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AO DOUTO JUÍZO DA 4ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE SÃO LEOPOLDO

Processo nº. 5014210-41.2022.8.21.0033


Autor: CENTRO CLINICO VETERINARIO SAO LEOPOLDO LTDA
Réu: Paola Machado Guse

Paola Machado Guse, já qualificado nos autos em epígrafe, vem, por meio de
seu advogado, que abaixo subscreve, com o devido acatamento e respeito,
propor

EXCEÇÃO DE IMPENHORABILIDADE

com fulcro nos artigos 833, IV do Código de Processo Civil, nos autos da
presente execução/cumprimento de sentença, em que contende CENTRO
CLINICO VETERINARIO SAO LEOPOLDO LTDA, Pessoa Jurídica de Direito
Privado já qualificada nos autos, pelos fatos e fundamentos jurídicos expostos
a seguir:

DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA:

O excipiente pleiteia pela concessão dos benefícios da Justiça Gratuita,


assegurados pela Constituição Federal, artigo 5º, LXXIV e pela Lei
13.105/2015 (CPC), artigo 98 e seguintes, tendo em vista não poderem arcar
com as despesas processuais sem incorrer em prejuízos para o seu sustento e
de sua família.

Deve ser observado de forma oportuna a Declaração de Hipossuficiência em


anexo, tendo esta possuir presunção de veracidade juris tantum, cabe a parte
adversa demonstrar a inexistência da Hipossuficiência declarada. Não há como
negar, diante o referido compromisso e dos fundamentos legais
supramencionados, a necessidade de ser concedido tal benefício em favor do
excipiente.

Ademais, demonstra-se que o pleiteante atualmente possui renda mensal


média na faixa de 02 (dois) salários mínimos, pelo que não possui quaisquer
meios para arcar com as custas processuais e eventuais honorários de
sucumbência, motivo pelo qual pede a gratuidade da justiça.

Pede, portanto, a concessão do benefício da Justiça Gratuita nos moldes


expressos acima, por ser o excipiente hipossuficiente na forma da lei.
DOS FATOS

Nos presentes autos adveio decisão proferida por Vossa Excelência


determinando a indisponibilidade de valores em contas de titularidade do
excipiente, contudo, nota-se que a Ré é autônoma e trabalha como
influenciadora digital com renda total inferior a 05 (cinco) salários mínimos, a
penhora de qualquer parcela da renda de quem recebe até cinco salários
mínimos retira do executado o mínimo necessário à sua subsistência, o que
não pode ser admitido.

DO DIREITO

1.1. DA IMPENHORABILIDADE DA VERBA SALARIAL

O excipiente é pensionista e trabalha como autônoma sendo influenciadora


digital, ganha vida através do seu esforço, sendo que esta é a sua única fonte
de renda e na média de 02 dois salários mínimos mensais.

O valor que será bloqueado diz respeito a sua verba alimentícia, essencial
a sua manutenção e de sua família.

Desta forma, fica demonstrado de forma incontestável que o valor penhorado


se trata efetivamente de quantia salarial.

O art. 833 do Código de Processo Civil trata, explicitamente, sobre os bens


impenhoráveis, do seguinte modo:
Art. 833. São impenhoráveis:
I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não
sujeitos à execução;
II - os móveis, os pertences e as utilidades domésticas que
guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou
os que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um
médio padrão de vida;
III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do
executado, salvo se de elevado valor;
IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as
remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os
pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por
liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua
família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de
profissional liberal, ressalvado o § 2º;
V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os
instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício
da profissão do executado;
VI - o seguro de vida;
VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se
essas forem penhoradas;
VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que
trabalhada pela família;
IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para
aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social;
X - a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de
40 (quarenta) salários-mínimos;
XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos por partido
político, nos termos da lei;
XII - os créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob
regime de incorporação imobiliária, vinculados à execução da obra.
§1º A impenhorabilidade não é oponível à execução de dívida relativa
ao próprio bem, inclusive àquela contraída para sua aquisição.
§2º O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à
hipótese de penhora para pagamento de prestação alimentícia,
independentemente de sua origem, bem como às importâncias
excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais, devendo
a constrição observar o disposto no art. 528, §8º, e no art. 529,
§3º.
§3º Incluem-se na impenhorabilidade prevista no inciso V do caput os
equipamentos, os implementos e as máquinas agrícolas pertencentes
a pessoa física ou a empresa individual produtora rural, exceto
quando tais bens tenham sido objeto de financiamento e estejam
vinculados em garantia a negócio jurídico ou quando respondam por
dívida de natureza alimentar, trabalhista ou previdenciária. [grifamos]

Com tais comprovações, faz-se necessário que o douto juízo determine o


imediato desbloqueio do numerário ou que evite novos descontos em sua conta
bancária, com fundamento no artigo 833, inciso IV do CPC.

Vale ressaltar existem apenas duas possibilidades de flexibilização da


impenhorabilidade de proventos, quais sejam aquelas inseridas no §2º do art.
833 do CPC:
1. Pagamento de prestação de natureza alimentícia;
2. Importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos
mensais;

Nenhuma das possibilidades de flexibilização da regra da


impenhorabilidade dos proventos salariais aplica-se ao presente caso.
Portanto, descabido o bloqueio da referida verba.

A este respeito, assim têm sido as decisões do STJ:


PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO.
PENHORA SOBRE SALÁRIO. POSSIBILIDADE DE
FLEXIBILIZAÇÃO DA IMPENHORABILIDADE DE VERBA
REMUNERATÓRIA. EXCEPCIONALIDADE.
1. A regra geral da impenhorabilidade dos vencimentos, dos
subsídios, dos soldos, dos salários, das remunerações, dos proventos
de aposentadoria, das pensões, dos pecúlios e dos montepios, bem
como das quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas
ao sustento do devedor e de sua família, dos ganhos de trabalhador
autônomo e dos honorários de profissional liberal poderá ser
excepcionada, nos termos do art. 833, IV, c/c o § 2° do CPC/2015,
quando se voltar: I) para o pagamento de prestação alimentícia, de
qualquer origem, independentemente do valor da verba remuneratória
recebida; e II) para o pagamento de qualquer outra dívida não
alimentar, quando os valores recebidos pelo executado forem
superiores a 50 salários mínimos mensais, ressalvando-se eventuais
particularidades do caso concreto. Em qualquer circunstância, deverá
ser preservado percentual capaz de dar guarida à dignidade do
devedor e de sua família.
2. Na hipótese, a dívida não corresponde a verba alimentar, a
renda mensal é deveras menor que 50 salários mínimos, ausente
particularidade destoante da realidade da grande maioria das
famílias brasileiras, impõe-se o respeito a regra da
impenhorabilidade.
3. Recurso especial provido.
(STJ - REsp: 1921304 SP 2021/0037004-9, Relator: Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, Data de Publicação: DJ 16/03/2021) [grifamos]

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


EXECUÇÃO. PENHORA DE SALÁRIO. FOLHA DE PAGAMENTO.
IMPENHORABILIDADE DE VENCIMENTOS. SÚMULA 568/STJ
1. Ação de execução.
2. A impenhorabilidade de vencimentos somente é excepcionada
para pagamento de dívidas de natureza alimentar ou na hipótese
do valor recebido pelo executado forem superiores a 50 salários
mínimos mensais, nos termos da literalidade do art. 833, IV e §2º,
do CPC.
3. Recurso especial conhecido e não provido.
(STJ - REsp: 1906586 DF 2020/0307956-4, Relator: Ministra NANCY
ANDRIGHI, Data de Publicação: DJ 18/12/2020) [grifamos]

Por conta da extrema necessidade de dispor da quantia que está em vias de


ser bloqueada ou penhorada, o excipiente encontra-se em situação de
desespero, o que denota EXTREMA URGÊNCIA no processamento da
presente petição, inclusive em regime de plantão, se for necessário.

Em face da urgência narrada, encontram-se anexados a esta petição a maior


quantidade de material probatório disponível ao excipiente, que acredita ser
suficiente para demonstrar a veracidade das informações que traz ao
conhecimento de Vossa Excelência.

Contudo, caso Vossa Excelência entenda ser necessária a apresentação de


documentos complementares, este causídico disponibiliza o seu número de
telefone pessoal (91- 99107-7117), dispensando-se a intimação, com o
propósito de acelerar ao máximo a prestação da jurisdição e assim evitar
transtornos mais graves ao requerente.

Ressalta-se ainda que, casos como o presente devem ser examinados com a
devida cautela e sensibilidade, levando-se em conta a preservação da
dignidade da pessoa humana, princípio fundamental assegurado na
Constituição Federal (art. 1º, III), tendo em vista que retirar do autor seu único
meio de subsistência pode lhe trazer sérios prejuízos.

Pede, desta forma, pelo desbloqueio, em caráter de urgência, dos valores


provenientes de salário do executado.

DOS PEDIDOS
DIANTE DO EXPOSTO, pede a IMEDIATA REVOGAÇÃO/PREVENÇÃO DE
QUALQUER BLOQUEIO OU PENHORA, visto que se trata de proventos
salariais, impenhoráveis conforme o inciso IV do art. 833 do CPC,
disponibilizando-se na conta do excipiente a integralidade da quantia
indisponibilizada.

Nestes termos,
Pugna-se pelo deferimento,

Belém/PA, 20 de março de 2024.

MIGUEL MAKSUD HANNA NETO


OAB/PA 34.375

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