Você está na página 1de 5

Unidade: 2ª Unidade

Curso: Direito
Semestre letivo: 2021.2
Turma: 2019.2
Semestre: 5º Data: 09/12/2021
Disciplina: Direito Penal - Crimes em Espécie Valor: 4,0
Docente: Agnaldo Dias Viana Nota:
Discente: Dercivania Soares de França
Emanuela Braz Souza Martins

 Tema: estudo comparativo - doutrinário e jurisprudencial - entre o crime


de corrupção passiva privilegiado (CP, art. 317, § 2º) e o crime de
prevaricação (CP, art. 319).

O judiciário brasileiro corriqueiramente, tipifica essas duas condutas dos


delitos de corrupção passiva privilegiada (Art. 317, § 2º, do CP) e o de
prevaricação (Art. 319, do CP), conjuntamente, mas é de extrema importância,
para a ideal compreensão dos crimes contra a administração pública, em que
esses pontos que não se tangenciam nas infrações penais em estudo. Ambos
os delitos comutam a mesma amplitude de penas, as divergências, quanto à
conduta do funcionário público, se aprofundam no que diz respeito ao elemento
subjetivo específico. Por conta das penas cominadas, a corrupção passiva
privilegiada e a prevaricação tramitam sob o rito sumaríssimo do processo
penal, gozando de institutos mais brandos ao agente. Em relação às tangentes,
ambos punem o agente que pratica, retarda, ou deixa de praticar,
indevidamente, ato de ofício sob a égide do Estado.

Segundo o Art. 317:

§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda


ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a
pedido ou influência de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

De modo semelhante ao delito de corrupção passiva privilegiada, a


tipificação do delito de prevaricação incide sobre aquele que retarda ou deixa
de exercer ato de ofício de sua competência, bem como aquele que age
indevidamente de maneira a desvirtuar seu dever funcional, em descompasso
com a lei e com os princípios da administração pública. Como leciona Greco,
“O núcleo retardar nos dá a ideia de que o funcionário público estende,
prolonga, posterga para além do necessário a prática do ato que lhe competia.
Aqui, o funcionário pratica o ato, só que demora na sua realização. Poderá,
ainda, deixar de praticar o ato de ofício, omitindo-se, dolosamente. Por fim, a
lei penal prevê ainda o comportamento daquele que pratica o ato de ofício,
realizando-o, no entanto, contra disposição expressa da lei. ”
Por ato de ofício deve ser entendido todo aquele que se encontra na
esfera de atribuição do agente que pratica qualquer dos comportamentos
típicos.
Conforme dita o Código Penal brasileiro:

Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar,


indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra
disposição expressa de lei, para satisfazer interesse
ou sentimento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

A maior diferença observadas entre as duas infrações penais se


completa na análise do dolo específico do agente. Na prevaricação,
diferentemente do outro crime em estudo o de corrupção passiva privilegiada,
é nítida a ausência de intervenção de qualquer outra pessoa neste crime, ao
contrário da corrupção passiva privilegiada, que é voltada à satisfação do
interesse ou pedido de outrem.
A classificação doutrinária é muito parecida com a do outro crime em
estudo, porém a prevaricação é crime formal, já que independe de resultado
naturalístico, isto é, satisfação de vontade ou interesse próprio. Percebe-se que
à plenitude do estudo, seria necessário que se fizesse considerações mais
profundas acerca do dolo específico e do modo de consumação dos tipos
penais. Um fato que chama atenção é que a infração penal de corrupção
passiva privilegiada é crime material, no qual só opera a consumação quando
o terceiro que demonstra interesse ou faz pedido é efetivamente beneficiado.
Como não existe efetiva vantagem patrimonial ao delinquente, não há como o
crime ser formal, dependendo então de resultado naturalístico para sua
consumação e até produção de prova.
Conclusão

A corrupção passiva privilegiada prevista no art. 317, § 2º, do CP, o qual


dispõe:

“Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de


ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou
influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um
ano, ou multa”.

O crime de prevaricação, por sua vez, está no art. 319, do CP, que dispõe da
seguinte forma:

“Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de


ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para
satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena -
detenção, de três meses a um ano, e multa”.

A diferença entre esses dois tipos penais é bem sutil, mas de fácil
percepção. Em ambos os crimes o funcionário público pratica, deixa de praticar
ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional. A diferença é
justamente o que motivou o agente a agir dessa forma. Caso o agente tenha
agido assim em razão de interesse ou sentimento pessoal, o crime será o de
prevaricação. Se o agente agiu cedendo a pedido de outrem, o crime será o de
corrupção passiva privilegiada. Em nenhum desses dois crimes há a percepção
de indevida vantagem pelo agente.
Caso ocorra um oferecimento de dinheiro ou uma solicitação, estaremos
diante da corrupção ativa ou de uma corrupção passiva, respectivamente?
Trouxemos alguns exemplos, para ajudar na visualização dos delitos em questão
e percebemos que existem alguns outros aspectos a serem observados, nota-
se:
a) um policial, durante uma blitz, após fazer o teste do bafômetro e
constatar que uma motorista estava embriagada, deixa de multá-la em razão da
motorista se parecer muito com sua filha, o que fez com que o agente sentisse
uma certa afeição pela motorista.
b) um policial, durante uma blitz, após fazer o teste do bafômetro e
constatar que uma motorista estava embriagada, deixa de multá-la após ela ter
pedido e implorado para que ele agisse assim, alegando que estava passando
por muitas dificuldades financeiras e não poderia arcar com o valor da multa.
c) um policial, durante uma blitz, após fazer o teste do bafômetro e
constatar que uma motorista estava embriagada, deixa de multá-la porque a
motorista lhe ofereceu R$ 50,00 para tanto, tendo o policial aceitado de imediato.
d) um policial, durante uma blitz, após fazer o teste do bafômetro e
constatar que uma motorista estava embriagada, deixa de multá-la porque
solicitou que ela pagasse uma indevida vantagem, e a motorista o pagou.

Analisando caso a caso.

No caso “a”, percebemos que o policial deixou de agir de ofício em razão


de um interesse/sentimento pessoal (afeição pela motorista que se parecia com
sua filha), sem ter percebido vantagem indevida para tanto. Então, a conduta se
amolda perfeitamente no art. 319 do Código Penal, tipificando-se o delito de
prevaricação.

No caso “b”, o policial deixou de agir em razão de pedido ou influência de


outrem (a motorista pediu/implorou, que não fosse multada), sem ter percebido
vantagem indevida para tanto. Então, tipificado está o crime de corrupção
passiva privilegiada.

No caso “c”, o policial deixou de agir porque terceiro lhe ofereceu indevida
vantagem, e o policial aceitou/recebeu. Por estarmos falando em indevida
vantagem, já não podemos mais encaixar essa situação nem em prevaricação e
nem em corrupção passiva privilegiada. Perceba que o verbo oferecer é núcleo
da corrupção ativa (art. 333, CP), enquanto o verbo aceitar/receber é núcleo
da corrupção passiva (art. 317, caput, CP).

Já no caso “d”, o agente deixou de agir porque solicitou indevida


vantagem, e a motorista pagou. Da mesma forma que no caso anterior, havendo
indevida vantagem, não podemos mais cogitar de prevaricação e nem corrupção
passiva privilegiada. O verbo solicitar é núcleo da corrupção passiva, crime,
então, cometido pelo agente público.
O verbo pagar, no entanto, não é núcleo da corrupção ativa, motivo pelo
qual a motorista que paga após ser solicitada não comete crime algum, sendo, no
entanto, vítima da corrupção passiva praticada pelo funcionário público. Perceba
que com um mesmo caso, conseguimos criar situações típicas que se amoldam
perfeitamente em vários artigos do Código Penal, voltados aos crimes praticados
contra a administração pública, que deixou claro o nosso entendimento quanto a
fácil e comum confusão em que até o judiciário brasileiro suscita e tipifica essas
condutas conjuntamente, infere-se que o estudo pode servir a pesquisas mais
extensas e pormenorizadas no futuro, afim de amenizar ou sanar essa
desorganização legislativa. Sob outra perspectiva, depreende-se que a análise
permitiu observar as pequenas peculiaridades do Direito Penal, nas quais
expressões ou pares de palavras podem representar uma alteração significativa
na aplicação da lei, embora, no caso concreto, não haja a necessária
profundidade dos elementos trazidos. Diante disso, embora ambos os delitos
busquem combater a conduta de funcionários públicos ao desvio do princípio da
impessoalidade na probidade administrativa, os tipos incidem sobre agentes
com finalidades, ânimos, diferentes. Enquanto na corrupção passiva privilegiada
busca satisfazer à vontade ou interesse de terceiro, na prevaricação o bônus
almejado é próprio do delinquente.

Você também pode gostar