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Contratos Internacionais

CONTRATO DE ENGINEERING

Introdução:
Engineering deriva do latim ingeniu que significa: faculdade inventiva, talento,
potencial inventivo e, até, génio.
O contrato de engineering é uma figura contratual complexa e multifacetada;
assim como uma realidade crescente no comércio nacional e internacional, tendo por
objetivo o desenvolvimento de infraestruturas de grande porte. Assim, pode ser
considerado como a ciência das construções civis, militares e navais, necessária da
mutação e evolução da Humanidade.
Por isso, nos dias de hoje, falamos na engenharia que fruto da investigação
científica demonstra a necessária intervenção no equilíbrio/harmonização da qualidade
de vida, mesmo para a subsistência da humanidade no planeta (engenharia ambiental) e
no Universo (engenharia aeronáutica e espacial).
Outros tipos de engenharia:
✓ química
✓ física
✓ elétrica e eletrónica
✓ geológica e de minas
✓ industrial
✓ mecânica
✓ nuclear
✓ de segurança
✓ sanitária
✓ biomédica
✓ genética
Para o desenvolvimento de qualquer uma destas engenharias é necessário um
trabalho técnico de variados profissionais, como, p.ex.: engenheiros, arquitetos,
informáticos, entre outros.
Desta forma, o engineer recorre criativamente a princípios técnicos e científicos
para conceber e desenvolver estruturas, ou obras, utilizando-as. Podemos aqui falar em
estruturas, máquinas, aparelhos, sistemas, materiais ou até um processo.
Por exemplo: se os contratos de consumo preveem o destino final do produto, os
contratos de engineering preveem a estruturação, a viabilização da matéria-prima em
produto.

Breve referência histórica:


Enquanto atividade, a engenharia surge no Antigo Egito, na Grécia e em Roma
com um carácter público, ou seja, a realização de obras públicas. A partir do séc. XVII

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começa a mudar e a figura do engineer surge como profissional qualificado e, no séc.


XIX, começam a surgir sociedades de engenharia e consultoria. 1
Para o autor Clóvis V. do Couto e Silva, no Brasil, o desenvolvimento do
contrato de engineering associa-se à tendência protecionista dos anos 60 e 70 por
intermédio do Decreto nº 64.345 de 10 de abril de 1969. Este decreto já referia
expressamente a reserva de mercado da Administração Pública para contratar com
empresas nacionais de engenharia – em contraste com a conceção antiga da engenharia
como profissão liberal.
Um dos decretos que veio alterar o Decreto nº64.345 – o Decreto nº66.717 de
1970 – chegava até a definir o que se entendia por serviços de engenharia para proteger
a reserva de mercado da Administração Pública. Entre os vários serviços mencionados
estava presente a “execução, supervisão e controlo da instalação e montagem de
unidades industriais”.
Na realidade, o fenómeno do exercício empresarial da engenharia surge no séc.
XX nos EUA onde surgem as primeiras empresas de engenharia. Em 1907 surgia a
primeira lei de regulamentação da atividade de engenharia em Wyoming e, em 1921,
nos estados Minnesota, Nova Iorque, Carolina do Norte e Oregon.
Hoje em dia podemos falar de engenharia como uma realidade contratual, que
amadureceu depois da era industrial e da crescente complexidade tecnológica de uma
economia que deixou de ser agrária e passou a ser uma economia de massas.

Fases:
O contrato de engineering tem várias fazes, como:
✓ A fase preliminar/pré-contratual/ de planeamento:
A maioria dos projetos de engenharia envolvem a criação de algo novo ou a
destruição e reconstrução de algo já existente. Nesta fase, os prós e contras são
avaliados – a nível de custos, qualidade dos produtos. Também é nesta fase que se
estabelecem quais os critérios que se pretende alcançar com o final do projeto.
Dentro desta fase preliminar, podemos encontrar uma subfase, por assim dizer,
que será a fase do projeto detalhado. Aqui, todos os possíveis problemas são
investigados e é feita uma completa análise.
✓ A celebração do contrato escrito:
Esta fase será antecedida de uma fase de licitação, onde se irá incluir a
publicidade do projeto, respostas a eventuais perguntas que os licitantes (ou,
futuramente, as empresas de engenharia – o engineer) possam ter em relação ao projeto,
realização de reuniões pré-concurso e abertura das propostas.
✓ A fase operativa ou a fase da execução material da obra:

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Nos dias de hoje temos como exemplo a ANT – ENGENHARIA & CONSULTORIA, que oferece consultoria
em vários setores como estudos multidisciplinares, avaliações, licenciamentos, revisão de projetos,
entre outros.

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Esta fase envolve a implementação física do trabalho que o engineer projetou.


Um representante do engineer estará presente no local de construção, pois o
engineer tem a responsabilidade de garantir a construção adequada da obra. Além disso,
como está mais preocupado com a adequação do produto final, há problemas de
construtibilidade que precisam de ser resolvidos por ele.
Assim que o projeto estiver finalizado, é necessário garantir que as partes
interessadas têm a documentação correta para questões administrativas e de
financiamento.
Dando-se por fim…
✓ A receção da obra:
É na fase preliminar que se possibilita e realiza o projeto e se dá a negociação.
Na negociação é necessário recorrer a instrumentos que sejam eficazes a tutelar os
vários interesses.

Todos estas fases levam a uma única finalidade – a concretização efetiva de um


projeto.
O contrato de engineering é, normalmente, associado a grandes investimentos:
estruturas habitacionais, produção de energia elétrica, tratamento de águas; também no
desenvolvimento de infraestruturas portuárias e aeroportuárias. Exigindo sempre a
intervenção de entidades especializadas com conhecimentos e competências nos setores
da engenharia, arquitetura e urbanística.

Natureza jurídica:
O contrato de engineering corresponde a um contrato de produção de bens e
serviços de longa duração.
Apesar de não existir uma definição deste contrato, há quem o defina como o
contrato
“pelo qual um profissional licenciado em virtude da sua atividade intelectual idealiza e
concretiza um determinado projeto para uma entidade-cliente que se compromete a
disponibilizar meios convencionados e a retribuir uma prestação pecuniária pela obra/criação
intelectual/fator tecnologia”.

O prof. Antunes Varela define o contrato de engineering como


“um contrato que visa o desenvolvimento, a elaboração, ou a edificação de uma certa
estrutura que, por norma, será de grandes dimensões”.

Como partes deste contrato temos o engineer, a entidade-cliente e, pode surgir


uma terceira figura – o negociante ou contratante, quando houver a necessidade de
subcontratação de pessoal habilitado e fornecedores.
Ao não existir uma definição legal deste contrato, o mesmo enquadra-se como
um contrato social, ou seja, um contrato com tipificação social muito conhecido e

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largamente utilizado pelo comércio e mercado internacional. Podemos qualifica-lo


como um contrato inominado e atípico.
Esta atipicidade implica a necessidade de recorrer às fontes jurídicas de origem
internacional:
✓ Lex mercatória (usos e costumes do comércio internacional);
✓ Normas FIDIC;
✓ Princípios UNIDROUT;
A falta de uma única regulamentação jurídica para o contrato de engineering cria
uma ampla série de modelos utilizados no tráfico jurídico internacional. Contudo, todos
caracterizam-se pela sua complexidade, contínua evolução e elasticidade, para se
adaptarem às várias legislações nacionais.

Caracteres particulares:
Contrato de longa duração (de execução prolongada):
Ainda no âmbito da complexidade deste tipo de contrato, e pela sua importância
económica, é um contrato que se caracteriza por ter um longo período de negociações.

Mutabilidade do contrato:
Além do mais, por ser um contrato de longa duração, está sujeito a que ocorram
mudanças nas circunstâncias previamente acordadas:
✓ Alterações nos mercados;
✓ Preços,
✓ Legislações;
✓ Inovações técnicas mais eficientes,
✓ Etc.
Por todos estes fatores variáveis surge a necessidade de se incluir no contrato de
engineering uma cláusula de variação das circunstâncias. Pode o cliente, contudo,
solicitar alterações, alterações estas que devem ser feitas por escrito e o engineer não se
pode opor.

Casos de urgência:
Em caso de urgência, o cliente pode exigir a aplicação imediata de uma mudança
no curso da obra, mas, noutros casos, o engineer é obrigado a estabelecer, por escrito, as
consequências que essa mudança terá sobre os preços, garantias e cronograma de
execução.
Se assim não for, o engineer tem direito ao reembolso das despesas sobre os
estudos realizados e não pode fazer alterações às regras de execução do contrato, sem
autorização do cliente.
As cláusulas que prevejam as mesmas são legítimas, mas desde que não alterem
o objeto do contrato original. Caso estas existam temos um vício substancial – a
nulidade.

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Contrato consensual:
É, por regra, um contrato consensual, isto é, é formado porque as partes
demonstram vontade em realizá-lo, e é caracterizado pelos princípios da autonomia
privada e da liberdade contratual.

Contrato de base individual:


É um contrato de base individual pois o seu conteúdo está condicionado pelas
especificidades do projeto ou da obra que constitui o seu objeto.

Contrato obrigacional, bilateral e sinalagmático:


É um contrato obrigacional porque gera efeitos para as partes intervenientes;
bilateral, pois existem pelo menos duas esferas distintas de interesses; e, sinalagmático,
aqui existe uma correspetividade e interdependência entra ela.

Contrato formal e autossuficiente (self-contained):


São realizados sob a forma escrita prevendo todas as obrigações das esferas de
interesses, vicissitudes e todas a especificidades técnicas do projeto e da obra a
executar.

Contrato oneroso de natureza fiduciária:


Por se tratar de um contrato que envolve quantias avultadas de dinheiro, e a
intervenção de vários profissionais especializados, será um contrato oneroso de acordo
recíproco. Ou seja, é um contrato que vai importar benefícios para ambas as partes,
suscetíveis de serem avaliados em dinheiro, tanto para o contratante, como para o
contratado
Decorre, consequentemente, a impossibilidade da cessão contratual reduzida a
escrito. A remoção dessa impossibilidade poderá ocorrer através da necessária
autorização do cliente, que deve ser explicita e revestir a forma escrita – a violação da
proibição comporta a resolução do contrato.

Substância do contrato:
Sendo um contrato de longa duração porque a prestação do engineer tem um
período de execução prolongado no tempo, será estipulada uma data determinada para o
término do projeto.
A complexidade do conteúdo terá como consequência a multiplicidade e a
necessária articulação das várias prestações do engineer, normalmente integrado numa
sociedade de engenharia, no sentido de satisfazer o interesse unitário da entidade, ou
seja, o cliente.
No entanto, o contrato de engineering é complexo porque o número de variáveis
que influenciam a execução do objeto é relativamente grande em comparação com
contratos mais simples.

Tipos contratuais de engineering:


✓ Commercial engineering: aqui temos obrigações de resultado; paralelamente à
produção de uma obra, o engineer compromete-se ao fornecimento de materiais,
equipas e/ou a execução da obra projetada.
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✓ Consulting engineering: aqui temos obrigações de meios; traduz-se na realização


de estudos de viabilidade, desenho e realização de planos, organização e
assistência técnica. Aqui exclui-se a execução da obra, pois a finalidade é atuar
como conselheira técnica perante a entidade-cliente.
O Consulting engineering pode dividir-se em 3 categoriais de atividade:
1. Levantamento e análise:
a. Estudo de viabilidade do projeto;
b. Estudo de mercado;
c. Pesquisa e seleção de fornecedores;
d. Identificação dos recursos disponíveis;
e. Financiamento, análise custo
i. Orçamentos
ii. Elaboração de projetos preliminares;
2. Projeto:
a. Desenvolvimento do projeto preliminar com as devidas especificações
técnicas;
b. Elaboração do projeto detalhado;
3. Organização e gestão (direção do projeto ou project management):
a. Relacionamento entre as partes contratantes, a administração pública e os
fornecedores;
b. Elaboração de contratos com terceiros e resolução de problemas;
c. Supervisionar a instalação e seus progressos;
d. Controlo de custos e alterações de pormenor;
e. Testes finais;
f. Seleção de pessoal;
g. Etc.
No commercial engineering, como estamos perante um contrato de execução
integral, o projeto termina com a entrega, numa data certa, ao outro contratante o
produto final e em funcionamento.

Figuras afins do contrato de engineering:


Contrato de empreitada de obra VS commercial engineering:
No commercial engineering, ainda que a complexidade do trabalho não se esgote
na realização da obra, este tem sido tratado como um contrato de empreitada de obra.
Basta que compreenda todo um conjunto de prestações acessórias e
instrumentais integradas no resultado final.
A diferença entre estes dois tipos de contratos reside no fator da atividade
intelectual. A atividade intelectual a título de prestação de trabalho independente,
inserido numa organização de empresa, é específico do contrato de engineering.

Contrato de empreitada de serviços VS consulting engineering:


Assim como o commercial engineering foi tratado como um contrato de
empreitada de obra; o consulting engineering foi considerado um contrato de prestação
de serviços.
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Contudo, a prestação de assistência e de consulta têm como objeto um produto


ou serviço de uma empresa, não a obra intelectual de um profissional – caso da
empreitada de serviços.
No caso do consulting engineering estamos a falar de um contrato que tem como
objeto a atividade de consultoria complexa, dentro do qual podem existir várias
prestações dos diversos profissionais qualificados para criar um novo produto.
Ademais, no contrato de engineering:
✓ são reconhecidos aos clientes poderes de controlo mais amplos – mesmo em
relação aos fornecedores de serviços e produtos;
✓ quaisquer alterações ou modificações no processo devem ser acordadas por
escrito – juntamente com a indicação de alteração das despesas;
✓ e o pagamento não se efetua sempre numa soma em dinheiro, podendo ser em
royalties ou na forma de associação no desempenho da empresa.

Contrato de engineering VS mandato:


Ao contrário dos tipos contratuais apresentados até agora, não podemos incluir o
contrato de engineering num tipo de contrato de mandato.
A sociedade de engineering realiza diretamente as atividades para alcançar o
resultado pretendido. Todavia, não podemos excluir o mandato por completo, fazendo
sentido falar em mandato quando falamos nas figuras do operador negociante ou
contratante.

Contrato de engineering VS Know-how:


O contrato de know-how – já abordado em aula por outro grupo de colegas –
pressupõe a transmissão do conhecimento relativo a um processo técnico.
O contrato de engineering compreende a realização de um projeto que pode
conter um ou mais know-how. Aqui, o contrato de prestação de serviços técnicos de
engineering tem por objeto a execução de serviços que pressupõe uma tecnologia que se
destina a ser meramente aplicada ao caso concreto – mediante ideias, conceções e
conselhos baseados num estudo pormenorizado do projeto em si.
O fator distintivo será que no contrato de know-how transfere-se tecnologia e no
contrato de engineering aplica-se tecnologia.

Exemplo:
Quando uma empresa industrial solicita a uma empresa de engineering um
projeto de ampliação da capacidade de produção de uma dada unidade fabril. Aqui a
empresa industrial não pretende adquirir o conhecimento técnico subjacente à
ampliação, mas, tão-só, a efetivação dessa ampliação.

Das partes e correspetivas obrigações:


As figuras mais típicas do contrato de engineering são o engineer – ou a
respetiva empresa de engenharia – e a entidade-cliente (ou só cliente).

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O engineer pode ser uma pessoa que opere de forma individual (singular), como
também poderá ser uma sociedade (coletiva). Enquanto o cliente pode tratar-se de um
privado ou de uma entidade pública (nada obsta a que se trate de sujeitos de direito
público a solicitar tal contrato).
O engineer compromete-se a conceber e concluir determinado projeto; enquanto
a entidade-cliente obriga-se a disponibilizar toda a documentação e informação inerente
ao andamento do projeto, bem como, a pagar um determinado preço por tais serviços.
Deveres das partes:
✓ consideração e respeito entre ambas, ou seja, que o princípio da boa-fé
contratual seja respeitado antes e durante a existência do contrato;
✓ dever de informação – isto facilita a que não haja situações de erro na fase
inicial ou durante a vigência do contrato;
✓ dever de lealdade – aqui circunscreve-se às partes não revelarem informações
confidenciais resultantes das negociações;

Os direitos e as obrigações recíprocas das partes são estabelecidos por acordo.


A principal obrigação do engineer é levar a caco aquilo que foi acordado com a
entidade-cliente. Sendo lógico que quanto mais tempo se gastar no desenvolvimento ou
na execução do projeto tal irá influenciar diretamente o preço final.
Tem, também, como obrigação:
✓ assistência técnica;
✓ início da produção;
✓ intervenção direta do engineer;
✓ etc;
Contraposto, a principal obrigação da entidade-cliente é pagar o preço pelos serviços
prestados. Além disso, deve, desde início, colaborar em tudo o que seja necessário,
como:
✓ adquirir autorizações;
✓ licenciamentos de obras;
✓ colocar ao dispor do engineer meios, terrenos ou instalações necessárias,
✓ etc.
As partes são livres de fixar o respetivo pagamento num dia fixo ou variável, sendo
que a forma de pagamento pode variar.
Se for a custo de tempo será uma retribuição calculada à hora, diariamente, com
reembolso, semanal/mensal, das despesas. Pode ser um montante fixo que é
determinado por um preço global, com a inclusão, se necessário, de cláusula de revisão
do preço. Pode ser por medição, ou seja, o preço é fixo para cada unidade de medida.
A escolha de diferentes modalidades de pagamento da retribuição é objeto de
previsão expressa das partes.

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Consequência do incumprimento:
O atraso no pagamento de uma parcela do preço pode resultar na dilação dos
prazos de entrega, pelo engineer, e reembolso de qualquer aumento de custos ou o
pagamento de juros sobre os montantes pagos com atraso.
Contudo este pode rescindir o contrato se o atraso for superior a um limite pré-
estabelecido, sem nova prorrogação, e, em casos graves de incumprimento, há
igualmente direito a indemnização.
Se for um período de tempo superior ao previsto, o engineer pode obter o direito
ao pagamento pela diferença entre os custos efetivamente incorridos e essa alteração
sejam resultantes de um aumento acentuado dos custos e da mão-de-obra, que podem
ser previstas na cláusula do contrato; por exemplo numa cláusula penal.

A resolução do contrato de engineering:


O cliente só poderá exigir a resolução do contrato quando não tenham sido
eliminados defeitos no projeto, ou, então, quando não tenha o objeto em causa sido alvo
de reconstrução e/ou modificação no sentido de acabar com os defeitos existentes.
Defeitos que tornem o objeto inadequado ao fim que inicialmente se contratou.
Aqui podemos incluir situações que gerem motivos suficientes para promover esta
resolução, como: num projeto de construção de uma barragem as comportas não terem a
abertura desejada. Assim, o projeto fica defeituoso.
Há situações em que se pode optar pela redução do preço em vez da resolução
do contrato. A opção por uma ou por outra solução ficará, assim, ao critério da entidade-
cliente.
Quanto ao engineer, quando houverem atrasos no pagamento, este poderá
alargar o prazo para entrega do projeto. Ou pode levar ao aumento dos custos em
virtude do prejuízo que o engineer sofre.
Como já dito em cima, o atraso para além do inicialmente previsto no contrato,
pode gerar o direito de indemnização pela parte que está em falta por não ter sido paga a
tempo.

No caso de a obrigação, por parte do engineer, se tornar impossível de cumprir,


este ficará exonerado do seu cumprimento. E, por consequência, a entidade-cliente fica
exonerada do pagamento do preço.

Desistência ou morte:
Aqui estão outras duas causas de extinção do contrato de engineering. Sendo que
falamos da desistência da entidade-cliente e a morte do engineer.
No caso de o cliente desistir do contrato de engineering, apenas e só, se poderá
falar de desistência como um ato autónomo. A desistência não carece de qualquer
justificação, ou seja, se o cliente entender que deve desistir da realização do projeto, tal
está ao seu dispor, podendo ter a sua justificação em várias situações:

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✓ alteração da sua situação económica,


✓ transtornos na vida,
✓ pretender trocar de empresa de engenharia,
Contudo, a desistência leva a que o cliente venha a indemnizar o engenheiro por
todos os gastos e trabalhos que este já tenha efetuado com a obra. A indemnização daqui
resultante decorre do interesse contratual positivo, isto porque destina-se a colocar o
lesado na situação em que se encontraria se o contrato fosse exatamente cumprido.

Termo do contrato:
Aqui chegados, queremos falar do momento em que o projeto se dá por
concluído. Ou seja, quando o engineer põe o projeto ao dispor da entidade-cliente.
Atendendo a todos os aspetos do contrato de engineering, nomeadamente à sua
complexidade por se tratar de um contrato associado a construções de elevadas
dimensões, a aceitação deve ser feita sob a forma escrita e por documento autenticado.
Deste modo, as partes ficam salvaguardadas por todos os aspetos do projeto final
estarem de acordo com o que foi inicialmente discutido.

Risco:
❖ Decurso do tempo;
❖ Fenómenos meteorológicos;
O contrato de engineering na sua fase embrionária, exige, como já vimos, um
período de estudos, onde serão feitas diversas simulações que permitam saber, com um
elevado grau de certeza qual é a viabilidade do projeto.
É pouco provável ocorrer algo não imputável a alguma das partes, que
impossibilite o projeto na íntegra. Mas, é de referir, que quando falamos de risco, não
falamos apenas no risco inerente ao projeto – aquele relativo a vicissitudes do projeto,
execução da obra ou até problemas e vícios dos materiais utilizados.
Nos contratos que não sejam de execução instantânea, há a assunção de riscos.
Riscos que estão interligados com o decurso do tempo que nas relações humanas traz
sempre incertezas, mesmo que nas cláusulas contratuais contemos com possíveis
motivos ou acontecimentos que possam provocar atrasos.
O contrato de engineering é um contrato, como já dissemos, de longa duração.
Mesmo com novas técnicas como o fast track engineering ou concurrent engineering é
necessário realizar certos atos que vão prolongar-se no tempo e assim surge sempre a
probabilidade do risco ocorrer.
Existem dois tipos de risco: os controláveis e os incontroláveis.
❖ Incontroláveis -» aumento do preço dos materiais, meteorologia, mudanças
imprevisíveis nas condições do solo;
❖ Controláveis -» variações no desempenho humano: baixa produtividade,
desperdício de materiais; Se a magnitude ou o custo do risco puder ser
influenciado por qualquer um dos participantes, esse risco diz-se controlável;

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Acidentes de trabalho podem ser considerados riscos controláveis e


incontroláveis.
Mas apenas esta distinção não serve. Há autores, como Richard Posner, que
distinguem prevenção de seguro quando falamos de risco. Segundo o autor, se o valor
da perda se multiplicar pela magnitude dessa mesma perda e daqui resultar um valor
superior ao que custaria preveni-la, estamos perante um risco suscetível de prevenção.
Desta forma podemos estar perante riscos incontroláveis, como a queda de um
raio, mas este risco pode ser suscetível de prevenção – pela contratação de seguros ou a
instalação de para-raios.
A questão do ponto de vista contratual baseia-se na identificação da parte que
deve arcar com o risco ao menor custo possível – a alocação eficiente do risco.
Uma das principais maneiras pelas quais se concretiza a alocação de riscos é o
próprio regime de preços, que pode ser global ou fixo, por administração ou por
unidades de medida.
❖ Preço global ou fixo: o valor do preço compreende todos os custos necessários à
execução do objeto contratual; claúsula 4.11 das normas FIDIC, Sufficiency of
the Contract Price;
❖ Preço por administração: aqui os preços variam conforme os custos do
empreendimento;
❖ Preço por unidade de medida: no preço final já se inclui a variação dos custos e
lucros da empresa de engenharia, p.ex.;
O risco no contrato de engineering está numa relação estreita com a
complexidade do projeto em si, exigindo da empresa de engenharia as habilitações que
decorrem da sua qualificação para resolver tais vicissitudes.
De facto, os empreiteiros quando recebem uma proposta, avaliam o custo do
projeto e vão acrescentar, conscientemente ou não, contingências de risco. Sendo o
regime do preço global o que oferece ao dono da obra maior segurança, desde que o
projeto inicial não sofra alterações.

Natureza jurídica

1. Normas FIDIC
Introdução:
FIDIC é a abreviatura de Federation Internationale des Ingénieurs-Conseils ou
International Federation of Consulting Engineers com sede em Genebra (que celebra
este ano 110 anos) é, a nível mundial, o órgão representativo de associações nacionais
de engenheiros consultores e representa mais de um milhão de profissionais de
engenharia e 40 mil empresas em mais de 100 países em todo o mundo.
A FIDIC está encarregada de promover e implementar os objetivos estratégicos
da indústria da engenharia consultiva e de disseminar informações e recursos de
interesse dos seus membros.

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Além do mais, também publica documentos sobre as práticas de negócios, como:


✓ declarações de política, mais conhecidos por policy statements;
✓ documentos de posição ou position papers;
✓ diretrizes;
✓ manuais de treino;
✓ kits de recurso de treino nas áreas de sistemas de gestão;
✓ e processo de negócios.

Manuais de treino:
Ao longo dos tempos, a FIDIC foi editando vários documentos, e modelos
contratuais, de forma a acompanhar a evolução da construção a diferentes níveis, quer
tecnológico, social e económico.
A partir de 1999, e nos anos seguintes, a FIDIC lançou diversos manuais, tendo
em consideração várias situações contratuais e tendo em conta que o engenheiro nestes
tipos de contrato atua em nome do dono da obra:

Red Book – Conditions of contract for construction2:


É a compilação das condições contratuais para os trabalhos de construção,
recomendada para empreendimentos realizados pela entidade cliente ou na totalidade
pelo engineer. Ficando a cargo deste a construção.
O engineer, que é designado pela entidade-cliente, funciona aqui como fiscal
encarregue
✓ de administrar o contrato,
✓ verificar a conformidade da execução dos trabalhos,
✓ certificar-se dos pagamentos,
✓ determinar se há ou não aumento do prazo de execução,
✓ determinar se há alterações no preço previamente acordado.
Além disso, deverá sempre agir perante a entidade-cliente, ou seja, qualquer
aprovação, verificação, consentimento, exame ou ação que o engineer realize não retira
responsabilidades aos profissionais subcontratados.
O engineer pode delegar funções a assistentes, sendo estes assistentes
independentes e normalmente designados para inspecionar e fazer testes à obra.
Contudo, a delegação só produz efeitos depois de escrita e entregue a ambas as partes.
Cada assistente só deve utilizar o consentimento do engineer para as tarefas
especificas que lhe foram atribuídas, podendo o engineer rejeitá-las ou questiona a
atuação dos assistentes em determinado momento.
Tem o poder de emitir instruções ao empreiteiro, desenhos adicionais, ou
alterações de modo a este poder completar corretamente a obra e corrigir possíveis
defeitos. Estas instruções devem ser sempre escritas e aceites pelo empreiteiro.

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Em 2011, foi lançada a versão em português do Red Book, depois da conferência anual da FIDIC em
São Paulo.

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Contudo, estas alterações não devem constituir maiores encargos, devendo constituir
apenas variações.
O engenheiro ou o assistente tem de comunicar estas alterações e num prazo de
2 dias o empreiteiro tem de comunicar, também por escrito, que as aceita.

Yellow Book – Conditions of contract for plant and design-build3:


Diz respeito às condições de contrato para instalações e para contratos do tipo
conceção-construção. É indicado para as empreitadas de instalações elétricas e
mecânicas, e para empreendimentos onde são contratados serviços de projeto e de
construção como um só, seguindo as indicações gerais da entidade-cliente.

Silver Book – Conditions of contract for engineering procurement and


construction turn-key projects (The EPC and Turn-key contract):
Este livro é usado quando o projeto envolve infraestruturas onde o empreiteiro
assume quase na totalidade os riscos inerentes ao empreendimento, entre os quais o
cumprimento do prazo e qualidade.
A entidade-cliente assume os riscos imprevisíveis, como uma catástrofe natural.
É maioritariamente utilizado quando existe um elevado grau de certeza dos
preços e prazos. Assim como quando o projeto é da responsabilidade total do
empreiteiro. A entidade-cliente apena valida o trabalho final, dada a ausência de um
engineer.
Este tipo de contrato não pode ser utilizado sempre, uma vez que não contempla
uma distribuição equilibrada e justa dos riscos por ambas as partes envolvidas.
As condições de contrato da FIDIC regulamentam as disposições que serão
objeto de um contrato de construção, que é um contrato de direito especial, com a
condição de um acordo entre ambas as partes, incluindo os casos da alteração dos
trabalhos já na fase da construção.
No caso de alterações, a responsabilidade é imputada á entidade-cliente segundo
as cláusulas 51 e 52 do Reb Book.

A figura do engineer:
Tem como principais funções ser o representante da entidade-cliente que o
nomeia para gerir e supervisionar os trabalhos de construção e o contrato. Caracteriza-se
por ser um elemento independente, neutro e responsável que determina as cláusulas de
alterações de pagamento e prazo, que resolve com justiça os litígios que existirem entre
a entidade-cliente e o empreiteiro.
No caso de alguma decisão do engenheiro prejudicar o dono de obra, e isso for
provado, é considerado negligência por parte do engenheiro.

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Em 2014, foram lançadas as versões em português do Yellow Book, do Silver Book e do White Book –
Client/Consultant Model Services Agreement 5th Edition – depois da conferência anual no Rio de
Janeiro.

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Alguns exemplos da aplicação das normas FIDIC no mundo:


As normas FIDIC são utilizadas maioritariamente em países desenvolvidos ou
países de elevada capacidade económico-financeira que pretendem implementar grandes
projetos e tenham a necessidade de recorrer à contratação de serviços de consultoria.
Como exemplo, projetos de construção exterior, como acontece nos Emirados
Árabes Unidos, mais concretamente a cidade de Lusail conhecida pelo novo estádio de
futebol onde foi disputada a final do campeonato mundial de futebol de 2022.
Como outro exemplo da aplicação das normas FIDIC, na Turquia as mesmas
foram usadas no projeto ferroviário da cidade de Istambul, que engloba a construção de
túneis e estações ferroviárias, incluindo um túnel submarino entre a parte europeia e a
parte asiática da Turquia, designado como “Marmary Project”.
Neste projeto, foi adotada a abordagem do Silver Book: Engineering,
Procurement, Construction / Turn-key Project. Na Turquia observa-se que em muitas
das propostas da Direcção-Geral das Estradas, existem uma série de mudanças no que
diz respeito às condições contratuais sendo que estas propostas apresentam
características mistas.
A utilização das normas FIDIC não é usada em todos os países, visto que há
alguns países que preferem utilizar o seu próprio modelo de contratação, já que
consideram que este já foi bastante utilizado, estudado, aperfeiçoado e aprofundado,
como é o caso de Portugal.
Em Portugal, o código dos contratos públicos é de uso obrigatório pelas
entidades públicas e coloca de parte a possibilidade de utilização dos modelos
contratuais da FIDIC para empreitadas de obras públicas. Quanto às obras privadas,
podem ser utilizadas.

Código dos contratos públicos:


Daremos com breve exemplo o contrato que se formou entre o Metro do Porto e
o consórcio das empresas Alberto Couto Alvas, S.A. e Alves Ribeiro S.A. em 2022.
Estamos a falar do "Concurso Público Internacional para o Fornecimento e
Manutenção de Veículos BRT (Bus Rapid Transit), Infraestruturas de Produção de
Hidrogénio Verde e de Energia Elétrica de Fonte Renovável” que liga a Praça da
Boavista à Praça do Império – denominada linha Boavista - Império. Esta obra está
prevista terminar em finais de 2023 com um custo de 25 milhões.
Como dito no título, este foi um concurso internacional que o Metro do Porto
lançou, tendo em vista a expansão da rede de metro.
O código dos contratos públicos (CCP) estabelece o modelo que o concurso que
leva à seleção da empresa deve constituir:
✓ Anúncio e peças do concurso, arts.130º a 135º:
o Anúncio do concurso, art.130º;
o Anúncio no Jornal Oficial da União Europeia, art.131º;
o Programa do concurso, art.132º;
o Disponibilização eletrónica das peças do concurso, art.133º:

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Contratos Internacionais

▪ Apresentação das propostas, arts.135º a 138º:


o Prazos mínimos para a apresentação das propostas em concursos
públicos com publicidade internacional, art.136º;
o Lista dos concorrentes e consulta das propostas apresentadas, art.138º:
▪ Avaliação das propostas, art.139º (modelo de avaliação das
propostas);
▪ Preparação da adjudicação, arts.146º a 148º;
▪ Fase de negociação das propostas, arts.149º a 154º;
✓ Concurso limitado por prévia qualificação, arts.162º a 192º:
o Disposições gerais, arts.162º a 166º;
o Fase da apresentação das candidaturas e da qualificação dos candidatos-
arts.167º a 188º
o Fase da apresentação e análise das propostas e da adjudicação, arts.189º
a 192º;
✓ Procedimento de negociação, arts.193º a 203º:
o Disposições gerais, art.193º a 196º;
o Fase da apresentação das candidaturas e da qualificação dos candidatos,
arts.197º e 198º;
o Fase da apresentação e análise das versões iniciais das propostas,
arts.199º e 200º;
o Fase da negociação das propostas, arts.201º e 202º;
o Fase da análise das versões finais das propostas e da adjudicação,
art.203º;

2. Diferenças entre normas FIDIC e o NEC:


NEC é a abreviatura de New Engineering Contract e teve origem em 1986 com o
ICE – Institution of civil engineer. O texto original sofreu algumas alterações sendo a
sua versão final publicada em 1993.
Os NEC caracterizam-se por serem um conjunto de contratos destinados a
gerenciar um projeto, essencialmente de engenharia civil.
O objetivo principal é a criação de contratos de linguagem simples e que
fomentem as boas práticas de gestão. Rompendo assim, quase na totalidade, os
contratos de construção realizados pelo ICE (Institution of civil engineer).
É utilizado por entidades públicas e privadas um pouco por todo o mundo.
O engineering and construct contract é o principal tipo de contrato do NEC,
contendo todas as cláusulas principais e opcionais, como o planeamento de custos.
Este contrato deve ser utilizado pela entidade-cliente para contratar serviços de
engenharia e construção, qualquer que seja o nível de risco e de responsabilidade dos
empreendimentos.
Ajudam, além do mais, a que a construção seja eficiente e de excelência,
contendo todas as informações e cláusulas necessárias à boa realização do projeto e obra
para a qual é escolhido.

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Contratos Internacionais

Em 1995, a atualização denominada NEC2 trouxe novos contratos de serviços


profissionais, assim como um conjunto de subcontratos. Em 2005, com o NEC3
oferece-se maior facilidade de uso e flexibilidade no controlo de riscos. Em 2017, houve
uma atualização e simplificação dos contratos para levar em conta consultas,
desenvolvimento do setor e as melhores práticas emergentes. Por último, em 2021, os
NEC4 trouxeram novos documentos.
OS NEC3 e NEC4 são os mais relevantes, aliás, os NEC3 foram utilizados em:
✓ Hong Kong para construir o hospital Tin Shui Wai, entre 2015 e 2016;
tendo o governo de Hong Kong decidido utilizar este modelo contratual
para outros projetos de obras públicas;
✓ e em Londres para as construções das instalações dos jogos olímpicos e
paraolímpicos;
Os NEC4 acompanharam as construções em Hong Kong, mas, estão a ter um
papel principal no projeto de distribuição e tratamento de águas em Sydney, Austrália.
Este projeto iniciou-se em 2020 e está previsto terminar em 2030.

Diferenças:
NEC FIDIC
» tem como foco a emissão de alertas » concentram-se nas reclamações,
antecipados, o programa e as medidas responsabilidades, litígios e riscos;
preventivas para tornar o contrato mais
administrável entre as partes;
» usa uma linguagem fácil, clara e direta » são mais tradicionais e com uma
– a clareza e simplicidade facilitam a linguagem às vezes mais complexa;
compreensão das cláusulas o que as torna
mais fácies de usar;
» o engenheiro deve apresentar um » aqui o empreiteiro deve apresentar um
programa detalhado para aceitação do programa detalhado;
project manager;
» prevê-se a obrigação de uma das partes » não prevê a obrigação de ambas as
(empreiteiro ou project manager) partes notificarem quando detetarem
notificar a outra quando descubra algum algum defeito;
defeito – diminuindo o impacto nos
custos e no tempo;
» o empreiteiro deve preparar um » analisa o custo e o tempo
orçamento, tendo em consideração o separadamente com todos os detalhes e
tempo e os custos, e submete-la para o sub-partes;
project manager a aceitar;

A vantagem em utilizar as normas FIDIC é a disponibilidade de existirem várias


formas de contrato, dependendo de quem faz o projeto ou os estudos. Isso facilita a
distribuição do risco pois depende do manual que quiser utilizar – Red Book, Yellow
Book e Silver Book.
É preferível serem utilizadas em projetos grandes e complexos, onde estão
envolvidas diferentes empresas que implementam os modelos de contrato dependendo
do papel específico de cada empresa.
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Contratos Internacionais

3. Dispute boards:
Os dispute boards é um mecanismo de solução de conflitos que tem como fim a
resolução desses na área corporativa, especialmente em relação a contratos de longa
duração como é o caso do contrato de engineering.
Uma vez que, p.ex., em grandes obras é impossível prever todos os
acontecimentos; o que desencadeia cláusulas que podem gerar conflitos entre as partes.
Existe um comité de especialistas na matéria objeto do contrato, que é indicado
pelas partes, e tem como função prevenir ou solucionar as disputas que surjam. Assim
são responsáveis por documentar o comportamento das partes ao longo da relação
contratual, acompanham a execução do contrato e orientam as partes no mesmo.
A grande vantagem é o caracter preventivo que outros mecanismos de resolução
não apresentam. Um dispute board bem implementado pode evitar os desacordos entre
as partes e a segurança nas decisões em eventuais conflitos, se em algum caso houver
litígio resolvem. A desvantagem retrata-se no carácter jurisdicional da arbitragem, que
os dispute boards não possuem, o que pode desencadear que as partes questionem
judicialmente, ou pela via arbitral, a decisão do comité.

Tipos de Dispute Boards:


✓ Dispute Review Board (DRB), que aconselha as partes apenas com sugestões.
✓ Dispute Adjucation Board (DAB), no qual o comité desempenha funções
decisórias, impõe as soluções.
✓ Combined Dispute Board (CDB), pode emitir decisões vinculantes como não
vinculantes.

4. Marmaray project:
Como referido anteriormente na construção deste projeto foram utilizadas as
normas FIDIC como modelo de contrato.
O projeto de engenharia ferroviária de Marmaray é uma ligação de 76,3 km
inaugurada em outubro de 2013. O trabalho de construção estava programado para
ser concluído em abril de 2009, mas foi retificado para 2010. Tendo sido os
trabalhos atrasados dado a descobertas arqueológicas feitas no momento da
construção em Yenikapi.
O projeto Marmaray conecta a Europa à Ásia atravessando o estreito de
Istambul. Inclui-o também, a modernização de 63 km de ferrovia suburbana e a
compra de novas matérias para ceder os serviços.
Só após uma década de estudos é que em 1999 foi feito um acordo entre a
República da Turquia e o Banco Japonês de Cooperação Internacional que permitiu
reunir 35% do financiamento total do projeto.
Houveram quatro elementos principais no projeto:
1. O túnel ferroviário subaquático;
2. A melhoria das linhas ferroviárias suburbanas de Gebze-Haydarpasa e Sirkeci-
Halkali;

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Contratos Internacionais

3. Trabalhos elétricos;
4. E a aquisição de novo material giratório.

Infraestruturas:
A ideia surgiu em 1860, contudo, a profundidade das águas do mar não permitiu
o uso seguro do fundo do mar tradicional como suporte ou até a possível escavação de
túneis.
O túnel foi considerado a estrutura imersa mais profunda do mundo: a 55 metros
abaixo do nível do mar, com uma extensão de 13,6 km - 9,8km escavado; 2,4 km
construídos através do método cut-and-cover e os restantes 1,4 km são túnel tubular.
O contrato de engineering foi atribuído a um consórcio japonês-turco, tendo todo
o projeto sido supervisionados pela State Railroads e pela Administração de Portos e
Aeroportos.
O contrato de fornecimento foi celebrado com a Hyundai Rotem – uma empresa
de tecnologia inteligente no mercado ferroviário. Esta devia de fornecer 440 conjuntos
de trilhos para o projeto em 2008, tendo o primeiro lote sido entregue em 2011 e o
segundo em setembro de 2013. A Transport Design International (TDI), uma empresa
de design de interiores e exteriores, forneceu os projetos do material.
A empresa Bechtel e Enka da Turquia celebraram um contrato de 1,48 bilhões
para atualizar a linha ferroviária existente no distrito de Gebze e Halkali e outra linha
que passa pelo túnel.
A joint venture da Invensys Rail e da espanhola OHLcelebrou um contrato de
195 milhões para fornecer soluções de sinalização e comunicação para o projeto.

5.Cláusulas que devem estar inseridas no contrato:


✓ a identificação das partes;
✓ o tipo de contrato em questão;
✓ o preço e respetivas condições ou modalidades de pagamento;
✓ o prazo para a conclusão do projeto;
✓ a inclusão de cláusulas penais;
✓ por quem corre o risco;
✓ referências às inspeções;
✓ a inclusão, ou não, da figura do fiscal;
✓ possíveis alterações ao projeto;
✓ um mapa de tarefas;
✓ a execução dos testes finais;
✓ menção à aceitação;
✓ à transferência da propriedade (quando for o caso);
✓ à resolução, cessação e conclusão do contrato.

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