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FACULDADE DE DIREITO
DIREITO ADMINISTRATIVO II
EXAME DE RECORRÊNCIA
R) agentes de facto putativos são, por definição, aqueles indivíduos que em circunstâncias
normais exercem funções administrativas de maneira a serem reputados, em geral, como agentes
regulares, apesar de não estarem validamente providos nos respectivos cargos, quer por falta de
visto do Tribunal Administrativo, quer pela invalidade do acto constitutivo do vínculo laboral.
Agentes de facto necessários são os indivíduos que, em estado de necessidade e por imperativo
do bem comum se encarregam do exercício de funções públicas sem nelas terem sido investidos
pelo processo regular.
Todos são agentes de facto, só que os putativos são investidos irregularmente numa situação de
normalidade; ao passo que os agentes de facto necessários são investidos nas suas funções em
situações de estado de necessidade ou de emergência (situações de anormalidade).
O agente de Estado é o cidadão contratado para o desempenho de certas actividades nos órgãos
centrais e locais do Estado. O agente de Estado é contratado fora do quadro.
O regime dos agentes de facto necessários: Quanto ao seu regime jurídico, deve afirmar-se
que os agentes necessários são equiparados, enquanto durar a emergência, a agentes de direito,
e os seus actos, quando confirmados, valem como tal e produzem os efeitos jurídicos pretendidos.
Quanto à sua natureza, bastará verificar-se a sua precariedade e a temporalidade da situação em
que actuam, para se concluir por qualificá-los como agentes precários que nunca podem adquirir,
por força da sua intervenção em situações de emergência, a qualidade de agente de direito. Estes
agentes não recebem salário, quanto muito, só podem ser pagos gratificações, quando tenham
sido acometidos às funções públicas por força de intervenção governamental, de entidades
administrativas; ou quando as entidades oficiais assim o entenderem.
Agentes de facto putativos: quanto à natureza esses agentes são agentes irregulares, que
actuam numa situação de regularidade, bastando verificarem os seguintes pressupostos: exercício
de uma função legal; quem exerce a função não deverá ter sido designado anteriormente para
uma outra na Função Pública; existir uma presunção de legitimidade: ter sido o agente ou
funcionário de facto designado na sequência de facto de erro comum ( error communis facit jus);
estar o funcionário ou agente a exercer as suas funções no interesse da colectividade; estar de
boa fé o agente. Quanto ao regime jurídico: há que verificar se o vínculo é anulável ou nulo.
Sendo anulável, o vício pode ser arguido dentro do prazo, momento em que o agente é
dispensado dos serviços, sem necessidade de devolver os salários recebidos; não sendo arguido
dentro do prazo, o acto viciado convalida-se e o agente de facto transita para a situação de
agente de direito; sendo nulo o acto, este não produz efeitos desde o início, e pode ser arguido a
qualquer tempo e por qualquer órgão administrativo ou judicial; momento em que o agente pode
ser dispensado das funções mas não tem de devolver os salários. Contudo, se tiver decorrido
longo tempo de exercício do cargo, o decurso de tempo pode levar a usucapião do lugar do
quadro de pessoal pelo agente, momento em que se torna agente de direito. Quanto aos actos
por estes praticados, são válidos devido à necessidade de segurança jurídica dos administrados
e a protecção de confiança.
R) A greve é uma das formas de luta laboral, constituindo, portanto, um verdadeiro conflito
colectivo, que implica uma contraposição de interesses seguida ou acompanhada de uma não
coincidência de opiniões quanto à saída a adoptar. Assim, a greve implica a abstenção colectiva e
concertada, em conformidade com a lei, da prestação de trabalho com o objectivo de persuadir o
empregador a satisfazer um interesse comum e legítimo dos trabalhadores envolvidos.
Este argumento liga-se aos teóricos que defendem que a greve não é admissível na Função
Pública. Segundo estas teorias, a Administração Pública coloca, perante a greve, problemas de
algum melindre, já que a sua admissibilidade surge aí como particularmente auto-limitativa; joga-
se, além disso a presunção de que todos os serviços da Administração são vitais; uma greve na
função pública seria, pois, uma paralisação contra o Estado (democrático e de Direito) e contra a
própria colectividade. A negação da greve na Função Pública é, ainda, argumentada com base no
estatuto próprio a que os servidores públicos estão submetidos, o que lhes diferencia dos
restantes trabalhadores regidos pela lei geral; a estabilidade da relação de emprego; a
supremacia do interesse público sobre qualquer interesse privado. Neste sentido, a greve
impediria o Estado de realizar as suas tarefas para a concretização dos objectivos fundamentais
da Nação.
(ii) – As segundas posições são as que admitem a greve na Função Pública. Admitem a greve na
Função Pública baseadas no princípio de igualdade entre os trabalhadores, não distinguindo a
Constituição da República entre trabalhadores do sector público e do sector privado. Mais! O
princípio de continuidade não é suficiente para impedir a greve, pois, mesmo no sector privado, a
greve é proibida nos sectores essenciais, podendo, muito bem, ser aplicável na Função Pública a
mesma regra, mutatis mutandi. Na verdade, a greve é aceite na Função Pública, não seria por
acaso que o próprio EGFAE veio estabelecer este direito. Todavia, o seu exercício deve ser
regulamentado amplamente, para que o interesse público não fique hipotecado pelo exercício de
um direito, como manifestação da luta laboral. O direito à greve não é um direito absoluto. O
direito à greve não é auto-aplicável, tudo depende dos procedimentos, limitações e/ou sujeições a
serem definidas expressamente pela futura lei da greve.