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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS


Escola de Ciências Sociais e da Saúde
Serviço Social

Pesquisa em Serviço Social I


Prof.a M.e Danielli Borges Reis

REQUISITOS PARA UM TRABALHO SER CONSIDERADO CIENTÍFICO

Ao analisar um fenômeno, analisamo-los não em critérios baseados no senso-comum, pois estes são
superficiais, acríticos e imediatistas. Pode-se considerar como senso-comum aquilo captado pela percepção
sensível em suas experiências cotidianas e ordinárias. Elementos que não foram questionados, tampouco
provados e podem, muitas vezes, ser considerados ultrapassados, incluindo aí saberes dos mais diversos ou
mesmo métodos e metodologias, isto é, maneiras e caminhos de se conhecer determinado fenômeno. Por seu
caráter imaturo, o senso-comum engole incertezas, já que acredita não ser necessário fazer distinções a todo
o momento e, assim, não raro, ele está envolto na ideologia e imagina estar fazendo filosofia.

A ideologia, especificamente, como justificativa para este tipo de conhecimento não científico, não
argumenta, apenas busca a convicção, a adesão e a defesa do problema, porém baseada num conjunto de
ideias que tem como característica “vir antes de qualquer coisa”, ou seja, ela se mostra em primeiro plano,
mas sem fundamentos lógicos e contraposições, como doutrina. Ela tende à universalidade (verdade para
todos) tal qual uma verdade “que se tem de seguir” ao invés de um conjunto de enunciados que possa levar à
reflexão. Dessa maneira, ela é enganosa, ilusória e induz ao erro, pois apenas representa certas condutas de
determinados membros de um grupo, camuflando as especificidades/singularidades do objeto de pesquisa.
Isso é naturalizar a história ao entender determinados fenômenos como normais ou naturais, como verdades
que não precisam ser questionadas. Nesse sentido, é preciso buscar outros indicadores tidos como mais
críticos e realistas, pois o papel das ciências é o de crítica. É preciso, portanto, favorecer o predomínio do
científico sobre o ideológico.

A ciência, então, não se baseia em senso-comum, nem em ideologias. Ela possui critérios rigorosos.
São eles:

1) O estudo debruça-se sobre um objeto reconhecível e definido de tal maneira que seja
reconhecível igualmente pelos outros.

- definir o objeto significa definir as condições sob as quais se pode falar.


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2) O estudo deve dizer do objeto algo que ainda não foi dito ou revê-lo sob uma ótica diferente o
que já se disse sobre ele.

- fazer a mesma coisa pode, inclusive, ser considerado plágio em determinadas circunstâncias de
produção.

3) O estudo deve ser útil aos demais.

- deve-se acrescentar algo ao que a comunidade já sabia. Cumpre salientar que, naturalmente, a
importância científica se mede pelo grau de indispensabilidade que a contribuição estabelece.

- “notas de lavanderia”: textos de valor ínfimo. Podem ser úteis, mas, por vezes, nada
acrescentam ao que já se sabia, constituindo-se insignificantes curiosidades que carecem de valor
científico uma vez que estamos a almejar o progresso do conhecimento humano que tais
trabalhos se propõem a desenvolver.

4) O estudo deve fornecer elementos para a verificação e a contestação das hipóteses apresentadas
e, portanto, para uma continuidade pública (requisito fundamental).

- caminho: fornecer “provas” (documentos), contar sobre o procedimento para se chegar a tal
análise ou fragmento, informar como se deve fazer para achar outros (citações, referências, fontes
etc.) e apresentar os critérios utilizados na análise que atribuíram o sentido dado pela sua
pesquisa. Assim, fornece-se o caminho e as “provas” para que outros continuem a pesquisar o
tema ou mesmo para contestar ou confirmar a sua pesquisa. Enfim, é preciso mostrar que se tem
razão.

- deve-se documentar a pesquisa, de modo público e controlado, ou seja, a experiência a fim de


permitir a alguém refazê-la, continuá-la ou refutá-la mediante fatores, por exemplo, que você não
considerou.

5) Deve ter coerência: ou seja, falta de contradição, isto é, a argumentação deve estar estruturada,
sem contradição entre os enunciados de modo que o tema se desdobre logicamente, com sentido,
chegando até à conclusão de maneira progressiva.

- Discurso coerente: aquele em que, estabelecido o ponto de partida, evolui no sentido de não
apresentar premissas conflitantes e ambíguas, tanto no aspecto teórico quanto metodológico.

6) Deve ter consistência: ou seja, a capacidade de resistir às argumentações contrárias. Isso só se dá


se o trabalho é consistente, isto é, ligado ao que se produziu atualmente, o que confere rigor
teórico-metodológico; bem como produzido argumentativamente, de maneira sólida e
fundamentada.
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- das obras produzidas nem todas sobrevivem atualizadas. Aquelas que conseguiram, resistiram
ao tempo não só pela sua capacidade lógica, como também pela capacidade de produzir
argumentos sustentados no interior da comunidade científica.

7) Intersubjetividade: ingerir opiniões dominantes a respeito do seu tema, demarcando seu trabalho
cientificamente.

- em tese, qualquer trabalho pode ser considerado científico ao considerar certos critérios na e
durante a pesquisa. O mesmo enunciado dito por um pesquisador célebre ou pelo aluno deveria
ter o mesmo valor. Contudo, socialmente, não é o que acontece. Assim, a intersubjetividade
significa a vigência em seu trabalho do argumento de autoridade em ciência, para fundamentá-lo,
legitimá-lo e demonstrar conhecimento sobre o tema em que atua, afinal, é importante saber antes
– inclusive, de desenvolver um projeto – o que se tem falado no meio acadêmico sobre o seu
tema.

8) Objetivação: esforço controlado de conter a subjetividade dentro dos limites da suposta


objetividade, isto é, deixe que os fatos falem.

- como não conseguimos atingir plenamente o objeto, uma vez que o saber é tido sempre de
forma parcial, nunca em sua totalidade, é preciso sempre manter esse esforço, conservar essa
meta para não fazer do objeto construído um objeto inventado.

P.S. – Arquivo de leitura: compreende fichas, de preferência em formato grande, dedicadas aos
livros ou artigos que leu de fato. Nelas, você registrará resumos, opiniões, citações, enfim, tudo
que puder servir para referir o livro lido no momento da redação do trabalho científico e da
bibliografia final; momento este, aliás, em que você não terá mais o livro a sua disposição.

→ Organizado pela Prof.a M.e Danielli S. B. Reis com base nos livros do Umberto Eco e do Pedro
Demo.

Referências bibliográficas:

DEMO, Pedro. Metodologia científica em Ciências Sociais. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1985.

ECO, Umberto. Como se faz uma tese. 24. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012.

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