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Do artesanato intelectual – fichamento do apêndice

Matheus Florio

1.
O cientista social é naturalmente um indivíduo político. Por isso, está sempre
debatendo e reavaliando teorias e métodos, tentando adaptá-los às discussões
de sua comunidade intelectual.

O título do texto já indica: o cientista social, para exercer efetivamente sua


atividade, faz o trabalho de um artesão intelectual. Desta maneira, como o
artesão, tem conhecimento da totalidade do processo de produção de seu
produto (ciência social), e trabalha com etapas.

Para produzir esta ciência, o primeiro recurso necessário ao cientista social é a


organização de um diário (arquivo). Nele, efetua-se a primeira etapa da
produção: organiza-se ideias, fatos, eventos (matéria prima do artesão), dos
mais vagos aos mais preciosos. Sem primeiros julgamentos, sem seleções.

Desta maneira, o cientista social inicia o processo de transformação de


pensamentos marginais em um raciocínio sistemático. É importante salientar
que esta tarefa, apesar de parecer ingênua, representa o início de todo tipo de
construção teórica: organiza-se ideias basilares e mantém-se/determina-se o
foco da discussão com o desenvolvimento das anotações do arquivo.

Ao anotar cada pensamento, por mais tolo que pareça, o cientista social
exercita sua imaginação e permite que seu meio individual influencie suas
reflexões. Assim, incluindo em seu arquivo trechos de conversas, sonhos, fatos
cotidianos, etc. ele torna a produção de conhecimento sempre variada, de
forma que ela possa acompanhar a natureza da realidade social: infinitamente
diversificada.

O cientista social deve não só manter um diário para suas anotações gerais,
como também deve manter um arquivo específico para seu tema de interesse
central. Assim, ele desenvolve as ideias de suas anotações iniciais,
aprofundando a discussão em torno do seu foco com mais conteúdo,
referências, exemplos, justificativas, explicações, etc.
2.

O artesão intelectual deve sempre retomar suas anotações, reorganizando-as e


adicionando-lhes novas informações. Neste processo, ele relaciona diferentes
tópicos e informações, deixando que sua imaginação flua ao máximo,
permitindo-lhe mais uma vez elaborar teorias que sejam condizentes com o
caráter multifacetário da realidade.

Deve-se ressaltar a importância da produção teórica em complementaridade


com a pesquisa empírica, mostrando que ambas possuem suas funções e são
essenciais para a produção das ciências sociais. Uma pesquisa empírica não
se concretiza sem um alicerce teórico sólido.

3.

Pesquisas empíricas não funcionam por si só: possuem um pé na teoria escrita


e outro na teoria a ser escrita. Ou seja, baseiam-se no estudo de teorias já
formuladas para esboçar seu projeto; atuando na resolução de desacordos
sobre fatos; e servindo de base para a reformulação das teorias.

Para resolver os problemas propostos, a pesquisa empírica deve valer-se de


quatro etapas: 1) estabelecer os elementos e definições que devem ser
analisados, 2) estabelecer relações lógicas entre esses elementos, 3) eliminar
opiniões falsas ou pouco claras, 4) formular e reformular questões que
perduram.

4.

A imaginação sociológica, apresentada como a imaginação estimulada através


do processo de produção da sociologia, é aquela que permite “passar de uma
perspectiva a outra, e no processo estabelecer uma visão adequada de uma
sociedade total de deus componentes”.
Para estimular tal imaginação, há algumas atividades que podem ser feitas:

1) reorganizar o arquivo de modo a procurar novas relações entre elementos;

2) precisar os termos e definições utilizados, deixando o trabalho mais coeso;

3) desenvolver critérios topográficos de classificação de elementos;

4) comparar elementos contrastantes para se ter uma melhor percepção deles;

5) alterar as proporções dos elementos para ampliar o raciocínio;

6) buscar casos comparáveis;

7) definir a disposição do material a ser apresentado.

5.

Apesar de uma tendência de escrita e apresentação de material academicista


(que utiliza linguagem rebuscada e de difícil compreensão), deve-se sempre
prezar por a utilização de uma linguagem clara e simples na apresentação de
trabalhos. Assim, reflete-se sobre a função e o alcance de sua pesquisa.

6.

O cientista social procura a ordem no caos; atem-se a organização sistemática


de elementos-chave para a formulação de teorias, garantindo que, das
relações mais básicas às mais complexas, tudo esteja presente. Só com essa
preocupação quase compulsiva com a ordem pode-se chegar a explicações
razoáveis das realidades sociais existentes.

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