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TRABALHO

O trabalho era considerado um dos pilares do sistema auburniano, porém


não logrou êxito por influências externas, já que o trabalho dos presos
representava uma ameaça aos trabalhadores livres, já que representava
uma concorrência, além do fato de ter um custo menor. Dessa forma as
associações sindicais se opuseram fortemente a atividade laboral dentro
dos presídios. O caso mais emblemático ocorreu na prisão de Sing-Sing,
inaugurada em 1827, onde ocorreram os embates mais graves entre
autoridades penitenciárias e sindicatos. Além dos argumentos econômicos
suscitados pelos sindicatos, os operários livres consideravam que ensinar
um ofício ou técnicas de trabalho a detentos desvalorizava o oficio e não
se sentiriam bem trabalhando ao lado de ex presidiários.
TRABALHO DO
Arts. 28 – 37 LEP
PRESO

O trabalho possui função essencial no processo de ressocialização, sendo


apresentado como fator de recuperação, disciplina e aprendizado de um
novo ofício, que ajudará na reintegração da vida extramuros, por esta
razão é previsto como um Direito (Art. 41, II LEP) e ao mesmo um tempo
um Dever do condenado no curso da execução da Penal (Art. 39, V LEP).
TRABALHO DO
PRESO
Art. 28. O trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade humana, terá
finalidade educativa e produtiva.

Dupla finalidade:

EDUCATIVA, que mantém em atividade o preso que já trabalhava e induz o hábito de


trabalhar.

PRODUTIVA, que o preso terá a oportunidade de realizar algo útil, vivenciando o resultado
concreto de sua atividade e ainda percebendo remuneração por esse desempenho.
TRABALHO DO
PRESO
VANTAGENS DO TRABALHO DO PRESO:

Fonte de Renda

Possibilidade de remição, três dias de trabalho significa um dia a menos de


pena (Art. art. 126, § 1º, da LEP)

Constitui fator importante na ressocialização


TRABALHO DO
PRESO
§ 1º Aplicam-se à organização e aos métodos de trabalho as precauções
relativas à segurança e à higiene.

Ou seja, se no exercício do trabalho sobrevier ao segregado acidente de


trabalho ou enfermidade profissional, fará ele jus à devida indenização
em condições similares às que teria direito o trabalhador livre.
TRABALHO DO PRESO

Um dos direitos do preso, previsto na LEP, é a previdência social (Art. 41, III)

Art. 41 - Constituem direitos do preso:


III - Previdência Social;
TRABALHO DO PRESO

§ 2º O trabalho do preso não está sujeito ao regime da Consolidação das Leis


do Trabalho.

Não há vínculo trabalhista, a relação é constituída por um Direito Público,


por esta razão não existirão encargos sociais sobre a remuneração do preso,
por exemplo, não terá direito a férias, décimo terceiro salário, aviso prévio,
férias...
REMUNERAÇÃO DO TRABALHO DO
PRESO

Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não
podendo ser inferior a 3/4 (três quartos) do salário mínimo.

Independente de onde o trabalho seja realizado – interno ou externo – o


preso e o internado possuem direito a remuneração adequada.

VEDADA UTILIZAÇÃO DE MÃO DE OBRA CARCERÁRIA


GRATUITA.
REMUNERAÇÃO DO TRABALHO DO
PRESO
§ 1° O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender:

a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados


judicialmente e não reparados por outros meios;
Decisão judicial definitiva que estabeleça a obrigatoriedade da reparação do dano –
indenização ex delicto.

b) à assistência à família;
Tem por objetivo reduzir o impacto causado pela privação da liberdade
REMUNERAÇÃO DO TRABALHO DO
PRESO
c) a pequenas despesas pessoais;
O preso poderá utilizar este recurso para aquisição de objetos que sejam
permitidos no estabelecimento prisional.

d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a


manutenção do condenado, em proporção a ser fixada e sem prejuízo da
destinação prevista nas letras anteriores.
Desconto subsidiário, ou seja, após a realização de todos os descontos
anteriores.
REMUNERAÇÃO DO TRABALHO DO
PRESO
§ 2º Ressalvadas outras aplicações legais, será depositada a parte restante
para constituição do pecúlio, em Caderneta de Poupança, que será entregue
ao condenado quando posto em liberdade.

Após superados os descontos previstos no parágrafo anterior, o valor


restante será depositado em uma conta poupança, que será disponibilizada
quando for posto em liberdade.
REMUNERAÇÃO DO TRABALHO DO
PRESO
OBS1: Não há previsão na Lei de Execução Penal sobre a porcentagem dos
descontos, devendo a legislação federal ou estadual estabelecer tais
percentagens.

OBS2: a remuneração do preso tem por objetivo garantir-lhe a sua subsistência


temporária, quando posto em liberdade, evitando que volte a cometer novos
crimes, por esta razão não é permitida a liberação destes valores de forma
antecipada (regra), apenas em situações excepcionais devidamente
comprovadas. Ex: moléstia grave.
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À
COMUNIDADE

Art. 30. As tarefas executadas como prestação de serviço à comunidade não serão
remuneradas.

Relativa a pena restritiva de direito, prevista no Art. 46 do Código Penal, consiste na


realização de tarefas gratuitas em entidades públicas.
TRABALHO INTERNO

Art. 31. O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho na medida de
suas aptidões e capacidade.
Parágrafo único. Para o preso provisório, o trabalho não é obrigatório e só poderá ser
executado no interior do estabelecimento.

Embora exista esta obrigação explícita no texto da lei, não deve ser confundido com trabalho
forçado – Constitucionalmente proibido (Art. 5, XLVII, C da CF).

Caso o condenado se recuse a exercer o trabalho, não poderá ser coagido a realizar tal
atividade, porém incorrerá em cometimento de falta grave , estando sujeito as sanções
disciplinares previstas na lei.
TRABALHO INTERNO

Art. 39. Constituem deveres do condenado:


V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas;

Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:
VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta
Lei
TRABALHO INTERNO

OBS: o condenado por crime político é uma exceção a regra do Art. 200
da LEP.

Art. 200. O condenado por crime político não está obrigado ao trabalho.
 
TRABALHO INTERNO

Não há na LEP previsão expressa do responsável pela autorização do trabalho


interno, prevalecendo a corrente do responsável ser o diretor do
estabelecimento, sempre sob análise do magistrado.
TRABALHO INTERNO – JORNADA DE
TRABALHO
Art. 33. A jornada normal de trabalho não será inferior a 6 (seis) nem
superior a 8 (oito) horas, com descanso nos domingos e feriados.

Parágrafo único. Poderá ser atribuído horário especial de trabalho aos


presos designados para os serviços de conservação e manutenção do
estabelecimento penal.

Os presos que realização serviços de manutenção e conservação do


estabelecimento penitenciário, poderão laborar em horário especial, pois
estes serviços não podem ser interrompidos. Ex: atividades na cozinha,
enfermaria, lavanderia, ...
     
TRABALHO INTERNO – JORNADA DE
TRABALHO

OBS: Para o STJ: “para fins de remição, será considerado no cálculo


apenas o dia de trabalho realizado, isto é, o dia em que for desempenhada
a jornada completa de trabalho e não o número de horas trabalhadas.
TRABALHO INTERNO

Art. 34. O trabalho poderá ser gerenciado por fundação, ou empresa


pública, com autonomia administrativa, e terá por objetivo a formação
profissional do condenado.

§ 1o. Nessa hipótese, incumbirá à entidade gerenciadora promover e


supervisionar a produção, com critérios e métodos empresariais,
encarregar-se de sua comercialização, bem como suportar despesas,
inclusive pagamento de remuneração adequada.
TRABALHO INTERNO
§ 2º Os governos federal, estadual e municipal poderão celebrar convênio
com a iniciativa privada, para implantação de oficinas de trabalho
referentes a setores de apoio dos presídios.  

Celebração de convênios com o Poder Público, permitem que a iniciativa


privada implante oficinas de trabalho.
PRODUTO DO TRABALHO PRISIONAL

Art. 35. Os órgãos da Administração Direta ou Indireta da União, Estados,


Territórios, Distrito Federal e dos Municípios adquirirão, com dispensa de
concorrência pública, os bens ou produtos do trabalho prisional, sempre
que não for possível ou recomendável realizar-se a venda a particulares.

Regra: comercializado a particulares, não sendo possível ou


recomendável, os bens devem ser adquiridos pela Administração Direta ou
Indireta, não sendo necessária a realização (dispensa) de concorrência
pública, pois não existe objetivo de lucro e si de preparar o preso para a
vida em sociedade.
    
PRODUTO DO TRABALHO PRISIONAL

Parágrafo único. Todas as importâncias arrecadadas com as vendas


reverterão em favor da fundação ou empresa pública a que alude o artigo
anterior ou, na sua falta, do estabelecimento penal
TRABALHO EXTERNO
Trabalho externo deve ser compreendido como aquele realizado fora do
estabelecimento prisional – extramuros – sendo fator fundamental no
processo de reingresso do apenado na vida em sociedade.

STJ: “Não obstante esta Corte já ter decidido pela possibilidade de


concessão de trabalho externo a condenado em regime fechado, tem-se
como indispensável, à concessão da benesse, a obediência a requisitos
legais de ordem objetiva e subjetiva, além da vigilância direta, mediante
escolta. Sobressai a impossibilidade prática de concessão da medida,
evidenciando-se que não há como se designar um policial, diariamente,
para acompanhar e vigiar o preso durante a realização dos serviços
extramuros.
TRABALHO EXTERNO

Art. 36. O trabalho externo será admissível para os presos em regime


fechado somente em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da
Administração Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que
tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina.

Serviço público é toda atividade prestado pelo Estado, objetivando


satisfazer as necessidades essenciais e secundárias da coletividade, sob o
regime de Direito Público, criado e regulamentado pelo Poder Público
TRABALHO EXTERNO

§ 1º O limite máximo do número de presos será de 10% (dez por cento) do


total de empregados na obra.

§ 2º Caberá ao órgão da administração, à entidade ou à empresa


empreiteira a remuneração desse trabalho.
TRABALHO EXTERNO

OBS: O condenado que cumpre pena no regime semiaberto e realiza


trabalho externo deverá ter reconhecida a existência de vínculo trabalhista.

Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região que “na exclusão do regime


celetista encontram-se aqueles que cumprem pena de restrição da
liberdade – caso do autor – na hipótese de trabalho interno, tão somente, e
os presos em regime fechado que trabalham externamente”
   
TRABALHO EXTERNO

Os condenados que cumprem pena no regime aberto possuem direito ao


trabalho externo, sendo firmado o entendimento “o trabalho externo
prestado por condenado em regime aberto não configura o trabalho
prisional, previsto na Lei das Execuções Penais”, razão pela qual se
reconhece “relação de trabalho que se sujeita à tutela da CLT          
TRABALHO EXTERNO

REGIME FECHADO: autorizado em serviços e obras públicas realizados


por órgãos da administração direta ou indireta ou entidades privadas,
desde que tomadas as medidas contra fuga. Não há vínculo empregatício.

REGIME SEMIABERTO E ABERTO: o trabalho externo é autorizado em


empresas privadas, serviços e obras públicas e na função de autônomo.
Escolta não é necessária.
         
TRABALHO EXTERNO

Art. 37. A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do


estabelecimento, dependerá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além
do cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena.         
Apesar de haver disposição expressa sobre a competência para autorização
do trabalho externo, existem três correntes:

1) Art. 37. A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção


do estabelecimento, dependerá de aptidão, disciplina e
responsabilidade, além do cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da
pena.

2) Art. 66. Compete ao Juiz da execução: VI - zelar pelo correto


cumprimento da pena e da medida de segurança;

3) Ao juiz da execução no caso de apenado em regime semiaberto e ao


diretor do estabelecimento no caso de condenado em regime fechado
PRESSUPOSTOS DO TRABALHO EXTERNO

PRESSUPOSTO SUBJETIVO: respeita à aptidão, disciplina e


responsabilidade do preso. A aptidão constitui regra geral para o
trabalho do preso em qualquer circunstância

PRESSUPOSTO OBJETIVO: tratando-se de condenado que cumpre


pena em regime fechado, é necessário o implemento do lapso mínimo
de um sexto da pena, tal como indica a literalidade do art. 37 da LEP.
PRESSUPOSTOS DO TRABALHO
EXTERNO
 Súmula 40/STJ - - Pena. Execução penal. Benefício. Saída temporária e
trabalho externo. Lei 7.210/1984, art. 37, Lei 7.210/1984, art. 122 e Lei
7.210/1984, art. 123, II.
Para obtenção dos benefícios de saída temporária e trabalho externo,
considera-se o tempo de cumprimento da pena no regime fechado.
PRESSUPOSTOS DO TRABALHO
EXTERNO
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. DESCABIMENTO.
EXECUÇÃO DA PENA. REGIME SEMIABERTO. CASSAÇÃO DA AUTORIZAÇÃO
PARA TRABALHO EXTERNO. AUSÊNCIA DE REQUISITO OBJETIVO.
PRESCINDIBILIDADE DO CUMPRIMENTO DE 1/6 DA PENA.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. 1. É assente o entendimento desta
Corte no sentido de ser desnecessário o cumprimento de 1/6 (um sexto) da pena, no mínimo,
para a concessão do benefício do trabalho externo ao condenado a cumprir a reprimenda no
regime semiaberto, desde que satisfeitos os demais requisitos necessários, de natureza
subjetiva. 2. A exigência do cumprimento de 1/6 da pena para a concessão da benesse do
trabalho externo aos que se encontram no regime semiaberto configura constrangimento
ilegal sanável, de ofício. 3. Habeas corpus concedido, de ofício, para cassar o acórdão
impugnado e restabelecer a decisão do Juízo das Execuções Criminais.(STJ - HC: 282192
RS 2013/0377561-6, Relator: Ministro MOURA RIBEIRO, Data de Julgamento:
15/05/2014, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 22/05/2014)
PRESSUPOSTOS DO TRABALHO
EXTERNO
Requisito subjetivo: aptidão, disciplina e responsabilidade. Vale para condenados em regime
fechado e semiaberto.

Requisito objetivo: Regime fechado = cumprimento de 1/6 da pena.

Regime semiaberto = 3 correntes


1) 1/6 da pena, sendo integrado a este lapso o tempo em que esteve no regime fechado
(STJ-40)
2) Por não existir na LEP a condição do cumprimento de determinado lapso temporal para o
deferimento do trabalho externo, não é exigido o cumprimento de tempo. (Corrente
dominante).
3) Construção jurisprudencial: deve ser observado o mínimo 1/10 da pena imposta.
REVOGAÇÃO DO TRABALHO
EXTERNO
Parágrafo único. Revogar-se-á a autorização de trabalho externo ao
preso que vier a praticar fato definido como crime, for punido por falta
grave, ou tiver comportamento contrário aos requisitos estabelecidos
neste artigo.

Não é necessária que este fato definido como crime tenha decisão
definitiva – com trânsito em julgado – pois a causa da revogação não
está na sua culpabilidade e sim no seu desmerecimento pela conduta
praticada.
REVOGAÇÃO DO TRABALHO
EXTERNO
Punição por falta grave, não é suficiente a prática da conduta, exigindo
o dispositivo que haja a efetiva punição.

Faltas graves estão elencadas na LEP no Art. 50 - 52.

Ato de indisciplina ou falta de responsabilidade, comportamento


contrário aos requisitos estabelecidos na lei refere-se à disciplina e à
responsabilidade do apenado, tanto no exercício da atividade laborativa
como em sua vida carcerária.

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