Você está na página 1de 3

COMENTÁRIOS ACERCA DO ARTIGO 833 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

O artigo 833 do CPC trata acerca da impenhorabilidade de bens, elencando


os bens impenhoráveis em um rol taxativo, o qual segue abaixo:

Art. 833. São impenhoráveis:


I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à
execução;
II - os móveis, os pertences e as utilidades domésticas que guarnecem a
residência do executado, salvo os de elevado valor ou os que ultrapassem
as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida;
III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado,
salvo se de elevado valor;
IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações,
os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios,
bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas
ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador
autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2º ;
V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou
outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício da profissão do
executado;
VI - o seguro de vida;
VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas
forem penhoradas;
VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que
trabalhada pela família;
IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação
compulsória em educação, saúde ou assistência social;
X - a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40
(quarenta) salários-mínimos;
XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos por partido político,
nos termos da lei;
XII - os créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime
de incorporação imobiliária, vinculados à execução da obra.

§ 1º A impenhorabilidade não é oponível à execução de dívida relativa ao


próprio bem, inclusive àquela contraída para sua aquisição.

§ 2º O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de


penhora para pagamento de prestação alimentícia, independentemente de
sua origem, bem como às importâncias excedentes a 50 (cinquenta)
salários-mínimos mensais, devendo a constrição observar o disposto no art.
528, § 8º , e no art. 529, § 3º .

§ 3º Incluem-se na impenhorabilidade prevista no inciso V do caput os


equipamentos, os implementos e as máquinas agrícolas pertencentes a
pessoa física ou a empresa individual produtora rural, exceto quando tais
bens tenham sido objeto de financiamento e estejam vinculados em
garantia a negócio jurídico ou quando respondam por dívida de natureza
alimentar, trabalhista ou previdenciária.

Analisando e comentando inciso a inciso:


Inciso I- aqui se enquadram os bens públicos, vez que estes são tidos como
bens inalienáveis. Também estão neste rol o bem de família e aqueles recebidos em
doação, desde que possuam cláusula de inalienabilidade e/ou impenhorabilidade.
Este último caso é comum em testamento, ou seja, ato voluntário que é responsável
por colocar a cláusula de impenhorabilidade.
Inciso II- com relação a este inciso, há uma certa subjetividade, vez que fica
a cargo do juiz delimitar o que seria um bem móvel de alto valor. Devem ser
analisadas as condições pessoais do executado.
Inciso III- utilizado o mesmo critério do inciso anterior. Não é possível a
penhora, a não ser que o vestuário represente um artigo de luxo, superando o que
se espera de um nível de sobrevivência razoável.
Inciso IV- em regra, os salários e proventos não podem ser penhorados.
Contudo, se a discussão versar sobre alimentos, abre-se a possibilidade para que
haja a penhora. - é o que estipula o §2º do 833
Inciso V- estende-se a impenhorabilidade desses bens não apenas às
pessoas físicas, como jurídicas também, vez que estes bens fazem parte do
sustento do indivíduo. Vale ressaltar que deve haver a comprovação dos bens para
seu devido fim alegado.
Inciso VI- A hipótese é expressa e clara. O seguro de vida é impenhorável,
ainda que não tenha sido recebido ainda.
Inciso VII- embora já possam ser enquadrados bens móveis enquanto não
forem devidamente empregados, o legislador optou por assim os manter. A única
exceção é caso o imóvel onde eles estejam venha a ser penhorado.
Inciso VIII- neste caso há dois requisitos, quais sejam, o tamanho da
propriedade e sua utilização para sustento próprio, devendo ambos serem objeto de
prova pelo executado. Com relação ao tamanho, já decidiu anteriormente o STJ:
para saber se o imóvel possui as características para enquadramento na
legislação protecionista é necessário ponderar as regras estabelecidas pela
Lei nº 8629/93 que, em seu artigo 4º, estabelece que a pequena
propriedade rural é aquela cuja área tenha entre 1 (um) e 4 (quatro)
módulos fiscais” (REsp 1.284.708/PR, 3ª Turma, Rel. Min. Massami Uyeda,
DJ 09.12.2011).

Inciso IX- A impenhorabilidade desses bens, ainda que já creditados nas


contas das instituições privadas, derivaram das receitas públicas. Em razão de sua
natureza (públicos), não podem ser, portanto, penhoráveis.
Inciso X- O valor de 40 salários refere-se ao total, não importando a
quantidade de cadernetas. Se todas somadas ultrapassarem o valor, é possível a
penhora. Este já foi o entendimento do STJ:
para a realização da penhora de poupança, deve-se apurar o valor de todas
as aplicações em caderneta de poupança titularizadas pelo devedor e
realizar a constrição apenas sobre o valor que exceder o limite legal de 40
salários mínimos (STJ, REsp 1.231.123/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 02.08.2012).

Inciso XI- este direito está previsto de maneira expressa no inciso, também
sendo um direito constitucional dos partidos (art. 17, § 3º, da CF)
Inciso XII- justificativa para este inciso está na ideia de que devem ser
garantidos aos consumidores (futuros proprietários) aquilo que lhes foi prometido,
ou seja, a entrega das unidades, não devendo haver a penhora, portanto.

Comentários breves com relação aos parágrafos:


Parágrafo (§) 1º- para além das dívidas de IPTU e da hipoteca, passaram a
entrar no rol automaticamente outras despesas, como as condominiais.
Parágrafo (§) 2º- este parágrafo traz duas exceções, por meio das quais
passa a ser permitida a penhora dos ganhos individuais, quais sejam, se a
prestação for alimentícia e ganhos que superem 50 salários mínimos ao mês.
Parágrafo (§) 3º- este parágrafo também traz uma exceção, agora com
relação ao inciso V, estando os instrumentos de trabalho sujeitos à penhora se de
alguma forma estiverem vinculados como garantia a negócio jurídico ou se
responderem, de algum modo, por dívida alimentar, trabalhista ou previdenciária.

Fonte:
http://genjuridico.com.br/2021/05/27/a-impenhorabilidade-de-bens/
#:~:text=833%20n%C3%A3o%20se%20aplicam%20%C3%A0,contempla%20duas
%20exce%C3%A7%C3%B5es%20%C3%A0%20impenhorabilidade.

Você também pode gostar