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Direito Penal IV

Peculato:
Nosso ordenamento jurídico prevê o delito de peculato no art. 312,
caput, do CP:

“Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro


bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo,
ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena – reclusão, de 2 (dois) a
12 (doze) anos, e multa”.

o REGRA: todos os crimes nesse capitulo são de modalidade dolosa.


o EXCEÇÃO: o peculato, que possui a modalidade culposa (peculato
culposo)

O Código Penal, além do chamado peculato próprio (caput), prevê outras


modalidades de peculato:

1. PECULATO-APROPRIAÇÃO: previsto na primeira parte do caput do art. 312. É o denominado peculato


próprio;

Art. 312, caput, 1º parte – Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo (...):

Pena – reclusão, de dois a doze anos, e multa.

A ação nuclear típica consubstancia-se no verbo apropriar.

"A circunstância elementar do crime de peculato se comunica ao coautor ou partícipe, mesmo que estes não
integrem o serviço público".

• OBJETO JURÍDICO

Tutela-se o patrimônio público e o particular no que diz respeito aos bens da Administração Pública.
Protege-se, eventualmente, o patrimônio do particular quando este estiver sob a guarda daquela.

Sendo um crime funcional próprio: crime que apenas FUNCIONÁRIO PÚBLICO pode praticar. O agente
deverá, ainda, ocupar legalmente um cargo público, ou seja, ter sido nele investido corretamente, de acordo
com as determinações legais, pois, caso contrário, não se configurará o delito em estudo.

O funcionário público recebe o bem na condição de mero, porém, passa a se comportar como se dono
fosse. Pode cometer o delito, por exemplo, o motorista que tem a posse do carro oficial, o carteiro que tem
a posse das correspondências que deve entregar, o funcionário de repartição arrecadadora que tem a posse
dos valores etc.

• OBJETO MATERIAL

O objeto material do delito de peculato pode ser bem de natureza pública ou particular, um valor ou um
bem móvel. É o dinheiro, valor ou qualquer bem móvel, público ou particular.

É necessário esse bem móvel ou esse valor esteja sobre custódia da Administração Pública. Ex. O oficial de
justiça procedendo ao mandado de penhora, e ao entrar na casa do devedor ele subtrai o relógio para si, no
caso ele comete furto.

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A coisa a ser subtraída deve se encontrar em poder da Administração Pública, mesmo que seja um bem
particular. Assim, imagine-se um oficial de justiça, em cumprimento a um mandado de penhora, que
aproveite dessa situação para subtrair para si coisa pertencente ao executado. Não configura peculato-furto,
pois o bem não estava em poder da Administração.

(CESPE - 2013 - PC-BA - Delegado de Polícia) Foi considerada correta a seguinte alternativa: "Constitui pressuposto
material dos crimes de peculato-apropriação e peculato-desvio, em suas formas dolosas, a anterior posse do dinheiro,
do valor ou de qualquer outro bem móvel, público ou particular, em razão do cargo ou função".

• CONDUTA NUCLEAR
• SUJEITO ATIVO

O delito de peculato pode ser praticado por qualquer funcionário público, por isso trata-se de um crime
próprio.

Obs.: " O particular que, em conjunto com a esposa, funcionária pública, apropriar-se de bens do Estado
responderá por peculato, ainda que não seja membro da administração. Peculato é crime funcional
impróprio, afiançável e prescritível".

Ex.: Na hipótese de terceira pessoa, que não é funcionária pública, instigar seu pai, este
funcionário público, a cometer o crime de peculato-apropriação, responderá pelo crime;

• SUJEITO PASSIVO

O Estado, sempre.

• CONSUMAÇÃO:

No momento em que o funcionário público passa a se comportar como dono do objeto, ou seja, quando ele
inverte o ânimo que tem sobre a coisa. Tratando-se de um crime material.

• BEM JURÍDICA TUTELA: Administração Pública, no aspecto do seu patrimônio e da sua moralidade.

• CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA:
a. Objetividade jurídica: simples e de dano. Em relação ao
b. Sujeito ativo: crime próprio e de concurso eventual.
c. Meios de execução é crime de ação livre.
d. Momento consumativo constitui delito instantâneo e material.
e. Elemento subjetivo: trata-se de infração penal dolosa.

• AÇÃO PENAL: Pública incondicionada.


• COMPETÊNCIA: Pode ser julgado na justiça Federal ou Estadual.

Peculato PRÓPRIO Peculato IMPRÓPRIO


É o peculato-apropriação É o peculato-furto.
e peculato-desvio.

(FCC - 2012 - PGM - João Pessoa-PB - Procurador Municipal) "Para a caracterização do peculato doloso: a) o objeto do
crime deve ser bem móvel, b) é necessária prévia tomada ou prestação de contas, c) não pode o agente ter ressarcido o
dano antes da denúncia, d) é indispensável a apuração do fato em processo administrativo, e) o objeto do crime não
pode ser bem particular". Gabarito: A

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(FCC - 2015 - TCE-CE - Conselheiro Substituto/Auditor) "Bernardo, funcionário público, ordenou que Luciana,
contribuinte, quitasse tributo indevido. Anteriormente à entrega deste valor, desistiu da ordem. Conquanto esta
atitude, Luciana entendeu por bem entregar o numerário a Bernardo que o recebeu e o desviou depois do
recolhimento ao tesouro público. Bernardo praticou: a) fato atípico, por ausentes elementos do tipo penal; b) excesso
de exação; c) excesso de exação qualificada; d) peculato na modalidade furto; e) peculato na modalidade apropriação".
Gabarito: E.

Obs.: a energia de valor econômico pode ser objeto material do crime de peculato, pois a energia elétrica
ou qualquer outra que tenha valor econômico, é possível a interpretação no sentido de que a energia possa
figurar como objeto material de peculato.

2. Peculato-desvio: previsto na segunda parte do caput do art. 312. É também chamado de peculato
próprio;

Art. 312, caput, 2º parte – (...) ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:


Pena – reclusão, de dois a doze anos, e multa.
Nesta modalidade de peculato, o funcionário altera o destino do bem público ou particular que está em seu
poder em razão da função.

a. Desviar: a conduta aqui não é apropriar, mas sim desviar, que significa dar destinação diversa da
prevista.
b. Posse em razão do cargo: da mesma forma que no peculato-apropriação, o funcionário público deve
ter a posse da coisa em razão do cargo.

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O funcionário público emprega o objeto em um fim diverso de sua destinação original, com o intuito de
beneficiar-se ou de beneficiar terceiro. Comete o delito, por exemplo, o funcionário público que paga
alguém com dinheiro público por serviço não prestado ou objeto não vendido à Administração Pública; o
que empresta dinheiro público de que tem a guarda para ajudar amigos etc.

O desvio deve ser em proveito próprio ou de terceiros.

• CONSUMAÇÃO:

No peculato-desvio ocorre a consumação com o simples desvio, independentemente de o agente obter


qualquer proveito.

• CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA:
a. Objetividade jurídica: simples e de dano.
b. sujeito ativo: classifica-se como crime próprio e de concurso eventual.
c. Meios de execução: é crime de ação livre.
d. Momento consumativo: constitui delito instantâneo e material.
e. elemento subjetivo: trata-se de infração penal dolosa.

• AÇÃO PENAL: Publica incondicionada.

3. Peculato-furto: previsto no § 1º do art. 312. É chamado de peculato impróprio;

Art. 312, § 1º Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro,
valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de
facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.

O bem está sobre a custodia da administração pública, porém, não se encontra sobre a guarda/posse do
funcionário público, mas esse funcionário tem o acesso ao bem pela sua condição funcional e nessa condição
ou ele subtrai ou facilita para que seja subtraído.

São duas as condutas típicas descritas no texto legal:

a. Subtrair: Subtrair consiste em apossar-se do bem e levá-lo embora. Nesta modalidade, o próprio
funcionário público realiza a conduta típica, ele próprio furta o bem. É o que ocorre, por exemplo,
quando um funcionário subtrai computadores da repartição onde trabalha ou quando um policial civil
subtrai objetos do interior de um carro apreendido que está no pátio da delegacia.

b. Concorrer para que o bem seja subtraído: Pressupõe que o agente não realize pessoalmente o ato da
subtração, mas que, intencionalmente, colabore para que terceiro o faça.

Por exemplo:

1. quando o funcionário entrega a chave do local onde trabalha a um amigo para que este vá de
madrugada à repartição e subtraia bens de seu interior. Ambos respondem pelo peculato-furto.
2. O funcionário, durante o final de semana, identifica-se ao vigia, entra na repartição pública e subtrai um
bem sem ser percebido. Responde por peculato-furto, já que se valeu da facilidade que lhe proporciona
a qualidade de funcionário.

• CONSUMAÇÃO:

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O peculato-furto, por sua vez, consuma-se quando o agente obtém a posse da coisa, mesmo que por curto
espaço de tempo.

Princípio da insignificância
Existe divergência sobre o tema:

1. posição: inadmissível. O STJ é rígido quanto à impossibilidade de aplicação do princípio aos crimes
contra a Administração pública. "É pacífica a jurisprudência desta Corte no sentido de não ser possível a
aplicação do princípio da insignificância ao crime de peculato e aos demais delitos contra Administração
Pública, pois o bem jurídico tutelado pelo tipo penal incriminador é a moralidade administrativa,
insuscetível de valoração econômica”. Nesse sentido foi editada a Súmula 599 do STJ: STJ,599. O
princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública.

2. posição: admissível. Por sua vez, o STF já aplicou o princípio diante de peculiaridade do caso concreto.

(MP-GO - 2016 - Promotor de Justiça) "Caio entrega a Tício, seu amigo e funcionário do Detran, uma quantia em
dinheiro para que este último pague uma multa naquele órgão público. Tício, no entanto, apropria-se do dinheiro.
Nesse caso, Tício deverá ser responsabilizado pelo crime de: a) apropriação indébita; b) peculato furto; c) peculato
apropriação; d) peculato mediante o erro de outrem". Gabarito: B.

Obs.: Tício não detinha o valor em razão da função, mas sim como particular.

(Questões inéditas – 2021- ) Foi considerada INCORRETA: Situação hipotética: João, servidor da Receita Federal, à
noite, fora de seu horário de expediente, adentra na agência da Receita Federal, após arrombar uma janela do órgão e
subtrai um notebook da agência. Assertiva: João cometeu o crime de peculato furto por causa de sua razão de servidor
público.

João cometeu o crime de furto.

4. PECULATO CULPOSO: § 2º do art. 312.

Art. 312, § 2º Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:


Pena – detenção, de três meses a um ano.

A configuração do peculato culposo pressupõe, evidentemente, que o funcionário público seja desidioso,
descuidado, ou seja, que falte com a cautela a que estava obrigado na guarda ou vigilância da coisa pública.

Por exemplo, o policial que, desnecessariamente, deixa uma viatura com os vidros abertos em via pública e
dela se afasta, deixando-a sem vigilância, o que acaba possibilitando o furto do radiotransmissor por pessoa
que passava pelo local.

• CONSUMAÇÃO:

O crime de peculato culposo se consuma no momento em que ocorre o crime de outrem.

(FCC - 2017 - TRE-PR - Analista Judiciário) Augusto, diretor de uma repartição pública, por estar distraído, esquece a
porta do cofre ali existente destrancada. Alexandre, outro funcionário público que ali trabalha, valendo-se da
facilidade de acesso ao local em razão de seu cargo, percebe o ocorrido e subtrai bens particulares que ali estavam
guardados. De acordo com esta situação:

a) Augusto e Alexandre responderão pelo crime de peculato-furto em concurso de agentes.


b) Augusto cometeu o crime de furto culposo, enquanto Alexandre praticou o crime de furto qualificado, considerando
que os bens subtraídos do cofre eram particulares.

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c) Augusto praticou o crime de peculato culposo, ao passo que Alexandre responderá pelo crime de peculato mediante
erro de outrem.
d) Augusto cometeu o crime de peculato culposo e Alexandre praticou o crime de peculato-furto.

➢ Reparação do dano e extinção da punibilidade:§3 do art.312.

Somente se aplica ao peculato culposo. Quando na hipótese de peculato culposo o agente repara o dano ou
devolve o bem até o trânsito definitivo em julgado.

Lembre-se que a reparação do dano no peculato doloso em nenhuma hipótese gera a extinção da
punibilidade.

Peculato doloso §1º e 2º Peculato culposo §3º


ANTES do recebimento da denúncia ou ANTES da sentença irrecorrível →
queixa → pena reduzida de 1 a 2/3. extinção da punibilidade.
APÓS o recebimento da denúncia ou APÓS a sentença irrecorrível → redução
queixa→ atenuante genérica. da pena (metade).

(Questões inéditas -2021- ) foi considerada incorreta: Situação hipotética: Caio, funcionário público
responsável pela segurança noturna de órgão público, conversando ao telefone, por curto período de tempo
se ausenta do local de trabalho, deixando a porta da entrada aberta. Ao regressar, percebe que falta um
computador na recepção. Assertiva: Caio cometeu peculato culposo, o qual, reparado o dano do Poder
Público antes da sentença irrecorrível, tem causa de diminuição de metade da pena imposta.

➢ Peculato de uso

O funcionário público que recebe a posse de um bem em razão do cargo, dele se utiliza temporariamente,
sem autorização, mas o restitui, não comete peculato, em razão da ausência do elemento subjetivo do
tipo. O uso momentâneo do bem de que tem posse o funcionário para fins diversos do que se destina não
constitui infração penal quando se trata de bem infungível.

Ex.: usar veículo público para fins particulares e logo em seguida devolvê-lo. Nesse caso, não se configura
o delito, exceto se o combustível for público e não for reposto, pois então o objeto material seria o
combustível (que é fungível).

Caso se trate de bem fungível, configura-se de imediato o delito, tal como no caso do funcionário que usa
o dinheiro público para pagar suas contas particulares. Responde pelo delito, ainda que o restitua pouco
tempo depois.

5. PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM: art. 313, CP.

Art. 313. Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de
outrem:
Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Conhecido por “peculato-estelionato”. O peculato mediante erro de outrem configura-se quando o


funcionário público, no exercício de suas atividades, recebe dinheiro ou qualquer coisa móvel de valor
econômico e, percebendo o erro da vítima, apodera-se do bem, não o devolvendo ao proprietário. Exige-se,
portanto, que o agente tenha ciência de que o bem lhe foi entregue por engano, ou seja, o funcionário não

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induz a vítima em erro como no estelionato, mas se aproveita do erro em que ela sozinha incidiu para
apropriar-se do bem.

Obs.: o erro do particular não pode ser induzido pelo agente público.

a. Exercício do cargo
b. Erro espontâneo
c. Omissão de fato.

• CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA
a. Crime próprio no que diz respeito ao sujeito ativo (pois somente o funcionário público pode praticá-lo)
e comum quanto ao sujeito passivo (uma vez que não somente a Administração Pública pode figurar
nessa condição, como qualquer pessoa que tenha sido prejudicada com o comportamento praticado
pelo sujeito ativo);
b. doloso;
c. comissivo (podendo, no entanto, ser praticado via omissão imprópria, nos termos do art. 13, § 2º, do
Código Penal);
d. de forma livre;
e. instantâneo;
f. monossubjetivo;
g. plurissubsistente;
h. transeunte (como regra, pois em algumas situações será possível a realização de prova pericial).

• SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO

Crime próprio, o peculato mediante erro de outrem exige que o sujeito ativo seja funcionário público. Ex.:
depois de receber a coisa por erro de terceiro, 0 funcionário público é induzido por particular a não a
restituir.

O sujeito passivo é o Estado, bem como a pessoa física ou jurídica diretamente prejudicada com a conduta
praticada pelo sujeito ativo.

• ELEMENTO SUBJETIVO

É o dolo, consistente na vontade livre e consciente de se apropriar do dinheiro ou de qualquer outra


utilidade, que recebeu por erro de outrem, não havendo previsão para a modalidade de natureza culposa.

• CONSUMAÇÃO

No momento da apropriação, o agente passa a se comportar como dono do objeto que recebeu por erro
(crime material e instantâneo).

Tratando-se de crime plurissubsistente, será possível o raciocínio correspondente à tentativa.

• OBJETO MATERIAL E BEM JURIDICAMENTE PROTEGIDO

A Administração Pública é o bem juridicamente protegido pelo tipo penal que prevê o delito de peculato
mediante erro de outrem.

O objeto material do delito em estudo é o dinheiro ou qualquer outra utilidade de que se tenha apropriado
o funcionário, que o recebeu por erro de outrem, no exercício do cargo.

• AÇÃO PENAL

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Trata-se de crime de ação penal pública incondicionada.

6. PECULATO-ELETRÔNICO: Inserção de dados falsos em sistema de informações Art. 313-A

Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir
indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública
com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano:
Pena – reclusão, de dois a doze anos, e multa.

• CONDUTA NUCLEAR

O tipo penal contém duas condutas típicas.

a. Inserir ou facilitar: é o próprio funcionário autorizado quem insere dados falsos, ou seja, é ele quem
introduz, coloca, inclui, ou facilita para que terceira pessoa leve a efeito sua inserção.

b. Alterar ou excluir: conduta do funcionário autorizado é dirigida no sentido de alterar (mudar,


modificar) ou excluir (remover, afastar, eliminar), indevidamente, dados verdadeiros.

• SUJEITO ATIVO

Trata-se de crime próprio, que só pode ser cometido pelo funcionário autorizado a trabalhar com o sistema
de dados objeto do delito.

Atenção:
O tipo exige que o sujeito ativo seja o funcionário autorizado a realizar operações nos sistemas
informatizados da Administração Pública. Isso significa que outro funcionário público, que não o autorizado,
somente poderá concorrer para o crime na forma do art. 29 do CP.

• SUJEITO PASSIVO

O Estado e as pessoas, eventualmente, prejudicadas pela infração.

• TIPO SUBJETIVO

É o dolo, caracterizado pela vontade de inserir ou facilitar a inserção de dados falsos, bem como de alterar
ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração
Pública.

Exige-se o elemento subjetivo especial, caracterizado na expressão "com o fim de obter vantagem indevida
para si ou para outrem ou para causar dano".

Não há previsão de forma culposa.

• CONSUMAÇÃO

No momento em que o agente pratica uma das condutas previstas no tipo, ainda que não obtenha a
vantagem almejada. Trata-se de crime formal e instantâneo.

O crime é de elevado potencial ofensivo.

(CESPE – 2021- ) Foi considerada correta: Andressa Camargo, escrivã de polícia, alterou dados de ocorrência
policial na qual o Delegado de Polícia havia arbitrado a fiança de R$ 2.000,00 a uma pessoa autuada em
flagrante. Com a finalidade de reduzir a fiança do autuado, editou a ocorrência e reduziu o valor para R$

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500,00. Neste caso, Andressa Camargo praticou o crime de inserção de dados falsos em sistema de
informações.

7. MODIFICAÇÃO OU ALTERAÇÃO NÃO AUTORIZADA DE SISTEMA DE INFORMAÇÕES: Art.313-B

Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem
autorização ou solicitação de autoridade competente.

Pena – detenção, de três meses a dois anos, e multa.

Diz respeito à integridade dos seus sistemas de informações e programas de informática.

• SUJEITO ATIVO

Qualquer funcionário, ao contrário do art. 313-A, não há necessidade de que o autor seja funcionário
autorizado a operar sistema de informações ou programa de informática da Administração Pública,
tratando-se de crime próprio, pois o tipo penal exige que o sujeito ativo seja funcionário público.

• SUJEITO PASSIVO

É o Estado.

• ELEMENTO SUBJETIVO

É o dolo, independentemente de qualquer finalidade especifica.

Não admite modalidade culposa.

• ELEMENTAR NORMATIVA DO TIPO – forma majorada.

Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração
resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado".

• TIPO SUBJETIVO

É o dolo, caracterizado pela vontade de modificar ou alterar sistema de informações ou programa de


informática da Administração Pública. Deve alcançar o elemento normativo do tipo, ou seja, o agente deve
ter ciência de que não há autorização ou solicitação de autoridade competente.

Não há previsão de elemento subjetivo especial e nem de modalidade culposa.

• AÇÃO PENAL:

Publica incondicionada, de competência do Juizado Especial Criminal, exceto na forma agravada do


parágrafo único.

8. EXTRAVIO, SONEGAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE LIVRO OU DOCUMENTO: Art. 314

Art. 314. Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo
ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:
Pena – reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave.

São três as condutas típicas previstas no tipo incriminador:

a. extraviar, que significa fazer desaparecer, ocultar;


b. sonegar, que é sinônimo de não apresentar, não exibir quando alguém o solicita;

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c. inutilizar, tornar imprestável danificando.

Nas três hipóteses, a conduta deve recair sobre livro oficial (livros de escrituração, livro carga etc.).

• TIPO OBEJTIVO
Apenas modalidade dolosa.

(CESPE – 2020-) Foi considerada incorreta: Maurício, servidor público, a quem foram confiados documentos
com conteúdo sensível do departamento público onde trabalha, se dirigiu ao shopping para almoçar e levou
consigo os referidos documentos. Por descuido, esqueceu a documentação na praça de alimentação do
shopping e, apesar de todos os esforços, não mais conseguiu recuperá-la. Diante dessa conduta, Maurício
deve ser responsabilizado pelo crime de extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento.
Maurício agiu com culpa (negligência), não há que se falar na imposição deste crime.

• SUJEITO ATIVO
Trata-se de crime próprio, que só pode ser cometido pelo funcionário responsável pela guarda do livro
ou documento.

• SUJEITO PASSIVO
O Estado e, eventualmente, o particular dono do documento sob a guarda da Administração.

• CONSUMAÇÃO

Com o extravio ou inutilização, ainda que parcial do livro ou documento, independentemente de qualquer
outro resultado.

Na sonegação, o crime se consuma no instante em que o agente deveria fazer a entrega e,


intencionalmente, não a faz. Independe, igualmente, de qualquer outro resultado.

No extravio e na sonegação, o crime é permanente.

• AÇÃO PENAL:

Ação penal publica

ATENÇÃO
Princípio da subsidiariedade: há previsão de subsidiariedade expressa no preceito secundário do art. 314 do
CP: "Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave".

Por exemplo: havendo ofensa à fé pública, prevalece o art. 305 do CP. Isso ocorre porque o tipo
sancionador comina pena, ressalvando: “Se o fato não constituir crime mais grave” (subsidiariedade
explícita).

Na hipótese em que o funcionário público solicita ou recebe, para si ou para outrem, vantagem indevida,
ou aceita promessa de tal vantagem, a fim de extraviar, sonegar ou inutilizar livro ou documento, comete o
delito de corrupção passiva (CP, art. 317), que é mais grave.

Foi considera correta: “O delito de extravio de documento público, previsto no art. 314 do CP, não admite a
modalidade culposa, mas incide o princípio da subsidiariedade.”

9. EMPREGO IRREGULAR DE VERBAS OU RENDAS PÚBLICAS: art. 315, CP.

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Art. 315. Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei:
Pena – detenção, de um a três meses, ou multa.

• ELEMENTO OBJETIVO

Nesse delito o funcionário público não se apropria ou subtrai as verbas em proveito próprio ou de terceiros,
mas emprega verbas ou rendas públicas de forma diversa da prevista em lei em proveito da própria
Administração.

É o que ocorre, por exemplo, quando o funcionário que deveria empregar o dinheiro público na obra A
dolosamente o emprega na obra B.

Observações:

Aplicação diversa da estabelecida em lei: trata-se de lei penal em branco homogênea ou em sentido
amplo, ou seja, o complemento do tipo penal deve ser emanado do Poder Legislativo. É considerada uma
norma penal em branco pois haverá necessidade de se conhecer o complemento para efeitos de verificação
da infração penal.

Diferença com o crime de peculato: enquanto no peculato (art. 312) o sujeito ativo visa a benefício próprio
ou de terceiros, exemplo: O secretário estadual de obras desvia para sua conta bancaria valores destinados à
construção de uma creche.

Já no desvio de verbas ou rendas (art. 315) o autor emprega o objeto material em benefício da própria
Administração Pública, exemplo: o mencionado secretário utiliza os valores reservados à construção da
creche na formação de um hospital público.

• TIPO SUBJETIVO

É o dolo, caracterizado pela vontade de dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida
em lei.

O tipo não exige intuito de lucro ou qualquer outra especial finalidade por parte do agente.

Não é prevista a modalidade culposa.

• CONDUTA NUCLEAR

Dar é utilizado pelo texto legal no sentido de empregar, canalizar, utilizar, aplicar. A conduta do agente tem
como objeto material as verbas ou rendas públicas. Nesse crime o funcionário público não desvia para si, ele
não se apropria da verba ou renda publica, mas desvia na própria administração.

Obs.: No direito administrativo existe o princípio da supremacia do interesse público e a indisponibilidade


do interesse público.

Verbas são os fundos que a lei orçamentária destina aos serviços públicos ou de utilidade pública (dotações
e subvenções), ou seja, são os valores utilizados para pagamento das contas do Estado, tais como os seus
serviços públicos.

Rendas são todos os dinheiros recebidos pela Fazenda Pública, seja qual for a sua origem.

• BEM JURÍDICO

Tutela-se a Administração Pública e, em especial, o emprego regular do emprego de verbas ou rendas


públicas.

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• SUJEITO ATIVO

Trata-se de crime próprio, pois o tipo penal exige que o sujeito ativo seja funcionário público com poder de
disposição/gestão/ administrar de verbas e rendas públicas.

O particular pode ser coautor ou partícipe, desde que conheça a qualidade de funcionário do outro agente
(art. 30 do CP).

Obs.: Tratando-se de prefeito municipal, a conduta constitui crime especial previsto no art. 1º, III, do
Decreto-lei n. 201/67.

Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder
Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores:
III – desviar, ou aplicar indevidamente, rendas ou verbas públicas;

• SUJEITO PASSIVO

O Estado representado pela entidade pública titular da verba ou renda desviada.

• CAUSA ESPECIAL DE AUMENTO DE PENA

Determina o § 2º do art. 327 do Código Penal, verbis:

§ 2º A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem
ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração
direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.

• CONSUMAÇÃO

O crime estará consumado no momento em que o agente efetivamente emprega a verba ou renda de
forma irregular, tratando-se de um crime material e instantâneo. É dispensável o prejuízo à Administração
Pública.

A tentativa é possível, pois se está diante de delito plurissubsistente.

(CESPE - 2015 - TCU - Procurador do Ministério Público) Foi considerada correta a seguinte alternativa: "Para a
caracterização do crime de emprego irregular de verba ou renda pública, não há que se fazer presente o lucro ou
proveito próprio ou de terceiros; esse crime será caracterizado ainda que não haja lucro ou proveito próprio ou de
terceiros".

• ESTADO DE NECESSIDADE OU INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA

Obs.: É possível em algumas situações que esse emprego irregular seja motivado por situações
excepcionais.

Caso o gestor público, diante de situação excepcional e justificada, empregue as verbas ou rendas públicas
em fim diverso, poderá haver, dependendo das circunstâncias, a exclusão da ilicitude (art. 23, I, do CP) ou da
culpabilidade, caso se aceite a tese da inexigibilidade de conduta diversa como causa supralegal de exclusão.

Exemplo: diante de uma inundação, o agente usa o dinheiro destinado à pavimentação de estradas no
auxílio às vítimas e seus familiares.

Obs.: depende do caso concreto.

• AÇÃO PENAL

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Publica incondicionada.

10. CONCUSÃO art. 316, CP.

Art. 316. Exigir, para si ou para outrem, direta ou


indiretamente, ainda que fora da função (férias ou
licença) ou antes de assumi-la, mas em razão dela,
vantagem indevida:
Pena – reclusão, de dois a doze anos, e multa.

A concussão é um crime em que o funcionário público,


valendo-se do respeito ou mesmo receio que sua
função infunde, impõe à vitima a concessão de
vantagem a que não tem direito.

• CONDUTA NUCLEAR

Concussão origem latina, concussare, sacudir, balançar, agitar, exigir. O funcionário ele se vale do cargo
para intimidar.

Exigir é utilizado no sentindo de impor, ordenar, determinar. O ato de exigir envolve, obrigatoriamente,
uma ameaça à vítima, relacionada, necessariamente, às funções do agente, pois, do contrário, haveria mero
pedido, que caracterizaria a corrupção passiva. A exigência pode ser direta ou indireta, não se fazendo
mister a promessa de mal determinado".

➢ Direta quando o funcionário público a formula na presença da vítima, sem deixar qualquer margem
de dúvida de que está querendo uma vantagem indevida.
➢ Indireta quando ele se vale de uma terceira pessoa para que a exigência chegue ao conhecimento da
vítima ou a faz de forma velada, capciosa.

Exemplo: Um guarda de trânsito exige da vítima uma determinada quantia em dinheiro para não apreender
seu automóvel. Essa exigência é necessariamente acompanhada da intimidação.

Obs.: O funcionário público não utiliza violência ou grave ameaça na ação. Caso o funcionário exija a
vantagem indevida empregando violência contra a vítima ou grave ameaça, estará tipificado crime mais
grave, qual seja, o de extorsão do art. 158 do Código Penal. É o que ocorre, por exemplo, quando o
funcionário exige dinheiro ameaçando matar, agredir, estuprar ou prender ilegalmente a vítima.

CONCUSSÃO – art. 316 EXTORÇÃO – art.158


Crime contra a Administração publica Crime contra o patrimônio
Meios de execução: intimidação amparada nos Meio de execução: violência à pessoa ou grave
poderes inerentes ao cargo ocupado ou a ser pelo ameaça embasada em mal estranho ao cargo
funcionário público. ocupado ou a ser ocupado pelo funcionário público.

(CESPE - 2019 - TJ-SC - Juiz de Direito) Joaquim, fiscal de vigilância sanitária de determinado município brasileiro,
estava licenciado do seu cargo público quando exigiu de Paulo determinada vantagem econômica indevida para si, em
função do seu cargo público, a fim de evitar a ação da fiscalização no estabelecimento comercial de Paulo. Nessa
situação hipotética, Joaquim praticou o delito de: a) constrangimento ilegal. b) extorsão. c) corrupção passiva. d)
concussão. e) excesso de exação. Gabarito: D

(MP-MS - 2018 - Promotor de Justiça) Foi considerada incorreta a seguinte alternativa: "Comete crime de concussão o
funcionário público que se utiliza de violência ou grave ameaça para obter vantagem indevida".

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João, policial penal, exigiu para si vantagem indevida para permitir um tempo maior de visita ao preso Bingo. A
conduta de João amolda-se ao crime de: A. Concussão. B. prevaricação. C. corrupção passiva. D. corrupção ativa. E.
excesso de exação.

Concussão e corrupção passiva

Mera solicitação: não há concussão, podendo caracterizar corrupção passiva (art. 317 do CP).

(CESPE - 2015 -TJ-PB - Juiz de Direito) Foi considerada incorreta a seguinte alternativa: "Luís, guarda municipal em
serviço, solicitou R$ 500 a Marcelo por este dirigir veículo sem habilitação. Em troca, Luís não apreenderia o bem nem
multaria Marcelo pela infração de trânsito. Nessa situação, Luís praticou o crime de concussão".

Concussão Corrupção passiva


Há uma ameaça, imposição ou intimidação Há um pedido, recebimento ou anuência quanto
ao recebimento da vantagem indevida.

• SUJEITO PASSIVO

O sujeito passivo é o Estado, bem como a pessoa física ou jurídica diretamente prejudicada com a conduta
praticada pelo sujeito ativo.

• SUJEITOS ATIVO

Trata-se de crime próprio, pois o tipo penal exige que o sujeito ativo seja funcionário público. O particular
pode ser coautor ou partícipe, desde que conheça a qualidade de funcionário do outro agente (art. 30 do
CP).

Não é necessário que o agente esteja trabalhando no momento da exigência. O próprio tipo penal esclarece
que o funcionário pode estar fora da função (de férias, licença, fora do horário de expediente) ou, até
mesmo, nem a ter assumido (quando já passou no concurso ou já foi eleito, mas ainda não tomou posse, por
exemplo). O que é necessário é que a exigência diga respeito à função pública e as represálias a ela se
refiram.

Jurados: Podem ser responsabilizados criminalmente por concussão, conforme previsão do art. 445 do CPP:
"O jurado, no exercício da função ou a pretexto de exercê-la, será responsável criminalmente nos mesmos
termos em que o são os juízes togados".

Médico de hospital credenciado pelo SUS: "O médico de hospital credenciado pelo SUS que presta
atendimento a segurado, por ser considerado funcionário público para efeitos penais, pode ser sujeito ativo
do delito de concussão".

(FUNDATEC - 2018 - PC-RS - Delegado de Polícia) Foi considerada incorreta a seguinte alternativa: "Médico de hospital
privado, conveniado ao Sistema Único de Saúde, que constrange filho do paciente a entregar-lhe determinada quantia
em dinheiro, sob pena de não realizar cirurgia, não pratica o crime de concussão".

• BEM JURÍDICO TUTELADO

A Administração Pública é o bem juridicamente protegido pelo tipo penal que prevê o delito de concussão.

O objeto material é a vantagem indevida.

• TIPO SUBJETIVO

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O dolo é o elemento subjetivo exigido pelo tipo penal que prevê o delito de concussão, não havendo
previsão legal para a modalidade de natureza culposa.

• CONSUMAÇÃO

O crime estará consumado no momento em que a exigência chega ao conhecimento da vítima. Como o
delito é formal, não há necessidade que o autor receba a vantagem indevida, ou seja, não é necessário que
haja um resultado naturalista.

Ex.: no caso de flagrante.

(CESPE - 2017 - Prefeitura de Belo Horizonte-MC - Procurador Municipal) Foi considerada incorreta a seguinte
alternativa: "Em se tratando de crime de concussão, a situação de flagrante se configura com a entrega da vantagem
indevida".

(FCC - 2013 - TJ-PE - Juiz de Direito) Foi considerada incorreta a seguinte alternativa: " O crime de concussão é de
natureza formal, reclamando o recebimento da vantagem para a consumação".

• AÇÃO PENAL

Ação penal incondicionada.

11. EXCESSO DE EXAÇÃO:

§ 1º Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando
devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

A expressão “excesso de exação” significa exagero indevido na cobrança de tributo (impostos, taxas ou
contribuições de melhoria) ou contribuição social. O funcionário excede na cobrança de tributo ou de uma
contribuição social.

O funcionário tem ciência de que nada é devido pelo contribuinte, ou tem sérias razões para supor que não
existe dívida fiscal ou previdenciária, e, ainda assim efetua a cobrança. Na primeira hipótese, ele age com
dolo direto (ele sabe) e, na segunda, com dolo eventual (ele devia saber).

• ELEMENTO SUJETIVO

Exigência indevida: O tipo exige que o autor saiba (dolo direto) ou deva saber (dolo eventual) que 0 tributo
ou contribuição social é indevido.

Cobrança vexatória ou gravosa: é o dolo, caracterizado pela consciência e vontade de empregar na


cobrança de tributo ou contribuição social meio vexatório ou gravoso, ciente o agente que não há
autorização legal para tal procedimento.

Obs.: Nessa modalidade o funcionário não se apropria do tributo ou contribuição.

Cofres da administração pública → parágrafo primeiro.

Desvia própria ou alheio → parágrafo segundo

• FORMA QUALIFICADA

"Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher
aos cofres públicos: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa".

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Prevê o § 2º do art. 316 que o crime de excesso de exação é qualificado quando o funcionário recebe o
tributo ou contribuição indevidamente, para recolhê-los aos cofres públicos, e os desvia em proveito próprio
ou alheio.

Essa figura qualificada tem aplicação apenas na modalidade de excesso de exação em que o tributo ou
contribuição são indevidos, e o funcionário os desvia para si ou para outrem. Caso o funcionário receba
tributo ou contribuição devidos e deles se apodere, o crime será o de peculato.

• AÇÃO PENAL

Publica incondicionada.

(FCC - 2013 - DPE-SP - Oficial de Defensoria Pública) "Guilhermino, funcionário público estadual estável, exige de
Gabriel tributo que sabe ser indevido aproveitando- -se da situação de desconhecimento do cidadão. Neste caso,
segundo o Código Penal brasileiro, Guilhermino praticou crime de: a) peculato culposo, b) peculato doloso, c) excesso
de exação, d) condescendência criminosa, e) corrupção ativa". Gabarito: C.

O funcionário que, sabendo devida a contribuição social, emprega na cobrança meio gravoso que a lei não autoriza,
pratica crime de: A. corrupção passiva. B. prevaricação. C. advocacia administrativa. D. excesso de exação. E. corrupção
ativa.

12. CORRUPÇÃO PASSIVA:

Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou
antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
Pena – reclusão, de dois a doze anos, e multa.
O delito de corrupção passiva é
muito parecido com o crime de
concussão. Na verdade, a diferença
fundamental reside nos núcleos
constantes das duas figuras típicas.

1. Na concussão, há uma
exigência, uma determinação,
uma imposição do funcionário
para obtenção da vantagem
indevida;
2. Na corrupção passiva, ao contrário, existe uma solicitação, um pedido (na primeira hipótese).

CONCUSSÃO CORRUPÇÃO PASSIVA


Exigir: determinar Solicitar: pedir
Em termos de gravidade, considerando aquele a quem é feita a exigência ou a solicitação.

Podemos concluir que exigir, psicologicamente, é mais grave do que solicitar, daí o raciocínio segundo o
qual a concussão seria entendida como a “extorsão” praticada pelo funcionário público. Nesta forma em
termos de gravidade, considerando aquele a quem é feita a exigência ou a solicitação, é bem mais grave o
crime de concussão ao crime de corrupção passiva.

OBS.: Para a configuração da corrupção passiva deve ficar demonstrado o liame da função e da obtenção da
indevida vontade.

• PARTICULAR QUE OFERECE OU PROMETE UMA INDEVIDA VANTAGEM PARA O FUNCIONÁRIO PÚBLICO

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O terceiro que "oferecer" ou "prometer" vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a
praticar, omitir ou retardar ato de ofício, responderá por corrupção ativa (art. 333 do CP).

Aplica-se exceção pluralista do concurso de pessoas.

• CONDUTA NUCLEAR

Solicitar: pedir alguma vantagem ao particular. Na solicitação, a conduta inicial é do funcionário público. É
ele quem toma a iniciativa de pedir algo ao particular. Se este dá o que foi pedido, não comete corrupção
ativa por falta de previsão legal, conforme será estudado no art. 333. Configura-se o delito, por exemplo,
quando um fiscal de obras pede certa quantia em dinheiro para não autuar o dono de um estabelecimento
que cometeu uma irregularidade;

Receber: entrar/tomar na posse da vantagem oferecida;

Aceitar promessa: concordar/aceitar com a proposta de vantagem apresentada.

Obs.: nas duas últimas figuras (receber e aceitar promessa), a iniciativa da proposta é do particular
(corruptor). Nesses casos, o funcionário responde por corrupção passiva e o particular por corrupção ativa.

• ELEMENTO SUBJETIVO

O dolo é o elemento subjetivo exigido pelo tipo penal que prevê o delito de corrupção passiva, não havendo
previsão legal para a modalidade de natureza culposa.

• OBJETO TUTELADO
• Administração Pública é o bem juridicamente protegido pelo tipo penal que prevê o delito de
corrupção passiva.

O objeto material é a vantagem indevida, que pode ter cunho patrimonial (econômico) ou não (ex.:
solicitação de vantagem sexual), desde que seja indevida (elemento normativo do tipo).

• SUJEITO ATIVO

Qualquer funcionário público.

• SUJEITO PASSIVO

A administração pública é a vítima principal, sendo o estado o sujeito passivo.

Obs.: Na hipótese de solicitação de vantagem, o particular também é vítima.

Caso o funcionário público venha pedir a um particular que solicite a vantagem em nome dele, ambos
responderão por corrupção passiva, pois ser funcionário público é uma elementar normativa do crime,
portanto comunica- se com os concorrentes, ainda que não sejam funcionários públicos.

• CONSUMAÇÃO

A corrupção passiva é crime formal. Consuma-se no momento em que o funcionário solicita, recebe ou
aceita a vantagem.

Na modalidade de solicitar e aceitar promessa é crime formal, e na modalidade receber é crime material.

Pedro é funcionário público, exercendo as funções de guarda de presídio. Pedro solicitou a um presidiário
quantia em dinheiro para fornecer-lhe um aparelho celular cujo uso fora proibido. O presidiário aceitou,
mas o aparelho não lhe foi entregue, nem a quantia solicitada foi paga. Nesse caso, Pedro: a) responderá

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por crime de prevaricação. b) não responderá por nenhum delito, por tratar-se de fato atípico. c) não
responderá por nenhum delito, por que não houve início de execução. d) responderá por tentativa de
corrupção passiva. e) responderá por crime de corrupção passiva. Gabarito: E

• AÇÃO PENAL

Penal incondicionada.

• Forma majorada (art. 317, §1º)

Conforme o § 1° do art. 317 do Código Penal,

"A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda
ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional".

Trata-se de caso em que o exaurimento se apresenta como causa especial de aumento de pena.

• FORMA MAJORADA (ART. 327, § 2º)

De acordo com o § 2° do art. 327 do Código Penal,

"A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem
ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração
direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público".

• Forma privilegiada (art. 317, § 2º)

Está disposta no § 2° do art. 317 do Código Penal: Corrupção passiva privilegiada.

"Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional,
cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa".

Na corrupção passiva privilegiada o tipo penal não é composto pelo elementar vantagem indevida. Aqui o
funcionário público viola seu dever funcional "cedendo a pedido ou influência de outrem", ele não busca a
indevida vantagem, mas atende a um pedido de influência de outrem.

Existirá um "corruptor", que não oferecerá vantagem indevida ao funcionário, mas apenas pedirá, ou então
se tratará de uma pessoa influente. O corruptor não comete nenhum delito. Mas isso não impede que no
caso concreto ele responde por impropriedade administrativa.

(FCC - 2017 - TRE-PR - Analista Judiciário) Renato, fiscal da prefeitura, flagra Rogério, pessoa que até então não
conhecia, cometendo determinada irregularidade. Ao abordá-lo, deixa, contudo, de aplicar-lhe a devida multa em razão
de insistentes pedidos de Rogério. Renato, com sua conduta: a) cometeu o crime de prevaricação. b) praticou o crime
de corrupção passiva privilegiada. c) não praticou qualquer crime. d) cometeu o crime de condescendência criminosa.
e) praticou o crime de desobediência. Gabarito: B

PARTICULAR OFERECE (CORRUPÇÃO ATIVA) =======> FUNCIONÁRIO RECEBE (CORRUPÇÃO PASSIVA)

PARTICULAR PROMETE (CORRUPÇÃO ATIVA) =======> FUNCIONÁRIO ACEITA (CORRUPÇÃO PASSIVA)

FUNCIONÁRIO SOLICITA (CORRUPÇÃO PASSIVA) ====> PARTICULAR ACEITA (CONDUTA ATÍPICA)

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FUNCIONÁRIO EXIGE (CONCUSSÃO) ==============> PARTICULAR ACEITA (CONDUTA ATÍPICA)

13. FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO E DESCAMINHO: art.318, CP.

Art. 318. Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art. 334):1
Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

Facilitar: tornar fácil, removendo, afastando as dificuldades, seja fazendo ou, mesmo, deixando de fazer
alguma coisa a que estava obrigado.
Contrabando: é a importação ou exportação de mercadorias cuja entrada ou saída do País é proibida, de
forma total ou parcial.
Descaminho: é a importação ou exportação de mercadorias sem o pagamento do respectivo tributo.
• SUJEITOS
Trata-se de crime próprio, pois o tipo penal exige que o sujeito ativo seja funcionário público. Não se trata
de qualquer agente público, mas daquele que tem o dever funcional de fiscalizar ou reprimir o contrabando
e o descaminho.
Isso não quer dizer que o agente precise ser um fiscal de fronteira. Pode perfeitamente ser, por exemplo,
um policial civil que facilita a terceiros a prática de contrabando ou descaminho.
Obs.: Se o funcionário for POLICIAL, mesmo que ele não atue em área de fronteira, o STJ e o STF, admite que
responde pelo 318.
Se a conduta for realizada por qualquer outra pessoa, seja particular, seja um outro funcionário público que
não tenha a obrigação de inviabilizar o contrabando ou o descaminho, a ela será imputado o crime previsto
no art. 334 ou 334-A.
O sujeito passivo é o Estado.

O funcionário público que, em conluio com particular, facilita-lhe a prática de contrabando será processado
por a. corrupção passiva, do art. 317 do CP. B. facilitação de contrabando ou descaminho, do art. 318 do CP.
C. prevaricação, do art. 319 do CP. D. condescendência criminosa, do art. 320 do CP. E. contrabando ou
descaminho, do art. 334 do CP.

• ELEMENTO SUBJETIVO
O dolo é o elemento subjetivo exigido pelo tipo penal que prevê o delito de facilitação de contrabando ou
descaminho, não havendo previsão legal para a modalidade de natureza culposa.
Assim, por exemplo, se o agente, culposamente, em virtude de sua negligência, facilita o ingresso, no
território nacional, de mercadoria cuja importação estava proibida, não poderá ser responsabilizado pelo
delito em estudo. Poderá, no entanto, responder administrativamente pelo seu comportamento desidioso,
sendo-lhe aplicada uma sanção também de natureza administrativa.
• CONSUMAÇÃO
O crime estará consumado no momento em que o autor, infringindo dever funcional, facilitar a prática de
contrabando ou descaminho. Como se trata de delito formal, não há necessidade que o contrabando ou
descaminho seja efetivamente praticado.

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• AÇÃO PENAL E COMPETÊNCIA
A ação penal é pública incondicionada.
A competência para processo e julgamento do crime disposto no art. 318 do CP é da Justiça Federal. Isso
porque ofende interesse da União referente à arrecadação de tributos incidentes sobre produtos
estrangeiros ou ao controle de certas mercadorias.

14. PREVARICAÇÃO: art. 319, CP.

Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato


de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para
satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

• BEM JURÍDICO TUTELADO


A impessoalidade na administração pública.
• SUJEITO ATIVO
Crime próprio. Aqui o agente deve ter atribuição para prática do ato de ofício, bem como deve estar no
exercício da função. Logo, o funcionário público que não se encontra no exercício Da sua função não comete
prevaricação.
• SUJEITO PASSIVO
Estado.
(FCC - 2012 - TCE-AP - Analista de Controle Externo) Foi considerada correta a seguinte alternativa: "o funcionário
público que não se encontra no exercício de suas funções não pode ser sujeito ativo de crime de prevaricação".

• CONDUTA NUCLEAR
Retardar ato de ofício; ideia de que o funcionário público estende, prolonga, posterga para além do
necessário a prática do ato que lhe competia. Aqui, o funcionário pratica o ato, só que demora na sua
realização. Ex.: o funcionário que demora para expedir um documento para prejudicar um desafeto.
Deixar de praticar ato de ofício; omitindo-se, dolosamente.
Praticar ato de ofício com infração de dever legal: ser entendido todo aquele que se encontra na esfera de
atribuição do agente que pratica qualquer dos comportamentos típicos. Assim, por exemplo, o oficial de
justiça, no que diz respeito à confecção de uma certidão, o delegado de polícia, quanto à instauração de um
inquérito policial, o juiz de Direito, que determina a citação de alguém, o Promotor de Justiça, quanto ao
oferecimento de uma denúncia etc. Para a prática do ato, o agente deve encontrar-se no pleno exercício de
suas funções.
Todos são condutas omissivas.
Exemplo: médico de hospital público que, por animosidade com a família, retarda a expedição de atestado
de óbito de Falecido responde pelo crime de prevaricação (art. 319, CP).
(FCC - 2015 - TCM-RJ - Auditor-Substituto de Conselheiro) " O médico chefe de hospital público que retarda a
expedição de atestado de óbito por animosidade com a família do falecido comete crime de: a) exercício arbitrário ou
abuso de poder; b) falsa perícia; c) corrupção passiva privilegiada; d) prevaricação; e) falsidade de atestado médico".
Gabarito: D.

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• OBJETO MATERIAL
O objeto material é o ato de ofício que fora retardado, ou deixado de ser praticado, bem como aquele
praticado contra disposição expressa de lei.
Ato de ofício, que pode ser: judicial, legislativo ou administrativo.
• ELEMENTO SUBJETIVO
Dolo, caracterizado pela vontade de retardar ou deixar de praticar ato de ofício, ou de praticá-lo contra
disposição expressa de lei. O agente deve ter a ciência de que a omissão (retardar ou deixar de praticar) é
indevida e que a comissão (praticar) é ilegal, essa conduta dolosa é acrescida da especial finalidade de agir:
satisfação de interesse ou sentimento pessoal, ou seja, colocar o interesse da pessoa, acima do interesse da
administração pública.
O interesse pessoal diz respeito a uma vantagem: patrimonial ou moral.
Sentimento pessoal: tem a ver com estado anímico do agente (sentimento de raiva, ódio, vingança, amor,
amizade, etc...).
Ex.: funcionário que determina a execução de uma obra a fim de valorizar terreno de sua propriedade.
A administração pública não existe para prejudica e nem beneficiar ninguém, sua meta é a consecução do
interesse público.
Não há previsão de culposa.
(CESPE - 2018 - MPU - Analista) Foi considerada correta a seguinte alternativa: Caio, funcionário público, por vingança,
ao retardar, indevidamente, a expedição de certidão de interesse de Tício, seu desafeto, a fim de o prejudicar, pratica
crime de prevaricação, previsto no art. 319, do CP".
(FCC - 2017 - DPE-PR - Defensor Público) Foi considerada incorreta a seguinte alternativa: "Caso o agente público
retarde qualquer ato de ofício, em consequência da vantagem indevida, terá cometido o crime de prevaricação". (trata-
se do crime de corrupção passiva).

• CONSUMAÇÃO
Crime formal se consuma com a omissão ou atuação ilegal descrita no tipo, independentemente da
satisfação do interesse ou sentimento pessoal.
De acordo com o parágrafo segundo do art. 327, se o agente for ocupante de cargo em comissão ou função
de direção ou assessoramento na administração pública direta, em empresa pública, sociedade de economia
mista ou fundação pública, incide uma causa de aumento de 1/3, na terceira fase da dosimetria da pena.
• CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO: devendo seguir o procedimento sumaríssimo.
• AÇÃO PENAL – PÚBLICA INCONDICIONADA.
No ano de 2007, o crime organizado proporcionou uma situação de terror no cenário nacional. Chefes de facções
criminosas emitiram ordens determinando a prática de crimes, abalando a harmonia social. Verificou-se que tais ordens
partiram de dentro de estabelecimentos prisionais. Tal constatação levou o legislador a alterar o Código Penal brasileiro
(artigo 319-A) e a Lei de Execução Penal (artigo 50, VII) como forma de coibir o uso de celulares pelos detentos e evitar
o comando de práticas delituosas. Assim, com o advento da Lei n.º 11.466/2007, criou-se um novo tipo penal
denominado pela doutrina de “prevaricação imprópria”. Acerca desse novo ilícito penal, assinale a alternativa correta.
A. A conduta de o agente público deixar de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de
rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo passou a constituir crime,
todavia só restará consumado se houver o efetivo acesso do preso ao aparelho de comunicação.
B. Segundo a doutrina pátria, diferentemente da prevaricação propriamente dita (artigo 319 do Código Penal), a forma
imprópria dispensa uma finalidade especial por parte do agente.

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C. O sujeito ativo será o agente público na acepção ampla, uma vez que se trata de um crime funcional.
D. A consequência penal para o referido crime será a detenção de 5 meses a 3 anos, ou seja, não poderão ser aplicadas
as medidas despenalizadoras previstas no Juizado Especial Criminal.
E. Poderá haver o crime na modalidade tentada.

15. PREVARICAÇÃO IMPRÓPRIA OU ESPECIAL: ART. 319-A, CP

Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público de cumprir seu dever de vedar ao preso o
acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o
ambiente externo:

Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

• BEM JURIDICO

A Administração Pública, responsável pela segurança pública.

• SUJEITO ATIVO

Trata-se de um crime próprio, pois somente pode ser cometido pelo DIRETOR DEPENITENCÁRIA.

O Diretor de estabelecimento prisional o agente público que tenha a atribuição de vedar ao preso o acesso
a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação interna e externa.

Funcionários que não exerçam tal função poderão ser coautores ou partícipes, desde que conheçam a
qualidade de agente público do sujeito ativo e também o seu dever legal de vedar ao preso o acesso a
telefones, rádios e similares (art. 30 do CP).

• SUJEITO PASSIVO

Estado

• CONDUTA NUCLEAR

Deixar: no sentindo de omitir-se ou não fazer algo, pressupondo uma omissão por parte daquele que tem o
dever de vedar ao preso o acesso indevido a aparelho telefônico, de rádio ou similar, permitindo, dessa
forma, a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.

Trata-se de uma omissão. O agente responsável se omite no dever de vedar ao preso o acesso a aparelho
telefônico, de rádio ou similar que permita a comunicação.

OBS. A alcunha “prevaricação imprópria ou especial” é uma denominação doutrinária, não sendo
encontrada na lei.

Trata-se de um crime omissivo puro ou próprio – o agente desobedece a um mandamento legal. A


permissão da entrada de chip de celular também configura o delito em tela.

O preso que for flagrado na posse ou utilização de aparelho telefônico, rádio ou similar, não comete crime,
mas uma falta grave, mas responde por uma infração grave na execução da pena. Previsão legal: art. 50, VII,
LEP.

O particular responsável (exemplos: parentes, cônjuge, companheira, advogado, etc.) por ingressar,
promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio
ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional, responderá pelo crime do art. 349-A do CP.

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Atendendo ao pedido do marido que se encontra preso, Silmara, durante visita, ingressa no presídio com um aparelho
de telefonia móvel, entregando-o ao cônjuge. Saliente-se que o ingresso do aparelho só foi possível porque o agente
penitenciário Ferdinando, ao se distrair, esqueceu de revistar a bolsa que Silmara trazia consigo. Dias depois, o detento
Josimar pede ao marido de Silmara para usar o aparelho de telefonia, sendo certo que, durante a ligação, Josimar é
flagrado pelo diretor da penitenciária, que apreende o aparelho. Considerando que o art. 180 do Código Penal
incrimina a receptação; que o art. 319 do CP traz em seu bojo o delito de prevaricação; que o art. 319-A contempla a
prevaricação imprópria; e que o art. 349- A do CP prevê a conduta de favorecimento real impróprio, é correto afirmar
que:
A. Silmara praticou o crime do art. 349-A do Código Penal; o agente penitenciário não praticou crime; Josimar praticou
o crime do art. 180 do Código Penal.
B. Silmara praticou o crime do art. 349-A do Código Penal; o agente penitenciário e Josimar não praticaram crime.
C. Silmara não praticou crime: o agente penitenciário cometeu o crime do art. 319 do Código Penal; Josimar praticou o
crime do art. 180 do Código Penal.
D. Silmara praticou o crime do art. 349-A do Código Penal; o agente penitenciário cometeu o crime do art. 319-A do
Código Penal; Josimar praticou o crime do art. 180 do Código Penal.
E. Silmara praticou o crime do art. 349-A do Código Penal; o agente penitenciário cometeu o crime do art. 319 do
Código Penal; Josimar praticou o crime do art. 180 do Código Penal.
• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo não há previsão culposa.

Não se exige aqui a especial finalidade de agir.

(CESPE - 2016 - Polícia Civil-PE) Foi considerada incorreta a seguinte alternativa: "O agente penitenciário
que não recolher aparelhos celulares de pessoas em privação de liberdade cometerá crime de
condescendência criminosa".

(FCC - 2013 - DPE-SP - Oficial de Defensoria Pública) "Matias, diretor da Penitenciária XYZ, permite
livremente o acesso de aparelho telefônico celular dentro da Penitenciária que dirige, o que está permitindo
a comunicação dos presos com o ambiente externo. Neste caso, Matias: a) está praticando o crime de
peculato doloso simples, b) está praticando o crime de concussão, c) está praticando o crime de peculato
doloso qualificado, d) está praticando o crime de prevaricação imprópria, e) não está praticando crime
tipificado pelo Código Penal brasileiro".

• CONSUMAÇÃO

No momento da omissão, ou seja, quando o sujeito ativo deveria ter vedado o acesso ao preso do telefone,
rádio ou similar, e não o fez.

• FORMA MAJORADA (ART. 327, § 2°)

De acordo com o parágrafo segundo do art. 327, se o agente for ocupante de cargo em comissão ou função
de direção ou assessoramento na administração pública direta, em empresa pública, sociedade de economia
mista ou fundação pública, incide uma causa de aumento de 1/3, na terceira fase da dosimetria da pena.

• AÇÃO PENAL – PÚBLICA INCONDICIONADA


• CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO.

OBS.: parece piada esse tipo penal ser de reduzido potencial ofensivo, uma vez que chefes e próceres de
organizações criminosas, por meio de telefones e meios de comunicação outros, continuam comandando o
crime organizado para além dos muros da prisão. Logo, entendo não se tratar de uma conduta de reduzido
potencial ofensivo; mas, enfim, foi a opção do legislador, ele fere o princípio da proporcionalidade.

16. CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA: art. 320

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Art. 320. Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no
exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade
competente:
Pena – detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

Na condescendia criminosa o funcionário público deixa de responsabilizar seu subordinado pela infração
cometida no exercício do cargo ou, faltando-lhe atribuições para tanto, não leva ao conhecimento da
autoridade competente, unicamente pelo seu espirito de tolerância ou clemência.
• BEM JURÍDICO
Administração pública – no que concerne à aplicação do poder disciplinar.
• SUJEITO ATIVO
Trata-se de um crime próprio, pois somente pode ser praticado pelo funcionário público.
O superior hierárquico do funcionário que cometeu a infração é o sujeito ativo, desta forma exige-se a
posição de hierarquia perante o autor da infração que não foi responsabilizado ou teve sua conduta omitida
do conhecimento da autoridade competente.
É possível, contudo, a participação de outros funcionários ou particulares. O funcionário beneficiado não
responde pelo delito ainda que solicite ao superior hierárquico que não o responsabilize, porquê se entende
que tal comportamento encontra-se dentro de seu direito de defesa.
• SUJEITO PASSIVO
Estado.

(COPESE - UFT - 2012 - DPE-TO - Analista Jurídico) Foi considerada incorreta a seguinte alternativa: "Por indulgência,
deixar de responsabilizar autoridade superior que cometeu infração no exercício do cargo".

• CONDUTA NUCLEAR:
Deixar de responsabilizar subordinado que, no exercício do cargo cometeu infração; nesse caso, o
funcionário hierarquicamente superior deixa, por indulgência, isto é, por tolerância, benevolência,
clemência, de responsabilizar o autor da infração.
Não levar ao conhecimento de quem de direito, quando lhe falte competência: prevê a lei penal uma
espécie de delação entre funcionários que tenham o mesmo nível hierárquico ou, mesmo, hierarquias
distintas. Nesse caso, como o funcionário não possui competência para ele próprio, responsabilizar o agente
infrator, sua obrigação limita-se a comunicar o fato à autoridade competente.
Aqui, cuida-se de crime omissivo puro ou próprio, uma vez que o funcionário que é hierarquicamente
superior se omite no seu dever de apurar ou promover a responsabilidade administrativa daquele
subordinado que, no exercício da função, cometeu uma falta disciplinar ou crime, ou quando lhe falte
competência, não leve o fato ao conhecimento de quem de direito.
Portanto, a relação de hierarquia pode estar presente, mas é prescindível para a configuração da
condescendência criminosa. Tudo vai depender da situação concreta.
A indulgencia é sinônimo de perdão.
A indulgência é o elemento característico da condescendência criminosa, ou seja, como vimos, a clemência,
a tolerância, enfim, a vontade de perdoar, pois se o agente atua com outra motivação o fato poderá se
subsumir, dependendo da hipótese concreta, ao crime de prevaricação ou, mesmo, de corrupção passiva.

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OBSERVAÇÃO IMPORTANTE!!!!! → DEVE HAVER CONEXÃO COM O EXERCÍCIO DO CARGO.
A infração praticada deve guardar conexão com o exercício do cargo (como faltas administrativas,
corrupção passiva, concussão, etc...). E não a fatos da vida particular do servidor.
Desta forma, se o superior deixa de punir um subordinado que, no atendimento a interesse da vida privada
cometeu um homicídio, não haverá a caracterização de condescendência criminosa.
Tem o poder dever Deve punir
Não tem o poder dever Deve comunicar quem tem

(Quadrix - 2017 - CFO-DF - Procurador Jurídico) Foi considerada incorreta a seguinte alternativa: "Considere-se que o
funcionário público Roberto, por indulgência, tenha deixado de responsabilizar subordinado seu que cometeu infração
no exercício do cargo. Ainda assim, a infração foi descoberta e seu subordinado punido. Nessa situação, é correto
afirmar que Roberto poderá ser responsabilizado por infração administrativa, mas não por prática de crime".

Foi considerada incorreta a seguinte alternativa: “João, funcionário público, flagrou seu colega praticando uma
infração administrativa, mas com pena de seu colega, pois passava por dificuldades financeiras, deixou de puni-lo.
Pode-se afirmar que João deverá responder pelo crime de prevaricação.”

• ELEMENTO SUBJETIVO
Dolo, consistente na conduta voluntária e consciente de não responsabilizar subordinado que tenha
cometido infração no exercício da função, ou não levar o fato ao conhecimento de quem de direito quando
lhe falte competência.
Há a especial finalidade de agir – o agente age por indulgência, que significa clemência, tolerância.
Não há modalidade culposa.
• CONSUMAÇÃO
Ocorre no momento da omissão, qual seja: quando o agente deixa de tomar a providência cabível tanto
responsabilizando o funcionário infrator, quanto levando o fato ao conhecimento de quem de direito.
• CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO.
• AÇÃO PENAL É PÚBLICA INCONDICIONADA.
• FORMA MAJORADA (ART. 327, § 2º)
De acordo com o parágrafo segundo do art. 327, se o agente for ocupante de cargo em comissão ou função
de direção ou assessoramento na administração pública direta, em empresa pública, sociedade de economia
mista ou fundação pública, incide uma causa de aumento de 1/3, na terceira fase da dosimetria da pena.
17. ADVOCACIA ADMINISTRATIVA: ART. 321, CP

Art. 321. Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado


perante a administração pública, valendo-se da qualidade de
funcionário:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

Não se trata de crime privativo de advogado. O funcionário público


aproveita das facilidades proporcionadas pelo seu cargo, utiliza-se da
sua influência positiva perante outro agente publico para beneficiar
um particular.

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• CRIME FUNCIONAL
Tratando de um crime próprio, pois o tipo penal exige que o sujeito ativo seja funcionário público. O
particular pode ser coautor ou partícipe, desde que conheça a qualidade de funcionário do outro agente
(art. 30 do CP).
O sujeito passivo é o Estado.

(CESPE- 2018 -): Foi considerada incorreta: “Pratica crime de advocacia administrativa quem patrocina,
direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de
funcionário, sendo que, se o interesse for ilegítimo, a pena será mais grave. Trata-se de crime de mão
própria, isto é, que somente pode ser praticado por advogado ou bacharel em direito.”

• CONDUTA NUCLEAR
Patrocínio: que significa defender, viabilizar, proteger, advogar, interesse privado perante a administração
pública valendo-se da qualidade funcional.
Exemplo: O Secretário de Obras, querendo auxiliar um amigo, pede a um funcionário seu para solicitar ao
fiscal a não interdição das obras de um estabelecimento comercial.
Esse crime atenta contra o princípio da impessoalidade no âmbito da administração pública. O que a lei
penal proíbe, na verdade, é que o funcionário assuma a “causa” do particular e pratique atos concretos que
importem na sua defesa perante a Administração Pública.
O patrocínio pode ser:
✓ Direto/formal/explícito;
✓ De forma dissimulada.
Espécies de patrocínio: a) formal e explícito: realizado por meio de petições, razões, requerimentos; b)
dissimulado: realizado por meio de acompanhamento de expedientes, pedidos ao funcionário encarregado
de decidir, etc.; c) direto: o agente público age sem interposta pessoa; d) indireto: o funcionário se vale de
terceiro para alcançar seus interesses.
Obs. É necessário para a configuração do delito em tela que o funcionário público se valha dessa condição
no ato do patrocínio.

(CESPE – 2018-) Foi considerada correta a seguinte alternativa: “Funcionário público que utilizar o cargo
para exercer defesa de interesse privado lícito e alheio perante a administração pública, ainda que se
valendo de pessoa interposta, cometerá o crime de advocacia administrativa.”

• ELEMENTO SUBJETIVO
Somente se pune a conduta na modalidade dolosa.
Não há previsão de culpa.
O interesse privado defendido, ou seja, patrocinado perante a administração pública pode ser legítimo ou
ilegítimo. Fato que deverá influir na dosimetria da pena.
Já na forma qualificada (parágrafo único), o agente deve ter ciência da ilegitimidade do interesse.
• CONSUMAÇÃO
Delito formal, independe da ocorrência de resultado naturalístico.
E dizer: pouco importa se o agente consegue ou não o êxito no patrocínio empreendido.

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• FORMA MAJORADA (ART. 327, § 2º)
De acordo com o parágrafo segundo do art. 327, se o agente for ocupante de cargo em comissão ou função
de direção ou assessoramento na administração pública direta, em empresa pública, sociedade de economia
mista ou fundação pública, incide uma causa de aumento de 1/3, na terceira fase da dosimetria da pena.
• AÇÃO PENAL – PÚBLICA INCONDICIONADA.
Usar o cargo público para patrocinar interesse privado alheio, se for
interesse próprio não há crime.
Se for interesse lícito, é simples. Se, ilícito, é qualificado.

18. VIOLÊNCIA ARBITRÁRIA - ART. 322, CP → TACITAMENTE REVOGADO


19. ABANDONO DE FUNÇÃO: ART. 323, CP

Art. 323. Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei:
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa.
§ 1º Se do fato resulta prejuízo público:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 2º Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira:
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

• CRIME PRÓPRIO – funcionário público regularmente


investido no cargo público.
Aqui o crime somente se materializa para o ocupante de cargo
público. A conduta incriminada é abandonar, que significa
afastar-se do cargo público.
Cargo público, de acordo com a definição proposta pelo art. 3º da
Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, é o conjunto de atribuições e responsabilidades previstas na
estrutura organizacional que devem ser cometidas a um servidor, sendo que o parágrafo único do citado
artigo aduz, ainda, que os cargos públicos, acessíveis a todos os brasileiros, são criados por lei, com
denominação própria e vencimento pago pelos cofres públicos, para provimento em caráter efetivo ou em
comissão.
O afastamento deve ocorrer por tempo juridicamente relevante a ponto de causar risco de dano à
Administração Pública.
• CONDUTA NUCLEAR
Abandonar tem o sentido de deixar, largar, não comparecer quando obrigado ainda que não
definitivamente, desde que em tempo juridicamente relevante.
Pedido de demissão: se o funcionário pediu demissão do cargo público, somente poderá abandoná-lo
depois do respectivo deferimento.
Trata-se de crime de perigo concreto, que põe em risco a Administração Pública em seus vários
segmentos, a exemplo da saúde, segurança, continuidade do serviço público etc.
• ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO:

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Fora dos casos permitidos em lei: elemento normativo do tipo. Assim, o abandono do cargo público nos
casos permitidos em lei não caracteriza o crime, exemplo: licença maternidade, paternidades, médica etc.
• ELEMENTO SUBJETIVO
Dolo, independentemente de qualquer finalidade específica.
Não há previsão de modalidade culposa.
Não admite tentativa.
• FORMA QUALIFICADA EM RAZÃO DO PREJUÍZO (art. 323, § 1°)
O parágrafo primeiro exige o dano efetivo, se do fato resulta prejuízo para a administração pública,
aumentam-se os limites mínimos e máximos da pena.
Prejuízo é o ocasionado aos serviços de interesse público.
Exemplo: interrupção dos serviços de água e luz à população.
• FORMA QUALIFICADA EM RAZÃO DO LOCUS DELICTI (art. 323, § 2º)
Qualifica o delito quando o afastamento ocorre em local de fronteira. A Constituição Federal afirma que a
faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao longo das fronteiras terrestres, designada como
faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa do território nacional.
• CONSUMAÇÃO
Trata-se de um crime omissivo próprio.
O delito se consuma quando o abandono cria, efetivamente, um perigo de dano. Esse abandono, portanto,
deverá ser por tempo suficiente, a ponto de gerar essa situação concreta de perigo.
• FORMA MAJORADA (art. 327, § 2º)
De acordo com o parágrafo segundo do art. 327, se o agente for ocupante de cargo em comissão ou função
de direção ou assessoramento na administração pública direta, em empresa pública, sociedade de economia
mista ou fundação pública, incide uma causa de aumento de 1/3, na terceira fase da dosimetria da pena.
• AÇÃO PENAL – PÚBLICA INCONDICIONADA.

20. EXERCÍCIO FUNCIONAL ILEGALMENTE ANTECIPADO OU PROLONGADO: ART. 324, CP

Art. 324. Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a
exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou
suspenso:
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa.
O exercício ilegal de função pública afeta a prestação de serviços públicos.
• CONDUTA NUCLEAR
Entrar no exercício: equivale a começar a desempenhar uma determinada função pública.
Continuar a exerce-la: dá procedimento.
Na primeira modalidade da conduta o agente entra em exercício antes de cumprida as exigências legais
(deve saber que não poderia começar o exercício), ex.: publicação da exoneração no Diário Oficial.
Na segunda modalidade o dolo é direto, ou seja, mesmo depois de oficialmente informado que foi
exonerado, removido, substituído ou suspenso, continua no exercício da função pública.

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• SUJEITOS
Trata-se de crime funcional.
Na primeira modalidade figura o funcionário público que, embora tenha tomado posse, ainda não
preencheu os requisitos para assumir a função. Na segunda modalidade delitiva o sujeito ativo é o
funcionário público removido, substituído ou exonerado, ou seja, pode até mesmo ser um particular.
Particular: caso o particular entre no exercício de função pública, estará caracterizado o delito de
usurpação de função pública (art. 328 do CP).
O sujeito passivo é o Estado.
Para sua caracterização é necessário verificar a contradição com o que dispõe a legislação e os atos
administrativos que regulamentam determinada função pública.
• ELEMENTO SUBJETIVO
Dolo, caracterizado pela vontade de entrar no exercício da função pública antes de satisfeitas as exigências
legais, ou continuar a exercê-la sem autorização.
Não há previsão de modalidade culposa.
• CONSUMAÇÃO
No momento em que o indivíduo pratique qualquer ato que denote o exercício indevido da função pública.
É possível a tentativa.
• FORMA MAJORADA (art. 327, § 2º).
De acordo com o parágrafo segundo do art. 327, se o agente for ocupante de cargo em comissão ou função
de direção ou assessoramento na administração pública direta, em empresa pública, sociedade de economia
mista ou fundação pública, incide uma causa de aumento de 1/3, na terceira fase da dosimetria da pena.
• AÇÃO PENAL – PÚBLICA INCONDICIONADA.
• TRATA-SE DE CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO.

21. VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL: ART. 325, CP


Existe uma especial relação de confiança entre a Administração Pública e o seu funcionário, ocupante de
um cargo público, que não pode ser quebrada, traída. O intraneus, ou seja, aquele
que está “dentro” da Administração Pública, passa a ter conhecimento sobre fatos
que, não fosse pela sua especial condição, lhe seriam completamente
desconhecidos.

Art. 325. REVELAR fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva
permanecer em segredo, ou FACILITAR-LHE a revelação:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave.
§ 1º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem:
I – Permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra
forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da
Administração Pública;
II – Se utiliza, indevidamente, do acesso restrito:
§ 2º Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
• BEM JURÍDICO TUTELADO:

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É o segredo na administração pública; muito embora a regra seja a publicidade, algumas informações que
sejam imprescindíveis para a segurança da sociedade e do estado devem permanecer em segredo.
Desta forma, o funcionário público que revele ou facilite a revelação de segredo que tenha ciência em
razão do cargo, e que deva permanecer em segredo, responde pelo crime em tela.
É UMA FORMA ESPECÍFICA DE VIOLAÇÃO DE SEGREDO.
• SUJEITOS ATIVO
Trata-se de crime próprio, pois o tipo penal exige que o sujeito ativo seja funcionário público, ou seja um
crime funcional praticado pelo funcionário público, ainda que esse funcionário público seja aposentado,
afastado ou em disponibilidade, pois o tipo pena refere-se a “fato de que tem ciência em RAZÃO do cargo”.
O SEGREDO DA PESSOA FÍSICA É TUTELADO PELOS ARTIGOS:
✓ Art. 153;
✓ Art. 154;
✓ Art. 154-a.
TODOS DO CÓDIGO PENAL.
Em relação ao terceiro que recebe a informação:
1. Se fez concorrer de qualquer modo para a revelação do fato, ele responde pelo art. 325, CP;
2. Se ele agiu espontaneamente, ou seja, não fez nada com a informação, para ele o fato será atípico.

• SUJEITOS PASSIVO
O sujeito passivo é o Estado. Caso um particular venha a ser prejudicado com a revelação do segredo, será
ele vítima mediata ou secundária.
• CONDUTA NUCLEAR:
Revelar (conduta comissiva); utilizado pelo texto legal no sentido de divulgar, tornar conhecido fato de que
teve ciência em razão do cargo. O fato, como esclarece o mencionado artigo, deve ter chegado ao
conhecimento do agente em virtude do cargo por ele ocupado.
Facilitar a revelação (conduta comissiva ou omissiva): Tornar mais simples a descoberta de algo.
Não somente pratica o delito aquele que, pessoalmente, revela o fato de que teve ciência em razão do
cargo e que devia permanecer em segredo, como também aquele que facilita sua revelação, exemplo: o
funcionário publico deixa de trancar o armário cujo conteúdo envolve documentos ligados a fatos sigilosos.
De segredo, que tem ciência em razão da função, e que deva permanecer em segredo.
Um servidor forneceu sua senha para que um outro servidor, não autorizado, acessasse banco de dados da
Administração Pública, de acesso restrito. Houve o acesso efetivo. Nessa hipótese, o servidor que forneceu a senha:
A. cometeu crime equiparado ao de violação de sigilo funcional.
B. cometeu crime equiparado ao de acesso imotivado a banco de dados.
C. cometeu o crime de facilitação de inserção de dados falsos em sistemas de informações.
D. cometeu o crime de modificação de sistema de informações, sem autorização legal.
E. não cometeu crime algum.
• OBJETO MATERIAL: SEGREDO FUNCIONAL
Segredo funcional é uma informação de interesse da administração pública que deva ficar em sigilo, deva
ser reservada, ou pelo menos conhecida por um número restrito de pessoas.

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É necessário para a configuração do delito que o funcionário tenha a atribuição para conhecer do segredo,
ou seja, ele é depositário do segredo funcional.
• CONSUMAÇÃO
No momento em que terceiro toma conhecimento do segredo ou é facilitado seu conhecimento. Em
ambas as espécies (revelar e facilitar) trata-se de um crime formal.
• ELEMENTO SUBJETIVO
Dolo, o agente deve ter ciência em razão do cargo e saber que deve manter em sigilo a referida
informação.
Não há previsão de modalidade culposa.
Tentativa: é admitida quando a conduta for praticada por escrito.
• FORMA EQUIPARADA (art. 325, § 1º)
I. Exemplo: um auditor da Receita Federal, que tem acesso às informações acerca das fontes
pagadoras dos contribuintes, empresta sua senha do sistema para uma amiga, traída pelo
marido, colha dados sobre os rendimentos dele.
II. O Funcionário Público invade área que lhe é vedada.

• FORMA QUALIFICADA (art. 325, § 2º)


Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública, o delito se qualifica.
De acordo com o § 2ºdo art. 325 do Código Penal, a consumação ocorre independentemente da produção
de dano à Administração Pública ou a outrem, mas, caso resulte, incidirá a qualificadora. Trata-se de uma
hipótese em que o exaurimento do delito funciona como qualificadora. Para que seja aplicada a
qualificadora em exame, deverá ser demonstrado o dano efetivo sofrido pela Administração Pública ou por
terceiro.
• FORMA MAJORADA
De acordo com o parágrafo segundo do art. 327, se o agente for ocupante de cargo em comissão ou função
de direção ou assessoramento na administração pública direta, em empresa pública, sociedade de economia
mista ou fundação pública, incide uma causa de aumento de 1/3, na terceira fase da dosimetria da pena.
• AÇÃO PENAL É PÚBLICA INCONDICIONADA.
• TRATA-SE DE CRIME SUBSIDIÁRIO.

(CESPE – 2012) Foi considerada correta: Pratica o crime de violação de sigilo funcional o funcionário de tribunal que
revela, ainda que para seu cônjuge, conteúdo de processo que corra em segredo de justiça ao qual teve acesso no
exercício de suas funções.
I. Só existe o crime se o funcionário teve ciência do segredo em razão do cargo. II. Para a caracterização do delito, não
é necessário que o funcionário tenha agido com dolo, bastando a ocorrência de culpa. III. Em se tratando de fato
constante de processo judicial, somente existirá o crime se deferido expressamente o segredo de justiça.
Está correto o que se afirmar APENAS em A. I e III. B I. C. II e III. D. I e II. E. III.
(CESPE -2018-) Valdemar, empresário do setor de frigoríficos, emprega estratégias, como a utilização de produtos
químicos, para disfarçar o estado de putrefação de carnes que vende fora do prazo de validade. Ele garante uma
mesada a Odair, empregado de agência reguladora do setor e encarregado de elaborar os registros de fiscalização, em
troca de ser avisado de qualquer ação não programada do órgão. De posse desse tipo de informação, Valdemar toma
providências para que os fiscais não encontrem a carne de má qualidade. Durante a investigação de um caso referente

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a uma pessoa que sofrera prejuízo à saúde em razão do consumo de carne estragada, escuta telefônica autorizada gera
as provas da existência do esquema.
A respeito da situação hipotética apresentada, julgue os itens a seguir.
Odair cometeu os crimes de corrupção passiva e de violação de sigilo funcional qualificado pelo dano a outrem.
C. Certo
E. Errado

22. VIOLAÇÃO DO SIGILO DE PROPOSTA DE CONCORRÊNCIA: 326


TACITAMENTE REVOGADO
Art. 326 do Código Penal foi tacitamente revogado pelo art. 94 da Lei de Licitações (Lei n. 8.666/93).

Art. 326 do CP: Devassar o sigilo de proposta de concorrência pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo
de devassá-lo: Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa.

Art. 94 da Lei n. 8.666/93: Devassar o sigilo de proposta apresentada em procedimento licitatório, ou


proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo: Pena - detenção, de dois a três anos, e multa.

Crimes praticados por particular contra a Administração Pública


1. USURPAÇÃO DE FUNÇÃO PÚBLICA: 328

Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública:


Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
• BEM JURIDICO TUTELADO

Trata-se de crime contra a administração pública praticado pelo particular, que protege o regular
funcionamento da Administração Pública.

• SUJEITO ATIVO:

A usurpação é um crime comum, podendo ser cometido por qualquer pessoa.

Para o STF, é possível que o crime de usurpação de função pública seja praticado por um funcionário
público no exercício da função. Desde que exerça função distinta da sua, que não lhe compete, como por
exemplo um escrivão realiza atos privativos do Delegado de Polícia.

• SUJEITO PASSIVO:

Estado.

• CONDUTA INCRIMINADA

Usurpar (significa: tomar pra si, assumir, apossar-se) o exercício de função pública.

Prática de ato oficial: não basta que o autor assuma, indevidamente, a função pública, sendo também
necessário que pratique pelo menos um ato funcional.

IMPORTANTE!

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Para a configuração do referido delito é imprescindível que o autor pratique pelo menos um ato funcional;
do contrário, ou seja, a mera simulação da qualidade funcional, sem que haja prática de ato oficial, resulta
na responsabilidade por contravenção penal descrita no art. 45 da lei de contravenções penais (dl 3.688/41).

✓ ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo, deve o agente ter ciência que está exercendo, de forma indevida, a conduta funcional.

Não há previsão de modalidade culposa.

✓ CONSUMAÇÃO

Trata-se de crime formal. A consumação se perfaz no momento em que o agente pratica pelo menos um
ato oficial, independentemente de alcançar vantagem ou causar dano.

Não é necessário que o ato praticado tenha produzido efetivo dano patrimonial à Administração Pública, ou
que lhe auferiu vantagem, basta que o agente realize qualquer ato de oficio.

✓ FORMA QUALIFICADORA

Caso o sujeito ativo auferir vantagem, estará caracterizada a forma qualificada do parágrafo único.
Tratando-se de um crime material.

Caput Parágrafo único


Crime formal Crime material

✓ AÇÃO PENAL:

Pública incondicionada.

✓ TRATA-SE DE CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO NA MODALIDADE SIMPLES DO CAPUT E DE


ELEVADO POTENCIAL OFENSIVO NA MODALIDADE QUALIFICADA.

Caput Parágrafo único


Infração penal de menor Infração de elevado
potencial ofensivo potencial ofensivo

IESES - 2019 - TJ-SC - Titular de Serviços de Notas e de Registro) Enzo, um particular que exerce a profissão de
jornalista, resolve um dia se passar por Auditor Fiscal da Receita Federal, e, assim se apresentando e portando uma
carteira de couro preta com a estampa do brasão da República, entra em um estabelecimento comercial e exige o
exame dos livros contábeis, no que é atendido. Analisa os livros, por curiosidade quanto aos ganhos da sociedade
empresária, e vai embora. A conduta de Enzo encontra adequação típica:
a) No delito de usurpação de função pública, art. 328 do Código Penal.
b) No delito de falsa identidade, art. 307 do Código Penal.
c) Na contravenção de uso ilegítimo de uniforme ou distintivo, art. 46 do Decreto-Lei n° 3.688/1941 (Lei das
Contravenções Penais).
d) Na contravenção de simulação da qualidade de funcionário, art. 45 do Decreto-Lei n° 3.688/1941 (Lei das
Contravenções Penais).

(FFC -2007) Túlio assumiu o exercício de função pública sem ser nomeado ou designado, executando ilegitimamente
ato de ofício. Tal conduta caracteriza o crime de: A. desobediência. B. tráfico de influência. C. exercício funcional
ilegalmente antecipado ou prolongado. D. advocacia administrativa. E. usurpação de função pública.

33
2. RESISTÊNCIA: 319

Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para
executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.

A resistência é uma forma mais grave de desobediência, em razão do emprego de violência ou ameaça.
Sendo conhecida como “desobediência belicosa”.

✓ BEM JURÍDICO TUTELADO

Regular funcionamento da administração pública, bem como o prestígio e autoridade da função pública.

✓ SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa, tratando-se de um crime comum, inclusive outro funcionário público, desde que se
oponha à execução de ato legal mediante o emprego de violência ou ameaça a funcionário competente para
executá-lo.

O sujeito ativo não será necessariamente a pessoa que suporta a execução do ato legal, ou seja, um
terceiro pode ser sujeito ativo do delito de resistência.

Exemplo: pai que ameaça policiais que tentam revistar o filho.

✓ SUJEITO PASSIVO

Estado. São vítimas mediatas ou secundárias o funcionário responsável pela execução do ato legal e o
terceiro que o auxilia.

É necessário que a pessoa que está prestando auxilio seja efetivamente acompanhado pelo funcionário
público competente para a execução do ato legal, pois caso contrário estará afastado o crime de resistência,
mesmo sendo ele alvo da violência ou ameaça.

✓ CONDUTA INCRIMINADA

Oposição violenta ou ameaçadora à execução de ato legal.

IMPORTANTE!

A oposição descrita no tipo exige uma conduta ativa por parte do agente. Desta forma, se o indivíduo se
lança ao solo, se agarra a um poste, uma árvore, não haverá resistência, mas desobediência, uma vez que
falta a elementar violência ou ameaça. O indivíduo que foge para evitar a prisão, sem empregar violência ou
ameaça, não pratica resistência.

Obs.: A violência como elementar do tipo deve ser direcionada à pessoa. (do agente público ou ao terceiro
que lhe preste auxílio).

✓ ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO

Resistência ativa RESISTÊNCIA

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Opor-se, no sentido Resistencia passiva DESOBEDIÊNCIA de impedir ou instituir
a execução de ato legal, exige uma conduta positiva por parte do agente.

Ato legal para a configuração do crime de resistência é preciso que o ato resistido seja legal do ponto de
vista formal e material.

a. Formal: relativamente à competência de quem o executa e á forma da sua emissão;


b. Material: vinculado ao seu conteúdo.

Se o ato for considerado ilegal, não abre espaço para o crime de resistência. Isso significa que o agente
deve ser competente para executar o ato, além de fazê-lo nos limites legais.

Na mesma linha, se o sujeito resistir prisão em flagrante efetuada exclusivamente por particular não
haverá resistência, pois é preciso que o ato seja executado por funcionário competente.

Desta forma, ordem de prisão expedida por delegado de polícia, quando resistida, não configura
resistência, pois sobre membros do Poder Judiciário podem fazer essa modalidade de prisão.

✓ ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo, consciência e vontade de empregar violência ou ameaça contra funcionário público ou contra quem
lhe preste auxílio.

Não há previsão de modalidade culposa.

Em relação a alteração de ânimos e embriaguez não afastará a responsabilidade penal do crime de


resistência.

✓ ESPECIAL FINALIDADE DE AGIR:

Consistente na intenção de impedir a execução de ato legal.

✓ CONSUMAÇÃO

É um crime formal, o crime estará consumado no momento em que o agente empregar violência ou
ameaça contra a vítima, independentemente de qualquer outro resultado, pouco importa se a atitude
impede a atuação estatal.

✓ FORMA QUALIFICADA

Se o ato, em razão da resistência, não se executa, incide a qualificadora do § 1º.

O parágrafo primeiro traz a forma qualificada do delito. Isso ocorre quando, em razão da violência ou
ameaça empregada o ato não se consuma.

O crime nesse caso é material.

O tratamento mais severo da resistência tem dois fundamentos:

I. A lei é efetivamente descumprida;


II. A autoridade estatal é ridicularizada, fomentando igual atuação de rebeldia por outras pessoas.

Caput Parágrafo único


Crime formal Crime material
Caput Parágrafo único

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Infração penal de menor Infração de elevado
potencial ofensivo potencial ofensivo

(VUNESP – 2007-) A resistência qualificada consiste A. na oposição do agente ao ato legal mediante
violência. B. na oposição do agente ao ato legal, causando considerável prejuízo à vítima. C. na oposição do
agente ao ato legal mediante o emprego da violência ou ameaça. D. na vontade exteriorizada do agente de
empregar violência ou usar de ameaça contra o funcionário competente para executar o ato legal, ou ainda,
a quem lhe esteja prestando auxílio. E. na não execução do ato legal diante da resistência do agente.

✓ CONCURSO MATERIAL OBRIGATÓRIO: art. 329, §2.

Trata do concurso material de crimes. Quando o crime é praticado com emprego de violência, contra o
funcionário público competente para executar o ato legal ou contra quem lhe presta auxilio, o agente
responde pela resistência e pelo crime resultante da violência, e nenhuma das hipóteses será absorvido,
qualquer que seja.

É dizer: se do ato de resistência resultar homicídio, por exemplo, ou lesão corporal, o agente responderá
nos moldes do art. 69 do CP e do 329, CP.

As penas serão individualizadas e somadas.

✓ AÇÃO PENAL

Pública incondicionada

✓ RESISTENCIA, DESACATO E DESACATO

Os delitos de desobediência e desacato, dependendo do contexto, podem ser absorvidos pela resistência.
Obs.: Nada obsta que, no mesmo contexto fático o agente tenha animus distinto de ofender o agente
público e de resistir à execução do ato legal.

Nesse cenário deverá responder por ambos os delitos: resistência e desacato.

3. DESOBEDIÊNCIA – 330, CP

PREVISÃO LEGAL – ART. 330 DO CÓDIGO PENAL

Art. 330. Desobedecer a ordem legal de funcionário público:


Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.

✓ BEM JURÍDICO TUTELADO

Regular funcionamento da administração pública. Em especial o prestígio e autoridade da função pública.

Tutela-se o princípio da autoridade.

(FCC - 2012 - TRTi - Juiz do Trabalho) "NÃO constitui crime contra a administração da justiça: a) a
denunciação caluniosa, b) o exercício arbitrário das próprias razões, c) o favorecimento pessoal, d) o
patrocínio infiel, e) a desobediência". Gabarito: E.

✓ SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa (crime comum).

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Obs.: O funcionário púbico pode ser sujeito ativo desse delito desde que a ordem emitida não esteja
relacionada com suas atribuições funcionais; pois, do contrário, o delito será de prevaricação.

Desobediência Se um funcionário público, transitando com sua bicicleta em via pública,


descumprindo a determinação deparada de um comando policial.
Prevaricação Se o funcionário público, entretendo deixar de cumprir uma liminar emitida em
ação judicial, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.

(FCC - 2012 - MP-AP - Promotor de Justiça) Foi considerada correta a seguinte alternativa: "O funcionário
público, fora do exercício de suas funções, pode ser sujeito ativo do delito de desobediência".

✓ SUJEITO PASSIVO

Estado. É vítima mediata ou secundária o funcionário que expediu a ordem.

✓ CONDUTA NUCLEAR

Desobedecer (ignorar, não cumprir) ordem legal de funcionário público.

Se a conduta do funcionário se revestir de mero pedido ou solicitação, não haverá o crime em tela. A
ordem deve:

✓ ser legal;
✓ emanar de funcionário público competente;
✓ dirigida àquele que tem o dever jurídico de obedecê-la.

Para a configuração do delito de desobediência é necessário que a ordem emanada de funcionário público
seja legal tanto da perspectiva formal quanto material; ademais, é imprescindível que a ordem seja dirigida a
quem tem o dever de atendê-la, e que este, de forma voluntária e consciente, se negue a cumpri-la.

Ordem ilegal: Se a ordem for ilegal o particular não está obrigado a obedecê-la.

Obs. A desobediência não tem os elementares da violência ou da grave ameaça; logo, a simples recusa em
abrir a porta para que o oficial cumpra um mandado de penhora configura o delito.

O delito de desobediência pode ser praticado por ação ou omissão.

✓ Ação (ex.: quando a ordem impõe um não fazer);


✓ Omissão (quando a ordem impõe um fazer).

IMPORTANTE!

FUGA SEM VIOLÊNCIA

A JURISPRUDÊNCIA ENTENDE QUE A MERA FUGA DIANTE DA “VOZ DE PRISÃO” NÃO CONFIGURA DESOBEDIÊNCIA.
TRATA-SE TÃO SOMENTE DO INSTINTO DE LIBERDADE.

• DISTINÇÃO ENTRE DESOBEDIÊNCIA E RESISTÊNCIA.

Na resistência o agente resiste de forma violenta ou ameaçadora a ordem legal emanada de funcionário
público competente;

Na desobediência, os elementares da violência ou da ameaça não estão presentes.

Resistência Tem violência e ameaça.


Desobediência Não tem violência e

37
ameaça.

A desobediência é conhecida na doutrina como resistência ghândica, ao passo que a resistência é


conhecida como desobediência belicosa.

 Desobediência e cominação de sanções administrativas ou civis

Quando a lei comina sanção administrativa ou civil para a desobediência da ordem sem ressalvar desta
forma, entende-se que o delito desobediência é subsidiário, somente se configurando quando não houver
previsão de sanção civil ou administrativa em legislação específica.

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo – vontade e consciência de desobedecer a ordem legal de funcionário público.

Não há previsão de modalidade culposa.

• CONSUMAÇÃO

Trata-se de crime formal. A ordem pode determinar um fazer (ação) ou um não fazer (omissão). Assim, o
crime estará consumado no momento em que o agente se omitir, no primeiro caso, ou agir, no segundo.

• AÇÃO PENAL

Pública incondicionada

• CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO.

No que toca à possibilidade de o funcionário público figurar como autor do crime de desobediência o STJ
tem o seguinte raciocínio:

 Se o funcionário for destinatário da ordem e inexistir relação de hierarquia entre este e quem expede a
ordem, o crime se consuma, uma vez que vulnera a autoridade das ordens da administração pública.

Obs.: Posição muito cobrada na banca CESPE.

• Não há crime de desobediência quando o agente se nega a cumprir a ordem para não se
autoincriminar.

Exemplo: investigado se nega a cumprir a determinação de delegado de polícia para fornecer material
genético para fins de comparação com vestígio encontrado na cena do crime.

Foi considera incorreta: “O condutor que, ao receber ordem de um agente de trânsito, se nega a realizar teste em
aparelho de ar alveolar para avaliar a concentração de álcool em seu organismo, não apenas pratica infração
administrativa, mas também comete crime de desacato.”

OBS.: No caso de expedição de ordem por escrito é necessário a notificação pessoal do destinatário da
ordem, de modo a demonstrar de forma inequívoca, que ele teve ciência inequívoca da sua existência e, de
forma consciente e voluntária a descumpriu.

OBS.: Não pratica o crime de desobediência o indivíduo que descumpre as condições impostas na transação
penal. (art. 76, caput, da lei 9.099/95).

4. DESACATO : 331

Art. 331. Desacatar funcionário público no exercício da função ou em


razão dela:

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Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.

A razão da criação do crime de desacato é que o agente público deve estar protegido contra investidas
violentas ou ameaças, no exercício do seu cargo.
Segundo o STJ, a previsão legal do crime de desacato a funcionário Rasgar multa na frente do guarda
público no exercício da função não viola o direito à liberdade de que a aplicou, é desacato.
expressão e de pensamento previstos no Pacto de São José da Costa
Rica.
"Consoante entendimento pacificado pela Terceira Seção desta Corte Superior, no julgamento do HC n.
379.269/MS, desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela continua a ser crime,
conforme previsto no art. 331 do Código Penal – CP, não havendo que falar em ofensa ao direito à
liberdade de expressão, prevista em Tratado Internacional de Direitos Humanos. Precedentes."

• BEM JURÍDICO TUTELADO

Tutela-se regular funcionamento da Administração Pública e, em especial, a autoridade e o prestígio da


função pública.

O fundamento da criminalização do desacato reside no fato de que nenhum direito é absoluto; desta
forma, casos graves de menosprezo à função pública devem ser reprimidos pelo Direito Penal que tem plena
legitimidade para tutelar interesse relevante dentro do estado democrático de direito.

O agente público está mais suscetível ao escrutínio e à crítica do cidadão, dele se exigindo uma maior
tolerância; contudo, casos de relevante gravidade serão punidos à luz do ordenamento penal pátrio, uma
que, conforme aduzido acima, nenhum direito é absoluto.

• SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa (crime comum), inclusive o funcionário público fora de sua função, ou seja, o funcionário
público pode ser responsabilizado por desacato.

→ Em relação ao Advogado

Advogado, no exercício de sua atividade, pode ser sujeito ativo do crime de desacato?

A imunidade profissional do advogado não abrange o desacato, posto que conflite com a autoridade do
magistrado na condução do processo.

O STF, no julgamento da ADI 1127/ DF, em 17/05/2006, decidiu que a imunidade profissional do advogado
não compreende o desacato, pois conflita com a autoridade do magistrado na condução da atividade
jurisdicional. Assim, como a expressão "ou desacato", contida no citado dispositivo, foi considerada
inconstitucional, o advogado pode ser sujeito ativo do crime em análise, ainda que no exercício de suas
atividades.

Resumindo: o advogado pode ser sujeito ativo do crime de desato.

Nesse sentindo, diz Masson, que não poderia o advogado, no julgamento em plenário do Juri, cuspir na face
do magistrado, por entende-lo parcial e favorável à tese de acusação.

• SUJEITO PASSIVO

Estado de forma direta, de forma secundária o funcionário ofendido, de forma indireta.

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• CONDUTA NUCLEAR

Desacatar significa ofender, menosprezar, menoscabar, aviltar o


funcionário público no exercício da função ou em razão dela.

Trata-se de um crime de forma livre; portanto, pode ser


praticado por qualquer meio de execução (palavras, agressão
física, ameaça, gritos, gestos, expressões injuriosas etc.), bem
como qualquer outro meio indicativo do proposito de
ridicularizar o funcionário público.

IMPORTANTE!!!

No exercício da função ou em razão dela

Caso o funcionário esteja no exercício da função, qualquer ofensa configura o crime; se não estiver no
exercício da função, é necessário o liame entre a ofensa e a função pública.

✓ No exercício da função: O funcionário está desempenhando seu trabalho, independentemente do


local e da relação com sua função. Neste caso, a ofensa não precisa se relacionar com tais atos de
ofício, ou seja, o motivo da ofensa pode ser particular. Tem-se um nexo ocasional. Exemplo: a
pessoa entra no gabinete do funcionário e o chama de 'gordo' e 'burro'.
✓ Em razão da função: funcionário público pode não estar exercendo as suas atividades quando sofre
o desacato, mas este diz respeito às funções públicas. Exemplo: um fiscal de rendas, descansando na
praia em seu período de férias, é chamado de corrupto por uma pessoa.

Obs.: Pessoas jurídicas ou instituições não podem ser vítimas de injúria por não possuírem honra subjetiva.

A manifestação dirigida contra uma instituição não configura desacato. Entretanto, pode ocorrer que a
intenção do agente seja humilhar o funcionário público e, para isso, utilize uma abordagem indireta. Assim,
por exemplo, se alguém se deparar na rua com um membro de uma instituição e disser: "Fulano, a sua
instituição é corrupta porque reflete o comportamento dos seus membros", estará cometendo o crime.

No entanto, dependendo do caso concreto, é possível o desacato do funcionário de forma reflexa.

Exemplo: (FCC - 2018 - DPE-AM - Defensor Público) Foi considerada incorreta a seguinte alternativa: "Comete o crime
de desacato aquele que ofende a dignidade da Polícia Militar ao expor opinião pejorativa sobre a instituição".

Presença do Funcionário Público

A ofensa deve ser irrogada na presença física do funcionário público, pois, do contrário, o crime será outro.
deve a ofensa ocorrer na presença do funcionário público, no exercício da função ou em razão dela.

(CESPE) A configuração do delito de desacato independe de que a ofensa seja feita na presença do funcionário público.
C. Certo E. Errado

(FCC - 2016 - DPE-BA - Defensor Público) Foi considerada incorreta a seguinte alternativa: "No crime de desacato a
ofensa deve ser dirigida ao funcionário público em exercício ou ao órgão ou instituição pública na qual exerce suas
funções".

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo, caracterizado pela vontade de desacatar o funcionário público, devendo o agente ter ciência de que o
servidor público está no exercício da função ou de que a ofensa seja em razão dela.

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Especial finalidade de agir: a intenção de ofender a função pública exercida pelo funcionário ofendido.

Não há previsão de modalidade culposa.

• CONSUMAÇÃO

A consumação ocorre no momento em que o sujeito ativo pratica o ato ofensivo (agride ou ameaça a
vítima, profere expressões injuriosas, exterioriza gestos obscenos etc.).

Como o crime é formal, não há necessidade de que o funcionário público se sinta ofendido com a conduta
do autor. Ademais, basta que a ofensa seja proferida na presença da vítima, pois a publicidade não é
elemento do tipo, ou seja a conduta independe de publicidade.

A vítima deve ouvir a palavra injuriosa ou sofrer diretamente o ato.

Lembrando que, é necessário que a vítima esteja no exercício da função pública, ou a ofensa ocorra em
razão dela (nexo funcional).

X, juiz de direito, em viagem de recreio, dirigiu-se de modo injurioso a y, policial encarregado de controlar o
tráfego em rodovia federal, chamando-o de cachorro e incompetente. As expressões foram proferidas
diante da revolta ocasionada pelo comportamento de y, identificando-se como magistrado, x solicitara que o
seu veículo fosse vistoriado em local especial, para que não ocorresse o exame das condições de
trafegabilidade do seu carro em posto policial, situado à margem da estrada. X cometeu o delito de: A.
resistência; B. injúria; C. desobediência; D. desacato.

Exceção de verdade

A crítica ou censura sem excessos, ainda que veementes, não configuram o tipo penal em tela.

Não se admite a exceção da verdade no crime de desacato, por duas razoes:

I. porque não há previsão legal


II. e porque o bem jurídico atingido é a função pública, e não a honra do servidor.

OBSERVAÇÕES:

1. Ofensa dirigida a vários servidores, no mesmo contexto fático, configura somente um crime de
desacato. O sujeito passivo primordial é o Estado e este só foi atingido uma vez.
2. Não há crime de desacato quando a ofensa se refere a reclamações do serviço público prestado
pela repartição, desde que não haja ofensa ao servidor.
3. Não há crime de desacato se a ofensa é proferida em contrapartida a comportamento ilegal ou
desproporcional do servidor.

• AÇÃO PENAL – PÚBLICA INCONDICIONADA


• CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO.

Obs. Não há que se falar em reconhecimento do princípio da adequação social.

O referido princípio foi desenvolvido por Hans Welzel e consiste na atipicidade material de determinadas
condutas consideradas adequadas ao convívio social.

Desta forma, determinados fatos, conquanto se subsumam a tipos penais, são considerados materialmente
atípicos, posto que a conduta se revele aceitável por uma comunidade em determinado momento histórico.

Portanto, havendo lei, ainda que deficitária, a punição do desacato subsiste.

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5. TRÁFICO DE INFLUÊNCIA: 332

Art. 332. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a
pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único, a pena é aumentada da metade, se 0 agente alega ou insinua que a vantagem é também
destinada ao funcionário.

• BEM JURÍDICO TUTELADO


Regular funcionamento da administração pública, bem como o prestígio da mesma.
• SUJEITO ATIVO
Crime comum pode ser praticado por qualquer pessoa, inclusive o funcionário público.
• SUJEITO PASSIVO
Estado. Também figura como vítima a pessoa enganada, isto é, aquela que pensa que será beneficiada com
algum ato de ofício.
• CONDUTA NUCLEAR
Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem a pretexto de
influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função.
SECO
✓ Solicitar é pedir, pleitear ou requer.
✓ Exigir é ordenar ou determinar
✓ Cobrar é reclamar o pagamento ou cumprimento de algo
✓ Obter é alcançar ou conseguir.
Exemplo: “A”, alegando ser amigo de um Delegado de Polícia, sem realmente ser, solicita de “B” a entrega
de determinada quantia em dinheiro, para supostamente convencer a autoridade policial a não instaurar
inquérito policial visando a apuração de crime cometido pelo seu filho.
Funcionário público determinado e competente: não é necessário. Não se exige que o agente público seja
determinado e nem que seu nome seja mencionado. Assim, haverá o crime ainda que o sujeito ativo afirme
à vítima iludida "ser amigo de um agente público", que poderá ser imaginário.
Também não é necessário que o funcionário tenha competência para a execução do ato prometido.
Esse crime é uma forma especial de estelionato, uma vez que o agente usa de fraude para induzir a vítima
a erro, alegando uma falsa influência.
O tráfico de influência é conhecido na doutrina italiana pelo brocardo “venditio fumi” (latim: vender
fumaça).

(CESPE - 2013 - PC-BA - Delegado de Polícia) Foi considerada incorreta a seguinte alternativa: "Alfredo,
alegando, de forma fraudulenta, a terceiros interessados que, por ter influência sobre determinado
funcionário público, poderia acelerar a conclusão de processo administrativo de interesse do grupo, cobrou
desse grupo vultosa quantia em dinheiro, da qual metade lhe foi paga adiantadamente. Antes da conclusão
do processo, entretanto, descobriu-se que Alfredo não tinha qualquer acesso ou influência sobre o referido
funcionário. Nessa situação hipotética, a conduta de Alfredo constitui crime de estelionato, já que ele alegou
ter prestígio que, na realidade, não possuía".

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• ELEMENTO SUBJETIVO
Dolo geral, a vontade do sujeito ativo de executar o núcleo do tipo, fazendo a vítima acreditar que irá
influenciar em ato praticado por funcionário público.
Acrescido da especial finalidade: para si ou para outrem.
ATENÇÃO: A finalidade de influenciar funcionário público é somente aparente. Caso houvesse, realmente,
esse fim especial, haveria provável crime de corrupção.
• CONSUMAÇÃO
Na modalidade solicitar, exigir e cobrar, o crime é formal, alcança seu momento consumativo com a
simples ação do sujeito ativo.
Na modalidade obter, material, o delito se consuma no momento em que o sujeito ativo obtém a
vantagem ou a promessa.
MATERIAL FORMAL
MATERIAL Solicitar,
Obter exigir e cobrar.

• CAUSA DE AUMENTO DA PENA


O parágrafo único traz uma majorante de metade da pena imposta no caso de o agente insinuar que a
vantagem é também destinada ao funcionário público.
• AÇÃO PENAL – PÚBLICA INCONDICIONADA
• CRIME DE ELEVADO POTENCIAL OFENSIVO.
Logo, não se aplica o rito sumaríssimo da lei 9.099/95.

Porém, se não houver a fraude, e o funcionário participar dolosamente do esquema, não haverá tráfico de
influência. Em relação ao interessado na prática do ato e àquele que diz ter influência e, de fato, ofereceu a
vantagem indevida ao funcionário, haverá corrupção ativa (art. 333 do CP). Por parte do funcionário, se
receber ou aceitar promessa da vantagem indevida, responderá por corrupção passiva (art. 317 do CP).

(UEC - 2013 - PC-CO - Delegado de Polícia) "0 advogado Cícero solicita dinheiro de seu cliente, João, com
argumento de que repassará a soma em dinheiro ao juiz de direito da comarca, para que este o absolva da
imputação de corrupção ativa praticada anteriormente. Após receber o dinheiro do cliente, o advogado o
entrega ao magistrado, que prolata sentença absolutória logo em seguida, reconhecendo a atipicidade da
conduta de João. Nesse contexto, verifica-se que: Cícero e João responderão por corrupção ativa, enquanto
o juiz responderá por corrupção passiva.

6. CORRUPÇÃO ATIVA: 333

Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar,
omitir ou retardar ato de ofício:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário
retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.

• BEM JURÍDICO TUTELADO

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Regular funcionamento e prestígio da administração pública. Busca impedir a atuação ilícita de particulares
na atividade administrativa, que não pode converter em palco para negociações desonestas relativas aos
atos do funcionário público.

• SUJEITO ATIVO

Qualquer pessoa (crime comum). Inclusive o funcionário público, desde que realize a conduta sem
aproveitar-se das facilidades inerentes a sua função.

• SUJEITO PASSIVO

Estado, e a pessoa física ou jurídica lesada pela conduta criminosa

A falta de identificação do funcionário público corrompido não descaracteriza o crime de corrupção ativa.

Exceção dualista à teoria monista: Teoria pluralista – não há concurso entre corruptor e corrupto, devendo
cada um responder por crime distinto.

(CESPE - 2012 - Polícia Civil-AL) Foi considerada correta a seguinte alternativa: "Caracteriza corrupção ativa
oferecer vantagem indevida a policial militar, ainda que em horário de folga e à paisana, para que este se
omita quanto à flagrante que presenciou".

(FAURCS - 2012 - TJ-RS - Analista Judiciário) Foi considerada incorreta a seguinte alternativa: "Comete o
crime de corrupção passiva (art. 317 do CP) tanto o particular que oferece vantagem indevida, como o
servidor público que aceita a promessa de tal vantagem, em concurso de agentes".

• CONDUTA NUCLEAR

Oferecer ou prometer indevida vantagem a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou
retardar ato de ofício.

✓ Oferecer é propor ou apresentar ao funcionário publico a vantagem indevida colocando-a a sua


disposição.
✓ Prometer, obrigar-se a entregar futuramente a vantagem indevida pelo funcionário público.

Na corrupção ativa o comportamento ilícito parte do particular que oferece ou promete a vantagem,
diferente da corrupção passiva.

Concussão e corrupção ativa: O crime de corrupção ativa é incompatível com a concussão; portanto,
quando o funcionário, em razão da função, exige indevida vantagem do particular, este é vítima da
concussão, e não responderá por corrupção ativa caso venha a entregar a vantagem exigida. Então se o
funcionário público exigir e o particular entregar ou der a vantagem, somente configurará o crime de
concussão.

Objeto material: é a vantagem indevida, que pode ser de qualquer natureza (patrimonial, moral, sexual
etc.).

Abordado recuse a indevida vantagem, a corrupção ativa estará consumada. Não é imprescindível a
bilateralidade entre corrupção ativa e passiva.

Pedir para o funcionário público dar um “jeitinho” não configura corrupção ativa, uma vez que o agente
não ofereceu e nem prometeu indevida vantagem.

Funcionário com competência/atribuição para o ato: A conduta de oferecer ou prometer indevida


vantagem deve ser dirigido a funcionário público com atribuição para a prática do ato. Exemplo: se o sujeito

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ativo oferece dinheiro a um policial militar para que este não instaure inquérito policial contra ele, não
haverá crime de corrupção ativa, pois tal atribuição compete, exclusivamente, ao Delegado de Polícia. Da
mesma forma, se o indivíduo oferecer dinheiro para policial militar não instaurar inquérito policial não
configura o crime do art. 333, CP, uma vez que tal atribuição compete ao delegado de polícia.

(CESPE - 2012 - MP-Pl - Promotor de Justiça) Foi considerada correta a seguinte alternativa: "Júlio foi preso
em flagrante pela prática de crime contra o patrimônio, acusado de obter, em seu negócio, vantagem ilícita
em prejuízo alheio mediante meio fraudulento. Durante a lavratura do auto de prisão em flagrante, Júlio
ofereceu ao delegado de polícia a quantia de cinquenta mil reais para que fosse liberado. Nessa situação
hipotética, o delegado de polícia deve lavrar o auto de prisão em flagrante de Júlio pelo crime anterior e
também pelo crime de corrupção ativa consumado".

CORRUPÇÃO ATIVA X CORRUPÇÃO PASSIVA

Pode haver Corrupção passiva, sem haver corrupção ativa, e vice-versa.

Exemplo de corrupção ativa sem a passiva Exemplo de corrupção passiva sem corrupção
ativa
O motorista infrator oferece dinheiro ao agente de O agente de trânsito solicita dinheiro a um
trânsito para determiná-lo a omitir ato de ofício motorista infrator para não lavrar a multa. Só
(lavratura da multa). Se o agente de trânsito não haverá corrupção passiva, pois a iniciativa não foi
receber, somente haverá corrupção ativa. do particular (motorista).
É possível, segundo entendimento doutrinário predominante, a ocorrência do crime de corrupção ativa sem
que exista simultaneamente o cometimento da corrupção passiva, pois as condutas são independentes.

(CESPE - 2018 - PC-MA - Delegado de Polícia Civil) Foi considerada incorreta a seguinte alternativa: "A
corrupção ativa não pode existir na ausência de corrupção passiva, pois tais condutas são tipicamente
bilaterais".

(FAURGS - 2017 - TJ-RS - Analista Judiciário) Foi considerada correta a seguinte alternativa: "A existência da
corrupção ativa independe da existência da corrupção passiva, isto é, a bilateralidade não é requisito
indispensável".

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo geral

Especial finalidade: determinar o funcionário público a retardar, omitir ou praticar ato de ofício.

Não há previsão de modalidade culposa.

• CONSUMAÇÃO

Crime formal, se consumação ocorre no momento em que a oferta ou promessa de indevida vantagem
chega ao conhecimento do funcionário público, independe de resultado naturalista.

Como o crime é formal, estará consumado mesmo diante da recusa do funcionário público.

• CAUSA DE AUMENTO DA PENA:

O parágrafo primeiro traz uma causa de aumento da pena em 1/3.

Essa causa incidirá no caso do funcionário: Retardar ou omitir ato de ofício ou praticá-lo infringindo dever
funcional. O tratamento mais severo se justifica pelo fato de a conduta do particular acarretar a violação dos

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deveres inerentes ao cargo pelo funcionário público, retardando ou omitindo ato de oficio, ou praticando- o
com infração ao dever funcional.

IMPORTANTE!!! Perceba pela redação legal que, se o ato praticado em razão da oferta ou promessa de
vantagem indevida for legal, não incidirá a causa de aumento.

• AÇÃO PENAL – PÚBLICA INCONDICIONADA


• CRIME DE ELEVADO POTENCIAL OFENSIVO

7. DESCAMINHO: 334

Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou
pelo consumo de mercadoria.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 1ºIncorre na mesma pena quem:
I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho;
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que
introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução
clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem;
IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal ou
acompanhada de documentos que sabe serem falsos.
§ 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências.
§ 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou
fluvial.
• BEM JURÍDICO TUTELADO

Trata-se de crime pluriofensivo; é dizer: tutela mais de um bem jurídico.

a. Ordem tributária;
b. prática comercial isonômica;
c. Comportamento probo e ético das pessoas que se relacionam com a administração pública.
• SUJEITO ATIVO

Crime comum, inclusive o funcionário público, desde que não possua o especial dever de impedir o
descaminho.

Obs.: Se o sujeito ativo for funcionário público que pratica o crime com infração de dever funcional (dever
de repressão do descaminho), facilitando a prática do descaminho responderá pelo art. 318, CP.

• SUJEITO PASSIVO

Estado (mais especificamente a união, uma vez que os impostos iludidos são da competência federal.

• CONDUTA NUCLEAR

Trata-se da conduta de iludir (que significa frustrar o pagamento) no todo ou em parte de direito ou
imposto devido pela entrada, saída ou consumo de mercadoria.

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Iludir traz a ideia de fraude, o sujeito se vale de um meio enganoso para dar a impressão, perante as
autoridades fiscais, de não praticar conduta tributável.

 Os impostos atingidos pelo descaminho são:


a. imposto de importação;
b. imposto de exportação;
c. imposto sobre produtos industrializados;
d. ICMS.
 A conduta se materializa de duas maneiras:
1. Primeira: quando a pessoa importa mercadoria permitida, mas, ao fazê-lo, engana as
autoridades não pagando (iludindo) o imposto devido;
2. Segunda: quando o indivíduo exporta mercadoria permitida, mas, ao fazê-lo, não paga (ilude)
o imposto devido.

Obs. Quando o tipo penal fala em consumo de mercadorias, ele está se referindo ao IPI (imposto sobre
produtos industrializados) que, por razões históricas é conhecido por imposto sobre consumo de
mercadorias.

IMPORTANTE!!!

STJ ENTENDE QUE O FALSO UTILIZADO PARA PRÁTICA DE DESCAMINHO SEM MAIOR POTENCIALIDADE
LESIVA, É POR ESTE ABSORVIDO (PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO), MESMO O DESCAMINHO TENDO UMA PENA
MENOR.

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo geral, caracterizado pela vontade de iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto
devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria.

Não há previsão de modalidade culposa.

• CONSUMAÇÃO

Crime formal, se consuma com o ato de iludir o pagamento de imposto devido pela entrada ou saída de
mercadoria do país.

É prescindível a constituição definitiva do crédito tributário para que haja a persecução penal.

Pagamento e extinção da punibilidade: o pagamento posterior não extingui a punibilidade do crime de


descaminho.

IMPORTANTE!!! CAI MUITO EM CONCURSO

Princípio da insignificância no descaminho → É POSSÍVEL. De acordo com o STF: "Descaminho. Valor do


tributo inferior a vinte mil reais. Princípio da Insignificância.

Sendo reconhecida a bagatela quando o tributo iludido não ultrapassar o valor de R$ 20.000,00.

Obs.: Obs.: a Súmula 599 do STJ (" O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a
Administração Pública") não se aplica ao crime de descaminho.

• O PARÁGRAFO PRIMEIRO TRAZ CONDUTAS EQUIPARADAS AO DESCAMINHO.

Quem pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos por lei;

47
Pratica fato assimilado;

O inciso III e IV trata da figura do descaminho por equiparação na atividade comercial ou industrial.

• O PARÁGRAFO TERCEIRO TRAZ A MAJORANTE DA PENA EM DOBRO NO CASO DA PRÁTICA DO REFERIDO


DELITO NO TRANSPORTE AÉREO, MARÍTIMO OU FLUVIAL.

Justifica-se pela maior dificuldade de fiscalização nesses casos. Essa causa de aumento somente pode ser
aplicada nas hipóteses de voos ou embarcações de natureza clandestina.

• AÇÃO PENAL

Pública incondicionada

• COMPETÊNCIA PARA PROCESSO E JULGAMENTO.

É da Justiça Federal, ainda que inexistentes indícios de transnacionalidade da conduta. Em termos


territoriais a competência recai sobre a seção judiciária do local da apreensão dos bens, pouco importando o
local por onde entraram no território nacional (importação), ou por onde saíram (exportação).

Aplicação da súmula 151 do STJ “A competência para o processo e julgamento dos crimes de descaminho e
contrabando é definida pela prevenção do juízo federal do local da apreensão dos bens”.

Exemplo: Calígula foi encontrado na posse de maços de cigarro de procedência Paraguai da marca morra
feliz; trata-se de uma marca bem mais barata e que é aprovada pela ANVISA, podendo ser comercializada no
território brasileiro, desde que satisfeitas as obrigações tributárias.

Um fato, porém, deve ser ressaltado: Calígula não possuía as notas fiscais relativas à aquisição do produto.

Calígula admitiu ter adquirido os cigarros de nero, um indivíduo que mora na mesma cidade e que fornece
mercadorias para camelôs. Em tese, qual seria o crime praticado por Calígula?

Resposta: descaminho por assimilação, cuja previsão legal se encontra no art. 334, §1º, IV, CP.

COMENTÁRIO.

O parágrafo primeiro descreve conduta equiparada ao descaminho, aqui o agente não é punido por ter
importado ou exportado mercadoria iludindo o pagamento do imposto devido, mas por praticar condutas
relacionadas. (daí a doutrina denominar de descaminho por assimilação).

O inciso IV do parágrafo primeiro descreve uma forma específica de receptação, uma vez que o agente
adquire, recebe ou oculta, no exercício da atividade comercial mercadoria desacompanhada dos
documentos que comprovem a sua regularidade, ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos.
Desta forma, o indivíduo fomenta a prática do descaminho.

Criminaliza, portanto, a atividade comercial ou industrial que utiliza mercadoria introduzida de forma
clandestina ou com ilusão no pagamento de tributo devido.

Ainda no exemplo, a barraca de Calígula (camelô) pode ser considerada atividade comercial para fins
penais? PERFEITAMENTE!

• A DESCRIÇÃO DE COMÉRCIO IRREGULAR DE MERCADORIA ESTRANGEIRA ESTÁ NO §2º, DO ART. 334, CP.

Por que Calígula não responde pelo caput do art. 334, CP? Porque não ficou comprovada a sua participação
na importação clandestina, se resumindo sua conduta à atividade comercial de tais produtos. Ele

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responderia pelo caput se tivesse importado ou concorrido de alguma forma para a importação irregular
(dando dinheiro, por exemplo).

IMPORTANTE!!!

Se a marca de cigarro morra feliz não tivesse autorização da ANVISA para ser comercializado no Brasil o
crime de Calígula seria contrabando, previsto no art. 334-a, cp.

Competência para processo e julgamento será da justiça federal, seção judiciária do local em que ocorreu a
apreensão da mercadoria.

APLICAÇÃO DIRETA DA SÚMULA 151 DO STJ.

O inquérito policial deverá ser realizado pela Polícia Federal (polícia judiciária da união), e a denúncia
oferecida pelo MPF. A defesa de Calígula alegou que seu cliente não concorreu para a importação da
mercadoria, e que somente vendeu na cidade de Belo Horizonte- MG, e que por isso, a competência caberia
à Justiça Estadual.

A TESE FOI REJEITADA PELO STJ.

A terceira seção entendeu que compete à justiça federal a competência para processar e julgar os crimes
de descaminho e contrabando, ainda que ausente a transnacionalidade da conduta.

O simples fato de o produto mantido em depósito ter origem estrangeira, já é suficiente para atrair a
competência da justiça federal.

Compete à união exercer o controle de fronteiras, mormente definir quais produtos não podem ingressar
no país, bem como a fiscalização aduaneira. → ART. 21, XXII, E ART. 22, VIII, AMBOS DA CF/88.

Além do mais, os impostos exigidos pela operação de aduana são de competência privativa da União. E no
que toca à bagatela penal? Seria possível a aplicação? Sim! Desde que o tributo elidido não supere o valor de
R$20.000,00.

Desta forma, na prática, a maioria dos casos que envolve camelô termina por ser reconhecido o referido
princípio, dado o valor das mercadorias apreendidas.

No caso do pagamento do tributo devido, seria possível a extinção da punibilidade do agente?

Vamos ao exemplo.

Calígula foi denunciado pela prática de descaminho; antes do recebimento da denúncia, o imputado efetua
o pagamento integral do tributo devido.

Segundo entendimento atual do STJ e do STF, o pagamento do débito tributário no delito de descaminho
não tem o condão de afastar a persecução penal, posto que se trate de crime de natureza formal, cuja
consumação ocorre no momento da elisão tributária.

Firmou-se o entendimento que o delito de descaminho, para além de crime de natureza tributária, tutela
também a estabilidade e a higidez das atividades comerciais dentro do país, da mesma forma que a
supracitada conduta fomenta o comércio ilegal e a concorrência desleal.

Por tudo isso, o pagamento do tributo devido não extingue a punibilidade do agente.

8. CONTRABANDO: 334-A

Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida:

49
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
§ 1ºIncorre na mesma pena quem:
I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando;
II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou autorização de
órgão público competente;
III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação;
IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira;
V - Adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira.
§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências.
§ 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de contrabando é praticado em transporte aéreo, marítimo ou
fluvial.

• BEM JURIDICO TUTELADO

Administração Pública, trata-se de um crime pluriofensivo no tocante proteção da saúde da moralidade


administrativa e da ordem pública.

Trata-se de uma norma penal em branco, pois não especifica quais as mercadorias proibidas no Brasil.

A mercadoria para fins penais é todo e qualquer bem móvel suscetível de comercialização.

• CRIME DE NATUREZA SUBSIDIÁRIA

Somente estará configurado crime de importação ou exportação de mercadorias proibidas quando não
configurar um crime especifico, então de certa forma o objeto material altera a tipicidade do crime.

Ex.: no caso da importação ou exportação de droga caracteriza tráfico de drogas.

• PRINCIPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

Em regra, não é aplicável por conta da natureza proibida da mercadoria.

Exceção: O STJ, já admitiu em situações excepcionais, e exemplo da importação clandestina de pequena


quantidade de medicamente voltado para uso pessoal

• SUJEIO ATIVO

Trata-se de um crime comum, pois pode ser praticado por qualquer pessoa, inclusive pelo funcionário
público desde que não possua o especial dever de impedir o contrabando.

Funcionário público: se o sujeito ativo for agente público que pratica o fato com infração de dever funcional
(dever de repressão ao contrabando), facilitando a prática dessa infração penal, deverá ser responsabilizado
pelo crime do art. 318 do CP.

• SUJEITO PASSIVO

É o Estado.

• CONDUTA NUCLEAR

Importar: trazer a mercadoria proibida para os limites do território nacional

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Exportar: levar a mercadoria probidade para além das fronteiras do Brasil.

• ELEMENTO SUBJETIVO

É o dolo, caracterizado pela vontade de importar ou exportar mercadoria proibida.

• CONSUMAÇÃO

Trata-se de um crime formal, consuma-se com a entrada ou saída do Brasil de mercadoria proibidas,
independentemente da efetiva lesão à saúde pública, à moralidade administrativa ou à segurança pública.

• AÇÃO PENAL

Pública incondicional, o MP é o titular e vai atuar independentemente de qualquer condição de


procedibilidade.

• CRIME DE ELEVADO POTENCIAL OFENSIVO.


• COMPETÊNCIA

Justiça Federal, súmula 151 do STJ.

• FIGURA EQUIPARDA: §1º e §2º.


• CAUSA DE AUMENTO DE PENA: §3º

O aumento de pena é somente para voos e navegações clandestinos.

9. INUTILIZAÇÃO DE EDITAL OU DE SINAL: 336

Art. 336 - Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou conspurcar edital afixado por ordem de funcionário
público; violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por determinação legal ou por ordem de funcionário
público, para identificar ou cerrar qualquer objeto:

Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.

• BEM JURÍDICO TUTELADO

O regular funcionamento da atividade administrativa.

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O edital é uma ordem fixada por um funcionário público, o selo (lacre) ou sinal é uma determinação legal
ou por ordem de funcionário público, para identificar ou cerrar qualquer objeto.

Edital: edital de citação

Selo: lacre de interdição aposto em restaurante pela vigilância sanitária.

• SUJEITO ATIVO

É um crime comum, pode ser cometido por qualquer pessoa, inclusive pelo funcionário público.

• SUJEITO PASSIVO

É o Estado.

• CONDUTA NUCLEAR

Rasgar: é romper ou partir algo em partes.

Inutilizar: é tornar imprestável para alguma finalidade

Conspurcar: sujar ou macular.

Violar: infringir, transgredir ou devassar.

• ELEMENTO SUBJETIVO

É o dolo, independentemente de qualquer finalidade específica.

Não se admite a modalidade culposa.

• CONSUMAÇÃO

Trata-se de um crime material, não basta a pratica da conduta legalmente descrita, é necessário a produção
de um resultado naturalístico.

A tentativa é possível.

• AÇÃO PENAL

Pública incondicionada.

• INFRAÇÕES PENASI DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO.

10. SUBTRAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE LIVRO OU DOCUMENTO: 337

Art. 337 - Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente, livro oficial, processo ou documento confiado à
custódia de funcionário, em razão de ofício, ou de particular em serviço público:

Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não constitui crime mais grave.

BEM JURÍDICO TUTELADO

SUJEITO ATIVO

SUJEITO PASSIVO

CONDUTA NUCLEAR

52
ELEMENTO SUBJETIVO

CONSUMAÇÃO

AÇÃO PENAL

11. SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA: 337-A

Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório, mediante as
seguintes condutas:
I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela legislação
previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este
equiparado que lhe prestem serviços;
II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as quantias
descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços;
III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e
demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara e confessa as contribuições,
importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou
regulamento, antes do início da ação fiscal.
§ 2º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primário e
de bons antecedentes, desde que:
II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela
previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções
fiscais.
§ 3º Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não ultrapassa R$
1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena de um terço até a metade ou aplicar
apenas a de multa.
§ 4º O valor a que se refere o parágrafo anterior será reajustado nas mesmas datas e nos mesmos
índices do reajuste dos benefícios da previdência social.

BEM JURÍDICO TUTELADO

SUJEITO ATIVO

SUJEITO PASSIVO

CONDUTA NUCLEAR

ELEMENTO SUBJETIVO

CONSUMAÇÃO

AÇÃO PENAL

12. REINGRESSO DE ESTRANGEIRO EXPULSO: 338

Art. 338 - Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena.

BEM JURÍDICO TUTELADO

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SUJEITO ATIVO

SUJEITO PASSIVO

CONDUTA NUCLEAR

ELEMENTO SUBJETIVO

CONSUMAÇÃO

AÇÃO PENAL

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2º SEMESTRE

1. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA: 339

Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação
administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime
de que o sabe inocente:

Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

§ 1°. A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto.

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§ 2°. A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção.

• BEM JURÍDICO TUTELADO

Afeta a Administração da justiça, porque consiste em uma conduta falsa.

É uma espécie de calunia com a conduta licita de noticia à autoridade pública a pratica de crime ou
contraversão penal.

Calúnia e transmissão do fato à autoridade pública, que dá causa à investigação policial, processo judicial,
inquérito civil, processo judicial importuna o surgimento da denunciação caluniosa.

CALÚNIA + CONDUTA LÍCITA DE NOTICIA À AUTORIDADE PÚBLICA

É uma espécie de calunia que foi longe demais.

• SUJEITO ATIVO

Crime comum (qualquer pessoa)

• SUJEITO PASSIVO

Estado no que tange à administração da justiça.

• CONDUTA NUCLEAR

Dar causa (provocar ou ocasionar) à instauração de:

✓ inquérito policial;
✓ procedimento investigatório criminal; parte da doutrina entende que requer a instauração de
inquérito policial, já outra parte (majoritária) entende que qualquer ato investigatório já configura o
crime;
✓ processo judicial; civil ou penal
✓ processo administrativo disciplinar;
✓ inquérito civil; por exemplo, quando o Ministério Público investiga a prática de um crime ambiental;
✓ ação de improbidade administrativa.
a. direta (ex.: comparecimento pessoal do autor à Delegacia de Polícia para registro de ocorrência que
ensejou a instauração do inquérito)
b. indireta (ex.: carta anônima; colocação de droga no carro da vítima).

Contra alguém, imputando-lhe a prática de crime, infração ético-disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe
inocente.

Essa nova redação foi trazida pela lei 14.110/2020 essa variedade de procedimento se deve à autonomia
das instâncias civil, administrativa e penal.

 FATO DETERMINADO E CRIMINOSO: A falsa imputação deve dizer respeito a pessoa certa, perfeitamente
identificável.
 TERCEIRO INOCENTE: O fato imputado ao terceiro inocente deve se configurar como crime (caput) ou
contravenção penal (§2º). Quando o fato determinado disser respeito a contravenção penal, a pena é
diminuída de metade.
 SABE QUE É INOCENTE: O fato imputado pode ter existido, porém, ter sido praticado por outrem; ou
pode até mesmo não ter existido (imputação objetivamente falsa), exemplo: “A” imputa a “B” um roubo

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que existiu, mas sabe ter sido efetivamente cometido por “C”. De uma forma ou de outra o crime se
configura.
1. Não houve crime;
2. Houve crime, mas o agente sabe que a pessoa acusada não é o autor; ou
3. Houve a prática de crime diverso.
 CRIME MAIS GRAVE: Da mesma forma configura o delito quando a imputação versa acerca de crime
mais grave do que o realmente cometido. Exemplo: o indivíduo praticou um furto; porém, imputa-se a
ela a prática de roubo.

DISTINÇÃO ENTRE DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA E CALÚNIA

1. A primeira distinção diz respeito ao bem jurídico protegido:


a. calúnia – honra objetiva;
b. na denunciação – a dignidade da justiça.
2. Outra distinção:
a. calúnia o agente imputa a prática de crime que sabe ser a vítima inocente;
b. na denunciação, existe um plus, o agente com essa falsa imputação dar azo a instauração de IP, PIC,
processo judicial, processo administrativo disciplinar, inquérito civil e ação de improbidade
administrativa.
3. Terceira diferença diz respeito à ação penal:
a. Em regra, o crime de calúnia é de ação penal privada;
b. A denunciação é de ação penal pública.
4. Quarta distinção:
a. A calúnia somente se perfaz com a falsa imputação de crime;
b. Denunciação a falsa imputação pode recair sobre crime ou contravenção.

DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA – art. 339 CALUNIA – art. 138


Crime contra a Administração da Justiça. Crime conta a honra .
O sujeito faz a imputação falsa de crime para O sujeito faz a imputação falsa de crime
movimentar o aparelho estatal. unicamente para ofender a honra objetiva da
vítima.
Ação penal pública incondicionada. Ação penal privada .
Não apenas atribui à vítima, falsamente a pratica Limita-se a falsa imputação a alguém.
de um delito, vai além disso, ela leva ao
conhecimento da autoridade pública.

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo direto, considerando que o tipo penal utiliza a expressão “imputando-lhe crime que o sabe inocente”.
Portanto, é sine qua non que o agente tenha ciência da inocência do imputado, e mesmo assim, agi no
sentido de dar causa a instauração do procedimento criminal, administrativo ou judicial.

IMPORTANTE!!!
É necessário que fique demonstrada a má-fé do denunciante, cujo único propósito é prejudicar a vítima.
Desta forma, o simples fato da investigação ou denúncia contra alguém, ser arquivada, não implica, de
plano, a configuração do crime de denunciação caluniosa, desde que não tenha havido dolo por parte do
denunciante.
IMPORTANTE!!!

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Forçoso concluir que não se configura o delito em tela quando o denunciante age com dolo eventual, de
acordo com a jurisprudência do STF.

Não há previsão de modalidade culposa.

• CONSUMAÇÃO
Trata-se de um crime material, no momento da instauração do:

1. Inquérito policial;
2. PIC;
3. Processo judicial;
4. Processo administrativo disciplinar;
5. Inquérito civil;
6. Ação de improbidade administrativa.

JURISPRUDENCIA DO STJ: No que toca ao inquérito policial ou termo circunstanciado, a jurisprudência do STJ
entende que, para a configuração do delito em tela é prescindível a formalização do procedimento; desta
forma, atos preliminares de investigação e coleta de provas já são suficientes para consumar o delito.

• CAUSA DE AUMENTO DA PENA: §1º.

Traz uma causa de aumento da pena: 1/6 quando o agente se vale de nome suposto ou anonimato. Isso
ocorre em razão da maior dificuldade para identificação do autor.

• DENUNCIAÇÃO PRIVILEGIADA: §2º.

Dispõe que se a falsa imputação versar acerca da prática de contravenção penal a pena será reduzida de
metade.

• AÇÃO PENAL

Pública incondicionada.

• RETRATAÇÃO: Não há possibilidade de retratação (causa extintiva de punibilidade, art. 107 , VI).

Retração: é o ato unilateral do indivíduo de voltar atras do que falou.

Na calunia é admissível.

• CRIME DE ELEVADO POTENCIAL OFENSIVO

Competência da JUSTIÇA ESTADUAL.

2. FALSA COMUNICAÇÃO DE CRIME OU CONTRAVENÇÃO: 340

Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que
sabe não se ter verificado:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

• BEM JURÍDICO TUTELADO

Administração da justiça.

• SUJEITO ATIVO

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Crime comum, pode ser praticado por qualquer pessoa.

• SUJEITO PASSIVO

Estado

• CONDUTA NUCLEAR

Consiste em provocar ação de autoridade pública comunicando-lhe crime ou a contravenção que sabe não
se ter verificado.

Autoridade: Delegado de Polícia, membro do Ministério Público, Juiz e qualquer outra autoridade
administrativa com poderes para dar início a investigações.

Para a configuração do delito não basta a mera comunicação, mas que a autoridade tome alguma
providência (realização de diligências, inquirição de testemunhas, solicitação de perícias, etc...) autoridade
deve ser aquela que tenha atribuição para apuração do delito.

Conduta atípica: quando não haver providencias por partes da autoridade.

DISTINÇÃO COM A DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA

Ao contrário do que ocorre com a denunciação caluniosa, no crime do art. 340 do CP não há acusação
contra pessoa alguma.

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo, o agente deve ter ciência que o crime ou a contravenção noticiada não se verificaram. Exige-se o dolo
direto, portanto. Desta forma, havendo dúvidas, não há que se falar no crime do art. 340 do cp.

Exemplo: João não sabe se perdeu ou teve sua carteira furtada.

Não há previsão de modalidade culposa.

• CONSUMAÇÃO

Trata-se de um crime material, consuma-se no momento em que a autoridade toma alguma providência
em face da provocação do autor, para apurar o suposto crime ou contravenção.

Obs.: uma vez consumado, esse crime não admite retratação!

(FUNCAB - 2016 - PC-PA - Delegado de Polícia) Foi considerada incorreta a seguinte alternativa: "A
retratação do agente é possível na falsa comunicação de crime ou contravenção".

• AÇÃO PENAL

Pública incondicionada.

• CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO.

3. AUTOACUSAÇÃO FALSA: 341

Art. 341. Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem:

Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.

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• BEM JURÍDICO

Administração pública

• SUJEITO ATIVO

Trata-se de um crime comum, que pode ser cometido por qualquer pessoa.

• SUJEITO PASSIVO

Estado.

• CONDUTA NUCLEAR

A conduta típica consiste em acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por
outrem.

✓ Acusar-se: imputar a sai mesmo a prática de crime.


✓ Perante a autoridade: a autoacusação deve ser feita perante a autoridade pública (Delegado de
Polícia, membro do Ministério Público, Juiz, autoridade administrativa etc.). Isso não significa, no
entanto, que o denunciante deva estar pessoalmente na presença da autoridade, já que a
autoacusação pode ser realizada de forma escrita.

PRINCIPIO DA LEGALIDADE: Se a autoacusação dizer a respeito a contravenção penal, não haverá crime.

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo, caracterizado pela vontade de se autoacusar perante a autoridade, devendo o agente estar ciente de
que o crime não existiu ou foi praticado por terceiro.

Não há previsão de culpa.

• CONSUMAÇÃO

Crime é formal, ocorre no momento em que a autoridade pública toma conhecimento da autoacusação,
independentemente de qualquer providência levada a efeito.

• AÇÃO PENAL

Pública incondicionada.

• CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO.

(CESPE - 2017 - TRE-BA - Analista Judiciário) Marcos estava sendo acusado de roubo. Preocupado com 0 futuro de
Marcos, que havia recentemente sido aprovado em um concurso para a carreira policial, Carlos, pai de Marcos,
comunicou à autoridade ser 0 autor do roubo e assumiu, em juízo, a prática do crime. Nessa situação hipotética, caso
seja descoberta a mentira, Carlos responderá pela prática do crime de:
a) falso testemunho.
b) fraude processual.
c) autoacusação falsa.
d) denunciação caluniosa.
e) comunicação falsa de crime.
(FCC - 2013 - TJ-PE - Juiz de Direito) Foi considerada correta a seguinte alternativa: "É atípica a conduta de acusar-se,
perante a autoridade, de contravenção penal inexistente ou praticada por outrem".

4. FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA: 342

60
Falso testemunho ou falsa perícia

Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor
ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: Na verdade, o
nomen iuris do delito é falso testemunho ou falsa perícia.

• BEM JURÍDICO

Administração da justiça

• SUJEITO ATIVO

Crime próprio, somente pode ser praticado por testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete.

No caso da testemunha, a doutrina afirma que o crime é de mão própria ou de conduta infungível, somente
podendo ser cometido pelo indivíduo que foi notificado para comparecerem dia e horário certo para prestar
depoimento.

• SUEJTO PASSIVO

Estado.

• CONDUTA NUCLEAR

Os verbos são:

✓ Fazer afirmação falsa; constitui em mentir, narrando à autoridade a ocorrência de fato inverídico.
Ex.: A testemunha ouvida em juízo, com a intenção de forjar um álibi, diz falsamente ao magistrado
que estava em viagem, com o réu, na data em que se verificou o fato a ele imputado.
✓ Negar ou calar a verdade: é recusar-se a confirmar a veracidade de um fato ou não o reconhecer
como verdadeiro.

Na condição de:

1. Testemunha; tem o dever de dizer a verdade sobre o que souber e lhe for perguntado.

Testemunhas que podem se recusar a depor (art. 206 do CPP): O ascendente ou descendente, o afim em
linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo
quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.

2. Perito;
3. Contador;
4. Tradutor;
5. Intérprete.

Dentro de:

 inquérito policial;
 processo judicial; de natureza penal, trabalhista ou civil.
 processo administrativo;
 juízo arbitral.

SEGUNDO O STJ o crime de falso testemunho admite a participação de advogado no seu cometimento. A
testemunha é uma auxiliar do juízo. Desta forma, não pode se furtar em dizer a verdade do que souber e lhe
for perguntado.

61
REGRA: O testemunho é obrigatório.

EXCEÇÃO: TESTEMINHAS QUE PODEM SE RECUSAR A DEPOR: algumas pessoas estão dispensadas de depor
na condição de testemunha segundo o art. 206 do CPP, são elas:

1. ASCENDENTE;
2. DESCENDENTE;
3. AFIM EM LINHA RETA;
4. CÔNJUGE, AINDA QUE DESQUITADO;
5. IRMÃO;
6. PAI;
7. MÃE;
8. FILHO ADOTIVO DO ACUSADO.

Em razão de laços famílias.

PROIBIDOS DE DEPOR (Art. 207 CPP): Há também aqueles que, em razão de ofício, ministério, função ou
profissão, devam guardar segredo. Estes estão proibidos de depor, salvo se, desobrigadas pela parte,
quiserem dar seu testemunho.

COMPROMISSO DE DIZER A VERDADE COMO ELEMENTAR DO CRIME DE FALSO TESTEMUNHO: O


compromisso de dizer a verdade é mera formalidade; portanto, mesmo que não haja a prestação do referido
compromisso, o indivíduo pode ser responsabilizado pelo delito do art. 340 do cp.

VÍTIMA: A vítima do crime se mentir, não comete falso testemunho; isso porque, o ofendido não se
enquadra na condição de testemunha do crime, mas de pessoa diretamente interessada na punição do autor
do fato.

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo, é a consciência e vontade de fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade, em ip, juízo arbitral,
processo administrativo e processo judicial (aqui pode ser tanto cível quanto criminal).

Não há previsão de culpa.

• TEORIA ADOTADA

A teoria adotada pelo CP para explicar o crime de falso testemunha e falsa perícia foi a teoria subjetiva.
Para a teoria subjetiva a falsidade ocorre na contradição entre o que a testemunha presenciou e percebeu e
o que ela relatou ou omitiu. Isso quer dizer que, mesmo que não seja verdadeiro 0 que a testemunha
relatou, não quer dizer que haja cometido 0 crime de falso, pois ela pode estar relatando algo que acredita
ser verdadeiro.

• CONSUMAÇÃO

Crime formal, estará consumado no momento em que encerrar o depoimento, for entregue o laudo falso,
for entregue a tradução falsa, for realizada a interpretação.

A falsa afirmação e a negativa ou omissão deve recair sobre fato juridicamente relevante.

Não é necessário que o teor do testemunho falso influa concretamente na decisão judicial, bastando a
possibilidade de influência; ou seja, que fique demonstrado o risco para a correta administração da justiça.

• PARÁGRAFO PRIMEIRO

62
§ 1º As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se
cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em
que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.

Três circunstâncias:

✓ Mediante suborno;
✓ Dentro de um processo penal;
✓ Dentro de um processo civil

Traz uma majorante 1/6 a 1/3, quan.do o crime for perpetrado em razão de suborno ou com a finalidade de
produzir prova em processo penal ou processo civil em que for parte entidade da administração pública
direta ou indireta.

• PARÁGRAFO SEGUNDO: RETRATAÇÃO

§ 2º O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se
retrata ou declara a verdade.

Traz uma hipótese de extinção da punibilidade pela retratação do agente. Contudo, tal retratação deve
ocorrer até a prolação da sentença dentro do processo em que se deu o falso.

Essa retratação (art. 107, VI, CP) deve ser:

1. COMPLETA;
2. VOLUNTÁRIA;
3. INCONDICIONADA (independente da vítima);
4. DENTRO DO MESMO PROCESSO;
5. OPORTUNIDADE (até a prolação da sentença).

 JURISPRUDENCIA: PLURALIDADE DE AGENTES: Segundo o STJ, no caso de concurso de agentes, havendo


a retratação de um deles, e deixando o fato de ser punível, tal circunstância se estenderia aos demais.
Apesar de posições contrárias na doutrina.
• AÇÃO PENAL

Pública incondicionada

• CRIME DE ELEVADO POTENCIAL OFENSIVO

LEMBRAR-SE DA SÚMULA 165 DO STJ: se o falso testemunho for cometido no bojo de processo
trabalhista, a competência para o processo e julgamento é da JUSTIÇA FEDERAL.

5. CORRUPÇÃO ATIVA DE TESTEMUNHA, PERITO, CONTADOR, TRADUTOR OU INTÉRPRETE: 343

Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito, contador,
tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em depoimento, perícia,
cálculos, tradução ou interpretação: (Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)

Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa.

Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é cometido com o fim de obter
prova destinada a produzir efeito em processo penal ou em processo civil em que for parte entidade da
administração pública direta ou indireta.

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• BEM JURÍDICO

Administração da justiça, no tocante à regular prestação jurisdicional.

• SUJEITO ATIVO

Crime comum, podendo ser qualquer pessoa.

Exceção dualista à teoria monista: No caso da testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete que
recebe o suborno, responderá pelo art. 342, §1º, CP.

Advogado que instrui testemunha a apresentar declaração falsa em Juízo: Se o advogado instigar a
testemunha a mentir mediante o oferecimento de dinheiro (suborno), responde pelo art. 343, CP; Se não
houver oferta ou entrega de suborno responderá pelo art. 342 do Código Penal na condição de partícipe.

Ex.: o advogado induz seu cliente a oferecer dinheiro a determinada testemunha para mentir em juízo, terá
participação no crime.

(FCC - 2015 - TRT23 - Juiz do Trabalho) "Mediante suborno, João, ouvido como testemunha em processo trabalhista,
fez afirmação FALSA. No caso:
a) João responderá pelo crime de falso testemunho, sem aumento de pena, cabível apenas quando o crime é
cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal;
b) compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falso testemunho verificado;
c) aquele que deu dinheiro a João para que prestasse depoimento falso não incidirá nas penas do crime de falso
testemunho previsto no art. 342 do Código Penal;
d) João responderá pelo crime de falso testemunho, tal qual ocorreria se tivesse prestado o depoimento na condição
de parte;
e) haverá extinção da punibilidade pela abolitio criminis se João se retratar após o trânsito em julgado da sentença no
processo em que ocorreu o falso testemunho". Gabarito: C

• SUJEITO PASSIVO

É o estado.

• CONDUTA NUCLEAR

São três os verbos incriminados:

1. dar; significa entregar ou conceder.


2. oferecer; equivale a apresentar ou propor algo para aceitação alheia.
3. Prometer: é comprometer-se a fazer algo no futuro.

Dinheiro ou qualquer outra vantagem para testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete com a
especial finalidade de determiná-lo a fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade sobre fato
juridicamente relevante. Há, portanto, o suborno de testemunha ou perito, para que qualquer deles faça,
negue ou cale a verdade em depoimento, pericia, cálculos, tradução ou interpretação.

Objeto material: dinheiro ou qualquer outra vantagem (material ou moral).

O processo deve está em andamento: De acordo com a redação legal, para haver a corrupção de
testemunha é necessário que haja processo judicial (cível ou criminal), inquérito policial, processo
administrativo ou juízo arbitral instaurado e em andamento.

Atenção!!!

64
Obs.: Se o perito, contador, tradutor ou intérprete forem oficiais (funcionários públicos), o crime será de
corrupção ativa (art. 333, CP).

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo, acrescido da especial finalidade de agir: para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em
depoimento, perícia, contabilidade, tradução ou interpretação.

Não há previsão de modalidade culposa.

• CONSUMAÇÃO

Crime formal, se consuma independente da produção de resultado naturalístico, ou seja,


independentemente da anuência ou recusa destas pessoas. O crime estará consumado no momento em que
o sujeito ativo dá, oferece ou promete o dinheiro ou a vantagem, independentemente de qualquer outro
resultado.

Como o delito é formal, o resultado buscado pelo autor não precisa ser necessariamente concretizado.

• RETRATAÇÃO

A indevida vantagem pode ter sido entregue, oferecida ou prometida com a finalidade de alcançar uma
absolvição ou condenação.

Esse fato é despiciendo para a configuração do delito; portanto, num sentido ou noutro, o crime estará
consumado.

Ex.: “A” oferece dinheiro para “B”, testemunha em processo em juízo, para fazer afirmação falsa. “B” aceita
a oferta e falta com a verdade em juízo. Em seguida, antes da sentença em foi lançado falso e a testemunha
se retrata e declara a verdade, essa retração, acarreta a extinção da punibilidade do falso testemunho (art.
342, §2º).

A retratação da testemunha que mente implica na extinção de punibilidade do autor do crime? NÃO!

• FORMA MAJORADA

De acordo com o parágrafo único do art. 343 do Código Penal, "As penas aumentam-se de UM SEXTO A
UM TERÇO, se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal
ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta".

• AÇÃO PENAL

Pública incondicionada.

6. COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO: 344

Art. 344 - Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra
autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir em processo judicial,
policial ou administrativo, ou em juízo arbitral:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

• BEM JURÍDICO

Administração da justiça.

• SUJEITO ATIVO

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Crime comum (pode ser praticado por qualquer pessoa). O interesse do autor no processo pode ser próprio
ou alheio, ou seja, não é necessário que o sujeito ativo tenha interesse próprio no processo judicial, policial
ou administrativo.

• SUJEITO PASSIVO

Estado.

• CONDUTA NUCLEAR.

O núcleo do tipo é USAR, no sentido de empregar ou utilizar violência ou grave ameaça com o fim de
favorecer interesse próprio ou alheio para coagir qualquer pessoa envolvida no processo:

a. Judicial;
b. Policial;
c. Administrativo;
d. Juízo arbitral.

Ex.: depois de ser preso em flagrante, e visando a influenciar o resultado da investigação, o agente ameaça
a vítima e as testemunhas

Consiste no emprego da violência ou da grave ameaça contra autoridade, parte ou qualquer pessoa que
venha a intervir em processo judicial, policial, administrativo ou juízo arbitral, com a específica finalidade de
favorecer interesse próprio ou alheio.

Obs.: O delito pode se configurar na fase inquisitória do inquérito policial, por exemplo.

Crime de forma vinculada; o agente deve empregar:

✓ Violência (vis absolutas ou corporalis);


✓ Grave ameaça (vis relativa ou compulsiva).

Obs.: Para a configuração do delito é imprescindível também que a violência seja direcionada a:

A. Autoridade (juiz, delegado);


B. Parte (promotor, querelante, réu, litisconsorte etc...);
C. Qualquer outra pessoa que intervenha no processo (perito, tradutor, contador, testemunha,
intérprete, etc...).

Obs.: Se o inquérito policial ou o processo ainda não se iniciou não há crime; o tipo exige o procedimento
em curso para a configuração, entretendo pode configurar outros crimes, como lesão corporal e ameaça.

ATENÇÃO!!!

O STJ já decidiu que mesmo antes de iniciado o IP, o emprego de violência ou grave ameaça com a
finalidade de influenciar no procedimento configura o crime do art. 344 do CP.

Também configura o crime se a conduta incriminada for praticada em relação ao PIC (procedimento
investigatório criminal) instaurado no âmbito do MP.

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo geral, com a especial finalidade de agir caracterizada na expressão "com o fim de favorecer interesse
próprio ou alheio".

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Não basta usar de violência ou grave ameaça contra a autoridade, parte ou qualquer outra pessoa que
funciona ou é chamada a intervir em processo judicial, policial, administrativo ou juízo arbitral. É
imprescindível fazê-lo tendo como objetivo o favorecimento de interesse próprio ou alheio, relacionado a
administração da justiça, como por exemplo: impedir a produção de prova desfavorável, forçar a
testemunha a depor em seu favor.

Obs.: O interesse deve estar relacionado com o objeto do processo ou do procedimento investigatório, ex.:
buscar uma declaração favorável de testemunha presencial.

• CONSUMAÇÃO

Crime formal, se consuma no momento do emprego da violência ou grave ameaça, embora o agente não
se atinja o resultado pretendido.

Se o resultado se materializar será mero exaurimento.

• CONCURSO DE CRIME

Previsão no preceito secundário. O agente responde pelo crime de coação no curso do processo e pelo
crime resultante do emprego da violência física (que pode ser lesão corporal ou homicídio).

A ameaça e a vias de fato restam absorvidas pela coação no curso do processo.

• AÇÃO PENAL

Pública incondicionada.

• TRATA-SE DE CRIME DE MÉDIO POTENCIAL OFENSIVO.

7. EXERCÍCIO ARBITRAL DAS PRÓPRIAS RAZOES: 345

Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei
o permite:

Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência.

Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.

Aqui a pessoa despreza a missão estatal de dirimir litígios e atua por conta própria.

• BEM JURÍDICO

Administração da justiça

Obs.: A autotutela, em regra, é vedada. Portanto, exercer de forma arbitrária suas próprias razões atentas
contra o monopólio estatal da justiça.

• SUJEITO ATIVO

Crime comum, pode ser cometido por qualquer pessoa.

Se o agente for funcionário público que comete o delito prevalecendo-se da sua condição funcional, sua
conduta poderá configurar abuso de autoridade e exercício arbitral das próprias razões.

• SUJEITO PASSIVO

Estado.

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• CONDUTA NUCLEAR.

Fazer justiça pelas próprias mãos, no sentido de satisfazer pretensão pessoal sem socorrer-se do Estado,
mediante a atuação do Poder Judiciário.

Com a finalidade de satisfazer sua pretensão, embora legítima. Essa pretensão é um direito ou interesse
que o sujeito tem ou acredita ter, exemplo: marido que força ao retorno conjugal a esposa que abandonou o
lar.

Trata-se de crime de forma livre, podendo ser praticado por intermédio de violência, ameaça ou fraude,
etc...

Obs.: Para a configuração do referido delito, a pretensão deve ter a possibilidade de ser apreciada pelo
Poder Judiciário. Portanto, se se tratar de pretensão ilegal, que não encontra guarida na jurisdição estatal o
crime será outro.

Exemplo: o agente que pratica agiotagem, emprestando dinheiro a taxas de juro exorbitante, para
reembolsar o que emprestou se utiliza de violência. (nesse caso não há exercício arbitrário das próprias
razões, mas constrangimento ilegal ameaça ou qualquer outro delito).

O tipo contém um elemento normativo, que se traduz na expressão: “salvo quando a lei o permite”. Isso
ocorre porque, de forma excepcional, o ordenamento autoriza atos podempara satisfação de uma
pretensão.

Exemplo:

 Estado de necessidade;
 Legítima defesa;
 Atos de defesa da propriedade (art. 1.210, §1º, CC/02)
“O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força,
contanto que faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à
manutenção, ou restituição da posse".

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo geral, especial finalidade de agir: para satisfazer pretensão, embora legítima.

Não há previsão de modalidade culposa.

• CONSUMAÇÃO

Crime formal, se consuma com o emprego do meio arbitrário, embora não satisfeita a pretensão.

Exemplo: credor encontrou a devedora na rua e tentou tomar-lhe o celular como forma de satisfação do
débito. Chegou a puxar seu braço e cabelo, no entanto, a devedora conseguiu fugir levando o celular. Nesse
caso o crime estará consumado, mesmo o agente não atingindo seu resultado.

• CONCURSO DE CRIMES

O preceito secundário determina que, se houver emprego de violência física, o agente responde pelo art.
345 do CP em concurso material com o delito oriundo da violência, qualquer que seja ele (lesão corporal ou
homicídio, etc...).

• AÇÃO PENAL

68
Pública incondicionada.

Obs.: Somente será incondicionada a ação penal se o agente praticar violência física contra a vítima; nos
demais casos a ação será privada.

SOMENTE SE PROCEDE MEDIANTE QUEIXA.

Ação penal pública Ação penal privada


incondicionada
Emprego de violência contra Nos demais meios de execução do
a pessoa, crime, ai se inserindo a ausência de
violência de qualquer espécies.

• TRATA-SE DE CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO: cujo rito do procedimento é o sumaríssimo


previsto na lei 9.099/95.

8. FRAUDE PROCESSUAL: 347

Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado de lugar, de
coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito:

Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.

Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as
penas aplicam-se em dobro.

• BEM JURÍIDICO

Administração da justiça

Obs.: A doutrina denomina esse tipo penal de estelionato processual.

• SUJEITO ATIVO

Pode ser qualquer pessoa (crime comum) tenha ou não, interesse no processo. Desta forma, podem figurar
como autor do delito as partes (autor, o réu, assistente litisconsorcial) ou seus procuradores, bem como
pessoas alheias à causa, tais como os parentes e amigos dos envolvidos na relação processual.

• SUJEITO PASSIVO

Estado.

• CONDUTA NUCLEAR

Inovar (mudar, substituir, alterar) de forma artificiosa na pendência de processo civil ou administrativo:

✓ Estado de lugar;
✓ Estado de coisa;
✓ Estado de pessoa.

Com a especial finalidade de induzir a erro o perito ou juiz.

Exemplo: a. visando a alegar legítima defesa, o homicida, antes da chegada da polícia, coloca uma arma na
mão da vítima; b. O agente elimina alguma mancha de sangue do objeto a ser periciado.

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Para a configuração do delito é necessário que o processo judicial (civil ou administrativo) já tenha sido
instaurado, e não tenha ainda se encerrado.

Obs.: Se o processo for de natureza penal, pode se configurar o crime ainda que não tenha sido instaurado.
Nesse caso a pena será aplicada em dobro (qualificadora).

RESUMINDO: na fraude processual o agente, com emprego de fraude, visa obter um determinado resultado
dentro do processo.

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo geral, com a especial finalidade de agir: induzir a erro perito ou juiz.

Não há previsão da modalidade culposa.

• CONSUMAÇÃO

Crime formal, se consuma no momento em que o agente, mediante fraude, artifício ou ardil, altera o
estado de lugar, coisa ou pessoa, ainda que não alcance a especial finalidade pretendida.

• FORMA MAJORADA: PARÁGRAFO ÚNICO

Dispõe que, quando a inovação artificiosa tiver como finalidade produzir prova em PROCESSO PENAL, a
pena aplica-se em dobro, e o crime se consuma ainda que na fase de investigação. Ou seja, antes mesmo de
iniciado o processo penal.

Contudo, o mesmo raciocínio não se aplica ao caput; ou seja, na pendência de Processo Civil ou
Administrativo.

• AÇÃO PENAL

Pública incondicionada

• CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO.

9. FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE PRODUTO DESTINADO A FINS


TERAPÊUTICOS OU MEDICINAIS: 273

Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais

• HEDIONDEZ

De acordo com o art. 1° VII-B, da Lei n. 8.072/90, 0 delito em análise é considerado hediondo em todas as
suas formas.

• BEM JURÍDICO TUTELADO

Saúde pública.

• SUJEITO ATIVO

Crime comum, pode ser praticado por qualquer pessoa.

• SUJEITO PASSIVO

É a coletividade (crime vago).

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• CONDUTA NUCLEAR
a. Falsificar;
b. Adulterar;
c. Alterar;
d. Corromper.
• OBJETO MATERIAL

Produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais.

Exemplo: Calígula possui um laboratório clandestino onde falsifica o Viagra, para depois vendê-lo no
mercado paralelo.

O conceito de produto destinado a fins terapêuticos não se resume a medicamentos, podendo abranger:

✓ insumos farmacêuticos; § 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se


✓ saneantes; refere este artigo os medicamentos, as matérias-
✓ produtos usados em diagnósticos; primas, os insumos farmacêuticos, os cosméticos,
✓ cosméticos; os saneantes e os de uso em diagnóstico.
✓ matérias-primas.

Obs. Trata-se de crime de perigo abstrato, posto que o risco já seja presumido pelo legislador.

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo geral – consciência e vontade de falsificar, corromper, adulterar ou alterar, produto destinado a fins
terapêuticos ou medicinais, expondo a perigo um número indeterminado de pessoas.

Há modalidade culposa, descrita no parágrafo segundo do art. 273 do CP.

§ 2º - Se o crime é culposo:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa

Exemplo: um farmacêutico desastrado derruba acetona em capsulas de medicamentos que estavam


prontas para acondicionamento.

Obs.: A modalidade culposa somente não ocorre na modalidade ‘falsificar’, uma vez que tal conduta
somente se manifesta de forma dolosa.

• CONSUMAÇÃO

Crime formal e de perigo abstrato. 0 crime estará consumado no momento em que o agente falsificar,
corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais.

Observação: Não há necessidade de o produto ser efetivamente comercializado.

• FORMA MAJORADA: PARÁGRAFO PRIMEIRO

§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em depósito para vender ou,
de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto falsificado, corrompido, adulterado ou
alterado.

Traz a figura do ‘vendedor’ de produto falsificado. O objeto material é o produto já falsificado,


corrompido, adulterado ou alterado.

Trata-se do segundo elo da cadeia criminosa.

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Exemplo: Calígula tem um laboratório clandestino que produz viagra falsificado; esse medicamento é
repassado a Nero, que o vende no centro da cidade em sua drogaria. Calígula será incurso no caput do art.
273; ao passo que Nero no parágrafo primeiro.

ATENÇÃO: Quando o parágrafo primeiro fala em ‘produto’ temos que levar em consideração a descrição do
§1º-a do art. 273 do CP.

• FORMA MAJORADA: §1º- B

1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no § 1º em relação a produtos em
qualquer das seguintes condições: (Incluído pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente;
II - em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior;
III - sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização;
IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade;
V - de procedência ignorada;
VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente.

O §1º-B trata da figura do ‘vendedor’ de produto equiparado a falsificado. O legislador trouxe para a
seara penal condutas de natureza administrativa, em face do elevado risco proporcionado à saúde pública.

O objetivo do legislador foi o de punir pessoas que vedem determinados produtos que, conquanto não se
possa afirmar serem falsificados, estão em determinadas condições que fazem que seu uso seja
potencialmente perigoso para a população.

Trocando em miúdo: o legislador afirmou que quem comercializa produtos nas condições listadas no §1º-B
do art. 273, será punido como se o produto fosse falsificado.

Estabeleceu-se uma presunção de que, vender produto terapêutico ou destinado a fins medicinais, nas
condições do §1º-B é tão perigoso quanto vender produto falsificado.

As hipóteses são:

I. vender produto sem registro, quando exigível no órgão de vigilância sanitária competente;
alguns produtos terapêuticos ou medicinais somente podem ser comercializados após registro e
aprovação no órgão de vigilância sanitária competente. No brasil esse órgão é a ANVISA (agência
nacional de vigilância sanitária), autarquia federal em regime especial vinculada ao ministério da
saúde.

Obs.: Para fins de configuração do crime do art. 273, §1º e 1º-B, I, CP, não é necessária perícia, bastando a
ausência de registro na vigilância sanitária.

II. em desacordo com a fórmula constante no registro da vigilância sanitária; O produto é


registrado, entretanto, a fórmula é diferente da que consta no registro.

III. produto sem as características de identidade e qualidade admitidas para sua comercialização;
essas características constam de resoluções da ANVISA.

IV. produto com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade; diz respeito ao seu grau de
eficácia. Esse parâmetro também consta de resoluções da ANVISA.

V. produto de procedência ignorada: Produto que não fornece a informação do local de produção.

72
VI. produto adquirido de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente: Os
estabelecimentos produtores de substâncias destinadas a fins terapêuticos ou medicinais
também precisam ter registro na ANVISA.

TODAS AS MODALIDADES DOLOSAS DO ART. 273 DO CP SÃO DE NATUREZA HEDIONDA.


Competência para processo e julgamento é em regra da JUSTIÇA ESTADUAL.

Somente serão da competência da JUSTIÇA FEDERAL no caso de conexão probatória ou evidenciada a


transnacionalidade da conduta

Importante!!!!!

Se o agente for flagrado vendendo substância destinada à falsificação de produtos terapêuticos ou


medicinais, deverá responder pelo art. 277 do CP.

Anotações de jurisprudência

Questão da pena fixada ao crime de importação de medicamento sem registro na ANVISA.

A pena atual (reclusão de 10 a 15 anos, e multa) foi fruto de alteração legislativa produzida pela lei
9.677/98 (lei dos remédios).

Ocorre que o §1º-B também foi introduzido pela supracitada legislação. Contudo, a pena ficou muito alta
no que toca à comercialização de produtos equiparados a falsificados, nas situações do §1º-B.

Logo surgiram vozes advogando a inconstitucionalidade da lei nesse ponto, por ofensa ao princípio da
proporcionalidade.

O que disse o STF? O STF ao analisar um caso concreto envolvendo o §1º-B, I, ART. 273, CP, disse que, sim,
o dispositivo é inconstitucional por violar a individualização da pena e o princípio da proporcionalidade.

Portanto, para o STF, a conduta de importar medicamento sem registro no órgão de vigilância sanitária
competente não se subsome à pena de 10 a 15 anos contida no preceito secundário do art. 273, uma vez
que tal penalidade viola a vedação a penas cruéis, o princípio da individualização da pena e o princípio da
proporcionalidade.

Bom, já entendi, mas e agora? Qual pena deverá ser imposta? Para o STF opera-se o chamado efeito
repristinatório da declaração de inconstitucionalidade.

Como no caso, houve a declaração de inconstitucionalidade da lei 9.677/98 nesse ponto, deve-se aplicar à
conduta de importar ou comercializar produtos terapêuticos sem registro na ANVISA a pena anteriormente
cominada ao delito do art. 273, que no caso era de reclusão de 01 a 03 anos, e multa.

• AÇÃO PENAL – PÚBLICA INCONDICIONADA.

10. FAVORECIMENTO PESSOAL

Art. 348. Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de
reclusão:

Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.

Consiste no auxilio prestado para que o autor do crime não seja alcançado pela autoridade pública,
mediante a dissimulação do criminoso ou facilitando de sua fuga.

73
• BEM JURÍDICO

Administração da justiça

• SUJEITO ATIVO

Crime comum – qualquer pessoa.

ISENÇÃO DA PENA: Se quem presta o auxílio for do autor ascendente, descendente, cônjuge ou irmão de
crime, ficará isento de pena. Trata-se de uma escusa absolutória prevista no parágrafo segundo do art. 348,
CP.

§ 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de
pena.

COAUTOR OU PARTÍCIPE DO CRIME ANTERIOR: Se o indivíduo, antes ou durante a execução do crime,


promete auxílio ao autor do fato, responderá como partícipe ou coautor desse crime, e não por
favorecimento pessoal.

ADVOGADO: embora o advogado não tem o dever de revelar o paradeiro do cliente; esse contudo, se
auxiliar na fuga, responderá por favorecimento pessoal, pena de praticar o crime do art. 348 do CP.

AUTO FAVORECIMENTO: não configura o crime do art. 348 do CP, já que este pressupõe benefício apenas a
terceira pessoa.

• SUJEITO PASSIVO

Estado.

• CONDUTA NUCLEAR.

Consiste em auxiliar autor de crime, conjugado à expressão “subtrair”, punindo a conduta de quem
idoneamente ajuda o autor do crime a fugir, se esconder ou qualquer meio ou modo que possa evitar a ação
da autoridade pública.

✓ Auxiliar: pressupõe um fazer. Portanto, estamos diante de um crime comissivo.

Desta forma, não há responsabilidade na conduta de deixar de informar à autoridade policial a localização
de um foragido. Excepcionalmente pode ser cometido por omissão, no caso de o agente ostentar o dever
jurídico de impedir o resultado (crime comissivo por omissão – art. 13, §2º, CP).

Para a configuração do delito de favorecimento pessoal é imprescindível a prática de crime anterior, seja
doloso, culposo, tentado ou consumado. Trata-se do que a doutrina denomina de crime PARASITÁRIO,
crime de fusão ou delito acessório.

Importante!!!

Desta forma, não haverá favorecimento pessoal se o agente auxilia autor de contravenção penal ou ato
infracional a esquivar-se da ação de autoridade pública.

PERSEGUIÇÃO: Não é necessário que o autor do crime anterior esteja sendo perseguido pela
autoridade no momento em que recebe o auxílio. Basta a possibilidade de vir a fazê-lo, a qual
inquestionável justamente em decorrência da pratica do delito.

• ELEMENTO SUBJETIVO

74
Dolo geral, caracterizado pela vontade de auxiliar o autor de crime a subtrair- se à ação de autoridade
pública.

Elemento subjetivo específico – intenção de ludibriar a autoridade pública.

• CONSUMAÇÃO

Trata-se de um crime material consuma-se no momento em que o autor de crime anterior se escusa da
ação da autoridade pública, ainda que por curto espaço de tempo.

• PARÁGRAFO PRIMEIRO

“Se ao crime não é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa".

O tipo traz uma forma privilegiada do delito. Assim, diante da menor gravidade do fato, a pena é diminuída.
Perfaz-se quando o crime anterior for apenado com detenção.

• FORMA MAJORADA: PARÁGRAFO SEGUNDO

Trata-se de uma ESCUSA ABSOLUTÓRIA que exclui a culpabilidade quando quem presta o auxílio for
ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do autor do crime anterior.

A figura do companheiro pode ser incluída na escusa, uma vez que estamos diante de uma interpretação
analogia in bonam partem, permitida no direito penal.

Jorge, de origem humilde, atua como Oficial de Justiça em determinado Tribunal de Justiça. Quando cumpria ordem
de busca e apreensão na comunidade em que nasceu, viu, de longe, que seu irmão dispensou uma sacola plástica com
grande quantidade de drogas, empurrou um policial militar e tentava empreender fuga e evitar o flagrante de crime de
tráfico, crime este punido com pena mínima de cinco anos de reclusão. Diante disso, quando seu irmão corre em sua
direção, o auxilia, escondendo-o dentro de seu veículo particular, enquanto continua a cumprir o mandado pendente.
Descobertos os fatos, considerando apenas a situação narrada, o ato de Jorge configura:
A.crime de evasão mediante violência contra a pessoa;
B.conduta típica, mas não punível;
C.crime de favorecimento pessoal;
D.crime de favorecimento real;
E.conduta atípica.

• AÇÃO PENAL

Pública incondicionada.

• CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO.

Tanto na modalidade simples do caput, quanto na modalidade privilegiada do parágrafo primeiro.

11. FAVORECIMENTO REAL: 349

Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar
seguro o proveito do crime:

Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.

• BEM JURÍDICO

Administração da justiça

75
• SUJEITO ATIVO

Crime comum – pode ser praticado por qualquer pessoa. Desde que não tenha concorrido de qualquer
forma (coautoria ou participação) para o delito anterior.

Exemplo: A, promete a B, antes da realização do crime, que irá fornecer esconderijo para armazenamento
da res furtiva. Nesse caso, A, será considerado partícipe do crime de B, não respondendo por favorecimento
real.

Favorecimento real Coautoria


O auxilio destina-se unicamente ao O auxílio foi prometido antes do crime
criminoso anterior, ou realizado durante a sua
prática, haverá participação no delito
original

Exemplo de favorecimento real: “A” depois de subtrair uma bicicleta, dirigir-se à casa de “B”, seu velho
amigo, pedindo-lhe ajuda para esconder o bem furtado durante determinado período, até desmancha-lo e
vender suas peças. “B” o auxilia a tornar seguro o proveito do crime patrimonial, nada recendo em troca do
seu valor.

• SUJEITO PASSIVO

Estado.

• CONDUTA NUCLEAR

Prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou receptação, auxílio destinado a tornar seguro o
proveito de crime.

Crime de forma livre – o auxílio pode ser direto ou indireto, material ou moral.

O tipo penal fala em auxílio prestado fora dos casos de coautoria – desta forma, se o auxílio for prometido
antes do delito anterior ou efetivado durante sua prática, o agente deverá responder como partícipe ou
coautor do crime principal e não pelo delito de favorecimento real.

A expressão: fora dos casos de receptação não deixa dúvida acerca da diferença entre os delitos, senão
vejamos:

1. Na receptação o agente atua em benefício próprio ou de terceiros; ao passo que no favorecimento


real ele atua unicamente em favor do autor do crime precedente com a finalidade de tornar seguro
o proveito do crime.
2. Na receptação o agente busca vantagem econômica; no favorecimento real essa vantagem não é
elementar do tipo, muito embora o autor possa visar alguma.

Favorecimento real Receptação


Crime contra a Administração da Justiça Crime contra o patrimônio
O beneficiado pela conduta criminosa é o autor O beneficiado pela conduta criminosa é o
do crime antecedente. receptador ou outra pessoa, que não o autor do
crime antecente.
Proveito econômico ou de outra natureza. Proveito necessariamente econômico.

76
DISTINÇÃO ENTRE FAVORECIMENTO REAL E PESSOAL: No favorecimento real o agente busca tornar seguro
o proveito do crime; já no favorecimento pessoal o agente busca tornar seguro o autor do crime
antecedente.

Crime acessório, parasitário ou de fusão: O favorecimento real é um delito acessório, pois é necessária a
comprovação de um crime anterior.

Objeto material – proveito do crime – que pode ser o preço recebido pelo cometimento ou o objeto obtido
com sua prática.

Obs.: Os instrumentos do crime não são considerados proveito; logo, se o agente os oculta, dependendo da
circunstância, o crime poderá ser de favorecimento pessoal (art. 348, CP).

Pratica de crime anterior: por ser um crime parasitário, o favorecimento real pressupõe a prática de crime
anterior (doloso, culposo, tentado ou consumado); desta forma, se a conduta anterior configurar
contravenção penal ou ato infracional, não haverá o crime em tela.

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo geral, com a especial finalidade de agir: tornar seguro o proveito do crime anterior.

Não há previsão de modalidade culposa.

• CONSUMAÇÃO

Crime formal, se consuma com o auxílio destinado a tornar seguro o proveito de crime anterior.

• AÇÃO PENAL

PÚBLICA INCONDICIONADA

• INFRAÇÃO PENAL DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO.

12. FAVORECIMENTO REAL IMPRÓPRIO; 349-A

Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de
comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional. (Incluído pela
Lei nº 12.012, de 2009).

Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Uma expressão é utilizada na doutrina.

• BEM JURÍDICO

Administração da justiça, notoriamente no tocante à necessidade de preservação da segurança pública,


tanto no interior dos estabelecimentos como no âmbito da sociedade em geral.

• SUJEITO ATIVO

Crime comum, pode ser praticado por qualquer um. Na pratica, o delito é realizado por familiares do preso,
advogado, até mesmo outro detento, nos dias de visitas.

• SUJEITO PASSIVO

Estado.

77
• CONDUTA NUCLEAR.
1. Promover; é adotas as providencias necessárias para a entrega do aparelho.
2. Intermediar; quando o agente estabelece a ligação entre o preso e uma terceira pessoa que irá
colocar o aparelho no estabelecimento.
3. Facilitar; simplificar a entrada
4. Auxiliar: ajudar alguém.
5. Ingressar: fazer entrar, introduzir o aparelho, aqui apenas uma pessoa é envolvida, nos outros casos
pode haver uma segunda pessoa.

Com aparelho de telefonia móvel, de rádio ou similar, em estabelecimento prisional sem autorização.

Obs.: Para configurar o crime bastaria o verbo ingressar, posto que os demais denotem condutas genéricas
de participação.

• OBJETO MATERIAL
✓ aparelho de telefonia móvel;
✓ rádio;
✓ equipamento similar.

Também configura o delito o ingresso ou facilitação de entrada de outros equipamentos tais como: fone de
ouvido, bateria, chip, smartphones, computadores que possibilitem o acesso à internet.

• ELEMENTO SUBJETIVO

É o dolo, caracterizado pela vontade de praticar um dos comportamentos descritos.

Sem autorização, é o elemento normativo do tipo, desta forma, o agente penitenciário ou advogado que
ingressa no presídio com seu aparelho celular não comete o delito, desde que não tenha a intenção de
entregá-lo a algum detento.

Estabelecimento prisional:

Quando a lei fala em estabelecimento prisional ela se refere a:

a. penitenciárias;
b. colônias agrícolas ou industriais;
c. cadeias públicas;
d. casa de albergado;
e. centro de detenção provisória.

Enfim locais que abriguem presos definitivos ou provisórios.

IMPORTANTE!!!

A norma em comento não abarca os centros de cumprimento de medidas socioeducativas, uma vez que os
adolescentes infratores não são presos.

• CONSUMAÇÃO

Trata-se de um crime formal, consuma-se no momento em que o agente pratique o núcleo do tipo, ainda
que o objeto material não chegue às mãos do preso.

• AÇÃO PENAL

Pública incondicionada

78
• DELITO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO.

13. EPIDEMIA: 267

Art. 267 - Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos:


Pena - reclusão, de dez a quinze anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)
§ 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro.
§ 2º - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a dois anos, ou, se resulta morte, de dois a quatro
anos.
Trata-se de crime contra a saúde pública.

• BEM JURÍDICO TUTELADO

Saúde pública (incolumidade pública), em especial a saúde de todas as pessoas afetadas pela prática do
crime.

• SUJEITO ATIVO

Crime comum, inclusive por quem esteja contaminado pela moléstia infecciosa.

• SUJEITO PASSIVO

Trata-se de crime vago, cujo sujeito passivo é a coletividade como um todo. As pessoas atingidas são
vítimas mediatas ou indiretas.

• CONDUTA NUCLEAR
✓ Causar: produzir ou da origem.

Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos, exemplo: lançando vírus ao ar.

Epidemia surto de uma doença acidental e transitória, que ataca um grande número de indivíduos, ao
mesmo tempo, em determinado país ou região, exemplo: febre amarela.

DIFERENÇA

PANDEMIA Disseminação da doença se dá em nível


mundial.
ENDEMIA Infecção limita-se a localidade certa, na qual se
instala e permanece.
Trata-se de crime de forma vinculada, somente pode ser praticado por meio da propagação de germes
patogênicos.

Trata-se de um crime de perigo concreto, quer dizer: para sua caracterização é necessária a demonstração
do efetivo risco no caso concreto, ao bem jurídico tutelado.

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo de perigo, consistente na consciência e vontade de propagar germes patogênicos, de modo a causar
epidemia (risco a um número indeterminado de pessoas).

Obs.: no caso do dolo do agente se voltar a CONTAMINAR PESSOA CERTA, o crime será de perigo de
contágio de moléstia grave (art. 131 do CP).

79
Há previsão da modalidade culposa no parágrafo § 2º do art. 267, CP. A propagação dos germes
patológicos surge em razão da imprudência, negligencia ou imperícia do sujeito ativo, que assim viola o
dever objetivo de cuidado a todos impostos.

Exemplo: um médico negligentemente troca as injeções a serem distribuídas à população a título de vacina
contra gripe suína, colocando no lugar outro vírus, provocado uma epidemia.

• CONSUMAÇÃO

Trata-se de um crime material, consuma-se no momento em que um grande número de pessoas restarem
infectadas.

• FORMA MAJORADA: § 1º

De acordo com o § 1°, se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro. Basta a morte de uma só
pessoa para o aumento da pena.

ATENÇÃO: Para incidência da qualificadora do parágrafo primeiro basta uma única morte.

➔ O parágrafo primeiro descreve um crime de natureza hedionda.

Conforme disposição do ART. 1º, VII, DA LEI 8.072/90. Essa modalidade do crime de epidemia é de
natureza preterdolosa, posto que haja dolo na causação da epidemia, com culpa no resultado agravador
(morte).

OBS.: o crime de epidemia com resultado morte é um dos crimes que ADMITE a PRISÃO TEMPORÁRIA nos
termos da Lei 7.960/89.

• AÇÃO PENAL É PÚBLICA INCONDICIONADA.

14. FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE PRODUTO DESTINADO A FINS


TERAPÊUTICOS OU MEDICINAIS: 273

15. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO: 297

Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

O artigo 297 se preocupa com a forma do documento público, pois a falsificação recai sobre seu corpo, sua
exterioridade, razão essa de ser chamada de falsidade material.

O que NÃO se considera documento público:

a) Documento particular (por exclusão).


b) Fotocópia de documento particular autenticada por tabelião.
c) Fotocópia de documento público não autenticada.
d) Telegrama.

• FALSIDADE DOCUMENTAL DEMANDA TRÊS REQUISITOS A SABER:


✓ Imitação da verdade;
✓ Possibilidade de dano;
✓ Dolo.

80
VEJAMOS CADA UM DELES:

✓ Imitatio veri (imitação da verdade): o agente imita a verdade ao fabricar o objeto material
(documento) semelhante ao verdadeiro. Assim terá a capacidade de enganar.
✓ Possibilidade de dano: o documento falsificado ou alterado deve ter potencialidade para enganar, e
desta forma, repercutir na esfera de direitos da vítima.
✓ Dolo: os crimes de falso são todos dolosos.

• BEM JURÍDICO TUTELADO

Fé pública

• SUJEITO ATIVO

Crime comum. Pode ser praticado por qualquer pessoa; porém, sendo o agente funcionário público, e
cometer o crime se valendo dessa condição, aumenta-se da sexta parte a pena.

§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena


de sexta parte.

• SUJEITO PASSIVO

Estado.

• CONDUTA NUCLEAR.

Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro.

Falsificar: está no sentido de contrafação (é a formação total ou parcial do documento). Pode ser: total,
quando ocorre a confecção integral de documento inexistente (o agente cria materialmente um documento
que não existia); ou parcial, se ocorre a modificação do documento verdadeiro (a parte que se modifica
possui autonomia jurídica, ou seja, o documento pode ser cindido).

Ex.: “A” subtrai do órgão público um espelho de documento em branco, e preenche seus espaços.

Alterar: altera-se um documento com a modificação das letras ou números existentes, ou com a
substituição da fotografia da pessoa.

Ex.: O sujeito modifica a data de validade da sua carteira de habitação.

• OBJETO MATERIAL

Documento público falsificado, no todo ou em parte, ou documento público verdadeiro alterado. Além de
funcionar como objeto material, o documento público também atua como elemento normativo do tipo.

✓ Documento público – é o elaborado por funcionário público competente, no exercício de suas


atribuições, com observância das formalidades legais.
✓ Documento particular – o conceito é obtido por exclusão. Trata-se daquele que não é público ou
equiparado a documento público.

EXEMPLO DE DOCUMENTOS PÚBLICOS:

✓ Duplicata;
✓ Ações de sociedade comercial;
✓ letra de câmbio;

81
✓ cheque.

IMPORTANTE!!!

Observações:

1. A cópia autenticada de documento público, também é considerada documento público.


2. A substituição da fotografia em carteira de identidade configura o crime do art. 297 do CP, falsidade
documental.
3. Compete à JUSTIÇA ESTADUAL o processo e julgamento dos crimes de falsificação e uso de
documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino. SÚMULA 104 DO STJ.

(MP-SP - 2012 - Promotor de Justiça) Foi considerada correta a seguinte alternativa: "A substituição de fotografia em
documento de identidade verdadeiro (cédula de identidade) pertencente a outrem, com intenção de falsificá-lo,
configura o crime de falsificação de documento público (art. 297, CP)"

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo geral, com a consciência e vontade de falsificar documento público, ou alterar documento público
verdadeiro, ciente da ilicitude de sua conduta.

Não há modalidade culposa

• CONSUMAÇÃO

Crime formal, o crime estará consumado no momento em que o agente falsifica ou altera o documento
público, independentemente de prejuízo ou qualquer outro resultado lesivo.

• PARÁGRAFOS TERCEIRO E QUARTO

Trazem condutas equiparadas. Crimes que atentam contra A PREVIDÊNCIA SOCIAL.

Na verdade, os referidos parágrafos tratam de crimes de falsidade ideológica, razão pela qual deveriam
ter sido inseridos no art. 299 do CP e não no art. 297. Essa alteração foi promovida pela lei 9.983/00, que
revogou parte da lei 8.212/91, que tratava dos crimes contra a previdência social.

O §4º, comete o delito quem omite, nos documentos mencionados no § 3°, nome do segurado e seus
dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços. Trata-se de
crime omissivo próprio ou puro, razão pela qual não admite a tentativa. A consumação ocorre no momento
em que o agente se abstém da conduta devida (inserção das informações nos documentos referidos no
parágrafo anterior).

§3º e §4º: competência da Justiça Federal.

• AÇÃO PENAL – PÚBLICA INCONDICIONADA.

Crime de elevado potencial ofensivo.

ANOTAÇÕES DE JURISPRUDÊNCIA

O prefeito que, ao sancionar lei aprovada pela câmara de vereadores, insere artigo estranho ao texto
original comete o crime de falsificação de documento público, majorado de 1/6 pela condição de funcionário
público.

Art. 297, §1º, CP.

82
Para o STJ a competência para processar e julgar a omissão de anotação de vínculo empregatício na CTPS é
da Justiça Federal, nos termos do art. 109, IV, CF/88.

Esse crime atenta contra um interesse da união federal.

Obs. Para a 1ª turma do STF é a JUSTIÇA ESTADUAL.

16. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR: 298

Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular
verdadeiro:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

Falsificação de cartão

Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular o cartão de crédito ou
débito.

Tudo aquilo que não for documento público é documento particular. Tudo aquilo que não está abarcado no
artigo 297 estará abarcado pelo artigo 298.

• BEM JURÍDICO

Fé pública

• SUJEITO ATIVO

Crime comum

• SUJEITO PASSIVO

Estado.

• CONDUTA NUCLEAR
Falsificar, no todo ou em parte documento particular ou alterar documento particular verdadeiro.
• OBJETO MATERIAL

Documento particular

Documento é todo instrumento destinado a fazer prova de fato juridicamente relevante, que não configura
documento público simples ou por equiparação.

• PARAGRAFO UNICO

A lei dispõe que o cartão de débito ou crédito se equipara a documento particular. Portanto, de acordo
com a doutrina majoritária e o entendimento dos tribunais superiores, considera-se documento particular,
para fins de reconhecimento do crime de falsidade documental, todo aquele não compreendido como
público, ou a este equiparado, e que, em razão de sua natureza e relevância, seja objeto da tutela penal – tal
como o cartão de crédito, por exemplo.

(FCC - 2014 -TRT18 - Juiz do Trabalho) "Falsificar cartão de crédito é: a) conduta atípica, b) falsificação de
documento público, c) falsidade ideológica, d) falsa identidade, e) falsificação de documento particular".
Gabarito: E.

83
Observações:

1. A fotocópia não autenticada não configura documento para fins de incidência do art. 298, CAPUT,
CP.

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo geral, independentemente de qualquer finalidade especifica.

Não há previsão de modalidade culposa.

• CONSUMAÇÃO

Trata-se de um crime formal, ocorre no momento da falsificação no todo ou em parte ou da alteração de


documento particular verdadeiro.

• CRIME FORMAL

Para a consumação não é necessária a utilização ou qualquer outro resultado lesivo.

• AÇÃO PENAL

Pública incondicionada.

17. FALSIDADE IDEOLÓGICA: 299

Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir
ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar
obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e
multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis, se o documento é particular.

Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a


falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte.

Na falsidade ideológica, o documento é formalmente verdadeiro, mas seu CONTEÚDO, a ideia nele lançada
é divergente da realidade. Exemplo: O sujeito, desatado em seu casamento afirma perante o tabelião o
estado civil de solteiro, fazendo inserir esta declaração em escritura pública, com a finalidade de prejudicar
os direitos de sua esposa em futuro e eventual divórcio.

Ano: 2015

Banca: Fundação Getúlio Vargas – FGV Prova: FGV - OAB - Advogado - XVII Exame de Ordem Unificado
Paulo pretende adquirir um automóvel por meio de sistema de financiamento junto a uma instituição bancária. Para
tanto, dirige-se ao estabelecimento comercial para verificar as condições de financiamento e é informado que, quanto
maior a renda bruta familiar, maior a dilação do prazo para pagamento e menores os juros. Decide, então, fazer falsa
declaração de parentesco ao preencher a ficha cadastral, a fim de aumentar a renda familiar informada, vindo, assim, a
obter o financiamento nas condições pretendidas. Considerando a situação narrada e os crimes contra a fé pública, é
correto afirmar que Paulo cometeu o delito de
A. falsificação material de documento público.
B. falsidade ideológica.
C. falsificação material de documento particular.
D. falsa identidade.

• BEM JURÍDICO TUTELADO

84
Fé pública. Em especial a autenticidade substancial dos documentos públicos e particulares.

Esse delito é conhecido como falso ideal, falso moral ou falso intelectual.

• SUJEITO ATIVO

Crime comum; porém, se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se da função, a
pena aumenta da sexta parte.

• SUJEITO PASSIVO

Estado.

• CONDUTA NUCLEAR
✓ Omitir; silencio intencional, exemplo: “A”, ao celebrar compromisso de comprar e venda de imóvel
de sua propriedade e recebe como sinal determinada quantia em dinheiro, deixa de mencionar a
existência de hipoteca incidente sobre o bem.
✓ Inserir; ocorrer quando o agente, por ato próprio, introduz declaração falsa ou diversa da que
deveria constar
✓ fazer inserir: ocorre quando o agente se vale da pessoa competente para introduzir a declaração
falsa ou diversa da que deveria constar.

Obs.: trata-se de um crime omissivo próprio, ou seja, não admite tentativa.

Declaração falsa ou diversa da que deveria ser escrita.

Com a finalidade de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente
relevante.

• OBJETO MATERIAL
✓ Documento público ou particular.
✓ Documento é o instrumento com valor probatório.

De tal sorte que, se o conteúdo não servir para provar fato algum, não será considerado documento para
fins do art. 299 do CP.

Não configura o crime de falsidade ideológica

1. Curriculum Lattes não é considerado documento para fins penais. Posto que seu conteúdo seja passível
de verificação por quem tenha interesse, fato que denota a atipicidade da conduta.
2. Declaração de pobreza: a falsificação da declaração de pobreza é fato atípico.
3. Petição apresentada em juízo, por ser passível de averiguação quanto à sua autenticidade, não
constitui objeto material da falsidade ideológica.

Portanto, para que o instrumento possa ser considerado documento para fins de falsidade ideológica é
necessário que faça prova por si mesmo, gozando de presunção absoluta de veracidade.

“Somente se configura o crime de falsidade ideológica se a declaração prestada não estiver sujeita a
confirmação pela parte interessada, gozando, portanto, de presunção absoluta de veracidade.” (STJ, RHC
46.569/SP, DJe 06/05/2015).

FINALIDADE: A falsidade ou omissão deve ter por finalidade alterar a verdade, prejudicar direito ou criar
obrigação, relativa a fato juridicamente relevante.

85
Exemplo: incluir falsamente na elaboração de contrato social de empresa, nome de terceira pessoa na
condição de sócia, mediante promessa de contraprestação mensal, com a finalidade de alterar a verdade
sobre fato juridicamente relevante.

IMPORTANTE!!!

Destarte, para a configuração do delito do art. 299 do CP, somente haverá o crime se a omissão ou
falsificação se relacionar a elemento essencial do documento.

Exemplo de falsidade ideológica: atestar falsamente ao juízo da execução a prestação de serviço para fins
de remição da pena.

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo geral, com especial finalidade: prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato
juridicamente relevante.

Fato juridicamente relevante: a omissão ou a declaração falsa deve servir para, de forma direta ou indireta,
prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. Deve, portanto,
estar relacionada a elemento essencial do documento. Uma simples irregularidade ou inverdade sem maior
potencial lesivo (ou seja, que não prejudique direito, crie obrigação ou altere a verdade sobre fato
juridicamente relevante) não tipifica o crime do art. 299 do CP.

Não há modalidade culposa.

• CONSUMAÇÃO

Crime formal, consuma-se com a prática de qualquer das condutas descritas, independentemente de
qualquer resultado naturalístico ou prejuízo para terceiros.

A falsidade ideológica é crime instantâneo, se consuma no momento da falsidade, embora seus efeitos
perdurem no tempo.

Dito isso, é importante frisar que esse é o marco inicial da prescrição.

Segundo o STJ, em razão do fato da falsidade recair sobre o conteúdo do documento, é desnecessária a
perícia, uma vez que a falsidade pode ser demonstrada por outros meios.

A ALTERAÇÃO OCORRE NO CONTEÚDO, E NÃO NA FORMA.

• PARÁGRAFO ÚNICO

A pena aumenta-se da sexta parte no caso de:

✓ Funcionário público que pratique o crime se valendo da função;


✓ Falsificação recair sobre assentamento do registro civil.
• AÇÃO PENAL

Pública incondicionada.

18. MOEDA FALSA: 289

Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou
no estrangeiro:

Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.

86
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire,
vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa.

§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à
circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário público ou diretor, gerente,
ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão:

I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei;

II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.

§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja
circulação não estava ainda autorizada.

• BEM JURÍDICO

Tutela-se a fé pública.

O STJ entende o crime de moeda falsa como pluridimensional, pois, não só protege de forma
preponderante a fé pública, mas o patrimônio do particular e a celeridade das relações empresariais e civis.

• SUJEITO ATIVO

Trata-se de um crime comum

• SUJEITO PASSIVO

Estado.

• CONDUTA NUCLEAR

A conduta típica consiste em falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de


curso legal no país ou no estrangeiro.

Fabricação: denominada como contrafação, exige a criação, material da moeda exemplo: O sujeito,
valendo-se de papel e tintas especiais, fabrica células de dinheiro.

Alteração: é a modificação da moeda originalmente verdadeira, para ostentar valor superior ao verdadeiro.
Exemplo: O agente faz a cédula de 2 reais se parecer com a nota de 200 reais.

• OBJETO MATERIAL

moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro.

Observações:

1. A falsificação de várias moedas no mesmo contexto fático configura crime único; contudo, tal
circunstância deve ser valorada negativamente na dosimetria da pena-base.
2. Se a moeda está fora de circulação a conduta é atípica.

Não configuram o crime de moeda falsa:

1. Desenhos e rabiscos (ausência de dolo).


2. Supressão de símbolos ou emblemas (ausência de potencialidade lesiva).

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3. Supressão da numeração para evitar rastreamento.
4. Condutas que diminuam o valor constante na moeda ou papel-moeda.
5. Moeda de padrão monetário extinto (ex.: Cruzeiro, Réis) – não se enquadram no conceito de moeda
de curso legal no País ou no estrangeiro.
6. Falsificação grosseira (ausência de potencialidade lesiva).

• FALSIFICAÇÃO GROSSEIRA

Quando a falsificação for grosseira o crime impossível (art. 17, caput, CP). para configurar 0 delito a cédula
falsa deve se assemelhar com a verdadeira e, assim, ter aptidão de enganar terceiros (imitativo veri). Caso
contrário não trará ofensa à fé pública, não configurando o crime do art. 289 do CP.

Ex.: uma pessoa faz uma falsificação grosseira em um papel A4 e vai até uma vendinha onde um senhor
humilde que está no caixa acha que aquele dinheiro é verdadeiro.

No entanto, pode ocorrer que a falsificação seja grosseira e inapta, de modo geral, para enganar terceiros,
mas, no caso concreto, tenha sido o meio fraudulento utilizado para enganar determinada pessoa.

É fundamental a capacidade de circulação da moeda falsa na sociedade como se verdadeira fosse.

ATENÇÃO: A falsificação deve apresentar aptidão para enganar, somente assim haverá
lesão à fé pública, ou seja, a imitação da moeda deve ser de elevado potencial para
enganar.

EXCEPCIONALMENTE, pode configurar estelionato nos termos da súmula 73 do STJ.

Ano: 2018 Banca: Centro de Seleção e de Promoção de Eventos UnB - CESPE CEBRASPE Prova: CESPE CEBRASPE - ABIN
- Agente de Inteligência - Língua Espanhola: A configuração do crime de moeda falsa exige que a falsificação não seja
grosseira. C. Certo E. Errado

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo geral

Obs.: O agente deve ter conhecimento do curso legal da moeda e que o produto da falsificação será posto
em circulação, vulnerando a fé pública.

Destarte, a produção de moeda para exibição artística não configura do delito em tela.

Não há previsão de modalidade culposa.

• CONSUMAÇÃO

Trata-se de um crime formal, consuma-se no momento da conclusão da falsificação ou alteração, ainda que
somente de uma única moeda. Não há necessidade de dano à terceiro, ou que o objeto material seja
colocado em circulação.

É irrelevante se o objeto vem a ser colocado em circulação, bem como se alguém suporta efetivo prejuízo.

ATENÇÃO: É suficiente a falsificação de uma só moeda metálica ou papel para configurar o crime.

Obs.: Trata-se de crime de perigo abstrato.

Em caso de desistência voluntária, o agente poderá responder pelo crime de petrechos para falsificação de
moeda (art. 291 do CP).

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• PARÁGRAFO PRIMEIRO

O objetivo do §1º é punir a circulação da moeda falsa, tratando -se de um tipo misto alternativo.

Tipo misto alternativo: O § 1° prevê crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado, ou seja, ainda que o
agente pratique vários verbos do núcleo do tipo, o crime será um só.

Na dosimetria da pena, o juiz pode levar isso em consideração e aumentar a pena, mas dentro dos limites
previstos.

Traz condutas equiparadas ao delito de moeda-falsa.

✓ Importar;
✓ Exportar;
✓ Adquirir;
✓ Vender;
✓ Trocar;
✓ Ceder;
✓ Emprestar;
✓ Guardar;
✓ Introduzir na circulação.

Aqui se puni não a pessoa que fabricou, mas a pessoa que fez circular a moeda falsa de modo intencional.

Se o autor da conduta descrita no parágrafo primeiro for o mesmo autor da falsificação, responderá
unicamente pelo delito do caput do art. 289 do CP.

• PARÁGRAFO SEGUNDO

Traz a modalidade privilegiada do tipo.

Aquele que recebe de boa-fé moeda falsificada ou alterada, após conhecer a falsidade a restitui a
circulação, responde na pena de detenção de 06 meses a 02 anos + multa.

O recebimento de boa-fé da moeda falsa é pressuposto do delito. Porem, se o agente recebeu a moeda de
má-fé, ou seja, com o conhecimento da sua falsidade incorrerá no art. 289, §1º.

Observações:

No crime de moeda falsa privilegiado somente ocorre a responsabilização do agente que agiu com dolo
direto, evidenciando a expressão “depois de conhecer a falsidade”. Em outras palavras, o fato será atípico,
evitando-se a responsabilidade penal objetiva, se o sujeito restitui a moeda à circulação, desconhecendo a
falsidade. Não se admite o dolo eventual.

No caso da má-fé ser desde o início, o agente responderá por conduta equiparada a moeda falsa nos
termos do parágrafo primeiro do art. 289, cp.

Obs.: O arrependimento posterior não pode ser aplicado nos crimes de moeda falsa.

A consumação da modalidade privilegiada ocorre no momento em que a moeda é posta em circulação.

Crime de menor potencial ofensivo.

Ano: 2014 Banca: Fundação Getúlio Vargas – FGV Prova: FGV - DPDF - Analista de Apoio à Assistência Judiciária - Área
Judiciária: Ângela recebeu, inadvertidamente, algumas notas falsas de R$ 50,00 (cinquenta reais) e não se recorda mais
de quem as obteve. As notas em questão foram recusadas em diversas oportunidades em estabelecimentos comerciais

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que dispunham de equipamento apropriado à verificação da autenticidade de papel-moeda. Mesmo assim, e sentindo-
se injustiçada por ter recebido as notas falsas em questão de boa-fé, como se verdadeiras fossem, continuou a repassá-
las em outros estabelecimentos.
Acerca de sua conduta, pode-se afirmar que Ângela:
A. não praticou crime algum, pois recebeu as notas em questão de boa-fé.
B. praticou o crime de moeda falsa, a ser punido com a mesma pena prevista para a falsificação da moeda falsa.
C. praticou forma privilegiada do crime de moeda falsa, pois repassou as notas sabendo serem falsas.
D. praticou o crime de estelionato, uma vez que não realizou a falsificação das notas em questão, tendo apenas as
restituído à circulação.
E. não praticou crime algum, pois não tem obrigação legal de reconhecer a falsidade de papel-moeda.

• CRIME PRÓPRIO: §3º.

Traz uma modalidade qualificada do delito.

Crime próprio, pois só será praticado por funcionário público, diretor, gerente ou fiscal de banco de
emissão de moeda.

A conduta incriminada:

Emitir ou fabricar:

✓ moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei;


✓ papel-moeda em quantidade superior à autorizada.

• DESVIO DE MOEDA E CIRCULAÇÃO ANTECIPADA: §4º.

Descreve mais uma modalidade qualificada, quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação não estava
ainda autorizada.

Atenção: No caso no §3º e §4º a moeda não é falsa, ela apenas foi colocada de maneira indevida, que
pode afetar a economia do país.

• OBJETO MATERIAL

Moeda verdadeira e fabricada licitamente, mas que não tinha autorização para circular. Portanto, a
conduta criminosa consiste em colocar a moeda em circulação antes da autorização competente.

IMPORTANTE!!!! ENTENDIMENTO DO STF E STJ.

Não se aplica a insignificância penal aos crimes de moeda falsa.

Isso se dá em razão da natureza do bem jurídico tutelado: a fé pública.

O crime de moeda falsa vulnera um bem jurídico metaindividual, bem como abala a confiança no sistema
monetário do país, pondo em risco a própria economia.

• COMPETÊNCIA

Para imprimir moeda é privativa da união federal, por meio do banco central do brasil, uma autarquia
federal.

Essa autarquia federal integra a administração pública indireta federal. Portanto, de acordo com o art. 109,
IV, CF/88, a competência para processar e julgar o delito de moeda falsa é da JUSTIÇA FEDERAL.

• AÇÃO PENAL

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Pública incondicionada;

• CRIME DE ELVADO POTENCIAL OFENSIVO

Em regra, salvo a modalidade privilegiada do parágrafo segundo.

19. PETRECHO PARA FALSIFICAÇÃO DE MOEDAS: 291

Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo,
aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

As condutas tipificadas no art. 291 do CP poderiam ser enquadradas como atos preparatórios do crime de
moeda falsa do art. 289 do cp. Contudo, atos preparatórios são impuníveis, pois servem de normal iter para
a consumação do crime final.

Desta forma, o legislador tipificou tais condutas dentro de tipo penal autônomo, com a intenção de colocar
um obstáculo ao crime de moeda falsa, dificultando a consumação do crime do art. 289 do CP.

O crime de petrecho para falsificação é classificado na doutrina como CRIME-OBSTÁCULO.

• BEM JURÍDICO

Fé pública, no que toca à confiança que deve haver em relação à moeda de curso legal no país ou no
estrangeiro.

• SUJEITO ATIVO

Crime comum

• SUJEITO PASSIVO

Estado

• CONDUTA NUCLEAR
✓ Fabricar; criar, montar
✓ Adquirir; comprar ou obter
✓ Fornecer; proporcionar, dar, vender ou entregar
✓ Possuir; exercer a posse
✓ Guardar: conservar, manter ou proteger.

• OBJETO MATERIAL

É maquinismo, instrumento, aparelho ou qualquer objeto especialmente voltado à falsificação de moeda.

Observações:

1. A conduta de fornecer pode se dá de forma onerosa ou gratuita, não importa, o crime se consuma da
mesma forma.
2. Se ficar demonstrado que o autor da fabricação do petrecho para falsificação, utilizar tal maquinário na
simulação de moedas, o delito do art. 291 do CP restará absorvido pelo art. 289 do CP.
3. A expressão “especialmente destinada à falsificação” contida no tipo legal, demanda uma
interpretação temperada à luz do dolo do agente no caso concreto. Portanto, não há necessidade de
que o maquinismo, instrumento ou aparelho tenha destinação exclusiva para a contrafação de moedas,

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uma vez que nem mesmo a casa da moeda utiliza instrumentos com essa finalidade específica. Desta
forma, ainda que o agente detenha uma impressora para uso doméstico, desde que demonstrada a
finalidade de adulteração de moedas, o crime estará consumado.

Prova: CESPE CEBRASPE - DPF - Delegado - 1º Simulado Pós Edital: Para tipificar o crime descrito no art. 291 do CP,
basta que o agente detenha a posse de petrechos com o propósito de contrafação da moeda, sendo prescindível que
o maquinário seja de uso exclusivo para tal fim. C. Certo E. Errado
Em outras palavras, o aparelho encontrado serve para outras finalidades, e também é empregado na
falsificação de moedas.

A expressão “especialmente” é diferente de “exclusivamente”.

É a dicção do STJ.

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo, independentemente de qualquer finalidade especifica.

Não há modalidade culposa.

• CONSUMAÇÃO

Trata-se de um crime formal, consuma-se no momento da realização da conduta.

• AÇÃO PENAL

Pública incondicionada

• COMPETÊNCIA PARA PROCESSO E JULGAMENTO

Justiça federal.

ART. 109, IV, CF/88.

ANOTAÇÕES GERAIS DE JURISPRUDÊNCIA

Nos crimes contra a fé pública, não incide o arrependimento posterior previsto no art. 16, CAPUT, CP.

Isso se dá em razão de ser a coletividade a vítima da conduta de falso e a fé pública o bem jurídico
abalado, sendo, portanto, insuscetível a reparação do dano.

Desta forma, os crimes contra a fé pública, tal qual os demais crimes não patrimoniais, são incompatíveis
com instituto do arrependimento posterior, uma vez que não é possível a reparação do dano ou restituição
da coisa.

Ano: 2018 Banca: Fundação Getúlio Vargas – FGV Prova: FGV - OAB - Advogado - XXVII Exame de Ordem Unificado
Talles, desempregado, decide utilizar seu conhecimento de engenharia para fabricar máquina destinada à falsificação
de moedas. Ao mesmo tempo, pega uma moeda falsa de R$ 3,00 (três reais) e, com um colega também envolvido com
falsificações, tenta colocá-la em livre circulação, para provar o sucesso da empreitada. Ocorre que aquele que recebe a
moeda percebe a falsidade rapidamente, em razão do valor suspeito, e decide chamar a Polícia, que apreende a moeda
e o maquinário já fabricado. Talles é indiciado pela prática de crimes e, já na Delegacia, liga para você, na condição de
advogado(a), para esclarecimentos sobre a tipicidade de sua conduta. Considerando as informações narradas, em
conversa sigilosa com seu cliente, você deverá esclarecer que a conduta de Talles configura

A. atos preparatórios, sem a prática de qualquer delito.


B. crimes de moeda falsa e de petrechos para falsificação de moeda.

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C. crime de petrechos para falsificação de moeda, apenas.
D. crime de moeda falsa, apenas, em sua modalidade tentada.

CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA


1. INCITAÇÃO A CRIME: ART. 286, CP.

Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime:

Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.

• BEM JURÍDICO

Paz pública.

• SUJEITO ATIVO

Crime comum, pode ser praticado por qualquer pessoa.

• SUJEITO PASSIVO

Atingi a coletividade (crime vago)

• CONDUTA NUCLEAR

Incitar, publicamente, a prática de crime.

✓ Incitar: significa estimular, açular, instigar, induzir. A incitação deve relacionar-se com a pratica de
um crime determinado. Exemplo: “A” circula em via pública com um carro de som estimulado as
pessoas a roubarem os bancos para quitarem suas dívidas.
✓ Publicamente: a incitação deve ser realizada em público, permitindo alcançar um número
indeterminado de pessoas.

Observações:

I. A conduta para ser incursa no art. 286 deve ser praticada publicamente, ainda que dirigida a uma
única pessoa. Portanto, a publicidade é elementar do tipo.
II. Se a incitação disser respeito à prática de contravenção penal, não haverá o crime do art. 286 do CP.
III. A conduta de incitar deve se referir a crimes determinados.
IV. Trata-se de crime de forma livre: pode ser praticado por qualquer meio de execução (palavras,
manifestos escritos, gestos etc.).
V. Crime de perigo abstrato (o risco à paz pública é presumido).

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo, independentemente de qualquer finalidade especifica, apenas na vontade de incitar, publicamente, a


prática de crime, tendo o agente ciência que sua conduta se dirige a um número indeterminado de pessoas.

Não há previsão de modalidade culposa.

• CONSUMAÇÃO

Crime formal, se consuma no momento em que a incitação seja percebida por um número indeterminado
de pessoas, ainda que o crime incitado não se realize.

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• AÇÃO PENAL

Pública incondicionada.

2. APOLOGIA A CRIME OU A CRIMINOSO: 287

Art. 287 - Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime:

Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.

• BEM JURÍDICO

Tutela a paz pública.

• SUJEITO ATIVO

Crime comum, pode ser praticado por quaisquer pessoas.

• SUJEITO PASSIVO

É a coletividade (crime vago).

• CONDUTA NUCLEAR

Fazer, publicamente, apologia de:

✓ Fato criminoso; cujo definição deve ser encontrado no CP.


✓ Autor de crime: a pessoa envolvida na pratica do delito.

Fazer apologia: significa louvar, aprovar, exaltar, elogiar, defender.

Publicamente: a conduta do agente deve ser percebida por um número indeterminado de pessoas.

A PUBLICIDADE É ELEMENTAR DO TIPO – desta forma é imperativo que a apologia seja percebida por um
número indeterminado de pessoas. Se a apologia versar sobre contravenção penal não haverá o delito do
art. 287 DO CP.

Crime de perigo abstrato – risco presumido pelo legislador.

Apologia ao crime X incitação ao crime

Apologia ao crime incitação ao crime


Estimulo indireto Estimulo direto
Exemplo: Um jornalista na Tv ao vivo elogia - Exemplo: “A” sobe em um carro de som e
publicamente- a execução de assaltantes por incentiva a população a agredir moradores de rua
grupos de extermínio. até a morte.

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo, caracterizado pela vontade de praticar o núcleo do tipo, devendo o agente estar ciente que sua
conduta atinge um número indeterminado de pessoas e que há uma instigação implícita de crime ou de
autor de crime.

Não forma culposa.

• CONSUMAÇÃO

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Crime formal, se consuma independentemente da efetiva perturbação da paz pública.

IMPORTANTE!!!

Se, no mesmo contexto fático, o agente faz apologia de vários crimes ou de vários criminosos, haverá
concurso formal de crimes, e não crime único.

• AÇÃO PENAL

Pública incondicionada

• CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO.

3. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA: 288

Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.

Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de
criança ou adolescente.

A lei 12.850/13 alterou a nomenclatura do delito do art. 288, CP, de quadrilha ou bando para associação
criminosa, além do que, deu nova redação ao tipo penal.

• BEM JURÍDICO

Paz pública.

• SUJEITO ATIVO

Crime comum.

1. Crime de concurso necessário ou plurissubjetivo: A associação criminosa é delito de concurso


necessário ou plurissubjetivo. É necessária a reunião de pelo menos três pessoas para a
configuração do referido delito.
2. Inimputáveis ou doentes mentais: são contabilizados para fins de configuração do delito de
associação criminosa. Portanto, se o autor se associar com outros três adolescentes, para o fim
específico de cometer crimes, o delito em tela estará configurado.
3. A questão do agente não identificado: também entra no cômputo legal. Desta forma, é despiciendo
a identificação de todos os integrantes da associação, bastando que fique demonstrado por outros
meios de prova.
4. Agente que tem extinta sua punibilidade: A eventual extinção da pena em relação a algum dos
componentes da associação não interfere na tipificação.
5. Agentes que não se conhecem: O fato dos integrantes não se conhecerem pessoalmente, ou
residirem em localidades distintas, não interfere na tipificação do delito em tela.

BASTA QUE O FIM ALMEJADO PELA EMPRESA CRIMINOSA SEJA A PRÁTICA DE CRIMES.

• SUJEITO PASSIVO

Coletividade (crime vago).

• CONDUTA NUCLEAR.

Associarem-se 03 ou mais pessoas, com o fim específico de cometer crimes.

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REQUISITOS

✓ ELEMENTO OBJETIVO - reunião estável e permanente de, pelo menos, 03 pessoas;


✓ ELEMENTO SUBJETIVO - acordo prévio de vontades voltado à prática de crimes indeterminados.

Os requisitos apontados acima é o que distingue a associação criminosa do concurso eventual de agentes.

Associação de pessoas Concurso de pessoas


União estável e permanente de três ou mais União eventual ou momentânea de pessoas.
pessoas.
Intenção de praticar um número indeterminado Intenção de cometer um ou alguns crimes
de crimes. determinados.
Consuma-se com a simples associação estável e Consuma-se com a pratica de atos de execução da
permanente, ainda que nenhum delito seja empreitada criminosa.
efetivamente praticado.

Ano: 2014 Banca: Fundação Getúlio Vargas – FGV Prova: FGV - OAB - Ordem dos Advogados do Brasil - Advogado - XV
Exame de Ordem Unificado Numerosos cidadãos, sem qualquer combinação prévia, revoltados com os sucessivos
escândalos e as notícias de corrupção envolvendo as autoridades locais, vestiram-se totalmente de preto e foram para
as escadarias da Câmara Municipal, após terem escutado do prefeito, durante uma entrevista ao vivo, que os
professores municipais eram marajás. Lá chegando, alguns manifestantes, também sem qualquer combinação ou liame
subjetivo, começaram a atirar pedras em direção ao referido prédio público e, com isso, três vidraças foram quebradas.
A polícia, com o auxílio das imagens gravadas e transmitidas pela imprensa, conseguiu identificar todas as pessoas que
atiraram pedras e danificaram o patrimônio público. Nesse sentido, tendo por base as informações apresentadas no
fragmento acima, assinale a afirmativa correta.
A. Os cidadãos devem responder pelos crimes de associação criminosa (Art. 288, do CP) e dano qualificado (Art. 163, §
único, inciso III, do CP).
B. Descabe falar-se em crime de associação criminosa (Art. 288, do CP), pois, dentre outras circunstâncias, a reunião
das pessoas, naquele momento, foi apenas eventual.
C. Deve incidir, para o crime de dano qualificado (Art. 163, parágrafo único, inciso III, do CP), a circunstância agravante
do concurso de pessoas.
D. Não houve a prática de nenhum ato criminoso, pois as condutas descritas não encontram adequação típica e, mais
ainda, não havia dolo específico de deteriorar patrimônio público.

IMPORTANTE!!! NÃO SERA APLICADO O ARTIGO 289:

1. O tipo penal não exige uma organização estruturada, bastando a permanência e estabilidade da
reunião, mais a especial finalidade de agir, que se traduz no acordo prévio de vontades com o intuito
de praticar crimes indeterminados.

2. Se a associação se constituir para a prática de um único crime, ou de um número determinado de


crimes, o delito em tela não se configura, havendo mero concurso eventual de agentes.

3. Se a finalidade da reunião criminosa for a prática de contravenção penal, não haverá o crime do art.
288 do CP.

4. Os crimes referidos no tipo são de natureza dolosa; de modo que não haverá reunião estável e
permanente para a prática de crimes preterdolosos ou culposos.

• ELEMENTO SUBJETIVO

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Dolo, especial finalidade de agir, com o fim específico de cometer crimes. Há que se demonstrar o ânimo de
associação de caráter estável e permanente.

Não há modalidade culposa.

• CONSUMAÇÃO

Crime formal, se consuma ainda que nenhuma infração seja perpetrada.

Delito de perigo abstrato.

Trata-se de crime permanente, cuja consumação se protrai no tempo. A consequência é que a qualquer
momento pode ocorrer o flagrante delito.

• PARÁGRAFO ÚNICO:

A pena aumenta-se de metade se:

✓ Associação for armada;


✓ Envolver a participação de criança ou adolescente.

A arma para fins da majorante pode ser própria ou imprópria.

Causa de aumento em análise incide ainda que somente um dos associados esteja armado; incide,
também, ainda que não haja porte ostensivo ou utilização efetiva.

IMPORTANTE!!!!

Se a associação for voltada à prática de crimes hediondos, tortura ou terrorismo, a pena do art. 288, CP,
será de reclusão de 03 a 06 anos.

PREVISÃO LEGAL: ART. 8º, CAPUT, LEI 8.072/90.

• AÇÃO PENAL É PÚBLICA INCONDICIONADA.

4. CONSTITUIÇÃO DE MILÍCIA PRIVADA: 288-A

Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.

Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de
criança ou adolescente.

• BEM JURÍDICO

Paz pública

• SUJEITO ATIVO

Crime comum.

Trata-se de crime plurissubjetivo ou de concurso necessário; para a configuração do delito, ainda que não
previsto em lei, impõe-se uma interpretação sistemática no sentido de constatar a presença de pelo menos
três pessoas.

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• SUJEITO PASSIVO

É coletividade (crime vago), afeta um número indeterminado de pessoas.

• CONDUTA NUCLEAR
✓ Constituir; formar, fundar.
✓ Integrar; colocar em ordem;
✓ Manter; tornar-se parte de um grupo qualquer.
✓ Organizar; conservar, manter;
✓ Custear: arcar com os custos financeiros da manutenção.

ORGANIZAÇÃO PARAMILITAR, MILÍCIA PRIVADA, GRUPO OU ESQUADRÃO, CUJA FINALIDADE PRECÍPUA


SEJA DE PRATICAR QUALQUER DOS CRIMES PREVISTOS NO CÓDIGO PENAL.

• Organização paramilitar: é a associação civil que age ao arrepio da lei e possui organização e
estrutura semelhantes à militar (armamento, hierarquia, técnicas de combate, etc.).

• Milícia particular: é o agrupamento armado e estruturado de civis, inclusive com a participação de


militares fora das suas funções, com a finalidade de restaurar a segurança em locais controlados pela
criminalidade, em fase da omissão do Estado.

Observações:

1. O art. 288-A, CP, é um tipo penal aberto, uma vez que o legislador deixou a cargo do intérprete,
definir o que seja considerada: organização paramilitar, milícia privada, grupo ou esquadrão para
fins penais.
2. A organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão deve ser de natureza estável e
permanente, posto que, será essa característica que distinguirá o crime do art. 288-A, do concurso
ocasional de agentes.
3. Portanto, em que pese o fato do tipo penal ser omisso nesse ponto, a doutrina e jurisprudência são
uníssonas no sentido de afirmar a necessidade de um número mínimo legal de 03 pessoas e os
requisitos da estabilidade e permanência para caracterizar o delito do art. 288-A, CP.
4. Se a reunião for para a prática de contravenção penal, não incidirá o art. 288-A, CP.
5. O art. 288-A somente se consuma em relação aos crimes dolosos.

• ELEMENTO SUBJETIVO

Dolo geral, com a especial finalidade de agir: praticar qualquer crime previsto no CP, desde que doloso.

Não há modalidade culposa.

• CONSUMAÇÃO

Crime formal.

Crime permanente.

Crime de perigo abstrato.

Por ser crime-obstáculo não admite tentativa.

Observação: o crime-obstáculo é aquele cuja conduta incriminada consiste em atos preparatórios de outro
crime, atos que em regra são impuníveis, mas que, diante da relevância do bem jurídico protegido, e do risco
de lesão ao mesmo, o legislador antecipa a tutela penal.

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• AÇÃO PENAL

Pública incondicionada.

• CRIME DE ELEVADO POTENCIAL OFENSIVO.

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