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Farmácia Hospitalar Número 13 - Abril/Maio 2011

Atuação do farmacêutico
no centro cirúrgico

Lílian Calado Cavalcante Montano


Farmacêutica Graduada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
Especialização em Nutrição Clínica pelo Grupo de Apoio à Nutrição Enteral
e Parenteral (GANEP), Aprimoramento em Farmácia Hospitalar e Clínica –
InCor – HC – FMUSP, e Farmacêutica Chefe de Seção da Farmácia Cirúrgica do
Serviço de Farmácia InCor – HCFMUSP.
lilian.calado@incor.usp.br

Alessandra Vieira Silva


Farmacêutica Bioquímica pela Universidade Nove de Julho e Farmacêutica da
Farmácia Cirúrgica do Serviço de Farmácia InCor – HCFMUSP.
alessandra.silva@incor.usp.br

George Washington Bezerra da Cunha


Farmacêutico‑Bioquímico graduado na Universidade Federal do Ceará (UFC),
Administrador Hospitalar pelo Instituto de Pesquisa Hospitalares (IPH),
Especialização em Programas de Estudos Avançados em Administração
Hospitalar e Sistemas de Saúde – PROHASA – Fundação Getúlio Vargas,
Ex‑Presidente da CEME – Central de Medicamentos do Ministério da Saúde,
Diretor Técnico do Serviço de Farmácia InCor – HCFMUSP.
george.cunha@incor.usp.br
Atuação do farmacêutico no centro cirúrgico
Número 13 - Abril/Maio 2011

1. INTRODUÇÃO

A grande discussão nos dias atuais é do ato anestésico‑cirúrgico até a globalidade


conseguir, dentro dos hospitais, que a gestão do processo de trabalho realizado neste setor.
da saúde seja realizada com qualidade, eficá- Para estes autores as “tentativas de mensurar
cia, eficiência e aplicação correta dos recursos, os resultados da qualidade vem aumentando
minimizando as perdas. Isto se torna particu- significamente e com certeza continuarão à
larmente importante, quando os assuntos são medida que forem documentados os valores
medicamentos e produtos para saúde de uso dos programas e serviços prestados em cen-
especial devido ao seu custo e grande utiliza- tros cirúrgicos”.
ção. A possibilidade de se visualizar em “kits” Além dos médicos, atuam, no centro
o material direcionado ao ato cirúrgico, além cirúrgico, enfermeiros, técnicos de enferma-
de facilitar o acesso vai permitir o usuário ter o gem, farmacêuticos, auxiliares de farmácia e
conhecimento exato das disponibilidades eco- técnico‑administrativos, dentre outros que
nômicas e institucionais. respondem pelos processos de trabalho de-
De acordo com Mastrantonio e Gra- senvolvidos no setor. No cotidiano fica evi-
ziano (2002, p.333) “a unidade de centro ci- dente que as relações interprofissionais são
rúrgico é uma área geradora de receita para hierarquizadas, assimétricas e caracterizadas
os hospitais” e em razão disso, o desenvolvi- por dinamismo decorrente da necessidade de
mento de programas que garantam a quali- um trabalho em equipe.
dade “é uma necessidade em termos de efi- O centro cirúrgico é uma organização
ciência e uma obrigação do ponto de vista complexa, formado por várias partes que se
ético e moral”. relacionam para além de um layout arquite-
Estudos indicam que o índice de ocupa- tônico, equipamentos e aparelhagem sofisti-
ção de salas cirúrgicas nos hospitais de países cada. O relacionamento dessas partes é im-
desenvolvidos gira em torno de 85%, em com- portante, tendo em vista que o seu funciona-
paração com os 53% de ocupação detectado mento só ocorre de forma adequada quando
em instituições de saúde pública do Brasil, os critérios destas relações estiverem bem
principalmente aquelas com caráter de ensino definidos, ou seja, integrados.
e pesquisa (GATTO, 1998). Contudo, a farmácia em centro cirúr-
Mastrantonio e Graziano (2002, p.333) gico aparece dentro desta organização bus-
mencionam ainda que o caminho para se al- cando um trabalho em equipe com todos os
cançar o equilíbrio entre eficiência e eficácia profissionais envolvidos no centro cirúrgico
em um centro cirúrgico obriga os gestores a se responsabilizando em trazer qualidade na
conhecer detalhadamente a realidade, desde logística do insumo certo na hora certa e na
questões relacionadas ao desenvolvimento área certa.

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2. GESTÃO DO CENTRO CIRÚRGICO

processo de trabalho e funcionamento, quem


define quais os objetivos, metas, fluxos e toda
a dinâmica do setor.
O desenvolvimento da liderança se tor-
na essencial para que seus colaboradores ca-
minhem lado a lado e busquem também a
excelência do atendimento. Segundo Pinto,
B. V et al (2009), liderança se define como
um sistema cuja a finalidade é mobilizar as
pessoas para cumprir a missão e realizar a vi-
Segundo Bernardino, H.M.O.M. et al são da organização. Os autores consideram
(2009), as pessoas são os principais recursos que para que a organização produza bens ou
das organizações. A gestão de pessoas é uma serviços necessita de um sistema eficaz para
área contingencial e situacional, que depen- obter resultados e manter sustentabilidade.
de, dentre outras variáveis, da cultura de cada Um sistema de liderança promove lealdade
organização. e o trabalho em equipe baseados nos valores
O desenvolvimento de uma cultura hu- e na busca dos propósitos comuns. Apóia a
manística e o posicionamento interdisciplinar iniciativa, a criatividade e a gestão de risco,
do farmacêutico hospitalar se faz necessário subordina a organização ao seu propósito
para o bom desempenho profissional, face à e função e evita cadeias de comando que
articulação e integração da farmácia hospita- obrigam a longos caminhos para a tomada
lar com os demais serviços e unidades clínicas. de decisão.
Desenvolver habilidades e usar da empatia Para a excelência dos serviços prestados
para ser capaz de entender e motivar pessoas e o cumprimento da sua missão, a farmácia
e grupos é fundamental nas relações interpes- hospitalar precisa contar com os profissio-
soais e para a eficácia dos resultados na gestão nais em número suficiente e perfil adequado
de pessoas. ao desempenho de suas funções. (BERNAR-
No centro cirúrgico, existem diferentes DINO, 2009)
categorias profissionais atuantes e relações hie- A organização do quadro de colabora-
rárquicas com suas respectivas coordenações dores da farmácia do centro cirúrgico deve
interagindo entre si em busca de um projeto obedecer os “Padrões mínimos para farmácia
assistencial e gerencial comum a área. hospitalar e serviços de saúde” elaborado pela
O colaborador de qualquer categoria Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar e
profissional necessita conhecer as normas do Serviços de Saúde (Sbrafh), 2007.

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•  1 Farmacêutico por turno

Farmácia em Centro Cirúrgico


•  1 Auxiliar de farmácia para 4 salas de cirurgia
por turno.

Segundo Bernardino et al (2009), o grau Buscar o envolvimento da equipe para


de instrução dos colaboradores que compo- a excelência do atendimento da farmácia do
rão o quadro de pessoal da farmácia cirúrgi- centro cirúrgico é um processo contínuo e
ca deve ser compatível com a complexidade que se expressa pelos resultados revertidos
das atividades que lhe são delegadas e estes ao paciente e toda a equipe multiprofissional
devem ser capacitados e treinados de acordo dentro do centro cirúrgico.
com os programas previamente elabo­rados
pela Educação Continuada do serviço.

3. ROTINAS OPERACIONAIS

A programação cirúrgica é feita pelo coor- bém em se tratando de fios, serem classifica-
denador médico, que recebe das unidades de dos de acordo com o procedimento.
internação, 48h antes da cirurgia, a solicitação Como a farmácia do centro cirúrgico
para intervenção cirúrgica, com a identificação funciona 24 horas, a distribuição de tarefas
dos pacientes e os tipos de procedimentos a entre os auxiliares de farmácia é realizada da
serem realizados. A programação é discutida seguinte forma:
pelo coordenador cirúrgico e coordenador da
Período diurno:
anestesiologia. Após a confirmação pela enfer-
• reposição dos materiais e medica­
magem, a farmácia do centro cirúrgico recebe a
mentos,
demanda de materiais a serem providenciados
para os procedimentos. • conferência e montagem dos kits
O atendimento pela farmácia do centro dispensados,
cirúrgico é realizado com kits para facilitar o • realização dos pedidos diários e se-
processo de débito em conta e movimentação manais,
dos materiais no controle do estoque. Os kits • organização dos estoques,
podem ser divididos em adulto, infantil e tam- • verificação da validade;

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Figura 1: modelo de Procedimento Operacional Padrão (POP).

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Período noturno: conferência, o farmacêutico solicita reposição


• débito de materiais e medicamentos na desses materiais utilizados e encaminha essas
conta do paciente, notas de débito ao faturamento processar a
conta do paciente.
montagem dos carros cirúrgicos de
• 
Para que haja uma melhoria nos proces-
acordo com o procedimento e paciente,
sos, o gestor elabora e padroniza as atividades
inventário físico diário do psicofár­
•  a serem desempenhadas pelos profissionais
maco, da área a fim de proporcionar uniformização
• abastecimento de “soros” nas estufas e dos processos com conseqüente melhoria
geladeiras. na assistência prestada ao paciente cirúrgico
e a equipe multiprofissional. O manual de
Já o farmacêutico confere as digitações rotinas e procedimentos tem como objetivo
realizadas para o paciente no dia posterior informar, disseminar, manter as informações,
ao procedimento, verificando o débito dos sanar as dúvidas em qualquer das etapas do
materiais especiais, principalmente quanto processo, a fim de garantir a qualidade. Este
a importância dos lotes/séries dos materiais manual deve ser revisado periodicamente. Ao
implantáveis (prótese, marca‑passo e enxer- lado, modelo de Procedimento Operacional
to) para se obter a rastreabilidade. Após a Padrão (POP) – figura 1.

4. ATIVIDADES DO FARMACÊUTICO

A complexidade do centro cirúrgico exige


do farmacêutico a previsão e o gerenciamento
de medicamentos e materiais, indispensáveis
para a realização de procedimentos anesté-
sicos‑cirúrgicos. Na inter‑relação farmácia,
compras e suprimentos pode ocorrer uma
falta de sintonia e conseqüente repercussão na
assistência ao paciente. Na atuação em centro
cirúrgico, o farmacêutico se dedica também a
questões administrativas e burocráticas, fican-
do responsável por organizar, prover, acompa-
nhar e deixar disponíveis os materiais para as
cirurgias programadas.

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Dentro deste contexto, a missão do far- Elaboração/atualização dos Procedi-


• 
macêutico é promover e incentivar a qualida- mentos Operacionais Padrão (POP);
de técnica do atendimento a partir de enten- Identificar talentos e habilidades na
• 
dimento entre os profissionais, estabelecendo equipe incentivando seu desenvolvi-
estratégias de avaliação e controle do processo, mento.
resgatando o profissionalismo e valorizando o É de responsabilidade do farmacêutico,
trabalho. Abaixo, relacionam‑se algumas ativi- desenvolver um serviço abrangente e de alta
dades desempenhadas pelo farmacêutico: qualidade, coordenado adequadamente para
• Monitoramento de estoque de medi- atender as necessidades das equipes médi-
camentos, materiais especiais e conven- cas e enfermagem do Centro Cirúrgico com
cionais observando pontos críticos de intuito de propiciar a melhor assistência ao
abastecimento cobrando dos setores paciente.
responsáveis parecer sobre reposição,
quando necessária solicitação de em-
préstimos de materiais de outros setores;
• Busca de soluções contínuas na melho-
ria nos processos;
• Participação no sistema de gerencia-
mento de riscos, através da elaboração
das notificações referente a medica-
mentos e demais produtos para saúde;
• Identificação e treinamento de profis-
sionais que têm potencial para o de-
sempenho de tarefas específicas;
• Foco em resultados: trabalho contínuo;
• Trabalhar em equipe de forma colabo-
rativa e integrada, cultivando o bom
relacionamento e adquirindo credibili-
dade;

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5. FLUXOGRAMA DE ATIVIDADES NA
FARMÁCIA EM CENTRO CIRÚRGICO

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6. FÁRMACO E TECNOVIGILÂNCIA

A ocorrência crescente de casos docu- cia e Tecnovigilância tem grande impacto na


mentados de eventos adversos no cuidado à qualidade da Assistência prestada ao paciente
saúde tem provocado um debate sobre a se- que está sendo submetido a procedimentos
gurança do paciente em âmbito internacional. cirúrgicos. Segundo Anvisa, os temas são defi-
Os hospitais são espaços que visam a nidos:
proporcionar à população assistência médica • A farmacovigilância é uma atividade
sanitária, utilizando‑se de recursos humanos e que permite, durante a etapa de uso
insumos. comercial em larga escala, uma obser-
O envolvimento dos profissionais de vação da segurança real do medica-
saúde com os princípios da Farmacovigilân- mento e assim, detectar efeitos adver-

Figura 2. Impresso para notificação de produtos com desvio de qualidade ou não conformidade.

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sos não previstos nas etapas previas ao pós‑comercialização (equipamentos,


seu lançamento no mercado. A farma- materiais, artigos médico‑hospitalares,
covigilância nos auxilia assim a ter me- implantes, produtos para diagnóstico
dicamentos mais seguros no mercado, de uso “in‑vitro”), através de estudos,
detectando precocemente reações ad- análise e investigações a partir das no-
versas (indesejáveis) conhecidas, mau tificações recebidas.
uso dos mesmos e interações medica- A interação do farmacêutico com as
mentosas, assim como seus aumentos equipes de médicos e enfermagem passa a ser
de frequência, além de identificar fato- maior pela participação do profissional na prá-
res de risco. tica do gerenciamento de risco e pelo fato de
• Tecnovigilância é o sistema de vigilância que o médico passa a agregar novas referên-
de eventos adversos e queixas técnicas cias à avaliação do tratamento a ser prescrito
de produtos para a saúde na fase de e do material a ser utilizado. Os enfermeiros
pós‑comercialização, com vistas a re- aprendem a relacionar eventos da prática de
comendar a adoção de medidas que cuidados com os possíveis riscos decorrentes
garantam a proteção e a promoção do uso de medicamentos e materiais. Abaixo,
da saúde da população. Visa a segu- modelos das fichas utilizadas na prática de no-
rança sanitária de produtos para saúde tificação (Figuras 2 e 3).

Figura 3. Impresso para notificação de produto que causou dano à saúde do usuário ou do profissional.

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7. RELACIONAMENTO MÉDICO X
FARMACÊUTICO X ENFERMEIRO
Dentro do centro cirúrgico, os principais da, em que se busque não somente o bem‑es-
agentes da assistência hospitalar são os grupos tar do paciente, mas também dos profissio-
de médico e enfermeiros, sendo considerados nais de saúde que nele atuam, é necessária.
os grupos de maior representatividade para os Portanto, o Centro Cirúrgico precisa criar um
serviços da saúde devido às distintas funções ambiente que satisfaça tanto às demandas de
que exercem. O médico encarrega‑se do proce- cuidado do paciente, quanto às ações dos pro-
dimento cirúrgico do paciente e ao enfermeiro fissionais, favorecendo o relacionamento entre
cabe a execução dos cuidados complementares. estes, contribuindo, assim, com o desempenho
O papel do farmacêutico aparece para visando o cuidado integral do paciente.
que se tenha além da provisão de medicamen- Todos os participantes envolvidos na
tos e materiais específicos, contato direto com assistência prestada ao paciente cirúrgico de-
ambas as equipes para o aperfeiçoamento das vem falar a mesma linguagem, voltados para
atividades desempenhadas pelos profissionais um objetivo comum, dessa maneira as infor-
da Farmácia em centro cirúrgico, agregando mações serão adequadamente transmitidas e
qualidade na assistência prestada. entendidas (OLM, 1987).
A existência de um ambiente agradável Para que as relações de um bom trabalho
que inclui uma assistência também humaniza- em equipe sejam realizadas, são necessários

Quadro 1: Sistema Assistencial em Centro Cirúrgico

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alguns requisitos: autoconhecimento e relacio- cêutico‑enfermeiro na assistência prestada ao


namento do grupo, e os objetivos comuns de paciente cirúrgico, podemos destacar no qua-
trabalho. dro ao lado (Quadro 1).
Por outro lado, podemos citar dois obs- Um relacionamento favorável entre os
táculos que podem interferir nas relações in- profissionais atuantes no centro cirúrgico, além
terprofissionais: distorção da comunicação e de ser essencial para o bom andamento da ci-
desequilíbrio emocional. rurgia, também pode estimular um ambiente
Em uma análise que une médico‑farma- de cuidado harmônico para o paciente.

8. PLANEJAMENTO

O planejamento anual é realizado pelo 6) Plano de ação: planejamento de todas


gestor da área, num processo gerencial que as ações necessárias para atingir os re-
formula objetivos para a seleção de planos sultados esperados
de ação na sua execução, levando em con- 7) Equipe: quem desempenhará as ativi-
ta as condições da empresa e sua evolução dades
esperada. Ele permite ao farmacêutico iden- 8) Prazo: data para implantação das ati-
tificar os problemas, propor melhorias atra- vidades do plano de ação
vés de elaboração de projetos e praticando 9) Ações: descrição das atividades a se-
as atividades de liderança dentro do processo rem desenvolvidas para o alcance do
contínuo de mudanças e aperfeiçoamento objetivo.
profissional. A realização de um planejamento anual
Abaixo listamos alguns ítens necessários promove a motivação da equipe levando a
para o desenvolvimento do planejamento anu- uma excelência no atendimento e alcançando
al e acompanhamento das atividades a serem melhores resultados na assistência farmacêuti-
desempenhadas pela área. ca prestada ao paciente cirúrgico.
1) Objetivo: melhoria proposta Maria Gomes (2009, p. 69) alerta que se
2) Responsável: gestor da área devem considerar possíveis intercorrências nos
3) Indicador: dados coletados rotinei- processos de trabalho na área da saúde, porém
ramente, padronizados e que permi- essas organizações não podem trabalhar na
tem a comparação dentro e/ou fora base da improvisação, sendo necessário o pla-
do serviço. nejamento com margem de segurança.
4) Meta: o que pretende alcançar De acordo com Chiavenato (2000, p.195),
5) Prazo: determinação de data final “o planejamento é um processo que começa

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com objetivos e define os planos para alcan- derando que o produto do centro cirúrgico é
çá‑los”, e que para um instrumento gerencial a “prestação de cuidados, em caráter eletivo
mostra o que deve ser feito, quando, como e ou emergencial, suas atividades são comple-
em que seqüência se deve fazer. xas e os processos necessários na produção do
Torna‑se importante ressaltar que es- resultado sejam desenvolvidos de modo har-
tes processos é um conjunto de operações monioso, sincronizado e eficiente, com vistas
sucessivas que proporcionam um resultado à segurança dos recursos humanos atuantes e
definido, o produto. (Deus, 2009, p.4) Consi- do paciente”. (SILVA, 1997, p.21)

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ainda é um pouco recente, a participação Isto posto, que atividades essenciais fica-
efetiva do farmacêutico no processo de aten- riam nas mãos do farmacêutico em centro ci-
dimento dentro do centro cirúrgico. Apesar de rúrgico?
utilizar alguns medicamentos específicos, anes- 1.  Elaboração da política de medica­
tésicos em sua maioria, a área cirúrgica neces- mentos.
sita de produtos para saúde, e estes tem uma 2. Estabelecimento de padrões aceitá-
ligação umbilical com a área de suprimentos, veis para a reposição de materiais.
responsável pelo abastecimento e aquisição
3. Otimização do relacionamento com
dos mesmos.
cirurgiões, anestesistas, enfermeiros
Alguns hospitais já conseguiram organizar
e outros profissionais envolvidos no
uma área de logística que possua dupla coor-
processo.
denação (técnica e operacional) e que cuida
de forma integrada da provisão, abastecimen- 4. Disponibilização de informações fár-
to, distribuição, aquisição e controle. maco‑cirúrgicas à equipe multidisci­
Assim é que o farmacêutico assume as plinar.
funções de gestor, embasado em instrumentos 5.  Gerenciamento de conflitos envol-
administrativos e consegue estabelecer diálogo vendo faltas de medicamentos e ma-
utilizando evidências fármaco‑clínicas e cirúr- teriais convencionais e especiais.
gicas, para manter atualizado o planejamento Fica como lembrete aos novos profissio-
elaborado em conjunto com os gestores de nais que pretendem atuar em centro cirúrgico,
Suprimentos, reduzindo a ruptura de estoque que o modus faciendi é: faça segundo a arte,
tão indesejável. conforme manda a receita!

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10. REFERÊNCIAS

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maio‑2000

DEUS, A.D. Oficina de Planejamento do HC/UFMG: Uma só direção, esta peça também é sua.
Belo Horizonte, in mimeo, fev. 2009.

GOMES, M.C.S.A. Organização e Gestão do Centro Cirúrgico de um hospital universitário de


Belo Horizonte – Minas Gerais. Minas Gerais, 2009

MASTRANTONIO, M.A.; GRAZIANO,K.U. Proposta de um instrumento de avaliação dos padrões de


qualidade de uma unidade de centro cirúrgico ajuizado por especialistas. O mundo da Saúde. São
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NOVAES, MRCG; SOUZA, NNR et al. Guia de Boas Práticas em Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde
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PASCHOAL, M.L.H, CASTILHO, V. Consumo de materiais em Centro Cirúrgico após implemen-


tação de sistema de gestão informatizado. Revista Brasileira de Enfermagem, vol 63, nov/dez 2010

SILVA, M.d’A. A. et al.Enfermagem na Unidade de Centro Cirúrgico.São Paulo:EPU, 1997.

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SILVA, D.C.; ALVIM, N.A.T. Ambiente do Centro Cirúrgico e os elementos que o integram: impli-
cações para os cuidados de enfermagem. Brasília, Revista Brasileira de Enfermagem, vol 63, maio‑ju-
nho 2010.

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Marco Aurélio Ilenir Leão Tuma Eugenie Desireé José Ferreira Marcos George Washington
Schramm Ribeiro Rabelo Neri Bezerra da Cunha

Este encarte foi idealizado e organizado pela Comissão de Farmácia Hospitalar do Conselho Federal de Far‑
mácia (Comfarhosp), composta pelos farmacêuticos hospitalares Marco Aurélio Schramm Ribeiro, Presidente
(CE), Ilenir Leão Tuma (GO), Eugenie Desireé Rabelo Nery (CE), José Ferreira Marcos (SP) e George Washing‑
ton Bezerra da Cunha (SP). O e‑mail da Comissão é comfarhosp@cff.org.br

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