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O CRIME À LUZ DA TEORIA DA ANOMIA

Ana Luiza Almeida Ferro*

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A teoria estrutural-funcionalista do desvio e da anomia foi esboçada por Durkheim e


desenvolvida por Robert Merton, oferecendo uma alternativa à construção doutrinária
dos caracteres diferenciais biopsicológicos do delinqüente, questionando a idéia
positivista do princípio do bem e do mal e simbolizando, nas palavras de Alessandro
Baratta, “a virada em direção sociológica efetuada pela criminologia contemporânea”,
cujos postulados básicos são:
a) as causas do desvio não devem ser buscadas em fatores bioantropológicos e naturais,
como a raça e o clima, nem tampouco em uma situação patológica da estrutura social;
b) o desvio constitui um fenômeno normal de toda estrutura social;
c) o comportamento desviante, por conseguinte, dentro de seus limites funcionais,
representa um elemento necessário e útil para o equilíbrio e o desenvolvimento
sociocultural, o mesmo não se verificando na hipótese de serem rompidas essas amarras
e transpostos esses limites, fase na qual o fenômeno do desvio se torna negativo para a
existência e o desenvolvimento da estrutura social, daí resultando um estado de
desorganização, em que todo o sistema de normas de conduta sofre perda de valor,
enquanto um novo sistema ainda não se impôs, o que significa a configuração da
situação de “anomia”.1

* Promotora de Justiça-MA, Mestre e Doutora em Ciências Penais pela Faculdade de Direito da


Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Professora do UNICEUMA, Coordenadora de Pesquisa
do Programa de Pós-Graduação em Direito e Professora da ESMP/MA, Membro efetivo da Academia
Maranhense de Letras Jurídicas e da Academia Caxiense de Letras e Membro de Honra da Sociedade
Brasileira de Psicologia Jurídica. Autora dos livros jurídicos O Tribunal de Nuremberg, Escusas
absolutórias no Direito Penal, Robert Merton e o Funcionalismo, O crime de falso testemunho ou falsa
perícia e Interpretação constitucional: a teoria procedimentalista de John Hart Ely. Autora das obras

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García-Pablos de Molina destaca a normalidade e a funcionalidade do delito como os
postulados de maior transcendência criminológica das teorias estrutural-funcionalistas:
“Este [o delito] seria normal porque não teria sua origem em nenhuma patologia
individual nem social, senão no normal e regular funcionamento de toda ordem social.
Apareceria inevitavelmente unido ao desenvolvimento do sistema social e a fenômenos
normais da vida cotidiana. O delito seria funcional no sentido de que tampouco seria um
fato necessariamente nocivo, prejudicial para a sociedade, senão todo o contrário, é
dizer, funcional, para a estabilidade e a mudança social.”2

2 O PENSAMENTO DE DURKHEIM

A teoria geral da anomia é originalmente produto das reflexões de Durkheim em sua


obra Le suicide, primeiramente publicada em 1897, quando o mesmo disserta sobre o
que ele chama de “suicídio anômico”, partindo da constatação de que as variações
estatísticas das taxas de suicídio tendem a seguir o ritmo dos ciclos econômicos e
observando que o aumento do fenômeno tem lugar tanto nas fases de crises e depressões
econômicas, quanto nas de prosperidade brusca. Seu conceito de anomia, na visão do
mesmo García-Pablos de Molina, traduz

Quando: poesias e A odisséia ministerial timbira: poema e co-autora de Versos e anversos, também de
poesias.
1
Cf. BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução à sociologia do
direito penal. Tradução de Juarez Cirino dos Santos. 2. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos/Instituto Carioca
de Criminologia, 1999. p. 59-60. Ver igualmente FERRO, Ana Luiza Almeida. Robert Merton e o
funcionalismo. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004. p. 35. Leciona EDWIN SUTHERLAND que a
desorganização social pode assumir uma dessas duas formas: a) a anomia, significando a ausência de
padrões orientadores do comportamento dos membros de uma sociedade em áreas gerais ou específicas
do comportamento; b) a organização, no seio de uma sociedade, de grupos em estado de conflito no que
tange a práticas especificadas, traduzindo, pois, o conflito de padrões. Para ele, existem duas condições
que favorecem a desorganização da sociedade no controle do comportamento criminoso, que são,
primeiramente, o fato de o comportamento exibir natureza complexa e técnica e não ser facilmente
observável por cidadãos inexperientes; e, segundo, a realidade do célere processo de mudança da
sociedade nas suas relações de negócios. A anomia, consoante o sociólogo, encontra-se relacionada à
mudança do sistema anterior de livre concorrência e livre empresa para o sistema em desenvolvimento de
coletivismo privado e regulação governamental das empresas. Cf. SUTHERLAND, Edwin H. White
collar crime: the uncut version. New Haven/London: Yale University Press, 1983. p. 255-256.
2
GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, Antonio. A moderna Criminologia “científica” e os diversos
modelos teóricos. Biologia Criminal, Psicologia Criminal e Sociologia Criminal. In: GARCÍA-PABLOS
DE MOLINA, Antonio; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia: introdução a seus fundamentos teóricos.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 252.

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“[...] a crise, a perda de efetividade ou o desmoronamento das normas e valores vigentes
em uma sociedade, precisamente como conseqüência do rápido e acelerado
desenvolvimento econômico da mesma e de suas profundas alterações sociais que
debilitam a consciência coletiva.”3
O pensador francês, tomando por base a verificação da constância do volume da
criminalidade, ou seja, da inevitabilidade da existência, em qualquer meio social ou
momento histórico, de uma taxa incessante de criminalidade, também sustenta que o
crime configura um comportamento “normal”, posto não apresentar caráter patológico;
“ubíquo”, por ser praticado por pessoas, indiferentemente da camada social a que
pertençam ou do modelo de sociedade em que vivam; e derivado das estruturas e
fenômenos cotidianos inerentes a uma ordem social em sua integridade e não de
anomalias apresentadas pelo indivíduo ou tampouco da própria “desorganização social”.
Por conseguinte, na sua percepção, o “que é normal é simplesmente que haja uma
criminalidade, contanto que esta atinja e não ultrapasse, para cada tipo social, certo
nível que talvez não seja impossível fixar de acordo com as regras precedentes.” 4 Para
ele, uma sociedade sem condutas irregulares seria praticamente impossível,5 visto que o
anormal não é a existência do delito, mas um repentino aumento ou diminuição dos
números médios ou das taxas de criminalidade. Argumenta Durkheim:
“Ora, não há sociedade conhecida em que, sob formas diferentes, não se observe uma
criminalidade mais ou menos desenvolvida. Não há povo cuja moral não seja
cotidianamente violada. Devemos dizer, portanto, que o crime é necessário, que ele não
pode deixar de existir, que as condições fundamentais da organização social, tais como
são conhecidas, o implicam logicamente. Por conseguinte, ele é normal. É inútil invocar
aqui as imperfeições inevitáveis da natureza humana e sustentar que o mal, embora não
possa ser impedido, não deixa de ser o mal; isso é linguagem de pregador, não de
cientista. Uma imperfeição necessária não é doença; caso contrário, deveríamos colocar
doença em toda parte, porque a imperfeição existe em toda parte. [...] O que é condição
indispensável da vida não pode deixar de ser útil, a menos que a vida não seja útil. Não

3
Ibidem, p. 254.
4
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. Tradução de Paulo Neves. 2. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1999. p. 67.
5
“Em primeiro lugar, o crime é normal porque uma sociedade que dele estivesse isenta seria inteiramente
impossível.” Ibidem, p. 68.

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há como escapar disso. [...] Contudo ele só é útil se reprovado e reprimido. Acreditou-se
erroneamente que o simples fato de o catalogar entre os fenômenos de sociologia
normal implicaria sua absolvição. Se é normal que haja crimes, é normal que sejam
punidos. A penalidade e o crime são os dois termos de um par inseparável. Um não
pode faltar mais do que o outro. Qualquer afrouxamento anormal do sistema repressivo
tem por efeito estimular a criminalidade e lhe conferir um grau de intensidade
anormal.”6
Em conseqüência, consoante o autor europeu, o delito exerce uma função integradora e
inovadora,7 podendo inclusive representar “uma antecipação da moral por vir”, como no
caso de Sócrates, condenado como criminoso segundo o Direito ateniense, na Grécia
Antiga.8 Daí Durkheim não visualizar o criminoso como “um ser radicalmente
insociável”, porém, ao contrário, como “um agente regular da vida social”.9

3 O PENSAMENTO DE ROBERT MERTON

Robert Merton transforma a teoria da anomia durkheimiana, com seu cunho avulso
explicativo, em teoria da criminalidade,10 proporcionando uma explicação acerca de
todo o fenômeno do desvio em geral, aplicável, sem dúvida, ao caso do crime
organizado, em algumas de suas facetas. A publicação de seu artigo Social structure
and anomie, em 1938, assinala o princípio de um trabalho de anos de reflexão,
continuamente reelaborado.

6
DURKHEIM, Émile. O suicídio: estudo de sociologia. Tradução de Monica Stahel. São Paulo: Martins
Fontes, 2000. p. 472-473.
7
“O crime é portanto necessário; ele está ligado às condições fundamentais de toda vida social e, por isso
mesmo, é útil; pois as condições de que ele é solidário são elas mesmas indispensáveis à evolução normal
da moral e do direito.” DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. Op. cit., p. 71.
8
Cf. ibidem, p. 72.
9
Cf. ibidem, p. 73. Sobre o assunto exposto, ver também FERRO, Ana Luiza Almeida. Op. cit., p. 27-31,
em que discorremos brevemente sobre Durkheim e seu pensamento.
10
MICHAEL LYMAN e GARY POTTER situam Robert Merton e seu pensamento sobre o fenômeno da
anomia entre as teorias da desorganização social, juntamente com a concepção ecológica da privação
relativa (relative deprivation), defendida por Peter e Judith Blau, a construção teórica de Daniel Bell,
relativa à “singular escada da mobilidade” (queer ladder of mobility), a teoria da oportunidade ou ocasião
diferencial (differential opportunity), sustentada por Richard Cloward e Lloyd Ohlin, e a concepção de
Ian Taylor, Paul Walton e Jock Young sobre a questão da oportunidade obstruída. Cf. LYMAN, Michael
D.; POTTER, Gary W. Organized crime. 2nd ed. New Jersey: Prentice Hall, 1999. p. 77-80.

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O sociólogo americano concentra o foco de sua elaboração teórica nas relações
existentes entre a estrutura cultural e a estrutura social e na forma de reação dos
indivíduos à tensão que habita entre as duas. A estrutura cultural perfaz uma dupla
função: estabelece as metas (os objetivos culturais) propostas aos membros de uma
determinada sociedade, as quais se apresentam como motivações fundamentais do
comportamento destes, voltadas, exempli gratia, à consecução de bem-estar, sucesso
econômico ou poder, além de fornecer modelos de comportamento institucionalizados,
apontando os meios legítimos e socialmente aprovados da busca orientada para a
obtenção das metas indigitadas (normas institucionalizadas). Quanto à estrutura
econômico-social, esta consiste no complexo das relações sociais, que reúne as
oportunidades reais, conferidas às pessoas, efetivamente determinantes da possibilidade
de acesso aos bens e fins culturais, com observância das normas institucionalizadas.11
Sobressaem três elementos básicos desta construção teórica: objetivos (ou fins)
culturais, normas institucionalizadas e oportunidades reais, os quais são independentes,
mas podem, em variações autônomas, gerar estados de defasagem recíproca. No tocante
às defasagens dos elementos da estrutura cultural, elas podem oscilar entre duas
situações-limite, expressando as formas mais sérias de desintegração cultural. Em um
lado, figura a sociedade que atribui excessivo valor aos fins e relega a segundo plano as
normas, em busca do sucesso a qualquer preço. Em outro, a sociedade que concede
prioridade aos meios e descuida dos objetivos, incorrendo na armadilha da
conformidade absoluta e do apego desmedido à tradição na qualidade de valores
dominantes.
Outras defasagens significativas ocorrem exatamente entre a estrutura cultural e a
estrutura social. Naquela, são fixados os mesmos fins e as mesmas normas para todos os
indivíduos. Nesta, são distribuídas, de modo desigual, as oportunidades legítimas. Uma
estimula um comportamento obstaculizado, dependendo da posição do indivíduo na
escala social, pela outra. A segunda é a represa e a primeira, a água represada. A
deficiente integração entre a estrutura cultural e a social causa uma tensão, que pode
desaguar no rompimento das normas ou no seu total desprezo. Robert Merton registra, a

11
Ver MERTON, Robert K. Social theory and social structure. New York: The Free Press, 1968. p. 186-
187; 216; DIAS, Jorge de Figueiredo; ANDRADE, Manuel da Costa. Criminologia: o homem
delinquente e a sociedade criminógena. Coimbra: Coimbra Editora, 1992. p. 323; e FERRO, Ana Luiza
Almeida. Op. cit., p. 36-38.

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respeito da cultura contemporânea ianque, que ela permanece marcada pela forte ênfase
na riqueza como um símbolo básico de sucesso, sem uma ênfase correspondente nas
vias legítimas que levam a este fim.12 São tais defasagens13 que propiciam o
aparecimento da anomia14 e produzem o comportamento desviante, incluindo o delito.

3.1 Tipologia dos modos de adaptação individual

As rusgas entre a estrutura cultural e a estrutura social compelem as pessoas à adoção de


diferentes trilhas adaptativas, em resposta aos potenciais de frustração socialmente
induzidos. Estas modalidades de adequação individual guardam seu traço diferenciador
na opção pela atitude de aderência ou repúdio no atinente aos parâmetros dos “objetivos
culturais” e dos “meios institucionais”, simultânea ou isoladamente. O doutrinador
elenca cinco tipos de adaptação abstratos e típicos, que constituem respostas às
demandas decorrentes do binômio composto pelos valores culturais (objetivos ou fins
culturais) e pelas normas sociais (meios institucionais), sendo eles: conformity
(conformidade ou conformismo), innovation (inovação), ritualism (ritualismo),
retreatism (evasão, retraimento, apatia ou fuga do mundo) e rebellion (rebelião). O
esquema explicativo do pensador funcionalista, concernente à tipologia dos modos de
adaptação individual, em que o sinal “+” simboliza “aceitação”, o sinal “” simboliza
“rejeição” e o sinal “” simboliza “rejeição de valores dominantes e substituição por
novos valores”, é exposto nestes termos:15

Modos de adaptação Objetivos culturais Meios institucionais

12 I. Conformidade + +
Cf. MERTON, Robert K. Op. cit., p. 193.
13
Acerca do tema das defasagens dos elementos da estrutura cultural e entre esta e a estrutura social, ver
DIAS, II.Jorge
Inovação + Op. cit., p. 323-324; e FERRO, Ana
de Figueiredo; ANDRADE, Manuel da Costa. _ Luiza
Almeida. Op. cit., p. 39.
14
NãoIII.é Ritualismo
à toa que WINFRIED HASSEMER trata da _ anomia como uma teoria da estrutura + social
defeituosa. Cf. Fundamentos del derecho penal. Traducción de Francisco Muñoz Conde y Luis Arroyo
Zapatero. Barcelona: Bosch, 1984. p. 60.
15
Cf.IV. EvasãoRobert K. Op. cit., p. 193-194.
MERTON, _ _

V. Rebelião  
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Como pode ser inferido, a conformidade, que é o comportamento modal, o mais comum e o mais
difundido em uma sociedade estável, autêntico comportamento conformista, não representando desvio
comportamental, significa a atitude receptiva tanto em relação aos objetivos culturais, quanto aos meios
institucionais. A inovação, que corresponde ao comportamento criminoso típico, sendo por isto a
modalidade que mais interessa ao presente artigo e sobre a qual nos debruçaremos em seqüência mais
detidamente, já implica logicamente uma resposta desviante, na qual são empregados meios ilegítimos
para a persecução dos objetivos ou fins culturais. O ritualismo é o seu reverso da medalha, traduzindo o
modo de adequação individual em que se dá a mera adesão formal às normas institucionais, com a
negação dos fins culturais. A evasão representa o oposto da conformidade, ou seja, a atitude de repúdio
tanto aos objetivos culturais, quanto aos meios institucionais. Enfim, a rebelião significa o
aprofundamento da dupla negação verificada na evasão, com a “afirmação substitutiva de fins
alternativos, mediante meios alternativos.” 16 As categorias citadas se aplicam ao comportamento do papel
desempenhado em tipos específicos de situações, não à personalidade; apontam tipos de respostas
relativamente duradouras, não tipos de organização de personalidade. 17 O diverso grau de socialização do
indivíduo e a maneira em que interiorizou os respectivos valores e normas são fatores que condicionam,
em cada hipótese, a escolha de um desses caminhos adaptativos.

3.2 A inovação

A innovation, nas palavras do autor americano, constitui o uso de “institutionally


proscribed but often effective means of attaining at least the simulacrum of success —
wealth and power”.18 Conforme o sociólogo, é exatamente a grande ênfase cultural no

16
BARATTA, Alessandro. Op. cit., p. 64.
17
Cf. MERTON, Robert K. Op. cit., p. 194.
18
“[...] meios institucionalmente proscritos mas freqüentemente efetivos de atingir pelo menos o
simulacro do sucesso — riqueza e poder.” Ibidem, p 195. (Tradução da autora). Ilustra MIRANDA
ROSA, contudo, que a inovação, na ótica mertoniana, não se faz unicamente pela senda da delinqüência:
“É o chamado comportamento de desvio, pelo qual superando-se os obstáculos institucionais ou
instrumentais, procura-se atingir os alvos culturalmente estimulados por todo o sistema. Nesse desvio de

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objetivo do sucesso que proporciona condições favoráveis ao surgimento desta
modalidade de adequação, a qual se manifesta quando o indivíduo assimila tal ênfase
cultural sem igualmente interiorizar as normas institucionais que regem as vias e meios
para a consecução dos fins visados.
Para Robert Merton, essa defasagem entre a busca do sucesso e a interiorização das
normas oferece explicação tanto para a delinqüência do “colarinho branco”, quanto para
a dos estratos sociais inferiores. No relativo ao primeiro caso, ele entende que, nas
camadas econômicas superiores, a pressão direcionada à opção inovadora não raramente
elimina a distinção entre práticas de negócios this side of the mores e práticas agressivas
beyond the mores. O doutrinador nota que essa linha de separação é muitas vezes tênue,
o que, na sua visão, é atestado pelo fato de que a história das grandes fortunas
americanas teria sido construída sobre os alicerces de esforços no sentido de uma
“inovação institucionalmente dúbia” (institutionally dubious innovation). Ele inclusive
nos colhe a atenção para o fenômeno nada novo de que, em particular na sociedade
americana, a admiração relutante das pessoas, freqüentemente expressa no âmbito
privado, e, não raro, no público, por esses homens “astutos, espertos e bem sucedidos”
(como os chamados robber barons), configura um produto de uma estrutura cultural em
que o “sacrossanto” fim virtualmente consagra os meios. Charles Dickens é então
mencionado, na obra Social structure and social theory, como um dos observadores do
cenário americano que, conquanto não primasse pela imparcialidade, captou, com
perspicácia, a apreciação indisfarçável dos americanos pelos feitos do homem esperto
(smart man) e as implicações da ênfase cultural desproporcionada no sucesso
financeiro. De Ambrose Bierce, Robert Merton salienta um ensaio no qual aquele relata

comportamento estão retratadas, como é evidente, a criminalidade e todas as formas de delinqüência.


Também nele se revelam as faltas disciplinares, a inobservância das regras de conduta social e outros
tipos. Tudo isso configura o segundo tipo de adaptação da tipologia mertoniana, rotulado de “inovação”.
ROSA, Felippe Augusto de Miranda. Sociologia do direito: o fenômeno jurídico como fato social. 4. ed.
Rio de Janeiro: Zahar, 1975. p. 82. Ele consigna mais adiante na obra referida, por outro lado, que o
comportamento divergente nem sempre traduz disfunção social: “A segunda observação é de que a
conduta divergente não é necessariamente contrária à ética que existe no grupo social e que constitui,
dessa maneira, elemento objetivo que permite se faça a distinção entre as condutas divergentes criadoras e
as condutas divergentes anti-sociais. Comportamento divergente, assim, não é sempre expressão de
disfunção social.” Ibidem, p. 83.

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as maneiras pelas quais o patife bem sucedido alcança legitimidade social e disseca as
discrepâncias entre valores culturais e relações sociais.19
O pensador funcionalista tampouco deixa de frisar as conclusões documentadas de
Edwin Sutherland sobre a prevalência da criminalidade de “colarinho branco” na classe
dos homens de negócios e a sua constatação de que muitos desses delitos não chegavam
aos tribunais porquanto não eram detectados ou, quando detectados, eram ignorados, em
virtude de motivos como o status do homem de negócios, a tendência à impunidade e o
ressentimento relativamente inorganizado do público contra essa classe de criminosos.20
O escopo mertoniano reside em situar os membros de tal classe, de onde emerge grande
parcela dessa espécie de população largamente desviante, embora pouco perseguida, de
“homens espertos” do “colarinho branco”, egressos geralmente das camadas sociais
superiores, no rol daqueles que abraçam resolutamente o fim dominante colimado pela
sociedade americana, ou seja, o sucesso econômico ou financeiro, sem a devida
interiorização das normas institucionais, inserindo-se naturalmente, por conseguinte, na
categoria dos aderentes à forma de adequação individual da inovação.
Porém, a classe dos homens de negócios não é a única categoria com expressivo grau de
suscetibilidade às seduções do tipo de adaptação individual da inovação. A propósito,
nem é, na concepção de Robert Merton, a principal. Indiferentemente dos eventuais
índices diferenciais de comportamento desviante nas várias camadas sociais e do
conhecimento de que as estatísticas oficiais da criminalidade mostrando uniformemente
taxas maiores no seio da classe menos favorecida estão longe de apresentarem
completude ou confiabilidade, o sociólogo pontua que são precisamente os estratos mais
desprotegidos que sofrem, na sociedade americana objeto de sua análise, a maior
pressão no sentido de um comportamento desviante (do tipo “inovador”),
principalmente em função do maior descompasso entre a estrutura cultural e a estrutura
social, isto é, em especial como efeito do menor número de oportunidades de ascensão
social que lhes são proporcionadas:

19
Cf. MERTON, Robert K. Op. cit., p. 195-197. No caso da sociedade brasileira, poderíamos dizer que o
homem esperto (smart man), cujos feitos são muitas vezes socialmente aceitos e eventualmente
admirados, é sobretudo aquele que sabe fazer uso do “jeitinho brasileiro” para vencer na vida ou
simplesmente logra adquirir dinheiro ou poder ou ambos sob a aparência de respeitabilidade.
20
Cf. ibidem, p. 198.

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“[...] it appears from our analysis that the greatest pressures toward deviation are
exerted upon the lower strata. Cases in point permit us to detect the sociological
mechanisms involved in producing these pressures. Several researches have shown that
specialized areas of vice and crime constitute a “normal” response to a situation where
the cultural emphasis upon pecuniary success has been absorbed, but where there is
little access to conventional and legitimate means for becoming successful. The
occupational opportunities of people in these areas are largely confined to manual
labor and the lesser white-collar jobs. Given the American stigmatization of manual
labor which has been found to hold rather uniformly in all social classes, and the
absence of realistic opportunities for advancement beyond this level, the result is a
marked tendency toward deviant behavior.”21
Sobre o pensamento de Robert Merton, Figueiredo Dias e Costa Andrade anotam que os
estratos sociais inferiores, sofrendo todo o impacto da discrepância entre a estrutura
cultural e a social, “recorrem à inovação como resposta à frustração de se sentirem
“condenados” a procurar enriquecer numa estrutura social que os “condena” de antemão
ao fracasso.”22 García-Pablos de Molina, por sua vez, destaca a relação da teoria
mertoniana da anomia com a concepção do American dream (voltada para a sociedade
do bem-estar, fundada na idéia de igualdade real de oportunidades) e o fato de que a
primeira põe em relevo que os indivíduos aos quais a sociedade não propicia caminhos
legais, ou seja, oportunidades, de ascensão aos níveis de bem-estar almejados “serão
pressionados muito mais e muito antes que os demais para o cometimento de condutas

21
“[...] parece, pela nossa análise, que as maiores pressões no sentido do desvio são exercidas sobre as
camadas inferiores. Casos em questão nos permitem detectar os mecanismos sociológicos envolvidos na
produção destas pressões. Várias pesquisas têm mostrado que áreas especializadas de conduta imoral e
crime constituem uma resposta “normal” para uma situação onde a ênfase cultural no sucesso pecuniário
foi absorvida, mas onde há pouco acesso aos meios convencionais e legítimos para tornar-se bem
sucedido. As oportunidades ocupacionais das pessoas nestas áreas estão em grande parte confinadas ao
trabalho manual e aos empregos inferiores de colarinho branco. Dadas a estigmatização americana do
trabalho manual, que tem sido vista como permanecendo disseminada antes uniformemente em todas as
classes sociais, e a ausência de oportunidades realistas para o progresso além deste nível, o resultado é
uma tendência manifesta no sentido do comportamento desviante.” MERTON, Robert K. Op. cit., p. 198-
199. (Tradução da autora).
22
DIAS, Jorge de Figueiredo; ANDRADE, Manuel da Costa. Op. cit., p. 326. Recordemos a seguinte
asserção de ROBERT MERTON, que bem resume o seu pensamento sobre o assunto: It is the
combination of the cultural emphasis and the social structure which produces intense pressure for
deviation. MERTON, Robert K. Op. cit., p. 199. “É a combinação da acentuação cultural e da estrutura
social que produz pressão intensa para o desvio.” (Tradução da autora).

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irregulares, com a finalidade de alcançar a meta cobiçada.”23 Hermann Mannheim, na
mesma linha, vai além, declarando ser a teoria mertoniana uma teoria de classe da
sociedade e do crime:
“É esta insistência na crença fatalista sobre o papel que a ideologia igualitária
desempenha num mundo de desigualdade efectiva que faz da teoria de MERTON uma
teoria de classe da sociedade e do crime, em especial por tentar estabelecer relações
entre os seus tipos de adaptação (ou inadequação) e as características gerais das diversas
classes sociais. [...] Enquanto, do ponto de vista da psicologia individual, nada parece
impedir que esta solução [a do modo adaptativo da inovação] se possa encontrar em
todas as classes da comunidade, já do ponto de vista sociológico tudo leva a crer que
esta será particularmente frequente entre os americanos das classes mais baixas, uma
vez que a estigmatização do trabalho manual entre os americanos e o status inferior dos
trabalhadores de colarinhos brancos menos qualificados excluem a possibilidade de
sucesso comparável ao do vício organizado, extorsão e crime. Poderia acrescentar-se,
quanto ao trabalho manual, que não só a sua estigmatização negativa e as baixas
remunerações, mas também o seu cada vez mais reduzido papel que implica
oportunidades reduzidas e crescente frustração.”24
Efetivamente, consoante Robert Merton, a pouca valorização social do trabalho manual
não especializado e os seus baixos rendimentos não podem competir em pé de
igualdade, dentro dos padrões firmados de mérito, honradez e honestidade, com os
atrativos de poder e altos rendimentos possibilitados pelas organizações do vício, da
chantagem e do crime, de sorte que os fins culturais passam a “justificar” a violação dos
meios institucionais. Em semelhante cenário, marcado pela instabilidade do equilíbrio
entre os fins e os meios, Al Capone aparece como um verdadeiro herói, mesmo que “às
avessas”, simbolizando o triunfo da inteligência amoral sobre o fracasso que a ética
prescreve, diante das portas fechadas ou apenas precariamente entreabertas da
mobilidade vertical. Afinal, ensina Maquiavel que “o fim justifica os meios”. Não
olvidando as inevitáveis diferenças entre a nossa sociedade e a americana, poderíamos

23
GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, Antonio. A moderna Criminologia “científica” e os diversos
modelos teóricos. Biologia Criminal, Psicologia Criminal e Sociologia Criminal. In: GARCÍA-PABLOS
DE MOLINA, Antonio; GOMES, Luiz Flávio. Op. cit., p. 255.
24
MANNHEIM, Hermann. Criminologia comparada. Tradução de J. F. Faria Costa e M. Costa Andrade.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, [1984-85]. v. 2, p. 771-772.

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dizer que figuras como Escadinha, Ronald Biggs e, mais recentemente, Fernandinho
Beira-Mar são exemplos característicos de pessoas que povoam, na qualidade de
“inovadores”, ao estilo Al Capone, conquanto quiçá em menor grau, o imaginário de
sucesso de não raros brasileiros.25
Mas, retornando-se especificamente à sociedade americana, são duas as feições
identificadas por Robert Merton nas situações sob escrutínio: primeiramente, incentivos
ao sucesso são fornecidos pelos valores culturais previamente firmados; em segundo
lugar, os caminhos disponíveis para a persecução deste objetivo são imensamente
restringidos pela estrutura de classe, que, por seu turno, não é completamente aberta, em
cada nível, a homens de capacidade, que desejem vencer, obter dinheiro ou poder, pelos
meios legítimos. O sucesso, a despeito da ideologia do triunfo pelo esforço pessoal, das
oportunidades iguais e das classes abertas, não bate à porta de todos e é especialmente
arredio para aqueles dotados de pouca educação formal e pouco dinheiro. Destarte, a
cultura termina por impor exigências incompatíveis àqueles situados nas camadas
sociais inferiores, os quais, ao mesmo tempo em que são estimulados a orientarem suas
condutas para a acumulação de grande riqueza, o que pode ser sintetizado na frase
Every man a king (“Todo homem um rei”), dita por Marden, Carnegie e Long, vêem-se
em grande parte excluídos das efetivas oportunidades de fazê-lo, daí resultando uma alta
taxa de comportamento desviante. A pressão dominante, leciona Robert Merton, nesse
contexto de arritmia estrutural, “leads toward the gradual attenuation of legitimate, but
by and large ineffectual, strivings and the increasing use of illegitimate, but more or
less effective, expedients”.26

25
É típico o exemplo do adolescente, com educação formal inexistente, deficiente ou incompleta para a
idade, que cresce em uma favela brasileira dominada pelo narcotráfico, tem dificuldade em encontrar um
caminho para “vencer na vida” pelos meios institucionais legítimos (a família é pobre, ele não consegue
emprego ou seu salário é baixo, sem perspectivas de ascensão social) e acaba por eleger como seu herói
ou modelo comportamental um traficante bem sucedido e como opção de vida a vereda do crime. Com
isto, certamente, não queremos, em absoluto, sugerir qualquer implicação determinista para a situação
exposta. Nem todo jovem favelado se torna um delinqüente e nem todo jovem delinqüente é favelado ou
provém de uma classe social economicamente inferior. Apenas acreditamos que a teoria mertoniana sobre
o comportamento desviante pode fornecer uma explicação, ainda que parcial, para determinadas feições
da criminalidade brasileira, inclusive a organizada, especialmente no tocante a determinados tipos de
delitos patrimoniais. Acerca da figura de Al Capone, ver MERTON, Robert K. Op. cit., p. 200.
26
“[...] conduz na direção da atenuação gradual de esforços legítimos, porém de um modo geral
ineficazes, e do crescente uso de expedientes ilegítimos, porém mais ou menos efetivos.” MERTON,
Robert K. Op. cit., p. 200. (Tradução da autora). E completa, pouco depois, o doutrinador: “The
equilibrium between culturally designated ends and means becomes highly unstable with progressive
emphasis on attaining the prestige-laden ends by any means whatsoever.” Ibidem, p. 200. “O equilíbrio

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Entretanto, Robert Merton, com razão, não sustenta que a exagerada acentuação cultural
do sucesso pecuniário é o único aspecto da estrutura social a ser levado em conta no
exame das fontes sociais do comportamento desviante. Não é possível atribuir a causa
de muitos desses comportamentos simplesmente à falta de oportunidade ou à já aludida
ênfase extrema no sucesso econômico. Não pode ser desprezado, por exemplo, o papel
exercido por uma estrutura de classe relativamente “engessada”, uma espécie de ordem
de castas, na limitação das oportunidades. Tampouco pode ser olvidado o fato de que a
sociedade — americana, em primeiro plano — atribui alto prêmio à ascensão social para
todos os seus membros e que a tradicional virtude ianque da “ambição”27 pode conduzir
ao tradicional vício do “comportamento desviante”, devido ao fator centrado na
existência de diferenciais de classe na acessibilidade dos objetivos culturais, que, por
sua vez, para o sociólogo funcionalista, não são concebidos unicamente para uma
classe, mas para a superação das linhas divisórias entre as classes dessa estrutura pouco
flexível. Deste modo, segundo o pensamento mertoniano, é
“[...] when a system of cultural values extols, virtually above all else, certain common
success-goals for the population at large while the social structure rigorously restricts
or completely closes access to approved modes of reaching these goals for a
considerable part of the same population, that deviant behavior ensues on a large scale.
[...] Goals are held to transcend class lines, not to be bounded by them, yet the actual
social organization is such that there exist class differentials in accessibility of the
goals. In this setting, a cardinal American virtue, “ambition,” promotes a cardinal
American vice, “deviant behavior.”28

entre fins culturalmente designados e meios torna-se altamente instável com a progressiva ênfase na
consecução dos fins carregados de prestígio, por quaisquer meios que sejam.” (Tradução da autora).
27
Na percepção de ALBERT COHEN, a ambição como virtude compõe o rol dos padrões da classe
média americana e é primariamente aplicável ao papel masculino: “Ambition is a virtue; its absence is a
defect and a sign of maladjustment. Ambition means a high level of aspiration, aspiration for goals
difficult of achievement. It means also an orientation to long-run goals and long-deferred rewards.”
COHEN, Albert K. Delinquent boys: the culture of the gang. London: Routledge & Kegan Paul, 1956. p.
88. “A ambição é uma virtude; sua ausência é um defeito e um sinal de mau ajustamento. A ambição
significa um alto nível de aspiração, aspiração por objetivos de difícil realização. Ela significa também
uma orientação para objetivos de longo prazo e recompensas longamente adiadas.” (Tradução da autora).
28
É “quando um sistema de valores culturais enaltece, virtualmente sobre todos os demais, certos
objetivos comuns de sucesso para a população em geral, enquanto a estrutura social rigorosamente
restringe ou fecha completamente o acesso aos modos aprovados de alcançar estes objetivos para uma
parte considerável da mesma população, que o comportamento desviante se segue em larga escala. [...]
Objetivos são mantidos para transcender as fronteiras de classe, não para ser limitados por estas, contudo
a real organização social é tal que existem diferenciais de classe na acessibilidade dos objetivos. Neste

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Seguindo em frente em suas reflexões, Robert Merton se dedica à tentativa de
explicação, a partir de sua teoria, das variantes correlações entre o crime e a pobreza. Na
sua avaliação, “pobreza” não representa uma variável isolada, contudo apenas uma em
um complexo de variáveis socioculturais interdependentes, dentro da cadeia causal do
delito. “Poverty as such and consequent limitation of opportunity are not enough to
produce a conspicuously high rate of criminal behavior”,29 sublinha o doutrinador. Não
menos incisiva é a afirmação de Harry Barnes e Negley Teeters: “Poverty alone and per
se is rarely a cause of crime.”30 É quando, prossegue Robert Merton, o fator “pobreza”
e outros elementos de desvantagem para competir na luta pelos valores culturais —
aprovados para todos os componentes da sociedade — encontram-se associados com a
acentuação cultural do sucesso econômico como um escopo dominante que a
conseqüência natural se revela na explosão de altas taxas de comportamento
delinqüente. Neste ponto, objetivando comprovar a sua tese, ele faz uma interessante
comparação entre as fontes da criminalidade nos Estados Unidos e no Sudeste europeu.
As estatísticas “cruas” sobre o crime, que o autor reconhece não serem necessariamente
confiáveis, sugerem que a pobreza está menos intensamente ligada ao delito na
sociedade européia do sudeste que na sociedade americana, embora na primeira,
aparentemente, as chances de ascensão na escala econômica sejam menos promissoras,
o que significa que nem a pobreza nem sua associação com a restrição das
oportunidades podem ser apontadas como os únicos e isolados vilões da criminalidade.
O quadro da correlação pobreza-delinqüência somente parece conhecer a sua

cenário, uma virtude americana cardeal, “ambição,” promove um vício americano cardeal,
“comportamento desviante.” MERTON, Robert K. Op. cit., p. 200. (Tradução da autora).
29
“A pobreza como tal e a conseqüente limitação da oportunidade não são suficientes para produzir uma
taxa visivelmente alta de comportamento criminoso.” Ibidem, p. 201. (Tradução da autora).
30
“A pobreza isoladamente e per se é raramente uma causa de crime.” BARNES, Harry Elmer;
TEETERS, Negley K. New horizons in criminology. 2nd ed. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1945.
p. 170. (Tradução da autora). Nessa linha, ROQUE ALVES argumenta que a simples melhora das
condições materiais de vida, isoladamente, não configura um instrumento definitivo na luta contra o
fenômeno delitivo: “Os defensores da tese de que a melhoria das condições materiais de vida é o método
mais útil ou eficaz para combater o crime e diminuir a delinqüência não se apercebem que tal melhoria
diz respeito apenas às condições sócio-econômicas de vida, esquecendo-se que se devem ter em
consideração, no fenômeno do crime, todos os outros fatores, inclusive as condições políticas, morais e
culturais, afinal, e não ficar somente numa certa faixa de causas. Procura desconhecer tal teoria, também,
que a melhoria das condições sócio-econômicas não reduziu a criminalidade em diversas nações como os
Estados Unidos, a República Federal da Alemanha, a França, a Inglaterra etc. Dito progresso pode reduzir
ou até mesmo eliminar algumas espécies de delitos, mas outras formas de delinqüência surgirão
inevitavelmente em virtude dos novos aspectos da nova ordem sócio-econômica.” ALVES, Roque de
Brito. Conferências pronunciadas na Europa. Recife, 2004. p. 200.

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completude quando o conjunto das pinceladas composto pela pobreza, pela limitação
das oportunidades e pela indicação dos fins culturais se faz presente:
“However, when we consider the full configuration — poverty, limited opportunity and
the assignment of cultural goals — there appears some basis for explaining the higher
correlation between poverty and crime in our society than in others where rigidified
class structure is coupled with differential class symbols of success.”31
Em termos simplificados, se, em determinado país, o indivíduo é pobre, encontra uma
estrutura social que não lhe oferta as mesmas oportunidades de outros, situados em
estratos sociais superiores, mas seus fins culturais (objetivos culturalmente designados)
não são excessivamente elevados, ele será menos pressionado pela cultura e estará
menos suscetível ao enveredamento pelas sendas do crime, em contraste com um
sujeito, vivendo em um segundo país, em semelhantes condições sociais, cujos fins
culturais residam em um patamar de aspirações bem mais alto. É neste último caso que
a ambição pode se converter de virtude em vício social.32 Pior ainda, a ambição social
desmedida, em seu último estágio, pode inclusive desaguar em anomia (logicamente
esta não é a situação da sociedade americana). É por tal motivo que o modo de
adaptação individual da inovação não pode ser o dominante em uma sociedade, sob
pena desta ruir. Ao discorrer sobre o suicídio anômico e suas causas, Durkheim nota,
em Le suicide, que as crises favoráveis, cujo efeito é incrementar bruscamente a
prosperidade de um país, ostentam efeitos sobre as taxas de suicídio semelhantes aos
ocasionados por desastres econômicos, bem como realça que, quando a prosperidade
aumenta, os desejos se exaltam:
“A caça mais rica que lhes é oferecida estimula-os, torna-os mais exigentes, mais
indóceis a qualquer regra, justamente quando as regras tradicionais perderam sua
autoridade. O estado de desregramento ou anomia, portanto, ainda é reforçado pelo fato

31
“No entanto, quando consideramos a configuração completa — pobreza, oportunidade limitada e a
designação de objetivos culturais — parece haver aí alguma base para explicar a maior correlação entre
pobreza e crime em nossa sociedade que em outras onde a estrutura de classe tornada rígida está
associada a símbolos de classe diferenciais de sucesso.” MERTON, Robert K. Op. cit., p. 201. (Tradução
da autora).
32
Na opinião de HARRY BARNES e NEGLEY TEETERS, a inveja e a ambição, muito mais que a fome
ou o frio, estão na raiz de muitos delitos que eles denominam “banais”: “It is envy and ambition, rather
than hunger or cold, that stimulate many petty crimes, in the same way that greed urges on the big-time
criminals.” BARNES, Harry Elmer; TEETERS, Negley K. Op. cit., p. 177. “São a inveja e a ambição,
mais que a fome ou o frio, que estimulam muitos crimes banais, da mesma maneira que a cobiça incita os
grandes criminosos.” (Tradução da autora).

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de as paixões estarem menos disciplinadas no próprio momento em que teriam
necessidade de uma disciplina mais vigorosa. Mas então suas próprias exigências
tornam impossível satisfazê-las. As ambições superexcitadas vão sempre além dos
resultados obtidos, sejam eles quais forem, pois elas não são advertidas de que não
devem avançar mais. Nada as contenta, portanto, e toda essa agitação alimenta a si
mesma, perpetuamente, sem conseguir saciar-se. Principalmente, como essa corrida
atrás de um botim acessível não pode proporcionar outro prazer que não o da própria
corrida, se é que existe prazer, quando ela é entravada, fica-se com as mãos vazias. Ora,
acontece que ao mesmo tempo a luta se torna mais violenta e mais dolorosa, por ser
menos regrada e porque as competições são mais ardorosas. Todas as classes brigam
porque não há mais classificação estabelecida.”33
Após confrontar as sociedades americana e européia do sudeste, Robert Merton testifica
que as vítimas do descompasso entre a estrutura cultural, que lhes impõe o sucesso

33
DURKHEIM, Émile. O suicídio: estudo de sociologia. Op. cit., p. 321-322. HERMANN MANNHEIM,
ao comentar a ênfase da sociedade ianque, sem a devida atenção a limites, na realização do American
dream, pela ótica mertoniana, não deixa de evidenciar que tal constatação faz lembrar a ênfase posta por
Durkheim no caráter ilimitado das ambições humanas: “Na cultura americana contemporânea ter-se-á
atingido, segundo MERTON, um estádio em que a tónica se coloca primacialmente sobre a obtenção de
certos objectivos, sem se prestar grande atenção ao problema de saber se é possível atingir aqueles
objectivos por meios legalmente sancionados. O American dream não comporta nenhuma limitação na
senda do sucesso [...], constatação que recorda a ênfase colocada por DURKHEIM no carácter ilimitado
das ambições humanas. O sucesso monetário desempenha o papel decisivo neste American dream. E há
toda uma inabarcável “literatura sugestiva” que mantém uma pressão muito intensa sobre os indivíduos,
induzindo-os na busca permanente do sucesso, o que tem como reverso a estigmatização negativa dos que
falham nesta corrida. A luta pelo sucesso monetário não é exclusiva da sociedade americana, nem
constitui obviamente o seu único vector”. Op. cit., p. 770. Por outro lado, DURKHEIM também esmiuça,
na mesma obra O suicídio, um cenário de uma sociedade saudável, na qual a atitude típica é a
conformista, as paixões são dominadas e os desejos controlados, sem que isto implique imobilidade para
o indivíduo: “Sob essa pressão, cada um, em sua esfera, percebe vagamente o ponto extremo ao qual
podem chegar seus apetites e não aspira a nada além. Se, pelo menos, é respeitador da regra e dócil à
autoridade coletiva, ou seja, se tem uma constituição moral sadia, ele sente que não deve exigir mais.
Assim, está marcado um fim e um termo para as paixões. Sem dúvida, essa determinação nada tem de
rígido ou absoluto. O próprio ideal econômico atribuído a cada categoria de cidadão está contido entre
certos limites dentro dos quais os desejos podem mover-se livremente. Mas ele não é ilimitado. Essa
limitação relativa e a moderação resultante dela fazem os homens se contentarem com sua sorte ao
mesmo tempo que (sic) os estimulam comedidamente a torná-la melhor; e é esse contentamento médio
que dá origem ao sentimento de alegria calma e ativa, ao prazer de existir e de viver que, tanto para as
sociedades como para os indivíduos, é característica da saúde. Cada um, pelo menos em geral, está então
em harmonia com sua condição e só deseja o que pode esperar legitimamente como preço normal de sua
atividade. Por outro lado, nem por isso o homem está condenado a uma espécie de imobilidade. Ele pode
procurar embelezar sua existência; mas as tentativas que faz nesse sentido podem não ser bem-sucedidas
sem o deixar desesperado. Pois, como ele gosta do que tem e não empenha toda a sua paixão em buscar o
que não tem, as novidades às quais lhe ocorre aspirar podem não atender a seus desejos e a suas
esperanças sem que tudo lhe falte de uma vez. Permanece-lhe o essencial. O equilíbrio de sua felicidade é
estável porque é definido, e algumas decepções não serão suficientes para perturbá-lo.” DURKHEIM,
Émile. O suicídio: estudo de sociologia. Op. cit., p. 317.

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econômico como meta, e a estrutura social, que lhes recusa oportunidades iguais,
conquanto freqüentemente estejam conscientes da defasagem entre mérito individual e
recompensas sociais, nem sempre vislumbram a causa dessa situação ou distinguem as
fontes estruturais de suas aspirações frustradas. Aqueles que identificam a origem do
problema na estrutura social podem se rebelar contra essa mesma estrutura e contra os
próprios fins culturais, enquadrando-se na quinta forma de adequação individual,
batizada precisamente como rebellion. A grande maioria, no entanto, parece atribuir
suas dificuldades a motivos mais místicos e menos sociológicos. Ocorre que as
sociedades mais estáveis e bem governadas tendem a privilegiar e premiar os frutos do
mérito, da honestidade, da aplicação, do esforço pessoal e da bondade, enquanto as
sociedades anômicas se inclinam para a valorização dos frutos da superstição e dos
trabalhos da Fortuna, Casualidade ou Sorte. Na primeira, impera o trabalhador, o
competente, o virtuoso; na segunda, o preguiçoso, o malandro, o perverso. Na primeira,
as conquistas de um indivíduo são associadas aos seus méritos e ao seu esforço pessoal;
na segunda, são atribuídas a causas menos visíveis ou menos ditadas pela razão. Neste
último solo, a semente do misticismo germina mais livremente, pois há pouca relação
entre o mérito e as conseqüências. É o que, escudado em Gilbert Murray, sugere Robert
Merton.34
Indo adiante, o pensador funcionalista observa que, na sociedade americana, tanto os
eminentemente “bem-sucedidos” quanto os “malsucedidos” não raramente justificam o
resultado como obra da sorte. Contudo, as funções de tais referências variam consoante
a situação dos formuladores destas. Os bem-sucedidos, psicologicamente falando,
utilizam essas menções como uma expressão de modéstia, que desarma os espíritos. Em
nível sociológico, a doutrina da sorte, da perspectiva deles, abriga a dupla função de
explicar o continuado descompasso entre o mérito e a recompensa e de proteger de
crítica uma estrutura social que tolera que semelhante defasagem se torne freqüente. O
raciocínio pode ser assim elaborado: se o sucesso é primariamente uma questão de sorte,
se está na natureza cega das coisas, então certamente ele está além de qualquer controle
e acontecerá na mesma proporção em qualquer tipo de estrutura social. Já para os
malsucedidos e especialmente para aqueles entre estes que encontram pouca
recompensa pelo seu mérito e esforço, a doutrina em exame, em termos psicológicos,
34
Cf. MERTON, Robert K. Op. cit., p. 201-202.

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possibilita-lhes conservar a auto-estima diante do fracasso. Pelo matiz sociológico, ela
pode revelar um fracasso em compreender a engrenagem do sistema socioeconômico.
Neste sentido, a doutrina em comento pode ser disfuncional à medida que elimina a
idéia por trás da luta por mudanças estruturais que proporcionem maior eqüidade na
distribuição das oportunidades e das recompensas. E, para o autor, é esse contexto de
tendência direcionada para a busca da sorte e o gosto pelo risco, acentuado pela tensão
das aspirações frustradas, que pode fornecer relevantes subsídios para a explicação de
uma forma de atividade institucionalmente proibida ou, no máximo, mais tolerada que
desejada: o marcante interesse pelo jogo dentro de certa camada social (segundo ele,
referindo R. A. Warner e Harold F. Gosnell, caso dos negros pobres).35
Ao extremo, o emprego da doutrina da sorte pode convidar, na visão mertoniana, à
resignação e à atividade dominada pela rotina, o que corresponde ao tipo adaptativo do
ritualismo, ou à passividade fatalística característica de outro modo de adequação
individual, a evasão. Mas há aqueles que afastam o uso da doutrina da sorte para
justificar a contradição entre a estrutura cultural e a estrutura social e passam a assumir
uma atitude individuada e cínica com respeito à segunda, cuja melhor expressão está
contida na frase: “não é o que você sabe, mas quem você conhece, que conta”. 36 Na
sociedade brasileira, um equivalente poderia ser reconhecido no jogo envolvendo a
substituição das palavras componentes da abreviatura “Q.I.” (“quociente ou coeficiente
de inteligência” por “que indica”, estas últimas reportando-se à prática de obtenção de
emprego, colocação ou vantagem pela via nepotista e não pela do mérito pessoal).
É mister salientarmos ainda que a inovação, na teoria mertoniana, pressupõe a
socialização imperfeita dos indivíduos, os quais mantêm o escopo cultural do sucesso,
porém abandonam os meios legítimos.37
Como atos criminosos corriqueiros, de pequeno nível de danosidade social, não
habilitam, em princípio, à consecução de sucesso econômico, infere Howard Abadinsky

35
Cf. MERTON, Robert K. Op. cit., p. 202-203. Na realidade, parece-nos que a doutrina da sorte não é
um privilégio ou deficiência tão-somente da sociedade americana, mas também de muitas outras
sociedades ocidentais, senão todas, variando apenas o seu grau de difusão. No caso do jogo, exempli
gratia, lembremos o gosto do brasileiro pelas loterias, pelo bingo e até pelas suas modalidades ilícitas,
como as praticadas nos cassinos clandestinos e o jogo do bicho, embora tal gosto não esteja
aparentemente ligado apenas aos estratos sociais inferiores e muito menos a uma única raça.
36
Cf. ibidem, p. 203.
37
A respeito das considerações apresentadas sobre a inovação, ver FERRO, Ana Luiza Almeida. Op. cit.,
p. 47-62, em que cuidamos do mesmo tema.

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que a inovação, na prática, is “the adoption of sophisticated, well-planned, skilled,
organized criminality”.38

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conceito de anomia mertoniano configura um desenvolvimento da concepção


durkheimiana de relativa ausência de normas em uma sociedade ou grupo. Em Robert
Merton, não obstante as diferentes formulações empregadas, prevalece a idéia de
“ruptura da estrutura cultural”. Anomia, explicita ele,
“[...] is then conceived as a breakdown in the cultural structure, occurring particularly
when there is an acute disjunction between the cultural norms and goals and the
socially structured capacities of members of the group to act in accord with them.”39
Tal quer dizer que os dois conceitos, o de Durkheim e o de Robert Merton, não são
equivalentes, pois, no respeitante ao último, anomia não é apenas “desmoronamento” ou
“crise”
“[...] de alguns valores ou normas em razão de determinadas circunstâncias sociais (o
desenvolvimento econômico avassalador, o processo industrializador com todas as suas
implicações), senão, antes de tudo, o sintoma ou expressão do vazio que se produz
quando os meios socioestruturais existentes não servem para satisfazer as expectativas
culturais de uma sociedade.”40
A estrutura sociocultural, sob o prisma mertoniano, exerce uma pressão sobre os
membros da sociedade, que pode levar à anomia e ao comportamento desviante, entre
os quais o considerado criminoso. A pressão é orientada para a superação contínua dos
competidores. Todavia, nem sempre esse sistema competitivo resulta em anomia. Isto

38
“[...] é a adoção da criminalidade organizada, sofisticada, bem planejada, especializada”.
ABADINSKY, Howard. Organized crime. 7th ed. Belmont, California: Wadsworth, 2003. p. 34.
(Tradução da autora).
39
“[...] é então concebida como uma ruptura na estrutura cultural, ocorrendo particularmente quando há
uma aguda disjunção entre as normas e objetivos culturais e as capacidades socialmente estruturadas de
membros do grupo para agirem em conformidade com eles.” MERTON, Robert K. Op. cit., p. 216.
(Tradução da autora).
40
GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, Antonio. A moderna Criminologia “científica” e os diversos
modelos teóricos. Biologia Criminal, Psicologia Criminal e Sociologia Criminal. In: GARCÍA-PABLOS
DE MOLINA, Antonio; GOMES, Luiz Flávio. Op. cit., p. 255.

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somente ocorre quando a ênfase cultural se transfere das satisfações derivadas da
competição em si para a preocupação quase exclusiva com o resultado:
“So long as the sentiments supporting this competitive system are distributed
throughout the entire range of activities and are not confined to the final result of
“success,” the choice of means will remain largely within the ambit of institutional
control. When, however, the cultural emphasis shifts from the satisfactions deriving
from competition itself to almost exclusive concern with the outcome, the resultant
stress makes for the breakdown of the regulatory structure.”41

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABADINSKY, Howard. Organized crime. 7th ed. Belmont, California: Wadsworth,


2003. 408 p.
ALVES, Roque de Brito. Conferências pronunciadas na Europa. Recife, 2004. 252 p.
BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução à
sociologia do direito penal. Tradução de Juarez Cirino dos Santos. 2. ed. Rio de Janeiro:
Freitas Bastos/Instituto Carioca de Criminologia, 1999. 254 p. (Coleção Pensamento
Criminológico).
BARNES, Harry Elmer; TEETERS, Negley K. New horizons in criminology. 2nd ed.
Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1945. 887 p.
COHEN, Albert K. Delinquent boys: the culture of the gang. London: Routledge &
Kegan Paul, 1956. 202 p.
DIAS, Jorge de Figueiredo; ANDRADE, Manuel da Costa. Criminologia: o homem
delinquente e a sociedade criminógena. Coimbra: Coimbra Editora, 1992. 573 p.
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. Tradução de Paulo Neves. 2. ed.
São Paulo: Martins Fontes, 1999. 165 p. (Coleção Tópicos).

41
“Enquanto os sentimentos sustentando este sistema competitivo estão distribuídos pelo inteiro campo
das atividades e não estão confinados ao resultado final de “sucesso,” a escolha dos meios permanecerá
em grande parte dentro do âmbito do controle institucional. Quando, entretanto, a ênfase cultural se
desloca das satisfações derivadas da competição em si para a preocupação quase exclusiva com a
conseqüência, o “stress” resultante contribui para a ruptura da estrutura reguladora.” MERTON, Robert
K. Op. cit., p. 211. (Tradução da autora). Sobre o assunto, ver igualmente FERRO, Ana Luiza Almeida.
Op. cit., p. 78-81.

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DURKHEIM, Émile. O suicídio: estudo de sociologia. Tradução de Monica Stahel. São
Paulo: Martins Fontes, 2000. 515 p. (Coleção Tópicos).
FERRO, Ana Luiza Almeida. Robert Merton e o funcionalismo. Belo Horizonte:
Mandamentos, 2004. 104 p. (Coleção Ciências Criminais, 11).
GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, Antonio. A moderna Criminologia “científica” e os
diversos modelos teóricos. Biologia Criminal, Psicologia Criminal e Sociologia
Criminal. In: GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, Antonio; GOMES, Luiz Flávio.
Criminologia: introdução a seus fundamentos teóricos. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1997. p. 171-299.
HASSEMER, Winfried. Fundamentos del derecho penal. Traducción de Francisco
Muñoz Conde y Luis Arroyo Zapatero. Barcelona: Bosch, 1984. 428 p.
LYMAN, Michael D.; POTTER, Gary W. Organized crime. 2nd ed. New Jersey:
Prentice Hall, 1999. 536 p.
MANNHEIM, Hermann. Criminologia comparada. Tradução de J. F. Faria Costa e M.
Costa Andrade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, [1984-85]. v. 2.
MERTON, Robert K. Social theory and social structure. New York: The Free Press,
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ROSA, Felippe Augusto de Miranda. Sociologia do direito: o fenômeno jurídico como
fato social. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1975. 230 p.
SUTHERLAND, Edwin H. White collar crime: the uncut version. New Haven/London:
Yale University Press, 1983. 291 p.

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