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Brasileiro
Indaial – 2022
1a Edição
Elaboração:
Prof. Leomar Peruzzo
P471t
Peruzzo, Leomar
ISBN 978-85-515-0519-9
ISBN Digital 978-85-515-0515-1
CDD B869.2
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Bem-vindo à disciplina de Teatro Brasileiro! O material que
você está prestes a conhecer foi desenvolvido com a agrupamento de temas que
estão conectados ao desenvolvimento do teatro brasileiro. O Livro Didático busca
dialogar com os fundamentos do Teatro Brasileiro desde a instauração do império até
a contemporaneidade. Os diálogos estabelecidos entre os diversos temas incitam a
reflexão em torno das origens do teatro brasileiro e os aspectos que a evolução teatral
em terras brasileiras apresentou.
O teatro brasileiro instalou-se em terras brasileiras com a chegada dos
colonizadores e a necessidade de catequização dos povos originários. Esse fato inaugura
a invasão de signos e significados da religião e dos dogmas tradicionalmente impostos
pela doutrina cristã. Em terras brasileiras, os povos que aqui residiam provavelmente
praticavam rituais com intuito religioso ou rituais que conectavam corpo e natureza. Em
termos de arte dramática, os padrões clássicos europeus desembarcaram no Brasil com
a vinda dos portugueses; e o desenvolvimento de centros urbanos trouxe a necessidade
de implementar a produção de espetáculos de teatro.
Na Unidade 1, abordaremos aspectos do teatro no Brasil Colônia e os aspectos
que definiram as primeiras manifestações teatrais eurocêntricas e com fundamentos
na doutrinação religiosa. Nesse período, a arte dramática era recurso eficiente para
introduzir os dogmas religiosos e desenvolver a instauração dos padrões religiosos da
época. Os conteúdos selecionados dialogam com uma perspectiva contemporânea na
discussão e apresentação dos principais aspectos do teatro no Brasil.
Em seguida, na Unidade 2, estudaremos o teatro pré-moderno e seus aspectos
que, posteriormente, desencadearam a arte dramática brasileira na modernidade. Os
processos criativos e os modos de criar desenvolveram espetáculos de teatro em um
tempo de profundas transformações sociais – fossem elas no Brasil ou em dimensões
globais. Foi no período modernista que o teatro brasileiro solidificou suas bases e criou
metodologias específicas para o desenvolvimento de modalidades teatrais originais.
Esse período precedeu a era de ouro do teatro nacional e revelou grandes dramaturgos,
encenadores e produtores de teatro.
Por fim, na Unidade 3, aprenderemos o teatro brasileiro na contemporaneidade,
seus hibridismos e o desenvolvimento de grupos de pesquisa em arte dramática. Este
período foi marcado por conflitos sociais, ditadura militar, retrocessos em incentivos
para a produção, mas rico em propostas de resistência populares, em diversidade de
propostas teatrais e implementação de cursos superiores em arte dramática. Por fim,
convidamos você, acadêmico, para mergulhar no universo da arte dramática brasileira
e construir seu conhecimento em torno dos aspectos que são importantes para a
definição de um teatro dito brasileiro.
Bons estudos!
Prof. Leomar Peruzzo
GIO
Olá, eu sou a Gio!
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................76
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................155
REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 256
UNIDADE 1 -
ORIGENS E FUNDAMENTOS
DO TEATRO BRASILEIRO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
O TEATRO NO BRASIL COLÔNIA
1 INTRODUÇÃO
Convidamos você a mergulhar no cenário do Brasil recém-habitado por
desbravadores europeus com seus ares de superioridade, vestimentas bufantes e
tradições religiosas específicas. Os padrões europeus de teatro chegaram com a cultura
dos colonizadores e com a intencionalidade de doutrinar os povos originários que por
aqui viviam. Se pensarmos em rituais para organizar a experiência religiosa ou para
cultuar divindades específicas praticadas pelas tribos de povos originários, podemos
cogitar a presença de ações teatralizadas para fins ritualísticos. A Figura 1 propõe
retratar, de forma ficcional, a primeiro ritual religioso realizado em terras brasileiras que
pode ter marcado a presença da cultura branca europeia.
FIGURA 1 – PINTURA DA PRIMEIRA MISSA REALIZADA NO BRASIL EM 1500, DE VICTOR MEIRELLES (1861)
3
Este tópico explora a arte dramática conectada com a chegada da Companhia
de Jesus e seus missionários, além de suas práticas para disseminar as tradições,
pensamento e dogmas relacionados à religião. Os temas que surgem em dramaturgias
são os bíblicos, que buscavam inserir as crenças religiosas e enclausurar os corpos que
aqui viviam sua liberdade em tradições religiosas com traços medievais.
Este material está estruturado em três esferas centrais que localizam o estudante
no tempo, espaço e quais personagens históricos agiam no contexto histórico-cultural
da época abordada. Quem? Como? Quando? São esferas que agregam os principais fatos
do período abordado e traçam linhas temporais no desenvolvimento do teatro brasileiro.
4
O padre Manoel da Nóbrega (1517-1570) em 1957 escreve um dos primeiros
diálogos destinados para a encenação. Esse diálogo chamava-se Conversão do Gentio
e representa um dos primeiros registros da presença de textos dramatúrgicos no
período provincial. A maior expansão do teatro no período do Brasil província ocorreu
aproximadamente em 1567 em que o padre José de Anchieta, apoiado pelo padre
Nóbrega, apresenta em São Paulo de Piratininga uma peça com título de Pregação
Universal. Desse texto chegou somente duas estrofes aos tempos atuais.
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As celebrações continham roteiros que mostravam símbolos e imagens de
santos, mas também incluíam encenações que abordavam particularidades de cada
santidade envolvida ou trechos bíblicos. Temas relacionados aos assuntos bíblicos
e santidades conectadas à instituição religiosa estavam presentes. As estratégias
para envolver os povos nativos nas celebrações ou doutrinar os que viviam em terras
brasileiras eram variadas e buscavam nas áreas da Arte para que os objetivos pudessem
sem atingidos. A música, dança, canto e teatro eram amplamente explorados para
que os integrantes das escolas de Ler e Escrever, coordenadas pelos padres jesuítas,
conhecessem a doutrina religiosa e realizar a conversão ao cristianismo (PRADO, 2012). A
seguir, adentraremos aos aspectos específicos do teatro de catequese e as celebrações
que marcavam os rituais festivos.
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FIGURA 3 – NA CABANA DE PINDOBUÇU (1920), DE BENEDITO CALIXTO (1853-1927)
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FIGURA 4 – PADRE ANCHIETA, DE CÂNDIDO PORTINARI (1903-1962)
DICAS
Para ampliar seus conhecimentos em torno do teatro de José de Anchieta,
você pode acessar o artigo intitulado “José de Anchieta, o teatro e a
educação dos moços do Colégio de Jesus na Bahia do século XVI”, que
aborda amplamente os aspectos do teatro praticado na época e poderá
conferir os versos retirados de textos originais da época do Teatro de
Catequese, publicado na revista eletrônica HISTEDBR, da Universidade
Estadual de Campinas. Disponível em: https://bit.ly/3AAZRKe.
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FIGURA 5 – ANTIGO PÁTIO DO COLÉGIO DE SÃO PAULO, BENEDITO CALIXTO (1853-1927)
FIGURA 6 – RODA DE CAPOEIRA COM O MESTRE JOSÉ CARLOS, EM SANTA TEREZA NO RIO DE JANEIRO
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de matriz africana, apresenta beleza e referenciais históricos. “É uma dança alegre,
marcada por muito movimento dos brincantes e muita descontração. É considerado
Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro desde 2007, pois é uma forma de expressão afro-
brasileira que envolve dança circular e percussão de tambores” (IPHAN, 2014, s. p.).
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O Carimbó é uma manifestação de dança de roda que ocorre no litoral do
estado do Pará. Na forma tradicional da manifestação, o Carimbó é acompanhado por
tambores de madeira, geralmente troncos de árvores. A modalidade de dança possui
origens na cultura indígena, porém mesclou-se com a cultura de matriz africana e na
atualidade também podemos encontrar a manifestação no nordeste do país. A batida de
tambores, instrumentos de corda e a presença de chocalhos são sonoridades comuns.
Os participantes utilizam figurinos com cores vibrantes e com combinações que podem
remeter à diversidade da biodiversidade nacional.
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A importância de conhecer os aspectos das origens e desenvolvimento do
Teatro no Brasil está em ampliar o repertório cultural para que se possa utilizar tais
recursos em possíveis propostas de ensino-aprendizagem das artes cênicas ou em
produções artísticas.
ESTUDOS FUTUROS
Recomendamos visitar o site eletrônico do Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional (IPHAN) – autarquia federal vinculada ao Ministério do
Turismo que responde pela preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro.
Cabe ao IPHAN proteger e promover os bens culturais do país, assegurando
sua permanência e usufruto para as gerações presentes e futuras. Confira o
endereço eletrônico: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/872.
13
O primeiro morto a flechadas o outro queimado em uma espécie de grelha.
Anjos, o Temor e o Amor de Deus estavam presentes. A encenação era organizada em
personagens que poderíamos dividir em dois grandes grupos: os aliados e os inimigos
da Igreja Católica (PRADO, 2012).
A moral era baseada no velho testamento, o qual prega o olho por olho, dente
por dente. As cenas eras criadas para serem encenadas em espaço específico em que
poderiam erguer elementos naturais e simbólicos para reforçar os efeitos dramáticos.
Não havia definição clara de onde iniciava a terra e onde iniciava o céu ou o inferno. Um
caminhar constante marcava a ação dramática descentralizada (PRADO, 2012).
Um dos episódios finaliza com a prisão dos demônios pelo Anjo guardião da
cidade que se assemelhava a um Anjo da guarda concebido para ser guardião das
pessoas. O Anjo recebia ajuda de São Lourenço e de São Sebastião e representavam
o Bem agindo para vencer o Mal. Às vezes, apareciam chefes indígenas para proferir
frases como a seguinte “a taba inteira é pecadora” (PRADO, 2012, p. 27) na intenção
de mostrar que estavam tomando consciência de que estavam religiosamente errados
passando a ser submissos e servis ao Anjo ou aos dogmas religiosos.
A igreja pregava com todo os seus recursos que os povos deveriam ser europeus
aos seus moldes e abandonar as maneiras complexas de ser dos povos nativos. Os
discursos inseriam por todos os lados a promessa de que ao se converterem aos valores
cristãos, os nativos ganhariam o reino dos céus. Um certo conservadorismo era inserido
ao afirmarem que tudo existe por uma razão de ser como é e não pode ser modificado.
Como não há possibilidade de mudança também se extinguiam as noções de justiça ou
de injustiça social para reinar os valores sustentados pela Igreja Católica (PRADO, 2012).
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FIGURA 10 – ILUSTRAÇÃO DE ESPAÇO CÊNICO DO TEATRO DE CATEQUESE
Esse texto composto por 865 versos inicia de modo tranquilo com a presença de
demônios, próximos aos que a cultura tradicional religiosa nos apresentou, correspondem
aos vícios e se preparam para desafiar o poder de Nossa Senhora. “O Inferno acha-
se representado por nada menos do que quatro diabos, reunidos em conciliábulo – o
concílio do Mal” (PRADO, 2012, p. 33). Diante de textos dramatúrgicos que abordavam
passagens bíblicas, seres celestiais, divindades, personagens europeus e seres
maléficos propunham a utilização de símbolos religiosos que marcavam as cenas e as
vestimentas acompanhavam os signos de cada personagem. Muitas vezes, o espaço
para a encenação era o chão das igrejas, o espaço ao ar livre ou em palcos montados
para receber os espetáculos. As festividades tomavam as ruas e os espetáculos eram
conectados com a divindade de cada data comemorativa ou passagem bíblica. As
encenações compunham com as procissões e os espetáculos encerravam-se nas
proximidades da procissão reconduzindo as relíquias sagradas que protegiam as cidades
aos locais em que repousavam até a próxima celebração (PRADO, 2012).
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6 INDUMENTÁRIA E ASPECTOS VISUAIS
A indumentária e aspectos visuais correspondem aos elementos utilizados
em uma encenação que podem ser identificados como visualidades, como figurinos,
cenários ou outros elementos utilizados para traduzir signos importantes para a
realização do espetáculo.
A Figura 11, do artesão Eduardo Gomes, um painel de azulejos, que retrata uma
cena de celebração retratando a fundação de uma cidade. Os jesuítas participaram da
fundação das primeiras cidades do Brasil e em rituais específicos, com indumentárias
da época, realizaram seus atos celebrativos.
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FIGURA 11 – PAINEL DE AZULEJOS, DO ARTESÃO EDUARDO GOMES
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Pensar em manifestações teatrais como recurso para desenvolver habilidades
coletivas ou para a ampliação de repertório cultural ou até para pensar uma possibilidade
de coletividade pode ser importante no contexto da educação da atualidade. Na época
da ocupação do território brasileiro pelos povos europeus, o teatro estava a serviço da
religião e na atualidade. Portanto, o teatro necessita estar a serviço de algo ou alguma
intencionalidade? Reflita esta questão, acadêmico.
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Podemos afirmar que as primeiras ações de educação por meio da arte teatral foram
desenvolvidas no período do Brasil Colônia.
• O principal objetivo das encenações era a conversão dos povos nativos para os
valores religiosos da tradição cristã católica.
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AUTOATIVIDADE
1 Com base nas discussões em torno do teatro no período do Brasil Colônia, percebemos
que os textos dramatúrgicos eram compostos por versos baseados em passagens
bíblicas e ensinamentos da igreja católica. Temas relacionados aos assuntos bíblicos
e santidades conectadas à instituição religiosa estavam presentes. Sobre esses
aspectos, assinale a alternativa CORRETA:
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3 A cultura africana marca presença na constituição do povo brasileiro desde que
o povo escravizado passou a cultuar suas divindades de modo clandestino. Os
elementos da cultura africana marcam presença no cotidiano brasileiro na língua,
nos aspectos religiosos e em modos de viver em coletividade. De acordo com as
influências africanas na constituição da cultura, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
4 Os fatos históricos mostram que o povo africano foi arrancado de suas terras
e escravizado por povos que colonizavam terras da américa. Com a vinda dos
povos africanos, com suas práticas religiosas e hábitos culturais, o Brasil passou
a ter enorme diversidade cultural, mesmo que as manifestações culturais fossem
reprimidas pelos líderes europeus da época. Neste sentido, disserte sobre a influência
da cultura africana na constituição da cultura brasileira e quais elementos são fontes
de inspiração para a criação de cenas teatrais.
21
22
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
O TEATRO E O ROMANTISMO BRASILEIRO
1 INTRODUÇÃO
O Romantismo, como movimento artístico, possui suas raízes na literatura. Ele
alastrou-se por outras áreas da arte. Com o Teatro não ocorreu de outra forma, pois
recebeu as novas discussões e propostas por meio dos textos dramatúrgicos e ampliou
seus aspectos para a cena. Uma onda revolucionária chega ao Brasil por volta de 1836:
a onda romântica. Longe de ser algo aos moldes do amor romântico, ou algo inventado
para representar narrativas amorosas, esse movimento literário e artístico estava
conectado ao que podemos definir como dramalhão.
Com esse pressuposto, caro acadêmico, adentramos ao tema que atravessa este
tópico. O teatro Romântico ou o Romantismo como proposta estética de encenação marcou
a produção espetacular do Brasil. Neste sentido, o Tópico 2 busca reunir informações que
possam enriquecer seu percurso de construção de conhecimento na Arte Dramática. O
subtítulo Romantismo e suas características apresenta discussões em torno do movimento
artístico e busca traçar conexões com a constituição do teatro brasileiro.
23
estilo foi estabelecendo-se em propostas teatrais diversificadas. Recomendamos leitura
atenta, com pausas para pesquisar e esclarecer as possíveis dúvidas e construir seu
conhecimento histórico na área das artes cênicas.
24
Sua definição é específica relaciona-se com a seção (geralmente na parte
inferior) de um jornal, revista ou outro material de circulação periódica. A seção poderia
conter crítica literária, fragmentos de romances, novelas, contos ou outros escritos que
retratavam o estilo do romantismo da época. A seguir, a Figura 12 traz um trecho de Os
Amassadores, de Máximo Gorki, publicado no jornal A Democracia, em 1905. Era comum
os jornais operários publicarem em formato de folhetins os romances sociais, históricos,
policiais e outras variações.
26
O teatro brasileiro moderno passou a ter visibilidade e constituiu-se quando o
ator João Caetano apresentou no mesmo ano, em 1838, uma tragédia de Gonçalves
de Magalhães, uma comédia em um ato de Martins Pena. Esse fato representa a
composição de uma dramaturgia originalmente brasileira, com dramaturgos e atores
nacionais. Foi na terceira década do século XIX que a produção teatral se desenvolveu
no Brasil. Até este período o teatro que aqui era apresentado originava-se de terras
europeias. Artistas, dramaturgias e empresários eram importados de Portugal para
posteriormente consolidar a produção teatral, casas de espetáculos e espectadores
assíduos (PRADO, 2012).
As raízes do teatro brasileiro estão fixadas no teatro português, que por sua
vez, recebeu influências de um teatro desenvolvido na França e outros países da
Europa. Um gosto voltado para o melodrama de temática sentimental chegou em terras
portuguesas e veio ao Brasil com companhias teatrais que excursionavam pelo país.
Adiante trataremos do melodrama e as tragédias do teatro brasileiro. Nesse momento,
concentraremos nossas forças a traçar conexões entre o Romantismo Literário, a
dramaturgia brasileira e um teatro desenvolvido em terras brasileiras.
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dos Condes Livres e Camões, do escritor franco-brasileiro Luís Antônio Burgain, e as
primeiras comédias, O Triunfo da Imprensa e Um dos Muitos de Joaquim José Teixeira
(mal escondido sob as iniciais J. J. T)” (KIST, 2012, p. 75, grifos nossos). A Figura 13 traz
uma ideia de indumentária do Romantismo e seus valores voltados para a burguesia.
28
2012). O período do Romantismo foi rico por estabelecer o nascimento de uma
dramaturgia original brasileira, tanto no aspecto da encenação romântica, quanto da
estética fantasiosa.
ESTUDOS FUTUROS
A seguir, apresentamos um fragmento do texto do dramaturgo Martins Pena
(Luís Carlos Martins Pena). O renomado dramaturgo nasceu no Rio de Janeiro,
em 5 de novembro de 1815, e faleceu em Lisboa, Portugal, em 7 de dezembro
de 1848. Dentre suas mais notáveis obras está a peça O Juiz de Paz na Roça. O
texto apresenta características do período do romantismo, mas está localizado
na comédia de costumes que estudaremos a diante. Acesse o texto na íntegra,
em: http://www.bdteatro.ufu.br/bitstream/123456789/120/1/TT00149.pdf.
CENA 1
Sala com uma porta no fundo. No meio uma mesa, junto à qual coserão MARIA
ROSA E ANINHA
MARIA ROSA – Teu pai hoje tarda muito.
ANINHA – Ele disse que tinha hoje muito que fazer.
MARIA ROSA – Pobre homem! Mata-se com tanto trabalho! É quase meio-dia e
ainda não voltou. Desde as quatro horas da manhã que saiu; está só com uma
xícara de café.
ANINHA – Meu pai quando principia um trabalho não gosta de o largar, e minha mãe
bem sabe que êle tem só a Agostinho.
MARIA ROSA – É verdade. Os meias-caras agora estão tão caros! Quando havia
valongo eram mais baratos.
ANINHA – Meu pai disse que quando desmanchar o mandiocal grande há-de
comprar uma negrinha para mim.
MARIA ROSA – Também já me disse.
ANINHA – Minha mãe, já preparou a jacuba para meu pai?
MARIA ROSA – É verdade! De que me ia esquecendo! Vai aí fora e traz dous limões.
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(ANINHA SAI) Se o Manoel João viesse e não achasse a jacuba pronta, tínhamos
campanha velha. Do que me tinha esquecido! (ENTRA ANINHA)
ANINHA – Aqui estão os limões.
MARIA ROSA – Fica tomando conta aqui, enquanto eu vou lá dentro (SAI)
ANINHA – (SÓ) – Minha mãe já se ia demorando muito. Pensava que já não poderia
falar com senhor José, que está esperando-me debaixo dos cafêzeiros. Mas como
minha mãe está lá dentro, e meu pai não entra nesta meia hora, posso fazê-lo
entrar aqui (CHEGA À PORTA E ACENA COM O LENÇO). Ele aí vem.
FONTE: <https://www.curso-objetivo.br/vestibular/obras_literarias/Martins_Pena/o_juiz_de_paz_da_
roca.pdf>. Acesso em: 24 jan. 2022.
30
FIGURA 14 – CENA DA TRAGÉDIA GREGA ÉDIPO REI. ALEGORIA ILUSTRATIVA
31
FIGURA 15 – INDUMENTÁRIA DE ESPETÁCULOS DO ROMANTISMO
O início era marcado por um número dito sério, esse número poderia aparecer
tanto no drama romântico, no melodrama ou em uma tragédia. Para finalizar a noite
de espetáculos eram exibidos dois números ditos mais leves: uma comédia, farsa ou
bailado. “Sendo tragédia, a peça seguia o padrão neoclássico, acentuando a contenção
em termos de ação, de espaço e de tempo, além de ostentar notável virtuosismo formal.
O drama, por sua vez, era de caráter histórico ou, então, simplesmente contava uma
história sentimental” (KIST, 2012, p. 76).
32
melodrama entrelaça vários gêneros. Contém elementos da epopeia, da tragédia, das
narrativas de terror e da comédia [...], e apresenta quatro figuras características: o herói,
o traidor, a vítima e o bobo, através de numerosas variações” (KIST, 2012, p. 77).
FONTE 16 – LIVRO DE MARTINS PENA QUE RETRATA O ESTILO DO TEXTO DRAMATÚRGICO DO ROMANTISMO
GEORGES (sem alento): Infelizes, de quem eu tenho causado a desgraça!... Meu filho,
detesta o jogo... Bem vês os seus furores e os seus crimes!... Cara esposa... A morte
já se apresenta ante os meus olhos... Oxalá que as tuas virtudes obtenham a sua
justa recompensa e a graça e o perdão do delinquente!
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Naturalmente o conde fica irado:
- O pai quem é? – pergunta. Eu! Lhe reponde
Um pajem que entra – Um duelo – Sim! Quando? Onde?
No encontro morre o amante desgraçado.
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FIGURA 19 – GONÇALVES DE MAGALHÃES
ESTUDOS FUTUROS
Acesse o texto que foi o principal pontapé para o surgimento do romantismo
com o dramaturgo Domingos José Gonçalves de Magalhães e seu texto Antônio
José ou O Poeta e a Inquisição. Neste texto, você poderá conferir as características
de um texto dramatúrgico do romantismo e desenhar, associar ou conectar
seus aspectos com o gênero melodramático. Bons estudos! Disponível em:
https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/4161.
4 O DRAMA E A DRAMATURGIA
Neste subtópico, abordaremos o Drama e a Dramaturgia no período em que o
teatro firmou duas raízes no Brasil e outras discussões que se conectam com o tema
enfatizando as possibilidades de conhecermos as definições destes dois termos. O Drama
como gênero, estilo ou possiblidade do ser humano produzir enredos que podem retratar
37
determinadas situações reais ou fictícias. Dramatização corresponde a capacidade do ser
humano de criar ação corporal assumindo as características de um personagem. Já a
dramaturgia corresponde aos textos criados para serem encenados, para serem postos
em cena por diferentes atores, companhias ou diversas adaptações possíveis.
Neste sentido, o ato de contar histórias está presente desde os tempos primitivos
quando os habitantes das cavernas supostamente costumavam relatar suas caçadas ou
acontecimentos para seus pares usando recursos dramáticos. Desde tempos antigos,
o hábito de relatar por meio da oralidade, suas histórias envolvendo seres fantásticos,
deuses ou feitos heroicos esteve presente. Neste sentido, o recurso da oralidade e a
capacidade de contar histórias fantásticas também foi um recurso utilizado nessa época.
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A dramaturgia melodramática busca entrelaçar diversos gêneros, podendo
conter a epopeia, a tragédia, narrativas de terror, a comédia entre outros modos de
criar textos e encenações para um espectador que adorava ser surpreendido. Este
aspecto pode ter desenvolvido a base para que a dramaturgia brasileira pudesse ter sua
consolidação artística. Geralmente, as tramas apresentavam personagens característicos
como o herói, o traidor, a vítima e o bobo. Estes personagens estabeleciam suas ações
valorizando o espetáculo, ante aos discursos retóricos clássicos, destacando a busca
e concretização da felicidade do par romântico e uma mensagem final que buscava
reforçar ideais um tanto religiosos (KIST, 2012).
40
múltiplos elementos plásticos são convocados para compor cenários impressionantes.
Tal dispersão vai igualmente afetar a unidade de tempo” (KIST, 2012, p. 78). As peripécias
em continuidade são recurso importante, bem como avanços temporais, regressões ao
passado ou outro movimento memorial para decifrar segredos ou resolver tramas.
5 COMÉDIA DE COSTUMES
A comédia de costumes é centrada no retrato de determinado grupo social em
que o dramaturgo está inserido. A abordagem é de aspectos dos hábitos e costumes de
um grupo social e nunca sobre um indivíduo. A crítica satírica envolvendo os tipos sociais
mesmo com a estilização cômica. Este gênero prioriza o retrato de uma sociedade com
hábitos e costumes que podem provocar o riso. Em terras brasileiras a comédia de costumes
apoiou-se em na comicidade, na intriga e tipos sociais. Com Martins Pena, considerado o
Mollière brasileiro, o gênero nasceu e desenvolveu-se (GUINSBURG; FARIA; LIMA, 2006)
41
Mesmo com a presença de artistas e intelectuais vindos da Europa, a crítica da
imprensa da época anunciava a precariedade da arte brasileira e convocava os artistas
ou companhias a buscarem no contexto europeu a qualidade idealizada. “A inauguração
do Real Teatro de São João em 1813, depois rebatizado ao compasso das conjunturas
políticas, animou a criação de aproximadamente 23 casas de espetáculo em diversos
pontos do reinado na primeira metade do século XIX” (ARÊAS, 2012, p. 121).
FIGURA 21 – PRAÇA DO TEATRO REAL SÃO JOÃO – RIO DE JANEIRO. PINTURA DE JEAN BAPTISTE DEBRET
(APROX. 1834)
O gênero que mais floresceu em terras brasileiras foi a comédia que rompeu
com padrões, em meio a instabilidade cultural e crises de sentido. Há discussões sobre
quem obteve os créditos em torno da criação da comédia brasileira. Alguns estudiosos
afirmam que o criador da comédia nacional foi a obra de Araújo Porto Alegre. Outros
estudiosos afirmam que a criação da comédia nacional se deu com a obra de Martins
Pena e Joaquim Manuel de Macedo (ARÊAS, 2012).
Luís Carlos Martins Pena (1815-1848) foi dramaturgo, poeta e personagem que
praticou a escrita de textos para serem encenados reunindo aspectos da comédia de
costumes. Sua infância foi difícil, órfão de pai e mãe aos dez anos não tinha acesso aos
intelectuais da época. Sem revelar sua vocação, foi enviado por um grupo de tutores
comerciantes a fazer aulas de economia. Nesse tempo, teve acesso a aula de música
e possuía uma admirada voz de tenor. Estudou línguas, como inglês, francês e italiano.
“Essa formação variada e não ortodoxa certamente facilitou-lhe o desenvolvimento do
gosto artístico, aguçando o ouvido e o olhar de observador, qualidades prescindíveis a
quem alimente pretensões teatrais” (ARÊAS, 2012, p. 124).
O ano de 1838 foi decisivo para o teatro brasileiro e para Martins Pena por estrear
em pouco tempo com um sucesso estrondoso dois espetáculos que encenaram seus
textos dramatúrgicos. A peça Antônio José e a primeira comédia com O Juiz de Paz da
Roça. A obra de Martins Pena está apoiada na “[...] política do favor como mola social, a
corrupção em todos os níveis, a precariedade e atraso do aparelho judicial, a exploração
42
exercida por estrangeiros e a má assimilação da cultura europeia importada [...]” (ARÊAS,
2012, p. 125). As obras de Martins Pena eram geralmente protagonizadas pelo ator João
Caetano. “Acrescentem-se a esse rolo contrabando de escravos, os mecanismos da
contravenção, a servidão por dívida, comportamentos sexuais e familiares etc. Esses e
outros aspectos que percorriam a sociedade brasileira de alto a baixo são exibidos no
palco” (ARÊAS, 2012, p. 125).
43
Neste sentido, a inovação inventiva de Pena foi a introdução na “[...] simetria da tradição
cômica (velhos versus jovens, serviçais versus amos, nacionais versus estrangeiros
etc.) uma assimetria básica: a presença dos escravos, que se deslocam no palco sem
correspondência de pares” (ARÊAS, 2012, p. 30).
44
convite de companhias teatrais portuguesas para instalarem-se em terras brasileiras,
no teatro Real São João, para produzir espetáculos teatrais. Neste período o ator João
Caetano dos Santos considerado o primeiro ator brasileiro reconhecido. Este importante
personagem definiu os modos de atuação da época e influenciou outros artistas da
cena. Ele propunha que o ator é responsável pela criação de um papel e ele necessita
conhecer profundamente a sociedade em que está inserido e estudas outros modos de
vida e cabe ao ator representar papéis com credibilidade em qualquer estilo, seja em
encenações românticas ou em comédias (GUINSBURG; FARIA; LIMA, 2006).
45
João Caetano foi o ator que mais encenou textos dramatúrgicos de Martins
Pena no Imperial Theatro São Pedro. Esse Teatro recebeu o nome de Real Teatro São
João e posteriormente alterou o nome para Imperial Theatro São Pedro. O período de
encenações que iniciou com a “[...] estreia de O Juiz de Paz da Roça no Teatro S. Pedro,
em outubro de 1838, poucos meses depois da encenação de António José ou o Poeta
e a Inquisição, de Gonçalves de Magalhães (1811-1882), até o fim da colaboração de
Pena como folhetinista do Jornal do Comércio, em outubro de 1847” (RAMOS, 2012, p.
138). Neste sentido, o ator contribuiu amplamente como artista teatral consolidando os
percursos e processos de encenação no Brasil.
O ator João Caetano agia como empresário, produtor, ator, adaptador teatral
e fomentador incansável das artes da cena. Suas atuações eram virtuosas e como
produtor atuou intensamente até 1857, ano da inauguração do Teatro São Pedro, que
manteve até sua morte como uma referência das artes cênicas no Brasil. “Também é
inegável que no estilo de interpretação de João Caetano já havia um passo no caminho
do realismo, na medida em que se rompia com o modelo neoclássico de interpretação
e avançava-se rumo a uma interpretação menos hierática e mais sanguínea” (RAMOS,
2012, p. 138).
46
As noites de espetáculos eram eventos importantes que poderiam agregar
operas aos moldes europeus, comédias, dramas românticos e melodramas. Essa
variedade buscava fomentar e desenvolver o gosto ou o hábito de fruir espetáculos de
arte teatral. A presença de elementos diversos em encenações marcavam a variedade
dos espetáculos. Nesse sentido, a
Nesta perspectiva, o ator João Caetano “[...], foi um ator extraordinário, que
se notabilizou como protagonista de tragédias neoclássicas, dramas românticos e
melodramas, que consagraram seu estilo de interpretação grandioso e grandiloquente”
(RAMOS, 2012, p. 148). Para finalizar este tópico de estudos reforçamos a necessidade de
conhecermos as raízes do teatro brasileiro e como a atualidade apresenta a diversidade
cultural e cênica possibilitando experimentações conectadas a diversas áreas da arte.
47
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A comédia de costumes era baseada em textos que pudessem causar o riso na plateia
e fundada em hábitos cotidianos de uma sociedade. Poderiam aparecer peripécias
envolvendo tramas amorosas, personagens envolvidos em dívidas e os universos
eram coletivos e raramente individuais.
• O maior dramaturgo da comédia de costumes no Brasil foi o escritor Martins Pena que
era considerado o Mollière brasileiro.
• O ator João Caetano foi importante para o teatro brasileiro por ter múltiplas habilidades
além de ser um exímio ator. Ele era empresário, produtor, ator e encenador que
revolucionou os modos de produzir artes cênicas no Brasil.
48
AUTOATIVIDADE
1 O movimento literário brasileiro chamado de “Romantismo” ocorreu na literatura, na
arte dramática e na pintura. O florescimento do Romantismo deu-se com influências
do período romântico europeu e agregou elementos de um teatro brasileiro em
desenvolvimento para posteriormente consolidar uma arte dramática essencialmente
brasileira. Diante desse pressuposto, assinale a alternativa CORRETA:
49
3 O dramaturgo Martins Pena foi um dos escritores de notável destaque no cenário
da dramaturgia nacional. Ele foi considerado o Mollière brasileiro pelo seu estilo
de composição de textos dramatúrgicos que agradavam o público e por adotar
elementos ou recursos teatrais que remetem aos textos escritos pelo dramaturgo
francês Mollière. De acordo com os seus princípios, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
50
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
TEATRO NATURALISTA E REALISTA
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, você encontrará conhecimentos importantes sobre estilos e
abordagens conectados com o teatro realista, naturalista e seus representantes. A
dramaturgia brasileira de um período em desenvolvimento das cidades brasileiras passou
por profundas transformações. A configuração da sociedade brasileira e as influências
externas como de companhias de teatro europeias influenciaram o desenvolvimento de
estilos inovadores. O realismo no teatro nasceu em meio a efervescência social e cultural
e de uma ascensão de uma burguesia brasileira com suas características próprias.
51
2 A DRAMATURGIA REALISTA
Para entendermos o teatro realista necessitamos cessar certos conceitos que
são elementares para a analisar as características que compõem a estética realista. Neste
estilo, como uma reação ao teatro romântico, as iniciativas realistas disputavam espaços
com as propostas teatrais do Romantismo. O Realismo como um modelo dramatúrgico
que marcou história na obra de Alexandre Dumas e Émile Augier, foi composto com certo
distanciamento das paixões e exageros, das tramas que idealizavam amores ou de tensões
dramáticas. “Estes autores trazem para as tramas certa naturalidade como princípio
que norteia os diálogos das cenas. Este fato traz para a cena uma descrição próxima ao
verdadeiro dos costumes da burguesia” (GUINSBURG; FARIA; LIMA, 2006, p. 266).
52
FIGURA 23 – RETRATO DO PINTOR GUSTAVE COURBET (1819-1877)
53
O primeiro dramaturgo que escreveu uma trama realista seguindo os padrões
franceses foi José de Alencar (1829-1877). O texto estreou em 5 de novembro de 1857, no
Ginásio Dramático e chamava-se O Demônio Familiar. Essa trama, definida pelo próprio
Alencar como uma encenação que retrata os costumes da época, como uma pintura
doméstica, um esboço inacabado das cenas que poderiam se passar em qualquer casa
da época.
A cena realista estava repleta de tramas que traziam para a centralidade teatral
uma burguesia moralizante. Estes aspectos firmaram um movimento coeso, com
atualização estética, conceitos delineados ligados a dramaturgos de renome e artistas
prestigiados. O principal cenário onde ocorreram as encenações teatrais realistas foi o
Ginásio Dramático. Esse espaço passou a ser:
54
FIGURA 24 – PINTURA DE ALMEIDA JUNIOR (1850-1899). O VIOLEIRO, DE 1899.
Dez anos seguintes, depois de 1865, a estética teatral realista obteve êxito e
destaque entre inúmeros dramaturgos e críticos teatrais. “Ainda que as peças cômicas e
musicadas tenham conquistado o favor do público e se tornado hegemônicas em nossos
palcos, a ideia de que o teatro devia ser uma escola de costumes e um instrumento de
moralização e civilização continuava a ter adeptos” (FARIA, 2012, p. 184).
ESTUDOS FUTUROS
Aproveite para conhecer mais aspectos do movimento Naturalista e Realista.
Acesse o link a seguir e busque estudar as características apresentadas
conectando com as informações que trazemos neste Livro Didático: https://
www.todamateria.com.br/naturalismo-movimento-naturalista/.
55
3 A DRAMATURGIA NATURALISTA
A Dramaturgia Naturalista apesar de ser confundida com o realismo, operou em
bases que estabeleceram características especificas e uma cena que se diferencia pelo
apelo ao real e tentar recortar situações reais e levá-las para a cena. O crescimento da
dramaturgia naturalista deu-se em meio a manifestos, outros movimentos artísticos
e experimentações diversas. O manifesto do dramaturgo Émile Zola quando escreve
o texto manifesto O Naturalismo no Teatro. Este texto trazia à tona discussões em
torno do teatro que estava nos palcos e propôs experimentar outras possibilidades
cênicas conectadas com a realidade ou com a busca por levar para os palcos cenas que
pudessem ser uma imitação da realidade tal como ela se apresenta.
Esse aspecto nos leva a pensar em uma cena composta por figurinos,
interpretação e cenários que remetem a um espaço real e cotidiano. O dramaturgo
afirmava que a cena naturalista deveria conter personagens de carne e osso, com certa
realidade natural, sem artifícios ou outros aspectos que levassem o público a navegar
pela mentira das encenações que eram postas nos palcos da época. O autor afirmava
ainda que era necessário libertar os personagens de meandros da ficção, de simbologia
convencional conectadas as virtudes e vícios. A determinação dos personagens seria
conduzida por uma lógica temperamental do próprio personagem. Zola pretendia banir
as artificialidades, truques de cena que pareciam mágicos e ou outro truque que não
remetessem ao natural da vida cotidiana (GUINSBURG; FARIA; LIMA, 2006).
A Figura 23 apresenta uma cena que remete a estética Naturalista. Com ela
podemos pensar em um teatro voltado para certo cientificismo, detalhes naturais e
cenografias compostas por elementos reais.
56
FIGURA 25 – PINTURA DO PINTOR PORTUGUÊS COLUMBANO BORDALO PINHEIRO (1857-1929). O GRUPO
DO LEÃO, DE 1885
DICA
O Actors Studio dirigido por Lee Strasberg foi importante para o
desenvolvimento da estética naturalista. A formação de atores passou a
ter um enfoque em aspectos específicos como características psicológicas.
Acesse o link a seguir e conheça os aspectos do teatro de Stanislávski e faça
conexões com o teatro naturalista: https://bit.ly/3r25RIR.
57
Em terras brasileiras, o naturalismo teatral foi pouco aceito e no final do século
XIX os intelectuais da época combatiam tal estética. Um dos primeiros espetáculos
teatrais que podemos associar com a estética naturalista aconteceu em julho de 1878 foi
a adaptação do romance de Eça de Queirós. A peça obteve sucesso razoável e contribuiu
para o desenvolvimento do Naturalismo. Em 1880 o ator e empresário Furtado Coelho
pôs em cena a adaptação de Thérèse Raquin, realizada por ele mesmo. Desta vez, o
espetáculo foi bem-sucedido e teve bom público, principalmente por causa da atuação
extraordinária de Lucinda Simões, a atriz encarregada de viver em cena o papel da esposa
que mata o marido para ficar com o amante (GUINSBURG; FARIA; LIMA, 2006).
O espetáculo por mais bem recebido que tenha sido, ficou em cartaz pouco
tempo. Em 1886, Emílio Rouède e seus parceiros escreveram e encenaram o drama
O Caboclo em que o personagem central trazia fortes traços naturalistas. Somente
em 1890, Rouède encenou a comédia Um Caso de Adultério, que foi considerado um
espetáculo Naturalista.
58
dramaturgia, que se debruçou sobre a realidade brasileira, como demonstra o repertório
do Teatro de Arena, pra reproduzi-la em cena com o máximo de verdade” (GUINSBURG;
FARIA; LIMA, 2006, p. 208).
59
FIGURA 26 – FOTOGRAFIAS DE MACHADO DE ASSIS
60
Outro aspecto que vingou em palcos brasileiros deste período foram espetáculos
que apresentavas tramas cômicas e elementos musicados, porém as peças ainda
deveriam ser uma espécie, segundo Faria (2012), de escola de costumes. Quanto aos
aspectos visuais houve certo aperfeiçoamento da cenografia, mobílias reais postas em
cena, telas pintadas e obras de arte a todos os artefatos que pudessem criar a sensação
de estar assistindo a uma cena real da casa de uma família burguesa.
Este fato firmou o espetáculo como uma encenação com forte apelo naturalista
e mesmo os encenadores que ousaram quebrar parâmetros ditos como naturalistas,
continuou remetendo em seus elementos, estruturas que traziam para as discussões o
naturalismo.
61
O naturalismo como instrumento de combate a estética realista não obteve
sucesso esperado tanto que os estilos ou estéticas teatrais passavam a marcar presença
em propostas inovadoras que mesclavam elementos diversos. O movimento naturalista
e suas estéticas apresentava apelos para que em cena aparecesse a face da realidade
como ela é.
Este fato inusitado ocorreu depois de ter problemas com o cenógrafo e como
uma solução imediata, resolveu partir para inserir elementos radicalmente naturais.
Pensando nos limites entre cada movimento, o realismo e naturalismo, podemos afirmar
que as fronteiras são marcadas por estéticas semelhantes, porém os objetivos das
cenas eras distintos. Enquanto o Naturalismo pregava certo cientificismo, uma cena que
reproduzia o real, com elementos naturais, com cenários que remetiam a vida natural,
no realismo a tendência era idealizar hábitos de uma burguesia e retratar moralmente
os valores como o bom, o mau, a família e um universo de castigo e recompensas.
Na estética naturalista bosques inteiros, arbustos e outros elementos poderiam ser
62
retirados da floresta e inseridos na cena, um certo reforço a quarta parede e apelos
para uma interpretação que poderia remeter a uma cena cotidiana (BERTHOLD, 2001,
GUINSBURG; FARIA; LIMA, 2006).
Outro elemento que Antoine buscava reforçar era um jogo demarcado com a
quarta parede a tal ponto que a ordem era ignorar a presença do público. Se a cena
necessitasse ficar de costas para a plateia, assim era feito. Nessa nova estética, a cena
deixava de assumir a postura predominantemente frontal, para adotar as costas diante
do público.
63
O maior representante desta estética no Brasil foi Aluíso de Azevedo. Se com
Venenos que curam o autor não conseguiu inserir as ideias naturalistas, em O Caboclo, o
autor chegou próximo aos propósitos do naturalismo. Nesse texto havia espaços sociais
retratados com certo grau de realidade. “A ação se passa em uma fábrica de cigarros,
situada num arrabalde do Rio de Janeiro. Não é muito comum que operários sejam
personagens de peças teatrais no Brasil do século XIX” (FARIA, 2012, p. 314). O autor
consolida o desafio de uma escrita conectada com os ideais naturalistas inserindo em
suas tramas cenários naturais e tramas envolvendo camadas populares da cidade do Rio
de Janeiro, como em O Cortiço. A seguir, abordaremos aspectos da comédia de costumes,
suas evoluções e encenadores que contribuíram para a estética da comédia brasileira.
Outro estilo que surgiu nesse período foi a Opereta ou a ópera bufa. Em fevereiro
de 1865 o teatro Alcazar Lyrique estreou o espetáculo Orphée aux enfers, uma opereta
com música de Offenbach e texto de Hector Cremieux e Ludovic Halévy. Este espetáculo
permaneceu em cartaz por aproximadamente um ano e com sucesso considerável
abriu caminho para outras iniciativas de operetas inclusive outras propostas compostas
por Offenbach ou por Charles Lecocq. Nesta onda de entusiasmo, com encenações
cômicas e burlescas, dramaturgos brasileiros passaram a adaptar, operar traduções ou a
escrever peças no estilo opereta. “Os empresários teatrais exploraram incansavelmente
a opereta e as outras formas dramáticas cômicas e musicadas, que foram surgindo e
consolidando o gosto teatral das nossas plateias nos últimos decênios do século XIX.”
(BRITO, 2012, p. 219).
64
A opereta como estilo de encenação ou como gênero teatral burlesco obteve
sucesso devido ao encenador alemão Jacques Offenbach que em meados dos anos
de 1850 na cidade de Paris, passou a utilizar o espaço de espetáculos do Théâtre des
Bouffes-Parisiens. Nesse espaço “[...] apresentava espetáculos compostos por dois ou
três esquetes de um ato cada, sempre em tons farsescos e satíricos, e entremeados
por números musicais executados por uma orquestra de dezesseis músicos” (BRITO,
2012, p. 219). Em 1858, presentou sua obra de maior destaque Orphée aux enfers, que
era uma releitura do mito grego Orfeu. Esse mito abordava a paixão de um músico
pela amada e vai até o inferno para tentar reencontrar seu amor. “Pouco tempo depois,
Offenbach escreveu outras operetas (La Belle HéIene, 1864; La Vie parisienne, 1866;
Barbe-Bteue, 1867; La Grande-Duchesse de Gérolstein, 1867) que conquistaram Paris e
todo o território europeu (BRITO, 2012, p. 219).
Não tardou para que o sucesso das operetas burlescas chegarem ao Brasil e
pudessem se mesclar com o que acontecia por aqui. Em 1864, Orphée aux enfers foi
levada aos palcos brasileiros e com grande sucesso, conquistou a crítica da época.
Muitas das operetas francesas foram adaptadas e encenadas em palcos brasileiros. Os
moldes mais praticados foram os que Offenbach ou por Lecocq idealizaram em terras
francesas. Os encenadores brasileiros mantinham partituras originais e trilhas sonoras,
mas adaptavam as tramas para os costumes e hábitos nacionais. Neste ponto, as
operetas recebiam elementos nacionais de modo que se mesclavam com o que era
praticado por aqui (BRITO, 2012).
As operetas, assim como os demais gêneros que sucederam esse novo modo
de encenar, buscavam bases em elementos como a composição musical, coreografias,
dramaturgias adaptadas, cenografia espetacular e interpretações fantásticas. No
processo de criação brasileiro, o autor, e nesse caso podemos citar Artur Azevedo,
buscava conhecer os artistas envolvidos e criava uma proposta de encenação de acordo
com a necessidade do coletivo ou que pudesse ser melhor postas em cena pelos artistas
envolvidos. Em tempos que as companhias nem sempre tinham condições de manter
produções grandiosas ou de contratar grupo de artistas como bailarinos, músicos,
atores e atrizes, figurinista e outros profissionais que faziam parte das encenações. O
sucesso das produções significaria o sustento da companhia e a manutenção de novas
produções com elementos necessários para que a encenação pudesse ser levada aos
palcos de grandes centros.
66
apresentavam certas caricaturas o que desafiava os moldes hegemônicos do século
XIX. A crítica de arte da época refutava amplamente o trabalho deste dramaturgo. Seus
textos foram compostos depois de 1862, mesma época em que se afastou da docência
problemas mentais. Seu transtorno mental definido como monomania, quando uma
espécie de alienação mental parece absorver suas capacidades mentais e fixa em uma
ideia ou ideias que circundam o mesmo tema. Essa mania por uma ideia, comprometia
sua convivência social e sua atuação como docente. Depois de seu diagnóstico, o
artista autodenomina-se Qorpo Santo, como aquele que passa de um homem comum
para uma certa dimensão divina. Dentre seus textos dramatúrgicos estão:
Estes aspectos localizam a obra de Qorpo Santo como uma introdução a um teatro
conectado com as vanguardas e propondo uma certa inovação dramatúrgica. O teatro de
Qorpo Santo propõe diálogos com o que iria constituir-se no que conhecemos como teatro
do absurdo. Neste sentido, o autor representa uma proposta de inovação dramatúrgica para
a época e que possivelmente esteve conectado com os princípios de um teatro original
brasileiro ou com os princípios defendidos pelo movimento modernista brasileiro.
67
LEITURA
COMPLEMENTAR
TEATRO E SOCIEDADE NO BRASIL COLÔNIA: A CENA JESUÍTICA DO AUTO DE
SÃO LOURENÇO
Sérgio de Carvalho
É significativo que Décio de Almeida Prado (1993), num dos mais importantes
estudos sobre a história do teatro no Brasil, se veja obrigado a suspender os critérios
convencionais que balizam a tradição de análise do teatro nacional na era burguesa. No
primeiro parágrafo do livro comenta sua decisão:
68
Contudo, como compreender a encenação jesuítica que modela textos de
um autor como Anchieta? A grande maioria dos historiadores do teatro no Brasil que
trataram do tema recorre à mesma fonte documental, fornecedora de imagens vivas da
época: os escritos do Padre Fernão Cardim.
Algo do sentido real do material escapa à análise do crítico. Ele apresenta bem
o cortejo inicial da peça, descreve os demônios tupinambás que aparecem no tablado
para estimular os pecados da aldeia (os vícios da bebedeira, luxúria e violência); indica
que são esses mesmos índios-demônios que, após a conversão combativa do Anjo,
se oporão aos antigos imperadores romanos que supliciaram a São Lourenço e São
Sebastião; e destaca bem a dimensão cômica da peça, aspecto importantíssimo da
forma e ignorado por muitos.
A descrição, entretanto, não vai além dos conteúdos mais evidentes e reitera a
fórmula consagrada do teatro catequético. O crítico chega a sugerir que a confusão da
70
peça decorre de uma livre associação feita por Anchieta em torno do tema do orago São
Lourenço, sendo “a unidade dramática das mais precárias”:
Por trás do argumento, há a ideia de que se trata de um teatro menor por ser
instrumental, que subordina dimensão estética à eficácia cômico-religiosa. E em um
segundo nível, não nomeado, o crítico parece rejeitar a própria poética alegorizante
da peça, ecoando o ponto de vista condenatório do classicismo descrito por Walter
Benjamin (1984, p. 184): “Denunciar a alegoria vendo nela um modo de ilustração, e não
uma forma de expressão”.
71
Anchieta e a alegoria da aculturação
Outro caminho analítico também pode ser percorrido por quem procura
compreender uma peça como Auto de São Lourenço. Aparentemente mais útil à crítica
literária do que à história do teatro, ele permite, entretanto, pensar na possibilidade de
uma abordagem interpretativa mais imanente à obra. Nesse sentido, o método do ensaio
de Alfredo Bosi (1992) seria inverso ao de Décio de Almeida Prado. Bosi procura sondar,
através da estrutura linguística e rítmica dos versos de Anchieta, um processo maior da
história da cultura. Para o crítico, o trabalho fundamental do poeta Anchieta começaria
em moldar, no interior dos códigos tupis, uma “forma bastante próxima das medidas
trovadorescas em suas variantes populares ibéricas” (BOSI, 1992, p. 64). Examina, a
partir daí, as dificuldades do sistema de correlações culturais nas aproximações dos
jesuítas aos índios. Conceitos mais ou menos abstratos para os cristãos, como o “reino
de Deus” ou o “demônio”, são os que exigem do poeta-missionário um esforço de
penetração no imaginário do outro e geram uma nova representação do sagrado, que
não é mais teologia cristã nem crença tupi: surgiria assim uma “terceira esfera simbólica,
uma espécie de mitologia paralela que só a situação colonial tornou possível” (BOSI,
1992, p. 65). A partir da procura de homologias, ele levanta a hipótese de que o ponto
fundamental de convergência cultural:
72
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• As encenações ditas realistas buscavam estar conectadas com ideais como valores
considerados éticos como o trabalho, a honestidade e o casamento de um enredo
que se presta ao debate de questões sociais e que opõem bons e maus burgueses.
• A opereta trazia para a cena uma mescla entre comédia, musical, cenas burlescas
e trabalho de bufões que foi aceita com muito sucesso na época, tanto na Europa
quanto no Brasil.
73
AUTOATIVIDADE
1 As dramaturgias Realistas, além de estarem conectadas com aspectos da vida real,
buscavam conectar-se com certa feição moralizadora ao descrever os costumes
justapostos a prescrição de valores considerados éticos como o trabalho, a
honestidade e o casamento de um enredo que se presta ao debate de questões
sociais e que opõem bons e maus burgueses. No realismo há uma tentativa de
idealizar a sociedade e de exaltar a burguesia e seus valores ditos como morais e
corretos. Diante destes indicativos, assinale a alternativa CORRETA:
2 O teatro Naturalista foi idealizado pelo dramaturgo Emile Zola em que afirmava a
urgência em compor uma cena composta por figurinos, interpelação e cenários que
remetessem ao cotidiano. Esse cotidiano posto em cena deveria ser detalhadamente
natural como uma cena que ocorre na vida real. Elementos reais como móveis,
arbustos, árvores e figurinos reais faziam a composição da cena naturalista. Certo
cientificismo era princípio para a composição de todas as etapas. Com base nesses
princípios, analise as sentenças a seguir:
74
3 De acordo com os princípios da dramaturgia Realista, o que podemos encontrar nas
cenas é os hábitos sociais de uma burguesia que buscava inserir seus ideais na trama
teatral e estabelecer valores morais considerados corretos. Este fato denunciava a
tendência de conservar os desejos de uma burguesia em ascensão conectada com
certo conservadorismo. De acordo com os princípios apresentados, classifique V para
as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
4 A opereta como estilo de encenação ou como gênero teatral burlesco obteve sucesso
devido ao encenador alemão Jacques Offenbach que em meados dos anos de 1850
na cidade de Paris, passou a utilizar o espaço de espetáculos do Théâtre des Bouffes-
Parisiens. Neste sentido, disserte sobre a opereta e suas características.
75
REFERÊNCIAS
ARÊAS, V. O Teatro romântico: A comédia de costumes. In. GUINSBURG, J.;
FARIA, J. R. História do teatro brasileiro, volume I: das origens ao teatro
profissional da primeira metade do século XXI. São Paulo: Perspectiva; Edições
SESCSP, 2012. p. 119 -136.
76
KIST, I. S. O teatro romântico: a tragédia e o melodrama. In. GUINSBURG, J.;
FARIA, J. R. História do teatro brasileiro, volume I: das origens ao teatro
profissional da primeira metade do século XXI. São Paulo: Perspectiva; Edições
SESCSP, 2012. p. 75-93.
77
78
UNIDADE 2 —
O TEATRO MODERNO NO
BRASIL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
79
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
Acesse o
QR Code abaixo:
80
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
O TEATRO BRASILEIRO QUE PRECEDE A
MODERNIDADE
1 INTRODUÇÃO
Os movimentos e manifestações culturais que precederam o Romantismo,
Realismo e Naturalismo intensificaram o desenvolvimento do teatro no Brasil. Se o
Naturalismo pregava o cientificismo e que em cena os personagens fossem de carne e
ossos, no período seguinte, a cultura brasileira passou por profundas transformações
que precederam a modernidade.
81
Neste sentido, esta unidade apresentará os principais elementos que compõem
o teatro no período de transição pré-moderno e alguns aspectos do modernismo. O
tópico apresenta o teatro que antecede o advento da modernidade. O período foi de
intensas experimentações e de protagonismo brasileiro em produções teatrais originais.
Assim, seguimos nossos estudos para ampliar saberes em torno do Teatro brasileiro.
Bons estudos!
82
FIGURA 1 – ESPETÁCULO DE TEATRO DE REVISTA, NÃO SOU DE BRIGA, PRODUÇÃO DE WALTER PINTO
(TEATRO RECREIO, 1946)
FIGURA 2 – FOTO DA PEÇA DO TEATRO DE REVISTA NEM TE LIGO, DA COMPANHIA DE TEATRO WALTER
PINTO, NO TEATRO RECREIO, 1946
83
A criação das cenas buscava elementos de outras áreas, como a música,
a dança, o canto e a opereta ou musicais para compor seus quadros. A exuberância
dos figurinos era marca presente nas cenas; e os textos poderiam ser compostos
com uma junção de diferentes textos ou de autores diversos. As músicas poderiam
ser inseridas de acordo com a necessidade e sem o compromisso de ter composições
originais marcando a sonoridade cênica. Pequenos intervalos entre um ato e outro não
prejudicavam o andamento do espetáculo.
Esse gênero de teatro poderia ser classificado facilmente como teatro musicado
e seguia uma estrutura estabelecida para este gênero. Essa espécie de fórmula
dependia dos encenadores, atores e atrizes ou do que a companhia estava disposta
a inserir nas cenas do espetáculo. O Teatro de Revista possuiu função importante na
história das artes cênicas no período pré-modernidade. Além de estabelecer um estilo
de teatro conectado com raízes brasileiras, buscou divulgar a cultura e a música popular
brasileira. Nessas décadas (1920-1930) surgiram dois subgêneros de Teatro de Revista:
a Revista Carnavalesca e a Revista de Ano. “Revistas como Pé de Anjo e Olelê, Olalá
são emblemáticas desse período. Luiz Peixoto e Carlos Bittencourt formaram a dupla
de autores mais importantes dessas décadas em que o teatro e a música eram uma só
entidade” (GUINSBURG et al. 2006, p. 271, grifo nosso)
84
O retrato de um, aqui e agora, com a espetacularidade do Carnaval figurava a nova
cena carioca. A conexão entre a festa que se popularizava, o Carnaval, e os espetáculos
de Teatro de Revista tiveram grande sucesso inserindo músicas carnavalescas e temas
que buscavam exaltar a festa popular (GUINSBURG et al., 2006).
85
O disparador das cenas revisteiras era a chegada de alguém, em algum local,
poderia ser uma cidade a ser abordada na encenação, para visitar, percorrer, atravessar
os obstáculos da trama. Quase um apresentador dos quadros cômicos ou dos episódios
fantasiosos, o que se pode chamar de condutor da cena, movia as peças necessárias
para revisar os fatos ocorridos naquele ano.
Dentre os mais famosos escritores desse gênero, temos Artur Azevedo, que,
com A Fantasia e O Tribofe, conseguiu aproximar a revista brasileira aos moldes clássicos
franceses, com forte ação dramática. A revista de ano era composta por três atos com várias
subdivisões em quadros conectados, como mencionamos anteriormente, pelo compère.
Alguns fatores influenciaram para que esse gênero pudesse ter enorme
sucesso, dentre eles está a época de desenvolvimento das cidades, o clima, a música
em ascensão e acontecimentos sociais ou políticos. A metamorfose deu-se quando
esse gênero passou a apresentar certo abrasileiramento tornando-se a manifestação
cênica expressivamente nacional (GUINSBURG et al., 2006).
As fases da Revista como gênero teatral passou por várias fases: inicialmente
como revista-de-teatro, contendo cenas cômicas, belas vedetes até a espetacularidade
do carnaval. Depois da década de 1950 e equívocos procedimentais, o Teatro de Revista
chegou em seu declínio. Os encenadores adotaram regras marginais, descuido com as
montagens de modo que apresentavam obras sem o devido acabamento.
86
FIGURA 5 – A VEDETE VIRGÍNIA LANE
Se pensarmos em uma palavra que defina este período podemos trazer a ideia
de movimento. A revolução industrial impulsionou profundas transformações sociais
e consequentemente culturais. O cinema oferecia experiências por meio da figura em
movimento que nenhuma outra manifestação de arte conseguia oferecer. A presença
das máquinas e os automóveis modificava a dinâmica das cidades de modo que os
ritmos ou velocidades não seriam os mesmos.
87
FIGURA 6 – GRAÇA ARANHA
88
compra das elites influenciou a produção de arte nacional, bem como a produção teatral
voltada para a satisfação burguesa e em outra vertente teatral, a crítica e denúncia de
realidades sociais também poderiam estar presentes. As incoerências sociais também
eram postas em cena para mostrar as condições sociais da época.
89
em que as cidades periféricas ou interioranas foram submetidas. Outros fatos permeavam
a realidade brasileira em transição com os conflitos armados como: canudos e o contestado.
Neste contexto, os contrastes apresentavam-se em diferentes esferas de modo que a
máquina carro contrastava com a carruagem ou o carro de boi com protagonistas ditos
caipiras de pés descalços. Com essa realidade, os textos dramatúrgicos e a literatura
brasileira apresentaram personagens que são clássicos da dramaturgia e personagens
populares como: “Antônio Conselheiro, Jeca Tatu, Policarpo Quaresma, o Barão de Belfort,
Coelho Neto (o "último heleno") e o dândi João do Rio são uma pequena amostra da
realidade plural e contraditória do período” (COSTA, 2012, p. 336).
DICA
Para acessar e conhecer mais textos teatrais desse período, recomendamos
acessar os endereços eletrônicos a seguir. Neles você poderá baixar textos
de dramaturgos brasileiros e conhecer outros textos de dramaturgos
internacionais. Bons estudos.
• Oficina de Teatro: https://bit.ly/3w6w0ci.
• Centro de Dramaturgia Contemporânea: https://bit.ly/3t4bs2z.
INTERESSANTE
O Centro de Dramaturgia Contemporânea agrega, além de textos
dramatúrgicos, outras propostas desenvolvidas pelo Teatro Académico de Gil
Vicente (TAGV) em parceria com a Universidade de Coimbra, em Portugal.
Assim, o teatro permanece vivo, seja pelas cenas musicadas ou pelos dramas
e comédias francesas. Com a criação do Teatro Trianon, por volta de 1915, as comédias
de costumes marcaram a presença no cenário da cultura carioca. O teatro como
arte da cena interagia profundamente com a realidade, seja pelas temáticas ou pela
constante busca pela presença do público nos espetáculos teatrais. Embates entre
estilos, tendências e modos de criar cenas talvez seja o ponto conflitante no período
pré-modernismo e durante o modernismo brasileiro.
Esse período foi uma espécie de preparo dos territórios para o que estava por
vir: uma época de intenso desenvolvimento cultural, artísticos e social. Os produtos
naturalistas de Zola e Ibsen ainda estavam em vigência no Brasil e ainda se configuravam
em trabalhos como A Muralha, de Coelho Neto ou a Herança de Júlia Lopes de Almeida.
90
“No chamado "teatro da paixão", de linhagem francesa, cujos
expoentes são Henri Bataille (1872-1922), Porto Riche (1849-1930)
e Bernstein (1928-1990) influência Flores de Sombra, de Cláudio de
Souza (1876-1954), Berenice, de Cláudio de Souza, A Bela Madame
Vargas, de João do Rio (1881-1921), e Neve ao Sol, de Coelho Neto
(1864-1934)” (COSTA, 2012, p. 336, grifo nosso).
91
Cada encenador, diretor ou artista da cena buscava desenvolver saberes por
meio de suas perspectivas de criação teatral e em terras brasileiras as reverberações
destas propostas permitiram pensar em um teatro renovado e envolto em controversas
tensões entre a comédia musicada e as novas tendências. Duas tendências destacaram-
se no cenário moderno brasileiro que merecem destaque: a evolutiva e a ruptura. A
tendência evolutiva considerava os modelos e procedimentos modernos, mesmo com
certa dispersão, ao longo da linha histórica iriam sedimentando-se, acumulando-
se em termos de dramaturgia, quanto na encenação. Essas dimensões assumiam
interconexões que dificilmente poderiam ser isoladas ou identificar marcos essenciais.
Esta encenação trazia para o palco novos modos de conceber a cena e os planos
que traduziam realidade ou ficção, sonho e imaginação, simultaneidade de planos e
iluminação como elemento integrante de uma dramaturgia em transformação. Com a
implantação da Nova República (1934-1945), o Brasil inicia um intenso movimento para
92
firmar um teatro brasileiro e com a originalidade da cultura do país, mesmo adentrando
um período de repressão militar implantado pela política de repressão aos movimentos
populares e às manifestações artísticas (GUINSBURG et al., 2006).
INTERESSANTE
Fundado em 1948 pelo imigrante italiano Franco Zampari, o Teatro Brasileiro
de Comédia (TBC) inovou na cena cultural paulista adotando modos de criar
teatro com certo profissionalismo que até então não era comum no Brasil.
O TBC reuniu uma série de atores brasileiros de enorme talento e diretores,
cenógrafos, europeus, que deram uma nova marca ao Teatro do Brasil e ares
de pioneirismo a companhia, que se dedicava a apresentar textos clássicos da
dramaturgia e textos locais. Para conhecer mais sobre o TBC acesse o artigo
“O teatro no Brasil e o teatro brasileiro de comédia”, da pesquisadora Elisa
Maura Pereira Ferreira no endereço eletrônico: https://bit.ly/3tcutjr.
93
4 ENCENADORES E PROCESSOS CRIATIVOS
Ao abordarmos a temática encenadores e processos criativos da época pré-
moderna e modernista estamos trazendo para a discussão os modos de abordar a
produção cênica e os personagens que protagonizaram os principais feitos artísticos
dessa época de transformações. O teatro exigia criações que atendessem ao mesmo
tempo o gosto popular e de uma elite emergente. Após a morte de Artur Azevedo (1855-
1908) e de seu parceiro Moreira Sampaio (1851-1901), principais ícones da cena revisteira,
outros autores e encenadores receberam estaque nas primeiras décadas do século XX.
Entre eles estavam Cardoso de Menezes (1878-1958), Carlos Bettencourt (1888-1941),
Raul Pederneiras (1874-1953) e Luiz Peixoto (1889-1973). Este grupo de artistas da cena
biscavam manter relações criativas com artistas de outras áreas, como “[...] escritores,
caricaturistas e compositores, os chamados "humoristas boêmios", artistas e intelectuais
cariocas que tiveram enorme atuação, por meio do riso, da descontração e da criatividade,
na crítica da modernidade [...]” (REIS; MARQUES, 2012, p. 323). Essa crítica à modernidade
estava vinculada a uma tentativa de questionar a imposição a imposição de um projeto
eurocêntrico centrado em seus próprios modelos estéticos e processos criativos.
94
Nesta direção, os textos dramatúrgicos que surgiam retratavam com comicidade,
música e personagens caricatos, a cidade dita moderna, com luzes e amplas avenidas
promovidas pelas reformas urbanas em contraponto a um Rio de Janeiro destinado ao
esquecimento. Essa tendência ao abandono de parte da cidade e de construção de uma
aparência urbana para inaugurar a modernidade retratava a acentuada desigualdade
social em que a população estava submetida. “Relacionando-se tanto com a cultura
sofisticada quanto com a cultura popular de sua época, esses aurores retrataram uma série
de tipos das ruas do Rio, não apenas no teatro musicado, ao qual muitos se dedicaram,
mas também em conferências humorísticas ilustradas” (REIS, MARQUES, 2012, p. 324).
95
FIGURA 13 – FREDERICO CARDOSO E SOUZA
96
FIGURA 14 – PASCHOAL SEGRETO
Paschoal Segreto (1868-1920) foi importante para a cultura nacional, pois além
de incentivador da produção de arte, trouxe o cinema para o Brasil. De origem Italiana,
encontrou em terras brasileiras sua morada. Quando assumiu a função de Ministro das
Diversões do Rio de Janeiro implementou salas de cinema para que os filmes pudessem
ser exibidos. Além destes feitos, Paschoal Segreto foi empresário que investia na
produção de peças teatrais que fizerem muito sucesso na época. Carlos Bettencourt
(1888-1941), também nasceu no Rio de Janeiro, filho de médico e por força da família,
obrigado pelo pai a seguir a mesma carreira, foi estudar medicina, permanecendo apenas
um ano na faculdade. Ele tornou-se funcionário público no setor da saúde e escrevia
suas peças nas horas em que não estava em seu trabalho oficial. Em 1909, conseguiu
emprego na função de repórter no jornal O País com o pseudônimo de Assombro.
97
O primeiro sucesso de destaque foi a burleta Forrobodó, com autoria de Luiz
Peixoto e Cardoso de Menezes. O autor conseguiu a proeza de ter seus textos encenados
por diversas companhias como: “[...] de João de Deus e Margarida Max, ambas no
Teatro Recreio; a Companhia Nacional de Operetas e Melodramas do Teatro S. Pedro, da
Empresa Paschoal Segreto; a Companhia de Antônio de Souza, no Teatro Carlos Gomes”
(REIS, MARQUES, 2012, p. 325).
Sua atuação como autor teatral nas primeiras décadas do século XX, foi na
produção de burletas com grande senso de humor, um olhar sensível para a realidade
social brasileira e as desigualdades que se acentuavam. Sua parceria de sucesso com
Carlos Bettencourt estendeu-se para além da aclamada peça Forrobodó. Em 1916, no
Teatro São José, estreou Morro da Favela que apresentava como trama inovadora os
habitantes da favela e seus costumes. A burleta era composta por uma trama do cotidiano
98
do Rio de Janeiro e por hábitos costumeiros do povo. Outra produção no mesmo período
foi a peça Dança de Velho. Esse trabalho possuía cinco atros e apresentava temática
carnavalesca permanecendo em cartaz por mais de uma centena de apresentações
(REIS, MARQUES, 2012).
99
de ter aspectos que remetiam a um teatro caricato, ao apresentar letras de músicas,
poesias e situações envolvendo personagens tipo da cultura popular excluídos das
ações de modernização em que a cidade do Rio de Janeiro foi submetida. “Eram
mulatos pemósticos, tias baianas, prostitutas, valentões da capoeira, portugueses
ricos ou coronéis do interior enlouquecidos por mulatas que os maltratavam com seus
requebros” (REIS, MARQUES, 2012, p. 326).
100
FIGURA 17 – CENA DO ESPETÁCULO O REI DA VELA DE 1967
101
passam a apresentar certa liberdade cênica ao sintetizar, simbolizar ou propor uma
cenografia subordinada a cena, ou ao que a cena necessita para acontecer. Os
excessos foram eliminados para que a cena modernista pudesse criar estéticas novas
(GUINSBURG et al., 2006, PAVIS, 2008).
FIGURA 18 – AS ATRIZES LOLA BRAH E YONÁ MAGALHÃES EM MONTAGEM DE VESTIDO DE NOIVA, 1965
Os aspectos visuais do teatro deste período buscavam, por meio dos excessos
revisteiros, das cenas ligeiras e das comédias musicadas traduzir a busca por inovações.
A figura masculina estava em destaque no que se refere a encenação, produção e
escrita de dramaturgias.
102
que dançavam e cantavam com todo glamour que a cena da época oferecia. Mesmo
com todo protagonismo masculino, os figurinos que estavam em destaque eram das
vedetes que basicamente exerciam o papel de símbolos sexuais, atraindo um público
dito masculino. A diante discutiremos outros aspectos específicos do cenário e da
cenografia deste período.
103
A palavra cenografia, do grego, skêllographia, compreende a arte de adornar
o teatro com diversos recursos que compõem uma cena teatral. No renascimento, a
cenografia estava voltada a construção de telas em perspectiva que eram postas no
fundo da cena. Em termos modernos, a cenografia está conectada com os aspectos
visuais e permite pensar o espaço da cena teatral, dos elementos que compõem cada
cena e da localização temporal da narrativa apresentada.
104
O artista da cena ou o cenógrafo recebe autonomia para buscar processos
criativos individuais que ofereça uma dimensão original para a montagem do espetáculo
teatral de modo que os atores e atrizes recebam o destaque necessário para cada
cena. Nesta perspectiva, elementos como volumes, cores, elementos como instalação,
amplitude e profundidade recebem nova valorização. O palco pode ser alterado, as
noções dos moldes italianos rompidos e ampliação das conexões entre área de cena
e espectadores. Essas experimentações modernistas permitirão aparecer uma cena
contemporânea com a valorização dos espaços entre. O encontro entre obra teatral
e espectadores recebe dimensões ritualísticas o espectador pode subir ao palco e os
limites entre atores, atrizes e espectadores borrados (PAVIS, 2008).
INTERESSANTE
Para ampliar os conhecimentos sobre a cenografia, acesse o artigo da Revista
Tecnologia intitulado: “Novos caminhos para a cenografia diante da evolução
tecnológica: o teatro e a realidade aumentada”. Nesse artigo, você poderá
conhecer a cenografia de maneira objetiva com exemplos e reflexões pertinentes.
Acesse em: https://bit.ly/36gjRqI.
105
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O gênero Teatro de Revista foi importante para a história do teatro brasileiro por
apresentar um teatro conectado com as raízes originadas em território nacional e
buscava divulgar a música popular brasileira. Nessas décadas (1920-1930) surgiram
dois subgêneros de Teatro de Revista: a Revista Carnavalesca e a revista de ano.
106
AUTOATIVIDADE
1 Os movimentos artísticos que ocorreram no período pré-modernista e modernista
da cultura brasileira foram decisivos para a construção de uma identidade teatral
nacional e para o sucesso dos gêneros teatrais que revelaram importantes artistas da
cena. Neste sentido, assinale a alternativa CORRETA que contém os gêneros teatrais
que se desenvolveram nesse período:
3 O gênero Teatro de Revista marcou a história do teatro nacional por apresentar foi
importante uma abordagem conectada com moldes franceses, mas que buscava as
raízes originadas do território nacional e divulgava a música popular brasileira. De acordo
com essa informação, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
108
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
O MODERNISMO E O TEATRO BRASILEIRO
1 INTRODUÇÃO
O período em que o movimento modernista brasileiro apresentou suas propostas,
o Brasil passava por profundas transformações em diversos setores, e acultura não foi
diferente. O tópico anterior apresentou alguns aspectos do período que antecedeu o
movimento modernista brasileiro e ofereceu para você, leitor, um panorama artístico
cultural brasileiro. Esse panorama evidenciou os anseios de uma época em que o teatro
também se transformou profundamente, recebendo influências da cultura francesa
para desenvolver um teatro com características brasileiras.
109
Esse período deu-se o que chamamos de pré-modernismo, ou seja, o que
ocorreu no período que colaborou para que o movimento modernista pudesse ter seu
marco principal na Semana de Arte Moderna de 1922 e a implementações de parâmetros
de criação vinculados com os ideais deste movimento (REIS, MARQUES, 2012).
Esse fomento da cultura artística estava conectado com uma elite do Rio de
Janeiro ou das principais cidades provinciais. Esse desenvolvimento econômico de uma
parcela da sociedade brasileira conectada com “[...] os ciclos econômicos – cana de
110
açúcar, mineração, pecuária, algodão, café, borracha – e a consequente acumulação
de capital legaram ao país um conjunto arquitetônico de edifícios teatrais que se
sobressaem pela sua condição monumental” (TORRES; VIERIA, 2012, p. 388).
111
detrás do valor simbólico da língua francesa estava uma tradição histórica e cultural,
a qual os membros dirigentes da então jovem república brasileira procurava assimilar,
reafirmando cada vez mais os seus laços ao difundi-la.” (TORRES; VIERIA, 2012, p. 391).
112
que os dramas tratavam dos conflitos que a sociedade apresentava e a comédia alinhada
com uma afirmação de valores nacionalistas. Este fato preservou a tradição de um riso
voltado para a crítica dos costumes revelando grandes dramaturgos que destacaremos
em trecho a diante. Os dramaturgos deste período apropriaram-se de recursos como a
ironia, a satirização, o deboche para divertir as plateias e criticar os costumes de uma
época de intensas modificações na estrutura social, e principalmente urbana.
Esse marco para o início do Modernismo brasileiro ocorreu durante uma semana,
de 13 a 18 de fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo. As manifestações
artístico-culturais que ocorreram nesse período eram as mais variadas possíveis para a
época e abarcavam espetáculos de dança, música, recitais de poesia, exposições de artes
visuais e peças de teatro. Esse evento foi o marco para o Modernismo brasileiro mostrando
perspectivas inovadoras para a arte brasileira influenciada pela vanguarda europeia.
IMPORTANTE
O termo vanguarda significa, no seu sentido ligado ao exército, a guarda
que abre a ordem da luta ou batalha. Pode ser a guarda avançada que
abre a marcha para a batalha. Um pelotão militar à frente. Neste sentido,
o termo Vanguarda aplicado ao movimento modernista está ligado ao
que está à frente de seu tempo e provoca instabilidade, tensionamentos
e discussões.
A exposição de obras artísticas que durou cerca de uma semana, foi organizada e
coordenada pelos escritores Mário de Andrade, Oswald de Andrade e pelo artista plástico
Di Cavalcanti. O principal objetivo do evento era exibir ao público a arte brasileira de
diversos artistas em diferentes linguagens. Os dias do evento mostraram obras musicais,
da literatura, poesia, pintura, dança, teatro, escultura que foi produzida na época. Os
organizadores pretendiam causar uma revolução na arte brasileira por meio de um certo
rompimento com o conservadorismo. Para isso, as obras provocavam o público a repensar
a arte. Os padrões artísticos clássicos europeus eram o alvo principal de críticas.
113
Os artistas apresentaram obras que adotavam o uso de linguagem coloquial
que possibilitava aproximar a arte do modo que a língua é usada no cotidiano. Esse fato
mostrou a vontade de romper com o rebuscamento dos textos tradicionais. O formalismo
e os padrões academicistas também foi um ato defendido pelo movimento. A liberdade
de expressão era defendida com a afirmação de uma identidade estética nacional que
permitisse produções com temas locais e que retratassem o cotidiano brasileiro. Outro
fator importante, foi a provocação de experiencias estéticas que chocaram a comunidade
da época. Essas experiências eram inspiradas nas vanguardas europeias que em
movimentos como o futurismo, cubismo, dadaísmo, surrealismo. Esses movimentos,
mesmo sendo originados em terrar europeias, foram importantes para a elaboração de
novas propostas artísticas ou para propor inovações artístico-culturais.
114
Com a intenção de adotar uma visão da arte renovada, ampliada e com maiores
possibilidades de expressão, a Semana de Arte Moderna não buscava romper com
os padrões estéticos conservadores europeus, para então adotar uma identidade
artística brasileira. Isso significava buscar inspiração em vanguardas europeias, porém
abandonando os padrões tradicionais.
115
A proposta deste movimento artístico cultural estava centrada na tentativa de
criar uma espécie de língua própria e legitimar a estética originada no Brasil. Nessa
proposta de um nacionalismo que pudesse integrar as manifestações culturais, com
bases na modificação dos valores artísticos, morais, sociais e raciais. Em se tratando
da linguagem teatral, a Semana de Arte Moderna parece ter ignorado que poderia ter
sido inclusa no movimento. Prevalecia o teatro de Revista, as comédias musicadas e ao
circo. As reverberações desse período aconteceram tardiamente e somente em 1926,
que Antônio de Alcântara Machado ergueu-se em favor da renovação teatral. Suas
ideias foram ignoradas pelas companhias profissionais (GUINSBURG et al. 2006).
IMPORTANTE
O TEATRO MUSICADO é aqui entendido como o gênero: teatro alegre ou ligeiro (ou
Gênero ligeiro). Eram formas teatrais simplificadas, criações não elaboradas, realizadas
rapidamente, sem propósitos artísticos mais elevados. REVISTAS DE ANO: era
uma variação do Teatro de Revista em que as produções eram criadas aos
moldes revisteiros que trouxeram ao Brasil um modo peculiar, extravagante
e bem-humorado de criar cenas curtas, contendo música e coreografias
executadas por atrizes vestidas com figurinos extravagantes e festivos. A
revista de ano era uma apresentação que em sua sequência de cenas
buscava trazer para o palco os principais fatos que ocorreram naquele
ano. BURLETAS: eram apresentações cômicas, com certo tom farsesco
e com cenas rápidas. As OPERETAS: eram pequenas óperas contendo a
presença de canto em estilo da ópera e com partes recitadas. COMÉDIAS
DE COSTUMES: é um gênero do teatro brasileiro em que apresenta uma
sátira da sociedade da época com certo tom de crítica social. É atribuído
ao escritor francês Molière a criação desse gênero e no Brasil, Martins
Pena e Arthur Azevedo são pioneiros.
116
A proposta que estava alinhada com os princípios do modernismo no teatro foi
desenvolvida por Alcântara Machado. Esse artista da cena propunha ao teatro brasileiro
da época uma estratégia de duas abordagens. A primeira abordagem previa a adoção,
certa reprodução, uma cópia dos princípios dramatúrgicos internacionais para na
segunda abordagem, recriar antropofagicamente, um teatro conectado com a cultura
brasileira. Esse repertório adquirido devorando as práticas internacionais, deveria ser
base para processos criativos que pudessem trazer para os palcos a cultura brasileira.
118
A atitude teatral da época estava conectada com o desprezo de alterações
no teatro dito profissional. De 1917 até 1922, o teatro passou por poucas modificações
ou renovação. As propostas que surgiam estava a alinhadas com os moldes que eram
praticados. Uma pequena renovação em termos de temática, mais tarde culminaria no
desenvolvimento da comédia de costumes. O marco inicial para este fato foi a estreia
da peça de Cláudio de Souza (1876-1954), Flores de Sombra, em fevereiro de 1917. Nesta
movimentação teatral estavam os artistas da cena Viriato Corrêa (1884-1967), Abadie
Faria Rosa, Gastão Tijeiro (1880-1965) e Armando Gonzaga entre outros. Essa tentativa
de renovação, mobilizou superficialmente nos processos de criação e fruição do teatro.
Essa temática propunha uma regionalização teatral que apelou para um nacionalismo
com certa nostalgia, privilegiando valores rurais em detrimento aos valores urbanos da
realidade brasileira. A renovação dita como formal, que mobilizasse os modos de conceber
e executar a dramaturgia, a cena modernista, a produção e interpretação, continuou com
as bases fundadas no século XIX. O movimento modernista tentou estabelecer certa
modernização dramatúrgica que ressoou em textos de Mario de Andrade, em 1922. Estes
textos ficaram engavetados por décadas (GUINSBURG et al. 2006).
Outros textos dramatúrgicos foram escritos neste período por escritores como
Menotti Del Picchia e Graça Aranha, que foram participantes ativos do movimento
modernista. Essas peças chegaram ao palco, mas pouco modificaram o teatro que
predominava. Uma das propostas dramatúrgicas dessa época foram as três peças
de Oswald de Andrade: Oswald de Andrade: O Rei da Vela, O Homem e o Cavalo e A
Morta, datadas da década de 1930, e que foram postas em cena somente depois de três
décadas. Em 1967, a montagem de O Rei da Vela pelo encenador José Celso Martinez
Corrêa, o Zé Celso, em que propôs novas maneiras de encenar este texto que traduzia
os anseios modernistas.
119
FIGURA 22 – RETRATO DA ARTISTA DA CENA ITÁLIA FAUSTA (1879-1951)
120
Inúmeras comédias ao longo das décadas de 1920 e 1930 em que Oduvaldo Vianna
(1892-1972) escreveu e encenou muitas comédias como: Manhãs de Sol (1921), A Vida
é um Sonho (1922), Última Ilusão (1923), Um Tostãozinho de Felicidade e O Vendedor de
Ilusões (1931).
Uma peça teatral de pequena duração que, por meio de elementos musicais
e da ópera, buscavam o virtuosismo, e que descrevia os costumes da época. Em O
Castagnaro da Festa (1927), apresentou em suas cenas os tipos de imigrantes de São
Paulo com seus sotaques e maneiras de comportar-se. Em tempos de desenvolvimento
do teatro Brasileiro, esse artista da cena foi importante integrante do Teatro de Arena,
que conheceremos adiante. Ele ainda fundou o Centro Popular da UNE e o Grupo
Opinião. Sua dramaturgia apresenta a realidade brasileira por meio de personagens
que retratavam pessoas simples e trabalhadoras. A intenção de refutar as influências
estrangeiras estava presente em suas produções e buscava retratar a cultura popular
brasileira como maneira de valorizar aspectos que permaneciam excluídos dos palcos
teatrais” (BRAGA, 2012).
121
textos de Joracy Camargo (1898-1973). Com anseios progressistas, Oduvaldo também
apresenta propostas progressistas ao escrever textos em que exalta a presença da
mulher como no texto Mas que Mulher! (1932) em que abordava questões ligadas ao
divórcio. A atriz Dulcina de Moraes (1908-1996).
IMPORTANTE
Para conhecer mais sobre o dramaturgo Oduvaldo Vianna e seus feitos para o
teatro brasileiro, no link a seguir há uma página da FUNARTE em que apresenta
brevemente os feitos do artista da cena. Link para estudo: http://portais.
funarte.gov.br/brasilmemoriadasartes/acervo/familia-vianna/oduvaldo-vianna-
um-inovador-no-teatro-no-radio-e-no-cinema-brasileiros/
122
5 PROCESSOS DE CRIAÇÃO TEATRAL
No caminho para o desenvolvimento de uma arte dramática voltada para as
características nacional ou para uma arte original brasileira, autores ousaram romper com os
procedimentos tradicionais para criar possibilidades de novos modos de criar dramaturgias.
Martins Pena e França Junior nas décadas de 1910 até 1930 continuaram a criar
textos para a comédia de costumes e um modo de cenas que desprezavam a elite urbana
que esperava ver nos palcos os moldes dramatúrgicos europeus. Essa tentativa de refutar
o estrangeirismo e de estabelece novas maneiras de criar teatro abriu espaço para a
valorização de produtos característicos de terras brasileiras.
Na peça A Emancipação das Mulheres, o desfecho traz uma visão utópica e ridícula
buscar por emancipação feminina, a peça As Doutoras, o desfecho também segue essa
ideia, porém as personagens centrais possuem formação acadêmica e diplomadas, uma
em medicina e a outra em direito. Essas presenças femininas anunciavam as modificações
que estavam próximas. Os contextos sociais excluíam a mulher da efetiva organização
social que se apresentava conservadora, patriarcal e misógina. Os espaços sociais
eram desenhados para privilegiar as figuras masculinas e as dramaturgias buscavam,
timidamente modificar o papel feminino, porém prevalecia certa ridicularização da mulher,
seu sentimentalismo ou participação social (BRAGA, 2012).
124
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Uma elite brasileira estava voltada para as produções que utilizavam artistas famosos
ou que buscavam destacar o gênero que produziam. O nome de determinado artista
da cena de enorme fama estava em evidência nas divulgações para atrair um público
específico.
• Outro aspecto apreciado pela elite era o uso da língua de origem das companhias. Os
idiomas que eram comuns em espetáculos era o italiano e o francês. Esses idiomas
eram facilmente associados ao glamour da ópera e canto lírico.
• A Semana de Arte Moderna de 1922 foi marco para o início do Modernismo brasileiro.
Durante uma semana, de 13 a 18 de fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo,
ocorreram manifestações artístico-culturais inovadoras para a época e abarcavam
espetáculos de dança, música, recitais de poesia, exposições de artes visuais e peças
de teatro.
125
AUTOATIVIDADE
1 O período que antecede o movimento modernista brasileiro está intensamente
conectado com o advento da modernidade e o desenvolvimento industrial. A
dramaturgia brasileira passa por transformações lentas, mas significativas. As
experiências artísticas da modernidade propunham uma arte voltada ao espectador,
a vida e renovar os processos de criação. Sobre este período, da história do Teatro
Brasileiro, assinale a alternativa CORRETA:
126
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.
4 O período modernista e o período anterior, foram marcados por certa tradição cômica
que experimentava diversas maneiras de produzir espetáculos, mas mantendo as
ditas fórmulas que as consagraram como populares. Dentre estes gêneros estavam
o teatro musicado, as revistas de ano, as burletas, as operetas e as comédias de
costumes. Diante desse pressuposto, disserte sobre essas variedades teatrais e suas
características.
127
128
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
A CENA MODERNA E A PROFISSIONALIZAÇÃO
DO TEATRO MODERNO NO BRASIL
1 INTRODUÇÃO
Neste momento, buscaremos trazer para o campo da discussão a cena
modernista e a profissionalização dos artistas da cena que produziam intensamente
obras para serem acessadas ao público. O período em que o modernismo ganhou força
como movimento artístico foi de intensas transformações, principalmente nas áreas da
arte que fizeram parte do movimento. A dramaturgia, como vimos anteriormente, resistiu
às proposições modernistas para conservar uma produção de espetáculos baseada em
moldes consolidados.
129
(BRAGA, 2012, p. 403). Por meio de recursos dramatúrgicos que os autores encenadores
captaram a preferência popular pelas comédias e o teatro musicado. Assim, veremos
adiante os aspectos que definiram a cena modernista, a profissionalização e a instauração
de um teatro nacional com força.
131
NOTA
O termo high society está ligado a língua inglesa para significar a alta
sociedade. Esse termo foi adotado para definir a classe alta brasileira
do período modernista. Esse grupo era composto por pessoas com alto
poder financeiro e que almejavam ter status ou se destacar socialmente,
ostentando riqueza e poder. A alta burguesia brasileira que frequentava
locais requintados, restritos e elitizados. Na música popular brasileira,
a cantora Elis Regina gravou uma letra de composta por Rita Carvalho,
Roberto Zenobio, Affonso De Carvalho, com o título Alô, alô, Marciano.
Essa letra propõe uma crítica de forma irônica a high society da época. A
interpretação da cantora é provocativa e estimula o pensamento em torno
de um grupo social fútil e marcado pelos excessos. Vale a pena conferir nas
plataformas digitais.
132
Outro ponto de vista era de que havia um enorme movimento teatral, não na
dimensão da literatura ou de outras áreas, mas um movimento ligado a teatralização da
apresentação e apreciação artística. A seguir, aprofundaremos as discussões em torno
dos modos de criar e acessar a arte teatral deste período.
Um exemplo desse fato são as inovações propostas pelo suíço Adolphe Appia
em 1895 e que reverberaram em outras propostas de encenação somente nas décadas
de 1950 e 1960. Esse movimento de resistência aos novos modos de encenar teatro
ocorreu também em terras brasileiras. Esse movimento de proposição de inovações e
de resistência configurou os professos criativos da época o que mais tarde, influenciou
na caracterização do teatro modernista.
133
FIGURA 25 – EDWARD GORDON CRAIG E JACQUES COPEAU
O autor ainda afirma que se a plateia identificar um defeito que seja ridículo,
poderia apontar mudanças comportamentais. Nesse sentido a função da comédia
estaria em provocar no público essa noção de ridículo de modo que pudesse promover
essa correção defeituosa do comportamento. Nesse sentido, as encenações cômicas
buscavam apresentar aspectos que imitam os acontecimentos e comportamentos
134
humanos, a rigidez de um tipo particular, automatismo e movimentos desconectados
com a vida. A comicidade da época apontava as imperfeições individuais ou coletivas
exigindo uma correção imediata.
135
4 OS MECANISMOS DE PROFISSIONALIZAÇÃO DOS
ATORES E DAS ATRIZES
No trecho anterior, discutimos os tensionamentos entre os fatores que definiram
as produções teatrais do início e meados do século XX. Nesse momento, abordaremos
o panorama da produção teatral da época que permitiu a profissionalização de atores
e atrizes ou de toda um coletivo de artistas da cena, ou seja, os mecanismos que
definiram o panorama da produção teatral da época. De uma tendência a direcionar
o espectador a rir de situações em que espelham ironicamente a figura ridícula do
próprio espectador. Esses aspectos nos direcionam a pensar acerca das competências
e habilidades necessárias para executar com maestria os espetáculos, seja no teatro
musicado, operetas, burletas, nos gêneros cômicos ou revistas de ano. Os dramas
também eram encenados e exigiam dos profissionais habilidades necessárias para
levar para a cena a profundidade dramática da trama e dos personagens. A época em
que começaram a surgir os grandes ícones do teatro profissional brasileiro, como o
ator Procópio Ferreira (que estreou em 1919). Essa produção chamava-se O Simpático
Jeremias e o protagonista foi interpretado pelo ator Leopoldo Fróes, esse papel o ator
manteve em seu repertório toda sua trajetória. Nessa trama, o Jeremias é um criado
que ópera solucionando os conflitos que permeiam as relações das personagens. Essas
características compuseram o estilo que foi nomeada de Comédia Nova.
136
sua narrativa as traquinagens de um personagem chamado Bernardo que é responsável
por todas as tarefas de seu local de trabalho e passa a confundir as tarefas e acaba
solucionando as confissões que surgem. Essa comédia estreou em 22 de novembro
de 1915, no Teatro Trianon. O protagonista desta comédia também conecta a tradição
cômica brasileira com a Commédia dell’Arte nessa espécie de trapalhão inteligente.
Diversos costumes da época eram postos em cena nessa trama.
O Teatro Profissional dos anos de 1920 aos anos de 1950 foi marcado pela maestria
de profissionais que conseguiram grande prestígio e competições por atuações de
destaque. Os astros e estrelas surgiram nessa época com suas atuações espetaculares
que arrastavam multidões. A fama e idolatria de atores da época permeava as condições
da profissionalização de atores e atrizes. Astro era uma palavra utilizada com frequência
e possui vários significados, dependendo seus usos e contextos. Os atores e atrizes
considerados astros ou estrelas de teatro ocupavam lugares de prestígio, com destaque
para as figuras masculinas e as figuras femininas ainda eram associadas a objetos
de desejo ou objetos sexuais de uma sociedade estruturalmente preconceituosa
e machista. De um local de destaque, grandeza, ou tirania a uma acepção de figura
pejorativa. Em astronomia astro é todo corpo celeste que possui luz própria. Nesse
sentido, o astro estava associado a aquele ator ou atriz que obtivesse enorme destaque
em suas atuações artísticas. Os astros e estrelas orbitavam em rotas de enorme fama e
geralmente, buscavam manter seu sucesso em carreiras longas. A corrida para chegar
ao destaque ou manter-se no foco da cena modernista com todas as pompas que um
astro ou estrela idealizavam talvez fosse uma tarefa difícil e um preço alto a pagar.
137
sujeito da cena e em cena, senhor de uma forma de expressão encantadora que a plateia
adorava acompanhar, o astro era líder de sua categoria, artífice de sua companhia, mago
da bilheteria, empresário e forjador do próprio ofício” (BRANDÃO, 2012, p. 459).
Armando Gonzaga foi um comediógrafo que escreveu inúmeras peças, dentre elas
O Ministro do Supremo que estrou no Teatro Trianon em 1921, e A Flor dos Maridos que
estrou em 1922 no Teatro Recreio. As comédias de Gastão Tojeiro ou as de Armando Gonzaga
eram estruturadas com um jogo de rapidez entre os diálogos, fluência e intimidade com a
artesania do teatro ou com o que chamamos de padrão cômico para a época.
138
Alguns recursos como a ironia em mostrar comportamentos hipócritas ao trazer
para a cena os excessos conectados com a ambição. Para exemplificar essa determinada
situação, podemos citar uma passagem em que põe em cena um ator, que por sede de
maiores lucros, busca vender bilhetes que o próprio empresário lhe oferecera.
NOTA
Comediógrafo é o profissional que dedica seu tempo a produzir textos
dramatúrgicos no gênero comédia para serem postos em cena. O
profissional comediógrafo conhece profundamente o gênero teatral cômico
e os recursos necessários para compor um texto que ao ser encenado possa
fazer o espectador gargalhar com as situações cômicas exploradas.
139
A emoção e profundidade dramática eram refutadas para dar espaço para o
entretenimento e riso fácil. Essa atmosfera tomou conta das produções teatrais desse
período e marcou os modos de criar e apreciar arte dramática. As comédias estavam
conectadas com os tipos sociais como marido galanteador, esposa com ciúmes
excessivos, empregadas sensuais, as vizinhas fofoqueiras que objetivavam arrancar
gargalhadas do espectador.
Esse modo de criar cenas estava voltado para o que foi definido como certo
descompromisso com a função de desviar a atenção das tragédias, transformações
e eminente risco de novos conflitos armados em partes do mundo. Esses aspectos
definiram uma época e os modos de produzir dramaturgias ou de compor cenas para
determinado público (BRAGA, 2012, p. 409)
Outro expoente das décadas após 1922 foi Joracy Camargo (1898-1973) que traz
aos palcos outro modo de encenar por meio do vagabundo filosofante. Esse dramaturgo
iniciou uma sequência de textos que iniciou com O Bobo do Rei em 1931, Deus lhe
Pague em 1932, O Neto de Deus, em 1933, Maria Cachumba, e 1940 e O Sindicato dos
Mendigos de 1942. Essas dramaturgias poderiam ser localizadas no que alguns críticos
da época definiram como “teatro de comunicação sensível” (WERNECK, 2012, p 419).
140
FIGURA 28 – FOTOGRAFIA DA PEÇA SORTILÉGIO DE 1957 DO TEATRO EXPERIMENTAL DO NEGRO
141
A Companhia Negra de Revistas permaneceu ativa por somente um ano, de
1926 até 1927. Com a contratação de Pixinguinha para a regência musical da companhia,
ela circulou por diversas cidades interioranas do estado de São Paulo. Outra grande
revelação foi a presença de um ator que se destacaria no cenário do teatro nacional.
Em 1926, a companhia lançava o ator Sebastião Bernardes de Souza Prata, com o nome
de Grande Otelo. Adiante, abordaremos os principais aspectos que antecedem o teatro
contemporâneo.
IMPORTANTE
Depois da Proclamação da República, amparados pela maior difusão
dos espetáculos populares, muitos artistas negros buscaram espaço de
reconhecimento, participando do mercado das partituras, dos primeiros
filmetes e fonogramas, como Baiano, Cadete, Geraldo Magalhães e tantos
outros – época em que o célebre Pixinguinha se profissionalizou (no ano
de 1912). Entretanto, havia – e ainda há – uma enorme resistência dos
brancos colonizadores aos negros afro-diaspóricos e à sua cultura.
142
O sucesso econômico da companhia era perseguido e esse teatro de convenções
era submetido aos valores artísticos da época. Os personagens tipo eram presentes nas
tramas e como máscaras da realidade social eram amplamente explorados.
Os tipos de papéis possuíam uma faixa de idade em que o galã deveria ter de
20 a 30 anos, o centro de 30 a 50 anos e o vegete de 50 anos em diante. Os outros
personagens cômicos poderiam ter somente uma identificação com a função social.
Estes aspectos da estrutura dramatúrgica criada partindo de personagens tipo permeou
toda uma produção teatral voltada para a comédia de costumes, o teatro musicado e
o teatro de revista. As propostas contemporâneas irão propor o rompimento com essa
estrutura para emergir um teatro baseado no trabalho de atuação, do musical e de
propostas que reinventam a própria estrutura dramatúrgica.
Homem já mais velho. Pode ser o Velho Gaiteiro ou Velho Ridículo. Pode
Vegete ou Vegeto
equivaler-se em termos de idade com a Caricata.
143
Figura masculina de maior destaque na companhia dramática e na
Astro
empresa teatral.
Aquele que fica em cena sem falar, "figurando" apenas tipos masculinos
Figurante
e femininos diversos.
Dama Galã ou Mulher jovem, figura romântica e tentadora que desperta a atenção dos
Galante homens pela sua beleza e natural sensualidade.
Corista Mulher que atua nos coros em grupo cantando e/ou dançando.
144
LEITURA
COMPLEMENTAR
ODE AO TEATRO MUSICADO NACIONAL EM QUATRO ETAPAS, UM PRÓLOGO E UM
EPÍLOGO
[...] O presente artigo não visa ser um estudo de caso, de período, de artistas,
de peças, de gêneros musicados –visa registrar o que já sabemos, mas que ainda não
localizamos em nenhum estudo específico –uma demonstração histórica de que “tudo
começou com a opereta” (e com suas irmãs e primas).
145
Por mais delicado que seja abordar o assunto, o Brasil é um país onde os
escravizadores e os escravizados encontraram alguns lugares comuns na cultura
popular: o rancho de reis invade a casa do senhor como vemos na peça Uma véspera
de reis, de Arthur Azevedo (2002). Esse fato torna difícil explicar nossa cultura e como
funciona a interação entre as pessoas no país. Em alguns estudos mais antigos, do
começo do século XX, a violência e o preconceito foram de certa maneira minimizados
por uma falsa ideia de mistura pacífica de culturas (HOLANDA, 2016; FREYRE, 1973).
Por mais delicado que seja abordar o assunto, o Brasil é um país onde os
escravizadores e os escravizados encontraram alguns lugares comuns na cultura
popular: o rancho de reis invade a casa do senhor, como vemos na peça Uma véspera
de reis, de Arthur Azevedo (2002). Esse fato torna difícil explicar nossa cultura e como
funciona a interação entre as pessoas no país.
146
traduções e adaptações que se desenvolveram rapidamente, tornando-se cada vez mais
recheadas de costumes, palavras, canções, danças populares nacionais, a ponto de, no
início do século XX, serem formas de arte completamente forjadas nas corporeidades e
musicalidades daqui, cujas estruturas de cena só poderiam ser encontradas no Brasil.
Não houve interesse por parte de uma elite política portuguesa e brasileira em
instituir um teatro em estilo europeu no Brasil durante quatro séculos, entre 1500 e 1800;
ou houve pouquíssimo interesse, por parte dos governantes do país, ou da elite letrada
brasileira (a maioria sendo súditos do imperador de Portugal) em instigar a formação
de um teatro em estilo “ocidental” nas terras nacionais. Assim, as poucas companhias
daqui encenavam peças de origem ibérica e as formas mais vibrantes de encenação
eram as brincadas nas ruas pelas pessoas escravizadas ou as mais pobres, em torno
das quais, nos dias de feriado, se reuniam também as elites.
147
Era um teatro popular, com música, dança, hábitos e expressões do povo pobre
e/ou negro. Embora todos assistissem e apreciassem como público, essas formas mais
próximas do imaginário popular nacional tiveram recepção duramente criticada em
áreas literárias, acadêmicas e jornalística, desde os quase contemporâneos daqueles
autores – vide textos de José de Alencar (1829-1877) sobre Martins Pena (1815-1843)
(ALENCAR, 1857); ou textos de Coelho Neto (1864-1934) sobre Arthur Azevedo (1855-
1908) (NEVES, 2006); – até o final do século XX – vide textos mais antigos de Décio de
Almeida Prado (1917-2000) (PRADO, 1971). Mesmo hoje em dia legitimar essas formas de
arte como sendo tão preciosas quanto o que podemos chamar de teatro erudito (isto
é, aquele que se espelha em modelos literários europeus canônicos e reverenciados)
constitui uma forma de luta dentro das universidades, por exemplo.
148
Foram consideradas à época o que havia de mais irreverente, inusitado e desordeiro
na sociedade parisiense. Eram peças que, apesar de estrangeiras, carregavam em sua
estrutura e em seu aspecto turbulento e audacioso uma semelhança instigante com as
linguagens cênicas nacionais vivenciadas nas festas e folguedos.
As operetas não tinham uma forma rígida, eram maleáveis para se adaptarem
ao que agradava ao público; eram fragmentadas; tinham uma vivacidade e uma alegria
oriundas da música e da comédia que as tornavam uma ferramenta política bastante
importante. Em tais aspectos, o gênero estava próximo ao que as teatralidades de
rua nacionais, forjadas naqueles quatro séculos de luta por liberdade das classes
escravizadas ou menos favorecidas apresentavam.
Não foi à toa, portanto, que as operetas praticamente varreram as outras formas
europeias de teatro do interesse da população brasileira – quando chegaram não houve
mais espaço ou interesse dentre o público para assistir a peças sérias, “elevadas”,
realistas: o que interessou ao brasileiro, seja o pobre, seja o rico, foi a força de ruptura
e a vivacidade artística daquele gênero musical. As operetas apresentavam muita
subversão, sendo censuradas, perseguidas e criticadas intensamente no Brasil e na
França. Nesse aspecto, também lidavam com o permitido e o proibido como acontecia
com as teatralidades afro-brasileiras.
O público do Alcazar era formado por pessoas de classe média à alta. Apesar
das restrições literárias feitas ao gênero da opereta, que eram pontuadas em notícias
de jornais, havia o lado chique e esnobe de se assistir em francês às mais recentes
novidades do teatro musicado de Paris. Mas, para além desse lado elitista, o fato é que
as operetas, com seu caráter de desordem, de rebaixamento, e sua abertura para o
hibridismo, incluindo a subversão de temas considerados altos e graves, combinavam
com a sociedade brasileira e todas as suas peculiaridades. Não causa surpresa, portanto,
quando olhamos para trás, que um gênero de teatro e de música considerado menor na
França, mas com tal potencial para transmitir alegria e para produzir críticas ao mesmo
tempo, agradaria tanto ao povo brasileiros.
149
Segunda etapa: as adaptações brasileiras
Essa notável repercussão fez com que um ator e dramaturgo brasileiro percebesse
que o sucesso das operetas poderia ser trazido para mais perto de todos os habitantes
caso se comunicasse com a cultura popular, na língua brasileira, não sendo apresentado
apenas como espetáculo estrangeiro, por artistas franceses. O artista que teve essa ideia
foi Francisco Correia Vasques (1829-1892). Vasques, comediante que havia trabalhado
nas mais importantes companhias de teatro brasileiras, com uma perspicácia só possível
a uma pessoa que transitava entre o popular e o erudito, notou o grande potencial que
as operetas francesas teriam se fossem abrasileiradas, ou seja, se fossem transformadas
em peças que projetavam as formas de teatro de rua, com uso de música brasileira. Ele
percebeu, provavelmente não a partir de uma análise, mas sim a partir de seu saber
como ator cômico, que a estrutura da opereta facilitava o aproveitamento de hábitos e
linguagens cênicas de folia da população em sua estrutura dramática.
150
alternava momentos falados com momentos cantados, a graciosa e popularíssima
Amor por anexins, de 1870. Em 1876, adaptou para os costumes nacionais dois grandes
sucessos do Alcazar: La fille de Madame Angot, que ganhou o título de A filha de Maria
Angu e La belle Hélène, com título de Abel, Helena. Ambas foram encenadas por Jacinto
Heller. [...]
FONTE: NEVES, L de o. Ode ao teatro musicado nacional em quatro etapas, um prólogo e um epílogo.
Urdimento – Revista de Estudos em Artes Cênicas, Florianópolis, v. 2, n. 41, p. 1-25, set. 2021.
Disponível em: <https://www.revistas.udesc.br/index.php/urdimento/article/view/20378/13396>. Acesso
em: 21 nov. 2021.
151
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O gênero cômico frequentemente era alvo de críticas por parte de críticos de arte. As
críticas apontavam o teatro da época como superficial, excessivamente voltado para
o riso fácil, de apelo popular e objetivava agradar certo público cativo.
• O teatro profissional das décadas de 1920 até 1950 foram décadas de grande prestígio
nos palcos brasileiros que revelaram grandes astros e estrelas de teatro.
152
AUTOATIVIDADE
1 Duas palavras eram importantes para pensar a profissionalização de artista da cena.
Uma constituição de atores e atrizes que reunissem habilidades múltiplas, com
capacidade de atuar, dançar, cantar e com capacidade para atuar em comédias e
dramas com versatilidade. Há uma certa subordinação a toda essa iluminação atribuída
a um profissional da cena. Sobre as definições, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As palavras que o texto menciona são Astro e Estrela, que são utilizadas para
definir a posição de destaque dos grandes atores e atrizes do teatro desse período.
b) ( ) As palavras são cinema e história da arte que definiram os processos de criação
teatral e de busca por novos modos de criar arte.
c) ( ) As palavras são cenário e figurinos utilizados em montagens de produções
cinematográficas que surgiram com força nesse período.
d) ( ) As palavras são controle e composição que definiram a cena modernista. O
controle da produção de cenas era uma atitude necessária.
2 Quando pensamos na ideia de astro ou estrela o que pode vir a mente é um elemento
que possui luz própria que pode ser o centro de um sistema interconectado. Neste
sentido, esses termos eram utilizados para definir a posição de alguns atores e atrizes
de destaque. Com base nestes pressupostos, analise as sentenças a seguir:
153
( ) A comédia de costumes buscava atingir o objetivo de provocar o riso, agradar de
agradar, quanto ao ato de corrigir, através da exposição ao ridículo, diferentes
desvios de conduta.
( ) A comédia de costumes era baseada em textos que surgiam com cenas
improvisadas e de propostas inovadoras de criação como a performance.
( ) A comédia de costumes buscava nos elementos da dança inspiração para criação
de cenas e tornar os espetáculos atrativos para todos os públicos.
154
REFERÊNCIAS
ANDRADE, O. de. O manifesto antropófago. In: TELES, G. M. Vanguarda
europeia e modernismo brasileiro: apresentação e crítica dos principais
manifestos vanguardistas. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1976. Disponível em: https://
www.ufrgs.br/cdrom/oandrade/oandrade.pdf. Acesso em: 16 mar. 2022.
155
VENEZIANO, N. O teatro de revista. In: GUINSBURG, J.; FARIA, J. R. História
do teatro brasileiro, volume I: das origens ao teatro profissional da primeira
metade do século XXI. São Paulo: Perspectiva: Edições SESCSP, 2012. p. 436-454.
156
UNIDADE 3 —
O TEATRO CONTEMPORÂNEO
BRASILEIRO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
157
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
Acesse o
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158
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
TEATRO E OS MOVIMENTOS SOCIAIS
1 INTRODUÇÃO
O Teatro, como arte da cena, do encontro e do ato de contar histórias, pressupõe
presenças de corpos e narrativas, que podem ser classificadas como comédias, musicais,
dramas entre outras propostas de encenação. Isso por seu caráter de encontro, de ritual
da arte, de possibilidade para o exercício de papéis, sejam sociais ou ficcionais. Este fato
ocorre na possibilidade de estar na posição de espectador ou de profissional da cena.
Tendo como essencial, para que a arte dramática ocorra, o encontro que revela
a obra para o espectador passou por modificações significativas. Pesquisadores como
Augusto Boal (1931-2009) surgem com força para propor um teatro que repense as relações
sociais em ações dramatizadas que tentavam diluir os limites entre obra e espectador,
entre atores e a plateia, entre a cena e o olhar do observador. Assim, seguiremos os estudos
pensando em propostas de pesquisa teatral que nasceram em grupos teatrais brasileiros.
159
2 TEATRO, EXPERIMENTAÇÕES E PESQUISA TEATRAL
Com o intenso desenvolvimento do teatro musicado, das comédias e do
entretenimento, surgiram movimentos que buscavam estabelecer novas propostas na
criação de arte teatral ou de propor uma cena voltada para princípios da arte vanguardista.
Em 1953, na cidade de São Paulo, foi fundado por José Renato Pécora (1926-2011), na
época, diretor teatral recém-formado pela EAD (Escola de Arte Dramática), o Teatro de
Arena. A proposta era inspirada em modelos norte-americanos com uma estrutura de
palco sem proscênio, circular e com área de encenação que poderia ser vista por todos
os lados. Esse modelo assemelhava-se a uma arena e poderia ser adaptado conforme
as necessidades da encenação.
160
pouco frequentados, como fábricas, clubes, escolas e locais onde a produção pudesse
ser exibida. Esse feito rompeu com a tradição de exibir espetáculos em espaços
convencionais e ampliava consideravelmente o acesso ao trabalho artístico do grupo
em questão, fazendo assim que as peças pudessem estar diretamente em contato com
diferentes públicos (BETTI, 2013a).
Quando o grupo passou a ter uma sede definitiva, a circulação dos espetáculos
foi menor e outras ações puderam ser implementadas para o acesso e apreciação de
arte teatral. “Apesar disso, a ideia de atingir públicos de outras classes sociais havia sido
uma das necessidades sentidas desde o início, e não desapareceria da pauta interna
de discussões do Arena, mesmo porque o grupo ainda estava longe de chegar a uma
posição clara a respeito" (BETTI, 2013a, p. 176). A companhia passa a ter popularidade e
integrantes do Teatro Paulista do Estudante (TPE), em 1955, passam a fazer parte das
produções do Teatro de Arena e esse fato influencia diretamente na instauração de
posicionamentos políticos o que passa a parecer em suas produções teatrais. Esse fato
altera radicalmente a linha de produção do Teatro de Arena intensificando a busca por
uma discussão ligada a questões políticas.
161
Uzeda Moreira. O TPE possuía como objetivo uma ação cultural que utilizasse o teatro
como meio para provocar discussões ideológicas não pensando em profissionalização
de seus artistas (BETTI, 2013a)
O texto teatral ainda era considerado como prioridade e apelos emocionais eram
recursos para estabelecer maior conexão com o espectador. Esse recurso conectado
com ações precisas de abordar temas pertinentes as discussões coletivas levariam a
organização de setores da cultura engajarem-se no movimento de modo que em 1960
organizou-se o Centro Popular de Cultura, o CPC. As transformações nas práticas
teatrais não foram instantâneas pois resultaram de parcerias, discussões e intensas
pesquisas de um teatro voltado para discutir questões de ordem social.
163
Tião resolve desistir da greve e responsabiliza a precária situação da família a atitude
militante de seu pai. O desfecho é dramático, pois Tião entra em conflito com toda a
família e acaba abandonado pela companheira (BETTI, 2013a).
164
3 RESISTÊNCIA E POLITIZAÇÃO POR MEIO DO TEATRO
Uma proposta de que buscava implementar um teatro voltado para ações
consideradas revolucionárias foi a criação do Centro Popular de Cultura (CPC), em 1962,
na cidade do Rio de Janeiro. Um grupo de intelectuais ligados a ideologias de esquerda
e associados com a União Nacional dos Estudantes UNE, criaram o CPC com intenções
de divulgar uma arte que pudesse ser popular e ao mesmo tempo revolucionária.
Esse grupo foi importante para propor a criação de espetáculos teatrais que fossem
preocupados com ideologias políticas progressistas e inovadoras (BETTI, 2013a).
O CPC era composto por intelectuais como Oduvaldo Viana Filho, pelo cineasta
Leon Hirszman e pelo sociólogo Carlos Estevam Martins. Por meio de um manifesto, em
1962, divulgaram os objetivos da criação do CPC e implementaram a montagem de um
espetáculo cujo texto havia sido escrito por Oduvaldo Viana Filho, em 1960, ao se afastar
do Teatro de Arena de São Paulo. O título desse texto era A Mais-Valia Vai Acabar, seu
Edgar. O texto propunha inovações, como a inserção radical de um apelo épico, aquele
que descarta forte apelo ao emocional ou a identificações emocionais, para conectar-se
ao espetáculo por meio de situações que simulam um contexto social real.
FIGURA 6 – CENA DO ESPETÁCULO A MAIS-VALIA VAI ACABAR, SEU EDGAR, 1960 ACERVO CEDOC/FUNARTE
165
Os recursos utilizados eram considerados radicais e antidramáticos como
“[...] projeções de slides, cartazes, canções, efeitos de desnaturalização interpretativa
e cenográfica, humor e técnicas circenses e de teatro de revista), a peça procurava
superar as contradições detectadas por Vianna no trabalho dramatúrgico produzido
dentro do Arena” [...] (BETTI, 2013a, p. 185).
O teatro Épico de Brecht traz para a cena técnicas que estão na dimensão do
trabalho do ator para causar certo desconforto no espectador. O termo épico está ligado
aos moldes clássicos em que os textos dramatúrgicos eram divididos em prólogo, texto
dramatúrgico e epilogo. O drama estava submetido aos atores e seus textos e as demais
partes executadas pelo ator-narrador, pelo coro ou somente por um narrador Brecht
traz esse recurso para fazer com que o espectador perceba certo estranhamento, de
modo que não configura uma distância, mas um modo de mobilizar os espectadores
a refletirem em torno de condições sociais, ideologias coletivas ou outras questões
relacionadas a estrutura socioeconômica. Para isso, o ator pode interromper a atuação
para se comunicar com o público (GUINSBURG; FARIA; LIMA, 2006).
Esse espetáculo foi um marco nos modos de criar artes cênicas de modo que
propunha rompimentos com as formas hegemônicas do drama que era produzido nos
palcos da época em que predominavam conflitos de ordem doméstica e de temas de
ordem individual. Essa abordagem modificada o foco das produções do micro, para o
macro, do individual para o coletivo. Para esse enorme feito que anunciava um teatro
que pudesse romper com modos predominantes com objetivos voltados para a geração
de proventos financeiros, Vianinha investiu em novas produções, considerando o
sucesso da produção mencionada.
166
relações de exploração da força de trabalho e que o produto produzido pelo trabalhador
possuía alto valor. Essa abordagem estava alicerçada em pressupostos conectados
com teorias marxistas (BETTI, 2013a).
As conexões com o PCB deram suporte para que o autor citado aqui e os
demais artistas da cena pudessem formular propostas artísticas baseadas em conceitos
originados das vertentes marxistas, comunistas e que propunham reformular as relações
sociais. Essa intensa ligação com ideais políticos constituiu o CPC como um projeto que
fomentou ideias conectadas com sentidos nacionais e populares que também eram
propósitos de partidos da esquerda.
Esse projeto agrupava diversos profissionais de diferentes áreas o que produzia uma
dinâmica flexível nos procedimentos de criação de teatro. Nesse sentido, os profissionais
que integravam o CPC, também eram membros do PCB o que pode explicar as afinidades
entre as pautas adotadas por ambas as instituições. As estratégias de luta de uma esfera
eram também desenvolvidas, por meio do teatro, em outra esfera (BETTI, 2013a).
167
Quando Vianna resolve desligar-se do Teatro de Arena estava vislumbrando a
necessidade de fazer com que seu trabalho pudesse chegar ao público popular ou a maior
número possível de espectadores. O proletariado e suas relações receberam destaque
nas produções com textos críticos e reflexivos, abordagem que anteriormente não estava
presente nas encenações por apresentarem universos individuais de famílias da época.
168
FIGURA 7 – CENA DO ESPETÁCULO REVOLUÇÃO DA AMÉRICA DO SUL
169
As duas montagens, mencionadas anteriormente, possuíam distinções, mas
também pontos de convergência. Cenas que apresentavam fatores que perpetuavam a
miséria e as estratégias de um sistema que garantia a exploração dos envolvidos. Em A
Mais-Valia... ocorria um processo de desvendamento crítico do processo de exploração,
de modo que ao mesmo tempo que os personagens exerciam o papel de mobilizador, de
um modo específico de raciocínio, que proporcionava a transformação dos personagens,
sugerindo a transformação dos que apreciavam a obra. Esse aspecto poderia ser potente
no sentido de provocar às multidões de espectadores a se assumirem revolucionários e
criadores de suas realidades (BETTI, 2013a).
Uma ação foi buscar textos de dramaturgos brasileiros como Guarnieri para
que pudessem ser encenados. Logo depois a essa fase, a companhia passou a buscar
nos textos europeus consagrados para continuar a fomentar o caráter popular das
encenações e temas.
Essa nova fase do teatro brasileiro contou com montagens como A Mandrágora,
de Maquiavel, sob a direção de Augusto Boal. Após, esse feito uma peça de Lope de Veja,
chamada O Melhor Juiz do Rei, foi adaptada por três jovens dramaturgos: Boal, Guarnieri
e o jovem ator Paulo José. Essas duas produções influenciaram o pensamento de Boal
quando desenvolveu a proposta do Teatro do Oprimido e Outras Poéticas Políticas que
discutiremos a seguir.
Essa ação não era somete realizar uma tradução textual ou cênica, mas
inserir nas tramas questões pertinentes ao contexto social e político. Essa abordagem
adaptativa mostrou-se eficiente ao combinar a estética clássica e uma elaboração
cênica que provocasse reflexão crítica no espectador (BETTI, 2013a).
170
Ainda no mesmo ano, Augusto Boal, retoma a iniciativa de montar textos
dramatúrgicos de autores internacionais que pudessem contribuir para as discussões
dos contextos sociais. Boal monta O Tartufo de Molière, e essa seria a última montagem
a apresentar essa abordagem.
171
Um coletivo de artistas é criado para desenvolver um trabalho mais complexo.
Zumbi foi uma espécie de retrato da história do Brasil não contado pelos relatos
oficiais. Esse trabalho buscava expor a luta de povos quilombolas em Palmares em
uma constante resistência ao sistema escravagista. O Teatro de Arena passava por
dificuldades financeiras e foi obrigado a reduzir elenco e a alternativa para este trabalho
foi realizar uma espécie de seminário dramatizado com a participação de apenas oito
atores que representam todos os personagens da proposta. Um ator exercia o papel
de coringa na narração ou na interligação dos fatos, aparentando um narrador que
contava e observava a história e organizava o andamento dos acontecimentos como
um professor historiador.
Com todas as inovações que o CPC, sua estrutura para produção de espetáculos
que pudesses chegar até a classes que eram exploradas economicamente e que não
tinham acesso a produtos culturais, o período de ditadura militar reprimiu o movimento
cultural da época de modo que muitos grupos foram coagidos a encerrarem suas
atividades. O CPC ainda vislumbrava desafios importantes para expandir o acesso e
disseminação da arte teatral para o maior número de pessoas possível, principalmente
para uma classe massacrada pelas relações estabelecidas pelo sistema capitalista
(BETTI, 2013a).
172
FIGURA 9 – CAPA DE DISCO COM MÚSICAS LANÇADAS PELO CPC
173
buscou formular um modo de pensar o teatro que oferecesse aos participantes, sejam
eles artistas ou público, instrumentos para transformar sua própria realidade. O teatro
deveria estar à serviço das questões sociais, como meio de apresentar situações
problema buscando soluções no âmbito coletivo para tais discussões.
DICA
Conheça a cronologia e a biografia de Augusto Boal e sua trajetória de artista
da cena. Boal é considerado um dos mais importantes pesquisadores de
teatro do Brasil. Acesse: http://augustoboal.com.br/vida-e-obra/.
Quando Boal retorna de seus estudos nos Estados Unidos, no Actors Studio, em
Nova York, foi indicado por Sábato Magaldi a integrar o Teatro de Arena. O Arena estava
estruturando suas propostas para que pudessem atingir seus objetivos. O dirigente
José Renato sentia que estava sobrecarregado e desejava fazer parcerias para que
pudesse dividir as atividades que desempenhava na direção de espetáculos, questões
administrativas e atividades ligadas a antiga TV Tupi de São Paulo (BETTI, 2013a).
174
O primeiro trabalho de Boal no Teatro de Arena foi uma novela intitulada Ratos
e Homens, do dramaturgo John Steinbeck. Boal propôs uma abordagem de atuação
que partia dos princípios de Constantin Stanislávski (1863-1938), com isso, o diretor
ofereceu ao espetáculo certa naturalidade no que se refere a interpretação, apoiada
em expressar psicologicamente as características dos personagens e a memória
emotiva como fonte de criação deles. A proposta foi aceita de maneira satisfatória
pelos espectadores e pelos críticos da época, mas Boal buscou dramaturgias brasileiras
que não fossem o repertório tradicional repleto de comédias de costumes, dramas
específicos ou produções coactadas com os musicais. A opção foi buscar contos de
autores brasileiros e adaptá-los para serem encenados.
Diante deste desafio, Boal encontrou alguns contos e tentou adaptá-los para o
teatro, mas o sucesso esperado não ocorreu. Permanecia a necessidade de criar textos
dramatúrgicos e de oferecer formação para atores e atrizes que pudesse atender aos ideais
que Boal estava elaborando. Para isso o estudioso buscou em sua experiência de estágio no
Actors Studio para elaborar um Curso Prático de Dramaturgia que teve início em 1956. Esse
curso foi decisivo para que a renovação dramatúrgica ocorresse. Depois de implementar
esse curso para que novos dramaturgos pudessem escrever textos para um teatro em
desenvolvimento, Boal implementou o Laboratório de Interpretação. Nessa iniciativa o
pesquisador aplicou técnicas originadas nas pesquisas de Stanislavski que experimentou
no Actors Studio. Essa proposta buscava experimentar o desenvolvimento do trabalho de
atuação baseado em caracterização psicológica das personagens (BETTI, 2013a).
175
Teatro. Dentro das atividades de formação oferecidas, Boal implementou seminários
temáticos, discussões, aprofundamentos e laboratórios específicos para aprofundar
temas ou teorias teatrais. Neste contexto de formação artística e discussão de novas
estéticas teatrais, o TPE encontrou território repleto de possibilidades para a politização
teatral e as modificações que o Teatro de Arena implementou.
177
Em “200 exercícios e jogos para o ator e o não ator com vontade de dizer algo
através do teatro”, Augusto Boal sistematiza práticas teatrais para que sua proposta seja
efetivamente praticada. O autor propõe ainda o rompimento com a noção de quarta
parede que, de certa forma, mantinha o espectador como um observador da obra
teatral, para fazer do teatro um acontecimento coletivo que todos os envolvidos nesse
ritual podem agir para revolucionar a realidade.
178
INTERESSANTE
O Teatro do Oprimido além de uma abordagem teórico-metodológica
para o ensino-aprendizagem de teatro, é um tema que gera pesquisas
em diversas partes do mundo. No Brasil, o Festival Internacional de
Teatro do Oprimido, ocorre periodicamente para partilhar produções
teatrais baseadas na Pedagogia e da produção do TO. Assista ao
documentário Augusto Boal e o Teatro do Oprimido, disponível em:
https://bit.ly/3CLuD4h. Depois, faça buscas no YouTube e selecione
vídeos ou entrevistas em que Boal apresenta suas ideias.
A arte possui a potência de provocar os corpos dos observadores e, por meio das
experiências estéticas, elaborar o pensamento e as noções de si mesmo, dos contextos
sociais e das camadas de realidade que o mundo oferece.
Ao apreciarmos uma obra de arte teatral, ou outra obra de arte, nosso corpo está
exposto a situação de observador, apreciador e que estabelece conexões que podem
estimular o corpo como um todo. Para esta experiência podemos atribuir o nome de
experiência estética, aquela que é capaz de mobilizar as estruturas sensíveis do corpo
e por meio dessas sensações mover um pensar global. Esse pensar pode dissolver as
noções fragmentadas de corpo e instaurar dinâmicas de pensamento sensíveis e que
valorizem produtos da cultura humana. Neste sentido, o teatro pode ser a manifestação
179
artística que reúne elementos que provocam no espectador sensações, pensamentos
e o desenvolvimento de outras maneiras de observar ou agir no mundo (GUINSBURG;
PATRIOTA, 2013).
180
seus contextos históricos. Assim, uma reflexão detalhada sobre os valores estéticos de
uma época turbulenta sugere a busca por entendimento dos autores e suas concepções
de mundo articulado com as diversas abordagens da produção teatral brasileira.
181
Teatro Brasileiro de Comédia em 1948. Essa companhia influenciou inclusive a criação
do Teatro de Arena. O empresário Franco Zampari (1898-1966) fundou o TBC com a
intenção de produzir espetáculos de alto nível técnico e artístico (S.GARCIA, 2013).
182
Luciano Salce (1922-1989). Este mesmo diretor encena no mesmo período, O Anjo de Pedra,
de Tennessee Williams, que obteve enorme sucesso, permanecendo durante semanas
em cartaz. Em 1951 produzem Seis Personagens à Procura de Um Autor, do dramaturgo
italiano Luigi Pirandello (1867-1936) com a direção de Adolfo Celi (S. GARCIA, 2013).
Artistas como Cacilda Becker (1921-1969), Antunes Filho (1929), Tônia Carrero
(1922-2018), Adolfo Celi (1922-1986) e Paulo Autran (1922-2007) fizeram enorme sucesso
na companhia e foram lançados como importantes artistas no cenário das artes da cena.
Dessa maneira, o TBC modificou a cena nacional em sua mais intensa atuação, cerca
de 16 anos, propondo modernização da cena teatral por meio da profissionalização de
artistas da cena, atravessamentos entre entretenimento e arte, busca por formação dos
profissionais e por implementar cursos de formação de artistas da cena que possibilitaria
experimentação de novas estéticas.
184
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Nesse sentido, o CPC passou a produzir espetáculos que pudessem chegar as classes
trabalhadoras que pouco tinham acesso aos produtos teatrais. O CPC buscava
democratizar o acesso à arte teatral por meio de obras de arte teatral que pudessem
ser apresentadas em espaços diversos ou que chegassem aos espectadores.
• Augusto Boal passa a atuar no Teatro de Arena na década de 1960 e passa a ser
perseguido pelo regime militar implantado no Brasil. Na década de 1970 busca o exílio
na Argentina e sem seguida vai para Portugal. No exterior o artista da cena busca
desenvolver o que vai nomear de Teatro do Oprimido.
• Para entender a proposta de Boal é importante conhecer sua teoria, sua proposta
metodológica baseada em solidariedade, transformação social por meio o teatro.
Uma proposta que recebeu influências do Teatro Épico de Brecht e a Pedagogia do
Oprimido de Paulo Freire.
185
• Apreciar uma obra de arte exige uma postura relacional, um corpo disposto a
conectar-se com outros corpos e com a obra de arte. A experiência estética está
ligada com o experimentar a conexão com a obra de arte de modo que ela possa nos
afetar e nessa afetação produzir experiências de pensamento.
186
AUTOATIVIDADE
1 O Teatro de Arena foi, além de um notável coletivo teatral, foi um espaço teatral
inovador e que propunha experimentar novos modos de criar teatro em um tempo de
intensas transformações. Passou a produzir espetáculos que pudessem ao mesmo
tempo ter baixo custo de montagem e que pudessem ter sucesso comercial. Neste
sentido, o grupo passou a exercer importante influência no cenário teatral brasileiro.
Sobre o Teatro de Arena, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) O Teatro de Arena tinha o desejo de encenar textos brasileiros, porém esse feito
veio com a montagem Judas em Sábado de Aleluia, de Martins Pena.
b) ( ) O Teatro de Arena estava alinhado com os princípios da ditadura militar e com
essa abordagem buscava recrutar atores que estivessem engajados com os
movimentos militares.
c) ( ) O Teatro de Arena buscava descontruir os movimentos contracultura que
estavam em crescimento no período modernista brasileiro para que pudesse
surgir uma arte inovadora.
d) ( ) O Teatro de Arena era uma espécie de espaço teatral em formato de arena,
semicircular onde pode ser utilizado de diversas formas, principalmente para a
realização de eventos de música.
187
3 Sobre a organização do Teatro de Arena, podemos afirmar que ele buscava novos
modos de gerenciar a produção teatral que chegava ao público. As adaptações de
textos estrangeiros era uma prática e as variações ou modificações apresentadas
estavam alinhadas aos desejos do coletivo. Segundo as práticas e organização do
Teatro de Arena, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
5 Uma obra de arte possui a potência de provocar experiências sensoriais que podem
envolver os sentidos e a estrutura do corpo como um todo. Isso ocorre quando a conexão
estabelecida com a obra no momento da apreciação. Assim, o momento de exibir ou de
expor uma obra de arte ao público pode ser um importante momento de ampliação do
repertório cultural dos mais diversos espectadores. Neste contexto, disserte sobre o que
chamamos de experiência estética ou experiência fruitiva com arte.
188
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
TEATRO EXPERIMENTAL
1 INTRODUÇÃO
O teatro dito contemporâneo é constituído por processos específicos que neles
podemos identificar referenciais de diferentes linguagens. Essa característica híbrida, ou
que envolve elementos que incialmente são de outras áreas da arte, é comum no teatro
contemporâneo que prioriza a experiência artística e estética. O teatro ainda permite
uma acentuada composição de arte performativa da presença, de certa desconstrução
de princípios clássicos do drama e de experiências com a exibição de trabalhos em
processo ou work in progress.
189
Neste tópico discutiremos um teatro experimental que no período do regime
militar foi duramente reprimido para renascer em intensas experimentações teatrais no
período pós ditatorial. Uma dramaturgia baseada em luta pela liberdade de expressão
e direitos ao acesso democrático à cultura floresceu depois da redemocratização e a
retomada pela produção teatral brasileira.
190
Além de Zé Celso, Renato Borghi (1937), Ítala Nandi (1942) e Etty Fraser (1931-
2028) foram fundadores do Teatro Oficina. Um de seus primeiros espetáculos foi
Pequenos Burgueses, do dramaturgo russo Máximo Gorki (1868-1936), com estreia
ocorrida em 1963. Em 1964 o golpe civil-militar censurou o trabalho ordenando cortes
como o momento em que o texto traz o hino Comunista. Referenciais realistas e bases
técnicas do teatrólogo russo Constantin Stanislavski. As produções posteriores são
radicais no sentido de adotar os princípios do dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-
1956). O ano de 1966 foi trágico para o Teatro Oficina pois os movimentos repressores
e grupos paramilitares incendiaram o espaço construído, forçando o coletivo a buscar
novos espaços, resistir a repressão e montar trabalhos para levantar recursos para a
reconstrução do espaço cultural (MOSTAÇO, 2013).
Nos anos seguintes o Teatro Oficina continua sua saga na inovação teatral
brasileira e monta dois textos de Bertolt Brecht: As montagens de Galileu Galilei (1968)
e Na Selva das Cidades (1969). As produções recriaram universos específicos do
dramaturgo alemão e com toques de brasilidade. No Oficina, qualquer elemento poderia
tornar-se cenografia ou cenário. Nesse período, usa em sua produção escombros
da construção do Elevado Costa e Silva, construído nas imediações do Teatro, para
configurar um espaço cênico em forma de ringue.
Em 1971 excursionam pelo Brasil com o projeto liderado por Zé Celso intitulada de
Salto para o Salto, que remontava textos de sucesso para inovar nas experimentações
cênicas. Neste período o Teatro Oficina já mostrava que seria importante para o teatro
nacional e que não seria intimidado por movimentos repressores.
Em 1972 montam Gracias, Señor, uma obra criada com um processo próprio e
coletivo que propunha, de forma radical, deslocar as estruturas da linguagem teatral
tradicional para destacar as características das experiências dos integrantes do grupo.
Na montagem seguinte, em 1972, conseguem inserir processos autobiográficos na
adaptação do texto As Três Irmãs do dramaturgo russo Anton Tchéckhov (1860-1904)
(MOSTAÇO, 2013).
Vale ressaltar que o Teatro Oficina foi totalmente remodelado em 1984 pela
arquiteta italiana Lina Bo Bardi (1914-1992) e pelo arquiteto Edson Elito (1948, ainda atua
como arquiteto em São Paulo). O projeto ousado, conta com um corredor que pode ser
utilizado como espaço de cenas e os espectadores podem apreciar as produções em
191
uma espécie de andaime vertical, que permite observar cenas de ângulos próximos aos
atores ou de posições que permitem observar a cena de certa altura, como você pode
conferir na Figura 17.
DICA
Este material reúne temas básicos que forma decisivos para a história
do teatro Brasileiro. Para que os estudos sejam complementados, é
importante fazer pesquisas, leituras e outras estratégias de estudo que
possam aprofundar os temas. Para conhecer mais do Teatro Oficina
e demais temas da história do teatro, acesse o Portal São Francisco.
Disponível em: https://bit.ly/3tVo3UE.
O exílio foi alternativa para José Celso, em 1974, para não sofrer as represálias
da ditadura militar, o diretor vai para Portugal, onde permanece até 1979. Depois do
prédio ser tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (Condephaat) de
São Paulo, passa pela reforma em que a arquiteta Lina Bo Bardi, em parceria com o
arquiteto Edson Elito, elaboraram um inovador projeto para ser espaço da arte teatral e
um dos centros culturais mais importantes do Brasil. Depois desse período conturbado,
o Teatro Oficina resiste e mostra sua força ao permanecer criativo em sua proposta
experimental e com o hibridismo que a arte contemporânea apresentava.
192
FIGURA 18 – VISTA DA FACHADA DO TEATRO OFICINA E O DIRETOR ZÉ CELSO EM UMA DE SUAS MONTAGENS
193
Para Zé Celso, um dos maiores artistas da cena do país e pode ser considerado
um dos mais importantes artistas do mundo, afirma que o Teatro Oficina possui a função
de considerar o espectador como um atuador, participante da cena, com poder humano,
consciente de sua ação transformadora, de sua presença e capacidade para criar
realidades que consideram a coletividade o bem comum como prioridade.
IMPORTANTE
A montagem Os Sertões é uma obra da literatura brasileira consagrada
pela crítica e importante referência para compreender aspectos
históricos e culturais de um país com profundas desigualdades sociais.
Zé Celso adaptou a obra do escritor Euclides da Cunha para o teatro em
uma perspectiva do Teatro Oficina. Vale a pena conhecer a análise da
obra na pesquisa de mestrado indicada a seguir. Para buscar saber mais
sobre a montagem de Os Sertões do Teatro Oficina acesse a dissertação
de mestrado intitulada “Fazer um múltiplo brasileiro: José Celso Martinez
Corrêa, Uzyna Uzona e A Montagem De Os Sertões”. Disponível em:
https://bit.ly/3w6NEwO.
194
Neste contexto de terror, prisões, assassinatos violentos e desigualdade social,
o teatro resistiu diante dessa crise política e humana. Professores eram vigiados em
suas aulas, artistas presos, torturados e mortos, jornalistas censurados e tudo que
não agradasse ao governo seria duramente reprimido. O país mergulhou em profundo
período de violência em diversas instâncias, corrupção, desaparecimento de artistas
ainda sem solução, ampliação da repressão a liberdade de imprensa e de expressão
artística (BETTI, 2013b).
A professora de teatro Heleny Guariba (1941-1971) foi uma das militantes que
desapareceu durante a ditadura militar. A professora de teatro e dramaturga participava
da guerrilha basileia armada junto à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR),
supostamente torturada e assassinada ainda sem definições das circunstâncias. Outros
artistas da cena forma exilados, presos e torturados (BETTI, 2013b).
Augusto Boal e José Celso Martinez Corrêa foram para o exílio. Caetano Veloso
e Gilberto Gil foram presos e depois de algum tempo libertados. Para poder produzir os
espetáculos as companhias passaram a agir de forma que os órgãos de censura não
identificassem sus intenções ou posicionamentos políticos. Uma ação de autocensura
inicialmente foi assumida tanto por artistas da cena, como pelos críticos de teatro. Os
grupos passaram a desenvolver uma cenografia que pudesse ser aprimorada para um
espetáculo que reduziria recursos textuais ou outras maneiras de criar cenas. Outros
modos de conceber as cenas e os espetáculos passou a vigorar para que a arte pudesse
ao mesmo tempo resistir aos sistemas opressores, desenvolver-se como proposta de
militância diante dos horrores que se apresentavam.
195
O projeto Mambembe desenvolveu espetáculos para crianças, pouco explorado
na época e teatro para adultos, sendo a primeira proposta chamada de Mabembinho e a
segunda Mambembão. O folclore regional foi material de estudo e criação de espetáculos
em diversos estados. Em Belo Horizonte, Raul Belém Machado, assume a função de
diretor artístico Palácio das Artes de Belo Horizonte e como conhecedor de aspectos
visuais como a cenografia implementa conceitos fundamentais para a cenografia como
o de espaço positivo e espaço negativo (CARREIRA, 2013).
196
Para além dos absurdos do regime ditatorial, algumas produções da década
de 1970 podem ser consideradas revolucionárias. Duas produções em 1977 foram
importantes para a resistência artística em meio a tantos golpes opressores. Um
espetáculo foi Tempo de Espera de Aldo Leite que veio diretamente do Maranhão,
assumiu a direção e a concepção de cenografia. O espetáculo apresentava cenas sem
a utilização de texto verbal, estabelecia conexões intensas e a dramaticidade em que a
proposta ousava apresentar cenários simplificados com apelo realista (CARREIRA, 2013).
O outro espetáculo de destaque foi O Último Carro, de João das Neves, com
a cenografia de Germano Blum. O espetáculo apresentou-se na Bienal de Artes
Plásticas em que as cenas eram postas nas extremidades de um espaço teatral circular,
oferecendo aos espectadores (ao centro) uma vista do espetáculo por todos os lados
ou panorâmica. Esta perspectiva havia sido proposta pelo teatrólogo Antonin Artaud
e experimentado pela Escola de Arte Dramática de São Paulo da USP. Esta produção
foi referência para outros processos e montagens. A seguir adentraremos ao tema
performance no teatro e outras vanguardas.
INTERESSANTE
Para ampliar o conhecimento sobre o grande artista da cena José Celso
Martinez Corrêa, assista ao programa do Roda Viva do ano de 2004
que traz detalhes sobre a obra, a vida e a construção do Teatro Oficina.
Disponível em: https://bit.ly/36pYNOf.
197
Na área das artes a Performance ou Performance Arte estabeleceu-se como
linguagem artística ao propor adotar o corpo e sua ação em contexto social como
campo de investigação e desse campo buscar produzir ações performáticas a serem
apresentadas a um espectador. Apresentar um programa performático exige o corpo
de um ou mais performers propondo ações que podem envolver a participação direta
de espectadores ou não. Cada proposta de performance arte possui sua especificidade,
elementos e ações delimitadas ou selecionadas para aquela intervenção.
199
O teatro contemporâneo dialoga com as áreas da arte como a dança, as artes
visuais e o cinema para buscar compor obras que operam no plano da experiencia
estética, das sensações ou das intensidades. Experimentos fluídos, borramento das
fronteiras e embaralhamento de referenciais que permitem ampliar as possibilidades
criativas do corpo em cena. Com a Performance Arte em jogo, numa produção
teatral, as noções de personagem e de interpretação teatral são postas em xeque. A
representação passa a dar espaço para uma apresentação das ações dos atores em
cena. Os personagens passam a deixar de estar presentes, na noção do como se fosse,
para ser o que é. O que a cena exige de ação corporal para acontecer em intensidades,
provocações cênicas e sensações (FERNANDES, 2008).
A ação cênica modifica-se para dar espaço aos processos híbridos que
subvertem os princípios do drama para construir uma teatralidade que busca estar
conectada com a elaboração de sentidos enquanto ocorre. A obra de arte teatral
rompendo com limites entre a vida e arte, ficção e realidade instaurando o momento
fruitivo como experimentação estética. Nesta perspectiva, as produções com bases na
Performance Arte podem apresentar esquemas de cenas inusitadas, provocadoras e
que mesclam elementos da arte contemporânea e das áreas da arte. Estas produções
conectam com as noções de teatralidade e de performatividade dos processos criativos
e das experiências estéticas.
200
Os modos de conceber as cenas e propostas teatrais pode influenciar nos processos
formativos de atores. Um consenso na arte teatral é de que o corpo de atores e atrizes
são elementos fundamentais para compor espetáculos de teatro. Mesmo no teatro de
bonecos ou de formas animadas, o corpo é fundamental para que o teatro possa existir
(ARAÚJO; FUSER, 2013).
Nesta época existiam modelos que deveriam ser seguidos, os tipos físicos para
cada papel e gestos, modos de entonar e outros recursos utilizados por atores de sucesso
que que deveriam ser imitados para que se pudesse adquirir o que era chamado do ‘jeito
certo’. Durante muitas décadas esse sistema esteve em vigor até surgirem iniciativas
do ator brasileiro João Caetano a partir de 1861, de implementar cursos, palestras e
trocas de conhecimentos tal como os artistas da cena europeus. Seus objetivos não
foram alcançados, durante sua vida, sendo que faleceu em 1963. Somente três décadas
depois desse fato que surgiu a primeira escola de teatro constituída pela iniciativa
privada, fundada por Gomes Cardim em 1906 e chamava-se Conservatório Dramático e
Musical de São Paulo (ARAÚJO; FUSER, 2013).
201
Na cidade de São Paulo, em 1948, o Dr. Alfredo Mesquita criou a EAD (Escola de
Arte Dramática) que buscava formar artistas da cena para trabalharem no TBC (Teatro
Brasileira de Comédia). O diretor buscou os princípios de Copeau para desenvolver
os percursos de formação da EAD. A escola permaneceu privada e trouxe outros
profissionais além dos franceses, os diretores italianos, para que pudessem contribuir
para a formação de atores e atrizes com certa qualidade. Essa ação permitiu que as
propostas de formação que eram ofertadas na EAD tivessem qualidade conectadas
com a arte teatral na modernidade. Em 1968, a USP passa a absorver a EAD, seus cursos
teóricos transformam-se no departamento de Artes Cênicas da ECA-USP e o curso que
artes da EAD foi transformada em Escola Técnica de Formação de Atores anexada à
Escola de Comunicação e Artes (ARAÚJO; FUSER, 2013).
202
Ao tratarmos de corpo como princípio para a formação de atores e atrizes há
de se pensar no desenvolvimento, além de resistência, condicionamento a construção
de um corpo flexível, apto a fazer nascer personagens diversificados ou estar preparado
para estabelecer conexões com outros corpos. Pensar em um corpo conectado com
outros corpos implica em escolher um percurso formativo que permita o ator e a atriz
seja instrumento para que a obra de arte teatral possa acontecer.
INTERESSANTE
Para aprofundar seus estudos dos aspectos do trabalho do ator na
contemporaneidade, sugerimos a leitura do livro “Um ator errante” do
pesquisador e artista da cena Yoshi Oida. O livro contém princípios do trabalho
para a construção de um corpo disponível para a criação teatral. Pode ser
encontrado facilmente em plataformas virtuais ou em bibliotecas públicas.
Referência do livro: OIDA, Yoshi. Colaboração de Lorna Marshall. Prefácio de
Peter Brook. Trad. Marcelo Gomes. São Paulo: Beca Produções Culturais, 1999.
Essas novas possibilidades de criar obras de arte teatral não implica em seguir
princípios aleatórios ou interpretar que o teatro contemporâneo busca construir um
teatro para contrapor o que já foi desenvolvido.
205
espetáculo há um modo peculiar de estabelecer os diálogos que rompem com a
linguagem teatral tradicionalmente conhecida. Este feito mostra certa dinâmica, ritmo e
musicalidade construída especificamente para atender a proposta de encenação.
206
Além de uma organização e gerenciamento dos grupos ser de maneira
democrática e colaborativa, as criações espetaculares também seguem esses
princípios além de criar uma cena teatral que apresentava os anseios do coletivo. Nesta
perspectiva, coletivos teatrais surgiram em diferentes cidades brasileiras, não somente
no tradicional eixo Rio-São Paulo. Grupos como Teatro da Vertigem e a Companhia do
Latão, em São Paulo, a Companhia dos Atores no Rio de Janeiro, o Grupo Galpão em
Belo Horizonte, o Ói Nóis Aqui Traveiz em Porto Alegre e o LUME Teatro em Campinas
(SP) (FERNANDES, 2013).
207
FIGURA 27 – CENA DO ESPETÁCULO CALIBAN – A TEMPESTADE DE AUGUSTO BOAL 2017
208
Outro aspecto que merece destaque é o que chamamos de dramaturgia do
ator e da atriz. Essa perspectiva reúne discussões em torno de processos criativos que
partem essencialmente do trabalho de atuação. São percursos criativos que partem de
exercícios físicos que os corpos dos atores e atrizes são submetidos e destes estímulos
surgem teatralidades, ações cênicas e possibilidades de expressar o que o corpo carrega
enquanto estrutura viva e sensível que carrega marcas das experiências vividas. Essas por
sua vez podem ser fontes de criação cênica na medida que o encenador ou provocador
de exercícios criativos condiz a seleção de materiais para serem editados posteriormente.
O coletivo conta ainda com a atuação de Ana Cristina Colla, Jesser de Souza,
Raquel Scotti Hirson e com uma estrutura conectada a UNICAMP, em Campinas – SP.
O grupo é destaque na formação intensa e qualitativa de atores e atrizes no que se
refere ao processo de criação, na expressividade do corpo e de dramaturgias originais
resultantes dos percursos investigativos. O núcleo representa um dos principais centros
de pesquisa no trabalho de atuação do país (S. GARCIA, 2013).
209
DICA
Para conhecer o histórico do grupo Lume Teatro, a página virtual do coletivo
apresenta a trajetória e as principais montagens teatrais do coletivo. Acesse
em: http://www.lumeteatro.com.br/.
IMPORTANTE
Para conhecer o trabalho do Grupo Galpão de Belo Horizonte, acesse o
endereço eletrônico e navegue pelas maravilhas criadas pelo coletivo teatral.
Disponível em: https://www.grupogalpao.com.br/. Vale destacar que o Grupo
Galpão conta, desde 2020, com oficinas realizadas de forma remota e que
são ofertadas de forma gratuita, para saber mais dessa programação, acesse
as redes sociais do Grupo, no Instagram e Facebook.
210
FIGURA 29 – CENA DO ESPETÁCULO ROMEU E JULIETA DO GRUPO GALPÃO
IMPORTANTE
Para conhecer o Grupo XIX de Teatro acesse o endereço eletrônico que
está a seguir e navegue pelos espetáculos do coletivo teatral. O Grupo XIX
de Teatro possui uma pesquisa intensa em criações para espaços públicos e
construções históricas. Acesse o link a seguir e amplie seu repertório cultural.
https://www.facebook.com/grupoXIXdeteatro.
211
INTERESSANTE
Na capital do estado de Santa Catarina um grupo teatral se destaca na pesquisa
de possibilidades teatrais. O grupo possui nome de Experiência Subterrânea e
periodicamente propõe ações performáticas e exibição de espetáculos teatrais
com uma estética contemporânea. Acesse o website e conheça o trabalho
artístico do grupo Experiência Subterrânea. Endereço eletrônico: https://www.
facebook.com/grupoexperienciasubterranea.
7 OUTRAS POSSIBILIDADES
Neste momento discutiremos outras possibilidades do teatro contemporâneo
brasileiro que merecem destaque para pensarmos as características cênicas atuais.
Dramaturgo e escritor que merece destaque no cenário nacional é Nelson Falcão Rodrigues
(1912-1980), ou somente Nelson Rodrigues. Natural de Recife, mudou-se para o Rio de
Janeiro aos cinco anos e ali cresceu torando-se escritor, amante das artes e dramaturgo.
Seus textos são famosos por apresentar uma visão peculiar da realidade brasileira,
principalmente dos universos familiares. Suas tramas carregadas de trágicas situações,
exploravam situações inusitadas que postas em cena causavam estranhamento nos
espectadores da época.
Por ser repórter policial, estava diariamente em contato com fatos trágicos que
alimentavam as tramas de seus textos teatrais e crônicas com destaque para A vida
como ela é... Com direção de Ziembinski, os textos de Nelson Rodrigues apresentaram
inovação por apresentar planos de atuação na mesma cena, mesclando realidade cênica
e sonho, o chamado metateatro: teatro dentro do teatro e certo expressionismo teatral.
212
O Teatro da Vertigem foi um coletivo teatral criado em 1992 pelo encenador
Antônio Araújo em São Paulo. O grupo formado por egressos da Escola de Comunicação
e Artes da Universidade de São Paulo, ECA/USP, propôs a montagem de espetáculos
teatrais que pudessem ser exibidos em espaços não convencionais.
214
FIGURA 33 – CENA DO APOCALIPSE 1, 11
215
IMPORTANTE
O Teatro do Absurdo, conectado a novas propostas de encenação dos movimentos pós-
guerra, aos experimentos da performance, do surrealismo e do dadaísmo, apresentam
características que fogem aos moldes tradicionais de encenação. Os temas adotados para
os dramaturgos que desenvolveram esse gênero eram associados à solidão e à escassez de
crenças. O teatro do Absurdo trata da condição humana de uma forma incompreensível e por
meio de diálogos, aparentemente desconexos, propõe uma sequência de cenas que pode
parecer sem sentido. Frequentemente os dramaturgos deste gênero fogem ao tradicional,
aos princípios da dramaturgia clássica e instaura certa atmosfera sombria,
pessimista e uma existência vazia de sentido. Até mesmo a comédia nesse
estilo pode parecer incompreensível e sem uma sequência linear. No
Brasil, alguns textos foram encenados, neste estilo, mas não houve
grande repercussão. Dois textos são famosos neste estilo: A Cantora
Careca de Ionesco e Esperando Godot, de Beckett. Ainda podemos
encontrar textos de outros dramaturgos como o romeno Eugène
Ionesco (1912-1994), o irlandês Samuel Beckett (1906-1989) o
francês Jean Genet (1910-1986), o russo Arthur Adamov (1908-
1970), o inglês Harold Pinter (1930-2008), o espanhol Fernando
Arrabal (1932), o francês Jean Genet (1910-1986) e o estadunidense
Edward Albee (1928). Alguns dos precursores deste procedimento
dramático seriam Alfred Jarry (Ubu Rei 1896) e Guillaume Apollinaire
(Les Mamelles de Tirésias 1903).
A função estética está entre as mais importantes, pois está conectada com
as escolhas que o cenógrafo faz para criar linhas, cores, formas, iluminação ou um
determinado estilo visual. Os aspectos realistas buscavam inserir no palco todos os
detalhes que a realidade apresenta, aparentando uma sala de estar real.
217
do sonho; e outro ao plano real. Além de uma trama que traz os delírios de Alaíde,
atropelada e está passando por um procedimento cirúrgico e nesse tempo, ela lembra
que tomou o namorado da irmã e imagina um encontro com uma cafetina que foi
assassinada pelo namorado (C. GARCIA, 2013).
218
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
219
• O encenador assume o papel de condutor de processos criativos de modo que cada
coletivo percorre um caminho único. Dessa maneira, o trabalho do diretor teatral ou
do encenador pode ser considerado um processo criador quando consegue fundir a
ação de dirigir, roteirizar e editar materiais em pleno equilíbrio de forças.
220
AUTOATIVIDADE
1 O Teatro Oficina surgiu em um período específico da história do Brasil e foi importante
centro de produção e difusão de arte teatral. Em meio a inovações no campo da
cultura, movimentos de arte internacionais que buscavam estabelecer outras
propostas criativas para aproximar a arte da vida. Neste contexto, sobre o surgimento
do Teatro Oficina, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) O Teatro Oficina possui suas origens na década de 1958, em que nasceu o Centro
Acadêmico 11 de Agosto, ligado à Faculdade de Direito do Largo São Francisco,
em São Paulo.
b) ( ) O Teatro Oficina nasceu em São Paulo, na década de 1958, originado em uma
oficina destinada para o reparo de automóveis.
c) ( ) O Teatro Oficina foi importante centro de pesquisa em tecnologia que busca
pesquisar inovações voltadas para os aspectos visuais de dança.
d) ( ) O Teatro Oficina foi desenvolvido em consonância com as propostas da arte
contemporânea e busca expandir sua atuação em países da Europa.
I- O período em que o Brasil mergulhou no regime ditatorial foi marcado por repressão,
violência e autoritarismo gerando prisões, assassinatos, torturas e exílio de artistas
ou de quaisquer brasileiros que apresentasse ideologia contrária ao regime.
II- O regime militar brasileiro foi instaurado em 1964 com a tomada do poder pelos
militares, deposição do presidente João Goulart.
III- Um dos pretextos para que as Forças Armadas Brasileiras realizaram um golpe de
estado foi o de evitar a implementação de uma ditadura comunista no Brasil.
221
3 A Performance Arte surge em movimentos artístico – culturais do período pós-guerra
e buscava fazer do corpo o principal instrumento de criação. A ação do corpo em
contextos cotidianos e os rituais que os seres humanos executam diariamente pode
ser material para a criação de performances. De acordo com essa reflexão, classifique
V para as sentenças verdadeiras e F para as Falsas:
222
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
TEATRO E A EDUCAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, trataremos do teatro conectado com a educação de modo
a discutir propostas para o ensino-aprendizagem da História do Teatro Brasileiro.
A inserção da Arte como componente curricular no contexto escolar é exigência do
Ministério da Educação e é resultado de lutas pela inserção dos estudos das linguagens
artísticas no currículo. A tradição escolar brasileira priorizou o ensino de Artes Visuais
e foi necessário um projeto de lei para que as quatro principais linguagens da arte
pudessem ser inseridas no currículo escolar.
223
para serem editadas e postas em cena, na composição de espetáculos, nos contextos
escolares, os corpos estão em construção de saberes e desenvolvimento de capacidades
comunicativas e expressivas. O teatro possui a potência de estimular o desenvolvimento de
saberes sobre si, em processos de experimentação de criação ou exercícios que envolvam
a linguagem teatral. O teatro na escola possui importância para desafiar os estudantes a
conhecerem seu corpo e as possibilidades de expressão que ele pode ter, desenvolver e
estabelecer melhores conexões com outros corpos em diversos contextos sociais.
2 PEDAGOGIAS DO TEATRO
O tema Pedagogias do Teatro permeia os contextos da pesquisa e levantamentos
de abordagens teórico-práticas para o ensino-aprendizagem de teatro, sejam em
universos escolares ou em cursos diversos. O termo usado – pedagogias – traz para
essa discussão os mais diversos modos de abordar percursos de aprendizagem na área
do teatro. Cabral (2006) afirma que há características distintas entre as pedagogias do
teatro e o teatro como pedagogia, em contextos da educação formal ou fora dela.
225
Outra possibilidade para o ensino-aprendizagem em Teatro é partir das
conexões com a própria cidade, comunidade ou contextos sociais. Nesta perspectiva,
a geração de textos, improvisações e criação de teatralidades pode ser um percurso
que se conecta com questões existenciais que o coletivo traz como proposta. Cada
professor pode propor e estudo da história do teatro Brasileiro, tecer conexões com
o teatro contemporâneo. Apresentar estéticas teatrais de cada período da história do
teatro Brasileiro e analisar figura e até mesmo filmagens de peças teatrais de cada
período pode ser estímulo para criar cenas e materiais cênicos para socializar com os
demais estudantes da escola.
226
FIGURA 37 – A PROFESSORA DOROTHY HEATHCOTE (1926-2011)
227
FIGURA 38 – ILUSTRATIVA QUE SUGERE ABORDAGEM DE DRAMA COMO MÉTODO DE ENSINO DE TEATRO
228
FIGURA 39 – ILUSTRATIVA QUE SUGERE A PROFESSORA PROPOSITORA OU PROFESSORA COMO PERSONAGEM
229
DICA
Para conhecer mais da proposta de ensino-aprendizagem, faça a leitura do
livro da professora Dra. Beatriz Ângela Vieira Cabral intitulado “Drama como
método de ensino”, da editora Hucitec, de 2006. Ainda recomendamos
pesquisar o teatro na escola desenvolvido pela professora e artista da cena Olga
Reverbel (1997-2008). Seus livros focam em práticas voltadas para o universo
escolar. Outra pesquisadora que merece ser estudada é escritora, tradutora,
encenadora e professora universitária brasileira Ingrid Dormien Koudela (73
anos). É uma das figuras centrais no estudo da pedagogia e didática do teatro
no Brasil e Viola Spolin (1996-1994), que desenvolveu a abordagem de ensino-
aprendizagem de teatro baseada na improvisação e no jogo teatral.
230
o país é mergulhado na crise política e econômica. Os estudantes e artistas amadores
tiveram importante papel nesse período. Em Pernambuco, na década de 1950, o Teatro
do Estudante de Pernambuco dirigido por Hermilo Borba Filho e em parceria com o
grande Ariano Suassuna apresentou-se em uma espécie de barraca em espaço público,
onde produziram diversa montagens com proximidade do público.
231
de trabalho para investigar uma linguagem própria para a produção de seus espetáculos.
Assim, como um dos caminhos que o grupo tomou foi adaptar dramaturgias clássicas
para serem apresentadas na rua.
232
Entre os mamulengueiros mais conhecidos podem ser lembrados
Mestre Babau – Severino Alves Dias; Mestre Chico da Guia (I878-1948);
Mestre Luiz da Serra – Luiz josé dos Santos (I906-1986); Mestre Gihú,
também conhecido como Tiridá – Januário de Oliveira (I9I0-1977);
Mestre Antônio Biló – Antônio Severino dos Santos; Mestre Otílio –
Otílio Caetano Felix; Mestre Sólon – Sólon Alves de Mendonça (I 920-I
987); Mestre Boca Rica (I936-I99I); Mestre Chico Daniel- Francisco
Alves da Costa (I941-2007); Mestre Zé Lopes – José Lopes da Silva
Filho; Mestre Saúba – José Elias da Silva; Mestre Zé de Vina – José
Severino dos Santos (AMARAL; BELTRAME, 2013, p. 397).
INTERESSANTE
O Grupo Giramundo Teatro de Bonecos é pioneiro na montagem, confecção e acessibilidade
de produtos teatrais. Nos 50 anos de história, o grupo montou mais de 38 peças e mantém
em seu repertório espetáculos destinados para o público infantil e adulto. Seus espetáculos
são desenvolvidos com textos universais e regionais adaptados. A produção teatral por
meio da confecção de bonecos e de inserção dos recursos tecnológicos
disponíveis mostra que o grupo está em constante atualização para oferecer
trabalhos com excelente qualidade artística. O grupo mantém ainda o
Museu Giramundo que preserva o maior acervo de teatro de bonecos do
Brasil. Esse acervo ganha um caráter vivo quando os bonecos que fazem
parte dele ainda estão em uso para a execução dos espetáculos. Acesse
em: http://giramundo.org/.
233
5 TEATRO PARA A INFÂNCIA E JUVENTIDE
Outro tema que abordaremos neste material de estudo é o teatro desenvolvido
para o público denominado infantil ou juvenil. As duas dimensões exigem procedimentos
e abordagens específicas para que os processos de criação cênica possam gerar
espetáculos indicados para a faixa etária pretendida. O mito de que uma peça de teatro
com qualidade estética pode ser apreciada por espectadores de qualquer idade é
desconstruído diante de desafios específicos como criar trabalhos teatrais para crianças
de até cinco anos de idade.
235
FIGURA 45 – CENA DO ESPETÁCULO HISTÓRIAS DE LENÇOS E VENTOS COM O DRAMATURGO ILO KRUGLI
EM CENA
A Companhia Articularte, em São Paulo chama a atenção nos anos 2000, com o
comando do encenador Dario Uzan, propuseram a criação de espetáculos que contavam
a biografia de artistas brasileiros como o espetáculo A Cuca Fresca de Tarsila (2000),
sobre a vida da pintora modernista que dá nome ao espetáculo, O Trenzinho Villa-Lobos
(2001), sobre a vida do musicista Villa-Lobos e Portinari Pé de Mulato (2003) sobre a
vida do pintor Cândido Portinari. Em Curitiba o destaque vai para a Companhia Manoel
Kobachuck, que se especializou no teatro de marionetes, uma espécie de bonecos
sustentados por fios. Produziram o espetáculo O Teatro do Dr. Botica que se mantém
cartaz desde o ano de 2001 em espaço de apresentação viabilizado pelo Shopping
Estação em Curitiba, que hoje conta com um Instituto Grupo Boticário e um Espaço
Teatral que mantém em cartaz espetáculos para a infância (AMARAL; BELTRAME, 2013).
236
com formas animadas ou com atores e performers, passaram a ser de enorme qualidade
estética que eram apresentadas em teatros, espaços públicos, escolas e espaços que
possam receber as peças teatrais. Coletivos teatrais ainda atuantes no cenário cultural
teatral nacional produzem espetáculos que são destinados ao público infantojuvenil.
Outros coletivos passaram a pesquisar dramaturgias voltadas para bebês, crianças e
adolescentes. A inovação atual está em desenvolver trabalhos cênicos voltados para
bebês por meio de formas animadas, elementos cênicos, estímulos sonoros, gestuais
para contar histórias. A companhia Caixa do Elefante, o Grupo Sobrevento, ambos de
São Paulo, e a Cia La Casa Incierta de Brasília, pesquisam propostas em teatro para
bebês (PUPO, 2013). Há no Brasil hoje um circuito de Festival de Teatro para Bebês, que
pensa a apresentação espetacular e a formação de grupos e coletivos para montagens
e pesquisa cênica para essa faixa etária. A seguir, abordaremos possibilidades para o
ensino-aprendizagem de teatro em espaços escolares.
INTERESSANTE
Para conhecer os projetos da Companhia Caixa do Elefante acesse o
endereço eletrônico a seguir e navegue pela página do grupo, visualize as
figuras e amplie seu repertório cultural sobre o teatro de bonecos. Acesse o
link a seguir: http://www.caixadoelefante.com.br/.
237
FIGURA 46 – ILUSTRATIVA DE FANTOCHES PARA ABORDAR O ENSINO DE TEATRO COM CRIANÇAS
238
FIGURA 47 – ILUSTRATIVA DE MARIONETES
Além dos temas que podem surgir no grupo de estudantes, outras provocações
podem ser implementadas para gerar percursos de aprendizagem. Abordar possibilidades
de expressão corpora, articulação entre fala e corpo, modos de comunicação oral,
corporal, sonoro e apresentar os diversos estilos de encenação, de cenografia, de textos
dramatúrgicos e outros recursos utilizados para a criação de arte teatral. Produção
de máscaras, performances e produção de vídeos instrutivos pode ser recurso que
funcione com crianças e adolescentes. Inserir recursos tecnológicos, como aparelhos
de telefones celulares que permitem a utilização de aplicativos de edição de vídeos e
figuras, pode facilitar o aprendizado em teatro.
239
FIGURA 48 – ILUSTRATIVA DE FANTOCHES PARA ABORDAR O ENSINO DE TEATRO COM CRIANÇAS
240
6.1 ENSINO DE HISTÓRIA DO TEATRO NO BRASIL
O ensino de arte em espaços da educação básica no Brasil se deu, inicialmente,
com a nomenclatura de Educação Artística com a Lei nº 5692, de 1971.(BRASIL, 1971).
A ideia de ensino de teatro estava conectada a uma abordagem espontaneísta, a uma
tradição de cada local em um contexto de escassez de profissionais habilitados a
ensinar teatro. O ensino de arte era uma mescla de linguagens artísticas que tornavam
a disciplina uma abordagem que não aprofundava propostas em arte devido a formação
polivalente dos professores.
Essa prática foi reconhecida como inviável para o ensino de arte na educação
básica diante da necessidade de ensino de arte com qualidade nas quatro principais
linguagens adotadas para a disciplina de arte na escola: teatro, artes visuais, dança e
música.
241
Com as modificações implementadas nas décadas de 1990 e 2000, o ensino de
arte modificou-se e a necessidade de formação específica foi reconhecida pelos órgãos
oficiais da educação. A Lei nº 13.278, de 2016, prevê a obrigatoriedade de ensino das
quatro principais áreas da arte: as artes visuais, a dança, a música e o teatro na educação
básica do Brasil. A transformação dos cursos de formação em arte para o exercício da
docência passou por modificações desde os anos 2000 e deixaram de ter matrizes
com núcleos comuns para ser de formação específica. As Universidades passaram a
implementar cursos de Licenciatura em Artes Visuais, Música, Teatro e Dança. A Dança
ainda permaneceu com poucos cursos e expandindo as propostas de cursos somente
décadas depois da extinção dos cursos com núcleo comum.
242
A dinâmica de abordagem, os materiais e temas abordados é tarefa do
professor. Essa seleção, escolha e organização sequencial pode definir a aprendizagem
dos estudantes. Outro parâmetro que é importante considerar é a faixa de idade dos
estudantes. Sabemos que a escola divide os estudantes por idade em seus respectivos
anos desde os 6 anos até os 14 anos, que definem o período que um estudante
permaneceria na educação básica, caso o estudante obtivesse aprovação em todos
os anos. Os espaços da escola são importantes para que o ensino de teatro ocorra.
Algumas escolas possuem auditório multiuso que possibilita fazer uso compartilhado
para atividades que envolvam exercícios de criação cênica.
O ensino de teatro para adolescentes pode ter outras abordagens que estas
citadas previamente. A faixa etária que vai do quinto (5º) ano até o nono ano (9º),
pode exigir abordagens específicas para o ensino-aprendizagem de história do teatro.
Selecionar textos dramatúrgicos desse período, apresentar por meio de vídeos elementos
desse período ou propor dinâmicas de estudo que possam ter o desenvolvimento de
teatralidades para socializar os conhecimentos. Separar os períodos da história do teatro
243
e por partes, abordar os fatos que construíram o teatro brasileiro. Teatro de bonecos, de
formas animadas e de fantoches pode ser recurso eficiente para todas as faixas da
educação básica.
244
LEITURA
COMPLEMENTAR
HISTÓRIA DO TEATRO-EDUCAÇÃO COMO CULTURA ESCOLAR E SUA
INSTITUCIONALIZAÇÃO COMO DISCIPLINA (1961-2016)
246
Observa-se que, em grande medida, devido ao período ditatorial no Brasil,
houve interrupções das experimentações e práticas com o teatro na educação escolar
brasileira. Contudo, há um paradoxo apresentado neste contexto, uma vez que será
durante o regime militar que a chamada “educação artística” será inserida como disciplina
obrigatória. Em 1971, a lei 5.692 instituiu o ensino da educação artística como “atividade
educativa” em todo o território nacional da 5ª série do 1º grau à 3ª série do 2º grau, sendo
o ensino do teatro polivalente junto ao de artes plásticas, música e desenho. Em seu
Art. 7º, o documento apresenta o seguinte texto: “Art. 7º Será obrigatória a inclusão de
Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística e Programas de Saúde nos
currículos plenos dos estabelecimentos de lº e 2º graus, observado quanto à primeira o
disposto no Decreto-Lei n. 369, de 12 de setembro de 1969” (BRASIL, 1971).
Em 2016, a Lei nº. 13.278/2016 inclui as artes visuais, a dança, o teatro e a música
nos currículos dos diversos níveis da educação básica. Trata-se de uma lei que altera o
§6º do Art. 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, referente ao ensino da
arte, estabelecendo o prazo de cinco anos para que os sistemas de ensino promovam
a formação de professores para implantar esses componentes curriculares no ensino
infantil, fundamental e médio: “§ 6º As artes visuais, a dança, a música e o teatro são
as linguagens que constituirão o componente curricular de que trata o §2º deste artigo”
(BRASIL, 2017, p. 20).
247
A Lei nº 13.278/2016 tem origem no projeto de Lei nº 7.032/2010, apresentado
em 24 de março de 2010, e que passou pelo processo de tramitação em comissões e
mesas, com discussões e pareceres, até sua promulgação enquanto lei, como apresenta
o portal da Câmara Federal dos Deputados.
248
Falar de forma escolar é, portanto, pesquisar o que faz a unidade
de uma configuração histórica particular, surgida em determinadas
formações sociais, em certa época, e ao mesmo tempo que outras
transformações, através de um procedimento tanto descritivo
quanto “compreensivo”. Este se opõe não só à busca de relações
entre fenômenos esmiuçados, tomados como elementos e sempre
concebidos como exteriores uns aos outros, quanto à busca de
elementos permanentes.
Assim, ao refletirmos sobre a arte escolarizada, não nos referimos a uma educação
profissional para o ator de teatro, técnico das artes cênicas, ou, ainda, de uma educação
em arte com interesses extraescolares. A arte escolarizada ocupa um outro lugar, marcado
por uma cultura que irá definir objetivos, delimitar fazeres e procedimentos.
O lugar próprio ocupado pela disciplina de arte mantém uma relação direta com
a forma escolar, ou com as formas escolares, que estruturam e definem as práticas
que nela se desenvolvem. Nesse sentido, é importante observar que as propostas
pensadas para o teatro no interior da escola se ocupam em apresentar estratégias ou
metodologias para o seu ensino. As discussões em torno de um método dramático para
a aprendizagem no Brasil, a pedagogia dramática, ainda se mostravam muito restritas
na primeira metade do século XX. As primeiras experimentações em teatro-educação
ocorreram com as escolinhas de arte de Augusto Rodrigues na década de 1940, no
entanto, como não havia uma tradição no ensino do teatro, houve uma difusão massiva
do “espontaneísmo” (SANTANA, 2002).
249
o ensino de Arte, ou pelo menos uma parcela significativa de seus
praticantes, tem procurado fundamentar-se em obras e conceitos
revelados na arte contemporânea, no fazer dos artistas, no pensar
dos críticos, nas práticas culturais comunitárias, nas propostas de
museus e instituições culturais, sem ignorar, contudo, a realidade
da sala de aula. Creio, também, que essa jornada ruma para a
superação do fazer que caracterizou o sentido da formação em arte
predominante durante séculos, bem como do sentirem quanto esfera
da liberdade expressiva de fundo psicológico que alude à imanência
estética, mas que, na verdade, não penetra na essência da arte,
retomando a questão da reflexão como estatuto de um pensar que
existe para tecer conexões entre esses três componentes da ação
artística e pedagógica – fazer, sentir, pensar (SANTANA, 2009, p. 29,
grifos do original)
250
O prazer de ensinar e aprender é o prazer da travessia, de encontrar o
novo, o diferente, de seguir por novas fronteiras de perder-se dentro
ou entre diferentes mundos, e lá experimentar novas relações,
histórias, práticas, realidades, epistemologias. Para tanto, o impacto
inicial torna-se importante. A ação ou efeito de envolver-se com uma
situação é condição para expressá-la através da arte (CABRAL, 2018,
p. 55, grifos do original)
251
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O Drama como método de ensino de teatro busca uma abordagem específica que
traz para o centro de discussão a capacidade do ser humano de fazer de conta que é
um personagem, de agir como se fosse o personagem e de se apresentar executando
uma ação dramática.
• O teatro de rua é uma modalidade de teatro que busca montar espetáculos teatrais
paras erem exibidos em espaços públicos, na rua ou em espaços que sejam de uso
comum. Assim essa modalidade de teatro pode ser democrática, acessível e que
desde a época das práticas religiosas dos jesuítas era utilizado para levar o evangelho
para as pessoas e habitantes que aqui viviam. As companhias teatrais que circulavam
com espetáculos teatrais para serem apresentados na rua eram chamados de
mambembes e levavam, geralmente, espetáculos cômicos e números circenses.
252
• Ensinar e aprender teatro pode estar conectado com a disponibilidade de espaços
e recursos que a escola pode oferecer. Mas o ensino-aprendizagem de história do
teatro pode ser interessante na medida que o professor ou a professora de arte busca
desafiar os estudantes a pesquisarem sobre o tema e experimentarem percursos que
envolvam o conhecer teatro, apreciar teatro e criar teatro.
253
AUTOATIVIDADE
1 Ao trazer para a discussão o tema Pedagogias do Teatro estamos abordando os diferentes
modos de ensinar e aprender teatro. Os contextos de pesquisa científica buscam
desenvolver essa área como um campo de promover levantamentos abordagens
teórico-práticas para o ensino-aprendizagem de teatro, sejam em universos escolares
ou em cursos diversos. O termo usado – pedagogias – traz para essa discussão os
mais diversos modos de abordar percursos de aprendizagem na área do teatro. Cabral
(2006) afirma que há características distintas entre as pedagogias do teatro e o teatro
como pedagogia, em contextos da educação formal ou fora dela. Sobre estas grandes
áreas do conhecimento da Engenharia de Produção, assinale a alternativa CORRETA:
FONTE: CABRAL, B. A. V. Drama como método de ensino. São Paulo: Editora Hucitec: Mandacaru (Pedagogia
do Teatro), 2006.
2 O termo que foi cunhado para reunir procedimentos específicos para o ensino-
aprendizagem do teatro e buscar pesquisar novas propostas, foi o termo pedagogias
do teatro. Assim, o termo busca instaurar a discussão de que não há uma única
maneira ou que existem inúmeras possibilidades de abordagens metodológicas para
o ensino de teatro. Com base nessa definição sobre aa pedagogias do teatro, analise
as sentenças a seguir:
255
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, R.; FUSER, B. A formação do ator. In: FARIA, J. R.; GUINSBURG, J.; FARIA,
J. R. História do teatro brasileiro, volume 2: do modernismo às tendências
contemporâneas. São Paulo: Perspectiva: Edições SESC-SP, 2013. p. 458-465.
CARREIRA, A. O teatro de rua. In: FARIA, J. R.; GUINSBURG, J.; FARIA, J. R. História
do teatro brasileiro, volume 2: do modernismo às tendências contemporâneas.
São Paulo: Perspectiva: Edições SESC-SP, 2013. p. 388-396.
256
DESGRANGES, F. Processos de criação teatral e processos de aprendizagem:
interfaces possíveis. In: CONTIERO, L.; SANTOS, F. F. dos S.; FERNANDES, M. V. de
S. Pedagogia do teatro: prática, teoria e trajetórias de formação docente. Natal:
EDUFRN, 2018. E-book.
ELES Não usam black-tie. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura
Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: http://enciclopedia.
itaucultural.org.br/evento397907/eles-nao-usam-black-tie>. Acesso em: 13 de
dezembro de 2021.
GARCIA, S. A dramaturgia dos anos 1980/1990. In: FARIA, J. R.; GUINSBURG, J.;
FARIA, J. R. História do teatro brasileiro, volume 2: do modernismo às tendências
contemporâneas. São Paulo: Perspectiva: Edições SESC-SP, 2013, p. 301-331.
ILO, K. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo:
Itaú Cultural, 2022. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/
pessoa22125/ilo-krugli. Acesso em: 9 jan. 2022.
257
MOSTAÇO, E. A questão experimental: a cena nos anos de 1950-1970. In: FARIA,
J. R.; GUINSBURG, J.; FARIA, J. R. História do teatro brasileiro, volume 2: do
modernismo às tendências contemporâneas. São Paulo: Perspectiva: Edições
SESC-SP, 2013. p. 215-238.
258