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Sumário
Apresentação ............................................................................10
Conteúdo Estruturante: Mito e Filosofia
Introdução ..................................................................................12
1 – Mito e Filosofia ............................................................................15
2 – O Deserto do Real ......................................................................27
3 – Ironia e Maiêutica ........................................................................41
p
Karl Marx
r
Este livro pretende apresentar-lhes a filosofia como um conheci-
mento que possibilita o desenvolvimento de um estilo próprio de pen-
samento. A filosofia pode ser considerada como conteúdo produzido
e
pelos filósofos ao longo do tempo, mas também como o exercício do
pensamento que busca o entendimento das coisas, das pessoas e do
meio em que vivem. Portanto, um pensar histórico, crítico e criativo,
que discuta os problemas da vida a luz da História da Filosofia.
n
problemas e problematizar o conteúdo com o auxílio dos textos filosó-
ficos. O texto filosófico, além de ser objeto de estudo com suas estru-
turas lógicas, argumentativas e precisão dos enunciados, também for-
nece subsídios para entender o problema e o conteúdo que está sendo
t estudado.
No interior de cada Folhas são desenvolvidas relações interdiscipli-
nares. É a filosofia buscando na ciência, na história, na arte e na litera-
ã
As atividades têm por objetivo a leitura dos textos, a assimilação e
entendimento dos conceitos da tradição filosófica.
As pesquisas são importantes porque acrescentam informações, fi-
o
xam e aprofundam o conteúdo estudado. Neste sentido o conteúdo
10 Introdução
Filosofia
F
blemas e novas questões a serem pesquisadas.
É no debate, na ágora, que podemos expor nossas idéias e ouvin-
do os outros nos tornamos capazes de avaliar nossos argumentos. Mas,
para que isso ocorra, é preciso garantir a participação de todos. Na ten-
I
tativa de assegurar a ética e a qualidade do debate, os participantes de-
vem atender as seguintes normas:
1- Aceitar a lógica da confrontação de posições, ou seja, existem
pensamentos divergentes;
L
2- Estar dispostos e abertos a ultrapassar os limites das suas posi-
ções pessoais;
3- Explicitar racionalmente os conceitos e valores que fundamen-
tam a sua posição;
O
4- Admitir o caráter, por vezes contraditório, da sua argumenta-
ção;
5- Buscar, na medida do possível, por meio do debate, da persu-
asão e da superação de posições particulares, uma posição de
S
unidade, ou uma maior aproximação possível entre as posições
dos participantes;
6- Registrar, por escrito, as idéias surgidas no debate.
Desejamos que cada Folhas desse livro seja o início de um estu-
do. Para alimentar a continuidade desse estudo propomos a leitura dos
textos clássicos da filosofia. Eles poderão ajudar estudantes e professo-
res a realimentarem as discussões surgidas nas aulas. Vale lembrar que
muitas dessas obras estão disponíveis gratuitamente na Internet.
O
Ao estudar um determinado Folhas, é importante que haja a pre-
ocupação em demorar o tempo necessário para realização de todo o
processo proposto, desde a sensibilização com o problema, passando
pelo estudo dos textos filosóficos, das relações interdisciplinares, até a
F
I
realização das atividades, das pesquisas e dos debates.
A todos bom estudo.
11
Ensino Médio
z Mito e Filosofia
I
O homem pode ser identificado e caracterizado como um ser que
pensa e cria explicações. Criando explicações, cria pensamentos. Na
criação do pensamento, estão presentes tanto o mito como a raciona-
lidade, ou seja, a base mitológica, enquanto pensamento por figuras,
n
e a base racional, enquanto pensamento por conceitos. Esses elemen-
tos são constituintes do processo de formação do conhecimento filosó-
fico. Este fato não pode deixar de ser considerado, pois é a partir dele
que o homem desenvolve suas idéias, cria sistemas, elabora leis, códi-
gos, práticas.
d
ça o contexto histórico e político do surgimento da filosofia e o que ela
significou para a cultura. Esta passagem do pensamento mítico ao pen-
samento racional no contexto grego é importante para que o estudan-
te perceba que os mesmos conflitos entre mito e razão, vividos pelos
u
gregos, são problemas presentes, ainda hoje, em nossa sociedade, on-
de a própria ciência depara-se com o elemento da crença mitológica ao
apresentar-se como neutra, escondendo interesses políticos ou econô-
micos em sua roupagem sistemática, por exemplo.
ç
Ao escrever sobre o conteúdo estruturante Mito e Filosofia, os auto-
res preocupam-se em desenvolver textos que permitam aos estudan-
tes de filosofia fazerem a experiência filosófica a partir de três recor-
tes, que são: Mito e Filosofia; O Deserto do Real; Ironia e Maiêutica.
ã
Além destes, muitos outros recortes são possíveis dentro deste Conteú-
do Estruturante.
Mito e Filosofia: trata do problema da ordem e da desordem no mun-
do. O homem, ao procurar a ordem no mundo, cria tanto o mito como
o
a filosofia. Muitos povos da antigüidade experimentaram o mito, que é
um pensamento por imagens. Os gregos também fizeram a experiência
de ordenar o mundo por meio do Mito. Estes perceberam que o Mito
era um jeito de ordenar o mundo. Sentiram a necessidade de ordená-
lo pela via do pensamento racional, fizeram isso por meio de sua ex-
12 Introdução
Filosofia
F
O Deserto do Real: trata do problema da distinção entre pensamento
crítico e não crítico. O que é real, o que parece ser real? Neste Folhas
é proposto que se pense na realidade virtual, tão presente em nosso
cotidiano. Quais as conseqüências disso para a constituição do nosso
I
pensamento? Além disso, trata-se da condição histórica do surgimen-
to da Filosofia, o que nos permite perceber a importância da Filosofia
para a constituição da democracia e do pensamento político. O texto
propõe interdisciplinaridade com a Sociologia e a História.
L
Ironia e Maiêutica: propõe a ironia como experiência do método fi-
losófico. Basta olhar para nosso dia-a-dia para perceber a ironia. O
mundo é irônico, enquanto alguns se fecham em suas casas outros es-
tão presos em sua condição social. É neste contexto que a ironia torna-
O
se uma possibilidade de exercício do pensamento filosófico. Sócrates é
apresentado como o primeiro filósofo a utilizar a ironia para levar seus
discípulos a dar a luz às idéias, a maiêutica. Além de Sócrates, Marx é
um filósofo que mostra a sociedade capitalista como sendo uma gran-
de ironia, com seus ideais de liberdade e democracia, mas que de fato
não dá a todos esse direito. A música e a literatura são possibilidades
de se desenvolver a ironia, seja para lutar contra o poder político au-
toritário, seja para questionar e criticar a sociedade burguesa falso mo-
ralista e conservadora.
S
Os autores apresentam propostas de atividades que podem possibi-
litar o exercício do pensamento, do estudo e da criação de conceitos.
Essas atividades levam estudantes e professores a filosofar por meio
dos conteúdos da História da Filosofia.
O
Esse exercício do filosofar ocorrerá por meio da leitura, do deba-
te, da argumentação, da exposição e análise do pensamento. A escri-
ta constitui-se como elemento importante de registro e sistematização,
sem a qual o discurso pode perder-se no vazio. É importante lembrar
F
que o processo do filosofar se dá por meio da investigação na qual es-
tudantes e professores descobrem problemas, mobilizam-se na obten-
ção de soluções filosóficas, estudam a História da Filosofia buscando no
trabalho com os conceitos o caminho do filosofar e recriar conceitos.
I
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13
Ensino Médio
14 Introdução
Filosofia
1
Mito e Filosofia <Eloi Corrêa dos Santos1, Osvaldo Cardoso2
< www.malhatlantica.pt
< Guernica de Pablo Picasso no Museu Reina Sofia – Madrid.
1
Colégio Estadual Sto. Antonio e
Colégio Estadual Mário Evaldo Morski. Pinhão - Pr
2
Colégio Estadual Ângelo Gusso - Curitiba - Pr
15
Ensino Médio
ATIVIDADE
Com o intuito de demonstrar a necessidade humana de ordenar o mundo, para poder pensá-lo, e
assim melhor compreendê-lo, desenvolva a seguinte atividade:
1. Divida a turma em pequenos grupos e, com uma cartolina por grupo, faça uma figura qualquer, re-
cortando-a em várias partes de modo a formar um quebra-cabeça.
2. Monte a figura do quebra-cabeça de forma desordenada e exponha-a para a turma para que iden-
tifiquem a figura.
3. Notando-se a dificuldade de compreender a desordem, o grupo deverá organizar a figura e apresen-
tá-la novamente à turma, que deverá identificar a figura formada.
4. Discuta com seus colegas: qual foi a dificuldade em identificar a figura montada, inicialmente, pe-
lo grupo? Por que os homens têm dificuldade em compreender as coisas, quando estas não estão
dentro de certa ordem?
z Ordem e desordem
< http://virtualbooks.terra.com.br
co e da igualdade entre os cidadãos gestaram juntamente com alguma influência oriental uma
nova modalidade de pensamento. Os gregos depuraram de tal forma o que apreenderam dos
orientais, que até parece que criaram a própria cultura de forma original.
Podemos afirmar que a filosofia nasceu de um processo de superação do mito, numa busca
por explicações racionais rigorosas e metódicas, condizentes com a vida política e social dos
gregos antigos, bem como do melhoramento de alguns conhecimentos já existentes, adaptados
e transformados em ciência.
ATIVIDADE
1. Escreva uma frase objetiva, em seguida, cada aluno deve ler para a turma simultaneamente, a frase
que pensou.
2. Pergunte se alguém entendeu alguma coisa que o outro leu.
3. Organize a classe em grupos para responder a questão: qual a importância da ordem na compre-
ensão do mundo e no entendimento das relações humanas? Cada grupo irá formular uma respos-
ta ilustrando com um exemplo a ser encenado pelo grupo.
4. A partir das apresentações, discuta as respostas.
z O mito de édipo
Os mitos cumpriam uma função social moralizante de tal forma que essas narrativas ocu-
pavam o imaginário dos cidadãos da polis grega direcionando suas condutas. Na Atenas do sé-
culo V a.C. existia também o espaço para as comédias que satirizavam os poderosos e perso-
nagens célebres, e as tragédias que narravam as aventuras e prodígios dos heróis, bem como
suas desventuras e fracassos. Havia festivais em que os poetas e escritores competiam elegen-
do as melhores peças e textos, estes festivais eram muito importantes na vida da “polis” grega,
era por meio destes eventos sociais que as narrativas míticas se difundiam com seu efeito mo-
ralizante e de manutenção dos interesses de uma sociedade vigente.
O soberano consulta o Oráculo, o que é comum em vários mitos, ou tragédias gregas. O Oráculo
afirma que seu primogênito irá desposar a própria mãe e assassinar seu pai, o Rei Laio. Então, Laio man-
da que eliminem o menino, mas a pessoa encarregada não cumpre a ordem e envia o menino para um
reino distante onde ele se torna um grande guerreiro e herói, numa de suas andanças ele encontra um
homem arrogante e o mata; chegando ao Reino de Jocasta, Édipo se apaixona e a desposa. Anos mais
tarde, Édipo descobre que ele próprio é o personagem da profecia, e num gesto de desespero, arranca
os próprios olhos e sai a vagar pelo mundo a fora. A profecia se cumpriu, apesar dos esforços do rei.
Esta narrativa possui um fundo moral, o alerta para os desígnios dos deuses, que não devem
ser contrariados, e apesar do heroísmo de Édipo, de toda sua saga, de ter vencido a Esfinge e
decifrado seu enigma, seu destino não o poupou. Contudo, uma nova aristocracia se formava
e a vida na polis cada vez mais é direcionada pela política, e aos poucos a moral estabelecida
pelas narrativas míticas foram sendo substituídas pela ética e pelos valores da cidadania grega.
O cidadão grego cada vez mais participativo não considerava a idéia de não controlar a pró-
pria vida. Na vida pública da “polis”, os homens livres manifestavam suas posições escolhendo
entre iguais o direcionamento das decisões e das ações da cidade-estado.
Mito e Filosofia 17
Ensino Médio
DEBATE
z O nascimento da filosofia
< www.educ.fc.ul.pt
18 Mito e Filosofia
Introdução
Filosofia
< www1.dragonet.es
z A vida cotidiana na sociedade grega
Quando dizemos que a filosofia nasceu na Grécia, pontuamos que < Homero autor dos antigos poema
s épicos gregos Iliada y La Odi-
a Grécia do século V a.C. não possuía um Estado unificado, mas era sea. Século IX A. C.
formada por Cidades-Estados independentes, as chamadas polis, que
foram o berço da política, da democracia e das ciências no ocidente.
Transformaram a matemática herdada dos orientais em aritmética, geo-
< http://patricianavarrete.cyberquebec.ca
metria, harmonia e lapidaram o conceito de razão como um pensar
metódico, sistemático, regido por regras e leis universais.
Os gregos eram um povo comerciante, propensos a navegação e
ao contato com outras civilizações. A filosofia nascera das adaptações
que os pensadores gregos regimentaram aos conhecimentos adquiri-
dos por meio dessas influências, e da superação do pensamento mito-
lógico buscando racionalmente aliar essa nova ordem de pensamento < Teatro em Atenas - Grécia.
propriamente grega, a vida na polis. Mas afinal, o que é a polis ? Co-
mo se constituía?
Uma certa extensão territorial, nunca muito grande, continha uma ci-
dade, onde havia o lar com o fogo sagrado, os templos, as repartições
dos magistrados principais, a Ágora, onde se efetuavam as transações; e,
habitualmente, a cidadela na acrópole. A cidade vivia do seu território e a
sua economia era essencialmente agrária. Competiam-lhe três espécies de
atividade: legislativa, judiciária e administrativa. Não menores eram os de-
veres para com os deuses, pois a “polis” assentava em bases religiosas
e as cerimônias do culto eram ao mesmo tempo obrigações cívicas de-
sempenhadas pelos magistrados. A sua constituição dependia da assem-
bléia popular, do conselho, e dos tribunais formados pelos cidadãos. (PEREIRA,
In: GOMES & FIGUEIREDO, 1983 p. 94 - 95)
Mito e Filosofia 19
Ensino Médio
PESQUISA
20 Introdução
Mito e Filosofia
Filosofia
Mito e Filosofia 21
Ensino Médio
DEBATE
Discuta em sala:
1. Existe relação entre mito e realidade?
2. Qual a finalidade dos mitos para a humanidade?
Apresente as respostas à turma para debate.
As regras para o debate encontram-se na introdução deste livro.
z O mito hoje
Na modernidade, podemos pensar filosoficamente outros conceitos
para o mito. Um dos modos de entender o mito é pensá-lo como fan-
22 Introdução
Mito e Filosofia
Filosofia
< www.xtec.es
tir de uma aparência que acredita ser a realidade. Por exemplo: é míti-
ca a idéia de progresso, porque é uma idéia que nos move e alimenta
nossa ação, mas, na realidade não se concretiza. A sociedade moderna
não progride no sentido que tudo o que é novo é absorvido para a ma-
nutenção e ampliação das estruturas do sistema capitalista. O progres-
so apresenta-se como um mito porque alimenta o nosso imaginário.
Boaventura, (2003), defende que todo conhecimento científico é
socialmente construído, que o rigor da ciência tem limites inultrapassá-
veis e que sua pretensa objetividade não implica em neutralidade, daí < Trem a Vapor de Jorge
resulta que acreditar que a ciência leva ao progresso e que o progres- Stephenson, mito do progresso.
so e a história são de alguma forma linear, pode ser considerado co-
mo o mito moderno da cientificidade. Quando, ao procurarmos anali-
sar a situação presente nas ciências no seu conjunto, olhamos para o
passado, a primeira imagem é talvez a de que os progressos científi-
cos dos últimos 30 anos são de uma ordem espetacular que os sécu-
los que nos precederam não se aproximam em complexidade. Então
< www.culturabrasil.pro.br
juntamente com Rousseau (1712 - 1778) perguntamos: o progresso das
ciências e das artes contribuirão para purificar ou para corromper os
nossos costumes? Há uma relação entre ciência e virtude? Há uma ra-
zão de peso para substituirmos o conhecimento vulgar pelo conheci-
mento científico?
Mito e Filosofia 23
Ensino Médio
DEBATE
Responda às questões:
1. Qual a diferença entre mito, filosofia e ciência?
2. Por que podemos dizer que a ciência constituiu-se como mito na modernidade?
Apresente as respostas à turma para debate.
As regras para o debate encontram-se na introdução deste livro.
PESQUISA
z Referências:
ARAGON, L. O camponês de Paris. Rio de Janeiro: Editora Imago,
1996.
BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1994.
GOMES, Luisa Costa; FIGUEIREDO, Ilda. Antologia filosófica: a reflexão fi-
losófica, do mito à razão ; dialética da acção e do conhecimento;
valores ético-políticos. Lisboa: Livros Horizonte, 1983.
HORKHEIMER, Max e ADORNO, Theodor W. Conceito de Iluminismo.,
São Paulo: Pensadores, 1975.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. São
Paulo, Cortez, 2003.
VERNANT, Jean-Pierre. Entre Mito e Política. São Paulo: Editora da USP,
2001.
_________ Mito e Pensamento entre os gregos. São Paulo: Editora da
USP, 1973.
Imagem de abertura: Teseu – o herói de Atenas. 440-430 BC – Feito em
Atenas e encontrado na Itália – Lazio. www.thebritishmuseum.ac.uk
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