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Somente as instituições sem finalidade lucrativa, ou O trabalho desenvolvido pela mãe social é de caráter
de utilidade pública de assistência ao menor intermitente, realizando-se pelo tempo necessário ao
abandonado, e que funcionem pelo sistema de casas- desempenho de suas tarefas.
lares, poderá utilizar o trabalho de mães sociais
Os salários devidos à mãe social serão reajustados de
visando a propiciar ao menor as condições familiares
acordo com as disposições legais aplicáveis, deduzido
ideais ao seu desenvolvimento e reintegração social.
o percentual de alimentação fornecida pelo
Entende-se como casa-lar a unidade residencial sob empregador.
responsabilidade de mãe social, que abrigue até 10
O art. 8º da Lei em tela prevê que a candidata ao
(dez) menores.
exercício da profissão de mãe social deverá submeter-
De acordo com o art. 4º da Lei 7.644, são atribuições se a seleção e treinamento específicos, a cujo término
da mãe social: será verificada sua habilitação. O treinamento será
composto de um conteúdo teórico e de uma aplicação
I – propiciar o surgimento de condições próprias de prática, esta sob forma de estágio.
uma família, orientando e assistindo os menores
colocados sob seus cuidados; O treinamento e estágio não excederão de 60
(sessenta) dias nem criarão vínculo empregatício de
II – administrar o lar, realizando e organizando as qualquer natureza, sendo certo que a estagiária
tarefas a ele pertinentes; deverá estar segurada contra acidentes pessoais e
receberá alimentação, habitação e bolsa de ajuda
III – dedicar-se, com exclusividade, aos menores e à
para vestuário e despesas pessoais.
casa-lar que lhes forem confiados.
O art. 9º da Lei 7.644 estabelece as seguintes
A mãe social, enquanto no desempenho de suas
condições para admissão como mãe social:
atribuições, deverá residir, juntamente com os
menores que lhe forem confiados, na casa-lar que lhe I – idade mínima de 25 (vinte e cinco) anos;
for destinada.
II – boa sanidade física e mental;
Nos termos do art. 5º da Lei 7.644, são direitos da
mãe social: III – curso de primeiro grau, ou equivalente;
Para Délio Maranhão, a empresa é a unidade Ouçamos a lição de Fábio Ulhoa Coelho:
econômica, e o estabelecimento, a unidade técnica de Deve-se desde logo acentuar que os sócios da
produção. Aquela traduz, antes, a atividade sociedade empresária não são empresários. Quando
profissional do empresário, considerada no seu pessoas (naturais) unem seus esforços para, em
aspecto funcional mais do que no instrumental. Por sociedade, ganhar dinheiro com a exploração
isso, a rigor, não cabe nem na categoria de sujeito empresarial de uma atividade econômica, elas não se
nem na de objeto do direito. Distingue, assim, “a tornam empresárias. A sociedade por elas constituída,
relação entre o estabelecimento e a empresa. Aquele uma pessoa jurídica com personalidade autônoma,
é a organização produtora que constitui um capital; sujeito de direito independente, é que será
esta, a atividade profissional do empresário”297. empresária, para todos os efeitos legais. Os sócios da
José Augusto Rodrigues Pinto conceitua a empresa no sociedade empresária são empreendedores ou
contexto do direito do trabalho como “a organização investidores, de acordo com a colaboração dada à
destinada a realizar um fim determinado, econômico sociedade (os empreendedores, além de capital,
ou não, mediante a utilização permanente de energia costumam devotar também trabalho à pessoa
pessoal de empregados, sob a direção e retribuição do jurídica, na condição de seus administradores, ou as
organizador”298. controlam; os investidores limitam-se a aportar
capital). As regras que são aplicáveis ao empresário
A empresa pode ter um único estabelecimento ou individual não se aplicam aos sócios da sociedade
vários estabelecimentos, ou seja, além da matriz, empresária – é muito importante apreender isto300.
De outro giro, é importante lembrar que o empresário A Lei 13.874/2019, também chamada de Lei da
pode ser um empresário individual, isto é, a pessoa Liberdade Econômica, inseriu no Código Civil o art. 49-
física que exerce profissionalmente atividade A e seu parágrafo único, dispondo que a “pessoa
econômica organizada, ou uma sociedade empresária, jurídica não se confunde com os seus sócios,
ou seja, a pessoa jurídica que tenha por objeto social associados, instituidores ou administradores” e que a
a exploração de uma atividade produtiva organizada. “autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é um
instrumento lícito de alocação e segregação de riscos,
Em outras palavras, a pessoa física que desenvolve estabelecido pela lei com a finalidade de estimular
uma atividade produtiva pode ser empresário empreendimentos, para a geração de empregos,
individual (titular de empresa individual), nos termos tributo, renda e inovação em benefício de todos”.
do art. 966 do Código Civil. Já a pessoa jurídica pode Esses dispositivos, a nosso sentir, devem ser
ser uma sociedade empresária, porque desenvolve interpretados conforme a Constituição (CF, art. 173),
atividade empresarial301. no sentido de que a pessoa jurídica deve ter uma
Ademais, de acordo com o art. 980-A do CC, o função socioambiental, além de observar as
ordenamento jurídico brasileiro passou a reconhecer disposições legais mínimas de proteção ao trabalho
a empresa individual de responsabilidade limitada, humano.
que “será constituída por uma única pessoa titular da É importante a distinção entre empresa e
totalidade do capital social, devidamente estabelecimento para o direito do trabalho,
integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes porquanto, exemplificativamente, o tempo de serviço
o maior salário mínimo vigente no País”, cujo nome do empregado é contado com base na sua
empresarial deverá ser formado pela inclusão da permanência na empresa (CLT, arts. 4º e 461, § 1º), e
expressão “EIRELI” após a firma ou a denominação não em um de seus estabelecimentos; é lícita a
social da empresa individual de responsabilidade transferência do empregado quando ocorrer extinção
limitada (CC, art. 980-A, § 1º). do estabelecimento em que exercia suas funções
Mas a pessoa natural que constituir EIRELI somente laborais (CLT, art. 469, § 2º).
poderá figurar em uma única empresa dessa
modalidade (CC, art. 980-A, § 2º).
1.2. Cartório não oficializado
O § 3º do art. 980-A do CC permite que a EIRELI
“poderá resultar da concentração das quotas de outra Os servidores dos cartórios oficializados são
modalidade societária num único sócio, servidores públicos que se submetem a concurso
independentemente das razões que motivaram tal público, inexistindo relação empregatícia com a
concentração”. Administração Pública, e sim vínculo de natureza
estatutária (STF-ADI 3.395).
Ademais, o § 5º do art. 980-A do CC dispõe que
poderá ser atribuída à empresa individual de No entanto, existem cartórios não oficializados, mas
responsabilidade limitada constituída para a que também prestam serviços por delegação do
prestação de serviços de qualquer natureza a Poder Público, nos termos do art. 236 da CF, segundo
remuneração decorrente da cessão de direitos o qual “os serviços notariais e de registro são
patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou exercidos em caráter privado, por delegação do Poder
voz de que seja detentor o titular da pessoa jurídica, Público”. Para ser titular desses cartórios não
vinculados à atividade profissional, sendo aplicável à oficializados é preciso ser aprovado em concurso
EIRELI, no que couber, as regras previstas para as público (CF, art. 236, § 3º).
sociedades limitadas (CC, art. 980-A, § 6º).
O art. 21 da Lei 8.935/94 dispõe que o titular dos
Nesse passo, adotando-se a interpretação ampliativa serviços notariais e de registro é responsável pelo
do art. 2º da CLT, tanto o empresário individual gerenciamento administrativo e financeiro, o que
quanto a sociedade empresária podem ser importa reconhecer que é o titular do cartório que se
empregadores. reveste da qualidade de empregador.
O escrevente de cartório extrajudicial (não efeitos da relação de emprego, solidariamente
oficializado) não pode ser tido como servidor responsáveis a empresa principal e cada umas das
estatutário, principalmente quando contratado subordinadas.
diretamente pelo titular do cartório, não tendo o
Estado qualquer responsabilidade pelas obrigações Já o § 2º da Lei 5.889/1973 define o grupo econômico
assumidas pelo titular do cartório não oficializado. É, ou financeiro rural nos seguintes termos:
pois, o titular do cartório o empregador (art. 2º da Sempre que uma ou mais empresas, embora tendo
CLT), respondendo pela serventia extrajudicial, cada uma delas personalidade jurídica própria,
inclusive pelos créditos trabalhistas de seus estiverem sob direção, controle ou administração de
empregados. Nesse sentido: outra, ou ainda quando, mesmo guardando cada uma
RECURSO DE REVISTA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO sua autonomia, integrem grupo econômico ou
TRABALHO. SERVENTUÁRIO DE CARTÓRIO financeiro rural, serão responsáveis solidariamente
EXTRAJUDICIAL. I – O entendimento que prevalece nas obrigações decorrentes da relação de emprego.
nesta Corte é o de que, nos termos do artigo 236 da Octavio Bueno Magano leciona que “o grupo, previsto
Constituição, os serviços notariais e de registro são na Consolidação das Leis do Trabalho, é o grupo
exercidos em caráter privado, por delegação. II – hierarquizado, composto por subordinação, em que
Nesse passo, o titular do cartório, ao contratar e se supõe a existência de uma empresa controladora e
dirigir a prestação do trabalho, equipara-se ao de outra ou outras controladas”302. É o que se
empregador comum e seus empregados estão sujeitos denomina holding company. Acompanham,
ao regime da CLT, mesmo antes do advento da Lei n. majoritariamente, este entendimento Evaristo de
8.935/1994. Arestos. III – recurso de revista conhecido Moraes Filho, Orlando Gomes, José Martins
e provido (TST – RR – 11775-31.2014.5.18.0281 – Rel. Catharino, Barata Silva e outros.
Min. Antonio José de Barros Levenhagen, j.
22.06.2016 – 5ª T. – DEJT 24.06.2016). Corrente minoritária, composta de Russomano,
Arnaldo Süssekind, Délio Maranhão e Pereira Leite,
(...) SERVENTUÁRIO DE CARTÓRIO. REGIME JURÍDICO. sustenta que a expressão empresa principal pode
A relação jurídica havida entre o serventuário e o significar uma pessoa natural, um grupo de acionistas
cartório extrajudicial está sujeita ao regime jurídico da ou uma pessoa jurídica, desde que controlem e
Consolidação das Leis do Trabalho, nos termos do comandem, realmente, um grupo de empresas, não
artigo 236 da Constituição da República, não havendo se exigindo, necessariamente, que a empresa
a possibilidade de se limitar a incidência do regime controladora seja uma sociedade holding company.
jurídico celetista tão somente a partir da opção a que
alude o artigo 48 da Lei n.8.935/94. Agravo de Com o advento da Reforma Trabalhista (Lei
Instrumento a que se nega provimento. (...) (TST – 13.467/2017), houve alteração da definição de grupo
ARR – 1574-58.2011.5.06.0009, Rel. Des. Conv. econômico, como se infere dos §§ 2º e 3º do art. 2º
Marcelo Lamego Pertence, 1ª T., DEJT 11.11.2016). da CLT, in verbis:
Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora § 3º Não caracteriza grupo econômico a mera
cada uma delas, personalidade jurídica própria, identidade de sócios, sendo necessárias, para a
estiverem sob a direção, controle ou administração de configuração do grupo, a demonstração do interesse
outra, constituindo grupo industrial, comercial ou integrado, a efetiva comunhão de interesses e a
qualquer outra atividade econômica, serão, para os atuação conjunta das empresas dele integrantes.” (NR
Como se vê, a Lei da Reforma Trabalhista manteve a •direção, que é a exteriorização do controle e consiste
responsabilidade solidária para fins trabalhistas no poder de subordinar/coordenar pessoas e coisas à
quando houver grupo econômico por subordinação realização dos objetivos do grupo;
ou hierarquizado (vertical) ou grupo econômico por
coordenação ou não hierarquizado (horizontal). Pela •administração, que concerne à ideia de organização
nova lei, no entanto, há mais grupo econômico pela visando a um fim imposto ou disciplinado pela
mera identidade de sócios, ainda que estes sejam empresa administradora.
empresas, pois caberá ao trabalhador, em Outro elemento igualmente importante para
princípio303, provar o fato constitutivo da existência caracterizar o grupo para fins justrabalhistas é a
do interesse integrado, a efetiva comunhão de natureza da atividade por ele desenvolvida, que deve
interesses e a atuação conjunta das empresas ser sempre econômica.
integrantes do alegado grupo econômico.
Assim, não há falar-se em formação de grupo para fins
Parece-nos que a mens legislatoris foi blindar os de existência de empregador único quando se está
grupos econômicos horizontais da responsabilidade diante das figuras previstas no § 1º do art. 2º da CLT,
justrabalhista nos casos em que a relação entre as ou seja, grupo de profissionais liberais, de instituições
empresas é apenas de coordenação ou de gestão, de beneficência, de associações recreativas e de
mantendo-se a independência administrativa entre outras entidades filantrópicas ou sem fins lucrativos,
elas, tal como ocorre com as franquias ou quando como as cooperativas, as associações de moradores
existir uma administração comum a todas as de bairro, as associações sindicais etc.
empresas, especialmente os grupos familiares onde se
verifica a troca de empregados, que passam a ser A Lei 13.467/2019, também chamada de Lei da
utilizados indistintamente por todas ou algumas Liberdade Econômica, restringiu mais ainda a
empresas do grupo, bem como a utilização comum de formação de grupo econômico, uma vez que alterou
materiais, equipamentos, tecnologia etc. disposições do Código Civil (arts. 49-A e 50) para
enaltecer que:
Cinco são os elementos componentes da estrutura do
grupo econômico para fins de responsabilidades •a pessoa jurídica não se confunde com os seus
justrabalhistas: sócios, associados, instituidores ou administradores
(CC, art. 49, caput);
•pluralidade de empresas;
•a autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é um
•autonomia de cada uma delas (personalidades instrumento lícito de alocação e segregação de riscos,
jurídicas próprias); estabelecido pela lei com a finalidade de estimular
•relação entre elas de dominação (direção, controle empreendimentos, para a geração de empregos,
ou administração) da empresa-mãe sobre as demais tributo, renda e inovação em benefício de todos (CC,
participantes (grupo econômico vertical) ou relação art. 49, parágrafo único);
de coordenação quando as empresas guardarem •em caso de abuso da personalidade jurídica,
autonomia (grupo econômico horizontal); caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela
•atividade necessariamente econômica; confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da
parte, ou do Ministério Público quando lhe couber
•solidariedade entre todas elas (consequência jurídica intervir no processo, desconsiderá-la para que os
para o direito do trabalho). efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares de
Dos elementos acima, merece destaque o que diz administradores ou de sócios da pessoa jurídica
respeito à relação de dominação (relação vertical) beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso (CC,
entre as empresas do grupo, o qual se opera por meio art. 50, caput);
de três formas:
•não constitui desvio de finalidade a mera expansão Antes de finalizar este tópico, é importante trazer à
ou a alteração da finalidade original da atividade baila a polêmica sobre a existência do “consórcio de
econômica específica da pessoa jurídica. empregadores urbanos”, pois há lacuna no Direito
brasileiro a respeito dessa figura. Daí a controvérsia
É importante lembrar que o § 1º do art. 8º da CLT jurídica que reina na doutrina sobre a sua real
(com redação dada pela Lei 13.467/2017) manda existência, o que vai depender da viabilidade de
aplicar subsidiariamente o Direito Civil ao Direito do aplicação ou não, por analogia, da Lei 10.256/2011
Trabalho sem exigir compatibilidade principiológica. (que inseriu o art. 25-A na Lei 8.112/91), que instituiu
No entanto, pensamos que tanto o Código Civil contribuição previdenciária sobre as remunerações
quanto a CLT devem ser interpretados conforme a pagas pelo consórcio de empregadores rurais, e da
Constituição, sem prejuízo da aplicação da Teoria do Portaria MTP 671/2021, que considera “consórcio de
Diálogo das Fontes304, ou seja, é factível invocar-se a empregadores rurais a união de produtores rurais,
Teoria Menor do CDC (art. 28, § 5º) para fins de se pessoas físicas, com a finalidade única de contratar,
desconsiderar a personalidade jurídica “sempre que gerir e demitir trabalhadores para prestação de
sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao serviços, exclusivamente, aos seus integrantes”. Nos
ressarcimento de prejuízos causados” aos termos do art. 43 da referida Portaria, “constatada a
trabalhadores. Em sentido contrário, o parágrafo violação de preceito legal pelo consórcio de
único do art. 40 do Decreto 10.854/2021 veda a empregadores rurais, o Auditor-Fiscal do Trabalho
caracterização de grupo econômico pela mera deverá lavrar o competente auto de infração”.
identidade de sócios, hipótese em que será
necessária, para a sua configuração, conforme o
disposto no § 3º do art. 2º da CLT, a demonstração: I –
do interesse integrado; II – da efetiva comunhão de De toda a sorte, surgindo, de fato, grupo de
interesses; e III – da atuação conjunta das empresas empregadores que se associam para contratar
que o integrem. trabalhadores urbanos, cremos que todos os
integrantes do grupo serão solidariamente
No âmbito da administração pública, não haverá responsáveis para fins trabalhistas e socioambientais
formação de grupo com relação aos órgãos da em relação aos trabalhadores contratados por alguns
administração direta, autárquica (pessoa jurídica de ou todos os integrantes do consórcio.
direito público que não visa ao lucro) ou fundacional
Aluysio Sampaio e outros, ressaltando-se, porém, que
na solidariedade trabalhista não há “devedores” – no
2.1. Solidariedade trabalhista sentido estrito do termo – da mesma obrigação, e sim
Como já vimos, a temática da solidariedade sujeitos distintos responsáveis perante eventual
trabalhista entre empresas encontra albergue nos §§ credor de um deles, ou seja, não há debitum senão
2º e 3º do art. 2º da CLT. apenas obligatio, razão pela qual o credor
(empregado) não poderia acionar todas as empresas
Discute-se, em doutrina, se a solidariedade prevista do grupo, mas apenas a que formalmente o
no preceptivo em causa é passiva ou ativa. contratou, salvo quando extinta a relação de
emprego.
Trata-se de discussão importante para que se possa
enfrentar a seguinte indagação: O grupo de empresas É de se ressaltar, contudo, que o § 2º do art. 3º da Lei
pode ser considerado um empregador único? 5.889/73 consagra, a nosso ver, a teoria da
solidariedade passiva, na medida em que dispõe, in
Duas teorias se apresentam: a da solidariedade
verbis:
passiva e a da solidariedade ativa.
Sempre que uma ou mais empresas, embora tendo
A Reforma Trabalhista não se preocupou com este
cada uma delas personalidade jurídica própria,
problema, uma vez que os novos §§ 2º e 3º do art. 2º
estiverem sob direção, controle ou administração de
da CLT são insuficientes para responder à indagação
outra, ou ainda quando, mesmo guardando cada uma
supra.
sua autonomia, integrem grupo econômico ou
financeiro rural, serão responsáveis solidariamente
nas obrigações decorrentes da relação de emprego.
2.1.1. Teoria da solidariedade passiva (grifos nossos)
Para os defensores desta teoria, que é decorrente da Vale dizer, a regra alusiva ao grupo econômico de
teoria dualista do direito, a CLT (art. 2º, § 2º) natureza rural prevê a responsabilidade solidária
estabelece a solidariedade entre os empregadores apenas nas “obrigações” decorrentes da relação
agrupados apenas no que diz respeito às obrigações empregatícia, isto é, os créditos do empregado.
trabalhistas, ou seja, aos créditos do empregado
oriundos da relação empregatícia. A teoria da solidariedade passiva ganha força com a
nova redação dada pela Lei 13.467/2017 ao § 2º do
Lembra Maurício Godinho Delgado que “o claro art. 2º da CLT, segundo o qual as empresas
objetivo da ordem justrabalhista (art. 2º, § 2º, CLT; integrantes do grupo econômico “serão responsáveis
art. 3º, § 2º, Lei 5.589/1973) foi assegurar maior solidariamente pelas obrigações decorrentes da
garantia aos créditos trabalhistas em contexto relação de emprego”.
socioeconômico de crescente despersonalização do
empregador e pulverização dos empreendimentos
empresariais em numerosas organizações
2.1.2. Teoria da solidariedade ativa
juridicamente autônomas”305.
Para a teoria da solidariedade ativa, que encontra
Este tipo de solidariedade resulta da lei, como exigia o
fundamento no monismo jurídico, o grupo econômico
art. 896 do Código Civil (de 1916), o que foi mantido
constitui empregador único, razão pela qual os
pelo art. 265 do Código Civil de 2002.
empregados de qualquer empresa do grupo são, na
Neste caso, o empregado poderá pleitear o verdade, empregados de todo o grupo.
adimplemento das obrigações trabalhistas do
Este raciocínio decorre da interpretação extensiva da
empregador que formalmente o contratou, de todas
expressão “para os efeitos da relação de emprego”,
ou de qualquer outra empresa integrante do grupo.
que estava contida na redação do § 2º do art. 2º da
Acompanham tal entendimento Orlando Gomes, CLT antes da vigência da Lei 13.467/2017.
Cesarino Júnior, Rezende Puech, Antonio Lamarca,
São adeptos desta teoria Arnaldo Süssekind (com a 2003, o que reacende a polêmica em torno da
autoridade de ter sido um dos coautores da CLT), José temática em questão, mormente quanto aos aspectos
Martins Catharino, Mozart Victor Russomano, Evaristo processuais para a verificação da existência do grupo
de Moraes Filho, Octavio Bueno Magano e outros. econômico na fase executória do processo.
Magano306, inclusive, aponta quatro consequências Não obstante, a Súmula 239 do TST reconhece que é
da teoria da solidariedade ativa (também chamada de “bancário o empregado de empresa de
teoria do empregador único): processamento de dados que presta serviço a banco
integrante do mesmo grupo econômico, exceto
•reconhecimento do tempo de serviço prestado a quando a empresa de processamento de dados presta
qualquer das empresas do grupo como tempo único; serviços a banco e a empresas não bancárias do
•unidade do vínculo empregatício307; mesmo grupo econômico ou a terceiros”.
•possibilidade de transferência do empregado de uma Convém lembrar, finalmente, que a OJ 411 da SBDI-
para outra empresa do grupo, observadas as mesmas 1/TST aponta no sentido de que o “sucessor não
restrições impostas ao poder de comando de responde solidariamente por débitos trabalhistas de
qualquer empregador; empresa não adquirida, integrante do mesmo grupo
econômico da empresa sucedida, quando, à época, a
•possibilidade de equiparação salarial entre os empresa devedora direta era solvente ou idônea
empregados de empresas diversas pertencentes ao economicamente, ressalvada a hipótese de má-fé ou
mesmo grupo (no que diverge CATHARINO, in: fraude na sucessão”.
Tratado Jurídico do Salário).
Em síntese, e tendo em vista a nova redação dada
Amauri Mascaro Nascimento308 adverte que o grupo pela Lei 13.465/2017 ao § 2º do art. 2º da CLT, perde
de empresas, em face da nossa lei, não é empregador força a teoria do grupo econômico como empregador
único, a menos que se sustente que o grupo de único (solidariedade ativa).
empresas é, por sua vez, uma empresa. Esse raciocínio
seria de difícil aceitação para o caso, porque a lei Colecionamos outros verbetes que revelam o
expressamente declara que no grupo as empresas caminhar da jurisprudência a respeito da
devem ser autônomas, cada uma tendo personalidade solidariedade trabalhista antes e depois da Lei
jurídica própria (CLT, art. 2º, § 2º). 13.467/2017 (Reforma Trabalhista):
2.1.3 Sociedade de Propósito Específico (SPE) Essas normas estão em harmonia com os princípios da
livre iniciativa e da liberdade de exercício de qualquer
As chamadas Sociedades de Propósito Específico atividade econômica e encontram albergue na própria
(SPE), com essa denominação, só surgiram ordem econômica do Estado Democrático de Direito
expressamente no ordenamento jurídico309 com o brasileiro, como se infere do parágrafo único do art.
advento da Lei 11.079/2004310, cujo CAPÍTULO IV 170 da CF, que assegura “a todos o livre exercício de
(“DA SOCIEDADE DE PROPÓSITO ESPECÍFICO”), art. 9º, qualquer atividade econômica, independentemente
dispõe, in verbis: de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos
previstos em lei”311.
Art. 9º Antes da celebração do contrato, deverá ser
constituída sociedade de propósito específico, Nessa ordem, e demonstrada a licitude de criação de
incumbida de implantar e gerir o objeto da parceria. Sociedade de Propósito Específico, cumpre lembrar
que essas sociedades vêm sendo utilizadas em
§ 1º A transferência do controle da sociedade de
diversas áreas do setor econômico, tanto para
propósito específico estará condicionada à
viabilizar investimentos quanto para a contratação de
autorização expressa da Administração Pública, nos
obras públicas, sendo ainda utilizadas como forma de
termos do edital e do contrato, observado o disposto
outorgar garantias e, na hipótese analisada neste
Parecer, como meio de se atingir um determinado No campo das relações civis, a responsabilidade
resultado prático, que pode ocorrer por meio da objetiva é adotada como exceção no Código Civil,
transferência de parte de seus ativos da empresa em como se vê do seu art. 927, parágrafo único:
crise.
Haverá obrigação de reparar o dano,
Tendo em vista a ausência de definição legal de SPE, independentemente de culpa, nos casos especificados
apresentamos modestamente o nosso conceito, a em lei, ou quando a atividade normalmente
saber: Sociedade de Propósito Específico consiste na desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
união de duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, natureza, risco para os direitos de outrem. (grifos
de direito público ou privado, que, por intermédio de nossos)
um dos tipos societários previstos na legislação civil,
envidam esforços inerentes aos seus objetivos No âmbito das relações consumeristas, no entanto, a
econômicos e sociais para atingir propósitos responsabilidade objetiva é a regra (artigos 12, 13 e
específicos previamente delimitados, por tempo 14, caput, do CDC), sendo a responsabilidade
determinado ou indeterminado. subjetiva exceção, como se deduz do § 4º do art. 14
do CDC:
Remetemos o leitor ao item 4.1.1 infra. No que respeita à responsabilidade do dono da obra
pelas obrigações não adimplidas pelo empreiteiro,
3.2. Responsabilidade do empreiteiro cremos que a mesma, em princípio, poderá ocorrer na
modalidade subsidiária, e, ainda assim, desde que:
Outra questão que merece destaque é a prevista no
art. 455 da CLT, que estabelece a responsabilidade •o dono da obra seja pessoa cuja atividade econômica
trabalhista entre empreiteiro principal e tenha por escopo a construção; ou
subempreiteiro.
•caso não o seja, se ao tempo da celebração do
Tal responsabilidade é solidária ou subsidiária? contrato de empreitada o empreiteiro era
notoriamente inidôneo. É que aqui restaria
Há divergência doutrinária a respeito.
caracterizada fraude à aplicação das disposições debates dos diversos atores da comunidade jurídica
consolidadas (CLT, art. 9º). justrabalhista, como professores, magistrados,
membros do MPT, advogados e acadêmicos de
Se o dono da obra e o empreiteiro tiverem direito. Na verdade, o Enunciado 13 em questão
convencionado a responsabilidade solidária pelas revela uma nova tendência da constitucionalização do
obrigações trabalhistas, prevalecerá este acordo (CC, direito do trabalho e, por isso, deve ser prestigiado,
art. 265). porquanto harmoniza a legislação trabalhista e
É importante lembrar que, de acordo com a OJ 191 da civilista à luz dos princípios fundamentais do Estado
SBDI-1/TST, “Diante da inexistência de previsão legal Democrático de Direito, notadamente os princípios da
específica, o contrato de empreitada de construção dignidade da pessoa humana e do valor social do
civil entre o dono da obra e o empreiteiro não enseja trabalho.
responsabilidade solidária ou subsidiária nas
obrigações trabalhistas contraídas pelo empreiteiro,
salvo sendo o dono da obra uma empresa construtora 4. SUCESSÃO DE EMPREGADORES
ou incorporadora”.
A sucessão trabalhista, também chamada de sucessão
De tal arte, segundo a OJ 191, a responsabilidade do de empresas ou novação subjetiva do contrato de
dono da obra somente ocorrerá se ele for empresa do trabalho, está regulada nos arts. 10 e 448 da CLT, que
ramo da construção civil. Dito doutro modo, no dispõem textualmente:
contratos de empreitada em que o dono da obra for
pessoa jurídica que não explore atividade econômica Art. 10. Qualquer alteração na estrutura jurídica da
no ramo da construção civil ou for pessoa física ou empresa não afetará os direitos adquiridos por seus
ente despersonalizado equiparável a empregador, não empregados.
haverá lugar para a responsabilidade solidária ou Art. 448. A mudança na propriedade ou na estrutura
subsidiária. jurídica da empresa não afetará os contratos de
Mais amplo, porém, é o entendimento adotado pelo trabalho dos respectivos empregados.
Enunciado 13, aprovado na 1ª Jornada de Direito Esses preceitos normativos guarnecem os direitos
Material e Processual do Trabalho (Brasília-DF, justrabalhistas dos empregados na ocorrência de
2007)314, in verbis: novação subjetiva parcial do contrato de trabalho
Dono da obra. Responsabilidade. Considerando que a (mudança do proprietário da empresa) ou de
responsabilidade do dono da obra não decorre mudança na estrutura jurídica da empresa (fusão,
simplesmente da lei em sentido estrito (Código Civil, incorporação ou fusão).
arts. 186 e 927), mas da própria ordem constitucional A doutrina tradicional sustenta que a sucessão
no sentido de se valorizar o trabalho (CF, art. 170), já trabalhista encontra residência nos princípios da
que é fundamento da Constituição a valorização do continuidade da empresa e da intangibilidade do
trabalho (CF, art. 1º, IV), não se lhe faculta beneficiar- contrato de trabalho.
se da força humana despendida sem assumir
responsabilidade nas relações jurídicas de que A nosso sentir, em função do fenômeno da
participa. Dessa forma, o contrato de empreitada constitucionalização do direito do trabalho e do
entre o dono da obra e o empreiteiro enseja processo do trabalho, além dos referidos princípios
responsabilidade subsidiária nas obrigações infraconstitucionais, a sucessão trabalhista há de ser
trabalhistas contraídas pelo empreiteiro, salvo apenas reinterpretada à luz dos princípios fundamentais do
a hipótese de utilização da prestação de serviços Estado Democrático de Direito, especialmente o da
como instrumento de produção de mero valor de uso, dignidade da pessoa humana, da cidadania e dos
na construção ou reforma residenciais. valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa (CF, art.
1º, II, III e IV).
O verbete acima transcrito não é fonte
jurisprudencial, mas pode ser invocado como fonte Tais princípios fundamentais inspiram outros
doutrinária, já que foi fruto de intensos e profícuos princípios constitucionais específicos da ordem
justrabalhista, como o princípio da relação José Augusto Rodrigues Pinto assinala que a situação
empregatícia protegida contra a despedida arbitrária de mudança de propriedade reveste-se de maior
ou sem justa causa (CF, art. 7º, I), e os princípios complexidade e exige reflexões. A primeira delas, de
específicos da ordem econômica, como o da função que a personalização da empresa é tolerada por
social da propriedade (e da empresa) e da busca do simples conveniência jurídica, mas não corresponde a
pleno emprego (CF, art. 170, II e VIII). atribuir-lhe personalidade. A simples proclamação da
mudança de propriedade coloca a empresa no seu
Para a eficácia jurídica dos referidos princípios preciso lugar de objeto e não de sujeito de direito (...).
constitucionais fundamentais e específicos, a Carta O princípio da continuidade da empresa comporta-se
Republicana de 1988 consagrou outros princípios de como um fator de tranquilidade da relação individual
natureza instrumental/processual, como o do efetivo de emprego, em sua duração, e do empregado, no
acesso à justiça, do devido processo legal (justo) e da mister de identificar e acionar, se necessário, quem
duração razoável do processo (CF, art. 5º, XXXV, LIV e deva responder pelas obrigações do contrato. É a
LXXVIII). todas as luzes, um sólido complemento do princípio
De tal arte, podemos deduzir do sistema jurídico da proteção e uma projeção para dentro da empresa
brasileiro que a preservação da relação empregatícia e do princípio da continuidade da relação de
dos direitos sociais dos trabalhadores em toda a sua emprego316.
plenitude nos casos de sucessão trabalhista encontra- Valentin Carrion assegura que, enquanto o art. 10 visa
se em sintonia com valores e princípios consagrados à proteção dos direitos do empregado, o art. 448 leva
tanto no direito do trabalho como – e principalmente em conta o contrato e, portanto, ambas as partes. O
– na Constituição da República, o que exige do contrato de trabalho é intuitu personae (ou
intérprete e do aplicador do direito uma nova cultura infungível) com referência ao empregado (art. 2º),
a respeito da proteção dos contratos de trabalho mas não quanto ao empregador (art. 448); assim, o
tanto diante da forma tradicional do instituto da empregado não pode recusar-se a trabalhar para o
sucessão trabalhista (CLT, arts. 10 e 448) quanto do novo empregador, salvo em situação absolutamente
novo “dinamismo próprio do sistema econômico excepcional (...). O legislador, ao redigir os arts. 10 e
contemporâneo, em que se sobreleva um ritmo 448, não pretendeu eximir de responsabilidade o
incessante de modificações empresariais e empregador anterior, liberando-o de suas obrigações,
interempresariais”315. de forma imoral. A lei simplesmente concedeu ao
4.1. Sucessão trabalhista e despersonalização do empregado a garantia de voltar-se contra quem
empregador possuir a empresa para facilitar-lhe e garantir-lhe o
recebimento de seus créditos; não há obstáculo na lei
Na perspectiva do direito do trabalho brasileiro, que impeça ao empregado propor ação contra quem
sucessão é um instituto vinculado ao fenômeno da foi seu empregador. Entretanto, essa conclusão não
despersonalização do empregador, segundo o qual o tem apoio jurisprudencial317.
contrato de trabalho é intuitu personae em relação ao
empregado, e não ao empregador. Noutro falar, o Maurício Godinho Delgado obtempera que a
empregado fica vinculado à empresa, e não à pessoa “característica da despersonalização da figura do
física ou jurídica do seu proprietário ou possuidor. empregador consiste na circunstância de autorizar a
ordem justrabalhista a plena modificação do sujeito
Não é por outra razão que o art. 2º da CLT define passivo da relação de emprego (o empregador), sem
empregador como “a empresa, individual ou coletiva, prejuízo da preservação completa do contrato
que, assumindo os riscos da atividade econômica, empregatício com o novo titular”318.
admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de
serviço”. Para esse último autor – com razão –, a
despersonalização do empregador tem “crucial
Há, porém, divergência doutrinária acerca da importância na estrutura e nos efeitos de relevante
interpretação do art. 2º da CLT, porquanto alguns instituto do Direito Individual do Trabalho: a sucessão
autores preferem falar em sucessão de empregador, e trabalhista (CLT, arts. 10 e 448)”319.
não de empresa.
Na verdade, o fenômeno da despersonalização do Ainda no tocante à sucessão, é importante lembrar a
empregador, que vem sendo utilizado em larga escala diferença entre o empresário individual e a sociedade
na doutrina e jurisprudência justrabalhistas, decorre empresária. Esta é uma pessoa jurídica que possui
do fato de que o contrato de trabalho deixou de ser patrimônio próprio, distinto do patrimônio dos sócios
intuitu personae com relação à pessoa física ou que a integram. Dessa forma, em princípio, os bens
jurídica do detentor eventual da empresa. Vale dizer, dos sócios ficam imunes no caso de execução das
o contrato de trabalho – e, lógico, o empregado – fica dívidas da sociedade, ou seja, os bens dos sócios
vinculado diretamente à empresa, à organização, ao somente serão alcançados depois de executados os
complexo empresarial, independentemente de quem bens da sociedade empresária (art. 1.024 do Código
seja o seu proprietário ou possuidor. Civil). Já o empresário individual, por não gozar desse
privilégio da separação patrimonial, responderá com
Assim, para efeito de sucessão trabalhista, o contrato todos os seus bens, presentes e futuros, pelo risco da
de trabalho permanece atrelado diretamente à atividade econômica exercida.
empresa, de maneira que as alterações ocorridas em
relação ao seu proprietário (ou possuidor) ou à sua Em síntese, na sociedade empresária a
estrutura jurídica, não afetam a relação empregatícia, responsabilidade dos sócios é subsidiária e quando se
o que significa dizer que o nosso ordenamento tratar de empresário individual a sua responsabilidade
jurídico protege os direitos adquiridos, presentes e é direta.
futuros dos trabalhadores em suas relações jurídicas
com a empresa. Nesse sentido, o TST já deixou Entretanto, é importante lembrar que, em se tratando
assentado que, mesmo no caso de cisão parcial, a de EIRELI, isto é, de empresa individual de
responsabilidade pelos débitos trabalhistas recai responsabilidade limitada, a Medida Provisória
sobre o sucessor, independentemente da avença 881/2019 inseriu no art. 980-A do CC o § 7º, segundo
estabelecida entre sucedido e sucessor: o qual: “Somente o patrimônio social da empresa
responderá pelas dívidas da empresa individual de
Sucessão trabalhista. Cisão parcial. 1. Na hipótese de responsabilidade limitada, hipótese em que não se
sucessão de empresas, a responsabilidade quanto a confundirá, em qualquer situação, com o patrimônio
débitos e obrigações trabalhistas recai sobre o do titular que a constitui, ressalvados os casos de
sucessor, nos termos dos arts. 10 e 448 da CLT, em fraude”.
face do princípio da despersonalização do
empregador. 2. Irrelevante o vínculo estabelecido 4.1.1. Sucessão trabalhista e responsabilidade do
entre sucedido e sucessor, bem como a natureza do sócio retirante
título que possibilita ao titular do estabelecimento a A Lei 13.467/2017 inseriu na CLT o art. 10-A, que
utilização dos meios de produção nele organizados. 3. dispõe, in verbis:
Dá-se a sucessão de empresas nos casos em que,
mediante Protocolo e Justificação da Cisão e Art. 10-A. O sócio retirante responde
Incorporação, o Poder Público cede parte do seu subsidiariamente pelas obrigações trabalhistas da
patrimônio e a força de trabalho de empregados ao sociedade relativas ao período em que figurou como
sucedido que continua a exploração do negócio, sem sócio, somente em ações ajuizadas até dois anos
solução de continuidade. 4. Recurso de revista de que depois de averbada a modificação do contrato,
não se conhece (TST-RR-566.232/99.3 – 1ª T. – Rel. observada a seguinte ordem de preferência:
Min. João Oreste Dalazen – DJ 03.06.2005).
I – a empresa devedora;
Além disso, o fenômeno da despersonalização do
II – os sócios atuais; e
empregador tem grande utilidade para a aplicação do
instituto da desconsideração da personalidade jurídica III – os sócios retirantes.
da empresa para fins de responsabilização subsidiária
dos sócios da entidade societária, quando restar Parágrafo único. O sócio retirante responderá
frustrada a execução trabalhista por ausência de bens solidariamente com os demais quando ficar
da empresa executada. comprovada fraude na alteração societária decorrente
da modificação do contrato.
Esse novel dispositivo, nitidamente relacionado com •não haja solução de continuidade na prestação de
os institutos da desconsideração da personalidade da serviços.
pessoa jurídica e da sucessão trabalhista, tem o nítido
propósito de blindar, total ou parcialmente, os bens E prossegue o referido autor:
dos sócios que se retiram da empresa empregadora Não sendo o contrato de trabalho, em geral, intuitu
em relação às obrigações de natureza trabalhista. personae em relação ao empregador, nada impede,
Na verdade, a nova regra, contrariando a juridicamente, a substituição de uma pessoa por
jurisprudência atual e dominante, institui uma nova outra, nessa qualidade. Mas o estabelecimento tem
modalidade de responsabilidade subsidiária do sócio um conceito unitário, sendo que o novo empregador
retirante restrita ao período em que figurou como responde pelos contratos de trabalho concluídos pelo
sócio e, ainda assim, desde que a ação trabalhista antigo, porque lhe adquiriu o estabelecimento como
proposta pelo empregado em face da empresa organização produtiva, como um bem que resulta do
empregadora tenha sido ajuizada até dois anos depois conjunto de vínculos existentes entre os fatores de
de averbada a modificação do contrato social da produção, um desses, o trabalho321.
empresa no órgão competente. Alteração jurídica da empresa é a modificação de sua
Além disso, o parágrafo único do art. 10-A da CLT constituição e funcionamento como pessoa jurídica
estabelece a responsabilidade solidária do sócio detentora de direitos e obrigações. São exemplos:
retirante nas hipóteses de fraude comprovada na •fusão (duas ou mais empresas se reúnem e formam
alteração do quadro societário da empresa uma nova empresa, desaparecendo as anteriores);
empregadora.
•incorporação (uma empresa é adquirida por outro
É importante lembrar o que propõe o Enunciado 13 empresário e desaparece do mundo jurídico);
aprovado na 2ª Jornada de Direito Material e
Processual do Trabalho, in verbis: •transformação (ocorre alteração da estrutura jurídica
da empresa, como, por exemplo, uma sociedade
Enunciado 13 – SUCESSÃO TRABALHISTA anônima que se transforma em sociedade por cotas).
Sucessão trabalhista. a teor do art. 1.146 do Código A sucessão trabalhista é admitida pela doutrina e
Civil, aplicável ao Direito do Trabalho (CLT, art. 8º), é jurisprudência nas seguintes hipóteses: a) entre
cabível a responsabilidade solidária do sucedido e do arrendatários que se substituem na exploração do
sucessor pelos créditos trabalhistas constituídos antes mesmo serviço; b) entre pessoas de direito público e
do trespasse do estabelecimento, privado; c) na aquisição de acervo de massa falida.
independentemente da caracterização de fraude.
A simples venda de máquinas ou coisas singulares não
4.2. Requisitos da sucessão trabalhista tem o condão de caracterizar a sucessão trabalhista,
Não é unívoco o entendimento a respeito dos uma vez que esta pressupõe a transferência de uma
requisitos da sucessão trabalhista. Podemos unidade produtiva, ainda que apenas uma parte de
identificar uma vertente clássica, que utiliza o direito um estabelecimento, desde que tenha status de uma
individual do trabalho em si, e uma vertente unidade econômica.
contemporânea, que utiliza a moderna hermenêutica É possível a sucessão num só estabelecimento da
constitucional. empresa, desde que seja um núcleo diferenciado,
4.2.1. Vertente clássica capaz de sobrevivência autônoma juridicamente,
como, por exemplo, um escritório de advocacia (com
Capitaneando a vertente clássica, Délio Maranhão320 advogados empregados da própria empresa) que é
leciona que são dois os requisitos para que ocorra a substituído por outro escritório.
sucessão trabalhista, a saber:
A sucessão trabalhista não exige formalidade especial.
•unidade econômico-jurídica passe de um para outro Para a sua prova, levar-se-ão em consideração os
titular; elementos que integram a atividade empresarial:
ramo do negócio, ponto, clientela, móveis, máquinas, de sucessão trabalhista, tanto nos aspectos materiais
organização e empregados. quanto processuais.
Ao assegurar os direitos adquiridos dos empregados, Essas novas situações no plano fático e jurídico têm
em caso de sucessão, a CLT tem por objetivo: levado a doutrina e a jurisprudência a promoverem
uma reinterpretação dos arts. 10 e 448 da CLT, de
•a responsabilidade do sucessor, mesmo que os atos modo a ampliar o conceito e o objeto do instituto da
sejam do tempo anterior, não obstante possa este sucessão trabalhista no sentido de dar a máxima
voltar-se contra o empregador sucedido em ação efetividade aos direitos sociais dos trabalhadores,
regressiva perante a Justiça comum; independentemente da continuidade fática da
•a continuidade da relação de emprego; prestação dos serviços empregatícios.
•os direitos adquiridos, ou em vias de aquisição Maurício Godinho Delgado faz a seguinte advertência:
(tempo de serviço, estabilidade, férias, jornada, Por essa nova interpretação, o sentido e os objetivos
indenizações etc.). do instituto sucessório trabalhista residem na garantia
Eis um julgado que espelha a vertente tradicional: de que qualquer mudança intra ou interempresarial
não poderá afetar os contratos de trabalho (CLT, arts.
Sucessão trabalhista. Contrato de compra e venda de 10 e 448). O ponto central do instituto passa a ser
ativo e assunção de passivo e outras avenças. 1. Na qualquer mudança intra ou interempresarial
hipótese de sucessão de empresas, a responsabilidade significativa que possa afetar os contratos
quanto a débitos e obrigações trabalhistas recai sobre empregatícios. Verificada tal mudança, operar-se-ia a
o sucessor, nos termos dos arts. 10 e 448 da CLT, em sucessão trabalhista – independentemente da
face do princípio da despersonalização do continuidade efetiva da prestação laborativa322.
empregador. 2. Irrelevante o vínculo estabelecido
entre sucedido e sucessor, bem como a natureza do De tal arte, na linha da vertente contemporânea,
título que possibilitou ao titular do estabelecimento a haverá sucessão trabalhista e, portanto, estarão
utilização dos meios de produção nele organizados. 3. protegidos os contratos de trabalho, não apenas nas
Dá-se a sucessão de empresas nos contratos de hipóteses já consagradas pela vertente tradicional,
compra e venda de ativo e assunção de passivo e mas também quando a alienação ou transferência de
outras avenças, mediante o qual o contratante ocupa- parte significativa dos estabelecimentos ou da
se da exploração do negócio, operando-se a empresa implicar prejuízos diretos ou indiretos para
transferência da unidade econômico-jurídica, bem os trabalhadores da empresa originalmente
como a continuidade na prestação de serviços. 4. contratados. É o que ocorre, por exemplo, quando há
Recurso de revista de que não se conhece, no separação de bens, obrigações e relações jurídicas de
particular (TST-RR 708619-45.2000.5.01.5555 – Rel. um complexo empresarial com o objetivo de transferir
Min. João Oreste Dalazen – 1ª T. – DJ 06.05.2005). a sua parte “saudável” para outra empresa, isto é, dos
seus ativos financeiros, clientela, créditos e direitos,
. permanecendo os trabalhadores vinculados à parte
“empobrecida” da empresa, sendo que esta não tem
4.2.2. Vertente contemporânea
como honrar as dívidas trabalhistas ou a continuidade
A imprecisão terminológica dos arts. 10 e 448 da CLT, dos contratos de trabalho.
aliada aos fatores e valores vinculados direta ou
Para a vertente contemporânea, pois, para que haja
indiretamente ao que se convencionou chamar de
sucessão trabalhista, é condição suficiente a
“globalização econômica”, tais como a desestatização,
transferência da titularidade de uma unidade
a privatização, a reengenharia, a reestruturação do
econômico-jurídica da empresa, independentemente
mercado financeiro, a flexibilização, a terceirização
da continuidade da prestação de serviços
etc., implicou o surgimento de novas formas de
empregatícios.
modificações das estruturas jurídicas das empresas
que inexoravelmente alcançam a concepção clássica Todavia lembra Maurício Godinho Delgado:
Não será, pois, toda e qualquer transferência proteção ao credor hipossuficiente e, em
interempresarial que, isoladamente, será apta a consequência, não se exige formalidade especial para
provocar sucessão trabalhista. Se ela vier sua demonstração. Destarte, a alteração do sujeito de
acompanhada da continuidade da prestação direito localizado no polo passivo do contrato (o
laborativa para o novo titular, ocorrerá, sim, é claro, a empregador) não tem o condão de afetar o elemento
sucessão (vertente tradicional). Porém, não se objetivo do pacto, considerando os princípios da
verificando o segundo requisito, é preciso que se trate intangibilidade objetiva do contrato empregatício, da
de transferência de universalidade empresarial que despersonalização da figura do empregador e da
seja efetivamente apta a afetar os contratos de continuidade da relação empregatícia. Por
trabalho (sob pena de se estender em demasia o conseguinte, não vinga a tese de ilegitimidade passiva
instituto sucessório, enxergando-o em qualquer ad causam, sob o argumento de que não fez parte da
negócio jurídico interempresarial). Conforme já relação processual na presente demanda, o que
exposto, não será toda transferência intraempresarial violaria o seu direito de defesa, pois a sucessora
que propiciará a sucessão de empregador... mas recebe o processo no estado em que se encontra.
somente aquela transferência que afetar de modo Ademais, a partir do momento em que ingressou no
significativo as garantias anteriores do contrato de polo passivo, em respeito ao devido processo legal,
emprego323. todos os meios de defesa e recursos próprios foram
oportunizados. Cessão do uso da marca comercial.
Parece-nos, porém, que há espaço para a Sucessão trabalhista. Na hipótese de cessão de uso da
interpretação dos arts. 10 e 448 da CLT conforme a marca comercial, resta caracterizada a ocorrência de
Constituição (art. 170, III, segundo o qual a ordem sucessão trabalhista, já que a “marca” é o maior
econômica, fundada na valorização do trabalho patrimônio da empresa. Tal entendimento é reforçado
humano e na livre-iniciativa, tem por fim assegurar a quando a empresa sucedida não permanece com
todos existência digna, conforme os ditames da justiça patrimônio suficiente para garantir a satisfação do
social, observados, dentre outros, o princípio da crédito trabalhista (TRT 17ª R., AP 192500-
função social da propriedade), de modo a reconhecer 40.2004.5.17.0007, 2ª T., Rel. Des. Carlos Henrique
a existência de sucessão trabalhista sempre que a Bezerra Leite, DEJT 21.07.2010).
transferência da titularidade ou da reestruturação
jurídica da empresa ou de qualquer dos seus Colacionamos outras ementas sobre sucessão
estabelecimentos ou de seus ativos financeiros, trabalhista:
clientela ou demais bens materiais ou imateriais
afetar, direta ou indiretamente, a continuidade da (...) Recurso de revista. Alteração na estrutura jurídica
relação empregatícia ou os direitos dos trabalhadores em face da alienação total das cotas da empresa.
originariamente contratados. Nesse sentido, é a OJ Sucessão. Responsabilidade subsidiária. Limites. De
261 da SBDI-1/TST, in verbis: acordo com o quadro fático delineado pelo Regional ,
a segunda Reclamada era uma das sócias da
BANCOS. SUCESSÃO TRABALHISTA. As obrigações operadora minerária no Estado do Amapá (Anglo
trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os Ferrous Amapá Mineração Ltda.), até novembro de
empregados trabalhavam para o banco sucedido, são 2013, quando vendeu a totalidade de suas cotas para
de responsabilidade do sucessor, uma vez que a este o grupo Zamin, primeira Reclamada, resultando,
foram transferidos os ativos, as agências, os direitos e inclusive, em uma mudança de denominação
deveres contratuais, caracterizando típica sucessão empresarial para Zamin Amapá Mineração S.A., razão
trabalhista. pela qual se conclui que houve alteração na estrutura
jurídica da empresa e, por consequência, a sucessão
Em um julgado, reconhecemos a existência de de empresas na forma dos arts. 10 e 448 da CLT. Em
sucessão pela simples cessão de uso de marca acréscimo, registrou o Regional que o contrato de
empresarial: trabalho do Reclamante vigorou de 16.02.2014 a
Preliminar de ilegitimidade passiva ad causam. 27.02.2015, isto é, após a modificação jurídica
Sucessão trabalhista. A sucessão trabalhista, à luz dos ocorrida em novembro de 2013. Em vista disso, não se
arts. 2º e 448 da CLT, afigura-se como um instituto de está a falar em despersonalização do empregador ou
em inalterabilidade do contrato de trabalho, uma vez •Desmembramento de Estado ou Município, pois, nos
que não havia contrato de trabalho anterior à termos da OJ 92 da SBDI-1 do TST: “Em caso de
sucessão ocorrida, razão pela qual inaplicáveis, ao criação de novo município, por desmembramento,
caso em exame, como fez o Regional, as disposições cada uma das novas entidades responsabiliza-se pelos
contidas no artigo 1.032 do Código Civil, uma vez que direitos trabalhistas do empregado no período em
o sócio retirante responde, ainda pelo prazo de 2 anos que figurarem como real empregador”.
após a sua saída, pelas obrigações contraídas à época
em que era sócio, o que não ocorreu no caso, visto
que o contrato de trabalho foi celebrado após a saída 4.4. Sucessão trabalhista e a nova Lei de Falências e
da Recorrente do quadro societário. Desse modo, Recuperação de Empresas
mesmo que se mitigue o entendimento de que a
empresa sucessora é a única responsável pelos Fixemos, previamente, os conceitos.
débitos trabalhistas reconhecidos, não há respaldo à
Falência, segundo Maximilianus Führer, “é um
responsabilização da ora Recorrente, visto não ter se
processo de execução coletiva, em que todos os bens
beneficiado da força produtiva do Reclamante.
do falido são arrecadados para uma venda judicial
Recurso de Revista conhecido e provido (TST-ARR
forçada, com a distribuição proporcional do ativo
23098920155080205, Rel. Min. Maria de Assis Calsing,
entre os credores”324.
4ª T., DEJT 16.03.2018).
Recuperação (judicial e extrajudicial) é instituto
Agravo de petição. Sucessão de empregadores. O
relativamente novo no direito brasileiro, pois foi
instituto da sucessão no direito do trabalho é forma
criado pela Lei 11.101/2005, que, em seu art. 47,
de prestigiar o escopo protetor em relação ao
dispõe que a
trabalhador, através dos princípios da continuidade na
prestação de serviços, da intangibilidade do contrato recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a
de trabalho e da despersonalização do empregador, superação da situação de crise econômico-financeira
contanto que haja alteração na titularidade do do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte
empreendimento, a que título for (gratuito ou produtora, do emprego dos trabalhadores e dos
oneroso, público ou privado, permanente ou interesses dos credores, promovendo, assim, a
provisório), e que haja continuidade no exercício da preservação da empresa, sua função social e o
mesma atividade econômica. Assim, pouco importa a estímulo à atividade econômica.
alteração da natureza jurídica da empresa, conforme
estabelece o artigo 10 da CLT ou da sua titularidade Nos termos do art. 141, II, § 2º, da Lei 11.101/2005,
(artigo 448 da CLT), o sucessor responderá por todos
Art. 141. Na alienação conjunta ou separada de ativos,
os créditos trabalhistas dos empregados (TRT 1ª R. –
inclusive da empresa ou de suas filiais, promovida sob
AP 00008465220115010301 – Rel. Des. Jose Antonio
qualquer das modalidades de que trata este artigo:
Piton – 2ª T. – DEJT 18.05.2018).
(...) II – o objeto da alienação estará livre de qualquer
ônus e não haverá sucessão do arrematante nas
4.3. Restrições à sucessão trabalhista obrigações do devedor, inclusive as de natureza
tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as
Não ocorre a sucessão trabalhista nas seguintes decorrentes de acidentes de trabalho.
hipóteses:
(...) § 2º Empregados do devedor contratados pela
•Morte do empregador pessoa física ou constituído arrematante serão admitidos mediante novos
em empresário individual ou empresa individual de contratos de trabalho e o arrematante não responde
responsabilidade limitada (EIRELI, art. 980-A do CC), por obrigações decorrentes do contrato anterior.
sendo, porém, facultado ao trabalhador, em caso de
continuidade da atividade econômica pelos Vê-se, então, que a mudança parcial da propriedade
sucessores, dar por extinto o contrato de trabalho da empresa em recuperação judicial, ou seja, de seus
(CLT, art. 483, § 2º); ativos, não implica sucessão trabalhista do adquirente
(arrematante), sendo certo que os empregados do figura do empregado, indo em contradição efetiva ao
devedor (empresa sucedida) que desejarem continuar que dispõe o art. 2º da CLT (...)328.
trabalhando terão que firmar novos contratos de
trabalho, e o arrematante não responderá por Na recuperação judicial, o art. 60 e seu parágrafo
obrigações decorrentes do contrato anterior. único da Lei 11.101/2005 dispõem, in verbis:
Reconhecida, pois, a antinomia entre essa nova regra Art. 60. Se o plano de recuperação judicial aprovado
da Lei 11.101 e os arts. 10 e 448 e 449 da CLT, indaga- envolver alienação judicial de filiais ou de unidades
se: qual delas deve prevalecer? produtivas isoladas do devedor, o juiz ordenará a sua
realização, observado o disposto no art. 142 desta Lei.
Para Gustavo Filipe Barbosa Garcia325, o art. 141 da
Lei em questão prevalece sob os artigos celetistas, Parágrafo único. O objeto da alienação estará livre de
pois é uma regra específica, ou seja, a regra especial qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante
prevalece sobre a regra geral. nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza
tributária, observado o disposto no § 1º do art. 141
Maurício Godinho Delgado326, na mesma linha, desta Lei.
ressalta, inclusive, que a nova regra é uma das
exceções às previstas nos arts. 10 e 448 da CLT. Como a norma em tela não se refere expressamente à
sucessão trabalhista, parece-nos que a Justiça do
Trabalho continua competente em razão da matéria
(CF, art. 114, I), no caso de recuperação judicial.
Marcelo Papaléo destaca, ainda, que a Lei
11.101/2005 Todavia, o STF (ADI 3.934; RE 583.955-9/RJ, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski) exclui a aplicação da sucessão
apresenta grandes transformações em relação à trabalhista na hipótese de alienação de ativos da
legislação revogada, pois estabelece a extinção do empresa em processo de recuperação judicial. Logo,
instituto da concordata e o surgimento de um novo, a na visão do STF a Justiça do Trabalho é incompetente
recuperação da empresa, com objetivo da para apreciar a questão relativa à sucessão trabalhista
manutenção da atividade produtiva das empresas que e ao prosseguimento do processo em face da empresa
estão em dificuldades econômicas [...] a alteração do em recuperação judicial.
enfoque, pois na legislação revogada o fim era da
liquidação do patrimônio do devedor insolvente, no Na linha do STF, o TST passou a adotar o seguinte
caso o comerciante, para pagamento dos credores (...) entendimento:
Agora, há interesse na manutenção da atividade
produtiva, pois se tem como visão os benefícios desta
para toda a sociedade e, no caso da impossibilidade RECURSO DE REVISTA. RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
da recuperação, procede-se à liquidação do ativo com ALIENAÇÃO DA UNIDADE PRODUTIVA. SUCESSÃO
a falência...327. TRABALHISTA. GRUPO ECONÔMICO.
Em sentido contrário, Marcelo Roberto Bruno Válio RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. O Plenário do
advoga a prevalência das normas da CLT, porquanto Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI n.
estas têm por escopo a efetivação dos direitos 3.934/DF, declarou a constitucionalidade dos arts. 60,
fundamentais dos trabalhadores, encontrando-se, parágrafo único, e 141, II, da Lei n. 11.101/05, os quais
inclusive, em sintonia com o princípio da proteção. estabelecem que o objeto da alienação, aprovado em
Destaca, ainda, esse autor que, plano de recuperação judicial, estará livre de qualquer
ônus e não haverá sucessão do arrematante nas
mesmo tendo a lei o objetivo de proteção à empresa, obrigações do devedor, inclusive as de natureza
a mesma acabou adentrando em terreno estranho à tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as
sua competência, pois está infringindo o que dispõem decorrentes de acidente de trabalho. No mesmo
os arts. 10 e 448 da CLT [...] a lei de falências e de sentido é firme o posicionamento desta Corte
recuperação de empresas, acabou transferindo o ônus Superior de que a alienação de unidade produtiva de
de quem assume o risco da atividade empresarial à empresa em processo de recuperação judicial não
acarreta a sucessão dos créditos trabalhistas pela Consolidação, as obrigações trabalhistas, inclusive as
arrematante, sendo indevida a atribuição de contraídas à época em que os empregados
responsabilidade solidária à empresa que adquiriu a trabalhavam para a empresa sucedida, são de
unidade produtiva. Precedentes. Recurso de revista responsabilidade do sucessor.
conhecido e provido, no particular (TST-RR
486009720075010052, Rel. Walmir Oliveira da Costa, Parágrafo único. A empresa sucedida responderá
1ª T., DEJT 29.03.2019). solidariamente com a sucessora quando ficar
comprovada fraude na transferência.
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. RECUPERAÇÃO O caput do novel art. 448-A da CLT utiliza como
JUDICIAL. SUCESSÃO TRABALHISTA. A Corte de expressões sinônimas a “sucessão empresarial” e a
origem, tendo em vista a decisão proferida pelo STF “sucessão de empregadores”, mas já alertamos em
na ADI 3.934/DF, consignou a inexistência de sucessão linhas transatas que o Direito do Trabalho brasileiro
trabalhista decorrente da alienação da Unidade adotou a teoria da despersonalização do empregador,
Produtiva da VIT Serviços Auxiliares de Transportes ou seja, a sucessão é de empresários, e não de
Aéreos Ltda. (em recuperação judicial), ocasião em empregadores, pois empregador, na linguagem do art.
que afastou a responsabilidade solidária da segunda 2º da CLT, é a empresa.
reclamada quanto aos créditos trabalhistas vindicados Vê-se que o legislador inovou ao dispor que a
na presente demanda. Diante desse contexto, não se sucessão trabalhista, em princípio, implica
verifica ofensa à literalidade dos artigos 10 e 448 da responsabilidade apenas do sucessor pelas obrigações
CLT. Inviável, outrossim, o conhecimento do recurso trabalhistas, ainda que estas tenham sido contraídas à
de revista por contrariedade às Súmulas n. 47 e 448 época em que os empregados prestavam serviços
do TST, haja vista que Regional limitou-se a excluir a para a empresa sucedida.
responsabilidade solidária pelos créditos trabalhistas
postulados nessa lide, não emitindo tese Trata-se de clara violação ao princípio da vedação do
especificamente a respeito do adicional de retrocesso social, na medida em que fragiliza o direito
insalubridade, tampouco foi instado a fazê-lo do trabalhador em ter a segurança de receber seus
mediante a oposição de embargos declaratórios. créditos, pois o empresário ou a sociedade empresária
Logo, em face da ausência de prequestionamento, sucedida não será mais responsável pelas obrigações
incide o óbice da Súmula n. 297 do TST. Ileso o artigo trabalhistas.
5º, XXXV e LV, da CF, porque o devido processo legal
É verdade que o parágrafo único do novel art. 448-A
está sendo observado, com a plena oportunidade do
da CLT dispõe que no caso de fraude – no
reclamante ao contraditório e à ampla defesa, tanto é
procedimento sucessório, ressaltamos – haverá
verdade que a parte vem produzindo todos os meios
responsabilidade solidária entre a empresa sucessora
de prova que entende cabíveis, bem como está se
e a empresa sucedida.
valendo de todos os recursos previstos em nosso
ordenamento jurídico. Agravo de instrumento Entretanto, dificilmente o empregado conseguirá
conhecido e não provido (TST-AIRR comprovar em juízo que houve fraude no processo de
10012875320165020320, Rel. Dora Maria da Costa, 8ª sucessão. Mas, por outro lado, poderá o juiz adotar a
T., DEJT 22.03.2019). teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova, nos
termos do § 1º do art. 818 da CLT (redação dada pela
.
Lei 13.467/2017), e incumbir à empresa o ônus de
4.5. Sucessão e responsabilidade do sucessor (Lei provar a licitude do processo sucessório.
13.467/2017)
A corrente majoritária, entretanto, admite que há, no Transplantada para os domínios do direito do
âmbito da relação de emprego, um poder exclusivo do trabalho, esta teoria sustenta que o fundamento da
empregador: o poder disciplinar. sanção penal é o mesmo da sanção disciplinar
aplicada ao empregado infrator, variando apenas o
Existem diversas teorias que procuram explicar o campo de atuação de cada uma.
fundamento desse poder, destacando-se as seguintes
teorias: e) Teoria do pluralismo democrático
RECURSO DE REVISTA REGIDO PELA LEI 13.015/2014 1 6.2.3. Princípio do non bis in idem
- JUSTA CAUSA. NÃO CONFIGURAÇÃO. GRADAÇÃO DE
PENALIDADE. MEDIDA DESPROPORCIONAL. 1.1. No É proibida a aplicação de duas penalidades para a
caso, o empregado foi dispensado por justa causa em mesma falta (non bis in idem), isto é, para cada falta
razão do descumprimento de orientação do se admite uma única punição. Importante lembrar
empregador quanto ao uso de equipamento de que não há ferimento a esse princípio quando o
proteção individual. Concluiu o Tribunal Regional que empregado é advertido por faltas reiteradas e
a reclamada não observou a proporcionalidade na injustificadas ao serviço e o empregador
punição do empregado, pois não havia registro de concomitantemente procede aos descontos salariais
outras faltas cometidas pelo empregado, em relação respectivos. Nesse sentido:
ao uso dos equipamentos de proteção , em mais de 10 JUSTA CAUSA. BIS IN IDEM. Empregado que pelo
anos de relação empregatícia. 1.2. A punição à falta mesmo fato sofreu dupla reprimenda. Caracterizado o
cometida deve prestar-se à gradação, com a bis in idem, faz jus o reclamante ao recebimento das
advertência ou suspensão do empregado num parcelas rescisórias deferidas pelo juízo a quo.
primeiro momento, para, só então, persistindo o Recurso patronal conhecido e desprovido (TRT 10ª R.
comportamento faltoso, utilizar-se da pena máxima, – RO 01434-2010-013-10-00-9 – Rel. Des. Márcia
com o despedimento motivado. 1.3. É verdade que a Manzoni Cúrcio Ribeiro – 3ª T. – DEJT 17.06.2011).
gradação da pena não encontra previsão expressa no
JUSTA CAUSA. NON BIS IN IDEM. A justa causa 443, parágrafo 2º, da CLT, Súmula 212 do TST) e da
constitui a penalidade máxima que pode ser imputada não culpabilidade do acusado (art. 5º, LVII, da CRFB),
ao empregado e, por isso, necessita ser comprovada recai sobre o empregador o ônus da prova dos
de forma robusta. Havendo falta grave já punida pelo motivos determinantes da terminação do contrato de
empregador por outro meio, advertência ou trabalho. Não se desincumbindo o réu deste onus
suspensão, não pode ser também aplicada a justa probandi, ex vi art. 818 da CLT c/c art. 333, II, do CPC,
causa, sob pena de bis in idem (TRT 1ª R., RO tem-se que a despedida ocorreu sem justa causa.
00009895620145010262, 6ª T., DEJT 13.06.2016). Entrementes, cumpre gizar que a presunção de
inocência, enquanto direito humano (arts. 8º do Pacto
de San José da Costa Rica e 14 do Pacto Internacional
6.2.4. Princípio da presunção de inocência do de Direitos Civis e Políticos de 1966) não está ligada
trabalhador exclusivamente ao âmbito penal, revelando-se
inquestionável sua aplicação também na seara do
Não há punição sem culpa. O princípio da presunção poder empregatício disciplinar, à luz da interpretação
de inocência encontra inspiração no Direito Penal, expansiva e da eficácia horizontal dos direitos
sendo, atualmente, erigido ao patamar constitucional fundamentais (art. 5º, parágrafos 1º e 2º, da CF). Em
(CF, art. 5º, LVII). Destarte, é anulável a aplicação de reforço da transcendência da presunção de inocência
penalidade por mera presunção do empregador. defendida, justamente por representar interesses
Nesse sentido: maiores, calcados nos direitos fundamentais do ser
humano, já decidiu a Corte Constitucional pátria que
JUSTA CAUSA. DESCRIÇÃO DOS DESVIOS DE
“surge motivado de forma contrária à garantia
CONDUTA. CONTROLE DE LEGALIDADE DO PODER
constitucional que encerra a presunção da não
DISCIPLINAR. A ausência de informações sobre as
culpabilidade ato administrativo, conclusivo quanto à
circunstâncias que configuraram a insubordinação ou
ausência de capacitação moral, baseado, unicamente,
o abandono do posto de trabalho inviabiliza o direito
na acusação e, portanto, no envolvimento do
de defesa do empregado. Mesmo sendo denunciada a
candidato em ação penal” (STF – RE n. 194872/RS – 2ª
Convenção n. 158 da OIT, que em seu artigo 7º
Turma – Rel. Min. Marco Aurélio – julgado em
enuncia a oportunidade de defesa no término das
07.11.2000). No caso dos autos, funda-se a justa causa
relações de trabalho, o artigo 5º, LVII, da Constituição
obreira na prática de ato de improbidade pela
Federal prevê o princípio da presunção de inocência
reclamante, consubstanciado no fato de que rasurou
ou da não culpabilidade. Assim, o poder disciplinar
grosseiramente atestado médico, a fim de justificar
não é absoluto. No caso, sem descrever as
falta no trabalho. Do contexto fático-probatório,
circunstâncias fáticas do comportamento do obreiro,
denota-se que a reclamada não se desvencilhou do
como as tarefas negadas, eventuais motivos de
encargo probatório de ratificar em Juízo a
negativa ou exigências infundadas do empregado, a
improbidade supostamente cometida pela laborista,
reclamada inviabilizou o controle sobre o potestativo
notadamente mediante robustos elementos materiais
poder disciplinar exercido unilateralmente, além de
de prova capazes de – a um só tempo – demover a
não possibilitar a aferição da proporcionalidade da
presunção juris tantum de ruptura imotivada e incutir
medida aplicada, elemento indispensável à
no Magistrado um juízo de certeza sobre a existência
legitimidade da penalidade máxima (TRT 3ª R., RO
de todas as etapas da fraude que diz ter ocorrido
0002021-93.2014.5.03.0148, Rel. Des. Cristiana M.
(materialidade do ato de improbidade) e, acima de
Valadares Fenelon – 7ª T. – DEJT 10.11.2015).
tudo, que tais fatos vinculem a trabalhadora (autoria
JUSTA CAUSA COMETIDA PELO EMPREGADO. infracional), através de uma conduta dolosa, isto é,
ACUSAÇÃO PATRONAL DE ATO DE IMPROBIDADE ação com “animus fraudandi”. Disso decorre que se
(ADULTERAÇÃO DE ATESTADO MÉDICO). NÃO afigura insustentável a premissa sentencial no sentido
COMPROVAÇÃO. CONVOLAÇÃO DA RESOLUÇÃO de que “a rasura é patente e somente beneficia a
CONTRATUAL EM DISPENSA IMOTIVADA. Por força reclamante, pelo que se conclui através da prova
dos princípios da continuidade da relação de emprego indiciária que foi a autora quem fez a alteração”, haja
(art. 7º, caput, e inciso I, da Constituição Federal, art. vista que a mera suposição de fraude por parte da
reclamante não pode embasar uma resolução Falta praticada pelo empregado e não punida pelo
contratual por justa causa obreira. Destarte, diante da empregador é falta perdoada. Assim, se o
ausência de elementos autorizativos da resolução empregador, ciente da falta cometida pelo
contratual, prevalece a presunção favorável à obreira empregado, deixar de exercer o seu poder disciplinar,
de ruptura imotivada do contrato. Recurso da aplicando a penalidade correspondente, haverá
reclamante provido (TRT 2ª R., RO presunção de que a falta foi perdoada, caracterizando
00011019120135020016, Rel. Des. Maria Isabel Cueva o perdão tácito. É o que ocorre, por exemplo, quando
Moraes – 4ª T. – DEJT 14.08.2015). o empregador dispensa o empregado sem justa causa,
pagando-lhe as verbas resilitórias correspondentes a
essa modalidade de extinção do contrato de trabalho
JUSTA CAUSA. A justa causa é a mais severa punição e, posteriormente, em juízo, vem alegar em
imposta ao empregado, motivo pelo qual o Judiciário contestação que a dispensa se deu por justa causa.
deverá apurá-la com cautela, levando em Ouçamos a jurisprudência:
consideração o conjunto probatório produzido pelas AÇÃO DE COBRANÇA. PERDÃO TÁCITO. Constatado
partes. Insta salientar que, sob a ótica do princípio que o autor da ação de cobrança formalizou a rescisão
constitucional da presunção de inocência, o qual contratual, deixou de proceder ao devido desconto de
também abarca as relações civis, presume-se ter pelo menos parte do valor ora cobrado, considerando-
ocorrido o rompimento do contrato de trabalho da se, inclusive, a limitação imposta pelo art. 477,
maneira mais favorável ao trabalhador, por meio da parágrafo 5º, da CLT e igualmente não consignou
modalidade de extinção contratual que assegure ao qualquer dívida por parte do réu no referido termo,
empregado o máximo de direitos trabalhistas. O mesmo sabedor do montante devido pelo
objetivo é assegurar maior possibilidade de empregado, configurou-se o perdão tácito da dívida.
permanência do trabalhador em seu emprego e traz Não cabe agora realizar a cobrança, uma vez que o
como fundamento a natureza alimentar do salário, respectivo valor incorporou-se ao patrimônio jurídico
uma vez que o trabalhador é subordinado jurídica e do empregado. Recurso não provido (TRT 1ª R., RO
economicamente ao empregador e, do trabalho, 00792001120075010082, Rel. Des. Antonio Cesar
retira o seu sustento. Para configuração da falta grave Coutinho Daiha – 3ª T., DEJT 17.07.2015).
é necessário prova robusta, de modo a deixar
induvidoso o ato ilícito praticado pelo empregado, JUSTA CAUSA – PAGAMENTO DAS VERBAS
não só pelo elemento subjetivo da falta praticada, DECORRENTES DE DISPENSA SEM JUSTA CAUSA –
mas, principalmente, pelos reflexos negativos de seu PERDÃO TÁCITO. Mesmo que o empregado tenha
reconhecimento na vida profissional do trabalhador. cometido falta ensejadora de dispensa por justa
Apelo provido, no particular. (...) (TRT 1ª R., RO causa, o pagamento de verbas características de uma
01005794820185010041, Rel. Des., DEJT 12.07.2019). dispensa sem justa causa caracteriza perdão tácito
(TRT 16ª R., RO 00563-2008-016-16-00-1, Rel. Des. Ilka
Esdra Silva Araújo – DJ 29.09.2009).
6.2.5. Princípio da vedação à pena pecuniária ou ao
rebaixamento funcional
6.2.7. Princípio da imediatidade
O direito brasileiro não permite a aplicação de multa
para o empregado (salvo previsão legal expressa, A sanção disciplinar deve guardar imediatidade com a
como é o caso do atleta profissional de futebol, nos falta perpetrada, uma vez que o retardamento na
termos do art. 48 da Lei 9.615/98). Não é permitido, aplicação da pena autoriza presunção de renúncia
igualmente, ao empregador promover rebaixamento patronal ao direito de impor sanção. Tal presunção,
funcional, redução salarial ou transferência do entretanto, somente deve ser levada em conta a
empregado como formas de punição. partir do momento em que o empregador toma
ciência da falta cometida pelo obreiro.
Art. 10. Qualquer que seja o ramo da empresa O art. 13 da Lei 6.019/1974 considera justa causa para
tomadora de serviços, não existe vínculo de emprego rescisão do contrato do trabalhador temporário os
entre ela e os trabalhadores contratados pelas atos e circunstâncias mencionados nos artigos 482 e
empresas de trabalho temporário. 483 da CLT, ocorrentes entre o trabalhador e a
empresa de trabalho temporário ou entre aquele e a
§ 1º O contrato de trabalho temporário, com relação empresa cliente onde estiver prestando serviço.
ao mesmo empregador, não poderá exceder ao prazo
de cento e oitenta dias, consecutivos ou não. Nos termos do art. 69 do Decreto 10.854/2021,
constituem justa causa para rescisão do contrato do
§ 2º O contrato poderá ser prorrogado por até trabalhador temporário os atos e as circunstâncias de
noventa dias, consecutivos ou não, além do prazo que tratam os arts. 482 e 483 da CLT, que ocorram
entre o trabalhador e a empresa de trabalho contratação do trabalhador temporário pela empresa
temporário ou entre o trabalhador e a empresa tomadora de serviço ou cliente.
tomadora de serviços ou cliente.
SLIDE 9
As empresas de trabalho temporário são obrigadas a
fornecer às empresas tomadoras ou clientes, a seu 2. JORNADA DE TRABALHO
pedido, comprovante da regularidade de sua situação
com o Instituto Nacional de Previdência Social (Lei Embora o termo “jornada” seja tradicionalmente
6.019/1974, art. 14). usado para designar a duração diária do trabalho,
tem-se ampliado o significado do termo para a
De acordo com o art. 16 da Lei 6.019/1974, no caso de duração do trabalho por semana e até por ano.
falência da empresa de trabalho temporário, a
empresa tomadora (ou cliente) é solidariamente Fala-se, assim, em jornada diária, semanal ou anual
responsável pelo recolhimento das contribuições (férias anuais).
previdenciárias, no tocante ao tempo em que o
2.1. Jornada diária, horas in itinere, prorrogação e
trabalhador esteve sob suas ordens, assim como em
compensação de horários
referência ao mesmo período, pela remuneração e
indenização previstas na referida lei. A jornada de trabalho diária não diz respeito somente
ao tempo em que o trabalhador se encontra,
O art. 17 da Lei 6.019/1974 estabelece proibição “às
efetivamente, prestando seu labor, mas engloba
empresas de prestação de serviço temporário a
também o tempo em que fica à disposição do
contratação de estrangeiros com visto provisório de
empregador e, em alguns casos, o lapso temporal
permanência no País”.
despendido pelo trabalhador no trajeto casa-trabalho-
Nos termos do art. 18 da Lei 6.019/1974, é vedado à casa. Além disso, há também aqueles obreiros que
empresa do trabalho temporário cobrar do trabalham em regime de prontidão ou de sobreaviso.
trabalhador qualquer importância, mesmo a título de
Conforme lição de Maurício Godinho Delgado525,
mediação, podendo apenas efetuar os descontos
existem critérios básicos e especiais para fixação da
previstos em Lei. A infração deste artigo importa no
jornada de trabalho. Os critérios básicos se
cancelamento do registro para funcionamento da
subdividem em: tempo efetivamente trabalhado,
empresa de trabalho temporário, sem prejuízo das
tempo à disposição e tempo de deslocamento. Os
sanções administrativas e penais cabíveis.
critérios especiais são: tempo de prontidão e tempo
É da Justiça do Trabalho a competência para dirimir os de sobreaviso.
litígios entre as empresas de serviços temporários e
O sistema jurídico brasileiro não adotou como critério
seus trabalhadores (Lei 6.019, art. 19).
para estipulação da jornada de trabalho o tempo
O art. 67 do Decreto 10.854 prevê que o trabalhador efetivamente trabalhado, pois, conforme
temporário que cumprir os períodos estabelecidos no expressamente adotado pelo art. 4º da CLT, computa-
art. 66 somente poderá ser colocado à disposição da se como tempo trabalhado aquele em que o
mesma empresa tomadora de serviços ou cliente em trabalhador se encontra à disposição do empregador.
novo contrato temporário após o período de noventa Porém, ainda que não utilizado como regra no Brasil,
dias, contado da data do término do contrato é possível que o empregador estabeleça critérios de
anterior. Mas o parágrafo único do mesmo artigo produtividade e, nesse caso, o salário do trabalhador
dispõe que a contratação anterior ao prazo previsto será fixado por cada peça produzida (art. 78 da CLT).
no caput caracterizará vínculo empregatício entre o
Com efeito, computa-se o tempo de deslocamento
trabalhador e a empresa tomadora de serviços ou
(horas in itinere ou horas itinerantes) quando tratar-
cliente.
se de “local de difícil acesso ou não servido por
O art. 68 do Decreto em apreço declara que é nula de transporte público” e o empregador fornecer a
pleno direito qualquer cláusula proibitiva da condução, conforme disposto no art. 58 da CLT. Tal
critério ganhou tamanha relevância no cenário
jurídico nacional que o TST editou a Súmula 90, não superior a 12 horas, sendo o seu valor
determinando também que o tempo de deslocamento equivalente a 2/3 do valor da hora normal.
que extrapola a jornada legal deve ser considerado
como extraordinário, incidindo, assim, o adicional de As horas de sobreaviso, por sua vez, são aquelas em
50%. que “o empregado efetivo, que permanecer em sua
própria casa, aguardando a qualquer momento o
Entretanto, a Lei 13.467/2017 inseriu o § 2º no art. 4º chamado para o serviço” (art. 244, § 2º, da CLT).
da CLT, dispondo que: Apesar de o artigo tratar especificamente dos
trabalhadores ferroviários, o regime de sobreaviso
Por não se considerar tempo à disposição do vem sendo aplicado analogicamente àqueles
empregador, não será computado como período empregados que, pelo avanço da tecnologia, ficam
extraordinário o que exceder a jornada normal, ainda aguardando o chamado do empregador a qualquer
que ultrapasse o limite de cinco minutos previsto no § momento para retornar ao trabalho.
1º do art. 58 desta Consolidação, quando o
empregado, por escolha própria, buscar proteção O TST (Súmula 428) não aplica o instituto do
pessoal, em caso de insegurança nas vias públicas ou sobreaviso de forma irrestrita, e não basta que o
más condições climáticas, bem como adentrar ou empregador forneça meios telemáticos ou
permanecer nas dependências da empresa para informatizados ao trabalhador. O item II da referida
exercer atividades particulares, entre outras: I – Súmula considera em sobreaviso “o empregado que, à
práticas religiosas; II – descanso; III – lazer; IV – distância e submetido a controle patronal por
estudo; V – alimentação; VI – atividades de instrumentos telemáticos ou informatizados,
relacionamento social; VII – higiene pessoal; VIII – permanecer em regime de plantão ou equivalente,
troca de roupa ou uniforme, quando não houver aguardando a qualquer momento o chamado para o
obrigatoriedade de realizar a troca na empresa. serviço durante o período de descanso”.
Além disso, a Lei 13.467/2017, que deu nova redação A jornada diária máxima, em regra, deve ser de 8
ao § 2º do art. 58 da CLT, extinguiu as horas in itinere, horas. Nesse sentido, não é vedado ao empregador
nos seguintes termos: “O tempo despendido pelo estipular jornada diária inferior. Algumas categorias
empregado desde a sua residência até a efetiva profissionais já desfrutam, por meio de normas
ocupação do posto de trabalho e para o seu retorno, autônomas ou heterônomas, de jornadas inferiores a
caminhando ou por qualquer meio de transporte, 8 horas diárias, como os bancários, médicos,
inclusive o fornecido pelo empregador, não será telefonistas etc.
computado na jornada de trabalho, por não ser
tempo à disposição do empregador”. Somente em casos excepcionais a lei admite a
prorrogação da jornada diária. A duração do trabalho
A referida lei também revogou expressamente o § 3º tem como pressuposto proteger a saúde física e
do art. 58 da CLT, que previa a possibilidade de horas psíquica do trabalhador. Portanto, a jornada
in itinere diferenciadas nas micro e pequenas elastecida é nociva ao trabalhador e a toda a
empresas. sociedade, uma vez que, além de reduzir a oferta de
emprego, pode redundar em fadiga, tornando-o
Essas alterações legislativas, a par de facilitarem e suscetível a doenças.
estimularem as fraudes no tocante ao tempo em que
o empregado fica à disposição do empregador, A prestação do serviço após o limite máximo diário (8
constituem violação ao princípio da vedação do horas) implica, em princípio, o direito de o
retrocesso social, além de reduzirem a produção do trabalhador perceber adicional de horas extras, na
direito por meio de interpretação jurisprudencial (CLT, base mínima de 50% do valor da hora normal (CF, art.
art. 8º, § 2º; TST, Súmula 90)526. 7º, XVI).
As horas de prontidão referem-se ao trabalhador Não é vedado ao empregador estipular jornada diária
ferroviário “que ficar nas dependências da estrada, inferior a 8 horas. Algumas categorias profissionais já
aguardando ordens” (art. 244, § 3º, da CLT) em escala desfrutam, por meio de normas autônomas ou
heterônomas, de jornadas inferiores a oito horas Trata-se de uma prática adotada há muito tempo em
diárias, como os bancários, médicos, telefonistas etc. hospitais e no setor de vigilância, mas que também foi
alargada aos bombeiros civis (Lei 11.901/2009), aos
O art. 74 da CLT, com redação dada pela Lei motoristas profissionais (Lei 13.103/2015) e aos
13.874/2019, passou a dispor que: a) o horário de trabalhadores domésticos (LC 150/2015).
trabalho será anotado em registro de empregados; b)
para os estabelecimentos com mais de 20 (vinte) É importante registrar que a Lei 13.467/2017 inseriu
trabalhadores será obrigatória a anotação da hora de na CLT o art. 59-A, in verbis:
entrada e de saída, em registro manual, mecânico ou
eletrônico, conforme instruções expedidas pelo Art. 59-A. Em exceção ao disposto no art. 59 desta
Ministério do Trabalho e Previdência, permitida a pré- Consolidação, é facultado às partes, mediante acordo
assinalação do período de repouso; c) se o trabalho individual escrito, convenção coletiva ou acordo
for executado fora do estabelecimento, o horário dos coletivo de trabalho, estabelecer horário de trabalho
empregados constará do registro manual, mecânico de doze horas seguidas por trinta e seis horas
ou eletrônico em seu poder, sem prejuízo da anotação ininterruptas de descanso, observados ou indenizados
do horário de trabalho em registro de empregados; d) os intervalos para repouso e alimentação.
fica permitida a utilização de registro de ponto por Parágrafo único. A remuneração mensal pactuada
exceção à jornada regular de trabalho, mediante pelo horário previsto no caput deste artigo abrange os
acordo individual escrito, convenção coletiva ou pagamentos devidos pelo descanso semanal
acordo coletivo de trabalho, sendo este, seguramente, remunerado e pelo descanso em feriados, e serão
o aspecto mais polêmico, uma vez que nos parece considerados compensados os feriados e as
inconstitucional estabelecer registro de ponto por prorrogações de trabalho noturno, quando houver, de
exceção por meio de acordo individual, ainda que que tratam o art. 70 e o § 5º do art. 73 desta
escrito. Consolidação.
A jurisprudência, no entanto, vem admitindo a Importa registrar que a Medida Provisória 808, de
jornada de trabalho em escala 12 por 36, desde que 14.11.2017, deu nova redação ao art. 59-A da CLT,
prevista em lei ou fixada por meio de convenção procurou mitigar parcialmente o vício de
coletiva ou acordo coletivo de trabalho. É o que se inconstitucionalidade acima referido, nos seguintes
infere da Súmula 444 do TST: termos:
É válida, em caráter excepcional, a jornada de doze Art. 59-A. Em exceção ao disposto no art. 59 e em leis
horas de trabalho por trinta e seis de descanso, específicas, é facultado às partes, por meio de
prevista em lei ou ajustada exclusivamente mediante convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho,
acordo coletivo de trabalho ou convenção coletiva de estabelecer horário de trabalho de doze horas
trabalho, assegurada a remuneração em dobro dos seguidas por trinta e seis horas ininterruptas de
feriados trabalhados. O empregado não tem direito ao descanso, observados ou indenizados os intervalos
pagamento de adicional referente ao labor prestado para repouso e alimentação.
na décima primeira e décima segunda horas.
§ 1º A remuneração mensal pactuada pelo horário
previsto no caput abrange os pagamentos devidos
pelo descanso semanal remunerado e pelo descanso Cumpre advertir, contudo, que a Medida Provisória
em feriados e serão considerados compensados os 808/2017, por não ter sido convertida em lei, perdeu
feriados e as prorrogações de trabalho noturno, eficácia desde a sua edição (CF, art. 62, § 3º), em
quando houver, de que tratam o art. 70 e o § 5º do função do que o texto da Lei 13.467/2017 voltou a ter
art. 73. plena vigência527.
O TST, entretanto, vem entendendo que o tacógrafo, Serviços externos: o que caracteriza este grupo de
por si só, é insuficiente para controle de jornada para atividades é a circunstância de estarem todos fora da
afastar a incidência do inciso I do art. 62 da CLT ao permanente fiscalização e controle do empregador;
empregado motorista que exerce atividade externa há impossibilidade de conhecer-se o tempo realmente
(SBDI-1 OJ 332). dedicado com exclusividade à empresa. É o caso do
cobrador em domicílio, propagandista etc.529.
O próprio TST, contudo, vem relativizando a aplicação
da OJ 332, como se infere do seguinte julgado: Concessa venia, afigura-se-nos que o simples fato de o
trabalhador laborar em sua própria residência, por si
(...) HORAS EXTRAS. MOTORISTA DE CAMINHÃO. só, não impedirá o controle da duração efetiva do
ATIVIDADE EXTERNA. CONTROLE DA JORNADA DE serviço, inexistindo qualquer óbice a que seja
TRABALHO. A sentença acolheu o pedido do remunerado, como labor extraordinário, quando
reclamante – motorista – de horas extras, em relação restar provada a jornada além das 8 horas diárias ou
a período anterior à vigência da Lei 12.619/2012. O 44 horas semanais.
fato de o empregado prestar serviços de forma
externa, por si só, não enseja o seu enquadramento Ademais, dispõe o art. 6º da CLT não haver distinção
na exceção contida do artigo 62 da CLT. O “entre o trabalho realizado no estabelecimento do
rastreamento via satélite, diferentemente do empregador e o executado no domicílio do
tacógrafo, viabiliza o controle da jornada de trabalho empregado, desde que esteja caracterizada a relação
do empregado motorista, porquanto se realiza de emprego”, sendo certo que o conceito de trabalho
mediante aparelho que capta sinais de GPS e permite em domicílio é extraído do art. 83 da CLT, ou seja,
a transmissão de dados, como a localização exata do aquele que é “executado na habitação do empregado
veículo, o tempo no qual ficou parado e a velocidade ou em oficina de família, por conta de empregador
em que trafegava. Viabilizava-se, dessa forma, o que o remunere”.
Além disso, a regra contida no art. 62 da CLT encerra máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de
preceito numerus clausus, não admitindo trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite
interpretação extensiva, de modo que, como salienta máximo de dez horas diárias. (Redação dada pela
Vólia Bomfim Cassar: Medida Provisória 2.164-41, de 2001)
O banco de horas foi instituído no Brasil por meio do § 1º A remuneração da hora extra será, pelo menos,
art. 6º da Lei 9.601/88, que deu nova redação aos §§ 50% (cinquenta por cento) superior à da hora normal
2º e 3º do art. 59 da CLT. Posteriormente, a Medida (parcialmente alterado pela Lei 13.467/2017).
Provisória 2.164-41, de 28.04.2001, alterou a redação
§ 2º Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se,
do § 2º e acrescentou o § 4º.
por força de acordo ou convenção coletiva de
Em suma, o art. 59 e seus parágrafos da CLT passaram trabalho, o excesso de horas em um dia for
a ter a seguinte redação: compensado pela correspondente diminuição em
outro dia, de maneira que não exceda, no período
Art. 59. A duração normal do trabalho poderá ser máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de
acrescida de horas suplementares, em número não trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite
excedente de 2 (duas), mediante acordo escrito entre máximo de dez horas diárias (não alterado pela Lei
empregador e empregado, ou mediante contrato 13.467/2017).
coletivo de trabalho.
§ 3º Na hipótese de rescisão do contrato de trabalho
§ 1º Do acordo ou do contrato coletivo de trabalho sem que tenha havido a compensação integral da
deverá constar, obrigatoriamente, a importância da jornada extraordinária, na forma dos §§ 2º e 5º deste
remuneração da hora suplementar, que será, pelo artigo, o trabalhador terá direito ao pagamento das
menos, 50% (cinquenta por cento) superior à da hora horas extras não compensadas, calculadas sobre o
normal. (Vide CF, art. 7º inc. XVI) valor da remuneração na data da rescisão (alterado
parcialmente pela Lei 13.467/2017).
§ 2º Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se,
por força de acordo ou convenção coletiva de § 4º Os empregados sob o regime de tempo parcial
trabalho, o excesso de horas em um dia for não poderão prestar horas extras (este parágrafo foi
compensado pela correspondente diminuição em expressamente revogado pela Lei 13.467/2017).
outro dia, de maneira que não exceda, no período
§ 5º O banco de horas de que trata o § 2º deste artigo •a diária, que não poderá ser superior a 8 horas; e
poderá ser pactuado por acordo individual escrito,
desde que a compensação ocorra no período máximo •a semanal, que não poderá exceder de 44 horas.
de seis meses (acrescentado pela Lei 13.467/2017). Observa-se que o constituinte originário utilizou o
§ 6º É lícito o regime de compensação de jornada conectivo “e”, e não o disjuntivo excludente “ou”
estabelecido por acordo individual, tácito ou escrito, A Lex Fundamentalis, como já vimos, permite
para a compensação no mesmo mês (acrescentado mediante convenção ou acordo coletivo a redução da
pela Lei 13.467/2017). jornada diária ou semanal, bem como a possibilidade
Pode-se dizer que “banco de horas” é um neologismo de compensação de horários.
utilizado para denominar um novo instituto de Desse modo, afigura-se-nos de clareza meridiana que
“flexibilização” da jornada de trabalho, o qual permite a compensação de horários há de observar sempre o
a compensação do excesso de horas trabalhadas em limite imposto à jornada semanal, que é de 44 horas,
um dia com a correspondente diminuição em outro o que, a nosso ver, já desaguaria na
dia, sem o pagamento de horas extras, desde que inconstitucionalidade dos §§ 2º e 3º do art. 59 da CLT,
respeitado determinado período de tempo fixado em com redações dadas pela MP 2.164-41 e art. 6º da Lei
lei, acordo individual escrito, acordo coletivo ou 9.601/98, respectivamente. Esse fundamento de
convenção coletiva de trabalho. inconstitucionalidade fica ainda mais reforçado com
Noutros termos, o valor correspondente às horas as novas redações impostas pela Lei 13.467/2017 aos
extras prestadas não é pago diretamente ao §§ 1º a 6º do art. 59 da CLT, especialmente os §§ 5º e
empregado, uma vez que fica “depositado no banco 6º, pois permitem o banco de horas por acordos
de horas” do empregador e, na hipótese de rescisão individuais, inclusive tácitos, o que coloca os
do contrato de trabalho sem que tenha havido a trabalhadores em situação de extrema
compensação integral das horas extras prestadas, fará vulnerabilidade diante do poder empregatício
o trabalhador jus ao pagamento dessas horas, que patronal.
serão calculadas sobre o valor da remuneração na A nosso ver, portanto, a prorrogação da jornada diária
data da rescisão. sem acréscimo salarial, portanto, só é possível na
A compensação de horas extras, como já vimos no hipótese de compensação derivante de negociação
item 2.1, supra, antes da Lei 9.601/88, era prática coletiva e, ainda assim, desde que observado o limite
adotada por muitas empresas, porém restritamente, diário de 10 horas e semanal de 44 horas. A
ou seja, dentro de uma mesma semana. Depois da inobservância destes parâmetros fere de morte o art.
referida lei, a compensação passou a ser autorizada 7º, XIII e XVI, da Constituição da República e implica a
dentro de cento e vinte dias, e com o advento da MP obrigação de o empregador remunerar as horas
2.164, houve substancial aumento do espaço de excedentes com o adicional de, no mínimo, 50% sobre
tempo para a compensação do acúmulo de horas, que o valor da hora normal.
passou a ser anual (CLT, art. 59, § 2º). De toda a sorte, parece-nos que o banco de horas, por
Convém registrar que o banco de horas, a par de não ter característica que transcende ao interesse
guardar correspondência com a diretriz que informou meramente individual, só pode ser validamente
o novel contrato a prazo (Lei 9.601/98), aplica-se a implantado por meio de convenção ou acordo
todos os contratos de trabalho, salvo os contratos em coletivo de trabalho. Noutro falar, não vale o acordo
regime de tempo parcial (CLT, art. 59, § 4º). individual para instituir banco de horas. Além disso, é
Entretanto, esse § 4º do art. 59 da CLT foi inválida a cláusula convencional que amplie o limite
expressamente revogado pela Lei 13.467/2017. de dez horas diárias ou o período de um ano previsto
em lei para a compensação.
Ocorre que o art. 7º, XIII, da CF disciplina que a
duração do trabalho normal compreende, A Súmula 85 do TST, como se sabe, chancela o regime
cumulativamente, duas jornadas: de compensação de horas, inclusive por acordo
individual escrito, mas exige negociação coletiva para
a instituição do banco de horas. Esse verbete, no (...) AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE
entanto, deverá sofrer alterações em função das REVISTA DA SEGUNDA RECLAMADA INTERPOSTO NA
modificações introduzidas pela Lei 13.467/2017 , que VIGÊNCIA DA LEI N. 13.467/2017 – JORNADA DE
incluiu os §§ § 5º e 6º ao art. 59 da CLT para permitir TRABALHO – BANCO DE HORAS – SÚMULA N. 85 DO
que o banco de horas “poderá ser pactuado por TST – INAPLICABILIDADE. As disposições contidas na
acordo individual escrito, desde que a compensação Súmula n. 85 do TST não se aplicam ao regime
ocorra no período máximo de seis meses”, sendo compensatório na modalidade “banco de horas”, que
“lícito o regime de compensação de jornada somente pode ser instituído por negociação coletiva.
estabelecido por acordo individual, tácito ou escrito, Inteligência da Súmula n. 85, V, do TST. (...) (TST-ARR
para a compensação no mesmo mês”. 363-55.2015.5.09.0011, 8ª T., Rel. Min. Maria Cristina
Irigoyen Peduzzi, DEJT 16.08.2019).
Registre-se, de outro giro, o que dispõem os
Enunciados aprovados na 2ª Jornada de Direito AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.
Material e Processual do Trabalho (2017) sobre banco DIFERENÇAS DE HORAS EXTRAS. BANCO DE HORAS. O
de horas, os quais podem ser manejados como fontes Tribunal de origem considerou inválido o regime de
doutrinárias: banco de horas, porque a reclamada não comprovou
a existência de negociação coletiva que o teria
Enunciado 14 – BANCO DE HORAS POR ACORDO instituído. A decisão, tal como posta, revela perfeita
INDIVIDUAL. A compensação de horários requer consonância com a jurisprudência pacificada desta
intervenção sindical obrigatória, independentemente Corte Superior, consubstanciada no item V da Súmula
do seu prazo de duração, conforme artigo 7º, XIII, CF, n. 85. Agravo de instrumento conhecido e não provido
que autoriza a compensação apenas mediante acordo (TST-AIRR 218-98.2017.5.06.0144, 8ª T., Rel. Min.
ou convenção coletiva de trabalho. Dora Maria da Costa, DEJT 28.06.2019).
Enunciado 22 – PRESTAÇÃO DE HORAS EXTRAS:
DESCARACTERIZAÇÃO DO ACORDO DE
COMPENSAÇÃO E BANCO DE HORAS. Horas extras. 2.1.6. Regime de trabalho a tempo parcial
Descaracterização do acordo de compensação e
banco de horas. A prestação de horas extras habituais Seguindo tendência verificada nos EUA e em alguns
ou, ainda que eventuais, em número superior a duas países da Europa, o Governo brasileiro editou a
horas diárias, implica descaracterização do acordo de Medida Provisória 1.709/98, instituindo o chamado
compensação e do acordo de banco de horas, contrato de trabalho a tempo parcial.
conforme artigos 7º, XIII e XVI, da Constituição
No Brasil, o trabalho a tempo parcial encontra-se
Federal, e 59 da CLT.
regulado pelos arts. 58-A, 130-A e 476-A da CLT, cujas
Enunciado 23 – BANCO DE HORAS: BASE DE CÁLCULO redações foram dadas pela MP 2.164-41, de 2001. A
DAS HORAS SOBEJANTES – BANCO DE HORAS. Lei 13.467/2017 alterou substancialmente o caput (e
COMPENSAÇÃO. PAGAMENTO. ARTIGO 59 DA CLT. O acrescentou os §§ 3º a 7º) do art. 58-A da CLT, que
pagamento das horas extras acumuladas em banco de passou a ter a seguinte redação:
horas e não compensadas será feito com base no
Art. 58-A. Considera-se trabalho em regime de tempo
valor do salário-hora mais vantajoso ao trabalhador.
parcial aquele cuja duração não exceda a trinta horas
Enunciado 30 – BANCO DE HORAS INDIVIDUAL. semanais, sem a possibilidade de horas
INCONSTITUCIONALIDADE. É inconstitucional o suplementares semanais, ou, ainda, aquele cuja
disposto no artigo 59, § 5º e § 6º da CLT (nova duração não exceda a vinte e seis horas semanais,
redação), haja vista que a Constituição Federal de com a possibilidade de acréscimo de até seis horas
1988, no art. 7º, XIII, exige que a compensação de suplementares semanais.
jornada seja por acordo coletivo ou convenção
§ 1º O salário a ser pago aos empregados sob o
coletiva de trabalho.
regime de tempo parcial será proporcional à sua
Colecionamos alguns julgados do TST (posteriores à jornada, em relação aos empregados que cumprem,
Lei 13.467/2017) sobre banco de horas:
nas mesmas funções, tempo integral (este parágrafo É bem de ver que nas considerações da Convenção
não foi alterado pela Lei 13.467). 175, de 22.02.1998, a Organização Internacional do
Trabalho, reconhece a importância que apresenta
§ 2º Para os atuais empregados, a adoção do regime para todos os trabalhadores, contar com um emprego
de tempo parcial será feita mediante opção produtivo e livremente escolhido, a importância que
manifestada perante a empresa, na forma prevista em tem para a economia e o trabalho por tempo parcial,
instrumento decorrente de negociação coletiva (este a necessidade de que nas políticas de emprego se
parágrafo não foi alterado pela Lei 13.467). levem em conta a função do trabalho a tempo parcial
§ 3º As horas suplementares à duração do trabalho como modo de abrir novas possibilidades de emprego
semanal normal serão pagas com o acréscimo de 50% e a necessidade de assegurar a proteção dos
(cinquenta por cento) sobre o salário-hora normal. trabalhadores a tempo parcial nos campos do acesso
ao emprego, das condições de trabalho e da
§ 4º Na hipótese de o contrato de trabalho em regime seguridade social.
de tempo parcial ser estabelecido em número inferior
a vinte e seis horas semanais, as horas suplementares Amauri Mascaro Nascimento531 observa que tal
a este quantitativo serão consideradas horas extras Convenção da OIT põe por terra as críticas que
para fins do pagamento estipulado no § 3º, estando possam ser feitas no sentido de o regime de trabalho
também limitadas a seis horas suplementares a tempo parcial prejudicar os trabalhadores.
semanais. Jean-Claude Javillier sublinha que, na França, “a noção
§ 5º As horas suplementares da jornada de trabalho propriamente dita de trabalho por tempo parcial
normal poderão ser compensadas diretamente até a assim como as consequências de sua utilização são
semana imediatamente posterior à da sua execução, definidas com a finalidade de limitar o crescimento do
devendo ser feita a sua quitação na folha de trabalho precário”532.
pagamento do mês subsequente, caso não sejam A Convenção 175 da OIT conceitua trabalho a tempo
compensadas. parcial como aquele de “todo trabalhador assalariado
§ 6º É facultado ao empregado contratado sob regime cuja atividade laboral tem uma duração normal
de tempo parcial converter um terço do período de inferior à dos trabalhadores a tempo completo em
férias a que tiver direito em abono pecuniário. situação comparável”.
§ 7º As férias do regime de trabalho a tempo parcial A referida Convenção esclarece, ainda, que a duração
serão regidas pelo disposto no art. 130 desta do trabalho a tempo parcial é calculada
Consolidação. semanalmente ou em média durante determinado
período, mas exclui de tal regime os trabalhadores
De acordo com o caput do art. 58 da CLT, há duas afetados por uma redução coletiva e temporária da
modalidades de regimes de trabalho de tempo duração normal do trabalho, por motivos econômicos,
parcial: tecnológicos ou estruturais.
•com duração de até 30 horas semanais sem A contratação de trabalhadores sob o regime de
possibilidade de horas extras semanais; trabalho a tempo parcial pode ser feita nos moldes
dos arts. 442 e 443 da CLT, isto é, para os novos
•com duração de até 26 horas semanais com
empregados admite-se o contrato tácito ou expresso
possibilidade de até 6 horas extras semanais.
(verbal ou escrito). Entretanto, para os empregados já
O salário a ser pago aos empregados sob o regime de contratados por tempo indeterminado ou por tempo
tempo parcial poderá ser proporcional à duração determinado, a alteração contratual dependerá de
reduzida da jornada, observados os quantitativos manifestação escrita do trabalhador e desde que haja
pagos para aqueles que cumprem, nas mesmas autorização por convenção ou acordo coletivo de
funções, tempo integral. Na verdade, a OJ 358, I, da trabalho, como se infere do § 2º do art. 58-A da CLT.
SBDI-1/TST também permite o pagamento de salário
É recomendável, de toda a sorte, que o contrato seja
de forma proporcional ao tempo trabalhado.
firmado por escrito, a fim de que não paire dúvida
quanto à livre manifestação das partes, Por defendermos que a previsão de elevação da
principalmente a do trabalhador. duração da jornada no contrato a tempo parcial viola
o princípio da vedação do retrocesso social, pensamos
Não há restrição a respeito da possibilidade de o que a melhor solução, in casu, é a que preconiza, na
regime de trabalho a tempo parcial ser celebrado em hipótese de prestação de horas extras pelo
sede de contrato de trabalho por tempo determinado. trabalhador, a nulidade do regime em tempo parcial,
No silêncio da lei, parece-nos que devem ser ante o comando do art. 7º, caput, da CF e do art. 9º
observados os requisitos exigidos pelo art. 443 e da CLT, sem prejuízo do pagamento das horas extras
parágrafos da CLT. com o acréscimo de, no mínimo, cinquenta por cento
O novo diploma permite a conversão do tempo do valor da hora normal.
integral em parcial. Trata-se de flexibilização da Em outros termos, havendo descumprimento do
jornada de trabalho mediante tutela sindical. Vale preceito legal, o contrato sob o regime de tempo
dizer, para os empregados contratados sob o regime parcial deve converter-se automaticamente em
de jornada integral, a alteração do pactuado deverá contrato por tempo indeterminado, mas o empregado
atender a dois requisitos cumulativos: cumprirá, daí em diante, jornada reduzida, porém
•previsão em convenção ou acordo coletivo de percebendo salários idênticos aos que, na mesma
trabalho da redução da jornada de tempo integral empresa, são pagos aos trabalhadores que cumprem
para tempo parcial, nos termos do art. 7º, XIII, da jornada integral.
Constituição; Além disso, caso tipificado o desvirtuamento do
•opção formal manifestada pelo empregado perante comando legal, o empregado deverá fazer jus a férias
o empregador, na forma prevista nos citados anuais remuneradas de, no mínimo, trinta dias,
instrumentos decorrentes de negociação coletiva. observada a regra do art. 130, e não a do art. 130-A,
ambos da CLT, como, aliás, já consta do novel § 7º do
Isso não impede, a nosso ver, que o empregador art. 58-A da CLT. Registre-se, por oportuno, que a Lei
possa, unilateralmente, reduzir a jornada sem a 13.467/2017 revogou expressamente o art. 130-A da
correspondente diminuição de salários, pois, neste CLT.
caso, estar-se-á diante de alteração contratual mais
benéfica ao trabalhador. Sobre contrato de trabalho a tempo parcial para os
comerciários, lembramos que o Enunciado 92
As férias anuais remuneradas do trabalhador aprovado na 2ª Jornada de Direito Material e
contratado a tempo parcial são reduzidas Processual do Trabalho (Brasília, 2017), firmou a tese
proporcionalmente, nos termos do art. 130-A e seu de que o “art. 58-A e seus parágrafos, da CLT,
parágrafo único da CLT. alterados por força da Lei 13.467/2017, não são
aplicáveis aos comerciários, em virtude da aplicação
A grande novidade instituída pela MP 2.164-41 residia
obrigatória do art. 3º, § 1º, da Lei 12.790/2013, em
no seu art. 3º, o qual introduziu o § 4º ao art. 59 da
decorrência da especificidade e da prevalência da
CLT, segundo o qual, “os empregados sob o regime de
norma mais favorável ao trabalhador”.
tempo parcial não poderão prestar horas extras”.
Cumpre registrar que a concessão de intervalo •o limite mínimo de 1 hora para repouso ou refeição
interjornada inferior ao mínimo legal implica a poderá ser reduzido por ato de autoridade do
obrigação patronal de pagar o seu valor integral, pois, Ministério do Trabalho e Previdência, quando se
segundo a OJ 355 da SBDI-1/TST, verificar que o estabelecimento atende integralmente
às exigências concernentes à organização dos
O desrespeito ao intervalo mínimo interjornadas refeitórios e quando os respectivos empregados não
previsto no art. 66 da CLT acarreta, por analogia, os estiverem sob regime de trabalho prorrogado a horas
mesmos efeitos previstos no § 4º do art. 71 da CLT e suplementares (CLT, art. 71, § 3º);
na Súmula 110 do TST, devendo-se pagar a
integralidade das horas que foram subtraídas do •quando o intervalo para repouso e alimentação,
intervalo, acrescidas do respectivo adicional. previsto neste artigo, não for concedido pelo
empregador, este ficará obrigado, além da multa
No regime de revezamento, as horas trabalhadas em administrativa (CLT, art. 75), a remunerar ao
seguida ao repouso semanal de 24 horas, com empregado o período correspondente com um
prejuízo do intervalo mínimo de 11 horas consecutivas acréscimo de, no mínimo, 50% (cinquenta por cento)
para descanso entre jornadas, devem ser
sobre o valor da remuneração da hora normal de a observância da redução dos riscos inerentes ao
trabalho (CLT, art. 71, § 4º). O § 4º do art. 71 da CLT trabalho, conforme estabelecido no art. 7º, inciso XXII,
foi alterado pela Lei 13.467/2017, dispondo visando a concretizar a Constituição, que tem como
expressamente que: “A não concessão ou a concessão fundamentos da República a dignidade da pessoa
parcial do intervalo intrajornada mínimo, para humana e os valores sociais do trabalho, como
repouso e alimentação, a empregados urbanos e estabelecido no art. 1º, incisos III e IV, da Carta
rurais, implica o pagamento, de natureza Magna. (grifos nossos)
indenizatória, apenas do período suprimido, com
acréscimo de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor Em 2012, foi editada a Lei 12.619 que acrescentou o §
da remuneração da hora normal de trabalho”. (grifos 5º ao art. 71 da CLT, dispondo que os intervalos
nossos) expressos no seu caput e no § 1º
Essa nova regra, segundo pensamos, é flagrantemente “poderão ser fracionados quando compreendidos
inconstitucional, na medida em que viola o caput do entre o término da primeira hora trabalhada e o início
art. 7º da CF, porquanto impõe uma condição da última hora trabalhada, desde que previsto em
contrária à melhoria das condições socioeconômicas convenção ou acordo coletivo de trabalho, ante a
dos trabalhadores, seja por retirar a natureza salarial natureza do serviço e em virtude das condições
da vantagem remuneratória, seja por frustrar a especiais do trabalho a que são submetidos
efetivação do direito fundamental ao repouso estritamente os motoristas, cobradores, fiscalização
intrajornada, estimulando a prática empresarial de de campo e afins nos serviços de operação de veículos
desconstrução dos direitos sociais dos trabalhadores. rodoviários, empregados no setor de transporte
coletivo de passageiros, mantida a mesma
Ademais, colacionamos o Enunciado 34 da 2ª Jornada remuneração e concedidos intervalos para descanso
de Direito Material e Processual (Brasília-DF, 2017), menores e fracionados ao final de cada viagem, não
que aprovou duas teses sobre intervalo intrajornada: descontados da jornada”.
I. Regras sobre o intervalo intrajornada são Esse § 5º do art. 71 da CLT foi novamente alterado
consideradas como normas de saúde, higiene e pela Lei 13.103/2015, passando a ter a seguinte
segurança do trabalho e, por consequência, de ordem redação:
pública, apesar do que dispõe o art. 611-B, parágrafo
único, da CLT (na redação da Lei 13.467/2017). O intervalo expresso no caput poderá ser reduzido
e/ou fracionado, e aquele estabelecido no § 1º poderá
II. O estabelecimento de intervalos intrajornadas em ser fracionado, quando compreendidos entre o
patamares inferiores a uma hora para jornadas de término da primeira hora trabalhada e o início da
trabalho superiores a seis horas diárias é incompatível última hora trabalhada, desde que previsto em
com os artigos 6º, 7º, inciso XXII, e 196 da convenção ou acordo coletivo de trabalho, ante a
Constituição. natureza do serviço e em virtude das condições
especiais de trabalho a que são submetidos
Além disso, lembramos que na referida Jornada, estritamente os motoristas, cobradores, fiscalização
também foi aprovado o Enunciado 12: de campo e afins nos serviços de operação de veículos
INCONSTITUCIONALIDADE DO PARÁGRAFO ÚNICO DO rodoviários, empregados no setor de transporte
ART. 611-B DA CLT. Saúde e segurança no trabalho. coletivo de passageiros, mantida a remuneração e
Negociado sobre o legislado: inconstitucionalidade do concedidos intervalos para descanso menores ao final
parágrafo único do art. 611-B da CLT. Revela-se de cada viagem.
inconstitucional esse dispositivo da Lei da Reforma Nos serviços permanentes de mecanografia
Trabalhista que permite a flexibilização da jornada de (datilografia, escrituração, cálculo e digitação), a cada
trabalho e do intervalo intrajornada, por ofensa 90 minutos de trabalho consecutivo corresponderá
expressa à Constituição Federal, que assegura a todos um repouso de 10 minutos não deduzidos na duração
os trabalhadores um ambiente laboral sadio, com normal de trabalho (CLT, art. 72).
jornada máxima e intervalos mínimos necessários,
que permita o descanso e sua recuperação física, com Nos termos da Súmula 346 do TST,
“Os digitadores, por aplicação analógica do art. 72 da submetido a trabalho contínuo em ambiente
CLT, equiparam-se aos trabalhadores nos serviços de artificialmente frio, nos termos do parágrafo único do
mecanografia (datilografia, escrituração ou cálculo), art. 253 da CLT, ainda que não labore em câmara
razão pela qual têm direito a intervalos de descanso frigorífica, tendo ele direito ao intervalo intrajornada
de 10 (dez) minutos a cada 90 (noventa) de trabalho por aplicação analógica do caput do referido
consecutivo”. dispositivo consolidado.
No plano infraconstitucional, o descanso semanal De acordo com o art. 6º da Lei 605/49, não será
estava previsto originariamente no art. 67 da CLT. devida a remuneração quando, sem motivo
Posteriormente, a Lei 605/49 passou a disciplinar o justificado, o empregado não tiver trabalhado durante
repouso semanal remunerado e o pagamento de toda a semana anterior, cumprindo integralmente o
salários nos dias feriados civis e religiosos. seu horário de trabalho.
De acordo com o art. 1º da Lei 605/49, todo São considerados motivos justificados os previstos no
empregado tem direito ao repouso semanal § 1º do art. 6º da Lei 605.
remunerado de vinte e quatro horas consecutivas,
preferentemente aos domingos e, nos limites das Nas empresas em que vigorar regime de trabalho
exigências técnicas das empresas, nos feriados civis e reduzido, a frequência exigida corresponderá ao
religiosos, de acordo com a tradição local. número de dias em que o empregado tiver de
trabalhar.
No que concerne às atividades do comércio, foi
editada, em 2007, a Lei 11.603, que alterou o art. 6º e A remuneração do repouso semanal corresponderá:
acrescentou os arts. 6º-A e 6º-B na Lei 10.101/01, in •para os que trabalham por dia, semana, quinzena ou
verbis: mês, à de um dia de serviço, computadas as horas
Art. 6º Fica autorizado o trabalho aos domingos nas extraordinárias habitualmente prestadas;
atividades do comércio em geral, observada a •para os que trabalham por hora, à de sua jornada de
legislação municipal, nos termos do art. 30, inc. I, da trabalho, computadas as horas extraordinárias
Constituição Federal. habitualmente prestadas;
Parágrafo único. O repouso semanal remunerado •para os que trabalham por tarefa ou peça, o
deverá coincidir, pelo menos uma vez no período equivalente ao salário correspondente às tarefas ou
máximo de três semanas, com o domingo, respeitadas peças feitas durante a semana, no horário normal de
as demais normas de proteção ao trabalho e outras a trabalho, dividido pelos dias de serviço efetivamente
serem estipuladas em negociação coletiva. prestados ao empregador;
Art. 6º-A. É permitido o trabalho em feriados nas •para o empregado em domicílio, o equivalente ao
atividades do comércio em geral, desde que quociente da divisão por seis (6) da importância total
autorizado em convenção coletiva de trabalho e da sua produção na semana.
observada a legislação municipal, nos termos do art.
30, inc. I, da Constituição. Os empregados cujos salários não sofram descontos
por motivo de feriados civis ou religiosos são
Art. 6º-B. As infrações ao disposto nos arts. 6º e 6º-A considerados já remunerados nesses mesmos dias de
desta Lei serão punidas com a multa prevista no art. repouso, conquanto tenham direito à remuneração
75 da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada dominical.
pelo Dec.-lei 5.452, de 01.05.1943.
Consideram-se já remunerados os dias de repouso
Parágrafo único. O processo de fiscalização, de semanal do empregado mensalista ou quinzenalista,
autuação e de imposição de multas reger-se-á pelo cujo cálculo de salário mensal ou quinzenal, ou cujos
disposto no Título VII da Consolidação das Leis do descontos por falta sejam efetuados na base do
Trabalho. número de dias do mês ou de trinta (30) e quinze (15)
O repouso semanal ou hebdomadário tem origem diárias, respectivamente.
religiosa e seu escopo é propiciar ao trabalhador o A prestação de serviços nos dias destinados ao seu
refazimento das energias despendidas durante uma repouso semanal confere ao empregado o direito à
semana de trabalho. O repouso semanal remunerado remuneração em dobro do dia trabalhado, salvo
quando o empregador determinar outro dia de folga “Computam-se no cálculo do repouso remunerado as
(Lei 605/49, art. 9º). horas extras habitualmente prestadas” (Súmula 172).
A respeito desse tema, a Súmula 146 do TST, em sua Por outro lado, segundo o TST, o repouso semanal
redação original, previa apenas que o trabalho remunerado não repercute nos seguintes casos:
realizado em dia feriado, não compensado, seria pago
em dobro, e não em triplo. •O sábado do bancário é dia útil não trabalhado, não
dia de repouso remunerado. Não cabe a repercussão
Em 2003, o TST deu nova redação à Súmula 146, do pagamento de horas extras habituais em sua
reconhecendo que o trabalho prestado em domingos remuneração (TST, Súmula 113).
e feriados, não compensado, deve ser pago em dobro,
sem prejuízo da remuneração relativa ao repouso •As gratificações por tempo de serviço e
semanal. produtividade, pagas mensalmente, não repercutem
no cálculo do repouso semanal remunerado (TST,
Na hipótese de o repouso ser concedido após o Súmula 225).
sétimo dia, o TST/SBDI-1 editou a OJ 410, in verbis:
•As gorjetas, cobradas pelo empregador na nota de
Repouso semanal remunerado. Concessão após o serviço ou oferecidas espontaneamente pelos
sétimo dia consecutivo de trabalho. CF, art. 7º, XV. clientes, integram a remuneração do empregado, não
Violação. Viola o art. 7º, XV, da CF a concessão de servindo de base de cálculo para as parcelas de aviso
repouso semanal remunerado após o sétimo dia prévio, adicional noturno, horas extras e repouso
consecutivo de trabalho, importando no seu semanal remunerado (TST, Súmula 354).
pagamento em dobro.
•O adicional de insalubridade já remunera os dias de
Se o repouso semanal remunerado for concedido repouso semanal e feriados (SBDI-1 OJ 103).
depois do sétimo dia, o TST vem entendendo que há
violação ao art. 7º, XV, da CF, razão pela qual deve ser •A majoração do valor do repouso semanal
pago em dobro (SBDI-1 OJ 410). remunerado, em razão da integração das horas extras
habitualmente prestadas, não repercute no cálculo
No regime de revezamento, as horas trabalhadas em das férias, da gratificação natalina, do aviso prévio e
seguida ao repouso semanal de 24 horas, com do FGTS, sob pena de caracterização de bis in idem
prejuízo do intervalo mínimo de 11 horas consecutivas (SBDI-1 OJ 394).
para descanso entre jornadas, devem ser
remuneradas como extraordinárias, inclusive com o No que concerne ao repouso semanal remunerado
respectivo adicional (TST, Súmula 110). (RSR), o Decreto 10.854/2021 passou a regulamentar
a Lei 605/1949, dispondo, em seu art. 152, que: “Todo
A interpretação sistemática do art. 7º, § 2º, da Lei empregado tem direito a um descanso semanal
605/49 e do art. 320 da CLT autoriza concluir que o remunerado de vinte e quatro horas consecutivas,
professor que recebe salário mensal à base de hora- preferencialmente aos domingos e, nos limites das
aula tem direito ao acréscimo de 1/6 a título de exigências técnicas das empresas, nos feriados civis e
repouso semanal remunerado, considerando-se para religiosos, de acordo com a tradição local”.
esse fim o mês de quatro semanas e meia (TST,
Súmula 351). Nos termos do art. 153 do referido Decreto, são
feriados e, como tais, obrigam ao repouso
Nos termos da Súmula 360 do TST, a interrupção do remunerado em todo o território nacional aqueles
trabalho destinada a repouso e alimentação, dentro que a lei determinar. Será também obrigatório o
de cada turno, ou o intervalo para repouso semanal, repouso remunerado nos dias de feriados locais, até o
não descaracteriza o turno de revezamento com máximo de quatro, desde que declarados como tais
jornada de 6 (seis) horas previsto no art. 7º, XIV, da por lei municipal.
CF/88.
Dispõe o art. 154 do Decreto 10.854 que, na hipótese
De acordo com a jurisprudência do TST: de ser comprovado o cumprimento das exigências
técnicas, nos termos do disposto no art. 1º da Lei n.
605/1949, será admitido o trabalho nos dias de Os empregados cujos salários não sofram descontos
repouso, garantida a remuneração correspondente. por motivo de feriados civis ou religiosos são
Constituem exigências técnicas aquelas que, em razão considerados já remunerados nesses mesmos dias de
do interesse público ou das condições peculiares às repouso, conquanto tenham direito à remuneração
atividades da empresa ou ao local onde estas atuem, dominical.
tornem indispensável a continuidade do trabalho, em
todos ou alguns de seus serviços. O Decreto 10.854 considera já remunerados os dias
de repouso semanal do empregado mensalista ou
Prevê o § 2º do art. 154 do Decreto 10.854/2021 que, quinzenalista cujo cálculo de salário mensal ou
nos serviços que exijam trabalho aos domingos, com quinzenal ou cujos descontos por falta sejam
exceção dos elencos teatrais e congêneres, será efetuados com base no número de dias do mês ou de
estabelecida escala de revezamento, mensalmente trinta e quinze diárias, respectivamente.
organizada, que constará de quadro sujeito à
fiscalização, e, nos serviços em que for permitido o Nos termos do art. 158 do Decreto 10.854, o
trabalho nos dias de repouso, a remuneração dos trabalhador que, sem motivo justificado ou em razão
empregados que trabalharem nesses dias será paga de punição disciplinar, não tiver trabalhado durante
em dobro, exceto se a empresa determinar outro dia toda a semana e cumprido integralmente o seu
de folga. Ato do Ministro de Estado do Trabalho e horário de trabalho perderá a remuneração do dia de
Previdência concederá, em caráter permanente, repouso.
permissão para o trabalho nos dias de repouso às As ausências decorrentes de férias não prejudicarão a
atividades que se enquadrarem nas exigências frequência exigida e não serão acumuladas a
técnicas. remuneração do repouso semanal e a do feriado civil
O art. 155 do Decreto multicitado permite, ou religioso que recaírem no mesmo dia.
excepcionalmente, o trabalho em dia de repouso O § 4º do art. 158 do Decreto 10.854 considera
quando: I – ocorrer motivo de força maior; ou II – para semana, para fins de pagamento do RSR, o período de
atender à realização ou à conclusão de serviços segunda-feira a domingo que antecede o dia
inadiáveis ou cuja inexecução possa acarretar prejuízo determinado como repouso semanal remunerado.
manifesto, a empresa obtiver autorização prévia da
autoridade competente em matéria de trabalho, com Os motivos justificados para que o empregado não
discriminação do período autorizado, o qual, de cada perca o direito ao RST estão no art. 159 do Decreto
vez, não excederá a sessenta dias. 10.854.
Nos dias de repouso em que for permitido o trabalho, A Portaria MTP 671/2021 dispõe sobre a autorização
é vedada às empresas a execução de serviços que não transitória (arts. 56 a 61) e autorização permanente
se enquadrem nos motivos determinantes da (arts. 62 e 63) para trabalho aos domingos e feriados,
permissão (Decreto 10.854, art. 166), sendo certo que bem como estabelece regras sobre prorrogação da
a remuneração do repouso semanal corresponderá: I jornada em atividades insalubres (arts. 64 a 72).
– para os que trabalham por dia, semana, quinzena ou
mês, à de um dia de trabalho, computadas as horas
extras habitualmente prestadas; II – para os que
trabalham por hora, à sua jornada de trabalho,
computadas as horas extras habitualmente prestadas; PONTOS MAIS IMPORTANTES DA LEI 13.467/2017
III – para os que trabalham por tarefa ou peça, ao
A Lei 13.467/2017, também conhecida como Reforma
salário correspondente às tarefas ou peças feitas
Trabalhista, foi sancionada em 13 de julho de 2017 e
durante a semana, no horário normal de trabalho,
alterou diversas regras da legislação trabalhista
dividido pelos dias de serviço efetivamente prestados
brasileira. Os pontos mais importantes da lei são:
ao empregador; IV – para os empregados em
domicílio, ao quociente da divisão por seis do valor Flexibilização das regras de contratação e demissão: A
total da sua produção na semana. lei permite a contratação de trabalhadores por tempo
determinado, a contratação de trabalhadores contratante por um período determinado, não
intermitentes e a terceirização de atividades-fim. superior a 180 dias.
Também facilita a demissão por justa causa e permite
o pagamento de indenização por rescisão contratual Os direitos dos trabalhadores terceirizados: Os
em até 12 parcelas. trabalhadores terceirizados têm os mesmos direitos
que os trabalhadores diretos, como salário, jornada
Redução da jornada de trabalho: A lei permite a de trabalho, férias, 13º salário, FGTS e seguro-
redução da jornada de trabalho para 30 horas desemprego.
semanais, com pagamento de salário proporcional.
A Lei 6.019/1974 foi criada para flexibilizar as regras
Aumento da autonomia das negociações coletivas: A trabalhistas e estimular a competição entre as
lei dá mais autonomia às negociações coletivas, empresas. No entanto, a lei também foi criticada por
permitindo que os sindicatos e as empresas pactuem sindicatos e trabalhadores, que alegam que ela pode
regras que não estão previstas na lei. prejudicar os direitos dos trabalhadores.
O que é terceirização: Terceirização é a contratação Empregados que exercem cargo de confiança: São
de uma empresa para realizar atividades que não são considerados empregados de confiança os
essenciais à atividade-fim da empresa contratante. trabalhadores que exercem atividades de direção,
gerência, fiscalização ou comando.
O que não pode ser terceirizado: A lei proíbe a
terceirização de atividades-fim, que são aquelas que Empregados que trabalham em regime de
são essenciais à atividade principal da empresa teletrabalho: O teletrabalho é uma modalidade de
contratante. trabalho em que o empregado não está sujeito à
jornada de trabalho normal, pois realiza suas
As modalidades de terceirização: A lei prevê três atividades em local de sua escolha.
modalidades de terceirização:
Além dessas exceções, a jornada de trabalho também
Terceirização de serviços: A empresa terceirizada pode ser flexibilizada por meio de acordo coletivo de
presta serviços à empresa contratante, mas não tem trabalho ou convenção coletiva de trabalho.
contato direto com o consumidor final.
Empregados que trabalham em regime de Horas extras: O trabalhador temporário pode ser
teletrabalho: Os empregados que trabalham em convocado a trabalhar horas extras, mas o valor das
regime de teletrabalho não têm jornada de trabalho horas extras deve ser pago com acréscimo de 50%.
fixa, pois podem organizar seu horário de trabalho de
acordo com suas necessidades. Descanso semanal remunerado: O trabalhador
temporário pode ser convocado a trabalhar aos
É importante ressaltar que as exceções à jornada de domingos e feriados, mas deve receber o valor
trabalho devem ser aplicadas de forma a não dobrado da remuneração normal.
prejudicar os direitos dos trabalhadores.
É importante ressaltar que as exceções e
flexibilizações previstas para os trabalhadores
temporários devem ser aplicadas de forma a não
EXCEÇÕES DO TRABALHADOR TEMPORÁRIO prejudicar os direitos dos trabalhadores.
Os trabalhadores temporários têm os mesmos direitos PODER DISCIPLINAR DO EMPREGADOR
que os trabalhadores diretos, exceto por algumas
exceções previstas na Lei 6.019/1974 e na Reforma O poder disciplinar do empregador é a prerrogativa
Trabalhista (Lei 13.467/2017). que ele tem de aplicar sanções aos empregados que
descumprem as obrigações contratuais. As sanções
As principais exceções são: disciplinares podem ser aplicadas de forma
Prazo de contrato: O contrato de trabalho temporário progressiva, iniciando-se com a advertência verbal,
não pode exceder o prazo de 180 dias, consecutivos passando pela advertência escrita, suspensão e, em
ou não. último caso, demissão por justa causa.
13º salário: O trabalhador temporário tem direito a - Atrasos ou ausências injustificadas ao trabalho;
13º salário proporcional ao tempo de serviço, - Descumprimento das normas internas da empresa;
calculado com base na remuneração que ele recebeu.
- Desempenho insatisfatório das atividades;
FGTS: O trabalhador temporário tem direito ao
recolhimento do FGTS, mas não tem direito ao saque - Atitudes desrespeitosas ou agressivas;
do FGTS no caso de demissão sem justa causa.
- Condutas ilícitas ou antiéticas.
Seguro-desemprego: O trabalhador temporário tem
direito ao seguro-desemprego, mas apenas se for Para aplicar uma sanção disciplinar, o empregador
demitido sem justa causa após o término do contrato deve observar alguns princípios, como:
de trabalho. Princípio da proporcionalidade: A sanção deve ser
proporcional à gravidade da falta cometida.
Princípio da legalidade: A sanção deve estar prevista
em lei ou em norma coletiva de trabalho.