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W&N | Gustavo Afonso Martins

De: Cristiane Bonfanti, do JOTA | Direto da Corte <contato@jota.info>


Enviado em: quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023 19:34
Para: W&N | Gustavo Afonso Martins
Assunto: Coisa julgada: STF nega modulação, e contribuintes devem recolher CSLL
desde 2007

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DIRETO DA CORTE (STF e STJ)


8 de fevereiro de 2023

 Coisa julgada: STF nega modulação, e contribuintes devem recolher


CSLL desde 2007
 STJ reverte decisão transitada em julgado e restabelece cobrança de
IPI

Coisa julgada: STF nega


modulação, e contribuintes
devem recolher CSLL desde
2007
PLENÁRIO

Processos: RE 949297 e RE 955227 (Temas 881 e 885)


Partes: União X TBM – Têxtil Bezerra de Menezes S.A e Braskem S/A
Relatores: Edson Fachin e Luís Roberto Barroso

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Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) determinaram que os
contribuintes com decisão favorável transitada em julgada permitindo o não
pagamento da CSLL serão obrigados a voltar a pagar o tributo desde 2007,
data em que a Corte reconheceu a constitucionalidade da contribuição no
julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade 15.

A definição é resultado da conclusão do julgamento, nesta quarta-feira (8/2),


dos dois recursos extraordinários que discutem os limites da coisa julgada em
matéria tributária. Trata-se do RE 949297 e do RE 955227, elencados nos
Temas 881 e 885 da repercussão geral.

Por unanimidade, os ministros definiram que um contribuinte que obteve uma


decisão judicial favorável com trânsito em julgado permitindo o não pagamento
de um tributo perde automaticamente o seu direito diante de um novo
entendimento do STF que considere a cobrança constitucional. O
entendimento é que a cessação de efeitos da coisa julgada é automática
diante de uma nova decisão do STF, não sendo necessário que a União ajuíze
ação revisional ou rescisória.

No entanto, os ministros negaram, por 6X5 votos, o pedido de modulação de


efeitos formulado pelos contribuintes. O pleito era para que a decisão de hoje
tivesse efeitos a partir da publicação da ata de julgamento de mérito dos
recursos. Na prática, isso permitiria que a União cobrasse o tributo apenas a
partir de 2023. Com a negativa, a cobrança poderá ser retroativa a 2007.

Por outro lado, por 6X5 votos, ficou acordado que, caso o STF julgue um
tributo constitucional, a cobrança deverá respeitar as anterioridades anual e
nonagesimal, a depender do tributo, para começar a valer. No caso da CSLL,
por exemplo, aplica-se apenas a noventena.

Os ministros fixaram a seguinte tese, proposta pelo ministro Luís Roberto


Barroso:

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“1. As decisões do STF em controle incidental de constitucionalidade,
anteriores à instituição do regime de repercussão geral, não impactam
automaticamente a coisa julgada que se tenha formado, mesmo nas relações
jurídicas tributárias de trato sucessivo.

2. Já as decisões proferidas em ação direta ou em sede de repercussão geral


interrompem automaticamente os efeitos temporais das decisões transitadas
em julgado nas referidas relações, respeitadas a irretroatividade, a
anterioridade anual e a noventena ou a anterioridade nonagesimal, conforme a
natureza do tributo”.

Votos

Na semana passada, os ministros já haviam formado placar de 9X0 pela


quebra automática dos efeitos da coisa julgada em matéria tributária. No
entanto, os magistrados divergiam quanto à modulação de efeitos. Três
ministros – Edson Fachin, Nunes Marques e Luiz Fux – votaram pela
modulação, ou seja, para que a decisão produzisse efeitos a partir da ata de
julgamento do presente julgamento. Assim, o contribuinte teria de pagar o
tributo apenas daqui para frente. Os demais entendiam que o pagamento
deveria começar em 2007 – data em que o STF definiu que a CSLL era
constitucional.

Na abertura da sessão desta quarta-feira, o ministro Dias Toffoli, que antes era
contrário à modulação, alterou o seu voto e passou a acompanhar o ministro
Edson Fachin, pela produção de efeitos a partir de 2023, ou seja, após a
conclusão do julgamento da coisa julgada.

O ministro Ricardo Lewandowski, por sua vez, apresentou seu voto nesta
quarta-feira e também foi favorável à modulação. O magistrado mostrou-se
preocupado com a proteção da coisa julgada. Para ele, a não modulação
significa a flexibilidade da coisa julgada. Lewandowski lembrou ainda que, em
nenhum momento da discussão da ADI 15 colocou-se o afastamento da coisa
julgada como parte dos efeitos da decisão.

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“Não é possível exigir agora, abruptamente, esse entendimento por parte dos
contribuintes”, defendeu o ministro. Com esse raciocínio, o ministro
acompanhou integralmente o voto do ministro Edson Fachin, relator de um dos
recursos extraordinários em análise.

Já a ministra Rosa Weber, que também apresentou seu voto nesta quarta-
feira, acompanhou o ministro Luís Roberto Barroso, pela não modulação, de
modo que a cobrança dos tributos seja válida a partir de 2007. Na opinião da
magistrada, a modulação traria maior insegurança jurídica. A ministra defendeu
que é preciso proteger a isonomia tributária. Rosa argumentou ainda que a não
modulação dos efeitos da decisão não rompe a legítima expectativa dos
contribuintes porque desde 2007 há uma decisão do Supremo entendendo
pela constitucionalidade da CSLL.

Além de Rosa Weber e Luís Roberto Barroso, os ministros contrários à


modulação foram Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Alexandre de Moraes e
André Mendonça.

Entenda o caso

Ambos os casos dizem respeito à CSLL, mas o julgamento também impactará


outros tributos pagos de modo continuado. A discussão sobre a CSLL envolve,
sobretudo, grandes empresas, de diversos setores, que obtiveram na Justiça o
direito de não recolher esse tributo. Além das empresas que são partes nos
processos – TBM Têxtil e Braskem –, companhias como a mineradora
Samarco e o Grupo Pão de Açúcar podem ser atingidas pela decisão.

Nos anos 1990, essas empresas conseguiram na Justiça o reconhecimento da


inconstitucionalidade da CSLL, instituída pela Lei 7689/89. Entre outros
motivos, os juízes entenderam que a criação da CSLL não foi precedida de lei
complementar nem respeitou o princípio da anterioridade, segundo o qual um
tributo não pode ser cobrado no mesmo exercício financeiro em que foi
instituído.

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Em 2007, porém, o STF declarou o tributo constitucional no julgamento da ADI
15. Para a União, essa declaração do STF permite ao fisco lançar e cobrar
automaticamente o tributo, sem a necessidade de uma ação revisional ou
rescisória — argumento acolhido agora pelos relatores.

Julgamento pode impactar outros tributos

Embora o caso concreto diga respeito à CSLL, a decisão do STF poderá ter
impacto sobre a cobrança de outros tributos pagos de forma continuada e com
mudanças jurisprudenciais semelhantes, como a controvérsia envolvendo o
recolhimento de Cofins pelas sociedades prestadoras de serviços.

A discussão gira em torno de uma isenção prevista na LC 70/1991,


posteriormente revogada pela Lei 9.430/1996. Devido à revogação de um
instituto constante em lei complementar por uma lei ordinária, contribuintes
foram à Justiça, conseguindo decisões considerando a revogação
inconstitucional.

Em 2018, porém, o Supremo se posicionou pela regularidade da revogação,


fixando a tese de que “é legítima a revogação da isenção estabelecida no art.
6º, II, da Lei Complementar 70/1991 pelo art. 56 da Lei 9.430/1996, dado que a
LC 70/1991 é apenas formalmente complementar, mas materialmente ordinária
com relação aos dispositivos concernentes à contribuição social por ela
instituída”.

Decisão privilegia autoridade dos precedentes do STF, diz


Fazenda

Para Paulo Mendes de Oliveira, procurador da Fazenda Nacional e


coordenador-geral da atuação da PGFN no STF, a decisão privilegia a força
dos precedentes da Corte e leva em consideração o posicionamento da
procuradoria publicado desde 2011 sobre o tema. Oliveira faz referência ao
Parecer 492/11, por meio do qual a PGFN definiu administrativamente a

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possibilidade de cessação dos efeitos da coisa julgada em matéria tributária.

“As razões de decidir de precedentes do STF, mesmo que em temas não


tributários, guiaram o julgamento de hoje. Além disso, o STF chancelou o que
a Fazenda Nacional reconhece administrativamente desde 2011”, afirmou
Mendes.

O procurador da Fazenda Nacional Cláudio Xavier Seefelder também ressaltou


que o julgamento fez valer a jurisprudência do STF, a força normativa da
Constituição e a autoridade dos precedentes do STF. “A coisa julgada deve
valer para o passado, e não infinitamente para o futuro. O que o STF fez foi
falar que só vale para o futuro até a decisão do Supremo”, disse o procurador.

Contribuintes estudam rediscutir modulação

Para a advogada Gláucia Lauletta, do escritório Mattos Filho, que representa a


TBM – Têxtil Bezerra de Menezes S.A no RE 949297, os ministros que
compreenderam os fatos envolvendo a discussão da CSLL naturalmente se
inclinaram pela modulação. O que estava em discussão, afirmou, não era se a
CSLL era devida ou não, mas sim a coexistência de duas decisões – a anterior
favorável ao contribuinte e um novo entendimento do STF contrário.

“Ninguém duvidou que, desde 2007, o STF manifestou entendimento de que a


CSLL é devida. Isso é inquestionável. O que estava em jogo era saber se a
decisão do STF em controle concentrado [no julgamento de uma ADI] afetaria
ou não as decisões individuais. E isto foi apreciado pela primeira vez agora”,
disse Lauletta.

Mesmo com a decisão contrária à modulação, os contribuintes estudam


debater novamente o assunto por meio de embargos de declaração. Para
Lauletta, o julgamento concluído hoje traz uma omissão em relação à
jurisprudência firmada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 2011, sob a
sistemática de recurso repetitivo, no Tema 340. Neste caso, que envolveu

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também a cobrança da CSLL, o STJ definiu que “o fato de o Supremo Tribunal
Federal posteriormente manifestar-se em sentido oposto à decisão judicial
transitada em julgado em nada pode alterar a relação jurídica estabilizada pela
coisa julgada, sob pena de negar validade ao próprio controle difuso de
constitucionalidade”.

Na visão da advogada, entre outros argumentos, a mudança jurisprudencial


em relação a esse julgado do STJ justificaria a modulação de efeitos. “Eu
entendo que alguns ministros não se manifestaram sobre esse precedente do
STJ, que reconhecia a prevalência da coisa julgada”, afirmou Lauletta.

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Seguindo STF, STJ reverte


decisão transitada em julgado
e restabelece cobrança de IPI
1ª SEÇÃO

Processo: AR 6015/SC
Partes: Sindicato das Empresas de Comércio Exterior do Estado de Santa
Catarina X Fazenda Nacional
Relator: Gurgel Faria

A conclusão do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quarta


(08/02), sobre a coisa julgada em matéria tributária, influenciou as discussões
na 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Por unanimidade os
magistrados restabeleceram a cobrança do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) na revenda de produtos estrangeiros mesmo com a
existência de uma ação transitada em julgado em sentido contrário.

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A decisão se deu na Ação Rescisória (AR) 6015, em que a Fazenda Nacional
buscou reverter julgamento do próprio STJ favorável ao Sindicato das
Empresas de Comércio Exterior do Estado de Santa Catarina, no REsp
1427246/SC. A decisão, que transitou em julgado em 2015, afastava a
cobrança do IPI sobre a saída de produtos estrangeiros do estabelecimento do
importador.

Após o julgamento, no entanto, o tema foi decidido de forma desfavorável aos


contribuintes, isto é, para obrigá-los a pagar o IPI, tanto em sede de recurso
repetitivo, pelo STJ (Tema 912), quanto de repercussão geral, pelo STF (Tema
906).

O relator da ação analisada nesta quarta, ministro Gurgel Faria, deu parcial
provimento ao pedido para restabelecer a cobrança do IPI, fixando, no entanto,
um marco temporal para seu início: a partir de 2020, quando o STF
estabeleceu o tema 906, favorável à incidência do tributo.

Os demais ministros acompanharam o julgador de forma unânime. Os


magistrados citaram como motivo a decisão desta quarta do STF, favorável à
cessação automática da eficácia de decisão transitada em julgado quando há
entendimento superveniente de que a tributação é constitucional.

O ministro Mauro Campbell havia aberto divergência no conhecimento,


alegando que não seria necessário analisar a ação rescisória, uma vez que,
conforme a decisão do STF, a quebra da coisa julgada será automática. O voto
pelo não conhecimento foi acompanhado pelas ministras Assusete Magalhães
e Regina Helena Costa.

Ao ficarem vencidos no conhecimento, no entanto, os três julgadores


acompanharam o relator pelo restabelecimento da cobrança do IPI, formando o
placar unânime.

Leia mais

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 Coisa julgada: com maioria formada, contribuintes pleiteiam modulação
no STF
 STJ: sócio não pode ser cobrado automaticamente por dívidas da
empresa
 Voto de qualidade: possível acordo movimenta STF e gera suspensão
de sessões no Carf

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Cristiane Bonfanti
Repórter

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Flávia Maia
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Mariana Branco
Repórter

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