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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS

GERAIS
Campus de Poços de Caldas
Graduação em Psicologia

Isadora Maria Gonçalves


Juliana Cavalcante dos Santos
Maria Julia Lupianhes
Patrícia Sobrosa Mira

RELAÇÃO DO SUJEITO COM O CONHECIMENTO.

Poços de Caldas
2023
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ISADORA MARIA GONÇALVES


JULIANA CAVALCANTE DOS SANTOS
MARIA JULIA LUPIANHES
PATRÍCIA SOBROSA MIRA

Epistemologia: teoria e prática.

Trabalho apresentado como exigência parcial


para aprovação na disciplina Bases
epistemológicas da Psicologia, ministrada pelo
Professor Rogério _____________, da
graduação em Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais –
Campus Poços de Caldas.

Poços de Caldas
2023
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INTRODUÇÃO

A obra “Um discurso sobre as ciências”, de Boaventura de Sousa Santos percorre o


histórico das ciências traçando um paralelo entre o paradigma dominante da modernidade até
o momento de transição do conhecimento pelo qual atravessa a contemporaneidade,
mencionando as crises e o percurso até o momento presente.
A transição a que nos referimos diz respeito, segundo Boaventura, ao fim do ciclo de
hegemonia de uma ordem científica em que o modelo dominante é o da racionalidade
científica do Séc XVI, tendo como base as ciências naturais. As ciências sociais foram
admitidas aos modelos científicos apenas no Séc XIX, falando-se, então, num modelo global
de racionalidade científica, excluindo, porém, o senso comum e as humanidades ou estudos
humanísticos (estudos históricos, filológicos, jurídicos, literários, filosóficos e teológicos).
(BOAVENTURA, p. 21)
Sendo assim, Boaventura conclui que o modelo global é totalitário porque nega a
racionalidade a todas as formas de conhecimento que não seguirem seus princípios
epistemológicos e regras metodológicas. (BOAVENTURA , p. 21). O paradigma dominante
acata, portanto, apenas uma forma de conhecimento verdadeiro, aquele que segue seus
preceitos.
Além disso, o parâmetro dominante estava calcado na lógica positivista que
determinava o modelo de ciência e dizia o que era conhecimento e o que não era, vinculando
a ciência à academia e normas rígidas de experimentos científicos.
Assim, segundo Boaventura, a ciência entrou em crise de identidade através da análise
de aspectos históricos das ciências naturais e ciências sociais até o atual contexto e as
possibilidades para o futuro. Portanto, vivenciamos essa fase de transição, pois a ordem
científica está à beira do esgotamento e Boaventura propõe uma ordem científica emergente
com bases teóricas e sociológicas.
Quando o autor traz seu pensamento sobre o paradigma emergente ele debate a
natureza do conhecimento científico e sua lógica, vislumbrando a superação de algumas
dicotomias presentes na sociedade. Assim, aponta um movimento capaz de considerar o que é
científico e outros saberes, visando uma possibilidade de fazer com que a ciência seja o novo
senso comum, livre do espaço fechado da academia.
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DESENVOLVIMENTO:

Na obra ora analisada, o paradigma dominante compõe-se majoritariamente de


ciências naturais. Assim, Boaventura traz a crítica ao método positivista - ciência moderna
que é pautada no positivismo, deixando de lado o senso comum - e defende a idéia de que
todo o conhecimento científico é socialmente construído, que seu rigor tem limites
inultrapassáveis e que sua objetividade não implica sua neutralidade.
Outrossim, a matemática na ciência moderna era composta por duas divisões: em
primeiro lugar conhecer significa quantificar - o que não é quantificável é cientificamente
irrelevante. Em segundo lugar o método científico está focado na redução da complexidade,
nas condições iniciais e leis da natureza, as quais a primeira é o reino da complicação e é
necessário selecionar as que estabelecem as condições relevantes dos fatos a observar e,
portanto, dividir e classificar para determinar relações sistemáticas. Nessa divisão que se
assenta toda a ciência moderna.
Analogamente, no decorrer do paradigma supracitado houve a transposição do estudo
da natureza para o estudo da sociedade, tendo como precursores Francis bacon, Giambattista
Vico e Montesquieu. Desse modo, ao iniciar os estudos, retrataram a ciências sociais como
empíricas. Dentre os obstáculos pelo qual não se pode tratar a ciência social como ciências
naturais estão: não podem estabelecer leis universais, não podem produzir previsões fiáveis,
não são objetivas, entre outros. E, portanto, fica claro o atraso das ciências sociológicas em
relação às naturais, o que acarreta a falta de consenso paradigmático.
Na obra, Boaventura propõe que o paradigma dominante desconfia de todo
conhecimento que vem das sensações e que hoje (década de 80) o modelo de racionalidade
científica, em alguns de seus traços principais, atravessa uma profunda crise, e que tal fato é
irreversível. Logo será substituída por um novo paradigma que considera a importância do
senso comum e das ciências sociais.
Com o propósito de exemplificar o autor cita a mudança de paradigma, que se iniciou
com Einstein pela relatividade da simultaneidade e a Mecânica quântica. Em síntese,
Boaventura conclui que os objetivos tem fronteiras cada vez menos definidas e descreve a
industrialização da ciência que trouxe para a comunidade científica a estratificação, relações
de poder entre cientistas se tornaram mais autoritárias e desiguais e foram submetidos ao
processo de proletarização. Portanto, segundo o autor o que a ciência angariou em rigor no
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final do século XX ela também perdeu em capacidade de se regular e as ideias de autonomia


findaram com a industrialização da ciência, como mencionado.
Assim, o autor propõe o “paradigma de um conhecimento prudente para uma vida
decente” o qual é na realidade um paradigma social e propõe um conjunto de teses: a) todo o
conhecimento científico-natural é científico-social; b) todo conhecimento é local e total; c)
todo conhecimento é autoconhecimento; d) todo conhecimento científico visa a se constituir
em senso comum.
Segundo o autor a distinção dicotómica entre ciências naturais e ciências sociais
deixou de ter sentido e utilidade. O avanço da física e da biologia põem em causa a distinção
entre o orgânico e o inorgânico, entre seres vivos e matéria inerte e mesmo entre o humano e
o não humano.
Na ciência moderna o conhecimento quanto mais específico, melhor é a pesquisa e
mais explorado é o seu objeto. No paradigma o conhecimento é total, sendo total, é também
local, pois é útil aos indivíduos de determinada comunidade.
Ainda analisa que todo conhecimento é autoconhecimento, pressupondo outro
modelo de relação sujeito-objeto na prática científica. Para Boaventura Santos há outras
maneiras de se conhecer, saber e viver e o objeto passa a ser uma própria extensão do sujeito,
em consequência uma pesquisa adquire conhecimento sobre o objeto, diretamente, e sobre o
próprio sujeito, indiretamente.
A quarta tese trata do conhecimento científico e senso comum, partindo para a
superação da ideia que a ciência moderna postulou o senso comum como um não-saber ou um
saber superficial e falso. Relata que a ciência pós-moderna reascende o valor do senso
comum, afinal as ciências que mais progrediram foram as que se aproximaram das ciências
sociológicas, permitindo que as diversas formas de conhecimento (das ciências e do próprio
cotidiano) interajam entre si, orientando as ações do ser humano e dando sentido à vida
(“saber viver”), ao ponto em que coincidem causa e intenção (ciência + senso comum).

Gostaria de falar sobre isso com ponto central do nosso trabalho: O


conhecimento, portanto, é sempre provisório, produzido na tensão do sujeito em movimento,
com um objeto também em movimento. Por isso MAGALHAES, S. M. O. Inter-Ação,
Goiânia, v. 40, n. 1, p. 185-190, jan./abr. 2015. mesmo, o conhecimento não é neutro, não
pode ser único, nem totalmente explicativo da realidade, porque não porta uma única verdade.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS:

No presente trabalho foi adotada a metodologia de pesquisa teórica baseada na


interpretação da obra de BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS, abrindo-se a oportunidade
de reflexão sobre a concepção de conhecimento, das ciências e de seus paradigmas.
É um desafio encontrar processo que interajam e conectem reflexões, saberes e
fazeres, capazes de construir um movimento dialético e de nos fazer superar uma concepção
única de conhecimento. A obra “Um discurso sobre as Ciências”, de Boaventura de Souza
Santos percorre essa trajetória e nos auxilia a compreender que o conhecimento passa por uma
busca permanente e sua construção jamais está acabada ou dada.
Assim, o paradigma dominante e critica as diferenciações que geram desigualdades
científicas, como a distinção entre ciências naturais e ciências sociais e o desprezo ao senso
comum e busca uma democratização do conhecimento científico, a fim de valorizar as mais
variadas experiências humanas e ampliar o acesso ao conhecimento.
O novo pensar científico defendido por Boaventura de Sousa Santos traz à luz uma
nova ordem social em que a incerteza e a insegurança são características reais. Esse novo
paradigma, uma vez que seus anseios não são mais atendidos pelos métodos hierárquicos e
ortodoxos da ciência moderna deve ser, além de científico, social, uma vez que, na pós-
modernidade, o conhecimento científico e não científico estão em permanente contato e
servem à sociedade, a fim de torná-la mais democrática.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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