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O processo de construção do conhecimento científico (pág.

27)

Todas as ciências se orientam por um conjunto de regras e procedimentos estabelecidos


sob a forma de um método científico, para garantir o rigor dos resultados observados.
Essa perspetiva de rigor deve existir no início dos trabalhos, nomeadamente desde a
colocação das hipóteses de trabalho no decorrer do processo de investigação. Nas
ciências sociais o objeto de estudo é a realidade social, sendo necessário diferenciar o
processo de estudo científico sobre a realidade social e a própria realidade social. De
forma a assegurar a objetividade é necessário identificar os obstáculos epistemológicos e
avançar para se fazer uma rutura com o senso comum. Segundo Bachelard apud Magano
(2014:49) “a ciência não se opõe absolutamente à opinião”, sendo possível a coexistência
dos dois tipos de conhecimento. A ciência para ser construída tem de romper com as
evidências, tem de inventar um novo “código”, deve recusar e contestar o mundo dos
“objetos” do senso comum, devendo constituir um novo “universo conceptual”, ou seja,
todo o corpo de novos objetos, um sistema de novos conceitos e de relações entre
conceitos.

Obstáculos epistemológicos (pág. 27)

Segundo O. Magano “o investigador de Ciências Sociais enfrenta, em simultâneo,


obstáculos enquanto membro de uma sociedade e como investigador. Estes obstáculos
são designados por epistemológicos e consistem na familiaridade do investigador com o
social; no senso comum; na dicotomia natureza e cultura; no etnocentrismo e na relação
de nós com os outros, de acordo com as posições sociais que cada um ocupa na
sociedade” (O. Magano, Introdução às Ciências Sociais | Universidade Aberta 2014, p.
28). Para que seja possível realizar a rutura com o senso comum, é necessário romper
com as noções transmitidas e com as influências do meio social e cultural, económico e
político em que se vive e por de parte todo o pensamento que se tenha sobre
determinado assunto ou caso em concreto. O conhecimento de senso comum limita a
objetividade colocando em causa a construção do conhecimento científico, sendo
ultrapassável pela desconstrução de pré-noções e pré-conceitos que cada um tem sobre
a realidade social. O senso comum são um tipo de conhecimento falso com que é
necessário romper para que se torne possível o conhecimento científico, racional e válido.
Para se fazer essa rutura é necessário relativizar, relacionar e proceder à análise
científica das conceções do senso comum. O processo de rutura nunca será completo,
nem realizada de apenas uma vez. Para se romper com o senso comum, o investigador
como membro de uma sociedade deve ser neutro e colocar de parte todas as ideias pré-
concebidas da própria investigação científica em que esta inserido. O investigador
enfrenta assim diversos obstáculos, designados por obstáculos epistemológicos, que
passam pela familiaridade com o social, o senso comum, a dicotomia natureza-cultura, a
dicotomia individuo-sociedade e o etnocentrismo. Pode se assim definir os obstáculos
epistemológicos como todos aqueles que o investigador enfrenta ao longo de uma
investigação enquanto membro da sociedade. “Para enfrentar e controlar cada um destes
obstáculos, os cientistas sociais devem fazer um processo de rutura com o senso comum,
nomeadamente, pela desconstrução de pré-noções que dificultam o desenvolvimento do
raciocínio científico” (O. Magano, 2014, p.28).

Fases do processo de construção do conhecimento científico e as várias etapas do


método científico de acordo com Gaston Bachelard

Todas as ciências sociais se ocupam da realidade social. As ciências sociais são


pluralistas, este fato é o que as distingue das outras ciências, existe uma
complementaridade entre elas criando assim uma área pluridimensional.

O investigador das ciências sociais tem de ter uma atitude clara e objetiva para que possa
construir método de pesquisa, ou seja, conhecimento científico. Enquanto ciência estuda
objetivamente os fenómenos sociais, libertando-se do senso comum e dos preconceitos
sociais, de forma a identificar e analisar as relações entre as diversas variáveis, podendo
assim submetê-la aos próprios mecanismos de controlo, colocando em causa os
conhecimentos adquiridos, ao questionar e problematizar.

O processo de construção do conhecimento científico sobre a realidade social, exige ao


investigador, objetividade e neutralidade na sua análise uma vez que, ele próprio faz parte
dessa realidade, envolta de subjetividade e conhecimento do senso comum que pode
dificultar a investigação e análise. Para atingir o principal objetivo das ciências sociais que
é explicar de forma objetiva a realidade social, o cientista tem que recorrer ao método
científico de modo a conseguir atingir o máximo de objetividade. Para isso, tem que
começar com a rutura com as evidências do senso comum, pela desconstrução de pré-
noções que foram construídas ao longo da vida e que por não se basear na construção
racional e objetiva, dificultam o desenvolvimento do seu raciocínio científico.

Têm de excluir a intervenção dos seus valores nos seus procedimentos pois como seres
humanos que são, são seres valorativos, logo, a ciência não reside numa
objetividade pura, mas depende sempre das escolhas valorativas do cientista, ou seja, as
suas simpatias, preferências, conceções, etc.
Para atingir a objetividade o cientista tem que definir rigorosamente os seus conceitos,
tem que contrariar as interpretações vulgares, tem que questionar e analisar de forma
racional e objetiva, ou seja, tem que seguir uma série de procedimentos e métodos
científicos. As ciências sociais ao longo do tempo foi evoluindo e desenvolvendo
procedimentos, teorias e métodos científicos de modo a alcançar o conhecimento
científico, objetivo e racional. Então o investigador das ciências sociais tem de ter uma
atitude que corresponde um método particular de pesquisa, o conhecimento científico.

Segundo Gaston Bachelard, o processo científico forma-se a partir de três etapas


fundamentais. A primeira é a rutura com o senso comum, onde o investigador enfrenta os
primeiros obstáculos, porque ele também é membro da sociedade que estuda. Estes
obstáculos são designados por obstáculos epistemológicos e são eles: familiaridade do
investigador com o social, senso comum; dicotomia natureza e cultura; a dicotomia
indivíduo sociedade e finalmente o etnocentrismo (que consiste na subvalorização de uma
cultura em detrimento de outra). Para a produção do conhecimento científico, o cientista
social tem de fazer uma rutura com o senso comum para isso, tem de relativizar,
relacionar e fazer a análise científica das conceções do senso comum. É também
necessário evitar a ilusão de transparência. A pesquisa social, pode assim tornar-se
objeto da sua própria análise, podendo assim submetê-la aos próprios mecanismos de
controlo, colocando em causa os conhecimentos adquiridos, ao questionar e
problematizar, estamos perante a essência do trabalho. Os procedimentos padronizados
de recolha de informação sobre o real, sendo que estes são questionários, entrevistas são
contribuições para a construção do trabalho científico e só é possível com o contributo de
outro elemento: a prática. A teoria é um conjunto organizado de conceitos e relações
entre conceitos substantivos, referidos direta ou indiretamente ao real. Procede-se assim
uma categorização do que é observado, esta categorização tem princípios racionalistas.
Segundo Bachelard, este processo parte do racional para o real. À teoria, é conferido
papel de comando do trabalho científico, que consiste em articular lhe os diversos
momentos: definição de objeto de análise, atribuição de significado, construção de
potencialidades explicativas e definição de limites. Nos percursos de diversos níveis da
sua especificação, produz e integra anunciados observacionais, dando consistência à
rede de relações que se estabelecem em todo o processo. A verificação da teoria, é feita
através do confronto com a informação empírica e também o resultado de outras
investigações. O processo científico, coloca em causa pré-noções e preconceitos sobre a
realidade social.
Neste processo, o cientista tem que adotar uma série de métodos e técnicas que sirvam
como uma ferramenta para a investigação e pesquisa necessárias para a obtenção das
respostas que procura através destes métodos. Obtém enunciados, constrói teorias que
explicam como ocorrem os fenómenos que se propõe estudar e que por sua vez vão dar
origem a novas teorias, a novas questões e a novas soluções. Os paradigmas existentes
estão assim constantemente em mudança, isto é, os conceitos e procedimentos vão
sendo continuamente substituídos. Assim, Almeida e Pinto referem que: “O seu primeiro
momento [ciência] é o da interrogação, do questionamento a certas dimensões da
realidade” (2009: 62). Referem ainda que, o ponto de partida do cientista vai ser a
elaboração de questões sobre determinada realidade - a problemática teórica - de modo a
estabelecer o método para a sua investigação. Para uma melhor compreensão dos
fenómenos é essencial que o cientista para além da teoria principal recorra também a
teorias auxiliares de modo a ter um leque o mais alargado possível de informação. (2009:
63).

Rutura com o senso comum (pág.42)

Para que seja possível realizar a rutura com o senso comum, é necessário romper com
as noções transmitidas e com as influências do meio social e cultural, económico e
político em que se vive e por de parte todo o pensamento que se tenha sobre
determinado assunto ou caso em concreto. O conhecimento de senso comum limita a
objetividade colocando em causa a construção do conhecimento científico, sendo
ultrapassável pela desconstrução de pré-noções e pré-conceitos que cada um tem sobre
a realidade social. O senso comum é um tipo de conhecimento falso com que é
necessário romper para que se torne possível o conhecimento científico, racional e válido.
Para se fazer essa rutura é necessário relativizar, relacionar e proceder à análise
científica das conceções do senso comum. O processo de rutura nunca será completo,
nem realizada de apenas uma vez. Para se romper com o senso comum, o investigador
como membro de uma sociedade deve ser neutro e colocar de parte todas as ideias pré-
concebidas da própria investigação científica em que esta inserido. O investigador
enfrenta então diversos obstáculos, designados por obstáculos epistemológicos, que
passam pela familiaridade com o social, o senso comum, a dicotomia natureza-cultura, a
dicotomia individuo-sociedade e o etnocentrismo. Pode se assim definir os obstáculos
epistemológicos como todos aqueles que o investigador enfrenta ao longo de uma
investigação enquanto membro da sociedade. “Para enfrentar e controlar cada um destes
obstáculos, os cientistas sociais devem fazer um processo de rutura com o senso comum,
nomeadamente, pela desconstrução de pré-noções que dificultam o desenvolvimento do
raciocínio científico” (O. Magano, 2014, p.28). O cientista ao acreditar que a verdade
existe e partindo dessa ideia, tenta atingir o “realismo”, isto é uma visão objetiva da
realidade. Colocam se questões metodológicas na definição do que é a objetividade e nas
formas para atingir essa objetividade na análise dos fatos e das suas relações causais.
Segundo Gaston Bachelard a “ciência não se opõe absolutamente à opinião” (citado por
Santos, 1990:33).

A função de comando da teoria (pág.54)

Gaston Bachelard assume o propósito de mostrar o destino do pensamento científico


abstrato, levando em consideração que o processo de abstração não é uniforme pelo fato
de ser confrontado com obstáculos. Distingue assim três períodos de maturação: o estado
pré-científico; o estado científico e por último desde 1905 até à atualidade. A recolha de
informação sobre a situação concreta é sempre única e condensa um vasto leque de
determinações, sendo orientada pelo quadro teórico prévio de referência que pode sentir
a necessidade de ajustar, especificar ou mesmo reformular este último de modo a torná-lo
um guia de observação mais preciso e eficaz. Assim o papel de comando da teoria não
pode controlar de forma racional todas as componentes do ciclo de
observação/demonstração empírica. Define o objeto de análise, conferindo dela
orientação à investigação, dando lhe significado, atribuindo lhe capacidades explicativas
assim como limites. É importante que o investigador mantenha a teoria inicial, tendo ao
seu alcance outras teorias auxiliares, como forma de conseguir explorar todas as
possibilidades de cada uma, até obter o resultado pretendido. A teoria é assim essencial
na medida em que é indispensável integrar outros conhecimentos, como sejam uma
análise histórica, social e cultural das populações. Através da teoria é possível definir o
objeto da análise, permitindo assim uma orientação e um significado, sendo a
interrogação o primeiro passo na medida em que o questionar e o problematizar são a
essência para a construção do conhecimento científico.

Teorias e paradigmas nas ciências (pág.59)

Entende se por problemáticas teóricas, a construção de questões colocadas pelo


investigador num determinado contexto, usadas para a sua investigação. São
interrogações feitas sobre a realidade social, que dão origem ao estudo e método que o
investigador irá adotar. Ao longo deste processo deve se dar atenção à matriz disciplinar,
que é um conjunto de teorias, organização de conceitos e relações entre conceitos
substantivos, é assim a abordagem do real social sobretudo a partir de elementos como
teorias e métodos científicos. A construção da teoria é desenvolvida pela colocação de
perguntas, pela interrogação sobre determinados aspetos da realidade social. A atividade
científica constitui um processo social peculiar, podendo se afirmar que passa pelo
constante melhoramento das teorias e dos métodos disponíveis. É neste contexto que o
paradigma nas ciências sociais se pode revelar uma fonte de problemas e
incongruências, e o universo cientificoque lhe corresponde irá converter se aos poucos
num complexo sistema de erros, dando origem a outro paradigma. O novo paradigma
redefine os problemas e incoerências dando lhe uma solução convincente.

O problema da verificação (pág.61)


A relação entre a hipótese e a experiência é, sem dúvida, o aspeto mais decisivo da
ciência. “O justificacionismo afirmava só ser científico o que pudesse ser provado, o que
fosse positivamente demonstrado pela articulação de factos repetidamente observados
com os enunciados abstratos da teoria.” (Magano, 2014, p.61). No entanto, segundo o
entendimento de Popper, nunca podemos estar seguros de que a nossa teoria seja
absolutamente verdadeira ou que não possa vir a ser substituída por outra mais plausível
e satisfatória. Daí a necessidade de contínua correção das hipóteses e teorias e o
contínuo progresso do conhecimento por uma espécie de tentativa-erro. O real social é
pluridimensional, e por isso suscetível de ser abordado de diferentes formas. As
diferentes ciências sociais analisam as mesmas realidades, os mesmos fenómenos
sociais, sendo que esta interdisciplinaridade significa um intercâmbio de saberes de forma
a poder explicar melhor os fenómenos sociais na sua totalidade.
O teste da experiência poderia entender-se simplesmente como a procura de
experiências que confirmem a teoria. Neste caso, uma teoria seria verdadeira se, e
apenas se, correspondesse aos factos ou se estes a confirmassem. De facto, não é raro
a comunidade científica ser ludibriada por supostas descobertas, algumas delas
publicadas nas mais conceituadas revistas científicas, e que mais tarde são reconhecidas
como falsas descobertas. É devido a este problema que alguns filósofos contemporâneos
consideram a forma de verificação de uma hipótese pela simples confirmação, como uma
prova fraca que não oferece absoluta certeza e garantia da sua verdade. Por isso,
apresentam uma alternativa que consiste em procurar insistentemente casos ou
fenómenos que possam infirmar a hipótese ou teoria proposta. Neste sentido, uma teoria
científica não pode pretender alcançar propriamente a verdade, mas tão só uma maior
possibilidade. Todas as teorias são, por isso, conjeturais e provisórias, o que não quer
dizer que todas sejam equivalentes. Abre-se assim o caminho, não a uma conceção do
relativismo em ciência, mas à contínua evolução e progresso dos nossos conhecimentos
científicos.

Magano, O. (2014), Introdução às Ciências Sociais, Lisboa, Universidade Aberta, eUAb/


Coleção Universitária, n.º 7, ISBN 978-972-674-700-0. (e-book)

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