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Lei nº 13.

869/2019
Lei de Abuso de Autoridade.

Grupo:
Hugo José De Paula Maranhão, Lucicleide
Vieira Barbosa Da Silva, Renata Da Rosa
Marques, Romulo Luiz Ferreira Gomes
I. INTRODUÇÃO
II. SUJEITOS DO CRIME
Sujeito Ativo
Quem pode cometer crime de abuso de autoridade?
Conceito de Agente público
Sujeito Passivo
Quem são as vitimas do crime de abuso de autoridade?

III. ELEMENTO SUBJETIVO ESPECIAL


Prejudicar outrem
Beneficiar a si mesmo ou a terceiro:
Por mero capricho ou satisfação pessoal:

IV. AÇÃO PENAL


V. VEDAÇÃO AO CRIME DE HERMENÊUTICA
(o que é crime de hermenêutica?)
VI. CRIMES E PENAS
Constrangimento de preso ou detento
VII. EFEITOS DA CONDENAÇÃO

ÍNDICE VIII. DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS


IX. RESPONSABILIDADE PENAL, CIVIL E
ADMINISTRATIVA
I. Introdução • De modo geral, os agentes públicos recebem uma
série de poderes para que possam executar as suas
funções com eficiência.
A presente apostila busca explanar a Lei
A atribuição desses poderes é feita por meio de lei
13.869/19 sobre Abuso de Autoridade (antiga lei específica. Assim, uso dos poderes pelos agentes públicos
nº 4.898/1965), lei esta que busca regular o direito deverá sempre observar o interesse público e estar em
conformidade com as normas legais e com a moral.
de representação e o processo de
responsabilidade administrativa civil e penal, nos
casos de abuso de autoridade. Usar o poder com abuso, significa usar o poder
extrapolando ou desviando-se das condutas prescritas
pelo ordenamento, com o consequente desrespeito aos
A redação antiga foi completamente revogada, direitos fundamentais consagrados pela Constituição.
pois sofria criticas por ser antiga e desatualizada
para os dias de hoje em face das informações e O abuso de autoridade é representado por uma série
condutas ilícitas (contrárias à lei), oriundas do mau uso
lacunas em suas penas. (abuso) do poder e praticadas intencionalmente por aquele
que detém cargo, emprego ou função pública, ou seja, por
A nova LAA encontra-se vigente desde o dia 3 de autoridade, seja ela pertencente às mais altas esferas do
poder, seja lotada em pequenas repartições públicas.
Janeiro de 2020, regulando os crimes de abuso
de autoridade e limitando os direitos dos Agentes A constituição em seu Art. 5º descreve que qualquer
públicos. pessoa poderá pleitear punição dos responsáveis pelo
abuso. Art. 5º, XXXIV - são a todos assegurados,
independentemente do pagamento de taxas: a) o
direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de
direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
II. Sujeitos Do Crime
Sujeito Ativo.
A Lei nº 13.869/2019, nos explica quem poderá ser considerado
autoridade, para fins de sua aplicação em seus Art. 1º e 2º.
Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos
por agente público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções Sujeito Passivo.
ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido
atribuído. Para o crime de Abuso de autoridade, de modo geral, o sujeito passivo
do crime é o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado pela conduta
Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer criminosa, isto é, aquele quem “sofreu” com infração penal cometida
agente público, servidor ou não, da administração direta, indireta ou pelo sujeito ativo.
fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Municípios e de Território, compreendendo, MAS
NÃO SE LIMITANDO A: q SUJEITO PASSIVO MEDIATO OU INDIRETO:
É o Estado - representado pela administração pública
I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas; II -
cujo serviço foi prejudicado.
membros do Poder Legislativo; III - membros do Poder Executivo; IV -
membros do Poder Judiciário; V - membros do Ministério Público; VI -
membros dos tribunais ou conselhos de contas.

Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei,


todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem
q SUJEITO PASSIVO IMEDIATO OU DIRETO:
remuneração, por ELEIÇÃO, NOMEAÇÃO, DESIGNAÇÃO, é a pessoa física ou jurídica que sofreu o abuso.
CONTRATAÇÃO ou QUALQUER OUTRA FORMA DE INVESTIDURA
OU VÍNCULO, mandato, cargo, emprego ou função em órgão ou
entidade abrangidos pelo caput deste artigo.
III. Elementos do Crime
Todos os crimes de abuso de autoridade são DOLOSOS, não basta
praticar a prática da conduta descrita no tipo, é necessário ainda que
haja a observância de pelo menos uma das seguintes finalidades
específicas:

•O benefício compreende qualquer


• Apesar do termo “prejudicar” ser bastante vantagem que o agente possa obter, seja
vago o que contempla múltiplas ela material, moral ou patrimonial.
interpretações.
Prejudicar
outrem • O agente público que pratica determinado
• Subentende-se, então, que o prejuízo deve ato para ganhar visibilidade em sua rede
ultrapassar o exercício regular das funções social (vantagem moral).
do agente. Beneficiar
a si • O agente público que pratica determinado
mesmo ou ato visando receber vantagem financeira
(vantagem material).
a terceiro
Mero • Segundo a doutrina, capricho é uma vontade • Caso o agente solicite ou exija vantagem
repentina carente de justificativa. Que visa a indevida, irá responder pelo crime de
capricho satisfação pessoal ocorre quando o agente
abuso de autoridade, e também pelos
ou realiza determinada conduta no exercício da
crimes de concussão ou corrupção
função não visando a finalidade prevista na lei,
satisfação mas sim a satisfação de sentimentos e passiva, a depender do caso concreto
pessoal vontades pessoais do agente. (Arts. 316 e 317 do CP).
IV. Ação Penal
TODOS os crimes de abuso de autoridade são de ação pública
incondicionada, de modo que o Ministério Público poderá instaurá-la
independentemente de autorização ou de pedido da vítima! Descrito no
Art. 3º da LAA.

IMPORTANTE
Art. 3º Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal
pública incondicionada.
Em caso de inércia, a vítima poderá
§ 1º Será admitida ação privada se a ação penal pública não ajuizar ação privada subsidiária no
for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público prazo de 6 meses, que será contado
aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, da data em que o prazo do Ministério
intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos Público se esgotou.
de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de
negligência do querelante, retomar a ação como parte
principal.
Isso não impede, contudo, a
atuação superveniente do Ministério
§ 2º A ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6
Público, que poderá intervir em
(seis) meses, contado da data em que se esgotar o prazo todos os termos do processo.
para oferecimento da denúncia.
V. Vedação ao Crime de Hermenêutica
É importante destacar, que foi vedado o parágrafo segundo do
artigo 1º da Lei 13.869/2019, denominado como “crime de
hermenêutica”. Ocorre quando o operador do Direito (agente público)
é responsabilizado criminalmente pelo simples fato de sua intepretação
ter sido considerada errada pelo Tribunal.
Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por agente
público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de Crime de Hermenêutica
exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído.

§ 1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade


quando praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem ou Na vigência da antiga Lei de Abuso de Autoridade (Lei nº 4.898/65), a
beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação jurisprudência já rechaçava a possibilidade de se responsabilizar
pessoal. criminalmente o magistrado pela mera divergência de interpretação:
§ 2º A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas (...) 1. Faz parte da atividade jurisdicional proferir decisões com o vício
não configura abuso de autoridade. in judicando e in procedendo, razão por que, para a configuração do
delito de abuso de autoridade há necessidade da demonstração de um
mínimo de "má-fé" e de "maldade" por parte do julgador, que proferiu a
Para melhor esclarecimento. O legislador buscou resguardar a decisão com a evidente intenção de causar dano à pessoa.
atividade do intérprete tanto na interpretação das normas, quanto na
análise de fatos e provas, vedando o chamado “crime de 2. Por essa razão, não se pode acolher denúncia oferecida contra a
hermenêutica”. atuação do magistrado sem a configuração mínima do dolo exigido
pelo tipo do injusto, que, no caso presente, não restou demonstrado na
É preciso observar que quando uma decisão de órgão inferior for própria descrição da peça inicial de acusação para se caracterizar o
reformada por um órgão superior não acarreta na punição do agente
abuso de autoridade. (...)
pelo crime de abuso de autoridade. Erros de julgamento e
procedimento acontecem e, por esse motivo, existem instâncias de STJ. Corte Especial. APn 858/DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado
revisão para a sua constatação. em 24/10/2018.
VI. Crimes e Penas
A Nova Lei de Abuso de Autoridade (nº 13.869), que começou
a vigorar no dia 03 de janeiro de 2020, impõe 45 tipos de
condutas abusivas contra os agentes públicos de todo o país.
O Chefe do Poder Executivo tentou vetar 23 (vinte e três) A LAA sofreu uma série de vetos por parte do Chefe do
condutas definidas pela nova lei como abuso de autoridade, Executivo. Dentre os quais o artigo 43, que no projeto de lei,
porém, algumas acabaram retornando ao texto por criminalizava a violação às prerrogativas dos advogados.
determinação do Senado Federal. Isto é, De 53 (cinquenta e Posteriormente foi restaurada pelos parlamentares no
três) condutas do texto proposto, 45 (quarenta e cinco) Senado, sendo acrescido este dispositivo a LEI Nº 8.906/94 –
tornaram-se efetivas. As punições por abuso de autoridade Estatuto da OAB.
podem chegar até a 4 (quatro) anos de detenção, multa e
Art. 43. (VETADO).
indenização de natureza cível.

E para nós advogados, o que pode mudar? Art. 43. A Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994, passa a vigorar
acrescida do seguinte art. 7º-B: (Promulgação partes vetadas)

Para os advogados, a nova LAA visa diminuir a iniciativa de ‘Art. 7º-B Constitui crime violar direito ou prerrogativa de advogado
magistrados, procuradores e policiais que cometem acusações em previstos nos incisos II, III, IV e V do caput do art. 7º desta Lei:
excesso, sem justificativas plausíveis. Determina, por exemplo, que é
crime interceptar chamadas telefônicas, inserir escutas em escritórios Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.’”
ou quebrar segredo de Justiça para prejudicar investigados, com penas
que podem chegar de dois a quatro anos de reclusão. Mais adiante
vermos que os agentes condenados pelos crimes de abuso de
autoridade podem cumprir outros tipos de penas em vez da prisão,
como a prestação de serviços à comunidade ou suspensão do
exercício da função temporariamente.
24 - Constranger um preso a se exibir para a curiosidade pública;
25 - Constranger um preso a se submeter a situação vexatória;
VI. Crimes e Penas 26 - Constranger o preso a produzir provas contra si ou contra outros;
27 - Constranger a depor a pessoa que tem dever funcional de sigilo;
28 - Insistir em interrogatório de quem optou por se manter calado;
29 - Insistir em interrogatório de quem exigiu a presença de um advogado, enquanto
Em seu Capítulo VI – Dos Crimes e das Penas, que vai do art. 9º ao 38º, não houver advogado presente;
estipulou os seguintes tipos penais: 30 - Impedir ou retardar um pleito do preso à autoridade judiciária;
31 - Manter presos de diferentes sexos na mesma cela;
1 - Não comunicar prisão em flagrante ou temporária ao juiz; 32 - Manter criança/adolescente em cela com maiores de idade;
2 - Não comunicar prisão à família do preso; 33 - Entrar ou permanecer em imóvel sem autorização judicial (exceções: flagrante e
3 - Não entregar ao preso, em 24 (vinte e quatro) horas, a nota de culpa; socorro);
4 - Prolongar prisão sem motivo, não executando o alvará de soltura ou 34 - Coagir alguém a franquear acesso a um imóvel;
desrespeitando o prazo legal; 35 - Cumprir mandado de busca e apreensão entre 21h e 5h;
5 - Não se identificar como policial durante uma captura; 36 - Forjar flagrante;
6 - Não se identificar como policial durante um interrogatório; 37 - Alterar cena de ocorrência;
7 - Interrogar à noite (exceções: flagrante ou consentimento); 38 - Eximir-se de responsabilidade por excesso cometido em investigação;
8 - Impedir encontro do preso com seu advogado; 39- Constranger um hospital a admitir uma pessoa já morta para alterar a hora ou o
9 - Impedir que preso, réu ou investigado tenha seu advogado presente durante uma local do crime;
audiência e se comunique com ele; 40- Obter prova por meio ilícito;
10 - Instaurar investigação de ação penal ou administrativa sem indício (exceção: 41 - Deixar de substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de
investigação preliminar sumária devidamente justificada); conceder liberdade provisória, quando manifestamente cabível;
11 - Prestar informação falsa sobre investigação para prejudicar o investigado; 42 - Usar prova mesmo tendo conhecimento de sua ilicitude;
12 - Procrastinar investigação ou procedimento de investigação; 43 - Divulgar material gravado que não tenha relação com a investigação que o
13 - Negar ao investigado acesso a documentos relativos a etapas vencidas da produziu, expondo a intimidade e/ou ferindo a honra do investigado;
investigação; 44 - Iniciar investigação contra pessoa sabidamente inocente;
14 - Exigir informação ou cumprimento de obrigação formal sem amparo legal; 45 - Bloquear bens além do necessário para pagar dívidas.
15 - Usar cargo para se eximir de obrigação ou obter vantagem;
16 - Pedir vista de processo judicial para retardar o seu andamento;
17 - Atribuir culpa publicamente antes de formalizar uma acusação;
18 - Decretar prisão fora das hipóteses legais;
19 - Não relaxar prisão ilegal; Todos os crimes previstos na nova lei
20 - Não substituir prisão preventiva por outra medida cautelar, quando couber; são de ação penal pública incondicionada.
21 - Não conceder liberdade provisória, quando couber;
22 - Não deferir habeas corpus cabível;
23 - Decretar a condução coercitiva sem intimação prévia;
VI. Crimes e Penas IMPORTANTE

DECRETAR PRISÃO FORA DAS HIPÓTESES LEGAIS É importante lembrar que além de ser vedado a decretação de prisão se
não baseado em algum tipo penal existente em nosso ordenamento jurídico,
Art. 9.ºDecretar medida de privação da liberdade em manifesta os incisos deste Art. 9º também colocam como conduta típica a omissão do
desconformidade com as hipóteses legais: Pena – detenção, de 1 (um) agente público em não proceder com medidas que relaxem a prisão, altere
a 4 (quatro) anos, e multa. o regime carcerário, substitua o cárcere por alguma pena alternativa cabível
no presente caso ou não conceda Habeas Corpus quando manifestamente
Parágrafo único: Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, cabível.
dentro de prazo razoável, deixar de: I- relaxar a prisão manifestamente
ilegal II- substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de Tal ênfase nessas omissões são importantes pois caso existisse apenas o
conceder liberdade provisória, quando manifestamente cabível III – deferir Caput do referido Art. 9º, a autoridade competente para processar o
liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível presente caso poderia se beneficiar da falta de amplitude do texto legal e
acreditar que não é necessário proceder com as medidas legais, que
Além de ser o primeiro crime elencado no capítulo VII da Lei de Abuso de buscam beneficiar o preso após certo tempo cumprindo a pena de
Autoridade, configura-se como crucial pois demais condutas típicas deste lei encarceramento ou do acusado que tenha todas as condições de ser
só podem ocorrer após uma prisão. liberado da prisão por conta de uma Habeas Corpus cabível ao presente
caso.
o descumprimento de tal preceito é uma ofensa grave a direitos básicos
estabelecidos na Constituição Federal, especificamente o abordado no Art. A premissa supracitada é bastante importante pois um dos maiores
5.º, LXI, e no Código de Processo Penal, Art. 283, Caput, uma vez que problemas do nosso judiciário e do sistema carcerário são as situações de
ambas, de uma forma geral consideram como direito fundamental e assim presos que possuem condições de uma progressão de regime ou de uma
buscam defender a liberdade de ir e vir e a autonomia da vontade. pena alternativa no lugar do cárcere e não têm acesso a estas devido a
Isto faz com que os dois dispositivos citados, de uma maneira geral, vedem morosidade dos julgadores e uma certa falta de interesse também É
a prisão de qualquer indivíduo se não em flagrante delito ou após ordem importante lembrar que apesar de elogiado, o referido Artigo também
expressa da autoridade competente (especificamente: após sentença possuem falhas e a principal dele consiste na falta de especificação do que
condenatória transitada em julgado ou por meio dos institutos da prisão seria considerado um tempo razoável. Tal falta de clareza faz com que um
cautelar e prisão preventiva em situações que a manutenção daquele tempo razoável seja diferente na ótica de cada agente público trazendo uma
acusado em liberdade seja prejudicial para a sociedade e também para o certa insegurança jurídica e diminuindo a eficácia do dispositivo legal em
julgamento do crime. questão.
VI. Crimes e Penas
CONSTRANGER UM PRESO A SE EXIBIR PARA A CURIOSIDADE PÚBLICA

Art. 13. constranger o preso ou o detento, mediante violência,


grave ameaça ou redução de sua capacidade de resistência, a:
i - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade Já a modalidade passiva compreende-se na situação em que um preso
é colocado em algum ambiente em que ele não consiga se defender ou
pública;
mudar aquela realidade e a partir disso outras pessoas aparecem
ii - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não
espontaneamente para humilhá-lo, seja propositalmente como
autorizado em lei
iii - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro: pena - detenção, acontece em situações de acusados de crimes graves que revoltam a
de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena cominada à população ou seja acidentalmente quando, por exemplo, alguns
repórteres querem conseguir retratar exatamente aquela.
violência.
Por mais óbvio que pareça ser, afinal a própria Constituição, em seu
Art. 5º, II, define que todos os cidadãos são iguais perante a lei, sem
O texto penal é muito genérico por si só, entretanto, conforme distinção de qualquer natureza, e que ninguém será submetido à
demonstra o desenho ao lado, compreende-se que para ser tortura nem a tratamento desumano ou degradante, ainda assim foi um
configurado o crime necessita que seja empregada ameaça por meio acerto da nova Lei de Abuso de Autoridade trazer uma punição ao
de alguma chantagem, qual seja um mal físico ou moral. Há duas agente público que constranger o preso, forçando este a exibir seu
modalidades de se praticar o núcleo "constrangimento". A primeira corpo ou colocar-se em uma situação vexatória, uma vez que faltava
forma consiste na modalidade ativa em que o preso é submetido a uma uma lei que regulamente- se tal conduta pois ainda é muito comum nos
situação vexatória e os demais presos são coagidos a assistir aquela presídios esse tipo de situação acontecer o que só prejudica
cena tortuosa. integralmente a função social do encarceramento em termos de
ressocialização.
VI. Crimes e Penas
Não se identificar como policial durante detenção, prisão e interrogatório e identificar-
se falsamente como autoridade competente:

Art. 16. Deixar de identificar-se ou identificar-se falsamente ao


preso por ocasião de sua captura ou quando deva fazê-lo durante
sua detenção ou prisão: (Promulgação partes vetadas) Pena -
detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. IMPORTANTE

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, como responsável


por interrogatório em sede de procedimento investigatório de infração
penal, deixa de identificar-se ao preso ou atribui a si mesmo falsa
POR SER UMA INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO O
identidade, cargo ou função.
REFERIDO TIPO PODE TER SUA PRISÃO + MULTA SUBSTITUÍDA
POR TRANSAÇÃO.
É importante lembrar que ainda que esse crime possa ser cometido
através de uma ação comissiva (identificar-se falsamente) ou NO ENTANTO,AINDA QUE ESTA NÃO GERE RESULTADO, ESTE
comissiva (não identificar-se enquanto autoridade competente), não se TAMBÉM PODE SER SUBSTITUÍDO POR SURSIS OU QUALQUER
é admitido a forma tentada neste tipo penal até por ser instantâneo (a OUTRA PENA ALTERNATIVA TRAZIDA PELO CÓDIGO
consumação ocorre em momento definido) e unissubsistente (praticado PENAL/CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
num só ato).
*Ainda há que se falar que mesmo que a decisão determine a pena
Não deve-se ignorar o parágrafo Único do mesmo dispositivo legal que máxima em cárcere, por conta do seu caráter de menor potencial
praticamente possuem as mesmas especificidades e características da ofensivo, o regime desta já começará no semi-aberto.
conduta típica abordada no Caput do Art. 16, mas especificamente
vedando não identificar-se como autoridade competente ou identificar-
se falsamente durante o procedimento de um interrogatório.
VI. Crimes e Penas
Parte das ações já eram consideradas proibidas, mas de
modo genérico e com punição branda. Além disso, a
legislação anterior, existente desde 1965 que visava
exclusivamente o poder Executivo. Agora, membros do
Neste artigo, enxergamos um das prerrogativas do Estatuto da OAB.
Legislativo e Judiciário, do Ministério Público, de tribunais ou Como função essencial à justiça como trazida pela própria Constituição
conselhos de contas também podem ser alvos de Federal, uma vez que o sujeito ativo do tipo penal, é, como sempre, o
penalidades. órgão público autor da infração, e a parte passiva, lesada, seria o
preso, o crime tem ação pública incondicionada como os outros
Após a promulgação da Lei nº 13.869/19, muitas práticas que referentes a Lei.
com o tempo tornaram-se comuns, passam a ser passíveis de
Além desta a nova LAA, também prevê outros tipos penais para
punições mais sérias. Nesta apostila vamos utilizar como
quando cerceada as prerrogativas dos Advogados - Prisão em sala de
exemplo dois tipos penais: Estado-Maior ou em domicílio antes de sentença transitada em
julgado; Comunicação pessoal e reservada com clientes;
Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada
Inviolabilidade do local de trabalho; Inviolabilidade de comunicações
do preso com seu advogado:
relativas à profissão; Presença de representante da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) em caso de prisão em flagrante por motivo
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
ligado à profissão.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu
solto ou o investigado de entrevistar-se pessoal e reservadamente com
seu advogado ou defensor, por prazo razoável, antes de audiência
judicial, e de sentar-se ao seu lado e com ele comunicar-se durante a
audiência, salvo no curso de interrogatório ou no caso de audiência
realizada por videoconferência.’
VI. Crimes e Penas
PROMISCUIDADE CARCERÁRIA

Art. 21. Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou


espaço de confinamento:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Pode-se afastar, portanto, a Lei de Abuso de Autoridade, a partir do
estabelecimento deste concurso material ou formal imprópria, que irá
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na mesma incidir sob a Lei da Tortura.
cela, criança ou adolescente na companhia de maior de idade ou em
ambiente inadequado, observado o disposto na Lei nº 8.069, de 13 de O sujeito ativo, por óbvio, trata de agente público, e vale salientar que,
julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). o texto legal não trás a figura de gênero, mas de sexo, podendo incidir
sobre problemas de ordem interpretativa, apesar de que há
Não é incomum, na esfera midiática, analisando a história do Brasil, as
entendimento biológico da categoria de pessoas transexuais, sendo
decisões judiciais que negligenciam condições básicas, inerente a
difícil afastar, inclusive, a impossibilidade de dolo em casos
constituição dos Direitos Humanos, normalmente só resultando em
específicos. Há, portanto, um entendimento sobre tudo doutrinário de
uma decisão do CNJ que implica aposentadoria compulsória para o
se fazer valer a identidade da pessoa em questão, para que não possa
magistrado autor dessa decisão, ou a perda de cargos no caso de
ser submetida a violências das mais diversas possíveis.
delegados de polícia. É importante perceber que o tipo penal prevê,
também, a presença de homens como detentos nos presídios
Ainda, há previsão da proteção, neste artigo, das crianças e
femininos, vale salientar, também, a Lei da Execução Penal (Lei
adolescentes, com base, também, no Estatuto da Criança e do
7210/84), que já havia restringido a restrição de sexos por presídios
Adolescente, como previsto (artigos 123 e 185, §§ 1º. e 2º., da Lei
específicos.
8.069/90).
É possível o entendimento da palavra "preso" como, também, os
Também se faz valer o Art. 94 do ECA, no seu inciso IV, a definição de
detidos e contidos no órgão penitenciário. As pessoas
necessidade de estabelecimento de espaços que preservem a
responsabilizadas podem ser participativas de dolo eventual de crimes
dignidade e bem-estar das crianças, o que seria preciso, também, no
cometidos dentro do instituto penitenciário. a partir do concurso
estabelecimento de unidades que contenham menores infratores.
material que pode estar inserido.
VI. Crimes e Penas
PROMISCUIDADE CARCERÁRIA

Art. 21. Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou


espaço de confinamento:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na mesma Vale salientar que há uma distância essencial na Lei 8069/90 e a Lei de
cela, criança ou adolescente na companhia de maior de idade ou em Abuso de Autoridade, por a última somente prever a não possibilidade
ambiente inadequado, observado o disposto na Lei nº 8.069, de 13 de de mistura entre menores e maiores de idade num ambiente carcerário.
julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).
O sujeito passivo será sempre o menor, e há uma ampliação no
Conforme a doutrina de Bitencourt, a implicação de menores em um entendimento da palavra "preso", sendo impossível reconhecer que a
ambiente inadequado seria um elemento normativo do tipo, constituído lei disse menos que pretendia, se estendendo, inclusive, em casos de
em um rol taxativo no texto legal do ECA, Conforme diz Bitencourt: hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, com exceção do caso de
tratamento médico (como se refere na Lei 10216/01).
“São aqueles para cuja compreensão é insuficiente desenvolver uma
atividade meramente cognitiva, devendo-se realizar uma atividade valorativa. São
circunstâncias que não se limitam a descrever o natural, mas implicam um juízo de É importante, também, consolidar que este artigo só estabelece sua
valor. São exemplos característicos de elementos normativos expressões tais forma na modalidade dolosa, podendo ser, também, um crime
como ‘indevidamente’ (arts. 151, §1º, II; 162; 192, I; 316; 317, 319 etc.), ‘sem justa omissivo, a partir do dever jurídico de agir do agente público a partir do
causa’ (arts. 153; 154; 244; 46; 248) ‘sem permissão legal’ (art. 292); ‘sem licença Art. 13 do CP.
da autoridade competente’ (arts. 166 e 253); ‘fraudulentamente’ (art. 177, caput);
‘sem autorização’ (arts. 189; 193; 281 e 282); ‘documento’ (arts. 297; 298 e 299);
‘funcionário público’ (arts. 312; 331 e 333); ‘decoro’ (art. 140); ‘coisa alheia’ (arts.
A consumação do crime se da com a colocação desta pessoa nas
155; 157) etc.” penitenciárias, e, ainda, como crime plurissubsistente, pode ser
praticado na forma de tentativa.
VI. Crimes e Penas
DIVULGAR MATERIAL GRAVADO QUE NÃO TENHA RELAÇÃO COM A INVESTIGAÇÃO
QUE O PRODUZIU, EXPONDO A INTIMIDADE E/OU FERINDO A HONRA DO INVESTIGADO.

Art. 23. Inovar artificiosamente, no curso de diligência, de investigação


ou de processo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim A Polícia Civil, por sua vez, indica que a orientação interna é não se
divulgarem mais as fotos e vídeos dos presos, acusados, investigados ou
de eximir-se de responsabilidade ou de responsabilizar criminalmente
alguém ou agravar-lhe a responsabilidade: conduzidos, tal prerrogativa se estende a brigadas militares. O tipo penal
prevê detenção de 1 à 4 anos do sujeito ativo - que sempre haveria de ser
organismo público, não incidindo, portanto, na imprensa, somente na
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem pratica a conduta com o disponibilidade das informações por parte dos agentes públicos.
intuito de:
I - eximir-se de responsabilidade civil ou administrativa por excesso O Ministério Público, no entendo, entende que só há crime quando,
"finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a
praticado no curso de diligência;
terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal", conforme se
II - omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informações
incompletos para desviar o curso da investigação, da diligência ou do prevê na referida Lei, o que de fato há de se fazer valer pela doutrina.
Importante, também, sobre o tipo penal, que se trata, de ação pública
processo.
incondicionada, como os outros trazidos pela Lei.

Tema muito importante no entendimento deste tipo penal, seria, uma Art. 38. Antecipar o responsável pelas investigações, por meio de
forte crítica por parte da imprensa que considera tal tipo penal, comunicação, inclusive rede social, atribuição de culpa, antes de
afastador da possibilidade de liberdade de imprensa, que, de fato, pode concluídas as apurações e formalizada a acusação:
ser considerado a partir de determinado viés lesada por este tipo, pelo Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa
entendimento de parte minoritária da doutrina, porém, a maior parte
entende somente que uma liberdade ilimitada afastaria a autonomia Renato Brasileiro ressalta a suma importância deste artigo, pois, assim
judicial, traria um caráter social muito forte aos julgamentos e, ainda, como a conduta típica de informações falsas relacionadas ao
há a implicação do Ministério Público do Rio Grande do Sul para que julgamento do feito, este artigo busca recorrer uma gravosa
seus membros facilitem o trabalho da imprensa. caracterisitca de nossa sociedade que é de condenar antes de ser
prolatada a sentença penal condenatória transitada em julgado.
VI. Crimes e Penas
Art. 25. Proceder à obtenção de prova, em procedimento de
investigação ou fiscalização, por meio manifestamente ilícito:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.


Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, em
desfavor do investigado ou fiscalizado, com prévio conhecimento de sua
ilicitude.
IMPORTANTE
Satisfaz também o princípio da verdade processual, que consiste no
estabelecimento da verdade probatória (material, objetiva) na busca por
justiça propriamente dita, desta, deriva-se outro princípio, o da liberdade das
provas, que encontra um limite no estabelecido por o princípio anteriormente Como visto anteriormente, para ocorra o crime de abuso não poderá haver
mencionado. As limitações ao princípio da liberdade das provas encontra dúvida sobre a ilicitude do fato. Sendo este manifestamente ilícito, ou seja,
outras características previstas, inclusive, no nosso código de processo não deve haver dúvidas jurisprudenciais e/ou doutrinárias.
penal, busca-se, portanto, a pertinência: CPP art. 184 (perícia) ; CPP art.
122 (perguntas); e em textos legislativos como na Lei 9099/95, art. 81, além Também não há, a possibilidade de incumbência de culpa nem o
da própria lei de abuso de autoridade a que se refere este trabalho. Cabe entendimento de dolo eventual. Há uma divergência doutrinária sobre, a
falar, também, sobre o princípio da inadmissibilidade das provas ilícitas, que obtenção de provas para crimes desta natureza. E que tais provas só
se refere ao texto constitucional trazido, e, ainda, no próprio CPP no art. seriam analisadas em momento pré-processual, o que deixa o
157, em que se trás a característica de lesão da regra material entendimento, que isso refere-se ao processo de forma ampla. Na tentativa
(constitucional ou legal) a partir da insatisfação deste. de garantir a legalidade do processo. Tal entendimento, foi objeto dos
ensinamentos de Rogério Greco, em que fala disso de forma taxativa.
Podemos utilizar como exemplo prático a operação “lava jato” e as
divulgações de mensagens que demonstram a atuação irregular do Ainda, em ação penal privada, não se enxerga a possibilidade do advogado
magistrado que “conduzia” a operação e dos procuradores que atuam na do querelante praticar abuso de autoridade, visto que este não é servidor
mesma, inclusive com o reconhecimento e ciência da utilização de provas e público. É possível o estabelecimento de dolo subsequente (quando o ato
procedimentos ilegais. Em sua defesa, apontam a ilegalidade da captura inicial fora praticado de boa-fé, e a partir de uma insistência do ato, resulta
das mensagens. Os agentes públicos devem, no combate à ilegalidade, agir na prática deste por má-fé, e, portanto, dolo). O crime possibilita a
dentro dos limites legais, pois é isso que os diferencia daqueles que modalidade de tentativa, por ser plurissubsistente e material.
perseguem.
VI. Crimes e Penas
INICIAR INVESTIGAÇÃO CONTRA PESSOA SABIDAMENTE INOCENTE

Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar procedimento


investigatório de infração penal ou administrativa, em desfavor de
alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime, de ilícito Porém, uma das questões centrais nas diferenças entre o Art. 27 e o
funcional ou de infração administrativa. Art. 30 é o estabelecimento da persecução como elemento objetivo do
crime propriamente dito.
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de sindicância ou No entendimento do que se refere persecução penal propriamente dita,
investigação preliminar sumária, devidamente justificada. se prevê sua abrangência em duas fases, a investigação policial e
dentro da ação penal. Na instauração de um inquérito policial, se faz
Art. 29. prestar informação falsa sobre procedimento judicial, policial, necessária, na portaria do ato, a elucidação do elemento constitutivo
fiscal ou administrativo com o fim de prejudicar interesse de desta justa causa, tendo, como trazemos no art. anterior, que ser a
investigado: partir de prova lícita. Ainda, para o estabelecimento de pessoa
inocente ter caráter de dolo, é necessário que os órgãos públicos
pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. possuam documentos que atestem julgamento ou entendimento neste
sentido e a convicção desta.
Art. 30. Dar início ou proceder à persecução penal, civil ou
administrativa sem justa causa fundamentada ou contra quem sabe O sujeito ativo, como haveria de ser, é a autoridade, e o sujeito passivo
inocente: pode ser conexo como se refere o Art. 30 do CP, importante entender que
há dois núcleos de tipo: iniciar e proceder, que são essenciais para o
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. entendimento concreto deste tipo penal. Outro conceito que tem que ser
identificado é o de justa causa, que, a meu ver e para boa parte da doutrina
É concluso, a partir do referido no artigo legal, que se deve possuir dolo poderia estabelecer um rol muito amplo e trazer, de alguma forma,
direto, no sentido subjetivo de estabelecimento da persecução infundada fragilidade jurídica aos tipos que se apropriam do uso deste conceito.
propriamente dita, assim sendo, não caberia modalidade culposa nas suas Porém, jurisprudencial mente, se entende a fazer valer um rastro das
implicações. Reproduz, por consequente, premissas estabelecidas no art. questões centrais do indivíduo que estaria sendo imputada a persecução,
27 da referida lei. tendo este que ser firme e indicativo da autoria.
VII. Efeitos Da Condenação
A LAA, descreve que quando transitada em julgado a sentença
penal condenatória pela prática de crime de abuso de autoridade
pelo agente público. O sujeito além da pena imposta, ainda se
sujeitará a alguns efeitos oriundos da decisão judicial:

Art. 4º São efeitos da condenação: IMPORTANTE


I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo
crime, devendo o juiz, a requerimento do ofendido, fixar na
sentença o valor mínimo para reparação dos danos
causados pela infração, considerando os prejuízos por ele Os dois efeitos trazidos pelo Art. 4º da LAA, não podem ser
sofridos; aplicados ao condenado primário em crime de abuso de
autoridade, pois há o requisito da reincidência em crime de
II - a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou abuso de autoridade, e não podem ser de forma automática,
função pública, pelo período de 1 (um) a 5 (cinco) anos; devendo ser declarados motivadamente na sentença. O juiz deverá
expor as razões pelas quais decidiu decretar a perda do
cargo/mandato/função pública do agente e/ou inabilitá-lo para o
III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública.
exercício de outros por 1 a 5 anos.

Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e III do


caput deste artigo são condicionados à ocorrência de
reincidência em crime de abuso de autoridade e não são
automáticos, devendo ser declarados motivadamente na
sentença.
VII. Efeitos Da Condenação
Obrigação de reparar o dano causado pelo seu delito

Como não há restrição no inciso I do art. quanto à espécie, não se


pode restringir a reparação apenas aos danos patrimoniais. Logo,
podem estar incluídos: danos emergentes, lucros cessantes. Foi
adotada a previsão feita no CPP, art. 385, IV in verbis: “O juiz, ao
proferir sentença condenatória: IV - fixará valor mínimo para
reparação dos danos causados pela infração, considerando os
prejuízos sofridos pelo ofendido;”. Perda do cargo, mandato ou função pública

Outro ponto importante a ser levantado é que o juiz criminal pode Diferencia bastante das exigências da regra geral no art. 92, I, CP,
estabelecer o valor mínimo, não obstando a vítima a levar a matéria pois basta que haja reincidência. A perda, diferente da inabilitação ao
ao juízo civil para debater mais amplamente o tema e conseguir um exercício do cargo , é permanente. Agente não só perde as funções,
valor mais elevado. No entanto, se houve uma instrução ampla a mas se torna incapacitado para exercício de outro cargo, função ou
respeito da indenização, o valor fixado no juízo criminal será o valor mandato. Somente por uma reabilitação criminal – art. 93 a 95, CP -
justo e gerará coisa julgada para a seara cível. poderá readquirir capacidade de ocupar, desde que por meio de uma
nova investidura, sendo vedado o restabelecimento da situação
Obrigação de reparar o dano causado pelo seu delito anterior.

Diferencia-se da PERDA do cargo, mandato ou função pública, pois


uma vez decorrido o período estabelecido na sentença condenatória,
o agente público condenado volta a estar habilitado ao exercício das
referidas atividades. No entanto, há crítica doutrinária de Nucci
pleiteando que pessoa que cometeu abuso de autoridade seja privada
da atividade pública em definitivo
VIII. Penas Restritivas de Direitos
As Penas restritivas de direito já estão previstas em nosso
ordenamento jurídico e devem ser seguidos os requisitos gerais do art.
44º do Código Penal. Como a LAA não especificou quais as condições
que autorizam a sua substituição, deve ser utilizado este mesmo
dispositivo para tal ato.
A LAA nos trazem duas penas restritivas de direitos que serão
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas aplicáveis em substituição à pena privativa de liberdade em crime de
de liberdade,
quando:
abuso de autoridade:
Art. 5º As penas restritivas de direitos substitutivas das privativas de liberdade
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime previstas nesta Lei são:
não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que
seja a pena aplicada, se o crime for culposo; I - prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas;

II – o réu não for reincidente em crime doloso; II - suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo prazo
de 1 (um) a 6 (seis) meses, com a perda dos vencimentos e das vantagens;
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa
substituição seja suficiente.
IMPORTANTE
Tais penas provocam a supressão ou a diminuição de um ou mais
direitos do condenado! Além disso, as penas restritivas de direito
possuem como característica: Art. 5º (...) Parágrafo único. As penas restritivas de direitos podem ser aplicadas
autônoma ou cumulativamente.
• Autonomia - elas não são penas acessórias, de modo que não podem ser
aplicadas de forma cumulada com a pena privativa de liberdade. Neste caso, o juiz poderá aplicar apenas uma delas (o agente permanece no
cargo, mas prestará serviços à comunidade, por exemplo). Como também
• Substitutividade – preenchidos alguns requisitos, as penas restritivas de poderá suspender o exercício do cargo ao mesmo tempo em que determina
direito substituem as penas privativas de liberdade. que o sujeito preste serviços à comunidade ou a alguma entidade pública!
IX. Resp. penal, civil e administrativa
As penas da Lei de Abuso admitem a possibilidade de aplicação de
três espécies de sanções àquele que comete crime de abuso de
autoridade; Administrativa, Civil e as Penais serão aplicadas
independentemente da aplicação das sanções de natureza cível
ou administrativa, visto que as instâncias civil, penal e
administrativa são independentes entre si.
IMPORTANTE
Art. 6º As penas previstas nesta Lei serão aplicadas
independentemente das sanções de natureza civil ou
administrativa cabíveis.
Existem algumas exceções - Caso o juízo criminal decida sobre a
Parágrafo único. As notícias de crimes previstos nesta Lei que existência ou a autoria do fato, tais questões não poderão ser
descreverem falta funcional serão informadas à autoridade discutidas nas esferas civil e administrativa.
competente com vistas à apuração.
No caso, se o agente público conseguir provar a sua inocência no processo
criminal, as instâncias cível e administrativa não poderão responsabilizá-lo tendo
Art. 7º As responsabilidades civil e administrativa são como fundamento a sua autoria!
independentes da criminal, não se podendo mais questionar sobre
a existência ou a autoria do fato quando essas questões tenham sido Faz coisa julgada em âmbito cível, bem como no administrativo-
decididas no juízo criminal. disciplinar, a sentença penal que reconhecer que o ato foi praticado
sob: Estado de necessidade, Legítima defesa, Estrito cumprimento do
Art. 8º Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no dever legal, Exercício regular de direito.
administrativo-disciplinar, a sentença penal que reconhecer ter sido
o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em
estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
BRANCO, Emerson Castelo; CAVALCANTE, André Clark Nunes; PINHEIRO, Igor Pereira. Nova
Lei de abuso de autoridade comentada artigo por artigo. Leme, SP: JH Mizuno, 2020
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Lei de abuso de autoridade, partes 1, 2 e 3.
Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: https://www.dizerodireito.com.br/2019/11/leide-abuso-de-
autoridade-parte-1; html;https://www.dizerodireito.com.br/2019/11/lei-deabuso-de-autoridade-

X. Referências parte-2.html; https://www.dizerodireito.com.br/2019/11/lei-deabuso-de-autoridade-parte-3.html.


LESSA, Marcelo de Lima; MORAES, Rafael Francisco Marcondes de; GIUDICE, Benedito
Ignácio. Nova Lei de Abuso de Autoridade (Lei 13.869/2019): diretrizes de atuação de Polícia
Judiciária. São Paulo: Academia de Polícia “Dr. Coriolano Nogueira Cobra”, 2020.
LIMA, Renato Brasileiro de. NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE. Salvador: Juspodivm,
2020.

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