que entende cabíveis, bem como está se
e a empresa sucedida.
valendo de todos os recursos previstos em nosso
ordenamento jurídico. Agravo de instrumento Entretanto, dificilmente o empregado conseguirá
conhecido e não provido (TST-AIRR comprovar em juízo que houve fraude no processo de
10012875320165020320, Rel. Dora Maria da Costa, 8ª sucessão. Mas, por outro lado, poderá o juiz adotar a
T., DEJT 22.03.2019). teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova, nos
termos do § 1º do art. 818 da CLT (redação dada pela
.
Lei 13.467/2017), e incumbir à empresa o ônus de
4.5. Sucessão e responsabilidade do sucessor (Lei provar a licitude do processo sucessório.
13.467/2017)

A Lei 13.467/2017 inseriu na CLT o art. 448-A, que


5. EMPREGADOR RURAL E EMPRESA RURAL
dispõe:
Empregador rural típico é “a pessoa física ou jurídica,
Art. 448-A. Caracterizada a sucessão empresarial ou
proprietária ou não, que explore atividade
de empregadores prevista nos arts. 10 e 448 desta
agroeconômica, em caráter permanente ou
temporário, diretamente ou através de prepostos e alguma. Mas num ou noutro caso é preciso que a
com auxílio de empregados” (Lei 5.889/73, art. 3º). matéria-prima esteja em estado natural e que não
perca esta natureza mesmo depois de sofrer a
Apesar da amplitude, assevera José de Ribamar da primeira modificação; seja produto agrário (do
Costa, “a conceituação é perfeitamente campo); e tenha origem vegetal ou animal. Seria,
compreensível. Note-se a preocupação do legislador portanto, uma indústria rural aquela que dá o
de ressaltar que, com o processo de industrialização, primeiro tratamento ao arroz, beneficiando-o.
o produto rural não perde a sua natureza rural, como
o descascamento, limpeza, secagem”329. A indústria rural pode estar localizada dentro do
perímetro urbano, sem perder a sua natureza, isto é,
O conceito mais amplo de empregador rural por desde que continue a apresentar uma organização
equiparação está agora previsto no art. 25-A da Lei econômica tipicamente agrícola, mesmo se vier a
8.212/91, in verbis: utilizar processos sofisticadíssimos, como salienta
Equipara-se ao empregador rural pessoa física o Martinez, citado por Márcio Túlio Viana330.
consórcio simplificado de produtores rurais, formado O Decreto 10.854/2021, que revogou expressamente
pela união de produtores rurais pessoas físicas, que o Decreto 73.626/1974, passou a regulamentar a Lei
outorgar a um deles poderes para contratar, gerir e 5.889/1973, dispondo sobre normas aplicáveis ao
demitir trabalhadores para prestação de serviços, trabalho rural.
exclusivamente, aos seus integrantes, mediante
documento registrado em cartório de títulos e Para tanto, considera “empregador rural a pessoa
documentos. natural ou jurídica, proprietária ou não, que explore
atividade agroeconômica, em caráter permanente ou
O § 1º do art. 3º da Lei 5.889/73 inclui “na atividade temporário, diretamente ou por meio de prepostos e
econômica referida no caput deste artigo a exploração com auxílio de empregados”.
industrial em estabelecimento agrário não
compreendido na Consolidação das Leis do Trabalho”. Além disso, equipara ao empregador rural: I – a
E o § 2º do mesmo artigo estabelece a solidariedade pessoa natural ou jurídica que, habitualmente, em
trabalhista entre empregadores rurais integrantes de caráter profissional, e por conta de terceiros, execute
grupo econômico. serviços de natureza agrária, mediante a utilização do
trabalho de outrem; II – o consórcio simplificado de
O art. 4º do mesmo diploma legal equipara ao produtores rurais de que trata o art. 25-A da Lei n.
empregador rural “a pessoa física ou jurídica que, 8.212/1991.
habitualmente, em caráter profissional, e por conta
de terceiros, execute serviços de natureza agrária O § 2º do art. 84 do Decreto 10.854 define grupo
mediante utilização do trabalho de outrem”. É o econômico rural nos seguintes termos: “Sempre que
empregador rural equiparado. uma ou mais empresas, embora cada uma delas tenha
personalidade jurídica própria, estiverem sob direção,
Ressalte-se a figura do intermediário, conhecido por controle ou administração de outra, ou ainda quando,
“gato”, “turmeiro” ou “zangão”, que recruta mesmo guardando cada uma sua autonomia,
trabalhadores rurais e, às vezes, labora lado a lado integrem grupo econômico ou financeiro rural, serão
com os mesmos. Em rigor, o intermediário é também responsáveis solidariamente nas obrigações
empregado (exceto quando eventual). decorrentes da relação de emprego”, sendo certo que
Empresa rural é atividade econômica organizada para o § 3º do mesmo art. 84 considera “atividade
o fim de produção, transformação ou troca de agroeconômica, além da exploração industrial em
serviços de natureza rural. estabelecimento agrário não compreendido na CLT, a
exploração do turismo rural ancilar à exploração
A exploração industrial dentro de um estabelecimento agroeconômica”.
rural também constitui empresa rural, como, v. g., um
curtume numa fazenda. Pode ser indústria rural ou Ademais, o § 4º do mesmo art. 84 do Decreto 10.854
empresa rural o próprio curtume sem fazenda considera como exploração industrial em
estabelecimento agrário as atividades que
compreendem o primeiro tratamento dos produtos ser exercida. Para este notável juslaboralista, tal
agrários in natura sem transformá-los em sua poder decorre de fundamento legal, nos termos do
natureza, tais como: art. 2º da CLT, e doutrinário (por meio de quatro
teorias: a da propriedade privada; a contratualista; a
I – o beneficiamento, a primeira modificação e o institucionalista; a do interesse) e manifesta-se de três
preparo dos produtos agropecuários e hortigranjeiros formas distintas:
e das matérias-primas de origem animal ou vegetal
para posterior venda ou industrialização; e II – o •o poder de organização, que se constitui na
aproveitamento dos subprodutos provenientes das faculdade de o empregador definir os fins econômicos
operações de preparo e modificação dos produtos in – comerciais, industriais, agrícolas etc. – visados pelo
natura de que trata o inciso I. empreendimento e a sua estrutura jurídica, bem
como a instituição de regulamentos e normas no
Registra-se que o § 5º do Decreto 10.854 não âmbito da empresa;
considera indústria rural aquela que, ao operar a
primeira modificação do produto agrário, transforme •o poder de controle, que consiste no direito de o
a sua natureza a ponto de perder a condição de empregador fiscalizar as atividades profissionais de
matéria-prima. seus empregados, aí incluídas a revista dos obreiros
na portaria ao final do expediente333, a colocação de
Por fim, o art. 102 do Decreto 10.854/2021 prevê que câmaras de circuito interno de televisão e a exigência
o empregador rural que tiver a seu serviço, nos limites de marcação do cartão de ponto;
de sua propriedade, mais de cinquenta trabalhadores
de qualquer natureza (com ou sem vínculo •o poder disciplinar, que é a faculdade de o
empregatício), com família, fica obrigado a possuir e empregador impor sanções a seus empregados.
conservar em funcionamento escola primária,
inteiramente gratuita, para os menores dependentes, Octavio Bueno Magano salienta que o
com tantas classes quantos sejam os grupos de poder hierárquico, ou poder diretivo lato sensu,
quarenta crianças em idade escolar. subdivide-se em poder diretivo stricto sensu, poder
regulamentar e poder disciplinar. O poder diretivo
stricto sensu consiste na faculdade de ditar ordens e
6. PODERES DO EMPREGADOR instruções; o poder regulamentar corresponde à
faculdade de legislar no âmbito da empresa,
Tendo em vista que o empregador assume os riscos consubstanciando-se na expedição de ordens
da atividade econômica, e sendo o empregado um genéricas, notadamente o regulamento de empresa; o
trabalhador subordinado, o art. 2º da CLT confere poder disciplinar traduz-se na faculdade de impor
àquele o poder de direção – também chamado de sanções aos trabalhadores334.
poder de comando ou poder hierárquico –, que
consiste, nas palavras de Guilherme A. Canedo Focalizaremos nossa atenção para o poder disciplinar
Magalhães, do empregador, porque o reputamos como o mais
importante para os efeitos da relação de emprego.
na faculdade que tem o empresário de exercer todas
as atividades referentes à administração da empresa,
planejando a ação da organização, estabelecendo
normas para o seu funcionamento, comandando e 6.1. Poder disciplinar
fiscalizando a execução do trabalho, prescrevendo as Não há uniformidade doutrinária acerca da existência
regras de conduta dos empregados, adotando as do poder disciplinar do empregador, o qual é repelido
medidas cabíveis para a realização plena dos objetivos por duas teorias: a que nega o poder disciplinar do
da empresa331. empregador, já que, sendo a relação de emprego um
Para Amauri Mascaro Nascimento332, o poder de contrato entre dois sujeitos, qualquer destes poderia
direção do empregador é a faculdade a ele atribuída exercer o mesmo poder; e a que sustenta ser do
de determinar como a atividade do empregado deve Estado, através de seus órgãos, a competência para
impor sanções às pessoas.
O já saudoso Antônio Lamarca335, por exemplo, d) Teoria penalista
advogava que, ante o caráter punitivo inerente ao
poder disciplinar, somente o Estado teria o monopólio Para os defensores desta teoria, o poder disciplinar
do seu exercício, inexistindo, assim, um direito decorre da necessidade de se assegurar a ordem e a
disciplinar privado. coesão entre os membros de uma dada sociedade.

A corrente majoritária, entretanto, admite que há, no Transplantada para os domínios do direito do
âmbito da relação de emprego, um poder exclusivo do trabalho, esta teoria sustenta que o fundamento da
empregador: o poder disciplinar. sanção penal é o mesmo da sanção disciplinar
aplicada ao empregado infrator, variando apenas o
Existem diversas teorias que procuram explicar o campo de atuação de cada uma.
fundamento desse poder, destacando-se as seguintes
teorias: e) Teoria do pluralismo democrático

a) Teoria contratual Segundo Octavio Bueno Magano337, a sociedade


democrática é composta de vários centros de poder,
Para esta corrente, a fonte do poder disciplinar do embora inferiores ao do Estado, dotados de
empregador, isto é, a faculdade de impor sanções ao autonomia. Os indivíduos participam de tais centros
empregado, encontra residência no próprio contrato de acordo com influência que exercem sobre o
de trabalho. processo decisório do grupo, isto é, os menos
influentes sujeitam-se às decisões tomadas pelos mais
Se o contrato decorre da vontade das partes, o influentes.
empregado já sabe de antemão que sua atividade
laboral estará subordinada (juridicamente) às ordens Esta teoria, em rigor, constitui desdobramento da
legais e legítimas do empregador, que dirige a teoria institucionalista.
prestação pessoal do seu serviço.

b) Teoria da propriedade privada


6.2. Princípios do poder disciplinar
Para os adeptos desta corrente, que tem em Evaristo
de Moraes Filho336 ardoroso defensor, o poder A jurisprudência e a doutrina admitem quatro
disciplinar do empregador tem origem na propriedade espécies de sanções, a saber: a) advertência; b)
da empresa e no próprio contrato de trabalho. suspensão; c) multa (que pode ser aplicada, por
exemplo, ao jogador profissional de futebol); d)
Se o empregador é dono da empresa, tem o direito de dispensa por justa causa.
usá-la e dela desfrutar como bem lhe aprouver.
A lei brasileira não prevê as penalidades de
Sendo ele o proprietário dos instrumentos de suspensão338 e advertência como sanções
produção, apresenta-se como complemento do disciplinares. O costume, a doutrina e a jurisprudência
direito de propriedade a possibilidade de organizar e nacional, entretanto, vêm admitindo, pacificamente, a
dirigir o negócio à sua vontade, pois é ele quem possibilidade de imposição, pelo empregador, de tais
assume os riscos do empreendimento. penalidades, sobre o fundamento de que, se o
empregador pode o mais (despedir por justa causa ou
c) Teoria institucionalista falta grave), também poderá o menos (aplicar sanções
Como o próprio nome está a indicar, esta corrente menores).
parte da premissa de que a empresa constitui uma Verifica-se que, na prática, as penas de advertência e
instituição social, um agrupamento social organizado. suspensão são passadas por escrito ao empregado.
E, para realizar sua finalidade institucional, aqueles Não é inválida, entretanto, a comunicação verbal.
que a dirigem têm o direito – mais que isso, o dever –
de constranger seus membros a adequarem suas Existem princípios – ou requisitos, segundo alguns
condutas a esse fim, valendo-se, para tanto, do poder doutrinadores – que devem ser observados no que
de impor sanções disciplinares aos transgressores. concerne ao poder disciplinar do empregador:
art. 482 da CLT. Porém, a sua observância encontra
guarida no princípio constitucional da
6.2.1. Princípio da proporcionalidade proporcionalidade, tendo por principal objetivo
A punição deverá ser proporcional à falta cometida, combater eventuais excessos do empregador no
não podendo o juiz dosar a pena pelo empregador. exercício de poder disciplinar. 1.4. No caso em que o
Vale dizer, o órgão julgador restringe-se a declarar a empregado foi dispensado de forma imediata, na
nulidade ou não da pena aplicada, não podendo, por primeira ocorrência faltosa em mais de 10 anos de
exemplo, converter uma justa causa em suspensão, serviços prestados, revela-se desproporcional a
ou vice-versa. Dessa forma, o juiz examina se a pena aplicação direta da pena de demissão por justa causa.
aplicada pelo empregador foi proporcional ou não à Recurso de revista não conhecido. (...) (TST-RR
falta cometida pelo empregado. Exemplificando, o 5563920145040304, Rel. Min. Delaíde Miranda
simples atraso do empregado na marcação do ponto Arantes, 2ª T., DEJT 17.08.2018).
não pode ensejar, de plano, a sua dispensa por justa
causa; justificaria apenas uma pena de advertência.
Todavia, a reiteração de atrasos, caso o empregador 6.2.2. Princípio da limitação temporal da suspensão
tenha aplicado antes a pena de advertência ou de
suspensão, poderá caracterizar a justa causa praticada A suspensão disciplinar não poderá exceder de 30
pelo empregado. Nesse sentido: (trinta) dias, findos os quais o empregado poderá
considerá-la como dispensa sem justa causa. É o que
JUSTA CAUSA. PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E dispõe o art. 474 da CLT, segundo o qual a “suspensão
GRADAÇÃO DA PENA. INOBSERVÂNCIA. RESOLUÇÃO do empregado por mais de 30 (trinta) dias
CONTRATUAL DESQUALIFICADA. Se o empregador consecutivos importa na rescisão injusta do contrato
inobserva a gradação da pena, apressando-se em de trabalho”. Não se pode confundir essa pena de
romper o contrato de trabalho por justa causa, frustra suspensão disciplinar de, no máximo trinta dias com o
o caráter pedagógico do instituto disciplinar, dando direito de o empregador suspender o contrato de
azo à desqualificação da resolução contratual. Apelo trabalho e ajuizar inquérito para apuração de falta
patronal improvido (TRT 1ª R. – RO grave do empregado estável, sendo que, nesse caso, a
00100565920145010322 – Rel. Des. Rosana Salim suspensão “perdurará até a decisão final do processo”
Villela Travesedo – 10ª T. – DEJT 25.06.2015). (CLT, art. 494, parágrafo único).

RECURSO DE REVISTA REGIDO PELA LEI 13.015/2014 1 6.2.3. Princípio do non bis in idem
- JUSTA CAUSA. NÃO CONFIGURAÇÃO. GRADAÇÃO DE
PENALIDADE. MEDIDA DESPROPORCIONAL. 1.1. No É proibida a aplicação de duas penalidades para a
caso, o empregado foi dispensado por justa causa em mesma falta (non bis in idem), isto é, para cada falta
razão do descumprimento de orientação do se admite uma única punição. Importante lembrar
empregador quanto ao uso de equipamento de que não há ferimento a esse princípio quando o
proteção individual. Concluiu o Tribunal Regional que empregado é advertido por faltas reiteradas e
a reclamada não observou a proporcionalidade na injustificadas ao serviço e o empregador
punição do empregado, pois não havia registro de concomitantemente procede aos descontos salariais
outras faltas cometidas pelo empregado, em relação respectivos. Nesse sentido:
ao uso dos equipamentos de proteção , em mais de 10 JUSTA CAUSA. BIS IN IDEM. Empregado que pelo
anos de relação empregatícia. 1.2. A punição à falta mesmo fato sofreu dupla reprimenda. Caracterizado o
cometida deve prestar-se à gradação, com a bis in idem, faz jus o reclamante ao recebimento das
advertência ou suspensão do empregado num parcelas rescisórias deferidas pelo juízo a quo.
primeiro momento, para, só então, persistindo o Recurso patronal conhecido e desprovido (TRT 10ª R.
comportamento faltoso, utilizar-se da pena máxima, – RO 01434-2010-013-10-00-9 – Rel. Des. Márcia
com o despedimento motivado. 1.3. É verdade que a Manzoni Cúrcio Ribeiro – 3ª T. – DEJT 17.06.2011).
gradação da pena não encontra previsão expressa no
JUSTA CAUSA. NON BIS IN IDEM. A justa causa 443, parágrafo 2º, da CLT, Súmula 212 do TST) e da
constitui a penalidade máxima que pode ser imputada não culpabilidade do acusado (art. 5º, LVII, da CRFB),
ao empregado e, por isso, necessita ser comprovada recai sobre o empregador o ônus da prova dos
de forma robusta. Havendo falta grave já punida pelo motivos determinantes da terminação do contrato de
empregador por outro meio, advertência ou trabalho. Não se desincumbindo o réu deste onus
suspensão, não pode ser também aplicada a justa probandi, ex vi art. 818 da CLT c/c art. 333, II, do CPC,
causa, sob pena de bis in idem (TRT 1ª R., RO tem-se que a despedida ocorreu sem justa causa.
00009895620145010262, 6ª T., DEJT 13.06.2016). Entrementes, cumpre gizar que a presunção de
inocência, enquanto direito humano (arts. 8º do Pacto
de San José da Costa Rica e 14 do Pacto Internacional
6.2.4. Princípio da presunção de inocência do de Direitos Civis e Políticos de 1966) não está ligada
trabalhador exclusivamente ao âmbito penal, revelando-se
inquestionável sua aplicação também na seara do
Não há punição sem culpa. O princípio da presunção poder empregatício disciplinar, à luz da interpretação
de inocência encontra inspiração no Direito Penal, expansiva e da eficácia horizontal dos direitos
sendo, atualmente, erigido ao patamar constitucional fundamentais (art. 5º, parágrafos 1º e 2º, da CF). Em
(CF, art. 5º, LVII). Destarte, é anulável a aplicação de reforço da transcendência da presunção de inocência
penalidade por mera presunção do empregador. defendida, justamente por representar interesses
Nesse sentido: maiores, calcados nos direitos fundamentais do ser
humano, já decidiu a Corte Constitucional pátria que
JUSTA CAUSA. DESCRIÇÃO DOS DESVIOS DE
“surge motivado de forma contrária à garantia
CONDUTA. CONTROLE DE LEGALIDADE DO PODER
constitucional que encerra a presunção da não
DISCIPLINAR. A ausência de informações sobre as
culpabilidade ato administrativo, conclusivo quanto à
circunstâncias que configuraram a insubordinação ou
ausência de capacitação moral, baseado, unicamente,
o abandono do posto de trabalho inviabiliza o direito
na acusação e, portanto, no envolvimento do
de defesa do empregado. Mesmo sendo denunciada a
candidato em ação penal” (STF – RE n. 194872/RS – 2ª
Convenção n. 158 da OIT, que em seu artigo 7º
Turma – Rel. Min. Marco Aurélio – julgado em
enuncia a oportunidade de defesa no término das
07.11.2000). No caso dos autos, funda-se a justa causa
relações de trabalho, o artigo 5º, LVII, da Constituição
obreira na prática de ato de improbidade pela
Federal prevê o princípio da presunção de inocência
reclamante, consubstanciado no fato de que rasurou
ou da não culpabilidade. Assim, o poder disciplinar
grosseiramente atestado médico, a fim de justificar
não é absoluto. No caso, sem descrever as
falta no trabalho. Do contexto fático-probatório,
circunstâncias fáticas do comportamento do obreiro,
denota-se que a reclamada não se desvencilhou do
como as tarefas negadas, eventuais motivos de
encargo probatório de ratificar em Juízo a
negativa ou exigências infundadas do empregado, a
improbidade supostamente cometida pela laborista,
reclamada inviabilizou o controle sobre o potestativo
notadamente mediante robustos elementos materiais
poder disciplinar exercido unilateralmente, além de
de prova capazes de – a um só tempo – demover a
não possibilitar a aferição da proporcionalidade da
presunção juris tantum de ruptura imotivada e incutir
medida aplicada, elemento indispensável à
no Magistrado um juízo de certeza sobre a existência
legitimidade da penalidade máxima (TRT 3ª R., RO
de todas as etapas da fraude que diz ter ocorrido
0002021-93.2014.5.03.0148, Rel. Des. Cristiana M.
(materialidade do ato de improbidade) e, acima de
Valadares Fenelon – 7ª T. – DEJT 10.11.2015).
tudo, que tais fatos vinculem a trabalhadora (autoria
JUSTA CAUSA COMETIDA PELO EMPREGADO. infracional), através de uma conduta dolosa, isto é,
ACUSAÇÃO PATRONAL DE ATO DE IMPROBIDADE ação com “animus fraudandi”. Disso decorre que se
(ADULTERAÇÃO DE ATESTADO MÉDICO). NÃO afigura insustentável a premissa sentencial no sentido
COMPROVAÇÃO. CONVOLAÇÃO DA RESOLUÇÃO de que “a rasura é patente e somente beneficia a
CONTRATUAL EM DISPENSA IMOTIVADA. Por força reclamante, pelo que se conclui através da prova
dos princípios da continuidade da relação de emprego indiciária que foi a autora quem fez a alteração”, haja
(art. 7º, caput, e inciso I, da Constituição Federal, art. vista que a mera suposição de fraude por parte da
reclamante não pode embasar uma resolução Falta praticada pelo empregado e não punida pelo
contratual por justa causa obreira. Destarte, diante da empregador é falta perdoada. Assim, se o
ausência de elementos autorizativos da resolução empregador, ciente da falta cometida pelo
contratual, prevalece a presunção favorável à obreira empregado, deixar de exercer o seu poder disciplinar,
de ruptura imotivada do contrato. Recurso da aplicando a penalidade correspondente, haverá
reclamante provido (TRT 2ª R., RO presunção de que a falta foi perdoada, caracterizando
00011019120135020016, Rel. Des. Maria Isabel Cueva o perdão tácito. É o que ocorre, por exemplo, quando
Moraes – 4ª T. – DEJT 14.08.2015). o empregador dispensa o empregado sem justa causa,
pagando-lhe as verbas resilitórias correspondentes a
essa modalidade de extinção do contrato de trabalho
JUSTA CAUSA. A justa causa é a mais severa punição e, posteriormente, em juízo, vem alegar em
imposta ao empregado, motivo pelo qual o Judiciário contestação que a dispensa se deu por justa causa.
deverá apurá-la com cautela, levando em Ouçamos a jurisprudência:
consideração o conjunto probatório produzido pelas AÇÃO DE COBRANÇA. PERDÃO TÁCITO. Constatado
partes. Insta salientar que, sob a ótica do princípio que o autor da ação de cobrança formalizou a rescisão
constitucional da presunção de inocência, o qual contratual, deixou de proceder ao devido desconto de
também abarca as relações civis, presume-se ter pelo menos parte do valor ora cobrado, considerando-
ocorrido o rompimento do contrato de trabalho da se, inclusive, a limitação imposta pelo art. 477,
maneira mais favorável ao trabalhador, por meio da parágrafo 5º, da CLT e igualmente não consignou
modalidade de extinção contratual que assegure ao qualquer dívida por parte do réu no referido termo,
empregado o máximo de direitos trabalhistas. O mesmo sabedor do montante devido pelo
objetivo é assegurar maior possibilidade de empregado, configurou-se o perdão tácito da dívida.
permanência do trabalhador em seu emprego e traz Não cabe agora realizar a cobrança, uma vez que o
como fundamento a natureza alimentar do salário, respectivo valor incorporou-se ao patrimônio jurídico
uma vez que o trabalhador é subordinado jurídica e do empregado. Recurso não provido (TRT 1ª R., RO
economicamente ao empregador e, do trabalho, 00792001120075010082, Rel. Des. Antonio Cesar
retira o seu sustento. Para configuração da falta grave Coutinho Daiha – 3ª T., DEJT 17.07.2015).
é necessário prova robusta, de modo a deixar
induvidoso o ato ilícito praticado pelo empregado, JUSTA CAUSA – PAGAMENTO DAS VERBAS
não só pelo elemento subjetivo da falta praticada, DECORRENTES DE DISPENSA SEM JUSTA CAUSA –
mas, principalmente, pelos reflexos negativos de seu PERDÃO TÁCITO. Mesmo que o empregado tenha
reconhecimento na vida profissional do trabalhador. cometido falta ensejadora de dispensa por justa
Apelo provido, no particular. (...) (TRT 1ª R., RO causa, o pagamento de verbas características de uma
01005794820185010041, Rel. Des., DEJT 12.07.2019). dispensa sem justa causa caracteriza perdão tácito
(TRT 16ª R., RO 00563-2008-016-16-00-1, Rel. Des. Ilka
Esdra Silva Araújo – DJ 29.09.2009).
6.2.5. Princípio da vedação à pena pecuniária ou ao
rebaixamento funcional
6.2.7. Princípio da imediatidade
O direito brasileiro não permite a aplicação de multa
para o empregado (salvo previsão legal expressa, A sanção disciplinar deve guardar imediatidade com a
como é o caso do atleta profissional de futebol, nos falta perpetrada, uma vez que o retardamento na
termos do art. 48 da Lei 9.615/98). Não é permitido, aplicação da pena autoriza presunção de renúncia
igualmente, ao empregador promover rebaixamento patronal ao direito de impor sanção. Tal presunção,
funcional, redução salarial ou transferência do entretanto, somente deve ser levada em conta a
empregado como formas de punição. partir do momento em que o empregador toma
ciência da falta cometida pelo obreiro.

O princípio da imediatidade (ou atualidade) mantém


6.2.6. Princípio do perdão tácito íntima relação com o princípio do perdão tácito, de
modo que, se o empregador, ciente da falta cometida No exercício do poder disciplinar do empregador deve
pelo empregado, deixar de aplicar a pena com a maior existir nexo de causalidade (relação de causa e efeito)
brevidade possível, isto é, em tempo razoável, não entre a falta cometida e a sanção aplicada. Trata-se de
poderá mais, pelo mesmo fato, aplicar a penalidade aplicação analógica da teoria dos motivos
correspondente. Nesse sentido: determinantes no âmbito do direito do trabalho,
segundo a qual o empregador fica vinculado aos fatos
JUSTA CAUSA. DESQUALIFICAÇÃO. FALTA DE e fundamentos que determinaram a aplicação da
IMEDIATIDADE. PERDÃO TÁCITO. Inobservada a penalidade ao empregado, não podendo inovar,
indispensável imediaticidade entre o conhecimento posteriormente, os motivos e a sanção que ensejou a
do ato faltoso e a aplicação da justa causa, sem que aplicação da justa causa. Nesse sentido:
tenha havido motivo para tanto, tem-se por
configurado perdão tácito a obstar qualquer punição. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. SANEPAR. SOCIEDADE
Apelo patronal improvido (TRT 1ª R., RO DE ECONOMIA MISTA. JUSTA CAUSA.
00000200320115010244, Rel. Des. Rosana Salim DESCONSTITUIÇÃO. TEORIA DOS MOTIVOS
Villela Travesedo, 10ª T., DEJT 09.06.2014). DETERMINANTES. JUNTADA DE DOCUMENTO NOVO.
EFEITO MODIFICATIVO; Não obstante a ausência de
FALTA INJUSTIFICADA. PUNIÇÃO. INOBSERVÂNCIA DA estabilidade, o empregado público não é relegado ao
IMEDIATIDADE. PERDÃO TÁCITO CONFIGURADO. Por limbo jurídico. Se a Administração informou o motivo
se tratar a justa causa de penalidade máxima que da dispensa (saque indevido do FGTS, mediante uso
autoriza a rescisão do contrato de trabalho sem ônus de documento expedido pela Sanepar contendo
para o empregador, causando efeitos nefastos de informações tidas por falsas) e o Poder Judiciário
ordem moral e econômica na vida do trabalhador, a verificou a ilicitude ou inexistência de tal motivação,
sua aplicação deve preencher determinados requisitos cabe invalidar a dispensa – em aplicação da teoria dos
tais como: a natureza da matéria envolvida na motivos determinantes – e reintegrar o empregado,
infração objetivada, o nexo de causalidade entre o ato restabelecendo o status quo ante. Embargos de
faltoso e a penalidade aplicada, a adequação e declaração conhecidos e providos com efeito
proporcionalidade entre a falta e a penalidade, a modificativo (TST-ED-RR 34600-22.2005.5.09.0026 –
imediatidade da punição, assim como a ausência de Rel. Min. Augusto César Leite de Carvalho – 6ª T. –
dupla punição para o mesmo fato. Não se torna DEJT 28.06.2013).
aceitável a postura de empregador que, após
conhecido o fato, protela a aplicação de qualquer AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.
medida de modo a ultimar tão logo a aplicação da EMPREGADO PÚBLICO. NULIDADE DA DISPENSA.
sanção correspondente. Assim procedendo, ele perde EMPREGADO DE EMPRESA PÚBLICA E SOCIEDADE DE
seu poder de punir porquanto, ante a ocorrência de ECONOMIA MISTA. ATO MOTIVADO. TEORIA DOS
uma falta disciplinar, não a puniu de forma imediata, MOTIVOS DETERMINANTES. No julgamento do RE
deixando o empregado trabalhar normalmente por 589.998-PI, o Supremo Tribunal Federal, confirmou a
alguns dias para, só depois, aplicar a sanção que lhe é inexistência de estabilidade ao empregado público,
consequente, configurando-se, com isso, o perdão fundamentada no art. 41 do Texto Constitucional. Por
tácito (TRT 3ª R. – RO 0001684-45.2011.5.03.0040 – outro lado, no julgamento dos Embargos de
Rel. Des. Jose Marlon de Freitas – 6ª T. – DEJT Declaração, na sessão de 10.10.2018, o STF entendeu
14.12.2012, p. 274). por restringir a exigência de motivação da dispensa
apenas aos empregados da Empresa Brasileira de
6.2.8. Princípio da adstrição à sanção aplicada Correios e Telégrafos – ECT, fixando a seguinte tese:
Aplicada a punição, não poderá ela ser substituída ou “A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT
modificada. Se o empregador aplicar a pena de tem o dever jurídico de motivar, em ato formal, a
advertência, não poderá substituí-la, pelo mesmo demissão de seus empregados”. Portanto, permanece
fato, por outra penalidade (suspensão ou justa causa). incólume o entendimento cristalizado na OJ n. 247, I,
da SBDI-I desta Corte quanto à desnecessidade de
6.2.9. Princípio da pertinência da causa (teoria dos motivação do ato de dispensa dos empregados de
motivos determinantes) empresas públicas e sociedades de economia mista.
Ocorre que o caso dos autos contém uma Além disso, não pode o empregador utilizar o seu
especificidade que impede a aplicação da OJ n. 247, I, poder disciplinar como meio de discriminar seus
da SBDI-I desta Corte. In casu, o Tribunal Regional empregados, ofendendo-lhes a honra, a dignidade, a
consignou que a reclamada motivou o ato de privacidade ou a intimidade. Nesse sentido:
demissão, porém não conseguiu demonstrar a
veracidade do motivo apresentado, razão pela qual a AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. 1.
dispensa foi declarada inválida. De acordo com a PARTICIPAÇÃO DE MOVIMENTO PAREDISTA.
Teoria dos Motivos Determinantes, uma vez expostos RESCISÃO CONTRATUAL. DISPENSA SEM JUSTA
os motivos que conduziram à prática do ato, estes CAUSA. CARACTERIZAÇÃO DE TRATAMENTO
passam a vincular o administrador público. Logo, ao DISCRIMINATÓRIO. DESRESPEITO AOS PRINCÍPIOS
motivar o ato de demissão, a reclamada vinculou-se FUNDAMENTAIS DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
ao motivo apresentado e atraiu para si o ônus de E DO VALOR SOCIAL DO TRABALHO. (ART. 1º, III E IV,
comprovar a veracidade do fato erigido como motivo DA CF). INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. 2. DO
para a prática do ato administrativo, ônus do qual, QUANTUM INDENIZATÓRIO. DECISÃO DENEGATÓRIA.
segundo a Corte de origem, não conseguiu se MANUTENÇÃO. Discriminação é a conduta pela qual
desvencilhar. Com efeito, realizado o cotejo entre as se nega à pessoa, em face de critério injustamente
razões recursais e os fundamentos do acórdão desqualificante, tratamento compatível com o padrão
Recorrido, não se vislumbra violação de qualquer jurídico assentado para a situação concreta por ela
dispositivo legal ou constitucional, tampouco vivenciada. O princípio da não discriminação é
divergência jurisprudencial. Agravo de Instrumento princípio de proteção, de resistência, denegatório de
conhecido e não provido (TST-AIRR conduta que se considera gravemente censurável.
1945220155030135, Rel. Min. Luiz José Dezena da Portanto, labora sobre um piso de civilidade que se
Silva, 1ª T., DEJT 29.03.2019). considera mínimo para a convivência entre as
pessoas. A conquista e afirmação da dignidade da
DISPENSA. TEORIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES. A pessoa humana não mais podem se restringir à sua
Teoria dos Motivos Determinantes informa que o liberdade e intangibilidade física e psíquica,
agente público fica vinculado à motivação envolvendo, naturalmente, também a conquista e
apresentada para a expedição de determinado ato, afirmação de sua individualidade no meio econômico
mesmo sendo ele discricionário. Assim, a e social, com repercussões positivas conexas no plano
empregadora atrai para si o encargo de provar a cultural – o que se faz, de maneira geral, considerado
existência dos motivos informados no processo o conjunto mais amplo e diversificado das pessoas,
administrativo para a definição dos fundamentos da mediante o trabalho e, particularmente, o emprego.
ruptura contratual, sob pena de desvio de finalidade As proteções jurídicas contra discriminações na
(TRT 3ª R., RO 0011005-79.2015.5.03.0003, Rel. Juiz relação de emprego são distintas. A par das proteções
Conv. Cleber Lucio de Almeida, 7ª T., DEJT que envolvem discriminações com direta e principal
28.05.2019). repercussão na temática salarial, há as proteções
jurídicas contra discriminações em geral, que
6.2.10. Princípio da não discriminação envolvem tipos diversos e variados de empregados ou
Impõe-se a igualdade de sanções para faltas idênticas tipos de situações contratuais. Embora grande parte
cometidas por dois ou mais empregados. Esse desses casos acabem por ter, também, repercussões
postulado decorre da aplicação do princípio da não salariais, o que os distingue é a circunstância de serem
discriminação entre pessoas que se encontram em discriminações de dimensão e face diversificadas, não
situações iguais. Assim, se dois ou mais empregados se concentrando apenas (ou fundamentalmente) no
praticaram ato de improbidade, cada um agindo a seu aspecto salarial. No caso concreto, restou
modo, de modo a desviar dinheiro do cofre da expressamente consignado no acórdão regional que o
empresa, por exemplo, a dispensa por justa causa motivo da dispensa do Reclamante foi a sua
deve ser aplicada igualmente a todos eles, sem participação no movimento paredista instaurado em
discriminação. face do Reclamado. Nesse contexto, a prática do
Reclamado contrapõe-se aos princípios basilares da
nova ordem constitucional, mormente àqueles que
dizem respeito à proteção da dignidade humana e da 17698020125090411, Rel. Min. Mauricio Godinho
valorização do trabalho humano (art. 1º, III e IV, da Delgado, 3ª T., DEJT 12.05.2017).
CR/88) e à isonomia de tratamento (art. 5º, caput, da
CR/88). Ademais, para que se pudesse chegar, se PARTICIPAÇÃO EM LUCROS E RESULTADOS. PRINCÍPIO
fosse o caso, à conclusão fática diversa, seria DA NÃO DISCRIMINAÇÃO. NECESSIDADE DE
necessário o revolvimento do conteúdo fático- TRATAMENTO IGUALITÁRIO A EMPREGADOS EM
probatório, o que fica inviabilizado nesta instância SITUAÇÃO IDÊNTICA. Do princípio da igualdade deriva
recursal (Súmula 126/TST). Desse modo, não há como a obrigação de combate à discriminação. A não
assegurar o processamento do recurso de revista discriminação é a expressiva manifestação do
quando o agravo de instrumento interposto não princípio da igualdade, cujo reconhecimento como
desconstitui os fundamentos da decisão denegatória, valor constitucional inspira o ordenamento jurídico
que ora subsiste por seus próprios fundamentos. brasileiro no seu conjunto. Por este, veda-se o
Agravo de instrumento desprovido (TST-AIRR 140- tratamento diferenciado a pessoas em situação
71.2011.5.19.0009 – Rel. Min. Mauricio Godinho idêntica, o que se evidencia quando a empresa paga a
Delgado – 3ª T. – DEJT 13.09.2013). empregados na mesma situação valores diversos de
Programa de Participação em Resultados sem
(...) RECURSO DE REVISTA DA PETROBRAS. justificativa plausível (TRT 3ª R., RO 0011363-
GRATIFICAÇÃO EXTRAORDINÁRIA. PAGAMENTO A 06.2017.5.03.0090, Rel. Des. Ana Maria Amorim
OCUPANTES DE CARGO DE CONFIANÇA. NÃO Rebouças, 8ª T., 06.10.2018).
CONFIGURAÇÃO DE OFENSA AO PRINCÍPIO DA NÃO
DISCRIMINAÇÃO. A Constituição de 1988 incorpora o RESCISÃO CONTRATUAL SEM JUSTA CAUSA.
princípio da não discriminação, que deve ser afirmado EMPREGADO ETÍLICO. DOENÇA GRAVE, CRÔNICA E
e cumprido nas relações do trabalho. Entretanto a ESTIGMATIZANTE. PRESUNÇÃO DE DISCRIMINAÇÃO.
igualdade formal deve ceder lugar à igualdade real ou PROVA PATRONAL CONTRA A PRESUNÇÃO JURIS
substancial, ou seja, é necessário tratar os iguais TANTUM. INEXISTÊNCIA. NULIDADE DO
igualmente e os desiguais desigualmente, sob pena de DESPEDIMENTO. REINTEGRAÇÃO. A dispensa sem
ferir este preceito basilar protegido pela Lei Maior, em justa causa de trabalhador acometido por doença
seu artigo 5º, caput. No caso concreto, o Tribunal grave ou estigmatizante presume-se discriminatória,
Regional assentou que a Petrobras efetuou, por conforme assentado pela jurisprudência estabilizada.
liberalidade, o pagamento de gratificação Tal presunção, juris tantum, permite prova contra si,
extraordinária a todos os empregados ocupantes do cujo ônus incumbe, obviamente, ao empregador que
cargo de confiança, procedimento que reputou praticou o ato. A dispensa aleatória e resultante de
ofensivo ao direito de equidade entre os empregados. um hoje inexistente poder potestativo não pode
Ao contrário do que entendeu o Tribunal Regional, sustentar-se sem justificativa, no atual patamar
considera-se que a conduta da Reclamada PETROBRAS civilizatório. A Constituição, embora não
não configura violação ao princípio da não regulamentada por dolosa omissão do Parlamento, já
discriminação, uma vez que tratou desigualmente os assegura proteção contra despedida arbitrária em
trabalhadores na medida da sua desigualdade. A geral (artigo 7º, I). Se não são colhidas, nos autos,
concessão da gratificação extraordinária, baseada em provas em favor das alegações patronais para
critério objetivo, não pode ser considerada arbitrária, justificar a rescisão, o reconhecimento de sua
pois estabelecida dentro do poder diretivo da nulidade é medida de justiça. Recurso a que se dá
empregadora de estabelecer o pagamento de uma provimento (TRT 2ª R. – RO 00021004420135020016
parcela diferenciada aos ocupantes da função de – Rel. Des. Marcos Neves Fava – 14ª T. – DEJT
confiança. Inclusive esta Corte Superior já se 16.12.2015).
manifestou inúmeras vezes sobre a matéria, estando
SLIDE 8
pacificado o entendimento de que a conduta da
Petrobras na fixação da gratificação extraordinária
6. TRABALHADOR TEMPORÁRIO
não se revelou discriminatória. Julgados. Recurso de
revista conhecido e provido (TST-RR Trabalhador temporário é um trabalhador
subordinado atípico, cuja atividade laboral é regulada
pela Lei 6.019, de 03.01.1974, regulamentada pelo O art. 42 do referido Decreto adverte que o trabalho
Decreto 10.854, de 10.11.2021, que revogou temporário não se confunde com a prestação de
expressamente o Decreto 10.060/2019. serviços a terceiros de que trata o art. 4º-A da Lei
6.019/1974.
Na verdade, a Lei 6.019/1974 sofreu profundas
alterações com o advento das Leis 13.429 e 13.467, Por outro lado, a Lei 13.429/2017 também deu nova
ambas de 2017, passando a regular não apenas o definição à empresa de trabalho temporário, como se
trabalho temporário como também a prestação de depreende do novel art. 4º da Lei 6.019/1974, in
serviços por interposta empresa (terceirização). verbis: “Empresa de trabalho temporário é a pessoa
jurídica, devidamente registrada no Ministério do
Nesta epígrafe, analisaremos apenas o contrato de Trabalho e Previdência, responsável pela colocação de
trabalho temporário e a nova modalidade de contrato trabalhadores à disposição de outras empresas
de prestação de serviços (terceirização) será temporariamente”.
examinada no item 3 do Capítulo V deste Título II,
para onde remetemos o leitor. Igualmente, a definição de empresa tomadora de
serviços temporários também sofreu alteração,
O Tribunal Superior do Trabalho, por meio do antigo conforme o novel art. 5º da Lei 6.019/1974, que passa
Enunciado 256, sempre reconheceu o trabalho a ser a “pessoa jurídica ou entidade a ela equiparada
temporário previsto na sobredita lei federal, que celebra contrato de prestação de trabalho
destacando a inexistência de ilegalidade da temporário com a empresa” de trabalho temporário.
contratação do trabalhador temporário e a não
formação de vínculo empregatício entre ele e o O art. 43 do Decreto 10.854/2021, no entanto,
tomador do seu serviço. A Súmula 331, I, que considera:
substituiu o Enunciado 256 em nada alterou tal
entendimento. I – empresa de trabalho temporário – pessoa jurídica,
devidamente registrada no Ministério do Trabalho e
De modo singelo, podemos afirmar que o trabalhador Previdência, responsável pela colocação de
temporário é aquele contratado por uma empresa trabalhadores temporários à disposição de outras
fornecedora de serviço temporário para prestar empresas, tomadoras de serviços ou clientes que
serviços a uma empresa tomadora (ou cliente) desses deles necessite temporariamente;
serviços.
II – empresa tomadora de serviços ou cliente – pessoa
A nova definição de trabalho temporário está prevista jurídica ou entidade a ela equiparada que, em
no caput do art. 2º da Lei 6.019/1974, com redação decorrência de necessidade de substituição transitória
dada pela Lei 13.429/2017, a saber: de pessoal permanente ou de demanda
complementar de serviços, celebre contrato de
Art. 2º Trabalho temporário é aquele prestado por prestação de serviços de colocação à disposição de
pessoa física contratada por uma empresa de trabalho trabalhadores temporários com empresa de trabalho
temporário que a coloca à disposição de uma empresa temporário;
tomadora de serviços, para atender à necessidade de
substituição transitória de pessoal permanente ou à III – trabalhador temporário – pessoa natural
demanda complementar de serviços. contratada por empresa de trabalho temporário
colocada à disposição de empresa tomadora de
Importa registrar que o art. 41 do Decreto serviços ou cliente, destinada a atender à necessidade
10.854/2021 considera trabalho temporário, nos de substituição transitória de pessoal permanente ou
termos do disposto na Lei 6.019/1974, aquele à demanda complementar de serviços;
prestado por pessoa natural contratada por empresa
de trabalho temporário que a coloca à disposição de IV – demanda complementar de serviços – demanda
empresa tomadora de serviços ou cliente para proveniente de fatores imprevisíveis ou, quando
atender à necessidade de substituição transitória de decorrente de fatores previsíveis, que tenha natureza
pessoal permanente ou à demanda complementar de intermitente, periódica ou sazonal;
serviços.
V – substituição transitória de pessoal permanente – O cadastramento dos trabalhadores temporários, nos
substituição de trabalhador permanente da empresa termos do art. 47 do Decreto 10.854/2021, será feito
tomadora de serviços ou cliente afastado por motivo junto ao Ministério do Trabalho e Previdência.
de suspensão ou interrupção do contrato de trabalho,
tais como férias, licenças e outros afastamentos A empresa de trabalho temporário tem o dever de
previstos em lei; remunerar e assistir os trabalhadores temporários
quanto aos seus direitos assegurados, observado o
VI – contrato individual de trabalho temporário – disposto nos arts. 60 a 63 do Decreto 10.854/2021.
contrato de trabalho individual escrito celebrado Além disso, ela fica obrigada a anotar, em relação ao
entre o trabalhador e a empresa de trabalho trabalhador temporário, nas anotações gerais da
temporário; e Carteira de Trabalho e Previdência Social, ou em meio
eletrônico que vier a substituí-la, a sua condição de
VII – contrato de prestação de serviços de colocação à temporário, na forma estabelecida em ato do Ministro
disposição de trabalhador temporário – contrato de Estado do Trabalho e Previdência.
escrito celebrado entre empresa de trabalho
temporário e empresa tomadora de serviços ou Igualmente, a empresa de trabalho temporário fica
cliente para a prestação de serviços de colocação de obrigada a: a) apresentar à inspeção do trabalho,
trabalhadores temporários de que trata o art. 9º da quando solicitado, o contrato celebrado com o
Lei n. 6.019, de 1974. trabalhador temporário, a comprovação do
recolhimento das contribuições previdenciárias e os
O parágrafo único do art. 43 do Decreto 10.854 não demais documentos comprobatórios do cumprimento
considera demanda complementar de serviços as das obrigações no Decreto 10.854/2021; b)
demandas: I – contínuas ou permanentes; e II – discriminar, separadamente, em nota fiscal, os valores
decorrentes da abertura de filiais. pagos a título de obrigações trabalhistas e fiscais e a
Dispõe o art. 44 do Decreto 10.854/2021 que a taxa de agenciamento de colocação à disposição dos
empresa de trabalho temporário tem por finalidade a trabalhadores temporários.
colocação de trabalhadores temporários à disposição O art. 52 do Decreto 10.854 veda à empresa de
de empresa tomadora de serviços ou cliente que deles trabalho temporário ter ou utilizar, em seus serviços,
necessite temporariamente, sendo que o pedido de trabalhador temporário, exceto quando: I – o
registro da empresa de trabalho temporário, trabalhador for contratado por outra empresa de
observadas as normas complementares estabelecidas trabalho temporário; e II – for comprovada a
em ato do Ministro de Estado do Trabalho e necessidade de substituição transitória de pessoal
Previdência, deverá ser instruído com os seguintes permanente ou demanda complementar de serviços.
documentos: I – prova de constituição da pessoa
jurídica e registro na junta comercial da localidade em O art. 53 do Decreto 10.854 veda à empresa de
que a empresa tiver sede; e II – prova de possuir trabalho temporário cobrar do trabalhador qualquer
capital social de, no mínimo, R$ 100.000,00 (cem mil valor, inclusive a título de mediação de mão de obra,
reais). mas poderá efetuar os descontos previstos em lei. A
infração ao disposto no referido art. 53 acarretará o
A empresa de trabalho temporário deverá, quando cancelamento do registro para funcionamento da
solicitado pelo Ministério do Trabalho e Previdência, empresa de trabalho temporário, sem prejuízo das
fornecer as informações consideradas necessárias sanções administrativas e penais cabíveis.
para subsidiar a análise do mercado de trabalho. O
fornecimento das referidas informações poderá ser É responsabilidade da empresa tomadora de serviços
substituído pelo uso do Sistema de Escrituração ou cliente garantir as condições de segurança, higiene
Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e e salubridade dos trabalhadores quando o trabalho
Trabalhistas – eSocial, na forma estabelecida em ato for realizado em suas dependências ou em local por
do Ministro de Estado do Trabalho e Previdência. ela designado (Decreto 10.854/2021, art. 55),
devendo estender ao trabalhador temporário,
colocado à sua disposição, os mesmos atendimentos
médico, ambulatorial e de refeição destinados aos a) remuneração equivalente à percebida pelos
seus empregados existentes em suas dependências ou empregados de mesma categoria da empresa
em local por ela designado. tomadora calculados à base horária, garantindo-se,
sempre, no mínimo, o direito ao salário mínimo;
O art. 57 do Decreto 10.854/2021 declara que “não
existe vínculo empregatício, independentemente do b) jornada diária de oito horas, remuneradas as horas
ramo da empresa tomadora de serviços ou cliente, extraordinárias não excedentes de duas, com
entre esta e os trabalhadores contratados pelas acréscimo de 20% (vinte por cento)262;
empresas de trabalho temporário”. Mas,
contraditoriamente, o art. 58 do mesmo Decreto c) férias proporcionais;
prevê que a “empresa tomadora de serviços ou d) repouso semanal remunerado;
cliente exercerá o poder técnico, disciplinar e diretivo
sobre os trabalhadores temporários colocados à sua e) adicional por trabalho noturno;
disposição”.
f) indenização por dispensa sem justa causa ou
Nos termos do art. 9º da Lei 6.019/1974, o contrato término normal do contrato correspondente a 1/12
celebrado pela empresa de trabalho temporário e a (um doze avos) do pagamento recebido263;
tomadora de serviços será obrigatoriamente escrito e
g) seguro contra acidente do trabalho;
ficará à disposição da autoridade fiscalizadora no
estabelecimento da tomadora de serviços e conterá: h) inclusão e proteção previdenciária, nos termos das
Leis 8.212 e 8.213, ambas de 1991.
I – qualificação das partes;
O art. 60 do Decreto 10.854/2021 prevê que ao
II – motivo justificador da demanda de trabalho
trabalhador temporário serão assegurados os
temporário;
seguintes direitos:
III – prazo da prestação de serviços;
I – remuneração equivalente àquela percebida pelos
IV – valor da prestação de serviços; empregados da mesma categoria da empresa
tomadora de serviços ou cliente, calculada à base
V – disposições sobre a segurança e a saúde do horária, de modo a garantir, em qualquer hipótese, o
trabalhador, independentemente do local de salário-mínimo regional;
realização do trabalho.
II – pagamento de férias proporcionais, calculado na
É da empresa contratante (tomadora) a base de um doze avos do último salário percebido,
responsabilidade de garantir as condições de por mês trabalhado (corresponde à fração igual ou
segurança, higiene e salubridade dos trabalhadores, superior a quinze dias), nas hipóteses de:
quando o trabalho for realizado em suas
dependências ou em local por ela designado. Além a) dispensa sem justa causa;
disso, a empresa tomadora deverá estender ao
b) pedido de demissão; ou
trabalhador temporário o mesmo atendimento
médico, ambulatorial e de refeição destinado aos seus c) término normal do contrato individual de trabalho
empregados e existente nas dependências da temporário;
contratante ou local por ela designado.
III – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS,
Na Carteira de Trabalho e Previdência Social deste na forma prevista em lei;
tipo espacial de trabalho será registrada,
obrigatoriamente, a condição de trabalhador IV – benefícios e serviços da Previdência Social;
temporário (Lei 6.019/1974, art. 12, § 1º).
V – seguro de acidente do trabalho; e
Os direitos trabalhistas conferidos ao trabalhador
temporário (Lei 6.019, art. 12) são:
VI – anotação da sua condição de trabalhador estabelecido no § 1º deste artigo, quando
temporário em sua Carteira de Trabalho e Previdência comprovada a manutenção das condições que o
Social, em anotações gerais. ensejaram.

A jornada de trabalho para os trabalhadores § 3º (VETADO).


temporários, nos termos do art. 61 do Decreto
10.854/2021, será de, no máximo, oito horas diárias, § 4º Não se aplica ao trabalhador temporário,
não podendo ter duração superior a oito horas diárias contratado pela tomadora de serviços, o contrato de
na hipótese de a empresa tomadora de serviços ou experiência previsto no parágrafo único do art. 445 da
cliente utilizar jornada de trabalho específica. As horas Consolidação das Leis do Trabalho.
que excederem à jornada de trabalho serão § 5º O trabalhador temporário que cumprir o período
remuneradas com acréscimo de, no mínimo, estipulado nos §§ 1º e 2º deste artigo somente
cinquenta por cento. poderá ser colocado à disposição da mesma tomadora
O trabalhador temporário tem direito ao acréscimo de serviços em novo contrato temporário, após
de, no mínimo, vinte por cento de sua remuneração noventa dias do término do contrato anterior.
quando trabalhar no período noturno, sendo-lhe § 6º A contratação anterior ao prazo previsto no § 5º
também assegurado o direito ao descanso semanal deste artigo caracteriza vínculo empregatício com a
remunerado, nos termos do disposto na Lei 605/1949. tomadora.
Registra-se que o art. 64 do Decreto 10.854 dispõe § 7º A contratante é subsidiariamente responsável
que não se aplica ao trabalhador temporário: I – o pelas obrigações trabalhistas referentes ao período
contrato de experiência previsto no parágrafo único em que ocorrer o trabalho temporário, e o
do art. 445 da CLT; II – a indenização prevista no art. recolhimento das contribuições previdenciárias
479 da CLT. observará o disposto no art. 31 da Lei n. 8.212, de 24
Nos termos do art. 65 do Decreto 10.854/2021, a de julho de 1991.
empresa de trabalho temporário celebrará contrato O art. 66 do Decreto 10.854/2021, no entanto, prevê
individual de trabalho temporário por escrito com o que o prazo de duração do contrato individual de
trabalhador colocado à disposição da empresa trabalho temporário não será superior a 180 (cento e
tomadora ou cliente, do qual constarão oitenta) dias corridos, independentemente de a
expressamente: I – os direitos conferidos ao prestação de serviço ocorrer em dias consecutivos ou
trabalhador temporário decorrentes da sua condição; não, sendo que o parágrafo único do artigo em causa
e II – a indicação da empresa tomadora de serviços ou dispõe que o “contrato, comprovada a manutenção
cliente. das condições que ensejaram a contratação
O prazo máximo para o contrato de trabalho temporária, poderá ser prorrogado apenas uma vez,
temporário era de 3 (três) meses. A Lei 13.429/2017, além do prazo previsto no caput, por até noventa dias
porém, introduziu diversas alterações no art. 10 da Lei corridos, independentemente de a prestação de
6.019/1974, que passou a ter a seguinte redação: trabalho ocorrer em dias consecutivos ou não”.

Art. 10. Qualquer que seja o ramo da empresa O art. 13 da Lei 6.019/1974 considera justa causa para
tomadora de serviços, não existe vínculo de emprego rescisão do contrato do trabalhador temporário os
entre ela e os trabalhadores contratados pelas atos e circunstâncias mencionados nos artigos 482 e
empresas de trabalho temporário. 483 da CLT, ocorrentes entre o trabalhador e a
empresa de trabalho temporário ou entre aquele e a
§ 1º O contrato de trabalho temporário, com relação empresa cliente onde estiver prestando serviço.
ao mesmo empregador, não poderá exceder ao prazo
de cento e oitenta dias, consecutivos ou não. Nos termos do art. 69 do Decreto 10.854/2021,
constituem justa causa para rescisão do contrato do
§ 2º O contrato poderá ser prorrogado por até trabalhador temporário os atos e as circunstâncias de
noventa dias, consecutivos ou não, além do prazo que tratam os arts. 482 e 483 da CLT, que ocorram
entre o trabalhador e a empresa de trabalho contratação do trabalhador temporário pela empresa
temporário ou entre o trabalhador e a empresa tomadora de serviço ou cliente.
tomadora de serviços ou cliente.
SLIDE 9
As empresas de trabalho temporário são obrigadas a
fornecer às empresas tomadoras ou clientes, a seu 2. JORNADA DE TRABALHO
pedido, comprovante da regularidade de sua situação
com o Instituto Nacional de Previdência Social (Lei Embora o termo “jornada” seja tradicionalmente
6.019/1974, art. 14). usado para designar a duração diária do trabalho,
tem-se ampliado o significado do termo para a
De acordo com o art. 16 da Lei 6.019/1974, no caso de duração do trabalho por semana e até por ano.
falência da empresa de trabalho temporário, a
empresa tomadora (ou cliente) é solidariamente Fala-se, assim, em jornada diária, semanal ou anual
responsável pelo recolhimento das contribuições (férias anuais).
previdenciárias, no tocante ao tempo em que o
2.1. Jornada diária, horas in itinere, prorrogação e
trabalhador esteve sob suas ordens, assim como em
compensação de horários
referência ao mesmo período, pela remuneração e
indenização previstas na referida lei. A jornada de trabalho diária não diz respeito somente
ao tempo em que o trabalhador se encontra,
O art. 17 da Lei 6.019/1974 estabelece proibição “às
efetivamente, prestando seu labor, mas engloba
empresas de prestação de serviço temporário a
também o tempo em que fica à disposição do
contratação de estrangeiros com visto provisório de
empregador e, em alguns casos, o lapso temporal
permanência no País”.
despendido pelo trabalhador no trajeto casa-trabalho-
Nos termos do art. 18 da Lei 6.019/1974, é vedado à casa. Além disso, há também aqueles obreiros que
empresa do trabalho temporário cobrar do trabalham em regime de prontidão ou de sobreaviso.
trabalhador qualquer importância, mesmo a título de
Conforme lição de Maurício Godinho Delgado525,
mediação, podendo apenas efetuar os descontos
existem critérios básicos e especiais para fixação da
previstos em Lei. A infração deste artigo importa no
jornada de trabalho. Os critérios básicos se
cancelamento do registro para funcionamento da
subdividem em: tempo efetivamente trabalhado,
empresa de trabalho temporário, sem prejuízo das
tempo à disposição e tempo de deslocamento. Os
sanções administrativas e penais cabíveis.
critérios especiais são: tempo de prontidão e tempo
É da Justiça do Trabalho a competência para dirimir os de sobreaviso.
litígios entre as empresas de serviços temporários e
O sistema jurídico brasileiro não adotou como critério
seus trabalhadores (Lei 6.019, art. 19).
para estipulação da jornada de trabalho o tempo
O art. 67 do Decreto 10.854 prevê que o trabalhador efetivamente trabalhado, pois, conforme
temporário que cumprir os períodos estabelecidos no expressamente adotado pelo art. 4º da CLT, computa-
art. 66 somente poderá ser colocado à disposição da se como tempo trabalhado aquele em que o
mesma empresa tomadora de serviços ou cliente em trabalhador se encontra à disposição do empregador.
novo contrato temporário após o período de noventa Porém, ainda que não utilizado como regra no Brasil,
dias, contado da data do término do contrato é possível que o empregador estabeleça critérios de
anterior. Mas o parágrafo único do mesmo artigo produtividade e, nesse caso, o salário do trabalhador
dispõe que a contratação anterior ao prazo previsto será fixado por cada peça produzida (art. 78 da CLT).
no caput caracterizará vínculo empregatício entre o
Com efeito, computa-se o tempo de deslocamento
trabalhador e a empresa tomadora de serviços ou
(horas in itinere ou horas itinerantes) quando tratar-
cliente.
se de “local de difícil acesso ou não servido por
O art. 68 do Decreto em apreço declara que é nula de transporte público” e o empregador fornecer a
pleno direito qualquer cláusula proibitiva da condução, conforme disposto no art. 58 da CLT. Tal
critério ganhou tamanha relevância no cenário
jurídico nacional que o TST editou a Súmula 90, não superior a 12 horas, sendo o seu valor
determinando também que o tempo de deslocamento equivalente a 2/3 do valor da hora normal.
que extrapola a jornada legal deve ser considerado
como extraordinário, incidindo, assim, o adicional de As horas de sobreaviso, por sua vez, são aquelas em
50%. que “o empregado efetivo, que permanecer em sua
própria casa, aguardando a qualquer momento o
Entretanto, a Lei 13.467/2017 inseriu o § 2º no art. 4º chamado para o serviço” (art. 244, § 2º, da CLT).
da CLT, dispondo que: Apesar de o artigo tratar especificamente dos
trabalhadores ferroviários, o regime de sobreaviso
Por não se considerar tempo à disposição do vem sendo aplicado analogicamente àqueles
empregador, não será computado como período empregados que, pelo avanço da tecnologia, ficam
extraordinário o que exceder a jornada normal, ainda aguardando o chamado do empregador a qualquer
que ultrapasse o limite de cinco minutos previsto no § momento para retornar ao trabalho.
1º do art. 58 desta Consolidação, quando o
empregado, por escolha própria, buscar proteção O TST (Súmula 428) não aplica o instituto do
pessoal, em caso de insegurança nas vias públicas ou sobreaviso de forma irrestrita, e não basta que o
más condições climáticas, bem como adentrar ou empregador forneça meios telemáticos ou
permanecer nas dependências da empresa para informatizados ao trabalhador. O item II da referida
exercer atividades particulares, entre outras: I – Súmula considera em sobreaviso “o empregado que, à
práticas religiosas; II – descanso; III – lazer; IV – distância e submetido a controle patronal por
estudo; V – alimentação; VI – atividades de instrumentos telemáticos ou informatizados,
relacionamento social; VII – higiene pessoal; VIII – permanecer em regime de plantão ou equivalente,
troca de roupa ou uniforme, quando não houver aguardando a qualquer momento o chamado para o
obrigatoriedade de realizar a troca na empresa. serviço durante o período de descanso”.

Além disso, a Lei 13.467/2017, que deu nova redação A jornada diária máxima, em regra, deve ser de 8
ao § 2º do art. 58 da CLT, extinguiu as horas in itinere, horas. Nesse sentido, não é vedado ao empregador
nos seguintes termos: “O tempo despendido pelo estipular jornada diária inferior. Algumas categorias
empregado desde a sua residência até a efetiva profissionais já desfrutam, por meio de normas
ocupação do posto de trabalho e para o seu retorno, autônomas ou heterônomas, de jornadas inferiores a
caminhando ou por qualquer meio de transporte, 8 horas diárias, como os bancários, médicos,
inclusive o fornecido pelo empregador, não será telefonistas etc.
computado na jornada de trabalho, por não ser
tempo à disposição do empregador”. Somente em casos excepcionais a lei admite a
prorrogação da jornada diária. A duração do trabalho
A referida lei também revogou expressamente o § 3º tem como pressuposto proteger a saúde física e
do art. 58 da CLT, que previa a possibilidade de horas psíquica do trabalhador. Portanto, a jornada
in itinere diferenciadas nas micro e pequenas elastecida é nociva ao trabalhador e a toda a
empresas. sociedade, uma vez que, além de reduzir a oferta de
emprego, pode redundar em fadiga, tornando-o
Essas alterações legislativas, a par de facilitarem e suscetível a doenças.
estimularem as fraudes no tocante ao tempo em que
o empregado fica à disposição do empregador, A prestação do serviço após o limite máximo diário (8
constituem violação ao princípio da vedação do horas) implica, em princípio, o direito de o
retrocesso social, além de reduzirem a produção do trabalhador perceber adicional de horas extras, na
direito por meio de interpretação jurisprudencial (CLT, base mínima de 50% do valor da hora normal (CF, art.
art. 8º, § 2º; TST, Súmula 90)526. 7º, XVI).

As horas de prontidão referem-se ao trabalhador Não é vedado ao empregador estipular jornada diária
ferroviário “que ficar nas dependências da estrada, inferior a 8 horas. Algumas categorias profissionais já
aguardando ordens” (art. 244, § 3º, da CLT) em escala desfrutam, por meio de normas autônomas ou
heterônomas, de jornadas inferiores a oito horas Trata-se de uma prática adotada há muito tempo em
diárias, como os bancários, médicos, telefonistas etc. hospitais e no setor de vigilância, mas que também foi
alargada aos bombeiros civis (Lei 11.901/2009), aos
O art. 74 da CLT, com redação dada pela Lei motoristas profissionais (Lei 13.103/2015) e aos
13.874/2019, passou a dispor que: a) o horário de trabalhadores domésticos (LC 150/2015).
trabalho será anotado em registro de empregados; b)
para os estabelecimentos com mais de 20 (vinte) É importante registrar que a Lei 13.467/2017 inseriu
trabalhadores será obrigatória a anotação da hora de na CLT o art. 59-A, in verbis:
entrada e de saída, em registro manual, mecânico ou
eletrônico, conforme instruções expedidas pelo Art. 59-A. Em exceção ao disposto no art. 59 desta
Ministério do Trabalho e Previdência, permitida a pré- Consolidação, é facultado às partes, mediante acordo
assinalação do período de repouso; c) se o trabalho individual escrito, convenção coletiva ou acordo
for executado fora do estabelecimento, o horário dos coletivo de trabalho, estabelecer horário de trabalho
empregados constará do registro manual, mecânico de doze horas seguidas por trinta e seis horas
ou eletrônico em seu poder, sem prejuízo da anotação ininterruptas de descanso, observados ou indenizados
do horário de trabalho em registro de empregados; d) os intervalos para repouso e alimentação.
fica permitida a utilização de registro de ponto por Parágrafo único. A remuneração mensal pactuada
exceção à jornada regular de trabalho, mediante pelo horário previsto no caput deste artigo abrange os
acordo individual escrito, convenção coletiva ou pagamentos devidos pelo descanso semanal
acordo coletivo de trabalho, sendo este, seguramente, remunerado e pelo descanso em feriados, e serão
o aspecto mais polêmico, uma vez que nos parece considerados compensados os feriados e as
inconstitucional estabelecer registro de ponto por prorrogações de trabalho noturno, quando houver, de
exceção por meio de acordo individual, ainda que que tratam o art. 70 e o § 5º do art. 73 desta
escrito. Consolidação.

Esse novel dispositivo, além de sua


inconstitucionalidade por violação ao princípio da
2.1.1. Jornada 12 x 36 horas
vedação do retrocesso social, em especial no tocante
Somente em casos excepcionais a lei admite a à permissão para o acordo individual instituir a
prorrogação da jornada diária. A jornada elastecida é jornada de 12x36 horas, é nitidamente prejudicial ao
nociva ao trabalhador e a toda a sociedade, uma vez empregado, na medida em que este, isoladamente,
que pode redundar em fadiga, tornando-o suscetível a não se encontra em condições reais de negociar
doenças e acidentes do trabalho, além de reduzir a cláusulas do contrato de trabalho, que, em regra, um
oferta de emprego. contrato de adesão para o trabalhador.

A jurisprudência, no entanto, vem admitindo a Importa registrar que a Medida Provisória 808, de
jornada de trabalho em escala 12 por 36, desde que 14.11.2017, deu nova redação ao art. 59-A da CLT,
prevista em lei ou fixada por meio de convenção procurou mitigar parcialmente o vício de
coletiva ou acordo coletivo de trabalho. É o que se inconstitucionalidade acima referido, nos seguintes
infere da Súmula 444 do TST: termos:

É válida, em caráter excepcional, a jornada de doze Art. 59-A. Em exceção ao disposto no art. 59 e em leis
horas de trabalho por trinta e seis de descanso, específicas, é facultado às partes, por meio de
prevista em lei ou ajustada exclusivamente mediante convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho,
acordo coletivo de trabalho ou convenção coletiva de estabelecer horário de trabalho de doze horas
trabalho, assegurada a remuneração em dobro dos seguidas por trinta e seis horas ininterruptas de
feriados trabalhados. O empregado não tem direito ao descanso, observados ou indenizados os intervalos
pagamento de adicional referente ao labor prestado para repouso e alimentação.
na décima primeira e décima segunda horas.
§ 1º A remuneração mensal pactuada pelo horário
previsto no caput abrange os pagamentos devidos
pelo descanso semanal remunerado e pelo descanso Cumpre advertir, contudo, que a Medida Provisória
em feriados e serão considerados compensados os 808/2017, por não ter sido convertida em lei, perdeu
feriados e as prorrogações de trabalho noturno, eficácia desde a sua edição (CF, art. 62, § 3º), em
quando houver, de que tratam o art. 70 e o § 5º do função do que o texto da Lei 13.467/2017 voltou a ter
art. 73. plena vigência527.

§ 2º É facultado às entidades atuantes no setor de É importante destacar que o Enunciado 15 aprovado


saúde estabelecer, por meio de acordo individual na 2ª Jornada de Direito Material e Processual do
escrito, convenção coletiva ou acordo coletivo de Trabalho (2017) prevê, in verbis:
trabalho, horário de trabalho de doze horas seguidas
por trinta e seis horas ininterruptas de descanso, JORNADA 12X36. 1. Tratando-se de regime de
observados ou indenizados os intervalos para repouso compensação de jornada, é essencial para a sua
e alimentação. validade a previsão em acordo coletivo ou convenção
coletiva de trabalho, nos termos do artigo 7º, XIII, da
Ocorre que a Medida Provisória, por não ter sido Constituição Federal, inclusive em relação ao
convertida em lei, perdeu eficácia desde a sua edição comerciário, em razão de lei especial (Lei
(CF, art. 62, § 3º), razão pela qual o texto da Lei 12.790/2013). 2. Artigo 60, parágrafo único da CLT.
13.467/2017 voltou a ter plena vigência, como se não Dispensa de licença prévia para a realização de
tivesse existido a referida medida provisória. jornada 12X36. Matéria de saúde e segurança do
trabalho. Inconstitucionalidade por infração ao artigo
No que tange ao divisor para cálculo do valor da hora 7º, XXII, da CF. 3. Impossibilidade de regime
normal desses trabalhadores, o TST tem aceitado o “complessivo” quanto ao pagamento de feriados e
210, tendo em vista que, se feita uma média diária do prorrogação da jornada noturna, por infração ao
quanto o empregado trabalharia se o labor fosse artigo 7º, IX, da CF. 4. A prestação de horas extras,
diário, chega-se ao montante de 7 horas diárias. inclusive pela supressão do intervalo intrajornada
Recentemente, o STF (ADI 4.842) decidiu que não é (ainda que parcial), descaracteriza o regime de
inconstitucional a jornada de 12h x 36h prevista no compensação de jornada 12x36, implicando o
art. 5º da Lei federal 11.901/2009 para os bombeiros pagamento como hora extraordinária daquelas
civis. laboradas além da 8ª diária, por infração ao artigo 7º,
XIII e XXVI, da CF.
De nossa parte, tal decisão encontra-se na contramão
dos princípios da progressividade e da vedação do Esse Enunciado não possui força vinculante, mas pode
retrocesso social (CF, arts. 5º, § 2º, e 7º, caput), mas ser invocado como fonte doutrinária para
provavelmente será a orientação a ser adotada pelo fundamentar postulações e decisões na seara
STF não apenas para as hipóteses de jornada superior juslaboral.
a 8 horas diárias previstas em lei como também para 2.1.2. Compensação de horas (semanas inglesa e
as previstas em convenções e acordos coletivos, espanhola)
prevalecendo a lógica do negociado sobre o legislado.
O art. 7º, XIII, da CF/88 permite o regime de
No tocante ao acordo individual para instituição de compensação de horário, ou seja, em vez de o
jornada 12x36 horas, parece-nos que há, no mínimo, empregado trabalhar 8 horas por dia, de segunda a
inconstitucionalidade material parcial do novel art. sexta-feira, mais 4 horas no sábado, poderá laborar,
59-A da CLT no que concerne à permissão para o por exemplo, 8,48 horas de segunda a sexta (a
acordo individual para instituir jornada de 12x36 chamada semana inglesa), totalizando, assim, 44
horas, o que foi corrigido pelo caput do novel art. 59- horas semanais.
A da CLT, com nova redação dada pela supracitada MP
808/2017, à exceção dos trabalhadores do setor de O TST tem se posicionado no sentido de validar a
saúde, cujas “entidades atuantes” nesse setor denominada “semana espanhola”. Nesse tipo de
poderão estabelecer jornada 12x36 horas “por meio regime de compensação de horas, desde que
de acordo individual escrito, convenção coletiva ou autorizado por acordo ou convenção coletiva, o
acordo coletivo de trabalho”. trabalhador em uma semana presta uma jornada
semanal de 48 horas e na semana seguinte a jornada compensação, deverá ser pago a mais apenas o
semanal se limita a 40 horas, e assim sucessivamente. adicional por trabalho extraordinário. V. As
Nesse sentido é a OJ 323 da SBDI-1 do TST: disposições contidas nesta súmula não se aplicam ao
regime compensatório na modalidade banco de
ACORDO DE COMPENSAÇÃO DE JORNADA. “SEMANA horas, que somente pode ser instituído por
ESPANHOLA”. VALIDADE. É válido o sistema de negociação coletiva. VI – Não é válido acordo de
compensação de horário quando a jornada adotada é compensação de jornada em atividade insalubre,
a denominada “semana espanhola”, que alterna a ainda que estipulado em norma coletiva, sem a
prestação de 48 horas em uma semana e 40 horas em necessária inspeção prévia e permissão da autoridade
outra, não violando os arts. 59, § 2º, da CLT e 7º, XIII, competente, na forma do art. 60 da CLT.
da CF/1988 o seu ajuste mediante acordo ou
convenção coletiva de trabalho. O TST (Súmula 349) também considerava válido o
acordo coletivo (ou convenção coletiva) para a
Essas compensações, entretanto, somente serão compensação de horas extras em atividade insalubre,
válidas se precedidas de negociação coletiva, independentemente de inspeção prévia da autoridade
instrumentalizada em convenção coletiva ou acordo competente em matéria de higiene e segurança do
coletivo. trabalho.
Não vale, no nosso entender, o acordo direto feito A nosso ver, a referida súmula, data venia, colidia com
entre o empregado e o empregador. A expressão o direito fundamental ao meio ambiente de trabalho
“acordo”, contida no preceptivo em estudo (CF, art. saudável, pois a saúde dos trabalhadores está imune
7º, XIII), só pode ser o “acordo coletivo”. não apenas à negociação coletiva, como também à
Interpretação outra colidiria com a mens legis, que, reforma (emenda) constitucional.
como se sabe, aponta no sentido de prestigiar a
autonomia privada coletiva, mediante participação A autorização administrativa, in casu, é condição
sindical obrigatória (CF, art. 8º, VI). O TST, no entanto, necessária para validar a compensação. Afinal, o art.
também reconhece como válido o acordo individual 60 da CLT deve ser interpretado conforme o caput e o
de compensação de horário de trabalho, desde que inc. XXII do art. 7º da CF.
escrito. Dito doutro modo, não vale o acordo
individual tácito ou verbal para compensação de horas Cumpre registrar que o TST editou a Res. 174/2011
extras. (DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011), que
cancelou a Súmula 349, sendo certo que o novo item
Sobre compensação de jornada de trabalho, o TST VI da Súmula 85 daquela Corte passou a considerar
editou a Súmula 85, in verbis: inválido acordo de compensação de jornada em
atividade insalubre, ainda que estipulado por
Compensação de jornada. I. A compensação de convenção ou acordo coletivo, sem a necessária
jornada de trabalho deve ser ajustada por acordo inspeção prévia e permissão da autoridade
individual escrito, acordo coletivo ou convenção competente, na forma do art. 60 da CLT. Entendeu-se,
coletiva. II. O acordo individual para compensação de assim, corretamente, que as normas que dispõem
horas é válido, salvo se houver norma coletiva em sobre saúde, higiene e segurança, isto é, meio
sentido contrário. III. O mero não atendimento das ambiente do trabalho, são imunes à negociação
exigências legais para a compensação de jornada, coletiva in pejus, por serem normas de ordem pública
inclusive quando encetada mediante acordo tácito, e absolutamente indisponíveis, inclusive por meio de
não implica a repetição do pagamento das horas instrumentos coletivos derivantes da negociação
excedentes à jornada normal diária, se não dilatada a coletiva.
jornada máxima semanal, sendo devido apenas o
respectivo adicional. IV. A prestação de horas extras É importante advertir, nesse passo, que, mesmo
habituais descaracteriza o acordo de compensação de havendo acordo (individual ou coletivo) expresso de
jornada. Nesta hipótese, as horas que ultrapassarem a compensação de jornada, na hipótese de
jornada semanal normal deverão ser pagas como extrapolação eventual do horário avençado, o
horas extraordinárias e, quanto àquelas destinadas à empregado terá direito às horas excedentes como
extras, acrescidas do respectivo adicional de, no Art. 59-B. O não atendimento das exigências legais
mínimo, 50%. Nesse caso, o acordo de compensação para compensação de jornada, inclusive quando
de jornada continua válido, sendo devidas apenas as estabelecida mediante acordo tácito, não implica a
horas extras que extrapolarem a oitava hora diária ou repetição do pagamento das horas excedentes à
a quadragésima quarta semanal. jornada normal diária se não ultrapassada a duração
máxima semanal, sendo devido apenas o respectivo
Todavia, quando houver extrapolação habitual do adicional.
horário estabelecido no acordo de compensação de
jornada, opera-se automaticamente a nulidade da Parágrafo único. A prestação de horas extras habituais
avença. Nesse caso, porém, não é pacífica a questão não descaracteriza o acordo de compensação de
dos efeitos da nulidade do acordo de compensação de jornada e o banco de horas.
jornada. Para uns, todas as horas trabalhadas após a
oitava diária e aos sábados, domingos e feriados O Enunciado 22 aprovado na 2ª Jornada de Direito
devem ser remuneradas como extras, acrescidas do Material e Processual do Trabalho (2017), no entanto,
adicional de, no mínimo, 50% do valor da hora sugere a seguinte interpretação:
normal. Nesse sentido, aliás, pode ser aplicada, por PRESTAÇÃO DE HORAS EXTRAS: DESCARACTERIZAÇÃO
analogia, a Súmula 199, I, do TST, que considera nula a DO ACORDO DE COMPENSAÇÃO E BANCO DE HORAS
pré-contratação de horas extras. – HORAS EXTRAS. DESCARACTERIZAÇÃO DO ACORDO
Outra corrente doutrinária sustenta que a nulidade do DE COMPENSAÇÃO E BANCO DE HORAS. A prestação
acordo só atingirá o regime de compensação, mas não de horas extras habituais ou, ainda que eventuais, em
o regime da jornada de 44 horas semanais, sendo, número superior a duas horas diárias, implica
pois, devidas apenas as horas excedentes à oitava descaracterização do acordo de compensação e do
diária e às que extrapolarem a jornada do sábado. acordo de banco de horas, conforme artigos 7º, XIII e
XVI, da CF, e 59 da CLT.
Finalmente, uma terceira corrente defende que,
embora nulo o acordo, são consideradas como
remuneradas as horas trabalhadas dentro da jornada 2.1.3. Prorrogação de jornada
semanal de 44 horas, mas as horas extras excedentes
à oitava diária serão remuneradas apenas com o A jornada laboral diária poderá ser prorrogada:
adicional de, no mínimo, 50%, e as horas trabalhadas
aos sábados, remuneradas integralmente como •até duas horas suplementares, com acréscimo de
extras. 50%, mediante acordo (direto) entre empregador e
empregado ou norma coletiva (convenção ou acordo
O TST adotou a terceira corrente, como se depreende coletivo), como faculta o art. 59 da CLT;
do item IV da Súmula 85 daquela Corte, segundo a
qual: •até quatro horas suplementares, com acréscimo de
50%, nos casos de serviços inadiáveis cuja inexecução
A prestação de horas extras habituais descaracteriza o possa acarretar prejuízos ao empregador (CLT, art.
acordo de compensação de jornada. Nesta hipótese, 61). Aqui também não é obrigatória a negociação
as horas que ultrapassarem a jornada semanal normal coletiva;
deverão ser pagas como horas extraordinárias e,
quanto àquelas destinadas à compensação, deverá ser •em até duas horas suplementares, sem acréscimo,
pago a mais apenas o adicional por trabalho desde que para compensar a jornada semanal de 44
extraordinário. horas, mediante convenção ou acordo coletivo de
trabalho.
Os verbetes jurisprudenciais acima citados estão em
rota de colisão com a “Lei da Reforma Trabalhista” A prorrogação da jornada laboral sem acréscimo só é
(Lei 13.467/2017), que introduziu na CLT o art. 59-B, possível, portanto, na hipótese de compensação (TST,
que dispõe textualmente: Súmula 85). Neste caso, por exemplo, o empregado
trabalhará um pouco mais de segunda a sexta-feira e
folgará aos sábados ou trabalhará mais em uma
semana e menos na outra (semana inglesa ou semana Entretanto, a Lei 13.467/2017 inseriu no referido
espanhola) ou trabalhará um pouco mais num dia e artigo 60 da CLT o seguinte parágrafo único:
folgará noutro. “Excetuam-se da exigência de licença prévia as
jornadas de doze horas de trabalho por trinta e seis
Assim, com exceção do regime de compensação, horas ininterruptas de descanso”. Esse novo parágrafo
todas as horas extraordinárias serão remuneradas único do art. 60 da CLT é, a nosso sentir, duplamente
com adicional de, pelo menos, 50% do valor da hora inconstitucional, pois viola o princípio da vedação do
normal. retrocesso social e o direito fundamental do
A Lei 13.467/2017 revogou o § 4º do art. 59 da CLT, trabalhador à saúde e à segurança no trabalho, sabido
passando a permitir que o trabalhador contratado por que é justamente nas jornadas além das oito horas
tempo parcial possa fazer horas extras, o que, na diárias que ocorrem acidentes e doenças do trabalho.
prática, além de implicar violação ao princípio da Na mesma linha de redução dos direitos dos
vedação do retrocesso social, acaba trabalhadores, a Lei 13.467/2017 alterou a redação do
descaracterizando essa modalidade contratual. § 1º do art. 61 da CLT para dispor que a prorrogação
É importante assinalar que, nos termos da Súmula 431 da jornada nos casos de imperiosa necessidade do
do TST, para os empregados a que alude o art. 58, serviço (CLT, art. 61, § 1º) “pode ser exigido
caput, da CLT, quando sujeitos a 40 horas semanais de independentemente de convenção coletiva ou acordo
trabalho, aplica-se o divisor 200 (duzentos) para o coletivo de trabalho”.
cálculo do valor do salário-hora.
2.1.4. Empregados excluídos da limitação da
Outro destaque importante reside na inserção, pela duração da jornada diária
Lei 13.467/2017, dos novos §§ 5º e 6º ao art. 59 da
Em conformidade com o disposto na redação original
CLT, segundo os quais o banco de horas de que trata o
do art. 62 e seu parágrafo único da CLT, não estão
§ 2º do mesmo artigo 59 “poderá ser pactuado por
sujeitos à jornada diária máxima de oito horas,
acordo individual escrito, desde que a compensação
portanto, não fazem jus a horas extras:
ocorra no período máximo de seis meses”, sendo
“lícito o regime de compensação de jornada •os empregados que exercem atividade externa
estabelecido por acordo individual, tácito ou escrito, incompatível com a fixação de horário de trabalho,
para a compensação no mesmo mês”. Parece-nos que devendo tal condição ser anotada na CTPS e no Livro
esses novos dispositivos ofendem o princípio da de Registro de Empregados (CLT, art. 62, I) – é o caso
vedação do retrocesso social, pois impõem condições dos vendedores externos em que não haja qualquer
menos vantajosas aos trabalhadores, os quais ficarão tipo de controle da sua jornada;
submetidos à vontade unilateral dos empregadores
desde o início da contratação. •os gerentes, assim considerados os exercentes de
cargos de gestão, aos quais se equiparam os diretores
Lembramos, ainda, o art. 60 da CLT, segundo o qual e chefes de departamento ou filial (CLT, art. 62, II),
nas atividades insalubres, assim consideradas as salvo quando o salário do cargo de confiança,
constantes dos quadros mencionados no capítulo ‘Da compreendendo a gratificação de função, se houver,
Segurança e da Medicina do Trabalho’, ou que neles for inferior ao valor do respectivo salário efetivo
venham a ser incluídas por ato do Ministro do acrescido de 40% (CLT, art. 62, parágrafo único).
Trabalho, Indústria e Comércio, quaisquer
prorrogações só poderão ser acordadas mediante A Lei 13.467/2017 acrescentou ao art. 62 da CLT o
licença prévia das autoridades competentes em inciso III, excluindo do regime de limitação da duração
matéria de higiene do trabalho, as quais, para esse da jornada “os empregados em regime de
efeito, procederão aos necessários exames locais e à teletrabalho”. Parece-nos que essa nova disposição
verificação dos métodos e processos de trabalho, quer acaba por discriminar o trabalhador a distância como
diretamente, quer por intermédio de autoridades se sua jornada não pudesse ser controlada,
sanitárias federais, estaduais e municipais, com quem equiparando-os aos empregados que exercem
entrarão em entendimento para tal fim. atividade externa incompatível com a fixação de
horário. A nosso ver, se houver possibilidade de controle da jornada de trabalho pela Reclamada, com
controle de jornada do regime de teletrabalho ou do a utilização do rastreamento via satélite. Julgados.
trabalho a distância, não se aplica a regra do novel Recurso de revista de que se conhece e a que se dá
inciso III do art. 62 da CLT. provimento (TST-RR 24327-87.2015.5.24.0002, 6ª T.,
Rel. Min. Kátia Magalhães Arruda, DEJT 28.06.2019).
É preciso destacar, não obstante, que o Enunciado 17
da 1ª Jornada de Direito Material e Processual do Há, na doutrina, vozes renomadas ecoando no sentido
Trabalho (Brasília-DF, novembro/2007) adota posição de que o empregado em domicílio, por não se
mais restritiva: encontrar sob fiscalização direta do empregador,
também não tem direito às horas extraordinárias.
LIMITAÇÃO DA JORNADA. REPOUSO SEMANAL
REMUNERADO. DIREITO CONSTITUCIONALMENTE Nesse sentido, leciona Mozart Victor Russomano:
ASSEGURADO A TODOS OS TRABALHADORES.
INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 62 DA CLT. A A lei excluiu determinadas categorias profissionais dos
proteção jurídica ao limite da jornada de trabalho, benefícios do presente capítulo. Tirou de todos
consagrada nos incisos XIII e XV do art. 7º da quantos trabalham em serviços externos, sem horário
Constituição da República, confere, respectivamente, controlável, o direito à remuneração por horas
a todos os trabalhadores, indistintamente, os direitos extraordinárias. Isso porque existe a impossibilidade
ao repouso semanal remunerado e à limitação da de se verificar o número de horas efetivamente
jornada de trabalho, tendo-se por inconstitucional o trabalhadas e por haver obrigatoriedade de o
art. 62 da CLT. empregado labutar mais ou menos horas, sendo ele o
árbitro de sua atividade. Se assim não fosse, só
Embora sedutora e consistente a tese da não poderiam advir controvérsias, litígios e
recepção do art. 62 da CLT pela CF contida no citado insatisfações528.
verbete, que serve ao menos como fonte doutrinária,
o entendimento majoritário aponta no sentido da sua Acompanha tal entendimento Valentin Carrion, para
constitucionalidade. quem:

O TST, entretanto, vem entendendo que o tacógrafo, Serviços externos: o que caracteriza este grupo de
por si só, é insuficiente para controle de jornada para atividades é a circunstância de estarem todos fora da
afastar a incidência do inciso I do art. 62 da CLT ao permanente fiscalização e controle do empregador;
empregado motorista que exerce atividade externa há impossibilidade de conhecer-se o tempo realmente
(SBDI-1 OJ 332). dedicado com exclusividade à empresa. É o caso do
cobrador em domicílio, propagandista etc.529.
O próprio TST, contudo, vem relativizando a aplicação
da OJ 332, como se infere do seguinte julgado: Concessa venia, afigura-se-nos que o simples fato de o
trabalhador laborar em sua própria residência, por si
(...) HORAS EXTRAS. MOTORISTA DE CAMINHÃO. só, não impedirá o controle da duração efetiva do
ATIVIDADE EXTERNA. CONTROLE DA JORNADA DE serviço, inexistindo qualquer óbice a que seja
TRABALHO. A sentença acolheu o pedido do remunerado, como labor extraordinário, quando
reclamante – motorista – de horas extras, em relação restar provada a jornada além das 8 horas diárias ou
a período anterior à vigência da Lei 12.619/2012. O 44 horas semanais.
fato de o empregado prestar serviços de forma
externa, por si só, não enseja o seu enquadramento Ademais, dispõe o art. 6º da CLT não haver distinção
na exceção contida do artigo 62 da CLT. O “entre o trabalho realizado no estabelecimento do
rastreamento via satélite, diferentemente do empregador e o executado no domicílio do
tacógrafo, viabiliza o controle da jornada de trabalho empregado, desde que esteja caracterizada a relação
do empregado motorista, porquanto se realiza de emprego”, sendo certo que o conceito de trabalho
mediante aparelho que capta sinais de GPS e permite em domicílio é extraído do art. 83 da CLT, ou seja,
a transmissão de dados, como a localização exata do aquele que é “executado na habitação do empregado
veículo, o tempo no qual ficou parado e a velocidade ou em oficina de família, por conta de empregador
em que trafegava. Viabilizava-se, dessa forma, o que o remunere”.
Além disso, a regra contida no art. 62 da CLT encerra máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de
preceito numerus clausus, não admitindo trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite
interpretação extensiva, de modo que, como salienta máximo de dez horas diárias. (Redação dada pela
Vólia Bomfim Cassar: Medida Provisória 2.164-41, de 2001)

Normalmente, o empregado que trabalha na sua § 3º Na hipótese de rescisão do contrato de trabalho


própria casa não tem qualquer controle de jornada e, sem que tenha havido a compensação integral da
por isso, impera a presunção de exclusão do Capítulo jornada extraordinária, na forma do parágrafo
“Da Duração do Trabalho”. Se, entretanto, o patrão anterior, fará o trabalhador jus ao pagamento das
exigir-lhe número mínimo de produção diária ou, por horas extras não compensadas, calculadas sobre o
outros meios, conseguir controlar sua jornada, o valor da remuneração na data da rescisão. (Incluído
empregado terá direito ao capítulo em estudo. Assim, pela Lei 9.601, de 1998)
de fato, fizer horas extras e/ou noturnas, receberá por
elas530. § 4º Os empregados sob o regime de tempo parcial
não poderão prestar horas extras. (Incluído pela
Enfim, se, à luz do princípio da primazia da realidade, Medida Provisória 2.164-41, de 2001)
for possível o controle da jornada, cujo ônus de provar
o fato constitutivo do direito é do empregado em A Lei 13.467/2017, no entanto, alterou
domicílio, fará este jus às horas extras e às horas consideravelmente o art. 59 da CLT, que passou a ter
noturnas. Esse entendimento se aplica também ao a seguinte redação:
empregado em regime de teletrabalho ou trabalho a Art. 59. A duração diária do trabalho poderá ser
distância. acrescida de horas extras, em número não excedente
de duas, por acordo individual, convenção coletiva ou
acordo coletivo de trabalho (parcialmente alterado
2.1.5. Banco de horas pela Lei 13.467/2017).

O banco de horas foi instituído no Brasil por meio do § 1º A remuneração da hora extra será, pelo menos,
art. 6º da Lei 9.601/88, que deu nova redação aos §§ 50% (cinquenta por cento) superior à da hora normal
2º e 3º do art. 59 da CLT. Posteriormente, a Medida (parcialmente alterado pela Lei 13.467/2017).
Provisória 2.164-41, de 28.04.2001, alterou a redação
§ 2º Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se,
do § 2º e acrescentou o § 4º.
por força de acordo ou convenção coletiva de
Em suma, o art. 59 e seus parágrafos da CLT passaram trabalho, o excesso de horas em um dia for
a ter a seguinte redação: compensado pela correspondente diminuição em
outro dia, de maneira que não exceda, no período
Art. 59. A duração normal do trabalho poderá ser máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de
acrescida de horas suplementares, em número não trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite
excedente de 2 (duas), mediante acordo escrito entre máximo de dez horas diárias (não alterado pela Lei
empregador e empregado, ou mediante contrato 13.467/2017).
coletivo de trabalho.
§ 3º Na hipótese de rescisão do contrato de trabalho
§ 1º Do acordo ou do contrato coletivo de trabalho sem que tenha havido a compensação integral da
deverá constar, obrigatoriamente, a importância da jornada extraordinária, na forma dos §§ 2º e 5º deste
remuneração da hora suplementar, que será, pelo artigo, o trabalhador terá direito ao pagamento das
menos, 50% (cinquenta por cento) superior à da hora horas extras não compensadas, calculadas sobre o
normal. (Vide CF, art. 7º inc. XVI) valor da remuneração na data da rescisão (alterado
parcialmente pela Lei 13.467/2017).
§ 2º Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se,
por força de acordo ou convenção coletiva de § 4º Os empregados sob o regime de tempo parcial
trabalho, o excesso de horas em um dia for não poderão prestar horas extras (este parágrafo foi
compensado pela correspondente diminuição em expressamente revogado pela Lei 13.467/2017).
outro dia, de maneira que não exceda, no período
§ 5º O banco de horas de que trata o § 2º deste artigo •a diária, que não poderá ser superior a 8 horas; e
poderá ser pactuado por acordo individual escrito,
desde que a compensação ocorra no período máximo •a semanal, que não poderá exceder de 44 horas.
de seis meses (acrescentado pela Lei 13.467/2017). Observa-se que o constituinte originário utilizou o
§ 6º É lícito o regime de compensação de jornada conectivo “e”, e não o disjuntivo excludente “ou”
estabelecido por acordo individual, tácito ou escrito, A Lex Fundamentalis, como já vimos, permite
para a compensação no mesmo mês (acrescentado mediante convenção ou acordo coletivo a redução da
pela Lei 13.467/2017). jornada diária ou semanal, bem como a possibilidade
Pode-se dizer que “banco de horas” é um neologismo de compensação de horários.
utilizado para denominar um novo instituto de Desse modo, afigura-se-nos de clareza meridiana que
“flexibilização” da jornada de trabalho, o qual permite a compensação de horários há de observar sempre o
a compensação do excesso de horas trabalhadas em limite imposto à jornada semanal, que é de 44 horas,
um dia com a correspondente diminuição em outro o que, a nosso ver, já desaguaria na
dia, sem o pagamento de horas extras, desde que inconstitucionalidade dos §§ 2º e 3º do art. 59 da CLT,
respeitado determinado período de tempo fixado em com redações dadas pela MP 2.164-41 e art. 6º da Lei
lei, acordo individual escrito, acordo coletivo ou 9.601/98, respectivamente. Esse fundamento de
convenção coletiva de trabalho. inconstitucionalidade fica ainda mais reforçado com
Noutros termos, o valor correspondente às horas as novas redações impostas pela Lei 13.467/2017 aos
extras prestadas não é pago diretamente ao §§ 1º a 6º do art. 59 da CLT, especialmente os §§ 5º e
empregado, uma vez que fica “depositado no banco 6º, pois permitem o banco de horas por acordos
de horas” do empregador e, na hipótese de rescisão individuais, inclusive tácitos, o que coloca os
do contrato de trabalho sem que tenha havido a trabalhadores em situação de extrema
compensação integral das horas extras prestadas, fará vulnerabilidade diante do poder empregatício
o trabalhador jus ao pagamento dessas horas, que patronal.
serão calculadas sobre o valor da remuneração na A nosso ver, portanto, a prorrogação da jornada diária
data da rescisão. sem acréscimo salarial, portanto, só é possível na
A compensação de horas extras, como já vimos no hipótese de compensação derivante de negociação
item 2.1, supra, antes da Lei 9.601/88, era prática coletiva e, ainda assim, desde que observado o limite
adotada por muitas empresas, porém restritamente, diário de 10 horas e semanal de 44 horas. A
ou seja, dentro de uma mesma semana. Depois da inobservância destes parâmetros fere de morte o art.
referida lei, a compensação passou a ser autorizada 7º, XIII e XVI, da Constituição da República e implica a
dentro de cento e vinte dias, e com o advento da MP obrigação de o empregador remunerar as horas
2.164, houve substancial aumento do espaço de excedentes com o adicional de, no mínimo, 50% sobre
tempo para a compensação do acúmulo de horas, que o valor da hora normal.
passou a ser anual (CLT, art. 59, § 2º). De toda a sorte, parece-nos que o banco de horas, por
Convém registrar que o banco de horas, a par de não ter característica que transcende ao interesse
guardar correspondência com a diretriz que informou meramente individual, só pode ser validamente
o novel contrato a prazo (Lei 9.601/98), aplica-se a implantado por meio de convenção ou acordo
todos os contratos de trabalho, salvo os contratos em coletivo de trabalho. Noutro falar, não vale o acordo
regime de tempo parcial (CLT, art. 59, § 4º). individual para instituir banco de horas. Além disso, é
Entretanto, esse § 4º do art. 59 da CLT foi inválida a cláusula convencional que amplie o limite
expressamente revogado pela Lei 13.467/2017. de dez horas diárias ou o período de um ano previsto
em lei para a compensação.
Ocorre que o art. 7º, XIII, da CF disciplina que a
duração do trabalho normal compreende, A Súmula 85 do TST, como se sabe, chancela o regime
cumulativamente, duas jornadas: de compensação de horas, inclusive por acordo
individual escrito, mas exige negociação coletiva para
a instituição do banco de horas. Esse verbete, no (...) AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE
entanto, deverá sofrer alterações em função das REVISTA DA SEGUNDA RECLAMADA INTERPOSTO NA
modificações introduzidas pela Lei 13.467/2017 , que VIGÊNCIA DA LEI N. 13.467/2017 – JORNADA DE
incluiu os §§ § 5º e 6º ao art. 59 da CLT para permitir TRABALHO – BANCO DE HORAS – SÚMULA N. 85 DO
que o banco de horas “poderá ser pactuado por TST – INAPLICABILIDADE. As disposições contidas na
acordo individual escrito, desde que a compensação Súmula n. 85 do TST não se aplicam ao regime
ocorra no período máximo de seis meses”, sendo compensatório na modalidade “banco de horas”, que
“lícito o regime de compensação de jornada somente pode ser instituído por negociação coletiva.
estabelecido por acordo individual, tácito ou escrito, Inteligência da Súmula n. 85, V, do TST. (...) (TST-ARR
para a compensação no mesmo mês”. 363-55.2015.5.09.0011, 8ª T., Rel. Min. Maria Cristina
Irigoyen Peduzzi, DEJT 16.08.2019).
Registre-se, de outro giro, o que dispõem os
Enunciados aprovados na 2ª Jornada de Direito AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.
Material e Processual do Trabalho (2017) sobre banco DIFERENÇAS DE HORAS EXTRAS. BANCO DE HORAS. O
de horas, os quais podem ser manejados como fontes Tribunal de origem considerou inválido o regime de
doutrinárias: banco de horas, porque a reclamada não comprovou
a existência de negociação coletiva que o teria
Enunciado 14 – BANCO DE HORAS POR ACORDO instituído. A decisão, tal como posta, revela perfeita
INDIVIDUAL. A compensação de horários requer consonância com a jurisprudência pacificada desta
intervenção sindical obrigatória, independentemente Corte Superior, consubstanciada no item V da Súmula
do seu prazo de duração, conforme artigo 7º, XIII, CF, n. 85. Agravo de instrumento conhecido e não provido
que autoriza a compensação apenas mediante acordo (TST-AIRR 218-98.2017.5.06.0144, 8ª T., Rel. Min.
ou convenção coletiva de trabalho. Dora Maria da Costa, DEJT 28.06.2019).
Enunciado 22 – PRESTAÇÃO DE HORAS EXTRAS:
DESCARACTERIZAÇÃO DO ACORDO DE
COMPENSAÇÃO E BANCO DE HORAS. Horas extras. 2.1.6. Regime de trabalho a tempo parcial
Descaracterização do acordo de compensação e
banco de horas. A prestação de horas extras habituais Seguindo tendência verificada nos EUA e em alguns
ou, ainda que eventuais, em número superior a duas países da Europa, o Governo brasileiro editou a
horas diárias, implica descaracterização do acordo de Medida Provisória 1.709/98, instituindo o chamado
compensação e do acordo de banco de horas, contrato de trabalho a tempo parcial.
conforme artigos 7º, XIII e XVI, da Constituição
No Brasil, o trabalho a tempo parcial encontra-se
Federal, e 59 da CLT.
regulado pelos arts. 58-A, 130-A e 476-A da CLT, cujas
Enunciado 23 – BANCO DE HORAS: BASE DE CÁLCULO redações foram dadas pela MP 2.164-41, de 2001. A
DAS HORAS SOBEJANTES – BANCO DE HORAS. Lei 13.467/2017 alterou substancialmente o caput (e
COMPENSAÇÃO. PAGAMENTO. ARTIGO 59 DA CLT. O acrescentou os §§ 3º a 7º) do art. 58-A da CLT, que
pagamento das horas extras acumuladas em banco de passou a ter a seguinte redação:
horas e não compensadas será feito com base no
Art. 58-A. Considera-se trabalho em regime de tempo
valor do salário-hora mais vantajoso ao trabalhador.
parcial aquele cuja duração não exceda a trinta horas
Enunciado 30 – BANCO DE HORAS INDIVIDUAL. semanais, sem a possibilidade de horas
INCONSTITUCIONALIDADE. É inconstitucional o suplementares semanais, ou, ainda, aquele cuja
disposto no artigo 59, § 5º e § 6º da CLT (nova duração não exceda a vinte e seis horas semanais,
redação), haja vista que a Constituição Federal de com a possibilidade de acréscimo de até seis horas
1988, no art. 7º, XIII, exige que a compensação de suplementares semanais.
jornada seja por acordo coletivo ou convenção
§ 1º O salário a ser pago aos empregados sob o
coletiva de trabalho.
regime de tempo parcial será proporcional à sua
Colecionamos alguns julgados do TST (posteriores à jornada, em relação aos empregados que cumprem,
Lei 13.467/2017) sobre banco de horas:
nas mesmas funções, tempo integral (este parágrafo É bem de ver que nas considerações da Convenção
não foi alterado pela Lei 13.467). 175, de 22.02.1998, a Organização Internacional do
Trabalho, reconhece a importância que apresenta
§ 2º Para os atuais empregados, a adoção do regime para todos os trabalhadores, contar com um emprego
de tempo parcial será feita mediante opção produtivo e livremente escolhido, a importância que
manifestada perante a empresa, na forma prevista em tem para a economia e o trabalho por tempo parcial,
instrumento decorrente de negociação coletiva (este a necessidade de que nas políticas de emprego se
parágrafo não foi alterado pela Lei 13.467). levem em conta a função do trabalho a tempo parcial
§ 3º As horas suplementares à duração do trabalho como modo de abrir novas possibilidades de emprego
semanal normal serão pagas com o acréscimo de 50% e a necessidade de assegurar a proteção dos
(cinquenta por cento) sobre o salário-hora normal. trabalhadores a tempo parcial nos campos do acesso
ao emprego, das condições de trabalho e da
§ 4º Na hipótese de o contrato de trabalho em regime seguridade social.
de tempo parcial ser estabelecido em número inferior
a vinte e seis horas semanais, as horas suplementares Amauri Mascaro Nascimento531 observa que tal
a este quantitativo serão consideradas horas extras Convenção da OIT põe por terra as críticas que
para fins do pagamento estipulado no § 3º, estando possam ser feitas no sentido de o regime de trabalho
também limitadas a seis horas suplementares a tempo parcial prejudicar os trabalhadores.
semanais. Jean-Claude Javillier sublinha que, na França, “a noção
§ 5º As horas suplementares da jornada de trabalho propriamente dita de trabalho por tempo parcial
normal poderão ser compensadas diretamente até a assim como as consequências de sua utilização são
semana imediatamente posterior à da sua execução, definidas com a finalidade de limitar o crescimento do
devendo ser feita a sua quitação na folha de trabalho precário”532.
pagamento do mês subsequente, caso não sejam A Convenção 175 da OIT conceitua trabalho a tempo
compensadas. parcial como aquele de “todo trabalhador assalariado
§ 6º É facultado ao empregado contratado sob regime cuja atividade laboral tem uma duração normal
de tempo parcial converter um terço do período de inferior à dos trabalhadores a tempo completo em
férias a que tiver direito em abono pecuniário. situação comparável”.

§ 7º As férias do regime de trabalho a tempo parcial A referida Convenção esclarece, ainda, que a duração
serão regidas pelo disposto no art. 130 desta do trabalho a tempo parcial é calculada
Consolidação. semanalmente ou em média durante determinado
período, mas exclui de tal regime os trabalhadores
De acordo com o caput do art. 58 da CLT, há duas afetados por uma redução coletiva e temporária da
modalidades de regimes de trabalho de tempo duração normal do trabalho, por motivos econômicos,
parcial: tecnológicos ou estruturais.

•com duração de até 30 horas semanais sem A contratação de trabalhadores sob o regime de
possibilidade de horas extras semanais; trabalho a tempo parcial pode ser feita nos moldes
dos arts. 442 e 443 da CLT, isto é, para os novos
•com duração de até 26 horas semanais com
empregados admite-se o contrato tácito ou expresso
possibilidade de até 6 horas extras semanais.
(verbal ou escrito). Entretanto, para os empregados já
O salário a ser pago aos empregados sob o regime de contratados por tempo indeterminado ou por tempo
tempo parcial poderá ser proporcional à duração determinado, a alteração contratual dependerá de
reduzida da jornada, observados os quantitativos manifestação escrita do trabalhador e desde que haja
pagos para aqueles que cumprem, nas mesmas autorização por convenção ou acordo coletivo de
funções, tempo integral. Na verdade, a OJ 358, I, da trabalho, como se infere do § 2º do art. 58-A da CLT.
SBDI-1/TST também permite o pagamento de salário
É recomendável, de toda a sorte, que o contrato seja
de forma proporcional ao tempo trabalhado.
firmado por escrito, a fim de que não paire dúvida
quanto à livre manifestação das partes, Por defendermos que a previsão de elevação da
principalmente a do trabalhador. duração da jornada no contrato a tempo parcial viola
o princípio da vedação do retrocesso social, pensamos
Não há restrição a respeito da possibilidade de o que a melhor solução, in casu, é a que preconiza, na
regime de trabalho a tempo parcial ser celebrado em hipótese de prestação de horas extras pelo
sede de contrato de trabalho por tempo determinado. trabalhador, a nulidade do regime em tempo parcial,
No silêncio da lei, parece-nos que devem ser ante o comando do art. 7º, caput, da CF e do art. 9º
observados os requisitos exigidos pelo art. 443 e da CLT, sem prejuízo do pagamento das horas extras
parágrafos da CLT. com o acréscimo de, no mínimo, cinquenta por cento
O novo diploma permite a conversão do tempo do valor da hora normal.
integral em parcial. Trata-se de flexibilização da Em outros termos, havendo descumprimento do
jornada de trabalho mediante tutela sindical. Vale preceito legal, o contrato sob o regime de tempo
dizer, para os empregados contratados sob o regime parcial deve converter-se automaticamente em
de jornada integral, a alteração do pactuado deverá contrato por tempo indeterminado, mas o empregado
atender a dois requisitos cumulativos: cumprirá, daí em diante, jornada reduzida, porém
•previsão em convenção ou acordo coletivo de percebendo salários idênticos aos que, na mesma
trabalho da redução da jornada de tempo integral empresa, são pagos aos trabalhadores que cumprem
para tempo parcial, nos termos do art. 7º, XIII, da jornada integral.
Constituição; Além disso, caso tipificado o desvirtuamento do
•opção formal manifestada pelo empregado perante comando legal, o empregado deverá fazer jus a férias
o empregador, na forma prevista nos citados anuais remuneradas de, no mínimo, trinta dias,
instrumentos decorrentes de negociação coletiva. observada a regra do art. 130, e não a do art. 130-A,
ambos da CLT, como, aliás, já consta do novel § 7º do
Isso não impede, a nosso ver, que o empregador art. 58-A da CLT. Registre-se, por oportuno, que a Lei
possa, unilateralmente, reduzir a jornada sem a 13.467/2017 revogou expressamente o art. 130-A da
correspondente diminuição de salários, pois, neste CLT.
caso, estar-se-á diante de alteração contratual mais
benéfica ao trabalhador. Sobre contrato de trabalho a tempo parcial para os
comerciários, lembramos que o Enunciado 92
As férias anuais remuneradas do trabalhador aprovado na 2ª Jornada de Direito Material e
contratado a tempo parcial são reduzidas Processual do Trabalho (Brasília, 2017), firmou a tese
proporcionalmente, nos termos do art. 130-A e seu de que o “art. 58-A e seus parágrafos, da CLT,
parágrafo único da CLT. alterados por força da Lei 13.467/2017, não são
aplicáveis aos comerciários, em virtude da aplicação
A grande novidade instituída pela MP 2.164-41 residia
obrigatória do art. 3º, § 1º, da Lei 12.790/2013, em
no seu art. 3º, o qual introduziu o § 4º ao art. 59 da
decorrência da especificidade e da prevalência da
CLT, segundo o qual, “os empregados sob o regime de
norma mais favorável ao trabalhador”.
tempo parcial não poderão prestar horas extras”.

Vê-se, claramente, que a intenção da referida Medida


Provisória foi coibir a fraude. Ocorre que esse § 4º do 2.2. Intervalos
art. 59 da CLT foi expressamente revogado pela Lei
13.467/2017 que, ao mesmo tempo, alterou o caput e Entre duas jornadas diárias ou dentro da mesma
acrescentou os §§ 3º a 5º ao art. 58-A da CLT, que jornada contínua, o empregador é obrigado a
preveem literalmente a possibilidade de horas conceder intervalos para repouso e alimentação do
suplementares à duração do trabalho semanal empregado.
normal, que serão pagas com o acréscimo de 50% Esses intervalos decorrem de razões biológicas,
(cinquenta por cento) sobre o salário-hora normal. prevenindo a fadiga, e econômicas, para que o
empregado possa melhor produzir.
Registre-se que os intervalos estão imunes à remuneradas como extraordinárias, inclusive com o
negociação coletiva. Nesse sentido, o Enunciado 37 respectivo adicional (TST, Súmula 110).
aprovado na 2ª Jornada de Direito Material e
Processual do Trabalho (2017), in verbis: Para o trabalhador rural o intervalo interjornada está
regulado na segunda parte do art. 5º da Lei
SAÚDE E DURAÇÃO DO TRABALHO. É inconstitucional 5.889/1973, in verbis:
o parágrafo único do art. 611-B da CLT, pois as normas
e institutos que regulam a duração do trabalho, bem Art. 5º (...) Entre duas jornadas de trabalho haverá um
como seus intervalos, são diretamente ligados às período mínimo de onze horas consecutivas para
tutelas da saúde, higiene e segurança do trabalho descanso.
como estabelecidas pelos arts. 7º, XIII, XIV e XXII, 196
e 225 da CF, pelos arts. 3º, “b” e “e”, e 5º da
Convenção 155 da OIT, pelo art. 7º, II, “b” e “d”, do 2.2.2. Intervalo intrajornada
PIDESC (ONU), pelo art. 7º, “e”, “g” e “h”, do
Protocolo de San Salvador (OEA), e pelo próprio art. O intervalo intrajornada é o realizado dentro da
58 da CLT, que limita a jornada a oito horas diárias, mesma jornada diária de trabalho, normalmente para
sendo, assim, insuscetíveis de flexibilização por alimentação e repouso (de curta duração) do
convenção ou acordo coletivos. trabalhador.

O intervalo intrajornada está previsto no art. 71 da


CLT e deverá ser observado nas seguintes hipóteses:
2.2.1. Intervalo interjornada
•se o trabalho for contínuo, cuja duração for superior
Denomina-se intervalo interjornada aquele que a 6 horas, é obrigatória a concessão de um intervalo
ocorre entre duas jornadas diárias de trabalho. Vale para repouso ou alimentação, o qual será, no mínimo,
dizer, entre o término de uma jornada diária e o início de 1 hora e, salvo convenção coletiva ou acordo
da outra, a lei determina um específico número de individual (escrito) ou coletivo que disponha em
horas para que o empregado possa repousar, sentido contrário, não poderá exceder de 2 horas
geralmente fora do estabelecimento. (CLT, art. 71, caput);

•não excedendo de 6 horas o trabalho contínuo, será


obrigatório um intervalo de 15 minutos quando a sua
Nos termos do art. 66 da CLT, é obrigatório um duração ultrapassar 4 horas (CLT, art. 71, § 1º);
intervalo interjornada mínimo de 11 horas. A
inobservância deste intervalo gera multa, de natureza •os intervalos de descanso não serão computados na
administrativa, para o empregador (CLT, art. 75). duração do trabalho (CLT, art. 71, § 2º);

Cumpre registrar que a concessão de intervalo •o limite mínimo de 1 hora para repouso ou refeição
interjornada inferior ao mínimo legal implica a poderá ser reduzido por ato de autoridade do
obrigação patronal de pagar o seu valor integral, pois, Ministério do Trabalho e Previdência, quando se
segundo a OJ 355 da SBDI-1/TST, verificar que o estabelecimento atende integralmente
às exigências concernentes à organização dos
O desrespeito ao intervalo mínimo interjornadas refeitórios e quando os respectivos empregados não
previsto no art. 66 da CLT acarreta, por analogia, os estiverem sob regime de trabalho prorrogado a horas
mesmos efeitos previstos no § 4º do art. 71 da CLT e suplementares (CLT, art. 71, § 3º);
na Súmula 110 do TST, devendo-se pagar a
integralidade das horas que foram subtraídas do •quando o intervalo para repouso e alimentação,
intervalo, acrescidas do respectivo adicional. previsto neste artigo, não for concedido pelo
empregador, este ficará obrigado, além da multa
No regime de revezamento, as horas trabalhadas em administrativa (CLT, art. 75), a remunerar ao
seguida ao repouso semanal de 24 horas, com empregado o período correspondente com um
prejuízo do intervalo mínimo de 11 horas consecutivas acréscimo de, no mínimo, 50% (cinquenta por cento)
para descanso entre jornadas, devem ser
sobre o valor da remuneração da hora normal de a observância da redução dos riscos inerentes ao
trabalho (CLT, art. 71, § 4º). O § 4º do art. 71 da CLT trabalho, conforme estabelecido no art. 7º, inciso XXII,
foi alterado pela Lei 13.467/2017, dispondo visando a concretizar a Constituição, que tem como
expressamente que: “A não concessão ou a concessão fundamentos da República a dignidade da pessoa
parcial do intervalo intrajornada mínimo, para humana e os valores sociais do trabalho, como
repouso e alimentação, a empregados urbanos e estabelecido no art. 1º, incisos III e IV, da Carta
rurais, implica o pagamento, de natureza Magna. (grifos nossos)
indenizatória, apenas do período suprimido, com
acréscimo de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor Em 2012, foi editada a Lei 12.619 que acrescentou o §
da remuneração da hora normal de trabalho”. (grifos 5º ao art. 71 da CLT, dispondo que os intervalos
nossos) expressos no seu caput e no § 1º

Essa nova regra, segundo pensamos, é flagrantemente “poderão ser fracionados quando compreendidos
inconstitucional, na medida em que viola o caput do entre o término da primeira hora trabalhada e o início
art. 7º da CF, porquanto impõe uma condição da última hora trabalhada, desde que previsto em
contrária à melhoria das condições socioeconômicas convenção ou acordo coletivo de trabalho, ante a
dos trabalhadores, seja por retirar a natureza salarial natureza do serviço e em virtude das condições
da vantagem remuneratória, seja por frustrar a especiais do trabalho a que são submetidos
efetivação do direito fundamental ao repouso estritamente os motoristas, cobradores, fiscalização
intrajornada, estimulando a prática empresarial de de campo e afins nos serviços de operação de veículos
desconstrução dos direitos sociais dos trabalhadores. rodoviários, empregados no setor de transporte
coletivo de passageiros, mantida a mesma
Ademais, colacionamos o Enunciado 34 da 2ª Jornada remuneração e concedidos intervalos para descanso
de Direito Material e Processual (Brasília-DF, 2017), menores e fracionados ao final de cada viagem, não
que aprovou duas teses sobre intervalo intrajornada: descontados da jornada”.

I. Regras sobre o intervalo intrajornada são Esse § 5º do art. 71 da CLT foi novamente alterado
consideradas como normas de saúde, higiene e pela Lei 13.103/2015, passando a ter a seguinte
segurança do trabalho e, por consequência, de ordem redação:
pública, apesar do que dispõe o art. 611-B, parágrafo
único, da CLT (na redação da Lei 13.467/2017). O intervalo expresso no caput poderá ser reduzido
e/ou fracionado, e aquele estabelecido no § 1º poderá
II. O estabelecimento de intervalos intrajornadas em ser fracionado, quando compreendidos entre o
patamares inferiores a uma hora para jornadas de término da primeira hora trabalhada e o início da
trabalho superiores a seis horas diárias é incompatível última hora trabalhada, desde que previsto em
com os artigos 6º, 7º, inciso XXII, e 196 da convenção ou acordo coletivo de trabalho, ante a
Constituição. natureza do serviço e em virtude das condições
especiais de trabalho a que são submetidos
Além disso, lembramos que na referida Jornada, estritamente os motoristas, cobradores, fiscalização
também foi aprovado o Enunciado 12: de campo e afins nos serviços de operação de veículos
INCONSTITUCIONALIDADE DO PARÁGRAFO ÚNICO DO rodoviários, empregados no setor de transporte
ART. 611-B DA CLT. Saúde e segurança no trabalho. coletivo de passageiros, mantida a remuneração e
Negociado sobre o legislado: inconstitucionalidade do concedidos intervalos para descanso menores ao final
parágrafo único do art. 611-B da CLT. Revela-se de cada viagem.
inconstitucional esse dispositivo da Lei da Reforma Nos serviços permanentes de mecanografia
Trabalhista que permite a flexibilização da jornada de (datilografia, escrituração, cálculo e digitação), a cada
trabalho e do intervalo intrajornada, por ofensa 90 minutos de trabalho consecutivo corresponderá
expressa à Constituição Federal, que assegura a todos um repouso de 10 minutos não deduzidos na duração
os trabalhadores um ambiente laboral sadio, com normal de trabalho (CLT, art. 72).
jornada máxima e intervalos mínimos necessários,
que permita o descanso e sua recuperação física, com Nos termos da Súmula 346 do TST,
“Os digitadores, por aplicação analógica do art. 72 da submetido a trabalho contínuo em ambiente
CLT, equiparam-se aos trabalhadores nos serviços de artificialmente frio, nos termos do parágrafo único do
mecanografia (datilografia, escrituração ou cálculo), art. 253 da CLT, ainda que não labore em câmara
razão pela qual têm direito a intervalos de descanso frigorífica, tendo ele direito ao intervalo intrajornada
de 10 (dez) minutos a cada 90 (noventa) de trabalho por aplicação analógica do caput do referido
consecutivo”. dispositivo consolidado.

Objetivando sistematizar o instituto do intervalo Em se tratando de trabalhador rural, em qualquer


intrajornada, o TST editou a Súmula 437, trabalho contínuo de duração superior a seis horas,
estabelecendo alguns critérios para a sua aplicação: será obrigatória a concessão de um intervalo
intrajornada para repouso ou alimentação,
I – Após a edição da Lei 8.923/94, a não concessão ou observados os usos e costumes da região, não se
a concessão parcial do intervalo intrajornada mínimo, computando este intervalo na duração do trabalho
para repouso e alimentação, a empregados urbanos e (Lei 5.889/73, art. 5º).
rurais, implica o pagamento total do período
correspondente, e não apenas daquele suprimido, Para o trabalhador rural, o intervalo intrajornada está
com acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o valor da previsto na primeira parte do art. 5º da Lei 5.889/73,
remuneração da hora normal de trabalho (art. 71 da que remete à sua duração os usos e costumes da
CLT), sem prejuízo do cômputo da efetiva jornada de região, in verbis:
labor para efeito de remuneração.
Art. 5º Em qualquer trabalho contínuo de duração
II – É inválida cláusula de acordo ou convenção superior a seis horas, será obrigatória a concessão de
coletiva de trabalho contemplando a supressão ou um intervalo para repouso ou alimentação
redução do intervalo intrajornada porque este observados os usos e costumes da região, não se
constitui medida de higiene, saúde e segurança do computando este intervalo na duração do trabalho
trabalho, garantido por norma de ordem pública (art. (...)
71 da CLT e art. 7º, XXII, da CF/1988), infenso à
negociação coletiva. No que tange à possibilidade de redução do intervalo
intrajornada por convenção ou acordo coletivo com
III – Possui natureza salarial a parcela prevista no art. base em Portaria genérica do Ministério do Trabalho e
71, § 4º, da CLT, com redação introduzida pela Lei Previdência, o TST vem adotando, a nosso ver,
8.923, de 27 de julho de 1994, quando não concedido acertadamente, o seguinte entendimento:
ou reduzido pelo empregador o intervalo mínimo
intrajornada para repouso e alimentação, INTERVALO INTRAJORNADA. REDUÇÃO POR ACORDO
repercutindo, assim, no cálculo de outras parcelas OU CONVENÇÃO COLETIVA. PORTARIA N. 42/2007 DO
salariais. MTE. AUTORIZAÇÃO GENÉRICA. INVALIDADE.
NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO ESPECÍFICA (ART. 71,
IV – Ultrapassada habitualmente a jornada de seis § 3º, DA CLT). A Portaria n. 42/2007 do Ministério do
horas de trabalho, é devido o gozo do intervalo Trabalho e Emprego disciplina que o intervalo
intrajornada mínimo de uma hora, obrigando o intrajornada poderá ser diminuído por negociação
empregador a remunerar o período para descanso e coletiva. No entanto, referida Portaria, por ser
alimentação não usufruído como extra, acrescido do genérica, não tem o condão de autorizar a redução do
respectivo adicional, na forma prevista no art. 71, intervalo intrajornada por acordo ou convenção
caput e § 4º da CLT. coletiva, sendo necessária autorização específica, nos
termos do § 3º do art. 71 da CLT, após vistoria das
O item III da Súmula 437 do TST está em colisão com o instalações e do sistema de trabalho da empresa. Sob
novel (e inconstitucional, como vimos alhures) § 4º do esse entendimento, a SBDI-1 decidiu, por
art. 71 da CLT, com redação dada pela Lei unanimidade, conhecer dos embargos por divergência
13.467/2017. jurisprudencial e, no mérito, por maioria, deu-lhes
Além disso, a Súmula 438 do TST reconhece o provimento parcial para condenar a reclamada ao
intervalo para recuperação térmica do empregado pagamento de uma hora diária, com acréscimo do
adicional de 50%, decorrente da concessão parcial do e 7º, inciso XXX) e da isonomia, ao estabelecer
intervalo intrajornada, nos dias efetivamente tratamento diferenciado apenas em razão de gênero.
trabalhados em que não houve o gozo de uma hora
integral de repouso para descanso e alimentação, Embora a Constituição de 1988 estabeleça a igualdade
atribuindo-se natureza salarial à parcela, nos termos de gênero, ao mesmo tempo admite a possibilidade
da Súmula n. 437, item III, do Tribunal Superior do de tratamento diferenciado, desde que haja
Trabalho. Vencidos os Ministros João Oreste Dalazen e elementos legítimos e razoáveis para tal discrímen,
Renato de Lacerda Paiva, que negavam provimento ao entre eles as conjunturas sociais. Nesse sentido é o
recurso (TST-E-RR-53200-40.2013.5.21.0006 – SBDI-I – voto do relator, Min. Dias Toffoli, que entende que a
Rel. Min. José Roberto Freire Pimenta – j. 10.09.2015). distinção prevista na CLT leva em conta aspectos
como a histórica exclusão da mulher do mercado de
trabalho, a chamada dupla jornada e componentes
orgânicos e biológicos.
2.2.2.1. intervalo do art. 384 da clt
A norma, a seu ver, não viola o art. 7º, inciso XXX, da
O art. 384 da CLT prevê um descanso de 15 minutos Constituição, uma vez que não prevê tratamento
para a empregada mulher que for prorrogar a sua diferenciado entre homens e mulheres em relação a
jornada diária normal, nos seguintes termos: salários, critérios diferenciados de admissão ou de
exercício de funções diversas.
Art. 384. Em caso de prorrogação do horário normal,
será obrigatório um descanso de 15 (quinze) minutos Sendo assim, parece-nos indene de dúvidas que a
no mínimo, antes do início do período extraordinário mulher empregada faz jus ao intervalo de 15 minutos
do trabalho. antes do início do período extraordinário, importando
o seu descumprimento em pagamento de hora extra.
O TST vem reconhecendo a validade do artigo em
comento e a sua compatibilidade com a nova ordem Entretanto, o art. 5º, I, da Lei 13.467/2017 revogou
constitucional de 1988, determinando o pagamento expressamente o art. 384 da CLT, o que representa
de 50% sobre o valor da hora normal pelo descanso inegável retrocesso social e inegável discriminação de
não fruído pela empregada mulher. gênero do legislador em desfavor da mulher
empregada.
Em 2014, o STF, em sede de julgamento de recurso
extraordinário (RE 658.312), havia reconhecido a 2.3. Repouso semanal remunerado
recepção do art. 384 da CLT em face da CF/88. No
entanto, tal julgamento fora anulado por questão É assegurado a todo empregado um repouso semanal
meramente formal, retornando à pauta da Sessão do remunerado de, no mínimo, 24 horas consecutivas, o
dia 14.09.2016. qual deverá coincidir, preferencialmente, com o
domingo.
Entendemos que a disposição contida no art. 384 da
CLT foi recepcionada pela Constituição Federal. O repouso semanal remunerado é, na verdade, o
Embora homens e mulheres sejam iguais em direitos e reconhecimento de que existe um direito à “jornada
obrigações, há que se considerar que se diferenciam semanal” de trabalho. Não obstante o termo
no aspecto fisiológico, merecendo a mulher, em razão “jornada”, oriundo de giorno, giornata, seja
disso, um tratamento diferenciado quando o trabalho empregado normalmente para designar a jornada
lhe exige um desgaste físico maior, como nas diária, o certo é que o nosso ordenamento jurídico
hipóteses de prestação de horas extras. consagra literalmente a expressão “jornada semanal”,
como se infere do art. 59, § 2º.
A jurisprudência do TST está pacificada no sentido da
validade do intervalo, sendo certo que o principal Trata-se de um direito fundamental social dos
argumento da empresa recorrente no STF é o de que empregados urbanos e rurais (CF, art. 7º, XV),
o art. 384 da CLT viola os princípios constitucionais da estendido aos trabalhadores avulsos, aos
igualdade entre homens e mulheres (arts. 5º, inciso I, trabalhadores domésticos e aos servidores públicos
(CF, art. 7º, XXXIV, parágrafo único, e art. 39, §§ 2º e é estendido aos dias considerados feriados civis ou
3º). religiosos.

No plano infraconstitucional, o descanso semanal De acordo com o art. 6º da Lei 605/49, não será
estava previsto originariamente no art. 67 da CLT. devida a remuneração quando, sem motivo
Posteriormente, a Lei 605/49 passou a disciplinar o justificado, o empregado não tiver trabalhado durante
repouso semanal remunerado e o pagamento de toda a semana anterior, cumprindo integralmente o
salários nos dias feriados civis e religiosos. seu horário de trabalho.

De acordo com o art. 1º da Lei 605/49, todo São considerados motivos justificados os previstos no
empregado tem direito ao repouso semanal § 1º do art. 6º da Lei 605.
remunerado de vinte e quatro horas consecutivas,
preferentemente aos domingos e, nos limites das Nas empresas em que vigorar regime de trabalho
exigências técnicas das empresas, nos feriados civis e reduzido, a frequência exigida corresponderá ao
religiosos, de acordo com a tradição local. número de dias em que o empregado tiver de
trabalhar.
No que concerne às atividades do comércio, foi
editada, em 2007, a Lei 11.603, que alterou o art. 6º e A remuneração do repouso semanal corresponderá:
acrescentou os arts. 6º-A e 6º-B na Lei 10.101/01, in •para os que trabalham por dia, semana, quinzena ou
verbis: mês, à de um dia de serviço, computadas as horas
Art. 6º Fica autorizado o trabalho aos domingos nas extraordinárias habitualmente prestadas;
atividades do comércio em geral, observada a •para os que trabalham por hora, à de sua jornada de
legislação municipal, nos termos do art. 30, inc. I, da trabalho, computadas as horas extraordinárias
Constituição Federal. habitualmente prestadas;
Parágrafo único. O repouso semanal remunerado •para os que trabalham por tarefa ou peça, o
deverá coincidir, pelo menos uma vez no período equivalente ao salário correspondente às tarefas ou
máximo de três semanas, com o domingo, respeitadas peças feitas durante a semana, no horário normal de
as demais normas de proteção ao trabalho e outras a trabalho, dividido pelos dias de serviço efetivamente
serem estipuladas em negociação coletiva. prestados ao empregador;
Art. 6º-A. É permitido o trabalho em feriados nas •para o empregado em domicílio, o equivalente ao
atividades do comércio em geral, desde que quociente da divisão por seis (6) da importância total
autorizado em convenção coletiva de trabalho e da sua produção na semana.
observada a legislação municipal, nos termos do art.
30, inc. I, da Constituição. Os empregados cujos salários não sofram descontos
por motivo de feriados civis ou religiosos são
Art. 6º-B. As infrações ao disposto nos arts. 6º e 6º-A considerados já remunerados nesses mesmos dias de
desta Lei serão punidas com a multa prevista no art. repouso, conquanto tenham direito à remuneração
75 da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada dominical.
pelo Dec.-lei 5.452, de 01.05.1943.
Consideram-se já remunerados os dias de repouso
Parágrafo único. O processo de fiscalização, de semanal do empregado mensalista ou quinzenalista,
autuação e de imposição de multas reger-se-á pelo cujo cálculo de salário mensal ou quinzenal, ou cujos
disposto no Título VII da Consolidação das Leis do descontos por falta sejam efetuados na base do
Trabalho. número de dias do mês ou de trinta (30) e quinze (15)
O repouso semanal ou hebdomadário tem origem diárias, respectivamente.
religiosa e seu escopo é propiciar ao trabalhador o A prestação de serviços nos dias destinados ao seu
refazimento das energias despendidas durante uma repouso semanal confere ao empregado o direito à
semana de trabalho. O repouso semanal remunerado remuneração em dobro do dia trabalhado, salvo
quando o empregador determinar outro dia de folga “Computam-se no cálculo do repouso remunerado as
(Lei 605/49, art. 9º). horas extras habitualmente prestadas” (Súmula 172).

A respeito desse tema, a Súmula 146 do TST, em sua Por outro lado, segundo o TST, o repouso semanal
redação original, previa apenas que o trabalho remunerado não repercute nos seguintes casos:
realizado em dia feriado, não compensado, seria pago
em dobro, e não em triplo. •O sábado do bancário é dia útil não trabalhado, não
dia de repouso remunerado. Não cabe a repercussão
Em 2003, o TST deu nova redação à Súmula 146, do pagamento de horas extras habituais em sua
reconhecendo que o trabalho prestado em domingos remuneração (TST, Súmula 113).
e feriados, não compensado, deve ser pago em dobro,
sem prejuízo da remuneração relativa ao repouso •As gratificações por tempo de serviço e
semanal. produtividade, pagas mensalmente, não repercutem
no cálculo do repouso semanal remunerado (TST,
Na hipótese de o repouso ser concedido após o Súmula 225).
sétimo dia, o TST/SBDI-1 editou a OJ 410, in verbis:
•As gorjetas, cobradas pelo empregador na nota de
Repouso semanal remunerado. Concessão após o serviço ou oferecidas espontaneamente pelos
sétimo dia consecutivo de trabalho. CF, art. 7º, XV. clientes, integram a remuneração do empregado, não
Violação. Viola o art. 7º, XV, da CF a concessão de servindo de base de cálculo para as parcelas de aviso
repouso semanal remunerado após o sétimo dia prévio, adicional noturno, horas extras e repouso
consecutivo de trabalho, importando no seu semanal remunerado (TST, Súmula 354).
pagamento em dobro.
•O adicional de insalubridade já remunera os dias de
Se o repouso semanal remunerado for concedido repouso semanal e feriados (SBDI-1 OJ 103).
depois do sétimo dia, o TST vem entendendo que há
violação ao art. 7º, XV, da CF, razão pela qual deve ser •A majoração do valor do repouso semanal
pago em dobro (SBDI-1 OJ 410). remunerado, em razão da integração das horas extras
habitualmente prestadas, não repercute no cálculo
No regime de revezamento, as horas trabalhadas em das férias, da gratificação natalina, do aviso prévio e
seguida ao repouso semanal de 24 horas, com do FGTS, sob pena de caracterização de bis in idem
prejuízo do intervalo mínimo de 11 horas consecutivas (SBDI-1 OJ 394).
para descanso entre jornadas, devem ser
remuneradas como extraordinárias, inclusive com o No que concerne ao repouso semanal remunerado
respectivo adicional (TST, Súmula 110). (RSR), o Decreto 10.854/2021 passou a regulamentar
a Lei 605/1949, dispondo, em seu art. 152, que: “Todo
A interpretação sistemática do art. 7º, § 2º, da Lei empregado tem direito a um descanso semanal
605/49 e do art. 320 da CLT autoriza concluir que o remunerado de vinte e quatro horas consecutivas,
professor que recebe salário mensal à base de hora- preferencialmente aos domingos e, nos limites das
aula tem direito ao acréscimo de 1/6 a título de exigências técnicas das empresas, nos feriados civis e
repouso semanal remunerado, considerando-se para religiosos, de acordo com a tradição local”.
esse fim o mês de quatro semanas e meia (TST,
Súmula 351). Nos termos do art. 153 do referido Decreto, são
feriados e, como tais, obrigam ao repouso
Nos termos da Súmula 360 do TST, a interrupção do remunerado em todo o território nacional aqueles
trabalho destinada a repouso e alimentação, dentro que a lei determinar. Será também obrigatório o
de cada turno, ou o intervalo para repouso semanal, repouso remunerado nos dias de feriados locais, até o
não descaracteriza o turno de revezamento com máximo de quatro, desde que declarados como tais
jornada de 6 (seis) horas previsto no art. 7º, XIV, da por lei municipal.
CF/88.
Dispõe o art. 154 do Decreto 10.854 que, na hipótese
De acordo com a jurisprudência do TST: de ser comprovado o cumprimento das exigências
técnicas, nos termos do disposto no art. 1º da Lei n.
605/1949, será admitido o trabalho nos dias de Os empregados cujos salários não sofram descontos
repouso, garantida a remuneração correspondente. por motivo de feriados civis ou religiosos são
Constituem exigências técnicas aquelas que, em razão considerados já remunerados nesses mesmos dias de
do interesse público ou das condições peculiares às repouso, conquanto tenham direito à remuneração
atividades da empresa ou ao local onde estas atuem, dominical.
tornem indispensável a continuidade do trabalho, em
todos ou alguns de seus serviços. O Decreto 10.854 considera já remunerados os dias
de repouso semanal do empregado mensalista ou
Prevê o § 2º do art. 154 do Decreto 10.854/2021 que, quinzenalista cujo cálculo de salário mensal ou
nos serviços que exijam trabalho aos domingos, com quinzenal ou cujos descontos por falta sejam
exceção dos elencos teatrais e congêneres, será efetuados com base no número de dias do mês ou de
estabelecida escala de revezamento, mensalmente trinta e quinze diárias, respectivamente.
organizada, que constará de quadro sujeito à
fiscalização, e, nos serviços em que for permitido o Nos termos do art. 158 do Decreto 10.854, o
trabalho nos dias de repouso, a remuneração dos trabalhador que, sem motivo justificado ou em razão
empregados que trabalharem nesses dias será paga de punição disciplinar, não tiver trabalhado durante
em dobro, exceto se a empresa determinar outro dia toda a semana e cumprido integralmente o seu
de folga. Ato do Ministro de Estado do Trabalho e horário de trabalho perderá a remuneração do dia de
Previdência concederá, em caráter permanente, repouso.
permissão para o trabalho nos dias de repouso às As ausências decorrentes de férias não prejudicarão a
atividades que se enquadrarem nas exigências frequência exigida e não serão acumuladas a
técnicas. remuneração do repouso semanal e a do feriado civil
O art. 155 do Decreto multicitado permite, ou religioso que recaírem no mesmo dia.
excepcionalmente, o trabalho em dia de repouso O § 4º do art. 158 do Decreto 10.854 considera
quando: I – ocorrer motivo de força maior; ou II – para semana, para fins de pagamento do RSR, o período de
atender à realização ou à conclusão de serviços segunda-feira a domingo que antecede o dia
inadiáveis ou cuja inexecução possa acarretar prejuízo determinado como repouso semanal remunerado.
manifesto, a empresa obtiver autorização prévia da
autoridade competente em matéria de trabalho, com Os motivos justificados para que o empregado não
discriminação do período autorizado, o qual, de cada perca o direito ao RST estão no art. 159 do Decreto
vez, não excederá a sessenta dias. 10.854.

Nos dias de repouso em que for permitido o trabalho, A Portaria MTP 671/2021 dispõe sobre a autorização
é vedada às empresas a execução de serviços que não transitória (arts. 56 a 61) e autorização permanente
se enquadrem nos motivos determinantes da (arts. 62 e 63) para trabalho aos domingos e feriados,
permissão (Decreto 10.854, art. 166), sendo certo que bem como estabelece regras sobre prorrogação da
a remuneração do repouso semanal corresponderá: I jornada em atividades insalubres (arts. 64 a 72).
– para os que trabalham por dia, semana, quinzena ou
mês, à de um dia de trabalho, computadas as horas
extras habitualmente prestadas; II – para os que
trabalham por hora, à sua jornada de trabalho,
computadas as horas extras habitualmente prestadas; PONTOS MAIS IMPORTANTES DA LEI 13.467/2017
III – para os que trabalham por tarefa ou peça, ao
A Lei 13.467/2017, também conhecida como Reforma
salário correspondente às tarefas ou peças feitas
Trabalhista, foi sancionada em 13 de julho de 2017 e
durante a semana, no horário normal de trabalho,
alterou diversas regras da legislação trabalhista
dividido pelos dias de serviço efetivamente prestados
brasileira. Os pontos mais importantes da lei são:
ao empregador; IV – para os empregados em
domicílio, ao quociente da divisão por seis do valor Flexibilização das regras de contratação e demissão: A
total da sua produção na semana. lei permite a contratação de trabalhadores por tempo
determinado, a contratação de trabalhadores contratante por um período determinado, não
intermitentes e a terceirização de atividades-fim. superior a 180 dias.
Também facilita a demissão por justa causa e permite
o pagamento de indenização por rescisão contratual Os direitos dos trabalhadores terceirizados: Os
em até 12 parcelas. trabalhadores terceirizados têm os mesmos direitos
que os trabalhadores diretos, como salário, jornada
Redução da jornada de trabalho: A lei permite a de trabalho, férias, 13º salário, FGTS e seguro-
redução da jornada de trabalho para 30 horas desemprego.
semanais, com pagamento de salário proporcional.
A Lei 6.019/1974 foi criada para flexibilizar as regras
Aumento da autonomia das negociações coletivas: A trabalhistas e estimular a competição entre as
lei dá mais autonomia às negociações coletivas, empresas. No entanto, a lei também foi criticada por
permitindo que os sindicatos e as empresas pactuem sindicatos e trabalhadores, que alegam que ela pode
regras que não estão previstas na lei. prejudicar os direitos dos trabalhadores.

Modernização da legislação trabalhista: A lei EXCEÇÕES JORNADA DE TRABALHO


moderniza a legislação trabalhista, adaptando-a às
novas realidades do mercado de trabalho. Existem algumas exceções à jornada de trabalho
normal. Essas exceções são previstas no artigo 62 da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). São elas:

A Lei 6.019/1974, também conhecida como Lei da


Terceirização, regula a contratação de trabalhadores
por parte de empresas terceirizadas. A lei foi alterada Empregados que exercem atividade externa
pela Lei 13.467/2017, também conhecida como incompatível com a fixação de horário de trabalho:
Reforma Trabalhista, mas as principais regras ainda São exemplos de trabalhadores que exercem
são as mesmas. atividade externa incompatível com a fixação de
horário de trabalho os vendedores, representantes
Os pontos mais importantes da Lei 6.019/1974 são: comerciais, motoristas, cobradores etc.

O que é terceirização: Terceirização é a contratação Empregados que exercem cargo de confiança: São
de uma empresa para realizar atividades que não são considerados empregados de confiança os
essenciais à atividade-fim da empresa contratante. trabalhadores que exercem atividades de direção,
gerência, fiscalização ou comando.
O que não pode ser terceirizado: A lei proíbe a
terceirização de atividades-fim, que são aquelas que Empregados que trabalham em regime de
são essenciais à atividade principal da empresa teletrabalho: O teletrabalho é uma modalidade de
contratante. trabalho em que o empregado não está sujeito à
jornada de trabalho normal, pois realiza suas
As modalidades de terceirização: A lei prevê três atividades em local de sua escolha.
modalidades de terceirização:
Além dessas exceções, a jornada de trabalho também
Terceirização de serviços: A empresa terceirizada pode ser flexibilizada por meio de acordo coletivo de
presta serviços à empresa contratante, mas não tem trabalho ou convenção coletiva de trabalho.
contato direto com o consumidor final.

Terceirização de mão de obra: A empresa terceirizada


fornece trabalhadores à empresa contratante, que Alguns exemplos de como as exceções à jornada de
são responsáveis pela supervisão e direção do trabalho podem ser aplicadas:
trabalho.
Empregados que exercem atividade externa: Os
Terceirização de mão de obra temporária: A empresa empregados que exercem atividade externa, como
terceirizada fornece trabalhadores à empresa vendedores, representantes comerciais etc., não têm
jornada de trabalho fixa, pois estão sujeitos a
variações de horário de acordo com as necessidades Além dessas exceções, a Lei 13.467/2017 também
do trabalho. flexibilizou algumas regras para os trabalhadores
temporários, como:
Empregados que exercem cargo de confiança: Os
empregados que exercem cargo de confiança, como Jornada de trabalho: A jornada de trabalho do
gerentes, diretores etc., não têm jornada de trabalho trabalhador temporário pode ser flexibilizada, desde
fixa, pois têm autonomia para organizar seu horário que não ultrapasse 12 horas diárias e 48 horas
de trabalho. semanais.

Empregados que trabalham em regime de Horas extras: O trabalhador temporário pode ser
teletrabalho: Os empregados que trabalham em convocado a trabalhar horas extras, mas o valor das
regime de teletrabalho não têm jornada de trabalho horas extras deve ser pago com acréscimo de 50%.
fixa, pois podem organizar seu horário de trabalho de
acordo com suas necessidades. Descanso semanal remunerado: O trabalhador
temporário pode ser convocado a trabalhar aos
É importante ressaltar que as exceções à jornada de domingos e feriados, mas deve receber o valor
trabalho devem ser aplicadas de forma a não dobrado da remuneração normal.
prejudicar os direitos dos trabalhadores.
É importante ressaltar que as exceções e
flexibilizações previstas para os trabalhadores
temporários devem ser aplicadas de forma a não
EXCEÇÕES DO TRABALHADOR TEMPORÁRIO prejudicar os direitos dos trabalhadores.
Os trabalhadores temporários têm os mesmos direitos PODER DISCIPLINAR DO EMPREGADOR
que os trabalhadores diretos, exceto por algumas
exceções previstas na Lei 6.019/1974 e na Reforma O poder disciplinar do empregador é a prerrogativa
Trabalhista (Lei 13.467/2017). que ele tem de aplicar sanções aos empregados que
descumprem as obrigações contratuais. As sanções
As principais exceções são: disciplinares podem ser aplicadas de forma
Prazo de contrato: O contrato de trabalho temporário progressiva, iniciando-se com a advertência verbal,
não pode exceder o prazo de 180 dias, consecutivos passando pela advertência escrita, suspensão e, em
ou não. último caso, demissão por justa causa.

Período de experiência: O trabalhador temporário não


pode ser submetido a um período de experiência. As faltas disciplinares são as condutas do empregado
Férias: O trabalhador temporário tem direito a férias que são consideradas inadequadas ou incompatíveis
proporcionais ao tempo de serviço, calculadas com com o contrato de trabalho. Alguns exemplos de faltas
base na remuneração que ele recebeu. disciplinares são:

13º salário: O trabalhador temporário tem direito a - Atrasos ou ausências injustificadas ao trabalho;
13º salário proporcional ao tempo de serviço, - Descumprimento das normas internas da empresa;
calculado com base na remuneração que ele recebeu.
- Desempenho insatisfatório das atividades;
FGTS: O trabalhador temporário tem direito ao
recolhimento do FGTS, mas não tem direito ao saque - Atitudes desrespeitosas ou agressivas;
do FGTS no caso de demissão sem justa causa.
- Condutas ilícitas ou antiéticas.
Seguro-desemprego: O trabalhador temporário tem
direito ao seguro-desemprego, mas apenas se for Para aplicar uma sanção disciplinar, o empregador
demitido sem justa causa após o término do contrato deve observar alguns princípios, como:
de trabalho. Princípio da proporcionalidade: A sanção deve ser
proporcional à gravidade da falta cometida.
Princípio da legalidade: A sanção deve estar prevista
em lei ou em norma coletiva de trabalho.

Princípio da ampla defesa e do contraditório: O


empregado deve ser ouvido antes de ser aplicada a
sanção.

A sanção disciplinar deve ser aplicada de forma justa e


imparcial, respeitando os direitos do empregado. O
empregado que discordar da sanção aplicada pode
recorrer ao sindicato ou à Justiça do Trabalho.

A seguir, são apresentados alguns exemplos de como


o poder disciplinar do empregador pode ser aplicado:

Advertência verbal: A advertência verbal é a sanção


mais leve, sendo aplicada em casos de faltas leves ou
inofensivas.

Advertência escrita: A advertência escrita é uma


sanção mais grave, sendo aplicada em casos de faltas
mais graves ou reincidentes.

Suspensão: A suspensão é uma sanção mais grave,


sendo aplicada por um período máximo de 30 dias.

Demissão por justa causa: A demissão por justa causa


é a sanção mais grave, sendo aplicada em casos de
faltas graves, como roubo, furto, agressão etc.

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