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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - 3

6. Peculato mediante Erro de Outrem (Art. 313, CP)

Peculato mediante erro de outrem

Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no


exercício do cargo, recebeu por erro de outrem:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

O peculato mediante erro de outrem também é conhecido como peculato-estelionato. O


núcleo do tipo é apropriar-se, tendo o sentido de apossar-se ou assenhorar-se de
dinheiro ou qualquer utilidade. É imprescindível que o funcionário público receba o
bem no exercício do cargo. Ausente essa circunstância, pode-se configurar outro delito,
como o de apropriação de coisa havia por erro (art. 169, caput, 1ª parte). O recebimento
do objeto material decorre de erro de outrem. Erro é a falsa percepção da realidade.
Pode recair sobre a coisa, a pessoa ou à própria obrigação. Vejamos exemplos:

a) Coisa (qualidade ou quantidade) - João, funcionário público responsável pela


cobrança de tributos, recebe de particular valor além do devido. Percebendo o
equívoco, fica com o excedente;

b) Obrigação - João, funcionário público responsável pela cobrança de tributos, recebe


de particular valor para pagamento de dívida que, na realidade, não existe. Percebendo
o equívoco, fica com o montante;

c) Pessoa - João, funcionário público, recebe de particular dinheiro destinado ao


pagamento de tributos. Não sendo o funcionário competente para recebimento da
quantia, apropria-se dela.

Conforme entendimento predominante na doutrina, o objeto material deve vir ao


poder do agente em decorrência de erro no qual a vítima se envolveu sozinha. Após
estar na posse da coisa, o agente percebe o equívoco e decide se apropriar dela. Nessa
ótica (que é majoritária), se o funcionário público induz ou mantém a vítima em erro,
para que ela lhe entregue o bem, deve responder por estelionato (art. 171). É a posição
de Nelson Hungria, entre outros.
peculato remonta ao direito romano. Como ensina Hungria, “a subtração de coisas
pertencentes ao Estado chamava-se peculatus ou depeculatus, sendo este nomen juris
oriundo do tempo anterior a introdução da moeda, quando os bois e carneiros (pecus),
destinados aos sacrifícios, constituíam a riqueza publica por excelência”.

7. Inserção de Dados Falsos em Sistemas de Informações (Art. 313-A, CP)

Inserção de dados falsos em sistema de informações (Incluído pela


Lei nº 9.983, de 2000)

Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção


de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos
sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração
Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para
outrem ou para causar dano: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.(Incluído pela


Lei nº 9.983, de 2000)

O crime do artigo 313-A, conhecido como peculato eletrônico, foi introduzido no


Código Penal pela Lei 9.983/2000. O objetivo principal dessa lei foi tutelar a
Previdência Social, tanto que ela também acrescentou ao Código Penal os delitos de
apropriação indébita previdenciária (art. 168-A) e sonegação de contribuição
previdenciária (art. 337-A). Porém, o tipo penal do artigo 313-A não se limita à
Previdência, abrangendo outros sistemas informatizados e bancos de dados da
Administração Pública.

O tipo penal contém quatro núcleos: inserir (acrescentar) ou facilitar a inserção


(colaborar para que outrem realize o acréscimo) de dados falsos (inverídicos ou
incorretos), bem como alterar (modificar) ou excluir (apagar ou deletar) dados corretos,
integrantes de sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública.

O termo indevidamente constitui elemento normativo do tipo. Sendo devido a


inserção, alteração ou exclusão, o fato será atípico. Ex.: exclusão de infração de trânsito
em razão de decisão judicial ou recurso administrativo.

7.1 Sujeito Ativo


O crime somente pode ser praticado por “funcionário autorizado”, ou seja, o
funcionário público com atribuição para acessar o sistema informatizado ou banco de
dados.

Portanto, se a conduta for praticada por funcionário público não autorizado, não se
configura o delito em exame. Contudo, deve-se reconhecer o delito de falsidade
ideológica (art. 299, p. único). Nesse sentido:

STJ: "Aliás, 0 legislador, ao criar o novo tipo penal previsto no art. 313-A do Código
Penal, teve como intuito apenar de forma mais elevada a conduta de inserção de dados
falsos em sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública,
praticada tão somente pelos funcionários autorizados. Deixou de fora do referido tipo
penal, portanto, o funcionário não autorizado a cuidar dos sistemas informatizados ou
banco de dados da Administração Pública, aplicando-se, assim, a esses, o disposto no
art. 299, parágrafo único, do Código Penal" (HC 100062/SP, Rei. Min. Laurita Vaz, 5ª T.,
j. 29/04/2009).

# Casuística:

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