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CONTRATO DE ENGINEERING
Introdução:
Engineering deriva do latim ingeniu que significa: faculdade inventiva, talento,
potencial inventivo e, até, génio.
O contrato de engineering é uma figura contratual complexa e multifacetada;
assim como uma realidade crescente no comércio nacional e internacional, tendo por
objetivo o desenvolvimento de infraestruturas de grande porte. Assim, pode ser
considerado como a ciência das construções civis, militares e navais, necessária da
mutação e evolução da Humanidade.
Por isso, nos dias de hoje, falamos na engenharia que fruto da investigação
científica demonstra a necessária intervenção no equilíbrio/harmonização da qualidade
de vida, mesmo para a subsistência da humanidade no planeta (engenharia ambiental) e
no Universo (engenharia aeronáutica e espacial).
Outros tipos de engenharia:
✓ química
✓ física
✓ elétrica e eletrónica
✓ geológica e de minas
✓ industrial
✓ mecânica
✓ nuclear
✓ de segurança
✓ sanitária
✓ biomédica
✓ genética
Para o desenvolvimento de qualquer uma destas engenharias é necessário um
trabalho técnico de variados profissionais, como, p.ex.: engenheiros, arquitetos,
informáticos, entre outros.
Desta forma, o engineer recorre criativamente a princípios técnicos e científicos
para conceber e desenvolver estruturas, ou obras, utilizando-as. Podemos aqui falar em
estruturas, máquinas, aparelhos, sistemas, materiais ou até um processo.
Por exemplo: se os contratos de consumo preveem o destino final do produto, os
contratos de engineering preveem a estruturação, a viabilização da matéria-prima em
produto.
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Fases:
O contrato de engineering tem várias fazes, como:
✓ A fase preliminar/pré-contratual/ de planeamento:
A maioria dos projetos de engenharia envolvem a criação de algo novo ou a
destruição e reconstrução de algo já existente. Nesta fase, os prós e contras são
avaliados – a nível de custos, qualidade dos produtos. Também é nesta fase que se
estabelecem quais os critérios que se pretende alcançar com o final do projeto.
Dentro desta fase preliminar, podemos encontrar uma subfase, por assim dizer,
que será a fase do projeto detalhado. Aqui, todos os possíveis problemas são
investigados e é feita uma completa análise.
✓ A celebração do contrato escrito:
Esta fase será antecedida de uma fase de licitação, onde se irá incluir a
publicidade do projeto, respostas a eventuais perguntas que os licitantes (ou,
futuramente, as empresas de engenharia – o engineer) possam ter em relação ao projeto,
realização de reuniões pré-concurso e abertura das propostas.
✓ A fase operativa ou a fase da execução material da obra:
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Nos dias de hoje temos como exemplo a ANT – ENGENHARIA & CONSULTORIA, que oferece consultoria
em vários setores como estudos multidisciplinares, avaliações, licenciamentos, revisão de projetos,
entre outros.
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Natureza jurídica:
O contrato de engineering corresponde a um contrato de produção de bens e
serviços de longa duração.
Apesar de não existir uma definição deste contrato, há quem o defina como o
contrato
“pelo qual um profissional licenciado em virtude da sua atividade intelectual idealiza e
concretiza um determinado projeto para uma entidade-cliente que se compromete a
disponibilizar meios convencionados e a retribuir uma prestação pecuniária pela obra/criação
intelectual/fator tecnologia”.
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Caracteres particulares:
Contrato de longa duração (de execução prolongada):
Ainda no âmbito da complexidade deste tipo de contrato, e pela sua importância
económica, é um contrato que se caracteriza por ter um longo período de negociações.
Mutabilidade do contrato:
Além do mais, por ser um contrato de longa duração, está sujeito a que ocorram
mudanças nas circunstâncias previamente acordadas:
✓ Alterações nos mercados;
✓ Preços,
✓ Legislações;
✓ Inovações técnicas mais eficientes,
✓ Etc.
Por todos estes fatores variáveis surge a necessidade de se incluir no contrato de
engineering uma cláusula de variação das circunstâncias. Pode o cliente, contudo,
solicitar alterações, alterações estas que devem ser feitas por escrito e o engineer não se
pode opor.
Casos de urgência:
Em caso de urgência, o cliente pode exigir a aplicação imediata de uma mudança
no curso da obra, mas, noutros casos, o engineer é obrigado a estabelecer, por escrito, as
consequências que essa mudança terá sobre os preços, garantias e cronograma de
execução.
Se assim não for, o engineer tem direito ao reembolso das despesas sobre os
estudos realizados e não pode fazer alterações às regras de execução do contrato, sem
autorização do cliente.
As cláusulas que prevejam as mesmas são legítimas, mas desde que não alterem
o objeto do contrato original. Caso estas existam temos um vício substancial – a
nulidade.
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Contrato consensual:
É, por regra, um contrato consensual, isto é, é formado porque as partes
demonstram vontade em realizá-lo, e é caracterizado pelos princípios da autonomia
privada e da liberdade contratual.
Substância do contrato:
Sendo um contrato de longa duração porque a prestação do engineer tem um
período de execução prolongado no tempo, será estipulada uma data determinada para o
término do projeto.
A complexidade do conteúdo terá como consequência a multiplicidade e a
necessária articulação das várias prestações do engineer, normalmente integrado numa
sociedade de engenharia, no sentido de satisfazer o interesse unitário da entidade, ou
seja, o cliente.
No entanto, o contrato de engineering é complexo porque o número de variáveis
que influenciam a execução do objeto é relativamente grande em comparação com
contratos mais simples.
Exemplo:
Quando uma empresa industrial solicita a uma empresa de engineering um
projeto de ampliação da capacidade de produção de uma dada unidade fabril. Aqui a
empresa industrial não pretende adquirir o conhecimento técnico subjacente à
ampliação, mas, tão-só, a efetivação dessa ampliação.
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O engineer pode ser uma pessoa que opere de forma individual (singular), como
também poderá ser uma sociedade (coletiva). Enquanto o cliente pode tratar-se de um
privado ou de uma entidade pública (nada obsta a que se trate de sujeitos de direito
público a solicitar tal contrato).
O engineer compromete-se a conceber e concluir determinado projeto; enquanto
a entidade-cliente obriga-se a disponibilizar toda a documentação e informação inerente
ao andamento do projeto, bem como, a pagar um determinado preço por tais serviços.
Deveres das partes:
✓ consideração e respeito entre ambas, ou seja, que o princípio da boa-fé
contratual seja respeitado antes e durante a existência do contrato;
✓ dever de informação – isto facilita a que não haja situações de erro na fase
inicial ou durante a vigência do contrato;
✓ dever de lealdade – aqui circunscreve-se às partes não revelarem informações
confidenciais resultantes das negociações;
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Consequência do incumprimento:
O atraso no pagamento de uma parcela do preço pode resultar na dilação dos
prazos de entrega, pelo engineer, e reembolso de qualquer aumento de custos ou o
pagamento de juros sobre os montantes pagos com atraso.
Contudo este pode rescindir o contrato se o atraso for superior a um limite pré-
estabelecido, sem nova prorrogação, e, em casos graves de incumprimento, há
igualmente direito a indemnização.
Se for um período de tempo superior ao previsto, o engineer pode obter o direito
ao pagamento pela diferença entre os custos efetivamente incorridos e essa alteração
sejam resultantes de um aumento acentuado dos custos e da mão-de-obra, que podem
ser previstas na cláusula do contrato; por exemplo numa cláusula penal.
Desistência ou morte:
Aqui estão outras duas causas de extinção do contrato de engineering. Sendo que
falamos da desistência da entidade-cliente e a morte do engineer.
No caso de o cliente desistir do contrato de engineering, apenas e só, se poderá
falar de desistência como um ato autónomo. A desistência não carece de qualquer
justificação, ou seja, se o cliente entender que deve desistir da realização do projeto, tal
está ao seu dispor, podendo ter a sua justificação em várias situações:
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Termo do contrato:
Aqui chegados, queremos falar do momento em que o projeto se dá por
concluído. Ou seja, quando o engineer põe o projeto ao dispor da entidade-cliente.
Atendendo a todos os aspetos do contrato de engineering, nomeadamente à sua
complexidade por se tratar de um contrato associado a construções de elevadas
dimensões, a aceitação deve ser feita sob a forma escrita e por documento autenticado.
Deste modo, as partes ficam salvaguardadas por todos os aspetos do projeto final
estarem de acordo com o que foi inicialmente discutido.
Risco:
❖ Decurso do tempo;
❖ Fenómenos meteorológicos;
O contrato de engineering na sua fase embrionária, exige, como já vimos, um
período de estudos, onde serão feitas diversas simulações que permitam saber, com um
elevado grau de certeza qual é a viabilidade do projeto.
É pouco provável ocorrer algo não imputável a alguma das partes, que
impossibilite o projeto na íntegra. Mas, é de referir, que quando falamos de risco, não
falamos apenas no risco inerente ao projeto – aquele relativo a vicissitudes do projeto,
execução da obra ou até problemas e vícios dos materiais utilizados.
Nos contratos que não sejam de execução instantânea, há a assunção de riscos.
Riscos que estão interligados com o decurso do tempo que nas relações humanas traz
sempre incertezas, mesmo que nas cláusulas contratuais contemos com possíveis
motivos ou acontecimentos que possam provocar atrasos.
O contrato de engineering é um contrato, como já dissemos, de longa duração.
Mesmo com novas técnicas como o fast track engineering ou concurrent engineering é
necessário realizar certos atos que vão prolongar-se no tempo e assim surge sempre a
probabilidade do risco ocorrer.
Existem dois tipos de risco: os controláveis e os incontroláveis.
❖ Incontroláveis -» aumento do preço dos materiais, meteorologia, mudanças
imprevisíveis nas condições do solo;
❖ Controláveis -» variações no desempenho humano: baixa produtividade,
desperdício de materiais; Se a magnitude ou o custo do risco puder ser
influenciado por qualquer um dos participantes, esse risco diz-se controlável;
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Natureza jurídica
1. Normas FIDIC
Introdução:
FIDIC é a abreviatura de Federation Internationale des Ingénieurs-Conseils ou
International Federation of Consulting Engineers com sede em Genebra (que celebra
este ano 110 anos) é, a nível mundial, o órgão representativo de associações nacionais
de engenheiros consultores e representa mais de um milhão de profissionais de
engenharia e 40 mil empresas em mais de 100 países em todo o mundo.
A FIDIC está encarregada de promover e implementar os objetivos estratégicos
da indústria da engenharia consultiva e de disseminar informações e recursos de
interesse dos seus membros.
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Manuais de treino:
Ao longo dos tempos, a FIDIC foi editando vários documentos, e modelos
contratuais, de forma a acompanhar a evolução da construção a diferentes níveis, quer
tecnológico, social e económico.
A partir de 1999, e nos anos seguintes, a FIDIC lançou diversos manuais, tendo
em consideração várias situações contratuais e tendo em conta que o engenheiro nestes
tipos de contrato atua em nome do dono da obra:
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Em 2011, foi lançada a versão em português do Red Book, depois da conferência anual da FIDIC em
São Paulo.
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Contudo, estas alterações não devem constituir maiores encargos, devendo constituir
apenas variações.
O engenheiro ou o assistente tem de comunicar estas alterações e num prazo de
2 dias o empreiteiro tem de comunicar, também por escrito, que as aceita.
A figura do engineer:
Tem como principais funções ser o representante da entidade-cliente que o
nomeia para gerir e supervisionar os trabalhos de construção e o contrato. Caracteriza-se
por ser um elemento independente, neutro e responsável que determina as cláusulas de
alterações de pagamento e prazo, que resolve com justiça os litígios que existirem entre
a entidade-cliente e o empreiteiro.
No caso de alguma decisão do engenheiro prejudicar o dono de obra, e isso for
provado, é considerado negligência por parte do engenheiro.
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Em 2014, foram lançadas as versões em português do Yellow Book, do Silver Book e do White Book –
Client/Consultant Model Services Agreement 5th Edition – depois da conferência anual no Rio de
Janeiro.
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Diferenças:
NEC FIDIC
» tem como foco a emissão de alertas » concentram-se nas reclamações,
antecipados, o programa e as medidas responsabilidades, litígios e riscos;
preventivas para tornar o contrato mais
administrável entre as partes;
» usa uma linguagem fácil, clara e direta » são mais tradicionais e com uma
– a clareza e simplicidade facilitam a linguagem às vezes mais complexa;
compreensão das cláusulas o que as torna
mais fácies de usar;
» o engenheiro deve apresentar um » aqui o empreiteiro deve apresentar um
programa detalhado para aceitação do programa detalhado;
project manager;
» prevê-se a obrigação de uma das partes » não prevê a obrigação de ambas as
(empreiteiro ou project manager) partes notificarem quando detetarem
notificar a outra quando descubra algum algum defeito;
defeito – diminuindo o impacto nos
custos e no tempo;
» o empreiteiro deve preparar um » analisa o custo e o tempo
orçamento, tendo em consideração o separadamente com todos os detalhes e
tempo e os custos, e submete-la para o sub-partes;
project manager a aceitar;
3. Dispute boards:
Os dispute boards é um mecanismo de solução de conflitos que tem como fim a
resolução desses na área corporativa, especialmente em relação a contratos de longa
duração como é o caso do contrato de engineering.
Uma vez que, p.ex., em grandes obras é impossível prever todos os
acontecimentos; o que desencadeia cláusulas que podem gerar conflitos entre as partes.
Existe um comité de especialistas na matéria objeto do contrato, que é indicado
pelas partes, e tem como função prevenir ou solucionar as disputas que surjam. Assim
são responsáveis por documentar o comportamento das partes ao longo da relação
contratual, acompanham a execução do contrato e orientam as partes no mesmo.
A grande vantagem é o caracter preventivo que outros mecanismos de resolução
não apresentam. Um dispute board bem implementado pode evitar os desacordos entre
as partes e a segurança nas decisões em eventuais conflitos, se em algum caso houver
litígio resolvem. A desvantagem retrata-se no carácter jurisdicional da arbitragem, que
os dispute boards não possuem, o que pode desencadear que as partes questionem
judicialmente, ou pela via arbitral, a decisão do comité.
4. Marmaray project:
Como referido anteriormente na construção deste projeto foram utilizadas as
normas FIDIC como modelo de contrato.
O projeto de engenharia ferroviária de Marmaray é uma ligação de 76,3 km
inaugurada em outubro de 2013. O trabalho de construção estava programado para
ser concluído em abril de 2009, mas foi retificado para 2010. Tendo sido os
trabalhos atrasados dado a descobertas arqueológicas feitas no momento da
construção em Yenikapi.
O projeto Marmaray conecta a Europa à Ásia atravessando o estreito de
Istambul. Inclui-o também, a modernização de 63 km de ferrovia suburbana e a
compra de novas matérias para ceder os serviços.
Só após uma década de estudos é que em 1999 foi feito um acordo entre a
República da Turquia e o Banco Japonês de Cooperação Internacional que permitiu
reunir 35% do financiamento total do projeto.
Houveram quatro elementos principais no projeto:
1. O túnel ferroviário subaquático;
2. A melhoria das linhas ferroviárias suburbanas de Gebze-Haydarpasa e Sirkeci-
Halkali;
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3. Trabalhos elétricos;
4. E a aquisição de novo material giratório.
Infraestruturas:
A ideia surgiu em 1860, contudo, a profundidade das águas do mar não permitiu
o uso seguro do fundo do mar tradicional como suporte ou até a possível escavação de
túneis.
O túnel foi considerado a estrutura imersa mais profunda do mundo: a 55 metros
abaixo do nível do mar, com uma extensão de 13,6 km - 9,8km escavado; 2,4 km
construídos através do método cut-and-cover e os restantes 1,4 km são túnel tubular.
O contrato de engineering foi atribuído a um consórcio japonês-turco, tendo todo
o projeto sido supervisionados pela State Railroads e pela Administração de Portos e
Aeroportos.
O contrato de fornecimento foi celebrado com a Hyundai Rotem – uma empresa
de tecnologia inteligente no mercado ferroviário. Esta devia de fornecer 440 conjuntos
de trilhos para o projeto em 2008, tendo o primeiro lote sido entregue em 2011 e o
segundo em setembro de 2013. A Transport Design International (TDI), uma empresa
de design de interiores e exteriores, forneceu os projetos do material.
A empresa Bechtel e Enka da Turquia celebraram um contrato de 1,48 bilhões
para atualizar a linha ferroviária existente no distrito de Gebze e Halkali e outra linha
que passa pelo túnel.
A joint venture da Invensys Rail e da espanhola OHLcelebrou um contrato de
195 milhões para fornecer soluções de sinalização e comunicação para o projeto.
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