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DIREITO PENAL IV

CRIMES CONTRA A
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
AULA 1
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO I
(TÍTULO XI – Capítulo I)

1.1 Conceitos de Administração Pública e funcionário público para


o Direito Penal;
1.2 Distinção entre crimes funcionais próprios e impróprios.
1.3 Conceitos de funcionário público e funcionário público por
equiparação previstos no CP;
1.4 Distinção entre o conceito de funcionário público, previsto no
Código Penal, e autoridade pública, prevista na Lei nº 13.869/19;
1.5 Aplicação do princípio da insignificância;
1.6 Crimes em espécie.
Crimes em espécie

1. Peculato – art. 312, CP


2. Concussão – art. 316, CP
3. Corrupção passiva – art. 317, CP
PARTE ESPECIAL DO CÓDIGO PENAL

TÍTULO I: Crimes contra a pessoa


TÍTULO II: Crimes contra o patrimônio
TÍTULO III: Crimes contra a propriedade imaterial
TÍTULO IV: Crimes contra a organização do trabalho
TÍTULO V: Crimes contra o sentimento religioso e respeito aos mortos
TÍTULO VI: Crimes contra a dignidade sexual
TÍTULO VII: Crimes contra a família
TÍTULO VIII: Crimes contra a incolumidade pública
TÍTULO IX: Crimes contra a paz pública
TÍTULO X: Crimes contra a fé pública
TÍTULO XI: Crimes contra a administração pública √
Considerações iniciais

1. Conceito de Administração Pública

Em sentido amplo, a Administração Pública compreende os


órgãos governamentais, incumbidos de planejar, comandar,
traçar diretrizes e metas (função política) e os órgãos
administrativos, responsáveis por executar os planos
governamentais (função administrativa).
Conceito de funcionário público para fins penais

Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais,


quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce
cargo, emprego ou função pública.

são realidades diferentes dentro da


estrutura da administração pública.
Funcionário público por equiparação – art. 327, § 1º

§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo,


emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para
empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a
execução de atividade típica da Administração Pública.

Atividade fim
Princípio da insignificância

Súmula 599, STJ (27 nov 2017)


O principio da insignificância é INAPLICÁVEL aos crimes contra a
administração pública.

Fundamento: moralidade administrativa.


CRIMES EM ESPÉCIE - DISPOSIÇÕES GERAIS

- todos os crimes são próprios: devem ser praticados


por quem ostente a condição de funcionário público. Em alguns
casos, deve ser uma condição ainda mais específica (Ex: superior
hierárquico, no crime de condescendência criminosa).

- todos os crimes são dolosos: só há previsão de forma


culposa para o peculato (art. 312, §2º, CP).

- ação penal: pública incondicionada.

- particular como sujeito do delito: é possível, desde


que se trate de concurso de pessoas e que o particular saiba que
seu comparsa é funcionário público.
Crimes em espécie

1. Peculato – arts. 312 e 313, CP


a) Peculato apropriação (art. 312, caput, 1ª parte)
b) Peculato desvio (art. 312, caput, parte final) próprio

c) Peculato furto (§ 1º)


d) Peculato culposo (§ 2º) impróprio

e) Peculato estelionato (art. 313)


f) Peculato eletrônico (art. 313-A)
a) Peculato apropriação (art. 312, caput, 1ª parte)

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor


ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a
posse em razão do cargo...
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

Bem móvel particular: trata-se de bem privado que se encontra


sob a guarda da Adm Púb (peculato malversação)
Características do tipo penal
- posse anterior e lícita;
- dolo posterior (de ficar com a coisa);
- elm subjetivo específico – intenção definitiva de não
restituir o objeto material ao seu titular.

Consumação
- trata-se de crime material, logo, consuma-se com a posse
da coisa.
Jurisprudência do STJ

A consumação do crime de peculato apropriação previsto no art.


312, caput, 1ª parte, do CP, ocorre no momento em que o
funcionário público, em virtude do cargo, começa a dispor do
dinheiro, valores ou qualquer outro bem móvel apropriado, como
se proprietário fosse.
(REsp 985.368/SP, de 30/05/2008)
b) Peculato desvio (art. 312, caput, parte final)

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor


ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a
posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou
alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

No peculato desvio o agente confere à coisa destinação


diversa da inicialmente prevista.
Exemplos

O funcionário público Onofre empresta R$ 10.000,00 que tem


sob sua guarda a Emanuel a fim de receber os juros
respectivos.

O estagiário imprime o material de aula no local de trabalho.


c) Peculato furto (art. 312, § 1º)

§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora


não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre
para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se
de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.

O bem móvel não se encontra na posse do agente, mas


sua posição funcional torna mais simples a subtração.
Características do tipo penal
- posse ilícita;
- dolo anterior;
- diferença fundamental para o peculato (desvio ou
apropriação) = aqui o agente não tem a posse da coisa.

Consumação
- trata-se de crime material, logo, consuma-se com a posse
da coisa.
d) Peculato culposo (art. 312, §§ 2º e 3º)

§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de


outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se
precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é
posterior, reduz de metade a pena imposta.

Neste caso o agente público viola um dever objetivo de


cuidado e dá causa ao crime de outrem, que pode ser um
funcionário público ou não.
Observação
O delito do art. 312, § 2º é o único crime funcional culposo
e de menor potencial ofensivo. Também é um crime de concurso
necessário.

Consumação
Ocorre no momento em que se consuma o crime doloso
praticado pelo terceiro.
Exemplo
O juiz ao sair do gabinete deixa a porta aberta. Agnaldo,
que não é funcionário público aproveita o momento e subtrai R$
500,00 que estava na gaveta da mesa do magistrado.

QUESTÃO: Qual a tipificação do crime praticado pelo terceiro?


e) Peculato estelionato (art. 313)

Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no


exercício do cargo, recebeu por erro de outrem:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Neste caso há uma conduta ilícita do funcionário público


baseada na falsa percepção da realidade (erro) apresentada pela
vítima.
Exemplo

Fausto dirige-se a uma repartição pública e entrega a Horácio


R$ 800,00 em dinheiro a fim de que fosse realizado o
pagamento de tributos supostamente atrasados. Ao perceber
que a dívida já havia sido paga, o funcionário público silencia e
se apropria do valor.

Consumação
Trata-se de crime material, logo, consuma-se com a
apropriação do dinheiro ou qualquer utilidade.
f) Peculato eletrônico (art. 313 - A)

Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a


inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados
corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da
Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si
ou para outrem ou para causar dano:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Características do tipo penal

- crime próprio - somente pode ser cometido pelo


funcionário autorizado. Não basta ser funcionário público;

- crime formal - não é necessário a obtenção de vantagem


indevida para sua consumação;
2. Concussão – art. 316, CP (atualização legislativa)

Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou


indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas
em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

Trata-se de crime em que o funcionário público, valendo-se do


respeito ou mesmo receio que sua função infunde, impõe à vítima
a concessão de uma vantagem a que não tem direito.
Características do tipo penal

- crime próprio - somente pode ser praticado por


funcionário público e não é nec que esteja no exercício da função;

- crime formal - basta a exigência da vantagem indevida,


prescindindo-se do seu recebimento.
Exemplo

Ernesto, fiscal da prefeitura, exige de um particular a


quantia de R$ 5.000,00 para não embargar a construção de sua
casa.
Excesso de exação

§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou


deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio
vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
Características

- no excesso de exação o funcionário público exige


ilegalmente tributo ou contribuição social em benefício da
administração;

- na concussão, o funcionário público o faz em proveito


próprio ou de terceiro;
Consumação

Trata-se de crime formal, logo, consuma-se com a exigência


indevida ou com o emprego de meio vexatório ou gravoso.

Ex: Amarildo, funcionário público, ao cobrar um tributo atrasado


de Atílio, o chama de “caloteiro” na frente de seu filho.
Excesso de exação e figura qualificada

§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o


que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

Obs. Falha do legislador - pune o excesso de exação simples com


pena mínima superior à da figura qualificada.

- neste caso trata-se de crime material, consumando-se com o


efetivo desvio dos valores indevidamente recebidos.
3. Corrupção passiva – art. 317, CP

Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta


ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la,
mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal
vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

Neste delito o CP rompeu com a teoria unitária ou monista no


concurso de pessoas, adotada como regra em seu art. 29.
Características do tipo penal

- crime bilateral ou de concurso necessário - pressupõe a


convergência de vontades entre o funcionário público e o particular;

- crime formal - consuma-se no momento em que o


funcionário público solicita, recebe ou aceita a promessa de
vantagem indevida.
Corrupção passiva própria e imprópria

No primeiro caso o funcionário público negocia um ato


ilícito.

Ex: policial rodoviário deixa de multar motorista em excesso de


velocidade em troca do recebimento de determinada quantia em
dinheiro.
No segundo caso, o ato sobre o qual recai a transação é
lícito.

Ex: Delegado de Polícia solicita propina da vítima de um crime


para agilizar o trâmite de um inquérito policial.
Causa de aumento da pena – art. 317, § 1º

§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da


vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar
qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.

Ex: Delegado de Polícia solicita (e efetivamente recebe) propina


da vítima de um crime para agilizar o trâmite de um inquérito
policial.
Corrupção passiva privilegiada - art. 317, § 2º

§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato


de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou
influência de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

- hipótese do “favor” do funcionário que cede a pedido ou


influência de outrem;
- trata-se de crime material, pois é imprescindível a
produção do resultado.

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