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09 de Dezembro de 2023
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Segue abaixo uma análise estatística dos assuntos mais exigidos pelas Bancas Cebraspe, FCC
e FGV, no âmbito da disciplina de Direito Penal, tomando como base os concursos realizados
Direito Penal
Assunto % de cobrança
Dos Crimes Contra a Administração Pública 18,59%
Com essa análise, podemos verificar quais são os temas mais exigidos pela banca e, através
MAPA DO BIZU
Neste material abordaremos apenas os temas mais importantes, considerando tanto o
Direito Penal
Assunto Bizus
Dos Crimes Contra a Administração Pública 1 a 31
1) Noções Iniciais
o Trata-se de crimes funcionais, ou seja, devem ser praticados por funcionário público.
Os crimes funcionais dividem-se em crimes funcionais próprios (puros) ou impróprios
(impuros).
2) Funcionário Público
o O conceito de funcionário público para fins penais está no art. 327 do CP:
o A Doutrina entende que aqueles que exercem um múnus público não são considerados
funcionários públicos. Assim, os tutores, os curadores dativos, os inventariantes
judiciais não são considerados funcionários públicos pela maioria esmagadora da
Doutrina.
o O STJ, mais recentemente, vem entendendo que os defensores dativos (ou advogados
dativos), que são aqueles advogados nomeados pelo Juiz da causa para a defesa do
acusado quando não há possibilidade de atuação da Defensoria Pública, são
considerados funcionários públicos para fins penais.
3) Peculato
o O peculato pode ser praticado de diversas maneiras: a) peculato-apropriação e
peculato-desvio (art. 312 do CP); b) peculato-furto (art. 312, § 1° do CP); c) peculato
culposo (art. 312, § 2° do CP); d) peculato mediante erro de outrem (art. 313 do CP);
4) Peculato – Apropriação
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel,
público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio
ou alheio:
o Trata-se de crime próprio, pois somente pode ser praticado por funcionário público,
sendo essa condição elementar do peculato, comunicando-se, assim, a todos aqueles
que concorrerem para o crime.
5) Peculato - Desvio
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel,
público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio
ou alheio:
o Não importando se a vantagem foi alcançada. Trata-se de crime próprio, doloso, que
exige um elemento subjetivo específico, representado pelas expressões "em proveito
próprio ou alheio".
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro,
valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprioou alheio, valendo-
se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
o Nesse crime o agente não possui a guarda do bem, praticando verdadeiro furto, que,
em razão das circunstâncias (ser o agente funcionário público e valer-se desta condição
para subtrair o bem), caracteriza-se como o crime de peculato-furto.
o SUJEITO ATIVO: Trata-se de crime próprio, só podendo ser praticado pelo funcionário
público. No entanto, é plenamente possível o concurso de pessoas, respondendo
também o particular pelo crime, desde que este particular
7) Peculato culposo
o SUJEITO ATIVO: Trata-se de crime próprio, só podendo ser praticado pelo funcionário
público. No entanto, é plenamente possível o concurso de pessoas, respondendo
também o particular pelo crime, desde que este particular tenha conhecimento da
condição de funcionário público do agente.
o TIPO SUBJETIVO: Dolo. O dolo não precisa existir no momento em que o agente
recebe a coisa, mas deve existir quando, depois de recebida a coisa, o agente resolve
se apropriar desta, sabendo que ela foi parar em suas mãos em razão do erro daquele
que a entregou.
o Parte da Doutrina chama o delito do art. 313-A de “peculato eletrônico”, embora esta
nomenclatura não seja unânime.
o Foram acrescentados ao CP pela Lei 9.983/00, que acrescentou os arts. 313-A e 313-B
ao CP:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de
2000)
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983,
de 2000)
o SUJEITO ATIVO: Trata-se de crime próprio, só podendo ser praticado pelo funcionário
público. Porém, no caso do crime do art. 313-A o tipo penal vai além e exige que a
conduta seja praticada pelo “funcionário autorizado”, ou seja, somente o funcionário
público autorizado a realizar inclusões/alterações/exclusões de dados no sistema é que
poderá praticar o delito.
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10) Concussão
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes
de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Incluído pela Lei 13.964/19)
o SUJEITO ATIVO: Trata-se de crime próprio, só podendo ser praticado pelo funcionário
público, ainda que fora da função ou antes mesmo de assumi-la, mas desde que a
conduta seja praticada em razão da função.
o Entretanto, em se tratando de funcionário público vinculado à
administração fazendária (ex.: Auditor Fiscal), aplica-se o art. 3°, II da Lei
8.137/90, por ser norma penal especial em relação ao CP.
o No entanto, é plenamente possível o concurso de pessoas, respondendo
também o particular pelo crime, desde que este particular tenha
conhecimento da condição de funcionário público do agente.
o CUIDADO! Entende-se que a “grave ameaça” não é elemento deste delito. Assim, se
o agente exige R$ 10.000,00 da vítima, sob a ameaça de matar seu filho, estará
praticando, na verdade, o delito de extorsão. A concussão só resta caracterizada
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quando o agente intimada a vítima amparado nos poderes inerentes ao seu cargo17.
Ex.: Policial Rodoviário exige R$ 1.000,00 da vítima, alegando que se não receber o
dinheiro irá lavrar uma multa contra ela. Assim:
▪ CONCUSSÃO – Ameaça de mal amparado nos poderes do cargo.
▪ EXTORSÃO – Ameaça de mal (violência ou grave ameaça) estranho aos
poderes do cargo.
o Este crime é muito confundido com o de corrupção passiva, mas ISSO NÃO PODE
ACONTECER COM VOCÊS! Se o agente EXIGE, teremos concussão! Se o agente
apenas solicita, recebe ou apenas aceita promessa de vantagem, teremos corrupção
passiva.
Art. 316 (...) § 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveriasaber
indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não
autoriza: (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)
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o O objeto do crime é tributo ou contribuição social, sendo que o sujeito ativo ou exige
tributo/contribuição social indevido ou emprega meio vexatório ou gravoso na
cobrança do tributo/contribuição social devido.
o Admite-se a tentativa sempre que puder ser fracionada a conduta do agente em mais
de um ato, como na exigência indevida por escrito, por exemplo.
o O § 2°, por fim, estabelece uma qualificadora, no caso do agente que, além de exigir
indevidamente o tributo ou contribuição social, desviá-lo dos cofres da administração
pública, em proveito próprio ou de terceiros:
Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu
infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento
da autoridade competente:
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o No mais, o referido crime costuma a ser cobrado na literalidade da lei, não havendo
maiores discussões a ensejar preocupações para o certame.
Corrupção passiva
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal
vantagem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de
12.11.2003)
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Art. 317 (...) § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, cominfração
de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:
o A pena prevista para esta modalidade do delito é bem menor que a prevista para as
outras hipóteses de corrupção, exatamente por isso temos o que se chama de “forma
privilegiada”.
o Aqui temos um crime material, sendo necessário que o funcionário efetivamente infrinja
o dever funcional, praticando o ato que não deveria ou deixando de fazer aquilo que
deveria em razão da função.
o Consuma-se com a efetiva facilitação para o crime, ainda que este último
(contrabando ou descaminho) não venha a se consumar.
Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra
disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
o A conduta é a de retardar (praticar com atraso) ou deixar de praticar (não realizar o ato)
ato de ofício, ou, ainda, praticá-lo contra disposição expressa da lei (praticar o ato
quando não deveria ou da forma que não deveria).
o Há, portanto, forma comissiva (fazer alguma coisa) e forma omissiva (deixar de fazer
alguma coisa).
o ATENÇÃO! Exige-se que o agente pratique o crime para satisfazer interesse ou
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sentimento pessoal (dolo específico). Ou seja, o tipo penal em questão exige, para sua
configuração, uma finalidade específica que move o agente, um elemento subjetivo
específico do tipo, que é o fim de satisfazer interesse próprio ou sentimento pessoal.
o Este crime não deve ser confundido com a corrupção passiva privilegiada, na qual o
agente deixa de praticar ato de ofício ou pratica ato indevido atendendo a pedido ou
influência de alguém. Aqui, o agente faz por conta própria, para satisfazer interesse
próprio ou sentimento pessoal.
o LEMBREM-SE:
Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu
infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento
da autoridade competente:
o CUIDADO! O tipo penal exige que o agente seja hierarquicamente superior ao outro
funcionário, aquele que cometeu a falta funcional. Existe certa divergência doutrinária
quanto a isso, mas a posição predominante é de que, de fato, o agente deve ser
hierarquicamente superior. Assim, se um funcionário público toma conhecimento de
que seu colega praticou uma infração funcional e nada faz a respeito, não pratica este
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crime.
o Atenção! Se o chefe deixa de responsabilizar o subordinado por outro motivo que não
seja a indulgência (medo, frouxidão, negligência, pouco caso, etc.), o crime pode ser o
de prevaricação ou outro crime, a depender do caso.
o O agente deve se valer das facilidades que a sua condição de funcionário público lhe
proporciona para defender um interesse privado junto à administração pública28.
não é legítimo, a pena será mais grave. Nos termos do § único do CP:
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Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei:Pena
o No entanto, a Doutrina entende que o exercício do direito de greve não pode ensejar
este crime.
o Parte da Doutrina entende, ainda, que pode ocorrer o abandono se o servidor, ainda que
compareça à repartição, se recuse a trabalhar.
o Nos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral, exige-se que o
sujeito ativo seja funcionário público, praticando a conduta criminosa no exercício da função ou
em razão dela. Diz-se, portanto, que são crimes próprios, embora seja admitido o concurso de
pessoas, respondendo o particular pelo delito, desde que conheça a qualidade de funcionário
público do agente.
o Já os crimes praticados por particular contra a administração em geral, os crimes são em regra
comuns, ou seja, podem ser praticados por qualquer pessoa.
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Pena – prisão simples, de um a três meses, ou multa, de quinhentos mil réis a três contos
de réis.
.
o CUIDADO! O funcionário público que exerce função na qual não fora investido comete
este crime, pois nesse caso é considerado particular, já que a conduta não guarda
qualquer relação com sua função pública.
o A tentativa é plenamente possível, uma vez que se pode fracionar o iter criminis do delito
(crime plurissubsistente), ou seja, é possível que o agente inicie a execução, mas não consiga
consumar o delito por circunstâncias alheias à sua vontade.
o A Doutrina entende que esta “vantagem” pode ser de qualquer natureza, não
necessariamente uma vantagem financeira, podendo ser, inclusive, um favor sexual, etc.
21) Resistência
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário
competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
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o A conduta punida é a resistência ativa (ação), ou seja, aquela na qual o agente se opõe à
execução do ato legal com emprego de violência ou ameaça ao funcionário que irá executar o
ato legal ou a quem o esteja auxiliando.
o O ato em relação ao qual o particular se opõe (com violência ou ameaça) deve ser legal, ou seja,
deve estar fundamentado na Lei ou em decisão judicial. Assim, a decisão judicial injusta pode ser
ato legal. Não pode o particular se rebelar contra ela desta maneira, pois o meio próprio para
isso é a via recursal. Entretanto, se a prisão, por exemplo, decorre de uma sentença que não
a determinou, ou a determinou em face de outra pessoa, o ato de prisão é ilegal, e a resistência
está amparada por uma causa de exclusão da ilicitude (ou da tipicidade, para alguns).
o O elemento subjetivo, evidentemente, é o dolo, não havendo o crime na forma culposa. O crime
deve ser praticado mediante violência ou ameaça. -> Aqui não se exige “grave ameaça”, mas
apenas “ameaça”
o Entende-se que a violência deve ser empregada contra pessoa, não configurando o delito a mera
violência contra coisa (chutar a viatura da polícia, por exemplo).
o Resistência qualificada e cúmulo material obrigatório - > Estabelece o §1º do art. 329 que
se o ato, em razão da resistência, acaba por não ser realizado, há a figura qualificada do delito;
o O §2º do art. 329 estabelece que caso o crime seja praticado mediante violência o agente irá
responder não só pelo crime de resistência, mas também responderá pela violência empregada
22) Desobediência
o A conduta pode ser comissiva (ação), quando o agente pratica uma conduta ativa, fazendo aquilo
que não deveria fazer, em descumprimento à ordem legal do servidor, ou omissiva (omissão),
quando o servidor recebe ordem legal para fazer algo e não o faz.
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o Diversas Leis Especiais preveem tipos penais que criminalizam condutas específicas de
desobediência. Nesses casos, aplica-se a legislação especial, aplicando-se este artigo
do CP apenas quando não houver lei específica tipificando a conduta.
23) Desacato
apenas mais um particular, devendo responder pelo crime. Exige-se, apenas, que
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Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa
de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício
da função: (Redação dada pela Lei nº 9.127, de 1995)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.127, de
%
1995)
o OBS.: Se a influência do agente for REAL, tanto ele quanto aquele que paga por ela
são considerados CORRUPTORES ATIVOS (art. 333 do CP).
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Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná- lo a
praticar, omitir ou retardar ato de ofício:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de
1
12.11.2003)
o Conduta - Este crime pode ser cometido de duas formas diferentes (é, portanto,
crime de ação múltipla): oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário
público.
o Não se pune a corrupção subsequente. O que seria isso? Vejam que se exige que a promessa ou
oferecimento seja anterior à prática do ato, não havendo o crime se o ato já fora praticado pelo
funcionário público e o particular apenas faz um “agrado” ao servidor, entregando-lhe
vantagem indevida como “recompensa”.
o Corrupção ativa e corrupção passiva não são crimes necessariamente bilaterais – A existência da
corrupção ativa não depende da corrupção passiva, e vice-versa. Assim, pode acontecer de o
agente oferecer ou prometer a vantagem e funcionário não a aceitar. Neste caso, haverá apenas
corrupção ativa. Da mesma forma, pode o servidor solicitar vantagem indevida e o particular não
ceder, havendo apenas corrupção passiva.
o E se o particular apenas cede à exigência de vantagem indevida formulada pelo servidor? Nesse
caso o servidor responde pelo crime de concussão e o particular que, cedendo à exigência, paga
a vantagem indevida, não comete crime algum, eis que a corrupção ativa pressupõe que o
particular OFEREÇA ou PROMETA vantagem indevida ao servidor.
o A Doutrina entende que o mero pedido de favor, o famoso “jeitinho”, sem oferta ou promessa
de vantagem indevida, não configura o crime de corrupção ativa.22 Ou seja, se o particular
apenas pede ao servidor que pratique determinado ato, ou retarde ou omita a prática de ato
funcional, ainda que com infração do dever funcional, não há crime de corrupção ativa, pois não
houve oferecimento ou promessa de vantagem.
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26) Descaminho
Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela
entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria (Redação dada pela Lei nº 13.008, de
26.6.2014)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
H
o O que seria “iludir”? Iludir, basicamente, é enganar. Ou seja, tipifica-se a conduta (comissiva
ou omissiva) daquele que emprega algum expediente para enganar o Fisco, de forma a
frustrar o pagamento do tributo devido pela entrada, saída ou consumo da mercadoria. Assim,
temos que o núcleo “iludir” remete à ideia de fraude, ou seja, valer-se de um
expediente enganoso, fraudulento, de forma a ludibriar a autoridade fiscal, com
vistas ao não pagamento do tributo.
o Súmula 151 do STJ - A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando
ou descaminho define-se pela prevenção do juízo federal do lugar da apreensão dos bens.
27) Contrabando
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Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida: (Incluído pela Lei nº 13.008,
de 26.6.2014)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
o Tópicos importantes
▪ Com a Lei 13.008/14 a pena do delito de contrabando foi AUMENTADA
para 02 a 05 anos de reclusão. Essa alteração na quantidade da pena
produz consequências negativas para o réu (e, portanto, sabemos que NÃO
IRÁ RETROAGIR):
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Art. 335 - Impedir, perturbar ou fraudar concorrência pública ou venda em hasta pública,
promovida pela administração federal, estadual ou municipal, ou por entidade paraestatal; afastar
ou procurar afastar concorrente ou licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou
oferecimento de vantagem:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, além da pena correspondente à violência.
o A Doutrina entende que este artigo foi parcialmente revogado pela Lei 8.666/93, que
estabeleceu diversos crimes em processos licitatórios. No entanto, é pacífico o
entendimento de que o crime permanece em vigor em relação à conduta referente à
venda em Hasta Pública, pois não se insere no bojo de procedimento licitatório.
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impeça ou fraude a venda. Na segunda, temos um crime formal, pois se exige apenas
que o agente empregue os meios narrados para afastar o concorrente, não se exigindo
que consiga, efetivamente, afastá-lo.
Art. 336 - Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou conspurcar edital afixado por ordem de
funcionário público; violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por determinação legal ou por
ordem de funcionário público, para identificar ou cerrar qualquer objeto:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
o A Doutrina entende que não comete este crime o particular que inutiliza o selo ou sinal
empregado de maneira ilegal por funcionário público. Exemplo: Particular que rasga
cópia do mandado de despejo afixado abusivamente na porta de sua casa, para que
todos os vizinhos vejam.
o Não se exige finalidade especial de agir em nenhuma das condutas, apenas o dolo
simples.
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Art. 337 - Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente, livro oficial, processo ou documento
confiado à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou de particular em serviço público:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não constitui crime mais grave.
o A conduta pode ser tanto de subtrair (tomar para si, furtar) quanto de inutilizar (tornar inútil,
imprestável, total
o A conduta pode ser tanto de subtrair quanto de inutilizar livro, processo ou documento.
A subtração e a inutilização podem ser totais ou parciais.
o Não se exige nenhuma finalidade especial de agir (dolo específico) por parte do
agente, bastando o dolo genérico.
o Se o documento, livro ou processo é restituído sem que haja qualquer prejuízo, uns
entendem que este fato (espécie de reparação do erro) é causa que beneficia o agente
na fixação da pena, e outra parte da Doutrina entende que isso desconfigura o crime,
podendo permanecer eventual desacato.
Art. 337 -A. Suprimir ou reduzir contribuigao social previdenciaria e qualquer acessorio, mediante;
as seguintes condutas: (Incluido pela Lei n° 9.983, de 2000) j
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i Pena - reclusao, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluido pela Lei n° 9.983, de 2000)
o A Doutrina entende que este crime é material, ou seja, é necessária a efetiva ocorrência
da obtenção da vantagem relativa à redução ou supressão da contribuição social
devida. Se o agente, mesmo praticando as condutas, não obtém êxito, o crime é
tentado.
o ATENÇÃO! Existe outra hipótese de extinção da punibilidade para este delito, mas
que pressupõe o PAGAMENTO INTEGRAL DO TRIBUTO ou contribuição social
(inclusive acessórios). O pagamento poderá ocorrer mesmo depois de iniciada a ação
do fisco, mas antes do recebimento da denúncia, mas com fundamento no art. 34 da
Lei 9.249/95. Muita atenção a isso!
o Assim, são três os requisitos para o perdão judicial ou aplicação apenas da pena de
multa:
▪ Ser primário
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módica:
32) Furto
o Bem jurídico – Tutela-se não só a propriedade, qualquer forma de dominação sobre
a coisa (propriedade, posse e detenção legítimas).
o Coisa alheia móvel - O conceito de “móvel” aqui é “tudo aquilo que pode ser movido
de um lugar para outro sem perda de suas características ou funcionalidades”.
o Elemento subjetivo – Dolo, com a intenção de se apoderar da coisa (animus rem sibi
habendi). Não se pune na forma culposa. OBS.: Furto de uso não é crime (subtrair só
para usar a coisa, já com a intenção de devolver).
FURTO
CONDUTA PENA OBSERVAÇÃO
Subtrair para si ou para Reclusão (1 a 4 anos) e multa Equipara-se a coisa
outrem, coisa alheia móvel a ENERGIA
móvel ELÉTRICA ou qualquer
Se o crime é praticado Aumentada de 1/3 outra energia que
durante o repouso possua valor econômico.
noturno
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o Coisa de pequeno valor - aquela que não ultrapassa um salário mínimo vigente
(cabendo ao Juiz, porém, analisar cada caso).
FURTO QUALIFICADO
Se o crime é cometido: Reclusão (2 a 8 anos)
- Com destruição/rompimento de obstáculo à e multa
subtração da coisa;
- Com abuso de confiança, ou mediante
fraude, escalada ou destreza;
- Com emprego de chave falsa;
- Mediante concurso de 2 ou mais pessoas
- Se houver emprego de explosivo ou de Reclusão (4 a 10 anos)
artefato análogo que cause perigo comum. e multa
- Se a subtração for de substância explosiva
ou acessórios que possibilitem sua fabricação.
31
34) Homicídio
o Bem jurídico tutelado – Sempre a vida humana, intrauterina (aborto) ou extrauterina
demais crimes contra a vida).
o Pena – Todos são punidos com RECLUSÃO, à exceção dos crimes de:
o Homicídio CULPOSO
o Infanticídio
o Aborto provocado pela gestante ou consentimento para realização de aborto
▪ Estes delitos são punidos com DETENÇÃO.
o Sujeito ativo – Todos são crimes comuns, podendo ser praticados por qualquer
pessoa, EXCETO:
o Infanticídio – só a mãe, logo após o parto e sob a influência do estado
puerperal pode praticar o crime
o Aborto praticado pela gestante – Só a gestante pode cometer o crime (é
considerado, ainda, crime de mão própria).
▪ Em qualquer caso, porém, aquele que concorre para o delito (coautor
ou partícipe) irá responder pelo crime, desde que tenha conhecimento
da situação de seu comparsa.
32
o Ação penal – Todos os crimes contra a vida são de ação penal pública incondicionada.
33
38) Feminicídio
Tipo: Feminicídio
Conduta Pena Observação
Praticado contra a mulher por Reclusão (12 a 30 Há razões da condição do
razões da condição do sexo anos) sexo feminino quando o
feminino crime envolve:
Se praticado: Aumentado de - Violência doméstica e
- Durante a gestação ou a menos do 1/3 até a metade familiar
que 3 meses após o parto -
- Contra pessoa menor de 14 anos Menosprezo/discriminação
e maior de 60, ou com deficiência à condição de mulher
ou portador de doenças
degenerativas
34
o Nosso Código adotou a teoria da atividade como a aplicável ao tempo do crime. Isto
representa sérios reflexos na aplicação da lei penal, pois esta depende da data do
fato, que, como vimos, é a data da conduta.
o Nos crimes permanentes, aplica-se a lei em vigor ao final da permanência delitiva, ainda
que mais gravosa que a do início. O mesmo ocorre nos crimes continuados, hipótese
em que se aplica a lei vigente à época do último ato (crime) praticado. Essa tese está
consagrada pelo STF, através do enunciado n° 711 da súmula de sua Jurisprudência:
35
o SÚMULA 711 DO STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao
crime permanente, sea sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência.
I1
T
Vacatio Legis PRODUQAO DE EFEITOS
o Logo, podemos perceber que a lei penal, assim como qualquer lei, somente produz
efeitos durante o seu período de vigência. É o que se chama de princípio da atividade
da lei. Em alguns casos, porém, a lei penal pode produzir efeitos e atingir fatos
ocorridos antes de sua entrada em vigor e, até mesmo, continuar produzindo efeitos
mesmo após sua revogação. Vamos analisá-los individualmente.
36
EXEMPLO: O crime de homicídio simples (art. 121 do CP) possui pena mínima de06 e
pena máxima de 20 anos. Imaginemos que entrasse em vigor uma lei que estabelecesse
que a pena para o crime de homicídio seria de 10 a 30 anos. Nesse caso, a lei nova,
embora não inove no que tange à criminalização do homicídio, traz uma situação mais
gravosa para o fato. Assim, produzirá efeitos somente a partir de sua vigência, não
alcançando fatos pretéritos.
o Frise-se que a lei nova será considerada mais gravosa ainda que não aumente a pena
prevista para o crime. Basta que traga qualquer prejuízo ao réu, como forma de
cumprimento da pena, redução ou eliminação de benefícios, etc.
EXEMPLO: Suponhamos que a Lei “A” preveja que é crime dirigir veículo automotor sob
a influência de álcool. Vindo a Lei “B” a determinar que dirigir veículo automotor sob a
influência de álcool não é crime, ocorreu o fenômeno da abolitio criminis.
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anterior trazendo uma situação mais benéfica ao réu. Nesse caso, em homenagem
ao art. 5, XL da Constituição, já transcrito, a lei nova retroage para alcançar os
fatos ocorridos anteriormente àsua vigência. Essa previsão está contida também no
art. 2°, § único do CP.
o Vejam que o Código Penal estabelece que a aplicação da lei nova se dará ainda que
o fato(crime) já tenha sido julgado por sentença transitada em julgado.
o Nesse caso, como avaliar se a lei é mais benéfica ou mais gravosa? E mais, será que
é possível combinar as duas leis para se achar a solução mais benéfica para o réu?
Duas correntes se formaram:
o Súmula 501 do STJ: É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que
o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu
do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de
leis
o E quem deve aplicar a nova lei penal mais benéfica ou a nova lei penal abolitiva?
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o Todavia, a Doutrina entende que a aplicação da lei nova mais benéfica após o trânsito
em julgado só caberá ao Juízo da execução penal, na forma da súmula 611 do STF,
se NÃO for necessário mais que um mero cálculo aritmético. Caso seja necessário
mais que um mero cálculo aritmético, será preciso ajuizar revisão criminal.
Sentenga
relativa ao fato
Fato criminoso X criminoso X
Vigencia da Lei B
T
Lei A e Lei Be Sera utilizada a Lei B
Entrada em revogada pela
revogada pela
vigor da Lei A
Lei B (mais Lei C ( que e
benefica ) mais gravosa )
o No caso representado pelo esquema acima, a Lei B produzirá efeitos mesmo após
sua revogação pela Lei C (em relação aos fatos praticados durante sua vigência e
ANTES de sua vigência). Nesse caso, diz-se que a Lei B possui retroatividade e ultra-
atividade. A Lei B é retroativa porque se aplica a um fato praticado antes de sua
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vigência; é ultra-ativa porque, mesmo já estando revogada, será utilizada pelo Juiz
na sentença (por ser mais benéfica que a Lei C).
o Perceba, assim, que durante a vigência da Lei B “nada aconteceu”, ou seja: nem o
fato foi praticado na vigência da Lei B (foi praticado antes) nem a sentença foi
proferida na vigência da Lei C (foi proferida depois), mas a Lei B será aplicada ao fato
praticado, quando da prolação da sentença.
o Lei temporária (em sentido estrito) é aquela que é editada para vigorar durante
determinado período, certo, cuja revogação se dará automaticamente quando se
atingir o termo final de vigência.
o No caso destas leis, dado seu caráter transitório, o fato de estas leis virem a ser
revogadas é irrelevante! Isso porque a revogação é decorrência natural do término
do prazo de vigência da lei. Assim, aquele que cometeu o crime durante a vigência
de uma destas leis responderá pelo fato, nos moldes em que previsto na lei, mesmo
após o fim do prazo de duração da norma.
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o Segue macete para gravarem as teorias adotadas para o tempo do crime e para o
lugar do crime:
Lugar = Ubiquidade
Tempo = Atividade
49) Territorialidade
o Como regra se aplica a lei penal brasileira ao crime ocorrido dentro do território
nacional, ressalvadas as convenções, tratados e regras de direito internacional, como
a Convenção de Viena, que estabelece situações de imunidade diplomática. Dessa
forma, podemos dizer que um crime praticado em nosso território poderá não ficar
sujeito à lei penal brasileira, em razão da existência de algum tratado, convenção
ou regra de direito internacional,o que configura o fenômeno da intraterritorialidade
(um crime ocorrido no Brasil não estar sujeitoà nossa lei penal).
o Território pode ser conceituado como espaço em que o Estado exerce sua soberania
política. O território brasileiro compreende:
● O Mar territorial;
● O espaço aéreo (Teoria da absoluta soberania do país subjacente);
● O subsolo
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o Assim, aos crimes praticados nestes locais aplica-se a lei brasileira, pelo princípio da
territorialidade.
o ATENÇÃO! Como sabemos, a Lei penal brasileira será aplicada aos crimes cometidos
a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras, mercantes ou de propriedade
privada, desde que se encontrem no espaço aéreo brasileiro ou em pouso no
território nacional, ou, no caso das embarcações, em porto ou mar territorial
brasileiro.
50) Extraterritorialidade
o Somente quando ficar evidenciado que o fato NÃO ocorreu no nosso território é que
você, caro aluno, deverá buscar saber se há alguma hipótese de
extraterritorialidade. Podem ser de três tipos (incondicionada, condicionada e
hipercondicionada), ocorrendo nas seguintessituações:
⇒ Incondicionada
▪ Crime contra a vida ou a liberdade do Presidente da República
▪ Crime contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito
Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa
pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação
instituída pelo Poder Público
▪ Crime contra a administração pública, por quem está a seu serviço
▪ Crime de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado
no Brasil
⇒ Condicionada
▪ Crimes que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a
reprimir
▪ Crimes praticados por brasileiro
▪ Crimes praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras,
mercantes ou depropriedade privada, quando em território
estrangeiro e aí não sejam julgados
⇒ Hipercondicionada
▪ Crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil
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o A Doutrina entende que se a falsificação for grosseira, não há crime, por não possuir
potencialidade lesiva1 (não tem o poder de enganar ninguém).
o A forma qualificada prevista no § 3° só admite como sujeitos ativos aquelas pessoas ali
enumeradas (crime próprio);
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verdadeiro.
o Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do
cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.
o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados acima, nome
do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de
trabalho ou de prestação de serviços.
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o OBS.: Considera-se documento particular aquele que não pode ser considerado, sob
qualquer aspecto, como documento público.
o Doutrina e jurisprudência entendem que se a falsificação for grosseira, não há crime, por
não possuir potencialidade lesiva (não tem o poder de enganar ninguém). O poder
de iludir (imitatio veri) é indispensável.
o Caso não haja esse poder, poderemos estar diante de estelionato, no máximo;
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maioria das pessoas imagina, não está relacionado à falsidade de identidade (prevista
em outro crime). A falsidade ideológica está relacionada à alteração do conteúdo de
documento público ou particular (embora no mesmo artigo, as penas são diferentes!):
o Admite-se tentativa, pois não se trata de crime que se perfaz num único ato (pode-
se desdobrar seu iter criminis – caminho percorrido na execução);
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Ex. Paulo, ao preencher um formulário para alugar seu apartamento, insere informação
de que recebe R$ 20.000,00 mensais em atividade informal. Na verdade, Paulo nunca
chegou nem perto de ver esse dinheiro. Temos, aqui, falsidade ideológica.
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