Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2. PLANEJAMENTO DE APOSENTADORIA 16
2.1. Definição 16
2.2. Pilares do modelo de previdência brasileira 17
2.3. Identificando o momento de vida 19
CAPÍTULO 3 – WEALTH MANAGEMENT 21
Caros alunos, bem-vindos ao capítulo sobre Seguro de Vida. Nosso foco será, majoritariamente,
o estudo do seguro de pessoas, classe de seguros dentro da qual está inserido o seguro de vida.
Veremos temas como as definições legais do seguro de vida, os riscos envolvidos na operação,
aspectos tributários e as características dos produtos e das principais coberturas.
4
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Um seguro é contrato feito entre duas partes. Uma das partes, a seguradora, se obriga perante o
segurado (ou eventuais beneficiários indicados por ele) a pagar uma indenização que compense
um prejuízo econômico resultante de riscos. A outra parte, o segurado, paga um prêmio à
seguradora em troca da opção de receber a indenização caso ocorra o sinistro.
O risco a ser indenizado pelo seguro tem algumas características específicas. Primeiro, ele
precisa ter um valor financeiro, ou seja, precisa necessariamente ser indenizado por meio de valor
à vista, não podendo ser pago na forma de bens de valor equivalente, por exemplo.
• Possível: o evento deve ter probabilidade significativamente maior do que zero de ocorrer.
• Independente: a vontade das partes não deve influenciar a ocorrência do evento, o qual
deve ocorrer espontaneamente.
• Futuro: o evento não pode ter ocorrido previamente à assinatura do contrato de cobertura
de risco.
• Lícito: o evento não pode ser decorrente de ato ilícito de quaisquer partes.
Um exemplo prático de como um contrato de seguros pode mitigar riscos é o seguro prestamista,
que pode ser adquirido quando alguém assume uma dívida e serve para quitá-la em caso de
falecimento ou invalidez do segurado. Considere a seguinte situação hipotética:
Essa operação gera para o indivíduo e seus familiares um risco em termos de planejamento
sucessório. Caso esse cliente venha a falecer, os bens dele que forem para inventário serão
usados para quitar a dívida. Essa situação pode resultar em inadimplência caso o inventário ou os
herdeiros não disponham de recursos suficientes ou da liquidez necessária para pagar a dívida.
Fica claro que há um risco de crédito nessa operação, associado ao falecimento do cliente. Esse
risco pode ser mitigado pela contratação de um seguro prestamista em favor do banco.
Suponhamos que a probabilidade de falecimento desse cliente nos próximos 10 anos seja de
30%. Sem considerar o efeito da carteira de crédito do banco, seria esperado que o custo do
empréstimo tivesse de ser maior para cobrir o risco de inadimplência pela morte do tomador do
empréstimo.
5
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Logo, a existência do seguro prestamista reduz o risco para o tomador do empréstimo, para seus
herdeiros e também para a instituição financeira. Com isso, a taxa do financiamento pode ser
mais barata.
É fácil imaginar que, a cada decisão que tomamos e a cada ato que praticamos, assumimos
riscos. Os seguros podem ser usados para mitigar os efeitos indesejados gerados por nossos
atos e decisões. Uma boa assessoria financeira deve considerar cada momento da vida do cliente
e sugerir a proteção correspondente a esse momento.
A Figura 1 fornece uma direção para identificarmos a necessidade de proteção mais adequada
para cada momento da vida do cliente, em função da riqueza acumulada por ele.
Riqueza
Seguro de cuidados/assistência
médica de longa duração/longo prazo
Seguro de vida inteira
Anuidades deferidas/ Anuidades de
investimentos de previdência dividendos
Doença crítica
Seguro de vida
6
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Mais do que simplesmente ter conhecimento sobre as leis e normas que regem o mercado de
seguros de pessoas, é importante entender o funcionamento do Sistema Nacional de Seguros
Privados (SNSP).
Todo sistema está subordinado ao Ministério da Economia, instituição que coordena a formulação
e execução da política econômica do país, tendo como área de sua competência, entre outras, a
moeda, as instituições financeiras, o crédito, a poupança popular, os seguros privados e a
Previdência Complementar Aberta. A Figura 2 mostra o organograma da área de Previdência
Complementar Aberta e dos Seguros Privados do Sistema Financeiro Nacional.
Ministério
da Economia
CNSP
(Conselho Nacional
de Seguros Privados)
Susep
(Superintendência Nacional
de Seguros Privados)
Empresas de
seguro, previdência Empresas de Corretores de
privada e resseguro seguro
capitalização
7
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
As empresas de seguro são as instituições que recebem o prêmio negociado, assumindo o risco
e garantindo as devidas indenizações em caso de ocorrência de sinistro vigente ao contrato
acordado. Elas podem ter, em sua carteira de produtos, planos de previdência complementar
aberta.
Capitalização é um produto em que parte dos pagamentos realizados pelo subscritor é usado
para formar um capital, segundo cláusulas e regras aprovadas e mencionadas no próprio
título (Condições Gerais do Título) e que será pago em moeda corrente num prazo máximo
estabelecido. O restante dos valores dos pagamentos é usado para custear os sorteios, quase
sempre previstos neste tipo de produto e as despesas administrativas das sociedades de
capitalização.
Finalmente, temos os corretores de seguros, que são pessoas físicas ou jurídicas legalmente
autorizadas a intermediar e promover contratos de seguros entre instituições seguradoras e
pessoas físicas e jurídicas de direito privado.
Os seguros têm um vasto arcabouço legal, por ser uma das mais antigas atividades realizadas.
Desde a constituição de 1988, passando pelo novo Código Civil Brasileiro, há diversas leis
8
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
ordinárias, resoluções do CNSP e Circulares da Susep. Vemos abaixo um resumo das principais
leis e normas dos seguros:
• Novo Código Civil Brasileiro – Art. 757 ao Art. 802 – regulamenta os contratos de seguros.
• Resolução 117 do CNSP – fixa critérios para coberturas de risco dos seguros de pessoas.
• Circulares Susep 302, 316, 317 – regulamentam o funcionamento das coberturas de riscos
de pessoas.
Após elaborada, a proposta é enviada à seguradora para uma análise de subscrição. Nessa etapa,
a seguradora analisa a proposta e avalia se vale a pena assumir os riscos daquele potencial
cliente. A instituição verifica também se as condições da proposta estão de acordo com as que
ela disponibiliza. A seguradora verifica ainda se é a fornecedora de outras apólices para aquele
cliente, com o objetivo de apurar o capital máximo segurado.
O segurado terá direito a receber a indenização caso o sinistro ocorra durante o período de
cobertura. Esse período geralmente é especificado na apólice, podendo ter renovação anual, por
exemplo, ou durar apenas alguns dias, como no caso do seguro de viagem.
9
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Se ocorrer o sinistro, passamos à etapa seguinte, na qual o cliente envia à seguradora um aviso
de sinistro. Assim que a instituição recebe o aviso, inicia-se a fase de liquidação do sinistro.
A seguradora coletará evidências e documentos que achar necessários para investigar as
circunstâncias de ocorrência do sinistro e sua legitimidade. De modo geral, quando pensamos
em um seguro de vida, essa fase tem duração média de 30 dias, podendo ser interrompida
pela seguradora para requisição de novos documentos, ou reenvio de documentos em mau
estado. Finalizada a análise, se não houver ressalvas por parte da seguradora, o cliente recebe a
indenização.
O prêmio pago à seguradora é composto de três variáveis. A primeira delas é o prêmio puro. Ele
é calculado com base na probabilidade do sinistro. Exemplo: para uma cobertura de morte por
qualquer causa, leva-se em conta a probabilidade de falecimento do proponente para uma certa
idade num certo período de tempo.
O prêmio puro visa, basicamente, a cuidar do equilíbrio atuarial da seguradora. Ele é cobrado para
garantir que todas as receitas da seguradora serão suficientes para o pagamento de indenizações
por sinistro no futuro. Essa parcela do prêmio não tem como finalidade a geração de lucro para a
instituição.
A segunda parcela que compõe o prêmio é a taxa de carregamento. A finalidade dessa taxa é
remunerar os vendedores do seguro e cobrir as despesas de venda do produto (com pessoal,
marketing, transporte, infraestrutura etc.).
10
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
• segurado: pessoa física que contrata ou, no caso de contratação sob a forma coletiva,
adere ao plano
• Seguro de Vida Temporário – Esse tipo de seguro de vida tem as mesmas características
do anual renovável, com a diferença de que sua vigência não é anual. A duração da
cobertura pode ser de períodos maiores, como 20 anos. O pagamento do prêmio é
flexível. Se um segurado contrata uma apólice de 10 anos, por exemplo, o pagamento
integral do prêmio pode ser feito em um período menor, conforme acordado entre cliente e
seguradora.
11
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
• Doenças Graves
• Auxílio Funeral
As coberturas dos seguros de pessoas podem ser estruturadas na forma de benefício definido ou
de contribuição variável.
Exemplos:
12
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Vale destacar que somente a cobertura por sobrevivência pode ser estruturada na modalidade
de contribuição variável. A cobertura por sobrevivência diz respeito ao risco de um indivíduo
sobreviver a uma determinada idade. Exemplo: um investidor faz um plano de previdência e, após
a aposentadoria, opta por converter sua reserva em renda por um período de 20 anos, estimando
que essa será sua expectativa de vida. Porém, findo o prazo, o investidor permanece vivo e tem o
pagamento de seu benefício interrompido. A cobertura por sobrevivência garante a esse investidor
o recebimento de rendas por ter ultrapassado determinada expectativa de vida.
Exemplo: O Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) é um plano em que o segurado paga
prêmios que podem ou não ter os seus valores estabelecidos previamente. Ao final do período de
diferimento, a seguradora calcula o valor do seu capital segurado pago sob a forma de renda, com
base no valor acumulado na provisão matemática de benefícios a conceder e no fator de cálculo.
É fácil imaginar que, quanto mais o segurado tiver acumulado, maior será o valor de renda que ele
irá receber.
Período de diferimento: período compreendido entre a data de início de vigência da cobertura por
sobrevivência e a data contratualmente prevista para início do pagamento do capital segurado.
Fator de cálculo: resultado numérico calculado mediante a utilização de taxa de juros e a tábua
de mortalidade, quando for o caso, utilizado para obtenção do capital segurado a ser pago sob a
forma de renda.
Os regimes financeiros são modelos que possibilitam estabelecer o equilíbrio entre as receitas
(prêmios recebidos) e despesas (sinistros pagos) de um plano de seguros de pessoas ao longo de
um determinado período de cobertura. Em outras palavras, pode-se dizer que regime financeiro é
a maneira pela qual o seguro será financiado ou, ainda, como são aplicados os prêmios recebidos
para financiar as indenizações de sinistros.
Dependendo do regime financeiro adotado, o valor do prêmio cobrado pela seguradora poderá
financiar os sinistros ocorridos durante o período de competência do prêmio pago ou ser
suficiente para cobrir um período maior. Enquanto no primeiro caso não há acúmulo de recursos,
no segundo a seguradora deve provisionar uma parcela do prêmio pago para ser utilizada no
futuro.
13
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Nos planos de seguros de pessoas com cobertura de risco, desde que essas coberturas sejam
estruturadas no regime financeiro de capitalização, é possível a previsão dos seguintes valores
garantidos: resgate, saldamento, benefício prolongado e portabilidade.
Os prêmios que são pagos nos seguros de pessoas têm incidência de IOF à alíquota de 0,38%.
Esse valor já está embutido no valor pago pelo segurado, e está discriminado na apólice. A única
exceção é o VGBL, que oferece a possibilidade de dedução do imposto de renda.
14
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Vale destacar que as indenizações das coberturas de risco e de vida são isentas tanto de Imposto
de Renda quanto do Imposto de Transmissão Causa Mortis ou Doação (ITCMD). Por isso, o seguro
de vida surge como uma opção interessante de planejamento sucessório, dando maior eficiência
tributária ao processo. Outra vantagem do seguro de vida é que a indenização é paga em um
prazo relativamente curto, se comparado com o processo de partilha dos bens.
Por isso, o seguro de vida pode garantir liquidez praticamente imediata para que uma família
custeie suas necessidades até o fim do processo de inventário.
Os seguros de pessoas idealmente são comercializados por corretores de seguros. Essa profissão
é regulamentada e fiscalizada pela Susep.
Os seguros, de modo geral, têm a função de mitigar riscos ao longo da vida. Quando um assessor
financeiro trata desse assunto com um cliente, é preciso que ele leve em consideração o momento
de vida em que a pessoa se encontra naquele ponto. Não faz sentido, por exemplo, ofertar um
seguro de vida inteira para um jovem em início de carreira. As preocupações típicas dessa fase
têm menos a ver com transmissão de patrimônio e mais com constituição de riqueza, custeio da
faculdade etc.
No começo de carreira, tipicamente, a renda de uma pessoa é menor e seus gastos também o
são. Nessa fase, começa a constituição do patrimônio, e a prioridade é a multiplicação. Logo, os
seguros que mais fazem sentido a um cliente nesse momento de vida têm a ver com a saúde:
seguro médico, seguro saúde, entre outros desse tipo.
À medida que o ciclo de vida avança, o patrimônio do investidor aumenta, mas as despesas
também. De modo geral, despesas com o casamento e o primeiro imóvel consomem boa
parte das receitas de um casal, e surgem preocupações com acidentes de trabalho, invalidez,
doença crítica. Portanto, seguros com esse tipo de cobertura de risco e outros que garantam a
manutenção do fluxo de caixa caso o cliente precise se ausentar do trabalho por razões de saúde
são os mais indicados.
15
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
2. PLANEJAMENTO DE APOSENTADORIA
O objetivo deste capítulo é dar uma visão geral do planejamento para aposentadoria e os
principais pontos a serem considerados para uma estratégia de sucesso.
2.1. Definição
Na figura a seguir, temos um diagrama que ajuda a entender como fazer uma estimativa de qual
será a renda necessária na aposentadoria.
Valores mensais
Poder de poupança
R$ 4.500
PREVIDÊNCIA
COMPLEMENTAR
16
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Consideramos que a renda na ativa equivale aos rendimentos líquidos de uma pessoa durante
seu período de atividade profissional. A pessoa do exemplo tem uma renda de R$ 14.000 por mês
e tem custos e despesas em torno de R$ 9.500. Portanto, ela tem um poder de poupança que é a
diferença entre os dois valores, ou seja, R$ 4.500.
Digamos que essa pessoa tenha sido contribuinte da previdência básica (INSS), por ter trabalhado
em regime CLT, e se aposentou tendo direito a um benefício mensal de R$ 5.000 do INSS. Nesse
caso, há um descasamento entre a renda na aposentadoria e o custo de vida. Uma das maneiras
de suprir essa diferença é utilizando as ferramentas de previdência privada, alvo do nosso estudo.
É importante destacar, contudo, que o planejamento de aposentadoria pode envolver outros tipos
de aplicações, como fundos imobiliários, títulos públicos, entre outras opções.
Há dois pilares que sustentam o modelo de previdência brasileira. O primeiro deles é o Sistema
Oficial, ou Sistema Público. Sob ele, estão a Seguridade Social e os regimes de previdência. A
Seguridade Social tem como finalidade garantir assistência básica aos cidadãos e está ligada à
função social do Estado.
Podemos considerar que o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) também é parte
importante do Sistema Oficial. Ele tem função previdenciária, porque garante ao trabalhador uma
reserva atualizada por uma taxa de juros, e que pode ser usada quando ele é demitido. Outra
função importante do FGTS, além da previdenciária, é a de financiamento do sistema imobiliário.
O segundo pilar do modelo de previdência brasileiro é o Sistema Privado, sob o qual temos
o Sistema de Aposentadoria Fechada, mercado cujo órgão fiscalizador é a Superintendência
Nacional de Previdência Complementar (PREVIC) e o Sistema de Aposentadoria Aberta,
fiscalizado pela Superintendência de Seguros Privados (Susep).
O Sistema de Aposentadoria Fechada tem como principal característica o fato de que os planos
de previdência são criados pelas empresas, e os funcionários e as empresas (no papel de
patrocinadoras) podem contribuir mensalmente para compor uma reserva. A massa de recursos
composta pelas contribuições é usada para pagar as aposentadorias e demais benefícios, como
pensões, aos funcionários e seus beneficiários.
17
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Exemplo:
Ou seja, o participante pode ter dedução de IRPF sobre o valor investido em PGBL. O imposto será
pago somente quando o participante for de fato fazer uso dos recursos do plano.
A diferença entre o PGBL e o VGBL diz respeito ao diferimento fiscal. Enquanto o plano de
previdência PGBL há o diferimento sobre a declaração de imposto de renda, mas tributação total
no momento do resgate ou recebimento dos benefícios, no caso do VGBL não há a opção do
diferimento na declaração de IR, mas somente os rendimentos são tributados no resgate.
Exemplo
Principal – R$ 50.000,00
Rendimentos – R$ 35.000,00
18
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Nessa fase da vida, as pessoas costumam ter gastos com saúde relativamente constantes. Os
gastos são, de modo geral, com plano de saúde, que pode contar com subsídio da empresa, caso
sejam trabalhadores assalariados. Portanto, há uma propensão maior a tomar risco.
Quando o investidor entra no período de usufruto dos recursos acumulados, ele tende a fazer
uma revisão do portfólio de investimentos, porque o objetivo principal passa a ser a proteção do
patrimônio. Uma vez que a aposentadoria está na iminência de começar, o patrimônio já não deve
ser submetido à mesma volatilidade da fase de acumulação. Eventuais perdas podem não ser
recuperadas em tempo hábil até que o investidor comece, de fato, a usar os recursos para suprir
suas necessidades na nova fase.
Por isso, ao adentrar a fase de desacumulação, o apetite por risco diminui significativamente, e
o investidor passa a preferir aplicações que protejam seu capital, conquanto lhe confiram uma
rentabilidade menor.
Os gastos com saúde, que eram constantes na fase anterior, passam a ser crescentes. Há um
aumento brusco no custo dos planos de saúde, e aqueles que antes contavam com subsídio da
empresa no pagamento das mensalidades agora perdem o benefício e têm de arcar sozinhos com
a despesa. Nessa fase, os aspectos de sucessão patrimonial ganham mais importância.
19
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
A definição de uma estratégia de aposentadoria passa por um exercício de projeção do futuro, das
eventuais necessidades de caixa e despesas, das receitas e ganhos, entre outras variáveis. É uma
tarefa árdua, complexa e com alto grau de incerteza. Embora haja ferramentas e simuladores para
realizar previsões e recomendar aplicações aos investidores, essas soluções não são definitivas,
sendo apenas auxílios ao assessor. É importante que o profissional conheça as questões
levantadas anteriormente, sobre o momento de vida do investidor, e domine um método de
abordagem para auxiliar o cliente no planejamento da aposentadoria.
Esse método compreende o uso de um roteiro estratégico que deve sempre ser revisitado em
períodos de 2 a 3 anos. O roteiro consiste em responder perguntas simples, como as que listamos
a seguir.
3. Estou investindo pelo menos 12% da minha renda tributável anual em planos de previdência?
Se o investidor contribui com a previdência pública, ele tem direito ao benefício do diferimento
fiscal. Ao aplicar em fundos do tipo PGBL um valor equivalente a até 12% de sua renda
tributável, o investidor pode deduzir essa quantia da base de cálculo do Imposto de Renda.
Essa pergunta ajuda a entender qual deve ser a rentabilidade a ser perseguida pela carteira,
e quais os investimentos mais adequados para que o objetivo seja atingido. Se o cliente
responder “sim” a essa pergunta, pode-se passar à seguinte:
20
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Essa pergunta é importante para detectar o nível de reservas que o investidor tem. Se ele
declarar intenção de tomar empréstimo para realizar o sonho, é um indicador de que o nível
de reserva dele é insuficiente para atingir o objetivo. Portanto, é preciso considerar entre as
despesas desse cliente as parcelas do empréstimo que será contraído.
Essa é uma das perguntas mais importantes. O período em questão é aquele de 2 a 3 anos,
dentro do qual as questões devem ser repassadas junto ao investidor. Se houver intenção de
aposentadoria, é sinal de que o investidor chegou ao ponto de transição, o início do usufruto.
Caberá, então, ao assessor, preparar seu cliente para esse momento revendo as aplicações
atuais e pensando na constituição de uma carteira adequada.
As recomendações são: o investidor deve buscar garantir, por meio de uma renda, suas despesas
fixas, tais como plano de saúde, condomínio, despesas com alimentação e remédios.
Os recursos restantes devem ser aplicados em investimentos com menor volatilidade e menor
risco, gerando liquidez para imprevistos e possibilitando a sucessão patrimonial de forma mais
eficiente possível.
Daremos início ao nosso capítulo de estudos sobre Wealth Management, ou gestão patrimonial,
considerando alguns importantes conceitos tributários. Conhecê-los é fundamental ao assessor
financeiro, porque a questão tributária interfere diretamente na gestão patrimonial das famílias.
É importante saber quanto custa, do ponto de vista tributário, para manter um patrimônio e para
transmiti-lo aos herdeiros.
Inicialmente, deve-se fazer distinção entre três conceitos que são, genericamente, chamados de
“tributos”, mas não são sinônimos.
21
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
O primeiro tipo de tributo são os impostos, que podem ser definidos como encargos incidentes
sobre renda, patrimônio e bens de consumo. Os impostos podem ser diretos, ou seja, cobrados
diretamente do contribuinte, como o Imposto de Renda. Podem também ser indiretos, como os
que incidem sobre os bens de consumo.
Há, além dos impostos, as taxas, que são tributos que incidem sobre a prestação de um serviço
público. Finalmente, existem ainda as contribuições, tributos instituídos pelo Governo Federal
com uma destinação específica. Por exemplo a extinta CPMF, cujos valores arrecadados eram
destinados ao custeio das necessidades da saúde pública.
Além de conhecer os tipos de tributos, o assessor também deve ter familiaridade com alguns dos
mais importantes princípios do Direito Tributário tal como é aplicado no Brasil.
• Legalidade – Para que um tributo possa ser cobrado pelo Estado, deve existir uma lei que
o regule.
• Igualdade (ou Isonomia) – Os tributos são aplicáveis a todos, tratando com igualdade
os iguais, e desigualmente os desiguais. Cidadãos com menor renda, por exemplo, não
podem ser tributados como os mais ricos.
• Irretroatividade – Um tributo pode ser aplicado apenas aos fatos geradores ocorridos
após a instituição da lei que o criou.
• Anterioridade – O tributo pode ser aplicado apenas no exercício fiscal posterior ao que
a nova lei foi aprovada, respeitando-se também a noventena, ou seja, um período de, no
mínimo, 90 dias após a data da aprovação da lei.
Há dois regimes tributários e conhecer cada um é importante para ações posteriores de gestão
patrimonial. O primeiro deles é o regime de caixa, padrão quando o contribuinte é uma Pessoa
Física. No regime de caixa, a tributação ocorre apenas no momento que houver a disponibilização
da renda, ou ganho de capital, e o fato gerador é o real ganho auferido pelo contribuinte.
22
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
O planejamento tributário pode ser definido como um conjunto de estratégias para otimizar a
carga tributária e tornar mais eficiente o processo de pagamento de tributos utilizando estruturas
e caminhos permitidos pela legislação aplicável. Um bom planejamento tributário será de suma
importância na gestão patrimonial.
Cabe aqui fazer uma distinção importante. Muitas vezes, o termo “planejamento tributário” evoca
uma imagem negativa na mente dos investidores. Mas essa prática não pode ser confundida com
a de evasão fiscal, ou sonegação de impostos. A evasão ocorre quando um contribuinte deixa de
pagar imposto fora da lei. O planejamento tributário não é evasão fiscal, e sim, elisão fiscal, ou
seja, a otimização do pagamento de impostos dentro do permitido pela legislação.
Veremos agora quais são os impostos que incidem sobre a Pessoa Física e a Pessoa Jurídica, e
quais seus impactos na gestão de patrimônio das famílias em suas diversas estruturas.
O primeiro e mais importante imposto que incide sobre a Pessoa Física é o Imposto de Renda.
Ele incide tanto sobre a renda geral, que inclui salários e aluguéis recebidos, quanto a renda
financeira, aquela proveniente dos investimentos, o ganho de capital na alienação de bens e títulos
e valores mobiliários e os dividendos recebidos do exterior. Analisaremos, a seguir, cada uma
dessas categorias.
Renda geral
A renda geral é aquela que inclui recebimentos de salários e aluguéis. No caso dos salários, o
recolhimento do imposto é na fonte, feito pelos empregadores. O imposto sobre os aluguéis
recebidos deve ser recolhido pelo contribuinte via Documento de Arrecadação de Receitas
Federais (DARF). A renda financeira é tributada diretamente na fonte, e de maneira definitiva, pela
instituição financeira.
Quanto às alíquotas, consideremos, em primeiro lugar, o caso do Imposto de Renda sobre a renda
geral. A tributação ocorre de acordo com a tabela progressiva, em função do valor da renda,
segundo as seguintes alíquotas:
23
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Renda Financeira
Já o imposto que incide sobre a renda financeira segue uma tabela regressiva, e as alíquotas
variam em função do prazo de aplicação:
Prazo Alíquota
Até 180 dias 22,5%
De 181 a 360 dias 20%
De 361 a 720 dias 17,5%
Acima de 720 dias 15%
O imposto sobre o ganho de capital geral inclui ganhos na alienação de imóveis, participação
societária fora da bolsa de valores e investimentos no exterior. A tributação segue uma tabela
progressiva, em que a alíquota aumenta em função do ganho.
Ganho Alíquota
Até R$ 5.000.000,00 15%
De R$ 5.000.000,01 a R$ 10.000.000,00 17,5%
De R$ 10.000.000,01 a R$ 30.000.000,00 20%
Acima de R$ 30.000.000,00 22,5%
A alíquota de imposto para ganho de capital com ações na Bolsa de Valores é única, de 15%, para
investimentos de longo prazo – em day trade, é de 20%. O imposto é recolhido pelo contribuinte,
via DARF.
Os dividendos pagos por empresas brasileiras aos acionistas são isentos de tributação.
24
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Outro imposto importante que incide sobre a Pessoa Física e tem grande impacto na gestão de
patrimônio, especificamente no planejamento sucessório, é o Imposto sobre Transmissão Causa
Mortis e Doação (ITCMD). Esse imposto incide sobre doações e heranças, e é de competência
estadual. As alíquotas variam entre os estados, podendo ir de zero a 8%. Cada estado define sua
alíquota e a metodologia de cobrança.
A tributação seguirá a alíquota do estado em que a pessoa que faleceu vivia, ou então, onde
estavam a maior parte dos bens da pessoa. O ITCMD sobre imóveis é recolhido no estado em que
o bem se situa. Esse imposto deve ser recolhido diretamente pelo contribuinte, através de uma
Guia de Arrecadação de Receitas Estaduais (GARE).
Consideraremos agora os impostos sobre a Pessoa Jurídica, levando em conta não o viés
operacional, focando na empresa em si, mas no viés de planejamento sucessório. Vamos analisar,
então, os principais impostos que incidem sobre uma PJ e que podem afetar uma empresa que
concentra o patrimônio de uma família (como uma holding patrimonial, por exemplo).
Lucro Presumido
A regra de tributação que avaliaremos inicialmente considera o regime de Lucro Presumido, mais
comum nas empresas patrimoniais familiares. Há incidência de Imposto de Renda sobre a receita
operacional da empresa, a uma alíquota de 15%. Existe ainda uma alíquota adicional de 10% que
incidirá sobre o valor que exceder R$ 20.000 por mês.
As empresas também são tributadas pela Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), cuja
alíquota é de 9%. Há ainda a incidência de PIS/Cofins, à alíquota de 3,5%.
25
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Quanto à receita financeira, todos os tributos acima incidirão sobre 100% do montante. Isso ocorre
porque a receita financeira não entra na regra de presunção do lucro.
Lucro Real
Caso o regime da empresa seja o de Lucro Real, haverá incidência de Imposto de Renda à alíquota
de 15%, mais um adicional de 10% sobre o que ultrapassar R$ 20.000 por mês. A base de cálculo
não será a receita, e sim o lucro. Há ainda cobrança de CSLL (9%) e PIS/Cofins (9,25%). Tanto IR
quanto CSLL incidem sobre o lucro, mas o PIS/Cofins incide sobre 100% da receita financeira.
Simples Nacional
A tributação sobre o Simples Nacional (sistema de tributação para pequenas empresas) incide
sobre a receita financeira nas mesmas regras da Pessoa Física. O imposto segue a tabela
regressiva, em função do prazo de aplicação, com as seguintes alíquotas:
Prazo Alíquota
Até 180 dias 22,5%
De 181 a 360 dias 20%
De 361 a 720 dias 17,5%
Acima de 720 dias 15%
A renda imobiliária é considerada receita operacional nas empresas que tenham a atividade
imobiliária no seu objeto social. Sendo assim, o aluguel entra na regra da presunção do lucro,
tributando 32% dessa renda. Haverá incidência de Imposto de Renda (15%, mais adicional de 10%
sobre o valor que exceder R$ 20.000 por mês), CSLL (9%) e PIS/Cofins (3,65%). IR e CSLL incidirão
sobre 32% da renda imobiliária e o PIS/Cofins sobre 100% da renda imobiliária.
Os imóveis que pertencem a uma empresa podem ser contabilizados de duas formas. Uma
delas é no ativo circulante, como estoque. A outra é no ativo imobilizado, como investimento.
Dependendo da classificação, a tributação sobre o ganho de capital por ocasião da venda do
imóvel poderá variar.
26
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Se o imóvel for registrado no balanço como estoque (ativo circulante), incidirá uma alíquota de
6,9% sobre o valor da venda. Caso o imóvel esteja classificado como ativo imobilizado, incidirá
uma alíquota de 34% sobre o ganho imobiliário (valor de venda – custo contábil).
Vale destacar que só é possível contabilizar no ativo circulante como estoque os imóveis
disponíveis para a venda. Os imóveis alugados deverão ser contabilizados no ativo imobilizado
como investimentos.
O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é um imposto federal que incide sobre operações
de crédito, câmbio, seguros e investimentos (títulos e valores mobiliários). Consideraremos a
seguir a cobrança de IOF em operações de câmbio.
A declaração de Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) acontece anualmente, tendo sua
entrega prevista para o prazo entre 01 de março a 30 de abril do ano calendário com informações
referentes a 31 de dezembro do ano anterior. A punição por atraso na entrega é de multa de 1% ao
mês incidente sobre o imposto devido, mesmo que já pago integralmente, observados os limites
mínimo de R$ 165,74 e máximo de 20% do imposto devido.
A Declaração de Capitais Brasileiros no Exterior (DCBE) tem como prazo de entrega o período
entre 15 de fevereiro e 05 de abril do ano calendário, com informações referentes ao ano anterior.
27
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Tendo visto os principais aspectos tributários que podem influenciar na gestão patrimonial,
abordaremos agora outro tema fundamental e de grande impacto na conservação do patrimônio e
sua perpetuação através das gerações: o Planejamento Sucessório.
28
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
É possível, em um fundo exclusivo, mudar a estratégia do fundo sem nenhum impacto tributário. A
tributação do fundo exclusivo fechado ocorrerá apenas quando houver resgate de cotas.
Já as desvantagens incluem:
• A gestão é discricionária, ou seja, não é feita pelos cotistas, mas por um gestor contratado
que terá de cumprir o mandato atribuído a ele pelos cotistas.
Vale lembrar que, em caso de doação de cotas, é preciso verificar se ela não ofende a sucessão
legítima. Apenas 50% da massa patrimonial a ser sucedida pode ser livremente direcionada a
beneficiários. A outra metade deve, obrigatoriamente, obedecer a legítima e ser distribuída entre
os herdeiros necessários.
29
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Os fundos restritos ou exclusivos podem ser abertos ou fechados, e há diferenças entre eles
quanto à liquidez, tributação e ao processo de transferência de cotas. A tabela a seguir compara
os fundos abertos e fechados quanto a esses critérios:
Uma das maiores vantagens dos fundos de previdência é o fato de que eles não são objeto
de inventário, já que não são considerados herança. Geralmente, o processo de transmissão
dos bens pode ser demorado, sobretudo se houver litígio. Durante esse período, as famílias
necessitam de liquidez para suprir suas necessidades, manter o padrão de vida, bem como arcar
com todos os custos do processo de inventário. Se a liquidez estiver condicionada à conclusão do
inventário, pode haver um agravamento da situação da família.
Por não ser objeto de inventário, o fundo de previdência pode conferir à família liquidez
imediata. Os beneficiários recebem os recursos diretamente da instituição financeira. Há várias
possibilidades de repassar o patrimônio constituído nesses fundos aos beneficiários, por exemplo
a distribuição dos recursos de forma periódica, como uma renda mensal por prazo determinado
até que o beneficiário atinja a idade definida pelo instituidor do plano.
Há ainda outras três vantagens decorrentes da não inclusão dos planos de previdência na
herança. A primeira é que os recursos do plano não serão canalizados para honrar eventuais
dívidas do falecido, como acontece com os bens recebidos por herança. Além disso, os fundos
30
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Finalmente, os fundos de previdência não são tributados pelo ITCMD quando os recursos são
disponibilizados aos beneficiários. É importante ressaltar que alguns estados (Goiás, Paraná,
Minas Gerais e Rio de Janeiro) já têm em sua legislação previsão para cobrança desse imposto
sobre os recursos de planos de previdência.
A indenização paga pela seguradora não está sujeita à incidência do ITCMD, nem do Imposto de
Renda.
O objetivo de uma holding patrimonial é deter bens. Ela não será uma empresa operacional,
e, sim, proprietária de bens que podem ser, inclusive, outras empresas. A holding pode ser
constituída sob a forma de sociedade limitada, sociedade por ações ou Empresa Individual de
Responsabilidade Limitada (EIRELI).
O escopo de uma holding patrimonial é bastante abrangente. Sob sua estrutura podem ser
inseridos bens e direitos (animais, joias, obras de arte, aeronaves, embarcações e ativos
financeiros), imóveis e participações societárias.
31
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Haverá incidência de ITCMD na doação dos recursos para os netos, com alíquota de 4% no estado
de São Paulo. A distribuição de dividendos é isenta de IR.
Os investimentos no exterior têm se tornado opção cada vez mais procurada pelos investidores
em busca de diversificação de portfólio e busca de maior rentabilidade. O caminho mais imediato
para alcançar mercados internacionais é abrir uma conta de investimentos fora do país. Nesse
caso, a Pessoa Física será a titular da conta e remeterá recursos para o exterior (operação sobre a
qual incidirá IOF) para, posteriormente, fazer as aplicações nos produtos e adquirir ativos. A partir
daí, dependendo do valor remetido, o investidor passa a ser obrigado a declarar a remessa ao
Banco Central.
Os dividendos são tributados de acordo com a tabela progressiva de IR da Pessoa Física com
alíquota de até 27,5%. O recolhimento do imposto deverá ser feito até o último dia útil do mês
subsequente ao recebimento do rendimento ou dividendo.
32
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Mais uma possibilidade para gestão de patrimônio com investimento no exterior são as Empresas
de Investimento, conhecidas como PIC, ou empresas offshore. Ao constituir uma PIC, a pessoa
física brasileira passa a deter participação em uma empresa de investimentos no exterior.
Portanto, ao fechar câmbio para remeter recursos, essa será uma operação de capitalização, pois
o montante será injetado na empresa. O investidor receberá cotas em contrapartida, e a empresa
é que realizará os investimentos no exterior.
Como a PIC é uma empresa com sede fora do Brasil, ela não será tributada no país pelos
rendimentos dos investimentos, pois eles serão considerados caixa da empresa. Além disso, se
a empresa estiver localizada em um paraíso fiscal, também não haverá tributação sobre a renda.
Vale destacar que, desde que os investimentos sejam declarados e os impostos pagos, não há
impedimentos legais no Brasil para a abertura de uma empresa em paraíso fiscal.
A tributação, nesse caso, incidirá sobre a Pessoa Física sócia da empresa, com domicílio fiscal no
Brasil, quando ela receber algum tipo de distribuição de lucros e dividendos da empresa.
A participação na empresa offshore (“PIC”) deverá ser informada na Declaração de Ajuste Anual
do IR da Pessoa Física pelo valor de seu capital a custo de aquisição.
No resgate das cotas do fundo, incidirá imposto sobre o ganho de capital com alíquotas entre 15%
e 22,5% variando em função do montante do ganho. A variação cambial positiva compõe a base
de cálculo desse imposto.
33
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
As cotas do Fundo (“PIF”) deverão ser informadas na Declaração de Ajuste Anual do IR da Pessoa
Física pelo seu custo de aquisição.
3.2.8. Trusts
Os trusts são estruturas de administração patrimonial típicas de países cujo sistema jurídico
é o anglo-saxão (Estados Unidos, Reino Unido, entre outros). Trata-se de um contrato no qual
se define uma relação fiduciária entre o instituidor (settlor), que é o proprietário original do
patrimônio, e o agente fiduciário (trustee).
Nesse contrato, o settlor entrega um determinado patrimônio ao trustee, que tem por obrigação
cuidar e zelar dos recursos como se dele fossem, e entregá-los aos beneficiários definidos pelo
settlor de acordo com as regras definidas no contrato.
• Settlor: é o instituidor do trust. É ele que transfere o patrimônio ao trust, sendo o titular
econômico dos ativos, podendo ou não manter poderes relativos à estrutura, por exemplo,
sobre a gestão dos investimentos.
• Trustee: titular legal dos ativos, tem a propriedade fiduciária do patrimônio que está sob o
trust. Ele é o responsável pela administração do trust, sempre com o objetivo de atender
aos interesses dos beneficiários.
• Beneficiários: são os beneficiários finais dos recursos que estão sob o trust; e em favor de
quem os ativos do trust são mantidos.
• Trust deed: trata-se do contrato em si. Principal documento para constituição do trust,
onde estão os direitos e deveres das partes, bem como as regras de administração e
distribuição.
• Protector: apontado pelo settlor para garantir que as condições do trust sejam cumpridas
pelo trustee. Detentor de alguns poderes enquanto guardião do trust.
Quanto à forma, o trust pode ser revogável ou irrevogável. O trust revogável permite que o settlor
peça, a qualquer momento, a devolução dos bens. O trustee age, nesse caso, como procurador.
No trust irrevogável, o settlor não pode pedir a devolução do patrimônio. Ele perde a propriedade
dos bens.
34
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Trata-se de uma cláusula que determina que os acionistas de uma empresa são igualmente
detentores das mesmas ações, ao mesmo tempo. Por ocasião do falecimento de um dos
acionistas, a totalidade das ações passa a pertencer aos sobreviventes, sem necessidade de
processo de inventário no local.
A cláusula deve ser mencionada nos documentos de constituição da empresa, principalmente nos
certificados de ações emitidas. Não há custo adicional.
Como os acionistas são condôminos, não é possível alterar a composição acionária sem a
anuência de todos.
O testamento no exterior é feito na jurisdição onde está localizado o patrimônio a ser sucedido.
Exemplo: se o patrimônio for uma PIC nas Bahamas, com conta de investimento nos Estados
Unidos, o testamento deverá ser feito nas Bahamas, independentemente de a conta de
investimento estar localizada nos Estados Unidos.
O testamento no exterior tem a mesma função do testamento no Brasil, ou seja, ele é uma
demonstração de última vontade do dono do patrimônio. Ele não evita o processo de inventário.
Vale lembrar que há custo de advogados para fazer o testamento e para executá-lo.
O family office concentra, na mão de poucos especialistas, as capacidades de uma grande gestora
de investimentos. Costuma ter conselheiro, contador, banker, corretor de seguros, advogado,
planejador financeiro e, claro, assessor de investimentos.
35
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
O single family office é uma estrutura de gestão inteiramente dedicada a uma família, em suas
diferentes gerações. Normalmente, são fundadores e herdeiros de grandes empresas, com
patrimônio acima de R$ 100 milhões, interessados em perpetuar essa riqueza.
O multi family office atende a mais famílias. Ao dividir atenções, o escritório divide também seus
custos. Ele é mais acessível, ao alcance de patrimônios acima de R$ 5 milhões.
O planejamento começa com uma análise patrimonial. Quais são os investimentos presentes, que
retorno eles trazem, com que consequências. A partir desse diagnóstico, é possível discutir o que
vale a pena manter, vender ou mesmo abrir mão.
Não existe resposta pronta. As decisões dependem dos objetivos da família e de aspectos
subjetivos, como a tolerância a riscos.
A discussão deve levar à criação de uma política de investimentos, também conhecida como
investment policy statement (IPS). Essa política reúne informações sobre o cliente, como idade,
situação patrimonial, objetivos e tolerância a riscos.
36
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Planejamento tributário
Vários tipos de investimento podem atender aos objetivos da família dona do patrimônio,
expressos no investment policy statement. Mas uns pagam mais impostos do que outros. É papel
do family office comparar os custos de cada ativo ou das diferentes maneiras de organizar esses
investimentos (como agrupá-los em uma holding patrimonial, por exemplo).
Planejamento sucessório
Quanto maior um patrimônio, maior o potencial prejuízo de uma perda – e mais importante
se torna a mitigação de riscos. É importante dimensionar a cobertura de seguros e planos de
previdência, para bens mensuráveis e imensuráveis da família, em produtos como seguros de
imóveis, de responsabilidade civil, de doenças graves e de vida.
37
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Está claro como o family office pode perpetuar a riqueza aumentando a entrada de dinheiro – mas
ele também pode operar diminuindo a saída. O padrão de gastos da família deve ser adequado a
seus objetivos. O gestor costuma ajudar no planejamento de longo prazo e oferecer conveniência
em tarefas do cotidiano, como na escolha de colégios ou imóveis.
A expressão “pai rico, filho nobre, neto pobre” tem equivalentes em inglês (algo como “de
arregaçar as mangas até arregaçar as mangas em três gerações”), italiano (“das estrelas ao
estábulo”), japonês (“a terceira geração arruína a casa”), chinês (“das sandálias às sandálias em
três gerações”). Não é por acaso. Existe uma preocupação universal com conseguir transformar
a riqueza de uma geração em prosperidade duradoura para as gerações seguintes. Como manter
uma renda perpétua – que não se esgote com o passar das décadas – numa estratégia adequada
às prioridades da família?
38
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Criar uma política de investimentos é como desenhar uma casa. Não existe fórmula pronta,
aqui está grande parte da importância do assessor de investimentos. É necessário ir além do
questionário de suitability e estruturar uma série de entrevistas com perguntas capazes de trazer
respostas detalhadas.
Existem várias formas de medir risco e retorno de uma carteira. Uma delas é o índice de Sharpe:
𝑅𝑅!! − 𝑅𝑅""
𝑅𝑅
Í𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛 𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆
í𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛 𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆 =
=
𝜎𝜎!
Quanto maior o índice, melhor o desempenho do ativo em relação ao risco. Índices acima de 1 são
considerados excelentes.
Para evitar o risco de ruína, fuja de aplicações com elevado risco de crédito, alta alavancagem.
Procure diversificar o patrimônio, ao incluir na carteira ativos de outros países ou dolarizados,
como commodities.
Tão importante quanto os ativos é o veículo – a forma como eles serão organizados.
• Empresa offshore
• Fundo exclusivo
39
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
• Previdência privada
• Fundos de investimentos
Uma forma de organizar os ativos é o Yale Model, criado por David Frederick Swensen, gestor de
fundos patrimoniais e diretor de investimentos da Universidade Yale por mais de 20 anos. Com ele,
você:
• Refaz o balanceamento das proporções ao longo do tempo, para não ter uma exposição
ao risco maior do que a planejada
Definir os tipos de ativos, antes dos ativos em si, é importante porque produtos do mesmo tipo se
comportam de maneira semelhante. Um estudo da gestora americana Vanguard concluiu que 91%
do sucesso de um portfólio decorre das alocações estratégicas (a escolha de setores), e apenas
9% das alocações táticas (agilidade na compra e venda de ativos). Trace uma estratégia e confie
nela – resistindo à tentação de pegar carona na valorização de papéis que você não conhece, ou
à tentação de alocar recursos em fundos de investimento agressivos. O ótimo desempenho nos
últimos anos não é garantia sequer de sua sobrevivência nos próximos.
Esse modelo de gestão permite que o investidor defina e organize seus investimentos em torno
de necessidades de curto, médio e longo prazo. A partir daí serão definidos os veículos de
investimento e os ativos que estarão sob sua estrutura.
40
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Na alocação estratégica, são pensados os pesos estruturais de cada classe de ativo que integrará
a carteira, com foco em um horizonte de longo prazo. Se um investidor deseja que seu portfólio
seja trabalhado com ativos de renda fixa, renda variável e ativos imobiliários, a gestão estratégica
definirá a proporção de cada classe na carteira. Pode ser, por exemplo, 50% renda fixa, 30% renda
variável e 20% em ativos imobiliários.
Com base na política de investimentos, portanto, será definida a estratégia de longo prazo do
investidor. À medida que o tempo for passando, poderão ocorrer alguns desvios táticos.
A alocação tática acontece à medida que o cenário vai se desenrolando. Caso os profissionais
estejam mais otimistas com o setor imobiliário, por exemplo, os 20% estruturais podem aumentar
para algo como 30%. Caso a visão para o segmento de renda fixa seja negativa, é possível passar
dos 50% estruturais para 40%.
41
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
Carteira Administrada
É possível contar com uma equipe especializada, tornando a gestão profissional, eficiente em
termos de alocação de ativos e alinhada às expectativas do investidor.
Fundo Exclusivo
O fundo exclusivo é uma estrutura mais sofisticada, que está organizada sob um CNPJ. Existem
três estruturas mais comuns de fundos exclusivos. Os fundos abertos são aqueles nos quais
o resgate pode ser feito a qualquer momento. Não há incidência de tributação nas operações
realizadas pelo fundo. Ela ocorrerá apenas no momento de resgate de cotas.
Podemos ainda considerar a opção de um fundo de investimento em ações, nos quais pelo
menos 67% da carteira deve estar alocada em ações. Esse tipo de aplicação é voltado para
investidores mais arrojados, em busca de maiores retornos e com foco em um prazo mais longo.
Fundo Previdenciário
Um dos maiores atrativos do fundo previdenciário são os benefícios fiscais tanto no curto quanto
no longo prazo. Não há incidência de come-cotas, há o mesmo grau de liquidez do que no fundo
de investimento aberto, e grande flexibilidade na escolha de ativos.
A indicação de beneficiários e o percentual de patrimônio para cada um deles são de livre escolha,
desde que respeitada a herança legítima. O patrimônio é transferido sem burocracia para os
herdeiros e, em alguns casos, sem incidência de imposto de transferência de riqueza (ITCMD).
Como não passa por inventário, tal transferência pode ser realizada sem custos advocatícios.
42
WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING
GLOSSÁRIO:
CLIQUE AQUI
SUGESTÕES E CORREÇÕES
Como podemos melhorar nossa apostila?
CLIQUE AQUI
43