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ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR

ESCOLA DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DE


SARGENTOS - EFAS

CURSO ESPECIAL DE FORMAÇÃO DE


SARGENTOS – CEFS II - 2023

DIREITO PENAL COMUM

UNIDADE IV
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

JOAQUIM MANOEL ALVES CARDOSO, CAP PM QOR


NOSSOS SÍMBOLOS, NOSSA HONRA.
COORDENADOR
.
CÓDIGO PENAL COMUM
UNIDADE IV – DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

UNIDADE IV
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

▪ Bitencourt (2016, p. 36), citando conceito formulado por Costa e Silva, afirma que administração
pública é o “conjunto das funções exercidas pelos vários órgãos do Estado, em benefício do bem-
estar e do desenvolvimento da sociedade”. Nesse sentido, a Administração Pública nada mais é do
que a atividade do Estado na busca do bem coletivo (bem comum) por intermédio do seus três
Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário, os quais devem funcionar conjunta e harmonicamente.

▪ Os crimes contra a Administração Pública têm com objetividade jurídica, segundo Bitencourt, a sua
“normalidade funcional, probidade, moralidade, eficácia e incolumidade”.

▪ As lições doutrinárias evidenciam que os crimes contra a Administração Pública objetivam coibir
condutas que possam perturbar o regular funcionamento dos órgãos e serviços públicos que, uma
vez interrompidos ou comprometidos, causam prejuízos à moralidade pública e aos interesses da
coletividade.
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UNIDADE IV – DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

▪ 2.4 UNIDADE IV – DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

▪ Na presente Unidade vamos estudar os seguintes tipos penais:

2.4.1 Dos crimes praticados por particular contra a administração em geral


2.4.1.1 Usurpação de função pública (art. 328)
2.4.1.2 Resistência (art. 329)
2.4.1.3 Desobediência (art. 330)
2.4.1.4 Desacato (art. 331)
2.4.1.5 Tráfico de influência (art. 332)
2.4.1.6 Corrupção ativa (art. 333)
2.4.2 Dos crimes contra a administração da justiça
2.4.2.1 Denunciação caluniosa (art. 339)
2.4.2.2 Comunicação falsa de crime ou de contravenção (art. 340)
2.4.2.3 Fraude processual (art. 347)
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UNIDADE IV – DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

PARTE ESPECIAL
TÍTULO XI
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

DOS CRIMES PR ATICADOS POR PARTICULAR CONTR A


A ADMINISTR AÇÃO EM GER AL
ART. 328 AO 333
CÓDIGO PENAL
.
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UNIDADE IV – DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

2.4.1 DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR


CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
• Usurpar a função pública é, portanto, exercer ou
praticar ato de uma função que não lhe é devida.
USURPAÇÃO DE FUNÇÃO PÚBLICA • Entende-se por função a atribuição ou conjunto de
atribuições atinentes à execução de serviços públicos.
• Todo funcionário público ou assemelhado tem a sua
Art. 328. Usurpar o exercício de função pública: função definida em Lei específica ou Estatuto.
• O art. 327 do Código Penal definem as modalidades de
funcionário público e suas equiparações ou asseme-
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e lhados, como se vê:
multa.
Funcionário público
Art. 327. Considera-se funcionário público, para
Parágrafo único. Se do fato o agente aufere os efeitos penais, quem, embora
vantagem: transitoriamente ou sem remuneração, exerce
cargo, emprego ou função pública.

Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. § 1º Equipara-se a funcionário público quem
exerce cargo, emprego ou função em entidade
paraestatal, e quem trabalha para empresa
prestadora de serviço contratada ou conveniada
para a execução de atividade típica da
Administração Pública.
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2.4.1 DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR


CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
• Considera-se consumado o crime com a prática
do primeiro ato de ofício, independente do
USURPAÇÃO DE FUNÇÃO PÚBLICA resultado, ou seja, não importando se o
exercício da função usurpada é gratuito ou
Art. 328. Usurpar o exercício de função pública: oneroso.

• A consumação do crime de usurpação da


Pena - detenção, de três meses a dois anos, e função pública se dá no momento em que o
multa. sujeito pratica um ato típico da função pública
quando o agente não estiver dela investido.
Parágrafo único. Se do fato o agente aufere
vantagem: • A configuração do delito pressupõe que o
agente tenha ciência de que está usurpando
a função pública. Se ele não tem
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. conhecimento de que determinado ato é
específico de dos titulares de certos cargos,
não comete o delito.
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2.4.1 DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR


CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
• A simples conduta de se intitular funcionário
USURPAÇÃO DE FUNÇÃO PÚBLICA público perante terceiros, sem praticar atos
inerentes ao ofício, configura apenas contra-
venção, conforme art. 45 do Decreto-Lei nº
Art. 328. Usurpar o exercício de função pública: 3.688, de 3 de outubro de 1941, que dispõe
sobre a Lei das Contravenções Penais, como se
observa:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e
multa. Simulação da qualidade de funcionário
Art. 45. Fingir-se funcionário público:
Parágrafo único. Se do fato o agente aufere
vantagem: Pena - prisão simples, de um a três
meses, ou multa, de quinhentos mil réis a
três contos de réis.
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
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CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
• Parte da doutrina entende que também comete
o crime o funcionário público que exerce,
USURPAÇÃO DE FUNÇÃO PÚBLICA indevidamente, as funções de outro, vejamos:

Art. 328. Usurpar o exercício de função pública: Segundo MIRABETE, o [...] sujeito ativo
do crime é aquele que usurpa função
pública, em regra o particular, mas nada
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e impede que um funcionário público o
multa. faça, exercendo função que não lhe
compete...
Parágrafo único. Se do fato o agente aufere
vantagem: • Na mesma linha de entendimento temos
MAGALHÃES NORONHA:

Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. [...] podem também ser praticados por
funcionário público que, então, não age
como tal; não atua no desempenho de
suas funções, e é, por isso, considerado
particular.
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CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
• A jurisprudência é ampla com o mesmo
entendimento, embora haja decisões contrárias,
USURPAÇÃO DE FUNÇÃO PÚBLICA vejamos:

Art. 328. Usurpar o exercício de função pública: O crime de usurpação de função pública
não é de natureza funcional, desde que,
na previsão do art. 328 do Código Penal,
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e praticado por particular contra a
multa. Administração. Mas pode ser cometido
por funcionário público - ou assemelhado
Parágrafo único. Se do fato o agente aufere - que atue dolosamente além dos limites
vantagem: de sua função, comprometendo, assim, o
prestígio e o decoro do serviço público.
(RT 637/276 – HC 465.032/3 – TJSP.
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Rel.: Des. Oldemar Azevedo. 14º Câmara
do Tribunal de Alçada Criminal de São
Paulo. j. 23/03/2004. p. 07/10/2007)
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2.4.1 DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR


CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

USURPAÇÃO DE FUNÇÃO PÚBLICA

Art. 328. Usurpar o exercício de função pública:


• Diferença para o estelionato:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e ➢ A vantagem na usurpação advém do
multa. exercício indevido de uma função
pública. No estelionato, o agente não
exerce qualquer função pública, mas
Parágrafo único. Se do fato o agente aufere
sim, se passa por funcionário com a
vantagem: finalidade de induzir ou manter alguém em
erro para obtenção da vantagem ilícita.
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
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2.4.1 DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR


CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
• Para a caracterização do crime de resistência, é
preciso que o agente empregue violência ou
RESISTÊNCIA ameaça (não é necessário que seja grave) com
o intuito de evitar a pratica do ato funcional.
Art. 329. Opor-se à execução de ato legal, mediante
violência ou ameaça a funcionário competente para • Obs.: se forem empregados após a realização
executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: do ato, haverá outro crime, como ameaça ou
lesão corporal.
Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
• Exige-se, para a configuração do tipo que a
§ 1º Se o ato, em razão da resistência, não se executa: violência ou ameaça sejam empregadas contra
a execução do ato.
Pena - reclusão, de um a três anos.
• Para a caracterização do tipo exige-se que a
§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo
das correspondentes à violência.
violência seja contra a pessoa do funcionário
público ou do terceiro que o auxilia. A eventual
violência contra coisa (viatura por exemplo)
será caracterizada como crime de dano,
conforme art. 163 CP.
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2.4.1 DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR


CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
• O ato a ser cumprido deve ser legal quanto ao
conteúdo e forma (modo de execução).
RESISTÊNCIA
• Para a existência da infração em estudo, é
Art. 329. Opor-se à execução de ato legal, mediante necessário que o funcionário público seja
violência ou ameaça a funcionário competente para competente para o cumprimento do ato,
executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: conforme prevê a descrição típica.

Pena - detenção, de dois meses a dois anos. • Consumação ocorre no momento em que for
empregada a violência ou ameaça. Trata-se de
§ 1º Se o ato, em razão da resistência, não se executa: crime formal, pois não se exige que o sujeito
consiga impedir a execução do ato.
Pena - reclusão, de um a três anos.

§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo • Incide a qualificadora do § 1º se o ato, em razão
das correspondentes à violência. da resistência, não se executa. O exaurimento
funciona como qualificadora, em razão do texto
legal.
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CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

DESOBEDIÊNCIA • A objetividade jurídica está relacionada ao


prestígio e o cumprimento das ordens emitidas
Art. 330. Desobedecer a ordem legal de por funcionários públicos no desempenho das
funcionário público: atividades.

• Pode ser praticada por ação, quando a ordem


Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e determina uma omissão, ou por omissão,
multa. quando a ordem determina uma ação.
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2.4.1 DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR


CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL • A doutrina aponta os seguintes requisitos para a
configuração do crime de desobediência:
DESOBEDIÊNCIA
a) Deve haver uma ordem: uma
determinação, mandamento. O não
Art. 330. Desobedecer a ordem legal de atendimento de mero pedido ou
funcionário público: solicitação não caracteriza o crime;
b) A ordem deve ser legal: material e
formalmente;
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e c) Deve ser emanada por funcionário
multa. público competente;
d) É necessário que o destinatário tenha
o dever jurídico de cumprir a ordem.

• Além disso, não haverá crime se o


descumprimento se der por motivo de força maior
ou por ser impossível por algum motivo.

• Em suma, é não acatar o comando legal recebido,


mas sem o emprego de grave ameaça ou de
violência.
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CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL • O crime de desacato consiste no fato de o agente
"desacatar funcionário público no exercício da
DESACATO função ou em razão dela".

• São dois os elementos que integram o delito:


Art. 331. Desacatar funcionário público no
exercício da função ou em razão dela: a) a conduta de desacatar funcionário
público que está no exercício de suas
funções, ou seja, que está trabalhando.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou b) em razão dela (função) tem que referir
multa. à função.

• O núcleo do tipo penal está representado pelo


verbo desacatar (menosprezar, humilhar, desres-
peitar, desprestigiar), tendo como objeto material o
funcionário público no exercício de sua função ou
em razão dela.
• A conduta típica consiste em desacatar o
funcionário público com a finalidade de ofender a
dignidade e o prestígio da Administração
Pública.
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2.4.1 DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR


CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
• É necessário, para a configuração do desacato,
DESACATO que as ofensas sejam proferidas na presença
do funcionário público, pois, na sua ausência,
poderá caracterizar o crime de injúria.
Art. 331. Desacatar funcionário público no
exercício da função ou em razão dela: • Não significa que o agente e o funcionário
público estejam face a face. Haverá o desacato
se estiverem mesmo em salas separadas, com
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou portas abertas, e o agente falar algo pra o
multa. funcionário público ouvir, com a finalidade de
ofender a dignidade, o prestígio e o respeito
devidos ao mesmo no exercício de sua função
ou em razão dela.
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CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL • O nomem iuris “tráfico de influência” e a atual
redação do art. 332 foram criados pela Lei 9.127/95.
TRÁFICO DE INFLUÊNCIA Antes da sua edição, o delito em apreço era
denominado de “exploração de prestígio”.
• Objeto jurídico: tutela-se o prestígio da
Art. 332. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si Administração Pública.
ou para outrem, vantagem ou promessa de • Sujeito ativo: qualquer pessoa, inclusive o
vantagem, a pretexto de influir em ato praticado funcionário público.
• Sujeito passivo: é o Estado e, mediatamente, o
por funcionário público no exercício da função. comprador da influência, ou seja, a pessoa que paga
ou promete vantagem com o propósito de obter
algum benefício, lícito ou ilícito, junto ao funcionário
Pena - Reclusão, de dois a cinco anos, e multa. público.
• Mesmo na hipótese em que o comprador da
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, influência objetiva um benefício ilícito, ainda assim
ele será vítima do crime tipificado no art. 332 do
se o agente alega ou insinua que a vantagem é CP, ou seja, a coexistência da sua fraude (torpeza
também destinada ao funcionário. bilateral) não afasta sua posição de vítima.
• Elemento subjetivo: é o dolo, acrescido de um
especial fim de agir, representado pela expressão
“para si ou para outrem”. Não se admite a
modalidade culposa.
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CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

TRÁFICO DE INFLUÊNCIA • Esse crime é uma modalidade especial de


estelionato, em que o agente, gabando-se de
Art. 332. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si influência sobre funcionário público, pede,
ou para outrem, vantagem ou promessa de exige, cobra ou recebe qualquer vantagem ou
vantagem, a pretexto de influir em ato praticado promessa de vantagem, afirmando ardilosa-
por funcionário público no exercício da função. mente que irá influir em ato praticado por tal
funcionário no exercício de sua função.

Pena - Reclusão, de dois a cinco anos, e multa. • Da mesma forma que o estelionato, o sujeito se
vale de fraude para enganar a vítima,
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, induzindo-a ou mantendo-a em erro, obtendo
vantagem ilícita em prejuízo alheio, mas aqui a
se o agente alega ou insinua que a vantagem é
fraude há de ser, obrigatoriamente, o falso
também destinada ao funcionário.
argumento do agente no sentido de possuir
prestígio perante um funcionário público.
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CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
• Exemplo de NÃO caracterização do crime: o mero
recebimento de vantagem em razão de um trabalho
TRÁFICO DE INFLUÊNCIA lícito exercido ou a ser exercido perante a
Administração Pública evidentemente não caracteriza
Art. 332. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si o crime de tráfico de influência, em face da ausência
do elemento subjetivo específico legalmente
ou para outrem, vantagem ou promessa de
exigido.
vantagem, a pretexto de influir em ato praticado • Objeto material: é a vantagem ou promessa de
por funcionário público no exercício da função. vantagem, de qualquer natureza (econômica, moral,
sexual, etc.)
• Núcleos do tipo: o tipo penal contém quatro núcleos:
Pena - Reclusão, de dois a cinco anos, e multa. • Solicitar – é pedir, pleitear ou requerer;
• Exigir – é ordenar ou determinar;
• Cobrar – é reclamar o pagamento ou
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, cumprimento de algo;
se o agente alega ou insinua que a vantagem é • Obter – é alcançar ou conseguir.
também destinada ao funcionário. • Esses verbos conjugam-se com a conduta de influir
(inspirar ou incutir).
• O objeto das ações é a vantagem ou promessa de
vantagem relacionado ao ato praticado por
funcionário público no exercício a função.
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CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
• Consumação: nos núcleos solicitar, exigir e
TRÁFICO DE INFLUÊNCIA cobrar o tráfico de influência é crime formal,
de consumação antecipada ou de resultado
cortado, consumando-se com a realização da
Art. 332. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si conduta legalmente descrita, independen-
ou para outrem, vantagem ou promessa de temente da efetiva obtenção da vantagem
vantagem, a pretexto de influir em ato praticado desejada. No núcleo obter, o crime é material
por funcionário público no exercício da função. ou causal, e opera-se a consumação no
instante em que o sujeito alcança a vantagem
almejada.
Pena - Reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
• Tentativa: é possível.
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade,
se o agente alega ou insinua que a vantagem é • Trata-se de tipo misto alternativo, crime de
também destinada ao funcionário. ação múltipla ou de conteúdo variado. Há um
único crime quando o sujeito realiza mais de
um núcleo no mesmo contexto fático e no
tocante ao mesmo objeto material.
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CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL • IMPORTANTE: o agente solicita, exige, cobra ou
obtém, para si ou para outrem, vantagem ou
TRÁFICO DE INFLUÊNCIA promessa de vantagem, a pretexto de influir no
comportamento do funcionário público, mas não
o faz, mesmo porque não tem meios para tanto.
Art. 332. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si
ou para outrem, vantagem ou promessa de • Se realmente possuir influência perante o
vantagem, a pretexto de influir em ato praticado funcionário público, e vier a corrompê-lo, deverá
por funcionário público no exercício da função. ser responsabilizado pelo crime de corrupção
ativa (art. 333, CP).

Pena - Reclusão, de dois a cinco anos, e multa. • JURISPRUDÊNCIA: é despiciendo para a


caracterização, em tese, do delito de tráfico de
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, influência, que o agente de fato venha a
influenciar no ato a ser praticado por funcionário
se o agente alega ou insinua que a vantagem é
público. Basta que por mera pabulagem
também destinada ao funcionário. (fanfarrice, mentira ardilosa, embuste) alegue ter
condições para tanto, pois nesse caso já terá sido
ofendido o bem jurídico tutelado: a moralidade da
Administração Pública. (STJ – HC – 64.018/MG.
Rel. Min. Félix Fischer)
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CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

TRÁFICO DE INFLUÊNCIA

Art. 332. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si


ou para outrem, vantagem ou promessa de CAUSA DE AUMENTO DE PENA
vantagem, a pretexto de influir em ato praticado
por funcionário público no exercício da função. • Para a incidência da majorante não se exige
afirmação explícita do agente no sentido de
que o funcionário público também receberá a
Pena - Reclusão, de dois a cinco anos, e multa. vantagem, bastando a simples insinuação
nesse sentido. É indiferente se a vítima acredita
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, ou não no recebimento da vantagem pelo
se o agente alega ou insinua que a vantagem é funcionário público.
também destinada ao funcionário.
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2.4.1 DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR


CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL • No crime de corrupção ativa, pune-se o
particular que toma a iniciativa de oferecer ou
CORRUPÇÃO ATIVA prometer alguma vantagem indevida a um
funcionário público a fim de se beneficiar, em
Art. 333. Oferecer ou prometer vantagem indevida a troca, com alguma ação ou omissão deste
funcionário público, para determiná-lo a praticar, funcionário.
omitir ou retardar ato de ofício:
• Os verbos nucleares do tipo são oferecer e
prometer, o primeiro denota uma ação de
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. colocar à disposição, de exibir, enquanto que o
segundo expressa o ato de obrigar-se a dar
Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, algo, ou de esforçar-se a dar ou fazer um
se, em razão da vantagem ou promessa, o favor a alguém.
funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o
pratica infringindo dever funcional. • Consuma-se o delito a partir do momento em
que o funcionário é cientificado da intenção
ilícita do agente ao oferecer ou prometer a
vantagem indevida.
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2.4.1 DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR


CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
• Objeto jurídico: Administração Pública. Busca-
se impedir a atuação ilícita de particulares na
CORRUPÇÃO ATIVA atividade administrativa, que não pode se
converter em palco para negociações espúrias
Art. 333. Oferecer ou prometer vantagem indevida a relativas aos atos dos funcionários públicos. A
funcionário público, para determiná-lo a praticar, Moralidade da Administração Pública e seu
omitir ou retardar ato de ofício: regular funcionamento que podem ser
colocados em risco pela corrupção
caracterizam a objetividade jurídica.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
• Objeto material: vantagem indevida. Se os
Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, valores oferecidos forem devidos, o fato
se, em razão da vantagem ou promessa, o será atípico. Existe divergência sobre a
funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o natureza da vantagem. Alguns defendem que
pratica infringindo dever funcional. deve ser patrimonial (Damásio de Jesus,
Hungria e Magalhães Noronha) e outros
consideram que pode ser de qualquer espécie,
como patrimonial, sentimental, sexual etc.
(Mirabete, Capez, Masson, Greco).
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2.4.1 DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR


CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
• Sujeito ativo: qualquer pessoa, inclusive o
funcionário público, desde que realize a conduta
CORRUPÇÃO ATIVA
sem aproveitar-se das facilidades inerentes à sua
condição funcional. O sujeito pode praticar o
Art. 333. Oferecer ou prometer vantagem indevida a crime diretamente ou valendo-se de interposta
funcionário público, para determiná-lo a praticar, pessoa, e nesta última hipótese o terceiro será
omitir ou retardar ato de ofício: coautor do delito. Exemplo de Rios Gonçalves: o
Chefe do Executivo que oferece valores para
integrantes do legislativo aprovarem projetos de
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. sua autoria.
• Sujeito passivo: é o Estado e, mediatamente, a
Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, pessoa física ou jurídica lesada pela conduta
se, em razão da vantagem ou promessa, o criminosa. A falta de identificação do funcionário
funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o público corrompido não descaracteriza o crime,
pratica infringindo dever funcional. se houver provas da oferta e promessa de
vantagem indevida, notadamente pelo fato de
constituir-se em crime formal, dispensando a
aceitação do funcionário público para sua
caracterização.
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2.4.1 DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR


CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
• Elemento subjetivo: dolo. Tem um especial fim
CORRUPÇÃO ATIVA de agir, elemento subjetivo específico,
consistente em determinar o funcionário
público a praticar, omitir ou retardar ato de
Art. 333. Oferecer ou prometer vantagem indevida a ofício. Não há previsão de modalidade culposa.
funcionário público, para determiná-lo a praticar,
omitir ou retardar ato de ofício: • Núcleos do tipo:
• Oferecer: é propor ou apresentar
ao funcionário público a vantagem
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. indevida, colocando-a à sua
disposição;
Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, • Prometer: equivale a obrigar-se a
se, em razão da vantagem ou promessa, o entregar futuramente a vantagem
funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o indevida, exigindo em contrapar-
pratica infringindo dever funcional. tida uma ação correspondente do
funcionário público. Na promessa,
o agente se compromete a entre-
gar posteriormente a vantagem ao
funcionário.
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2.4.1 DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR


CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
EXEMPLOS
CORRUPÇÃO ATIVA 1) Na oferta, o agente coloca dinheiro ou valores à
imediata disposição do funcionário. Exemplo: estende a
Art. 333. Oferecer ou prometer vantagem indevida a mão com dinheiro a um policial que está prestes a
funcionário público, para determiná-lo a praticar, autuá-lo por infração de trânsito.
omitir ou retardar ato de ofício: 2) o particular oferece a vantagem indevida, mas o
funcionário recusa-se a recebê-la: existe apenas
corrupção ativa.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 3) o particular oferece a vantagem indevida e o
funcionário a recebe: há corrupção ativa e também
passiva.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, 4) o particular promete a vantagem indevida e o
se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário não aceita: existe apenas a corrupção ativa.
funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o 5) O particular promete a vantagem indevida e o
pratica infringindo dever funcional. funcionário a aceita: há corrupção ativa e também
passiva.
6) o funcionário solicita a vantagem: há apenas
corrupção passiva, quer o particular concorde em
entregar a vantagem, quer se recuse.
.
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2.4.1 DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR


CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
• Trata-se de tipo misto alternativo, crime de ação
múltipla ou de conteúdo variado, havendo um só
CORRUPÇÃO ATIVA crime quando o particular, relativamente ao mesmo
ato de ofício, promete vantagem indevida e depois
Art. 333. Oferecer ou prometer vantagem indevida a a oferece ao funcionário público.
• As condutas têm em mira o comportamento do
funcionário público, para determiná-lo a praticar,
funcionário público. Buscam determiná-lo a
omitir ou retardar ato de ofício:
praticar, omitir ou retardar ato de ofício.
• Crime de forma livre, podendo ser cometido por
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. qualquer meio. A forma mais comum de sua prática
é a oral, já que, em tese, é a forma mais difícil de
ser comprovada. É possível que seja cometido por
Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, gestos ou por escrito (estender o dinheiro ou abrir
se, em razão da vantagem ou promessa, o um talão de cheques).
funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o • Consumação: crime formal, de consumação
pratica infringindo dever funcional. antecipada ou de resultado cortado. Consuma-se
com a oferta ou promessa da vantagem indevida ao
funcionário público, independentemente de sua
aceitação. É prescindível (dispensável) a prática,
omissão ou retardamento do ato de ofício.
• Tentativa: é cabível.
.
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PARTE ESPECIAL
TÍTULO XI
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

DOS CRIMES CONTR A A ADMINISTR AÇÃO DA JUSTIÇA


ART. 339, 340 E 347
CÓDIGO PENAL
.
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2.4.2 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA


• Na denunciação caluniosa, é necessário que
DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA haja a comunicação à autoridade competente
e a instauração de investigação policial, de
Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial, processo judicial, de investigação administra-
de procedimento investigatório criminal, de processo tiva, inquérito civil ou ação de improbidade
judicial, de processo administrativo disciplinar, de administrativa contra alguém, para que o crime
inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa se configure.
contra alguém, imputando-lhe crime, infração ético-
disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: • O elemento subjetivo é o dolo, ou seja, é a
vontade de provocar investigação policial ou
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. processo judicial. O agente leva ao
conhecimento da autoridade, mediante a delatio
§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se criminis, o fato, sabendo ser falso, provocando
serve de anonimato ou de nome suposto. investigação sobre a pessoa.
§ 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação é de
prática de contravenção. • A denunciação caluniosa se configura quando
for provada a inocência da pessoa, seja por uma
decisão judicial ou administrativa inocentando-
a, ou o arquivamento do eventual inquérito
policial.
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2.4.2 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA


• A denunciação caluniosa é formada pela fusão
DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA do crime de calúnia (art. 138) com a conduta
lícita de noticiar à autoridade pública
Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial, (magistrado, delegado de Polícia,
de procedimento investigatório criminal, de processo representante do Ministério Pública etc.) a
judicial, de processo administrativo disciplinar, de prática de crime, infração ético-disciplinar, ato
inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa ímprobo ou mesmo contravenção penal (art.
contra alguém, imputando-lhe crime, infração ético- 339, § 2º) e sua respectiva autoria.
disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: • Crime complexo em sentido amplo.
• Se a pessoa limitar-se a imputar falsamente a
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. alguém a prática de um crime, deverá ser
responsabilizada pelo delito de calúnia.
§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se
• No entanto, a combinação de tais
serve de anonimato ou de nome suposto.
circunstâncias – calúnia e transmissão do fato
§ 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação é de à autoridade pública, dando causa à
prática de contravenção. instauração de inquérito policial etc. – importa
no surgimento da denunciação caluniosa, na
forma prevista no art. 339 do CP, capitulada
entre os crimes contra a Administração da
Justiça.
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2.4.2 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA • O bem jurídico penalmente ofendido não é


simplesmente a honra da pessoa injustamente
Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial, denunciada. A situação é mais grave,
de procedimento investigatório criminal, de processo justificando a elevada pena cominada
judicial, de processo administrativo disciplinar, de (reclusão, de 2 a 8 anos, e multa).
inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa • Objeto jurídico: tutela-se, em primeiro plano, a
contra alguém, imputando-lhe crime, infração ético- Administração da Justiça. Também se protege,
disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: mediatamente, a honra e o patrimônio da
pessoa física ou jurídica, bem como a liberdade
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. do ser humano que teve injustamente contra si
imputado um crime, uma infração ético-
§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se disciplinar, um ato ímprobo ou mesmo uma
serve de anonimato ou de nome suposto. contravenção penal.
§ 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação é de • Objeto material: é o inquérito policial, o
prática de contravenção. procedimento investigatório criminal, o
processo judicial, o processo administrativo
disciplinar, o inquérito civil, a ação de
improbidade administrativa.
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2.4.2 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

• Inquérito policial: atividade específica da polícia


DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA denominada judiciária, isto é, Polícia Civil, no
âmbito da Justiça Estadual, e a Polícia Federal, no
Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial, caso da Justiça Federal, tem por objetivo a
de procedimento investigatório criminal, de processo apuração das infrações penais e de sua autoria
judicial, de processo administrativo disciplinar, de (art. 4º, CPP). Inquérito policial é o
inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa procedimento administrativo de persecução
contra alguém, imputando-lhe crime, infração ético- penal do Estado, destinado à formação da
disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: convicção do órgão acusatório, instruindo a
peça inicial da ação penal, não se podendo
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. considerar os meros atos investigatórios
isolados, conduzidos pela autoridade policial
§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se ou seus agentes, proporcionados pelo simples
serve de anonimato ou de nome suposto. registro de uma ocorrência. É irrelevante o
§ 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação é de desfecho atribuído ao IP, ou seja, pouco importa
prática de contravenção. se o investigado veio a ser indiciado ou
formalmente acusado. O tipo penal se contenta
com o mero inquérito policial.
• Procedimento Investigatório Criminal (PIC):
conduzido diretamente pelo MP.
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• Processo judicial: alcança indistintamente os
DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA processos de natureza penal e civil.
• Processo Administrativo Disciplinar: visa apurar
eventual falta disciplinar praticada pelo funcionário
Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial,
público noticiada em decorrência da imputação falsa
de procedimento investigatório criminal, de processo
infração ético-disciplinar.
judicial, de processo administrativo disciplinar, de • Inquérito civil: é o procedimento investigatório de
inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa natureza administrativa e inquisitiva, de atribuição
contra alguém, imputando-lhe crime, infração ético- exclusiva do MP, instaurado com a finalidade de colher
disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: subsídios idôneos a justificar a propositura de ação
civil pública de responsabilidade por danos morais e
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. patrimoniais causado a interesses metaindividuais, tais
como o patrimônio público e social, o meio ambiente,
§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se os direitos do consumidor, a ordem urbanística, os
serve de anonimato ou de nome suposto. bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico, a ordem econômica e a honra e
§ 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação é de dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos etc.
prática de contravenção. A caracterização da denunciação caluniosa
pressupõe a instauração de inquérito civil,
mediante portaria do membro do MP, em razão da
imputação a um inocente de crime, contravenção,
infração ético-disciplinar ou ato ímprobo.
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DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA

Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial,


de procedimento investigatório criminal, de processo • Ação de impropriedade administrativa: é a
judicial, de processo administrativo disciplinar, de ação disciplinada pela Lei 8.429/92, destinada
inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa à responsabilização do agente público e de
contra alguém, imputando-lhe crime, infração ético- toda pessoa que concorra para a prática do ato
disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: de impropriedade administrativa ou dele se
beneficie de forma direta ou indireta.
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se


serve de anonimato ou de nome suposto.
§ 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação é de
prática de contravenção.
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2.4.2 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

• Elemento subjetivo: dolo direto, pois o tipo


DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA penal utiliza a expressão “imputando-lhe crime,
infração ético-disciplinar ou ato ímprobo de
Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial, que o sabe inocente”. É imprescindível o
de procedimento investigatório criminal, de processo efetivo conhecimento do agente acerca da
judicial, de processo administrativo disciplinar, de inocência da pessoa que teve contra si
inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa
atribuída uma infração penal.
contra alguém, imputando-lhe crime, infração ético-
disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente:
• Consumação: o crime é material ou causal.
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. Assim, consuma-se com a efetiva instauração
de inquérito policial, de procedimento
§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se investigatório criminal, de processo judicial, de
serve de anonimato ou de nome suposto. processo administrativo disciplinar, de inquérito
civil ou de ação de improbidade administrativa
§ 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação é de
contra alguém, em razão da imputação falsa.
prática de contravenção.
• Tentativa: é possível, em face da natureza
plurissubsistente do delito, comportando o
fracionamento do iter criminis.
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2.4.2 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA CAUSA DE AUMENTO DE PENA

Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial, • art. 339, § 1º, CP. Anonimato (ausência de
de procedimento investigatório criminal, de processo identificação); nome suposto (indicação de
judicial, de processo administrativo disciplinar, de qualificação equivocada).
inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa
contra alguém, imputando-lhe crime, infração ético-
• Justifica-se o aumento de pena em razão da
disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente:
dificuldade gerada para a descoberta da
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. autoria da denunciação caluniosa, tornando
muitas vezes impossível a punição daquele que
§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se movimentou levianamente o aparato estatal
serve de anonimato ou de nome suposto. mediante a imputação falsa a alguém. Este é o
fundamento do tratamento penal mais
§ 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação é de
rigoroso.
prática de contravenção.
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2.4.2 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA

Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial,


de procedimento investigatório criminal, de processo
judicial, de processo administrativo disciplinar, de
inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa
contra alguém, imputando-lhe crime, infração ético-
disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
• Se possui como objeto uma contravenção
§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se penal estará caracterizada a modalidade
serve de anonimato ou de nome suposto. privilegiada da denunciação caluniosa (causa
especial de diminuição de pena), diminuindo a
§ 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação é de pena de metade.
prática de contravenção.
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2.4.2 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA


• A comunicação falsa de crime ou de
COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU DE CONTRAVENÇÃO contravenção em muito se assemelha à
denunciação caluniosa. No entanto, na
comunicação falsa de crime ou de
Art. 340. Provocar a ação de autoridade, contravenção o sujeito se limita a comunicar
comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de falsamente a ocorrência de crime ou de
contravenção que sabe não se ter verificado: contravenção que sabe não se ter verificado,
assim provocando a ação de autoridade, mas
não acusa falsamente nenhuma pessoa, seja
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. por se tratar de indivíduo indeterminado e
indeterminável, seja por referir-se a pessoa
que não existe (pessoa imaginária).

• A pena é a mesma na denúncia de crime ou de


contravenção. Em ambos os casos são
inutilmente desperdiçados o tempo e o esforço da
autoridade pública. Assim, a comunicação falsa
de crime ou de contravenção implica em prejuízo
à Administração da Justiça porque a conduta
pode provocar a movimentação indevida do
Estado para apurar fato criminoso inexistente.
.
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2.4.2 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA


• Nesta hipótese, a pessoa faz a comunicação de
COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU DE CONTRAVENÇÃO um crime ou de contravenção que não ocorreu,
provocando a atuação de uma autoridade no
intuito de investigar a falsa infração penal.
Art. 340. Provocar a ação de autoridade,
comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de • No caso da comunicação falsa, basta que seja
contravenção que sabe não se ter verificado: comunicado à autoridade um crime ou
contravenção fictícios, sem indicar o suposto
criminoso ou indicando pessoa que não existe,
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. levando a uma ação da autoridade.

• Se o agente acusar pessoa determinada de ter


praticado crime inexistente, responderá por
denunciação caluniosa. Esta é uma das
principais diferenças entre os crimes dos artigos
339 e 340 do CP.
o No primeiro, exige que pessoa certa
seja acusada falsamente.
o No segundo, dispensa a falsa autoria,
basta a inexistência do crime ou
contravenção.
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2.4.2 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU DE CONTRAVENÇÃO • Para a configuração do crime são necessários os


seguintes REQUISITOS:

Art. 340. Provocar a ação de autoridade, a) ação efetiva de autoridade;


comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de b) mediante comunicação falsa;
contravenção que sabe não se ter verificado: c) de fato definido como crime ou contravenção;
d) de forma dolosa.

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. • Basta provocar, em sentido amplo, a ação de
autoridade, pois, comportando-se desta forma, o
sujeito provoca prejuízos a toda a coletividade, já
que as autoridades públicas perdem valioso
tempo e recursos que deveriam ser utilizados no
enfrentamento de crimes reais.

• Objeto jurídico: a Administração da Justiça,


especialmente no tocante à perda de tempo e de
dinheiro acarretados aos órgãos responsáveis
pela persecução criminal.
.
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2.4.2 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

• Objeto material: é a ação da autoridade


COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU DE CONTRAVENÇÃO ilegalmente provocada pela conduta criminosa.
A elementar “autoridade” há de ser
Art. 340. Provocar a ação de autoridade, compreendida como todo e qualquer
comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de funcionário público incumbido da tarefa de
investigar e apurar a existência de infrações
contravenção que sabe não se ter verificado:
penais e seus respectivos responsáveis, ou
então de determinar a abertura do
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. procedimento investigatório, pois se trata de
crime contra a Administração da Justiça.

• Núcleo do tipo: “provocar”, que significa dar


causa à ação da autoridade pública, ensejando
sua atuação no caso concreto.

• A comunicação falsa pode ser exteriorizada


por qualquer meio: oralmente ou por escrito,
identificada pelo nome assinatura do seu autor
ou apócrifa (crime de forma livre).
.
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2.4.2 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA


• Duas possibilidades para a comunicação do crime
COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU DE CONTRAVENÇÃO ou da contravenção:
a) o crime ou a contravenção penal
comunicado realmente não se verificou;
Art. 340. Provocar a ação de autoridade, b) houve um crime ou contravenção
comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de penal, mas absolutamente diverso do
contravenção que sabe não se ter verificado: fato comunicado à autoridade.

• Exemplos de Rios Gonçalves (Direito Penal


Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Esquematizado – Parte Geral):
a) um dos casos mais comuns do crime em
estudo verifica-se quando alguém realiza um
telefonema para a polícia dizendo que em
certo local está sendo praticado um crime
(trote telefônico), o que faz com que viaturas
sejam deslocadas até o local indicado onde
nenhum ilícito ocorreu ou está ocorrendo.
b) Se o agente faz a comunicação falsa para
tentar ocultar outro crime por ele praticado
responde também pela comunicação falsa de
crime.
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2.4.2 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

• Consumação: crime material ou causal.


COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU DE CONTRAVENÇÃO
Consuma-se no instante em que a autoridade
pública adota alguma ação (ou providência)
Art. 340. Provocar a ação de autoridade, com a finalidade de apurar a ocorrência do
comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de crime ou da contravenção penal falsamente
contravenção que sabe não se ter verificado: comunicados. Não se exige a instauração de
procedimento formal, pois o tipo penal fala
simplesmente em “provocar a ação da
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. autoridade”.

• Não é suficiente a mera comunicação falsa.


A consumação depende da ação, isto é, de
um comportamento positivo (fazer algo) por
parte da autoridade pública.

• Tentativa: é possível.
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2.4.2 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

• Objeto jurídico: tutela-se a Administração da


FRAUDE PROCESSUAL
Justiça, especificamente no campo da correta
aplicação da lei, atividade que não pode ser
Art. 347. Inovar artificiosamente, na submetida a artifícios destinados ao
pendência de processo civil ou administrativo, o falseamento da prova, e, por corolário, aos
estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o erros de julgamento, a favor ou contra qualquer
fim de induzir a erro o juiz ou o perito: das partes envolvidas em um litígio;

Pena - detenção, de três meses a dois anos, e • Objeto material: é a coisa, o lugar ou a pessoa
que suporta a inovação artificiosa.
multa.
• Subsidiariedade tácita ou implícita: a fraude
Parágrafo único. Se a inovação se destina a processual é crime tacitamente subsidiário, ou
produzir efeito em processo penal, ainda que seja, somente será aplicável quando o fato não
não iniciado, as penas aplicam-se em dobro. constituir crime mais grave. Se existir outro
delito com pena mais elevada, a fraude
processual restará absorvida.
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2.4.2 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

• Núcleo do tipo: é “inovar”, no sentido de


FRAUDE PROCESSUAL modificar ou alterar algo, introduzindo uma
novidade. Nem toda inovação enseja o surgimento
Art. 347. Inovar artificiosamente, na do crime, mas apenas aquela se dá
pendência de processo civil ou administrativo, o “artificiosamente” (elemento normativo do tipo).
Inovar “artificiosamente” ocorre com o emprego
estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o
de ardil ou fraude material para enganar o juiz
fim de induzir a erro o juiz ou o perito: ou o perito.
• A inovação artificiosa precisa se relacionar-se,
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e
necessariamente, ao estado de lugar (local ou
multa. ambiente), de coisa (pode ser móvel ou imóvel)
ou de pessoa (pode ser alterada em seu estado
Parágrafo único. Se a inovação se destina a físico ou exterior, e não no psíquico, e também
produzir efeito em processo penal, ainda que no estado anatômico ou interno. Ex.: simular
não iniciado, as penas aplicam-se em dobro. agravamento de lesão, mudar o corpo da
vítima de um crime de lugar).
• O tipo penal não alcança as alterações naturais
dos lugares, das coisas ou das pessoas.
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2.4.2 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

FRAUDE PROCESSUAL • Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa,


independentemente de possuir ou não
interesse no processo civil, administrativo ou
Art. 347. Inovar artificiosamente, na
penal. O funcionário público pode cometer
pendência de processo civil ou administrativo, o fraude processual.
estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o
fim de induzir a erro o juiz ou o perito: • Sujeito passivo: o Estado, uma vez que a
fraude processual faz com que a máquina
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e judiciária trabalhe de forma desnecessária,
multa. causando ônus ao Estado de forma dolosa. A
vítima secundária é a própria parte, aquele
contra quem se fala, aquele contra quem se
Parágrafo único. Se a inovação se destina a imputa fatos inverídicos, aquele que foi lesado
produzir efeito em processo penal, ainda que pela conduta do autor.
não iniciado, as penas aplicam-se em dobro.
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2.4.2 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

FRAUDE PROCESSUAL

Art. 347. Inovar artificiosamente, na


pendência de processo civil ou administrativo, o • Elemento subjetivo: dolo, acrescido de um
estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o especial fim de agir (elemento subjetivo
fim de induzir a erro o juiz ou o perito: específico), consistente na intenção de induzir a
erro o juiz ou perito. Não se admite a
modalidade culposa. O dolo, portanto, é a
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e vontade de inovar de forma fraudulenta o
multa. estado de alguma coisa, de uma pessoa ou
de um lugar, com o fim de induzir o juiz ou
Parágrafo único. Se a inovação se destina a perito a erro, de forma a atender o interesse
produzir efeito em processo penal, ainda que daquele que cometeu o crime.
não iniciado, as penas aplicam-se em dobro.
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2.4.2 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA


• Consumação: crime formal, de consumação
FRAUDE PROCESSUAL antecipada ou de resultado cortado. Consuma-se
no momento em que o agente utiliza de artifício
(meio fraudulento) para inovar na pendência de
Art. 347. Inovar artificiosamente, na
processo civil, administrativo, ou de processo
pendência de processo civil ou administrativo, o penal, ainda que não iniciado, o estado de lugar,
estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a
fim de induzir a erro o juiz ou o perito: erro o juiz ou o perito. A parte final da descrição
típica “com o fim de induzir a erro o juiz ou o
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e perito” evidencia a natureza formal do delito.
multa.
• No plano da tipicidade, é irrelevante que ocorra
ou não o engano do juiz ou perito, ou mesmo
Parágrafo único. Se a inovação se destina a que, por um motivo qualquer, o processo não
produzir efeito em processo penal, ainda que alcance a fase de julgamento ou não se realize o
não iniciado, as penas aplicam-se em dobro. exame pericial, desde que o artifício seja idôneo
a enganar o julgador ou o perito. Em qualquer
hipótese a inovação já estará aperfeiçoada.

• Tentativa: é possível.
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2.4.2 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

• Se a inovação buscar produzir efeitos em


FRAUDE PROCESSUAL
processo penal, ainda que não iniciado, as
penas são aplicadas em dobro. A pena mais
Art. 347. Inovar artificiosamente, na gravosa se justificar pelo interesse do agente
pendência de processo civil ou administrativo, o em burlar a verdade real que norteia o
estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o processo penal. O interesse do Estado na
fim de induzir a erro o juiz ou o perito: honestidade da prova é maior quando se
encontra em jogo a liberdade do cidadão.
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e
• Quando a inovação se dá em processo
multa.
penal, ainda que não iniciado, é possível
constatar que o crime incide na fase
Parágrafo único. Se a inovação se destina a investigatória, vale dizer, no curso do inquérito
produzir efeito em processo penal, ainda que policial ou outro procedimento
não iniciado, as penas aplicam-se em dobro. investigatório, não existindo regra análoga
no tocante ao processo civil ou
administrativo.
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2.4.2 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA


EXEMPLOS:
FRAUDE PROCESSUAL
a) Alterar características de objeto que será
periciado;
Art. 347. Inovar artificiosamente, na b) Simular maior extensão de uma lesão ou sequela
pendência de processo civil ou administrativo, o com o intento de buscar maior indenização
estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o decorrente de um acidente;
fim de induzir a erro o juiz ou o perito: c) Colocar arma na mão da vítima de homicídio para
parecer que esta se suicidou;
d) Lavar o sangue do local do crime;
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e e) Modificar a cena do delito;
multa. f) Eliminar impressões digitais;
g) Lavar a roupa da vítima do crime sexual onde
Parágrafo único. Se a inovação se destina a havia esperma;
h) O autor do homicídio, a pretexto de colaborar
produzir efeito em processo penal, ainda que
com as investigações, entrega arma de fogo
não iniciado, as penas aplicam-se em dobro. diversa da usada no crime para que o confronto
balístico resulte negativo. Responde pelo mesmo
crime se entrega a própria arma usada no crime,
mas, antes disso, modifica-a também para que o
exame balístico lhe resulte favorável.
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PARTE ESPECIAL
TÍTULO XI
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
CÓDIGO PENAL
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Conforme a matéria, marque V para as verdadeiras e F para as falsas:

( ) No caso da comunicação falsa, basta que seja comunicado à autoridade um crime fictício, sem
indicar o suposto criminoso ou indicando pessoa que não existe.
( ) Usurpar a função pública é, portanto, exercer ou praticar ato de uma função que não lhe é
devida.
( ) Na usurpação de função, considera-se consumado o crime com a prática do primeiro ato de
ofício, independente do resultado, ou seja, não importando se o exercício da função usurpada é
gratuito ou oneroso.
( ) Para a caracterização do crime de resistência, é preciso que o agente empregue violência ou
ameaça com o intuito de evitar a pratica do ato funcional.
( ) No crime de resistência, a eventual violência contra coisa será caracterizada como crime de
dano.
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( ) O crime de desobediência pode ser praticada por ação, quando a ordem determina uma
omissão, ou por omissão, quando a ordem determina uma ação.
( ) A recusa simples em apresentar documentos do veículo é considerado desobediência
mediante uma ordem ilegal.
( ) A conduta típica do crime de desacato consiste em desacatar o funcionário público com a
finalidade de ofender a dignidade e o prestígio da Administração Pública.
( ) A corrupção ativa consuma-se a partir do momento em que o funcionário é cientificado da
intenção lícita do agente ao oferecer ou prometer a vantagem indevida.
( ) A Denunciação Caluniosa se configura quando for provada a inocência da pessoa, seja por
uma decisão judicial ou administrativa inocentando-a, ou o arquivamento do eventual inquérito
policial.
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EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

GABARITO

V–V–V–V–V–V–F–V–F–V
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final da disciplina o conhecimento da legislação penal comum adquirido pelo


discente o capacitará a compreender os institutos jurídicos mais utilizados no seu
cotidiano, permitindo a correta identificação das condutas que constituem crime
comum, a fim de aplicá-lo de forma eficiente e legal no desempenho das diversas
funções que competem aos Sargentos da PMMG.
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REFERÊNCIAS

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal – v. 1: parte geral (art. 1º a 120). 27. ed.
rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2021.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal – v. 5: parte especial. 10. ed. rev. e
atual. São Paulo: Saraiva, 2016.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal.
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: parte especial. 11. ed. São
Paulo: Saraiva, 2021.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial, v. 3. 18. ed. rev. ampl. e atual. Niterói:
Impetus, 2021.
MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. 7. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Método, 2019.
ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR
ESCOLA DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DE
SARGENTOS - EFAS

ATÉ A PRÓXIMA!

NOSSOS SÍMBOLOS, NOSSA HONRA.

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