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Tutor:
Pemba
2021
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Laina Elvira Felizberto Muanga
Tutor:
Pemba
2021
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Índice
1. Introdução............................................................................................................................ 4
1.1. Objectivos ........................................................................................................................ 5
1.1.1. Objectivos gerais ............................................................................................................... 5
1.1.2. Objectivos específicos ....................................................................................................... 5
1.2. Metodológia ..................................................................................................................... 5
2. Referencial Teórico .............................................................................................................. 6
2.1. O paradigma dominante.................................................................................................... 6
2.2. A crise do paradigma dominante....................................................................................... 7
2.3. O paradigma emergente ........................................................................................................ 7
2.3. O impacto intelectual de Um discurso sobre as ciências .................................................... 9
3. Conclusão .......................................................................................................................... 12
Bibliográfia ............................................................................................................................... 14
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1. Introdução
A análise do Discurso é um campo de estudo fundado na França, nos fins do ano de 1960. Vários
fatores influenciaram o seu surgimento, os principais podem ser encontrados nos intensos debates
filosóficos em torno da epistemologia, ou seja, do estudo do conhecimento.
Para também entender a razão pela qual um objeto tão abstrato como o conhecimento se vai
desenvolvendo, até atingir níveis cada vez mais complexos como a ciência, e da ciência à
tecnologia, deve-se conhecer os elementos que a conformam. As ciências precisam, de alguma
maneira, legitimar ou provar que as conclusões às que chegaram são verdadeiras. As condições se
apresentam nos campos de estudo; por um lado a natureza que leva um ritmo que se repete
constantemente sob certas condições, e por outro lado temos ao homem cuja vontade e
movimentos são mutantes e diferentes entre as diversas pessoas; põem em tela de juízo a ideia
sobre um mesmo método científico que pode servir para ambas as ciências.
Comecemos por entender alguns elementos que nos ajudariam a conhecer mais sobre as ciências,
sobre o nascimento de um paradigma, ou seja, de um padrão dominante que atinge uma crise e
posteriormente emerge após romper o senso comum. Nada melhor que a obra de Boaventura para
estudar sobre esse assunto. O título indica que se trata de ciências, que no texto aparecem
divididas em duas grandes categorias: as ciências naturais e as ciências sociais. O livro é
constituído por três partes: a primeira sobre “O paradigma dominante”; a segunda sobre “A crise
do paradigma dominante”; a terceira sobre “O paradigma emergente”.
O livro “Um Discurso Sobre as Ciências” trata-se, portanto, da intervenção no debate sobre a
ciência e apresenta uma crítica profunda ao estudo da teoria positivista. O discurso fica por vezes
denso, mas dissolve-se na proximidade de uma solução, no final de cada capítulo. Nunca se sente
uma ruptura de ideias, enquanto o autor transforma o seu discurso científico num discurso cada
vez mais próximo do discurso literário, um discurso natural. Assim, este livro transforma-se
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numa criação muito sincera e justa feita por um criador que consegue com facilidade reunir
muitas idéias, opiniões, pensamentos, para depois realizar o seu próprio pensamento que
atravessa um processo de justificação bem defendido.
1.1. Objectivos
1.2. Metodológia
Uma revisão sistemática atua como um meio para identificar, avaliar e interpretar toda pesquisa
disponível e relevante sobre uma questão de pesquisa, um tópico ou um fenômeno de interesse. A
condução de uma revisão sistemática supostamente apresenta uma avaliação justa do tópico de
pesquisa, na medida em que utiliza uma metodologia de revisão rigorosa, confiável e passível de
auditagem (KITCHENHAM, 2007).
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O procedimento aplicado a esta revisão foi adaptado do modelo de Kitchenham (2004). A revisão
sistemática foi adotada por gerar resultados confiáveis, reprodutíveis e objetivos. O primeiro
passo foi a definição do objetivo da pesquisa. Com base no objetivo levantado, foram definidas as
questões de pesquisa, que deveriam conter critérios próprios de inclusão e exclusão de trabalhos.
Após isso, foram definidas as bases de dados a serem utilizadas para obtenção de trabalhos, o
idioma dos trabalhos, os tipo de trabalhos a serem utilizados e o período de publicação.
Para a coleta de dados, foram consideradas palavras chave relacionadas aos assuntos relacionados
da pesquisa e foi formulada a sequencia de consulta. Após o registro dos trabalhos, iniciou-se a
etapa de pré-seleção dos trabalhos, que consistiu na leitura rápida de títulos, palavras chave e
resumo dos trabalhos, avaliando-se a adequação dos mesmos em relação aos critérios de
pesquisa. Após a etapa de pré-seleção, efetuou-se a leitura integral dos trabalhos aprovados na
primeira etapa, realizando-se a interpretação e síntese de dados.
2. Referencial Teórico
A ciência moderna tem respaldo no modelo de racionalidade que surgiu no século XVI e que se
caracteriza por uma predominância das ciências naturais, é o que mostra Boaventura de Sousa
Santos. Somente no século XIX esse modelo de racionalidade é incorporado as ciências sociais,
podendo-se dizer, a partir daquele momento, passa a ser um “modelo global de racionalidade
científica”. Esse modelo estabelece uma diferenciação bem clara entre o conhecimento científico
de um lado, e do outro, o senso comum e as humanidades. Ou seja, considera apenas o
conhecimento caracterizado pelos princípios epistemológicos e regras metodológicas.
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Como afirma Boaventura de Sousa Santos:
A descoberta das leis da natureza assenta, por um lado, e como já se referiu, no isolamento das
condições relevantes (por exemplo, no caso da queda dos corpos, a posição inicial e a velocidade
do corpo em queda) e, por outro lado, no pressuposto de que o resultado se produzirá
independentemente do lugar e do tempo em que se realizarem as condições iniciais. Por outras
palavras, a descoberta das leis da natureza assenta no princípio de que a posição absoluta e o
tempo absoluto nunca são condições iniciais relevantes. (SANTOS, 2010, p. 16)
O autor verifica que o modelo de racionalidade científica descrito inicialmente passa por uma
crise profunda. E defende algumas possibilidades:
b) Estamos passando por uma revolução científica iniciada com Einstein e a mecânica quântica.
Einstein mostra que não se pode verificar a simultaneidade de acontecimentos distantes,
podendo-se apenas defini-la;
O paradigma emergente será delineado de forma especulativa, como o próprio autor afirma, visão
que é fundada nos sinais da crise do paradigma atual. E Boaventura de Sousa Santos o faz de
forma diferente, a partir de uma síntese pessoal com a sua imaginação sociológica
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Não espanta, pois, que ainda que com alguns pontos de convergência, sejam diferentes as sínteses
até agora apresentadas. Ilya Prigogine, por exemplo, fala da: “nova aliança” e da metamorfose da
ciência. Fritjof Capra fala da “nova física” e do Taoismo da física, Eugene Wigner de “mudanças
do segundo tipo”, Erich Jantsch do paradigma da auto-organização, Daniel Bell da sociedade pós-
industrial, Habermas da sociedade comunicativa. (SANTOS, 2010, p. 36-37).
O autor identifica que estamos vivendo uma revolução científica, mas o paradigma que surgirá,
além de científico, deverá ser também social. Esse paradigma emergente é apresentado com as
seguintes teses:
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2.3. O impacto intelectual de Um discurso sobre as ciências
Um discurso sobre as ciências, de Boaventura de Sousa Santos, provocou grandes reações quando
foi publicado em 1987. O seu entendimento, porém, só pode acontecer a partir da inter-relação
das três temáticas que o livro aborda. Com uma leitura que ao mesmo tempo é densa, mas
acessível, o livro trata das seguintes temáticas: a caracterização da ciência moderna, os sinais que
identificam a crise desse paradigma tido como dominante e uma suposição especulativa de como
será o paradigma emergente a partir dessa crise paradigmática já identificada. Há, então, uma
reconstrução do passado, com a caracterização da ciência moderna e uma identificação dos sinais
da crise do paradigma dominante, além de uma visão para o futuro, quando se busca antecipar as
possíveis características do paradigma emergente a partir da crise do paradigma vigente. Como
afirma João Nunes, A identificação da ciência moderna como paradigma, como modelo
epistemológico comum às diferentes disciplinas e áreas do conhecimento, mas admitindo
variedade interna – como ressalva o autor-, permite contrapor um conjunto de temas, objectos,
teorias, exemplares e concepções que “fazem” a ciência dominante a outros que começam a
desenhar os contornos de um paradigma alternativo. (NUNES, 2003, p. 60).
Muitos temas tratados em Um discurso sobre as ciências são desenvolvidos, por exemplo, em
“Introdução a uma ciência pós-moderna” (SANTOS, 2003), como a apropriação social do
conhecimento científico, problemas epistemológicos das ciências sociais, condições sociais da
atividade científica, além de novos problemas que o paradigma emergente enfrenta.
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Essa postura de Boaventura de Sousa Santos em valorizar os outros tipos de conhecimento,
porém, é duramente criticada por autores que entendem ser essa afirmação como um discurso
contra a ciência. Antonio Manuel Baptista, em um texto cheio de ironias, citando de Groucho
Marx, Oscar Wilde a Einstein, publicou o livro O discurso pós-moderno contra a ciência:
obscurantismo e irresponsabilidade (BAPTISTA, 2002), criticando as idéias de Boaventura de
Sousa Santos, seu conceito de ciência e a pós-modernidade. Afirma Baptista que não há uma
diferenciação entre ciência natural e ciência cultural, pois a ciência só pode ser natural.
Afirma Baptista que: não devemos, perante alguns dos pronunciamentos feitos por sociólogos e
filósofos que se dizem pós-modernos (qualquer que seja o significado desta classificação), aceitá-
los com indiferença mas sempre, como com tudo, com equanimidade, isto é, com a mesma
disposição crítica (BAPTISTA, 2002, p. 12).
Em seguida, Baptista afirma que está realizando um dever cívico ao criticar o livro de Boaventura
de Sousa Santos. Mostra ainda que as chamadas Guerras da Ciência são posturas sócio-filosóficas
contrárias a Ciência, mostrando a crítica que o físico teórico Alan Sokal, da Universidade de
Nova Iorque, faz ao pós-modernismo: Acontecia, no entanto, que Sokal tinha resolvido realizar o
que chamou mais tarde de uma “experiência” em apoio de uma sua hipótese de trabalho que se
pode resumir assim: os dislates, as confusões e arrogância são tais nas publicações de alguns dos
sociólogos associados ao que se chama, apropriadamente ou não, pós-modernismo, que os
apaniguados não os devem compreender, pela linguagem obscurantilizada, pelo abuso de
conceitos matemáticos ou físicos não apropriados ou, claramente, não entendidos. (BAPTISTA,
2002, p. 18-19).
Antonio Baptista ainda tece um conceito de ciência que segundo ele próprio é o conceito que os
cientistas seguem. Seria, assim, diferente do conceito de ciência de que falam os sociólogos.
Além de tentar mostrar que a diferença entre os tipos de saberes são as verdades a que se
pretende chegar.
Um dos textos mais explicativos sobre a obra de Boaventura de Sousa Santos é o Um discurso
sobre as ciências 16 anos depois, de João Arriscado Nunes. Este autor afirma que há uma parte do
Discurso sobre as ciências que é mais vulnerável, quando o próprio Boaventura afirma que está
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realizando um exercício especulativo sobre as características do paradigma emergente de ciência.
Há dúvidas, segundo Nunes, que os possíveis sinais fariam Boaventura Santos antever as futuras
características da ciência emergente. Por outro lado, mostra que as críticas ao livro Um discurso
sobre as ciências são feitas por autores que não entenderam a completude da obra ou não
consideraram o contexto em que a obra foi escrita, o que seria fundamental.
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3. Conclusão
O autor expôs que hoje as ciências naturais ainda são diferentes das ciências sociais, mas
aproximam-se cada vez mais destas e é previsível, em futuro não muito distante, se dissolverem
nelas. E isso graças a duas razões teóricas. Na medida em que se toma consciência dessa
explicação, a concepção de como se relacionam esses dois tipos de ciência se transforma, as
tendências de se afirmarem ou crerem em algo indiscutivelmente se esvaem e, desta forma,
ciências sociais e as ciências naturais – cada qual mantendo suas peculiaridades e objetos
específicos – caminham lado a lado na tentativa de propor a verdade a que elas tiveram acesso,
visando à construção de um mundo que proporcione, a todos seus habitantes, condições de
existência e qualidade de vida que sejam condizentes à sua dignidade e realidade.
Seguindo a visão do autor, pode-se concluir ainda que toda ciência, seja referente aos feitos
humanos como aos fatos naturais, é práxis social (visa transformar o mundo). E, uma vez que o
estudo da práxis social cabe às ciências humanas, cabe a estas explicar as ciências naturais. E,
deste modo, embora elas sejam constituídas de modo distinto, tudo indica que não podem mais
ser vistas como dois tipos totalmente separados de saber. Se for superado o paradigma de um
conhecimento instrumentalista e dominador da natureza e do homem, serão mais importantes as
semelhanças que as dessemelhanças, nesses dois tipos de pesquisa. E as ciências humanas não
precisam desvirtuar seu objeto de estudo para se adequar a exigências que só se justifica dentro
do paradigma moderno de ciência que, como o autor mostrou, deve ser superado.
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Até hoje a filosofia, a ciência e a tecnologia se impuseram autoritariamente às nossas vidas; mas
ciência é uma atividade social e, portanto, só se justifica enquanto está a serviço dessa sociedade
e, com ela, discute as implicações de suas proposições. E após o positivismo, sobretudo, parte-se
da pressuposta "superioridade", das ciências naturais para explicar a "precariedade" das ciências
humanas ou sociais que, embora buscando seguir o modelo daquelas, nunca conseguem alcançar
a objetividade, a neutralidade e seus notáveis resultados.
Santos julga que, ao colocar a questão de saber se o estatuto científico das ciências humanas ou
sociais é igual ou diferente ao das ciências naturais, este questionamento, da forma com foi
colocado, não apenas é insolúvel, mas também constitui um obstáculo epistemológico ao avanço
do conhecimento científico, tanto para as ciências sociais como para as ciências naturais. A
preocupação da Ciência, abandonando a Metafísica medieval, se tornou um dos aspectos
funcional e fundamentado no estudo dos fatos da Natureza. O mundo passou a ser visto como
uma máquina passiva, um mecanismo cego de teor determinístico.
Hoje tudo o que é criado constitui prova do nosso conhecimento e, implicitamente, do nosso
autoconhecimento. O autor reforça a idéia de importância da qualidade (seja a qualidade de vida
ou a qualidade do conhecimento), e da relação criação científica / discurso científico. Boaventura
de Sousa Santos elabora uma revisão e atualização da nossa forma de ver as ciências e, por outro
lado, de as ciências se verem a si mesmas, numa visão caracterizada por uma permanente e
restauradora efervescência intelectual.
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Bibliográfia
FEYERABEND, Paul. Contra o método. Trad.: Mota & Hegenberg. Rio de Janeiro: Francisco
Alves, 1977;
Ciências. Artigos. Duas diferenças fundamentais entre as ciências naturais e as ciências sociais.
Disponível em: <http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1469> acesso em 23 de outubro, 2021.
História do Brasil. Ciências Naturais e Sociais. Algumas definições sobre ciências. Disponível
em: <http://encontreaqui.org/ciencias-naturais-sociais/ > acesso em 23 de outubro, 2021.
Universo Jurídico. Doutrinas. Uma breve análise do discurso sobre as ciências de Boaventura de
Sousa Santos. Disponível em:
<http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/default.asp?action=doutrina&iddoutrina=4204 > 23
de outubro, 2021.
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