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Direito Penal – Turma SEAP 2011

Professora Marcia Cristina


E-mail: marcia.ferreira@itaborai.rj.gov.br

1. Conceito de Crime: Para que haja a pratica de um crime, necessário se faz


que o fato seja TÍPICO, ANTIJURÍDICO/ILÍCITO E CULÁVEL.

Fato Típico: É conduta, ou seja, comportamento humano, que produz


resultado previsto na lei penal como infração.

Antijurídico: É a conduta ilícita, ou seja, contrária ao direito.


Exemplos de exclusão de ilicitude: Estado de necessidade, legítima defesa,
estrito cumprimento do dever legal e exercício regular do direito.

Culpa: Para que se possa falar em crime culposo, é indispensável à existência


de 03 requisitos:
a- Conduta humana voluntária: Só há crime culposo quando o agente fez ou
deixa de fazer algo. Tem que haver uma conduta humana voluntária positiva
ou negativa, sendo assim, não havendo voluntariedade na conduta humana não
há o que falarmos em crime.
Ex.: uma pessoa dirigindo o seu veículo e mesmo observando todos os deveres
de cuidado inerentes direção deste, espirra e acaba atropelando uma outra
pessoa que passa na sua frente, neste caso específico, muito embora haja lesão
corporal na pessoa atropelada não há o que falarmos em existência de crime
pela falta de voluntariedade na pratica da conduta.

b- Falta de dever de cuidado objetivo manifestado pela Imprudência,


Negligência ou Imperícia: Os seres humanos por viverem em sociedade estão
sujeitos a algumas regras em suas relações sociais. E o dever de cuidado
objetivo é uma dessas regras, e nada mais é do que o cuidado normal que as
pessoas tem no seu dia-a-dia. Quem age com a falta de cuidado objetivo está
sendo IMPRUDENTE (conduta positiva em que o agente faz mais do que
deveria, praticando um ato perigoso), NEGLIGENTE (conduta negativa em
que o agente faz menos do que deveria) ou IMPERITO (é a imprudência ou a
negligência no terreno específico da arte, técnica, ofício ou profissão).
CRIMES CONTRA A ADMINSTRAÇÃO PÚBLICA

1- Introdução

Os crimes praticados por funcionários públicos contra a administração em


geral só podem ser praticados de forma direta por funcionário público, por
este motivo eles são chamados de crimes funcionais.
Estes crimes são inseridos na categoria de crimes funcionais próprios, porque
a própria lei exige uma característica específica do sujeito ativo para a pratica
de tais crimes, que ele seja funcionário público.

Classificação dos crimes funcionais:

Crimes funcionais próprios São aqueles cuja exclusão da


qualidade de funcionário público
torna o fato atípico (deixa de ser
crime).
Ex: Crime de Prevaricação –
provando-se que o sujeito não é
funcionário público o fato torna-se
atípico.
Crimes funcionais impróprios A exclusão da qualidade de
funcionário público importará da
subsistência de outro crime.
Ex.: Peculato, se for comprovado que
o agente não era funcionário público,
subsistirá o crime de apropriação
indébita.

Observação: É perfeitamente possível que o agente, mesmo não sendo


funcionário público responda pelo crime de peculato, como co-autor ou
partícipe. Já que conforme disposto no artigo 30 do Código Penal as
circunstâncias de caráter pessoal, quando elementares do crime, comunicam-
se a todas as pessoas que dele participem. Porém exige-se que o terceiro que
participou do crime saiba da condição de funcionário público do outro.
Ex.: Funcionário público e não funcionário público, furtam bens do estado,
ambos responderão pelo crime de Peculato, desde que o particular tenha
conhecimento da condição de funcionário público do outro agente.
2- O funcionário público para fins penais

Segundo o artigo 327 do Código Penal são considerados funcionários públicos


para fins penais, quem embora transitoriamente e mesmo sem remuneração
exerce cargo, emprego ou função pública.

Cargos: São criados por lei, com determinação própria e remuneração paga
pelos cofres públicos.

Emprego: são os contratados pela CLT e os empregados temporários. Ex.:


mensalistas e contratados.

Função Pública: Abrange qualquer atribuição pública que não corresponda a


cargo ou emprego público. Ex.: jurados, mesários, etc.

OBS1: São funcionários públicos o Presidente da República, os Prefeitos, os


Vereadores, os Juízes, Delegados, Oficial de Justiça, etc.

OBS2: Não são funcionários públicos: Os concessionários de serviço público,


curadores, tutores nomeados, inventariantes, síndicos de massa falida, etc.

§ 1º do artigo 327 – Funcionário público por equiparação:


Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em
entidade paraestatal.
São entidades paraestatatis:
a) Autarquias – Ex.: Inss
b) Fundações Públicas – Ex.: Funai
c) Empresas Públicas: Ex.: Caixa Econômica Federal
d) Sociedades de Economia Mista: Ex.: Banco do Brasil e Petrobrás.

Mesmo em se tratando de pessoa jurídica com personalidade jurídica de


direito privado, os seus agentes são considerados funcionários públicos por
equiparação.
AUMENTO DE PENA:
Artigo 327, § 2º - A pena será aumentada da terça parte (1/3) quando os
autores dos crimes previstos neste capítulo forem ocupantes de cargos em
comissão ou função de direção ou assessoramento da administração pública ou
fundação instituída pelo poder público.

OBS: Cargo em comissão: é o cargo em que o agente é nomeado em


confiança, sem a necessidade de concurso público.
O aumento de pena também irá ocorrer quando o agente ocupa função de
direção ou assessoramento.

3- PECULATO

O crime de peculato poderá ser na modalidade dolosa ou culposa, sendo que


na modalidade dolosa ele ainda subdivide-se.

 peculato-apropriação – art. 312,


caput – 1ª parte do CP
Peculato-doloso  peculato-desvio – art. 312, caput
– 2ª parte do CP.
 peculato-furto – art. 312, § 1º
 Peculato mediante erro de
outrem – art. 313
Peculato-culposo artigo 312, § 2º

3.1- Peculato-apropriação

Artigo 312, caput, 1ª parte – Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou


qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem posse em razão do
cargo......

Apropriar-se: fazer sua a coisa de outra pessoa, invertendo o ânimo sobre o


objeto. O funcionário tem a posse do bem, mas passa a atuar como se fosse
dono do mesmo.
O funcionário público deve ter a posse do bem em razão do cargo. Esta posse
deve ser obtida de maneira lícita, se houver violência ou grave ameaça para a
aquisição do bem não haverá crime de peculato e sim de extorsão ou roubo.

Dinheiro, valor ou qualquer outro bem: É o objeto do crime de peculato, a


coisa móvel, pois não existe peculato de bem imóvel.

A lei tutela o bem público e o bem do particular que esteja sob guarda da
administração pública. Neste último caso, quando o funcionário público se
apropria de bem de particular sob custódia da administração a doutrina chama
de peculato malversação.
Exemplo: Carteiro que se apossa de dinheiro que se encontrava em uma
correspondência; ISAP que se apropria de MP3 sob sua custódia; policial que
ao apreender objeto de bandido fica com ele.

Atenção: A coisa do particular necessariamente tem que estar sobre a custódia


da administração pública.

A consumação do crime ocorre no momento em que o funcionário público


passa a se comportar como sendo o dono da coisa.

3.2- Peculato-desvio

Artigo 312, caput, 2ª parte - ....ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:

DESVIAR: alterar o destino. Aqui o funcionário público emprega o objeto, o


qual tem a posse, em um fim diverso ao de sua destinação original, com o
intuito de beneficiar-se o beneficiar a terceiros.

Exemplo: Funcionário público que paga a alguém por serviço não prestado;
Funcionário qu empresta dinheiro público para ajudar a amigos.

O proveito pode ser material ou moral, como a obtenção de vantagem política.

OBS: Uma eventual aprovação das contas pelo Tribunal de Contas não exclui
o crime de peculato-desvio.
3.3- Peculato-furto

Artigo 312, parágrafo 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público,


embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para
que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe
proporciona a qualidade de funcionário.

O peculato-furto também é chamado de peculato impróprio.

SUBTRAIR: furtar, tirar, desapossar com ânimo de assenhoramento.

Exemplos: Funcionário público que leva valores do cofre da repartição;


Policial civil que se apropria de peças de veículo no pátio da
delegacia.

O objeto do crime aqui é qualquer bem público ou particular que esteja sob a
custódia da administração. Assim, caso o policial seja chamado para lavrar
uma ocorrência e durante da lavratura desta se apropria de toca-fitas do
veículo, haverá crime de furto, porque o bem (veículo) não estava sob a
custódia da administração pública.

Concorrer para que terceiro subtraia o bem: O funcionário público tem que
concorrer dolosamente para a subtração do bem.

No peculato-furto o agente (funcionário público) tem que se valer de alguma


facilidade proporcionada pelo seu cargo – Ex.: menor vigilância sobre ele,
chave da repartição, livre acesso a determinado local. Sem a presença da
“facilidade” atribuída ao funcionário público haverá furto comum.
Exemplo: Funcionário público que vai ao prédio da repartição à noite e
arromba a janela para subtrair pertences, aqui haverá crime de furto e não de
peculato-furto, pois o crime foi realizado da maneira que qualquer um poderia
realizar. Por outro lado, se o funcionário entra na repartição com a chave que
possui em razão da função haverá crime de peculato-furto.
3.4- Peculato-culposo

Artigo 312, parágrafo 2º- Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem.
Pena: detenção, de três meses a um ano.

Se o funcionário concorre para a pratica de um crime por negligência,


imprudência ou imperícia.

Requisitos do crime de peculato culposo:

a) Conduta culposa do agente: É o caso do funcionário público que falta


com o seu dever de cautela normal.
b) Que terceiro pratique um crime doloso aproveitando-se da facilidade
provocada por funcionário público, pouco importando se o terceiro é
funcionário público ou não.

Exemplos: Funcionário público deixa a janela da repartição aberta por


negligência (esquecimento) e terceiro (podendo ser particular) adentra na
repartição e subtrai os equipamentos. O particular responderá por furto e o
funcionário público por peculato-culposo.

Policial militar que deixa a viatura aberta em frente a delegacia e o rádio


transmissor é furtado por terceiros, responderá o policial por peculato-
furto.

Reparação do DANO no PECULATO EFEITOS DA reparação do DANO no


CULPOSO PECULATO DOLOSO
Se ocorrer antes da sentença judicial Jamais haverá a extinção da punibilidade.
transitada em julgado, extingue a (só ocorre no culposo)
punibilidade.
Se ocorrer após o transitado em julgado, Se a reparação ocorrer antes do recebimento
reduz a pena na metade. da denúncia, por ato voluntário do agente, a
pena será reduzida de 1/3 a 2/3.
NÃO SE APLICA AO PECULATO Se a reparação ocorrer após o recebimento
DOLOSO. da denúncia, será aplicada a atenuante
genérica do artigo 65, inciso III do C.P.
Se a reparação ocorrer em grau de recurso,
poderá de aplicada a atenuante inominada
do artigo 66 do C.P.

3.5- Peculato mediante erro de outrem

Artigo 313 – Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no


exercício do cargo, recebeu por erro de outrem.
Pena: reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Essa modalidade é denominada peculato-estelionato, uma vez que a vítima


entrega um bem ao agente por estar em erro. E esse erro não é provocado pelo
agente (funcionário público).

No peculato mediante erro de outrem o funcionário público recebe dinheiro ou


qualquer coisa móvel de valor econômico e, percebendo o erro da vítima,
apodera-se do bem, não o devolvendo ao proprietário.

Aqui, exige-se que o funcionário/agente tenha conhecimento de que o bem lhe


tenha sido entregue por erro.

4- Inserção de dados falsos em sistema de informação

Artigo 313-A – Inserir ou facilitar o funcionário autorizado, a inserção de


dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos
sistemas informatizados ou bancos de dados da administração pública,
com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem, ou causar
dano.

A pena deste crime é bem alta, de 2 a 12 anos, como forma de coibir a


inserção, a alteração ou exclusão de dados do sistema da administração
pública. É muito mais fácil inserir ou alterar dados a modificar o sistema
(programa), por esta razão a pena é maior aqui.
5- Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informação

Artigo 313-B – Modificar ou alterar sistema de informações ou programa


de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente.
Pena: 3 meses a 2 anos, e multa

Parágrafo único: Aumento da pena de 1/3 a metade se resultar dano para a


administração pública ou para o administrado.

Muito embora este crime seja mais grave do que a inserção de dados. Diante
da facilidade de cometimento da inserção e alteração de dados, o legislador
puniu de maneira mais rigorosa quem insere ou altera dados.
Contudo, na modificação de sistema de informação ou programa, o legislador
deixou uma agravante de 1/3 à metade se houver danos à administração ou ao
administrado.

6. Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento. – Artigo


314 do CP.

Artigo 314 do CP – “Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem guarda
em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente”:
Pena: reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constituir crime mais grave.”

Sujeito ativo: o funcionário público.


Sujeito passivo: O Estado e eventualmente o particular que tenha documento
sob guarda da administração.

A lei pune 03 condutas do agente público:


a) Extraviar: Fazer desaparecer ou ocultar;
b) Sonegar: não apresentar, não exibir quando alguém solicita;
c) Inutilizar: tornar imprestável.

Aqui a conduta deve recair sobre livro oficial ou qualquer documento público
ou particular que esteja sob a guarda da administração.
OBS: Aquele que inutiliza documento com valor probatório que tenha
recebido na qualidade de advogado ou procurador pratica o crime do artigo
356 do CP (sonegação de papel ou objeto de valor probatório). Por outro lado,
se particular subtrai, inutiliza total ou parcialmente livro oficial, processo ou
documento sob custódia da administração comete o crime do artigo 337 do CP
(subtração ou inutilização de livro ou documento).

7- Emprego irregular de verbas ou rendas públicas

Artigo 315 do CP – Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da


estabelecida em lei.
Pena – Detenção, de três meses, ou multa.

Aqui o delito versa sobre a irregularidade na aplicação dos recursos públicos.

Sujeito ativo: Apenas o funcionário público que tem o poder de dispor das
verbas públicas.
Sujeito passivo: O Estado e a entidade lesada.

Neste delito o funcionário público não se apropria ou subtrai as verbas em


proveito próprio ou de terceiro. Ele emprega a verba pública em proveito da
própria administração, o ilícito, porém, reside no fato do funcionário empregar
a verba de forma distinta da disposta em lei.
E.: O funcionário público deveria empregar o dinheiro na obra A e acaba
empregando o dinheiro na obra B.

Pressuposto para o cometimento do crime: Existência de lei ou regulamento


determinando a correta aplicação da verba pública e que o agente a empregue
de maneira contaria a lei ou regulamento.

OBS: Não basta o desrespeito a decretos ou a outros atos administrativos,


para a caracterização do delito tem que haver o desrespeito à lei.
8- Concussão

Artigo 316 do CP: “Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,


ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem
indevida.
Pena – reclusão, de dois a oito anos.”

Conceito: A concussão é o crime em que a vítima é obrigada a conceder


vantagem indevida a funcionário público em razão do temor de uma represália
imediata ou futura decorrente de exigência feita por este e relacionada
necessariamente a sua função.

Na Concussão o funcionário EXIGE alguma vantagem e essa exigência,


necessariamente tem que carregar alguma ameaça à vítima, pois ao contrário
haveria mero pedido, o que caracterizaria o crime de corrupção passiva.

Na realidade temos uma proximidade muito grande entre a Concussão e a


Corrupção Passiva, o elemento que vai diferenciar uma da outra é a exigência
da vantagem indevida existente na concussão e esta exigência ainda tem que
vir carregada de algum tipo de ameaça à vítima.
E esta ameaça pode ser Explicita ou Implícita.
a) Ameaça Explícita: exigir dinheiro para permitir o funcionamento do
comércio sem licença; para não instaurar inquérito; para permitir a construção
de obra, etc.
b) Ameaça Implícita: Não há promessa de um mal determinado, mas a vítima
se amedronta com o exercício do cargo. Ex.: ação fiscal em um restaurante ,
onde o agente antes de iniciar a ação fiscal almoça com a família para não
pagar a conta.

A exigência pode ser:


a) Direta: Quando o próprio funcionário público faz a exigência para a vítima.
b) Indireta: Quando o funcionário público se vale de uma terceira pessoa para
que a exigência chegue ao conhecimento da vítima. Também ocorrerá quando
o funcionário público não fala de forma clara para a vítima, mas deixa o
pedido de vantagem de forma implícita.
A Concussão é uma forma de extorsão praticada por funcionário público, com
abuso de autoridade, por isso deve ter um nexo de causalidade existente entre
à função e a exigência de vantagem indevida. Em sendo assim, caso o
funcionário público empregue violência ou grave ameaça a mal estranho à sua
função pública haverá crime de extorsão ou roubo.

OBS.: Para que se caracterize a concussão não é necessário que o funcionário


público esteja trabalhando no momento da sua exigência, ele pode estar fora
da sua função, de férias, fora do horário de trabalho, de licença e etc., basta
que as represálias se refiram à função que o agente exerce.

Consumação do crime: O crime de concussão é consumado no memento em


que a vítima tem conhecimento da exigência, ou seja, o crime se consuma
independentemente do recebimento da obtenção da vantagem, por se tratar de
crime formal.

9- Corrupção Passiva

Artigo 317, caput – “Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta


ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas
em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
Pena- reclusão, de um a oito anos, e multa.

Condutas típicas na Corrupção Passiva:


a) Solicitar = pedir;
b) Receber = entrar na posse;
c) Aceitar promessa = concordar com a proposta.

Na solicitação a conduta inicial é do funcionário público.

No recebimento ou aceitação o particular promete é o funcionário público


recebe/aceita o que sabe ser indevido. Aqui o funcionário responderá por
corrupção passiva e o particular por corrupção ativa.
OBS: Normalmente a vantagem indevida tem por finalidade que o agente
público deixe de praticar seus atos legais de ou passe a praticá-los de forma
irregular ou ilegal.

Assim, há crime quando o agente público policial militar recebe dinheiro


para fazer uma ronda no quarteirão ou quando funcionário do Banco do
Brasil receba dinheiro para liberar empréstimo ainda que lícito o
pagamento do empréstimo.

Consumação: A consumação do crime ocorre no momento em que o


funcionário solicita, recebe ou aceita. Pouco importa se o funcionário
público obtém ou não a vantagem, o que importa é a pratica do tipo
descrito nos verbos (solicitar, receber ou aceitar)

9.1- Corrupção privilegiada

Artigo 317, § 2º - “Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato


de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de
outrem:
Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa.”

Aqui na corrupção privilegiada o funcionário público não visa vantagem


indevida, ele pratica ou retarda a pratica de algum ato com infração do seu
dever funcional, cedendo a pedido ou a influência de terceiros.

Na corrupção passiva a razão de agir do funcionário é a vantagem


indevida, enquanto que na privilegiada a razão de agir é o pedido ou a
influência de terceiro.

A corrupção privilegiada é crime material e para que haja a consumação


tem que haver a omissão da pratica do ato ou o seu retardo.
10. Excesso de Exação:

Artigo 316, § 1º - “Se o funcionário público exige tributo ou contribuição


social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega
na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza:
Pena – reclusão, de três a oito anos, e multa”.

No Excesso de exação a lei exige duas condutas típicas diferentes:

a) Exigir o funcionário público tributo ou contribuição social que sabe ou


deveria saber ser indevido;
b)
c) Exigir tributo devido empregando meio vexatório ou gravoso que a lei
não autoriza.

OBS: Aqui nesta hipótese, no excesso de exação – do § 1º, o funcionário


encaminha o valor cobrado a mais para os cofres públicos.

Na hipótese do § 2º do artigo 316 – “Se o funcionário desvia, em proveito


próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos
cofres públicos” – Aqui o funcionário não entrega os valores recebidos a
mais aos cofres públicos, ele simplesmente desviará tais valores para si ou
para outrem.

11. Facilitação de contrabando ou descaminho

Artigo 318 do CP – “ Facilitar, com infração de dever funcional, a pratica de


contrabando ou descaminho(artigo 334)
Pena-reclusão, de três a oito anos, e multa.”

Facilitar aqui vem com o sentido de afastar eventuais dificuldades que


se imponham à pratica do contrabando ou descaminho.
A conduta pode ser ativa ou omissiva, sendo necessário que o
funcionário público atue ou deixe de atuar com infração do dever
funcional.
A consumação ocorre com a ajuda ao contrabandista, ainda que a
mercadoria não adentre no território nacional, pois trata-se de crime
formal.

Curiosidades: Diferença entre Contrabando e Descaminho:


A expressão contrabando quer dizer a
importação e exportação de mercadorias ou
gêneros, cuja a entrada ou saída no país é
proibida, enquanto que o termo Descaminho,
significa a fraude no pagamento de impostos e
taxas devidas.

12. Prevaricação

Artigo 319 – “Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício,


ou praticá-lo contra disposição expressa em lei, para satisfazer interesse
ou sentimento pessoal:
Pena: detenção, de três meses a um ano e, multa.”

Considerações importantes:
- Na corrupção passiva, o funcionário negocia os seus atos, visando uma
vantagem indevida, enquanto na prevaricação isso não ocorre, porque aqui
o funcionário viola seu dever funcional para atender a objetivos pessoais.

Na prevaricação o funcionário tem por objetivo:


-Atingir a interesse de ordem patrimonial ou pessoal, desde que não haja o
recebimento de vantagem indevida.

- Atingir a interesse pessoas, que diz respeito à afetividade do funcionário


público em relação a pessoas ou fatos.
Ex.: Permitir que amigos pesquem em local proibido;
Demorar a expedir documento solicitado por inimigo.
Consumação: O crime se consuma com a omissão ou retardamento da
realização do ato.

13. Condescendência Criminosa

Artigo 320 – “Deixa o funcionário público, por indulgência, de


responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou,
quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da
autoridade competente.”
Pena – detenção de 15 dias a um mês, ou multa.

A lei aqui incrimina duas condutas de caráter omissivo:


1ª Deixar o superior hierárquico de responsabilizar o funcionário autor da
infração;

2º Se não tiver competência para apurar o fato, deixar de comunicar o fato


a autoridade competente.

Sujeito ativo: Em ambos os casos o sujeito ativo é o superior hierárquico.

Consumação: A consumação ocorre quando o sujeito ativo (superior


hierárquico) toma conhecimento da infração e não promove a imediata
responsabilização do servidor ou não comunica o fato a autoridade
competente.

14. Advocacia Administrativa.

Artigo 321 – Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante


a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário.”
Pena – Detenção, de um a três meses, ou multa.

Parágrafo único – Se o interesse é ilegítimo:


Pena – detenção, de três meses a um ano, além da multa.

- O delito conubstancia-se quando funcionário público valendo-se dessa


condição, defende interesse alheio, legítimo ou ilegítimo, perante a
administração pública.
Se o interesse for ilegítimo aplica-se a qualificadora do parágrafo único
(pena + a multa).

OBS1: É desnecessário que o fato ocorra na própria repartição em que


trabalha o agente, podendo ele valer-se da qualidade de funcionário em
qualquer esfera da administração pública.

OBS2: Não existe infração penal quando o funcionário patrocina interesse


próprio.

OBS3: A advocacia administrativa pode ser efetivada direta ou


indiretamente, é indiferente que o funcionário tenha realizado a conduta
pessoalmente ou por pessoa interposta.

Sujeito-ativo: O funcionário público + a pessoa que o auxilia (testa de ferro). E


apesar da nomenclatura Advocacia administrativa, não é só o advogado que
responde por este crime, particular também responderá, bastando o animus em
representar o funcionário no patrocínio indevido.

15. Violência Arbitrária

Artigo 322 – Praticar violência, no exercício de função ou a pretexto de exercê-la:


Pena: Detenção, de seis meses a três anos, além da pena correspondente à violência.”

» Revogado pela Lei 4.898/65, que descreve os crimes de abuso de


autoridade.
16. Abandono de Função

Artigo 323 – Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei:
Pena – detenção, de quinze a um mês e multa.

§ 1º - Se do fato resultar prejuízo público:


Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.

§ 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira:


Pena – detenção, de um a três anos, e multa.
(faixa de fronteira 150Km ao longo das fronteiras nacionais)

Visa a norma penal que os funcionários públicos abandonem seus cargos e


com isso paralisem o serviço público.

Sujeito ativo: Apesar do nome “abandono de função”, este tipo legal só


pode ser praticado por quem tem cargo público (criado por lei e com
determinação própria), não aplicando assim a regra do artigo 327 de CP,
que define funcionário público.

Abandonar: significa deixar o cargo. É necessário que o agente se afaste do


seu cargo por tempo juridicamente relevante, de forma a colocar em risco a
regularidade dos serviços prestados.

OBS: Não se configura abandono de cargo quando ocorre força maior,


prisão, doença, etc.

17. Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado

Artigo 324- “Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências


legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi
exonerado, removido, substituído ou suspenso.
Pena – detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.”

Sujeito ativo e passivo: Só pode ser praticado por funcionário público, que
antecipa ou prolonga suas funções.
Quando particular pratica de ofício ato de funcionário público, comete
outro crime, chamado usurpação de função pública (artigo 328 do CP).

Condutas típicas:
a) Entrar no exercício da função pública antes de satisfeitas as exigências
legais.
Ex.: O agente foi nomeado, mas ainda não pode exercer legalmente suas
funções, por falta de exame médico.

b) Continuar a exercer funções públicas depois de saber que foi


oficialmente exonerado, removido, substituído ou suspenso. Necessário
que o agente tenha sido comunicado oficialmente de que não mais poderia
exercer aquela função, contrariando a determinação de não mais exercê-la.

OBS: É necessária a comunicação pessoal do funcionário, não bastando a


publicação no D.O., a própria lei determina a necessidade da comunicação
pessoal.

A própria lei ressalva não haver crime quando existir autorização superior
para o funcionário continuar exercendo temporariamente as funções após a sua
remoção, suspensão, etc.

OBS: A doutrina entende não haver exercício funcional ilegalmente


antecipado ou prolongado o funcionário que continuar temporariamente
exercendo suas funções após ter entrado de férias ou licença.

18.Violação de sigilo funcional

Artigo 325 do CP- “Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva
permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui
crime mais grave.”
O funcionário público não pode revelar ou facilitar a revelação de segredos,
desde que tenha tido conhecimento em razão do cargo.

A conduta revelar segredo caracteriza-se quando o funcionário


intencionalmente dá conhecimento de seu teor a terceiro (por escrito,
verbalmente ou por terceiros)

A conduta facilitar a divulgação de segredo, também chamada divulgação


indireta, ocorre quando o funcionário, querendo que o fato chegue a
conhecimento de terceiro, adota procedimento que torna a descoberta
acessível a outras pessoas.

19. Violação do sigilo de proposta de concorrência

Artigo 326 – “Devassar o sigilo de proposta de concorrência pública, ou proporcionar


a terceiro o ensejo de devassá-lo:
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.

Tal tipo penal refere-se a violação do segredo funcional da proposta de


licitação na modalidade Concorrência Pública, da Lei 8.666/93 (Lei de
Licitações). Contudo tal dispositivo foi tácitamente revogado pelo artigo 94 da
Lei 8.666/93 a qual criou um rol mais abrangente, punindo com detenção de
dois a três anos e multa, qualquer devassa envolvendo procedimento
licitatório.

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