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DIREITO AMBIENTAL

Introdução ao Direito
Ambiental

Curso: Direito
Prof. Robson Braga
Caso prático

O Sr. Joaquim, humilde produtor rural, morador de uma


pequena cidade do interior de Minas Gerais, proprietário de muitas
terras e aflito perante tantas obrigações legais referentes ao meio
ambiente.

Ele elegeu você como seu(ua) advogado(a) para orientá-lo diante das


diferentes demandas relacionadas a sua propriedade rural.

Um dia após a assinatura do contrato de consultoria jurídica ambiental,


o Sr. Joaquim já chegou ao seu escritório com uma pilha de pastas e
documentos, trazendo um monte de informações ao mesmo tempo.
Ele disse que, há dez anos, seu filho Francisco lhe apresentou uma ideia
mirabolante: queria lotear as terras da família e lançar um
empreendimento de luxo: chácaras destinadas à alta sociedade da
região, pessoas que procuravam um local de descanso aos fins de
semana. Após muita insistência de Francisco, o Sr. Joaquim se reuniu
com Fernando, engenheiro civil, dono de uma construtora em Belo
Horizonte. Na ocasião, o projeto das chácaras lhe foi apresentado em
detalhes, e o Sr. Joaquim se surpreendeu com a riqueza das
informações: sua terra já estava totalmente mapeada e dividida em
vários pedaços. Ele nunca tinha visto um mapa daqueles.
Fernando era um homem educado, falante e articulado e disse
que o empreendimento seria rentável e a família Silva ganharia
muito dinheiro, mas necessitava da rápida autorização do Sr.
Joaquim para dar início à parte burocrática junto aos órgãos
competentes, pois a lei ambiental poderia mudar, o que inviabilizaria o
negócio. Atordoado com tal situação e pressionado por Francisco, Sr.
Joaquim autorizou o projeto. Entretanto, ficou muito apreensivo. Tudo
estava acontecendo de forma rápida: muitos profissionais visitavam
suas terras e diziam que estavam fazendo estudos. Fiscais do
órgão ambiental também batiam à sua porta a fim de fazer vistorias.
O loteamento foi aprovado e licenciado.
Contudo, Sr. Joaquim mudou de ideia, uma vez que não queria dispor
de suas terras, herança de família. Na verdade, o loteamento nunca
foi de seu anseio. Francisco ficou contrariado e cortou as relações
com o pai. Entretanto, agora, Sr. Joaquim quer retomar a ideia e se
reaproximar do filho. Ainda afobado, Sr. Joaquim conta a você que a
licença ambiental do empreendimento está vencida e, para piorar,
neste ano foi publicada uma lei ambiental mais restritiva, que proíbe
a modificação dos aspectos naturais por qualquer tipo de intervenção
humana na região onde o loteamento seria instalado. 
Diante do exposto, Sr. Joaquim lhe solicita os seguintes
esclarecimentos: 

(i) É possível lotear o meu imóvel?

(ii) a lei ambiental anterior – menos restritiva – não poderia ser


aplicada, ao invés dessa, nova e mais rigorosa, considerando
que o loteamento já foi aprovado há dez anos, na vigência da lei
antiga?
DIREITO AMBIENTAL: conceito

Milaré (2009) conceitua o Direito Ambiental, ou Direito do


Ambiente, como:

  O complexo de princípios e normas coercitivas reguladoras


das atividades humanas que, direta ou indiretamente, possa
afetar a sanidade do ambiente em sua dimensão global,
visando à sua sustentabilidade para as presentes e futuras
gerações. (MILARÉ, 2009, p. 815)
Em síntese, o Direito Ambiental é a disciplina jurídica ou ramo do
Direito cujo regime jurídico visa a regulamentar as ações
humanas que dizem respeito ao uso e gozo dos recursos
naturais, com o objetivo de tutelar o meio ambiente.
MAS O QUE É MEIO AMBIENTE?

A Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que estabelece a Política Nacional de


Meio Ambiente (PNMA), traz o conceito legal: Art. 3º, I - “meio ambiente, o
conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química
e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas
formas.” (BRASIL, 1981, art. 3º).

CF/1988, Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
O meio ambiente se apresenta em ordens distintas:

- Meio ambiente natural

- Meio ambiente cultural

- Meio ambiente artificial

- Meio ambiente do trabalho


FONTES DO DIREITO AMBIENTAL
Quanto à fonte material do Direito Ambiental, é importante destacar as
discussões internacionais sobre o meio ambiente.

- A Conferência de Estocolmo, realizada em 1972, foi uma


das primeiras tentativas de regulamentação internacional no âmbito
ambiental, e a importância de suas proclamações é evidenciada na
influência à Constituição de 1988 (THOMÉ, 2014).
- Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento (conhecida como Cúpula da Terra ou ECO-92),
realizada no Rio de Janeiro em 1992.

- Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável


(Johanesburgo, África do Sul, 2002).

- Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento


Sustentável (Rio de Janeiro, 2012).
Segundo Thomé (2014), também são fontes materiais do Direito Ambiental:

- descobertas científicas;

- discussões internacionais sobre efeitos adversos ao meio ambiente;

- movimentos populares de defesa do meio ambiente;

- desgaste na camada de ozônio;

- aquecimento do planeta e alterações climáticas;

- desenvolvimento mundial e destinação de resíduos;

- perda da biodiversidade;

- escassez de água; e,

- tragédias ambientais, como o acidente nuclear ocorrido em 2011 no Japão, em


Fukushima.
O Dr. Edis Milaré (2009), em alusão a textos produzidos pela Organização
das Nações Unidas (ONU), afirma que:

Há, realmente, documentos que, se não possuem autoridade jurídica


stricto sensu, revestem-se de uma autoridade de outra natureza e
adquirem peso específico no próprio ordenamento jurídico.
(MILARÉ, 2009, p. 91)
- Relatório Nosso Futuro Comum, conhecido por Relatório
Brundtland, publicado em 1987 pela Comissão Mundial sobre o
Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU.

- O relatório trouxe o conceito de desenvolvimento sustentável:

Desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração


atual, sem comprometer a capacidade de atender as
necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que
não esgota os recursos para o futuro.
AUTONOMIA E MULTIDICIPLINARIEDADE

- O Direito Ambiental é autônomo com relação aos demais ramos do


Direito, haja vista possuir regras e princípios próprios.

- Entretanto, sua autonomia não exclui a sua natureza


multidisciplinar.
NATUREZA JURÍDICA

Édis Milaré destaca que o direito ambiental não pode ser


enquadrado na dicotomia tradicional direito público ou
privado, mas deve ser entendido como direito difuso, uma vez
que tutela interesses gerais e coletivos. O objeto do direito
ambiental encontra-se na terceira geração de direitos.
APLICAÇÃO DA LEI AMBIENTAL NO TEMPO

Em regra, no ordenamento jurídico brasileiro, aplica-se o


princípio da irretroatividade das leis, conforme preceitua o art.
6ª da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, in verbis:
“a Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.”.
- No Direito Ambiental, no entanto, este princípio merece atenção especial, uma
vez que não pode levar a interpretações que institucionalizem o direito de
poluir, conforme assevera Milaré (2009).

- A lei ambiental terá aplicação imediata para os fatos e situações futuras; 

- Bem como, sobre os efeitos atuais e futuros dos atos pretéritos. 

Assim, por exemplo, se uma lei posterior proibir alguma atividade que já fora
licenciada com fundamento em lei anterior permissiva, a aplicação da lei nova
será imediata e, mesmo que exista licença válida, a atividade não poderá ser
autorizada em futura renovação desse ato autorizativo (MILARÉ, 2009).
QUESTÕES PARA APROFUNDAMENTO
1 - O problema da siderúrgica do filho do Sr. Joaquim

O filho do Sr. Joaquim, Francisco, é um empresário de sucesso, dono de


uma grande siderúrgica, que possui vários altos fornos, os quais geram
uma grande quantidade de efluentes atmosféricos.

Em 2016, a licença ambiental do empreendimento foi renovada, momento


em que o órgão ambiental determinou que fossem observados os
limites máximos de emissão (quantidade máxima de poluentes
permitida a ser lançada na atmosfera) estabelecidos na Lei Estadual n°
Todavia, em 2017, foi publicada a Lei Estadual n° 90, que revogou a Lei
Estadual n° 200 de 2014 e estabeleceu padrões mais restritivos de
lançamento de poluentes atmosféricos.  

Francisco sabe que sua empresa não conseguirá atender aos


parâmetros expressos na nova lei e, por isso, o procura, já que você é
advogado(a) de seu pai e pessoa de confiança. O filho do Sr. Joaquim,
tentando encontrar uma saída, o questiona: como a siderúrgica
obteve a licença ambiental em 2016, quando a Lei Estadual n°
200/2014 estava em vigor, a empresa pode continuar a atender aos
padrões de lançamento nela estabelecidos?
2. Direito Ambiental é a disciplina jurídica ou ramo do Direito cujo regime jurídico
visa a regulamentar as ações humanas que dizem respeito ao uso e gozo dos
recursos naturais, com o objetivo de tutelar o meio ambiente. A tutela do
Direito Ambiental é o meio ambiente, que, nos termos da Lei n° 6.938, de 31
de agosto de 1981 - lei esta que estabelece a Política Nacional de Meio
Ambiente (PNMA) -, é conceituado como:

a) O conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem


física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida humana em todas
as suas formas.

b) O conjunto de leis jurídicas que permite, abriga e rege a vida humana


em todas as suas formas.
c) O conjunto de leis jurídicas que permite, abriga e rege a vida em
todas as suas formas.

d) O conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem


física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em
todas as suas formas.

e) O conjunto de elementos da natureza, solo, água, ar, fauna e flora


que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.
3. Descobertas científicas, discussões internacionais sobre
efeitos adversos ao meio ambiente, movimentos populares de defesa do
meio ambiente, entre outros, contribuem para a formação da fonte
material do Direito Ambiental.

Sobre a Conferência de Estocolmo (1972), é correto afirmar que:

a) Apesar da tentativa de atribuir relevância às questões atinentes ao


meio ambiente e da urgência de serem tomadas medidas pelos países
para o uso racional dos recursos naturais, a Conferência de Estocolmo
não representou um debate global nem produziu documento de
significativa importância.
b) A Conferência de Estocolmo é apontada pela doutrina como uma das primeiras
tentativas de regulamentação internacional no âmbito ambiental.

c) A Conferência de Estocolmo é apontada pela doutrina como uma das primeiras


tentativas de regulamentação internacional no âmbito ambiental. Entretanto,
para o ordenamento jurídico brasileiro, não gerou reflexo importante.

d) A Conferência de Estocolmo resultou na confecção do documento chamado


Agenda 21.

e) Apesar de não representar um debate global, a Conferência de


Estocolmo resultou na realização da Declaração sobre o Meio Ambiente.
4. O Direito Ambiental, por tutelar um direito de terceira geração, é
um direito que interage com todos os demais ramos do
ordenamento jurídico. Sobre a autonomia do Direito Ambiental e
seu caráter multidisciplinar, é correto afirmar que:

a) Não pode ser considerado ramo autônomo do Direito, pois não


possui regras e princípios próprios.

b) Não pode ser considerado ramo autônomo do Direito, pois, apesar


de possuir regras e princípios próprios, encontra-se abrangido pelo
Direito Administrativo.
c) Pode ser considerado ramo autônomo do Direito, entretanto
com disciplina e conteúdo estanques.

d) Pode ser considerado ramo autônomo do Direito, pois


possui regras e princípios próprios.

e) Não pode ser considerado ramo autônomo do Direito, pois,


apesar de possuir regras e princípios próprios, encontra-se
regulamentado dentro dos demais ramos do Direito.

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