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Teoria das Relações Internacionais

Paulo Carapito nº 43739

A Teoria da Escola Inglesa


Paulo Carapito, nº 43739
Teoria das Relações Internacionais
Nº Palavras:
1-Introdução
Todas as teorias clássicas de Relações Internacionais tendem, de modo geral, a
apresentarem uma conjetura de ideias e conceitos através dos quais explicam a sua visão sobre
o funcionamento das coisas. Na ótica da Escola Inglesa as teorias fundamentam-se nos anseios
de idealizar um cenário contemporâneo que se paute pela igualdade, imperando também, a
existência da ordem e da justiça.
Como sabemos a teoria do liberalismo reconhece o Estado como garante da ordem liberal, onde
a valorização dos direitos e interesses individuais se devem sobrepor às razoes de Estado ou de
interesses coletivos. Uma ideologia política totalmente disciplinada pela ideia de liberdade,
onde os cidadãos têm o direito e o dever desse imiscuírem na vida pública do Estado. A teoria
Marxista, por seu lado, fundamenta-se num mundo dominado por uma sociedade capitalista, no
seio da qual existem enormes disparidades sociais e em que a busca pela igualdade entre a
população é realizada através de ações de constante luta política. A teoria Marxista centra o
seu foco na ideia da transformação permanente. Outro exemplo, é a teoria realista que se revê
num mundo em que os Estados são os principais e únicos atores cujo a sua ação se centra na
busca de proteção, segurança e poder. No panorama de um sistema internacional anárquico e
inseguro, os teoricos realistas, defendem que cada Estado deve conter os demais de forma a
encontrar o equilíbrio possível de poder, minimizando a sua insegurança face a ameaças
externas.
A teoria da Escola Inglesa ao contrário de outras teorias, não determina uma
transformação estrutural, nem uma observação única e lógica sobre o cenário internacional, o
intuito da Escola Inglesa é precisamente aduzir pressupostos de como as coisas vão acontecer,
sem no entanto alegar fatos concretos. Os pensadores idealistas da Escola Inglesa colocam no
centro da metodologia da disciplina a história e conjeturam uma sociedade internacional em
que os Estados são os principais atores, partilhando valores e interesses em comum. A Escola
Inglesa das Relaçoes Internacionais é uma escola de base histórica.

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O objetivo do presente trabalho é explanar as principais contribuições da Escola Inglesa


para o estudo das Relações Internacionais, dilucidando, numa primeira fase, os seus principais
conceitos recorrendo aos pensamentos de Martin Wight, Hedley Bull e Adam Watson. Estes
autores são considerados, num restrito leque de pensadores, como sendo dos mais importantes
impulsionadores desta teoria.
Finalizarei o trabalho apresentando algumas considerações a reter sobre a teoria da
Escola Inglesa que serão precedidas da exposição de um caso prático, examinando o dilema
europeu sobre crise migratório à luz da teoria em análise.

2- A Teoria da Escola Inglesa

Segundo Dunne (2013) “…The English school was never very English and is even less
so today…” (p. 133), a Escola Inglesa é assim designada face ao fato de muitos dos seus
defensores iniciais serem de origem britânica, como são os casos de Carr, Sir Herbert
Butterfield,,Wight, Bull (nascido em solo australiano) ou Watson que incrementaram as suas
ideias nas décadas de 1960 e 1970, posteriormente surgem, Andrew Hurrel, Clark,, Dunne entre
outros que sendo também britânicos, mantem a tradição face á origem dos seus pensadores. As
géneses da Escola Inglesa remontam ao início de 1959, ano em que um grupo restrito de
académicos decide indagar sobre questões em voga e fulcrais da teoria internacional. Com
Herbert Butterfield como principal figura, é criado o Comité Britânico da Teoria Politica,
Dunne(2013) sustenta que “Early discussions of the British Committee revolved around
founding issues to do with the nature of IR theory, and the possibilities of establishing order
given the condition of international anarchy” (p. 134). A Escola Inglesa foi preterida em favor
das teorias do poder racional e pela supremacia emergente das escolas teóricas norte
americanas. As contribuições da Escola Inglesa foram colocadas na sombra pelo grande
impacto dado à filosofia e à sociologia no seio dos estudos das RI. O ciclo de reflexões sobre a
teoria inicia-se após uma severa critica de Roy Jones (1981) à corrente da Escola Inglesa,
adjetivando a contribuição da mesma á literatura como estéril, afirmando que os seus teóricos
não passavam de um grupo de autoproclamados ligados á tradição cuja partilha de bases
ontológicas comuns entre eles era inexistente.
O fim do comité acontece em 1985, um ano após a morte de Bull, A teoria era tida como
sendo desconforme face ao aparecimento de novas disciplinas como analise de política externa

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e economia política internacional, no entanto a inclusão da mesma em livros influentes, leva a


que na década de 90 despontasse o interesse pela mesma, era o renascer da Teoria da Escola
Inglesa.
Foram inúmeras e importantes as contribuições que Wight e Bull deram ao estudo das
Relações Internacionais, no entanto as mesmas tardaram a serem reconhecidas, devido às
doutrinas Realismo/Liberalismo que se cimentaram no seio do estudo das RI`s. Estes autores
foram, continuamente e de forma incorreta, catalogados como realistas ou liberais pois fazem
uso de premissas comuns às teorias das duas escolas dominantes como refere Dunne (1998)
“the English School is na important voice in academic International Relations which has either
not been heard or has been misrepresented as a derivative of realism” (p. 01).
A Escola Inglesa surge após a discussão metodológica que se desencadeou entre
Realistas e Liberais face à grande incerteza dessas doutrinas no contexto da Guerra Fria,
resgatando alguns conceitos das duas teorias em questão. Convém referir que apesar desta
escola se contrapor à tradição realista, a mesma não se interroga sobre os seus traços capitais,
do realismo, inerentes à sua visão/conceção do mundo, encontrando nela instrumentos
conceptuais de fulcral importância. Com refere Gonçalves (2002) “…Bull explicitamente
incorporou à sua reflexão sobre as relações internacionais […] ideias centrais arroladas no
debate entre as três maiores tradições do pensamento ocidental…” (p. XII), no intuito de
encontrar “…uma via média entre o realismo do power politics e o utopismo revolucionista”
(Santos, p. 61). Os vastos estudos encetados sobre uma panóplia de diferentes campos empíricos
e conceituais da disciplina, vieram a cimentaram a contribuição na história das Relações
Internacionais, sendo hoje uma “…das mais consistentes metodologias para a circunscrição dos
problemas apresentados pelas mudanças […] da vida internacional” (Neves, 2008, p. 25). A
Escola Inglesa procurou desenvolver uma linha teórica de pensamento que se encontrasse entre
as vertentes realista e liberalista, criando assim uma via intermédia.

3-Principais Conceitos
Sistema Internacional, Sociedade Internacional e Ordem

A Escola Inglesa usou sistematicamente a História na análise dos fatos internacionais,


no entanto para Wight e Bull, a Política Internacional não se refletia em fatos repetidos nem
emanados por leis numa estrutura fechada. Estes autores distanciam-se das ciências exatas e
encetam uma análise profunda do Sistema Internacional, por uma via normativa, em que o foco

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era a investigação de fatos históricos, em valores nacionais e na tomada de decisão dos agentes.
A Escola Inglesa entende a cooperação e o conflito, como acontecimentos comuns dentro do
sistema dependendo das circunstâncias (Linklater & Suganami, 2006).
O britânico Martin Wight foi um dos pioneiros na investigação da génese das relações
internacionais. Segundo Castro (2012), este diplomata e historiador, com base nas perspetivas
de Maquiavel, Hugo Grotius e Kant, defendia a existência de três paradigmas no
comportamento internacional dos Estados: o realismo, o racionalismo e o revolucionarismo.
Wight acreditava que só interpretando e discutindo os três paradigmas como um todo se
conseguiria alcançar a verdade. Moreira (2005) refere que admitindo a relevância da power
politics e o desânimo em prol de obter progressos no âmbito das relações internacionais, Wight
não compreende que a disputa pelo poder debilita o objeto da disciplina, dando-lhe enfase só
quando se pratica um sistema de Estados.
Segundo Wight (1977) quando nos referimos a estados estamos a falar de estados
soberanos, autoridades políticas que não reconhecem nenhum como sendo seu superior. No
entanto sustenta que para serem considerados um sistema é necessário “…mean something
more: note only must each clain Independence of any political superior for itself but each must
recognize the validity of the same claim by all the others” (p. 23). Moreira (2005) considera
que “… neste modelo a luta é estruturada, baseada sobretudo no equilíbrio de poderes, […] de
acordo com a geografia e a força de cada agente, mas também de acordo com um sistema de
normas” (p. 66).
A Escola Inglesa é associada á tradição grotiana, pois para esses pensadores o sistema
internacional é na realidade anárquico. Embora neste sistema nada impeça a existência de
regras/leis de bom convívio entre os agentes estatais, outorgando assim um carater de sociedade
ao anárquico sistema internacional. Ou seja, os pensadores desta escola acreditam que as leis e
as instituições dentro da anarquia internacional proporcionam esse carater de sociedade. Wight
(2002) rebate a ideia dos que sustentam faltar à sociedade internacional muitas formalidades
para ser considerada como tal, enfatizando que nem com essas supostas lacunas preenchidas
pode ser considerada como tal pois “…ela não chega a constituir uma...” (p. 97). Contrapondo
com a ideia de que a existência de relações internacionais é tida como uma anarquia
internacional onde a guerra e o conflito imperam, afirma que “…se a anarquia significa a
ausência de um governo comum […] é precisamente a característica na qual a política
internacional difere da política doméstica” (p. 97).

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Na obra “A Política do Poder” (2005), o historiador defende que se o termo anarquia


representa o desarranjo completo, então estamos perante uma descrição deturpada das relações
internacionais. Nas questões internacionais, segundo o mesmo coabitam a cooperação e o
conflito em simultâneo, sendo que de igual modo existem organizações diplomáticas, o direito
internacional e instituições internacionais que interferem na esfera da política do poder.
Segundo Wight (2002) “Dificilmente pode ser negada a existência de um sistema de
estados, e admitir em parte a existência de uma sociedade, pois uma sociedade corresponde a
um certo número de indivíduos ligados por um sistema de relacionamentos com certos objetivos
comuns” (p. 97). Oliveira (2002) identifica Wight, bem como toda a Escola Inglesa, como
detentores de uma perspetiva de multiplicidade, no entanto a sua linha de pensamento converge
essencialmente em direção ao conceito de sociedade internacional, conectada com normas e
instituições inseridas numa atmosfera anárquica.
O diplomata potência o seu pensamento através das suas obras, nas quais a sua análise incide
sobre “…o comportamento internacional dos estados e o relacionamento entre eles […]
correlaciona a presença de atores e instituições e os elementos de poder nessas interações…”
(Oliveira, 2002, p. XXXIII).
Na Escola Inglesa a sociedade internacional entende-se quando inserida num cenário
em que exista interação entre as unidades soberanas, sendo imperativo os Estados se
reconhecerem como tal. Estados que embora soberanos, partilham alguns valores e aceitam
submeter as suas ações a um leque de regras e normas de reciprocidade, formando assim uma
comunidade.
Os tradicionalistas desta teoria entendem que a Política Internacional é controlada por Estados
independentes, as instituições encontram-se em níveis inferiores ao Estado, considerando que
as organizações, sejam elas governamentais ou não, estão acopladas a um território e obedientes
a um Estado. Na sociedade internacional os Estados são os principais agentes, não as
instituições, organizações ou indivíduos.

Nome incontornável no seio da Escola Inglesa e das Relações Internacionais é o do


britânico Hedlly Bull. Antigo diretor da Unidade de Controlo de Armas e Desarmamento no
Ministério Exterior britânico (perdendo assim a nacionalidade australiana), Bull foi aluno de
Wight e teve posteriormente um contributo decisivo para o nome do seu professor perpetuar
nos anis das Relações Internacionais. Bull sistematizou as ideias do mestre e deu-as a conhecer

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às comunidades científicas e políticas. Seguindo o caminho desbravado pelo mestre,


associando-se ao racionalismo grotiano, encetou uma metodização dos desígnios da Escola
Inglesa inseridos na Sociedade Internacional e abriu o debate sobre a noção da ordem
internacional. A sua obra The Anarchial Society, de 1977, centra-se na sistematização de uma
sociedade de Estados, obra que se viria a tornar um ícone das RI.
Bull (1995) considera que a origem das relações internacionais está intrinsecamente
ligada à “existence of states, or independet political communities…” (p. 08), considerando que
a existência de interesses comuns se projeta no sistema internacional originando uma sociedade
de Estados soberanos” (Santos, 2014)
Uma sociedade de estados subsiste segundo Bull (1995) quando “a group of states
conscious of certain common interests and common values form a society in the sense that they
conceive themselves to be bound by a common set of rules in their relations with one another
and share in the working of common institution” (p. 13). O autor sugere a existência de uma
organização no contexto internacional equiparável à ordem na esfera social, sem criar ideais e
sem mostrar ilusões demonstra a existência das relações intraestatais. Segundo Dunne (2013)
Bull sugere uma ordem internacional complacente, com bases numa anuência definida, dando
enfase á força da coexistência que possibilita assim distar entre a negação realista da sociedade
internacional e assumir legalmente a existência da mesma. A dimensão da justiça e da ordem
são, para Bull, incluídas como um valor na sociedade internacional sendo “…i tis difined by
shared values and institutions and is held together by binding legal rules…” (p. 142).

Bull(1995) ressalva que “First we have to distinguish a simple balance of power from a
complex one, that is to say a balance a made up of two powers from one consisting of three or
more” (p. 97) Little (2000) salienta que na ótica de Bull a ordem deveria ser exercida pelas
grandes potencias, visto existirem disparidade de poderes entre os atores. Sempre com a ideia
da balança de poder em mente, bem como a do sistema internacional, entendia que que essa
mesma balança carecia de equilíbrio sendo foco gerador de conflitos, em momentos singulares,
mas que não era algo imóvel no tempo. Bull (1995) considerava que um simples equilíbrio de
poder requer necessariamente igualdade ou paridade de poder, um complexo equilíbrio de poder
não, alertando que “The distinction between the general balance and local balances should not
be confused with that betweenthe dominant balance and subordinate balences” (p. 98)

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Para Saraiva (2006) Bull foi o mais apreensivo pensador da Escola Inglesa face á
galvanização ideológica da sociedade internacional pós 1945, consciente que “A anarquia é
produto tanto da ideologia como do sistema de Estados sem soberania” (Halliday, 2007, p. 146),
a sua noção de sociedade anárquica oscila entre a compreensão grociana da sociedade
internacional e as perspetivas normativas de Wight.

4-Caso Estudo
Dentro da Sociedade de Estados, os principais responsáveis para efetivar as regras são
os próprios Estados, visto não existir um governo central, nem um nível de cumplicidade entre
eles que proporcione a execução dessas normas em termos de grupos politicamente capazes.
Os Estados concordam em respeitar o princípio da soberania e da autodeterminação. No entanto
agem por meio de ações efetivas com as quais demonstram se acatam ou não determinadas
normas, ocorrendo inúmeras vezes adulteração de fatos em favor de interesses de outros Estados
(Bull, 1995). Por norma, as intervenções humanitárias são tidas como viáveis para os chefes de
Estado quando ocorrem graves crises humanitárias. Alguns são mais inclinados que outros,
propensão essa que está inerente aos seus interesses. A não-intervenção e o princípio de
soberania são as normas mais alegadas nessa oposição.
Moreira (2005) destaca que a insuficiência dos Estados soberanos clássicos, as
inevitáveis interdependências e os apelos às supranacionalidades, não fazem desaparecer as
bases da exigência da igualdade dos povos, da sua autodeterminação (independentemente da
época) ou dos direitos do Homem assegurados (independentemente da organização política).
De igual modo temos que ter presente, que “Há Estados em que não é possível articular qualquer
forma de governança e estabilidade, gerando […] anarquia […] maciças violações de direitos
civis e liberdades individuais” (Castro, 2012, p. 119).
As normas mais frequentemente discutidas no que concerne às intervenções
humanitárias são as decorrentes dos princípios da soberania e da não-intervenção, de um
lado, e de proteção dos direitos humanos, de outro. A Escola Inglesa encara as intervenções
humanitárias de forma desafiadora, pois nos seus trabalhos realçam os inúmeros aspetos
corelacionados às regras da Sociedade Internacional, discutindo-os entre os seus teóricos e nem
sempre de forma consensual.
A nova conjetura surgida no pós-Guerra Fria, veio a injungir uma ação intervencionista
no âmbito de diminuir o sofrimento humano em situações de emergência. Ora estas ações

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causam sempre alguma apreensão pois se de um lado temos os países discordantes ou


temerários desses procedimentos (onde imperam e se salvaguardam os princípios de soberania
e não intervenção), do outro lado temos os aficionados pelas práticas intervencionistas.
O parco cumprimento das normas é uma característica da Sociedade Anárquica, embora
as mesmas sejam consideradas nas ações dos atores intervenientes. Se durante a Guerra Fria as
ações praticadas por EUA e URSS se pautavam por estratégias de ampliação e manutenção das
esferas de influência, com a Nova Ordem difundida face ao fim do conflito bipolar veio alterar
por completo as práticas de intervenção. As mesmas são cada vez menos legítimas no seio da
Sociedade Internacional urgindo a busca dessa legitimidade fundamentando-se em outras
regras.

Rodrigues (2000) apresenta-nos como exemplo os EUA, que para colocarem as práticas
estabelecidas em 1990, passaram a recorrer à ONU por forma a obterem autorização dentro do
Conselho de Segurança com base no cap. VII da carta da ONU. Sendo que existe quase sempre
uma tentativa de aliciamento multilateral quando o interesse em intervir se encontra presente.
Neste sentido apraze-me dizer que, a título de exemplo, as intervenções levadas a cabo no
Iraque “Operação Libertar o Iraque” e no Kosovo “Operação Força Aliada” (na qual estive
fisicamente presente) foram ambas encetadas sem a aprovação do conselho de segurança da
ONU.
O poder é tido como ponto essencial em situações em que as normas e os direitos
internacionais sejam violados. Bull (1995) salienta que as intervenções são um ponto de colisão
entre as imposições de direito internacional e o equilíbrio de poder. Quando se analisam
questões sobre o equilíbrio de poder, constata-se que uma intervenção nos assuntos internos
pode surgir em prol da inevitabilidade de uma grande potência instituir influência ou oferecer
oposição à tentativa de expansão da esfera de influência de outra grande potência.
“The extension of international law from the exclusive rights of sovereign states towards
recognizing the rights of all individuals by virtue of their common humanity marks a significant
normative Shift in the character of world politics” (Dunne, 2013, p. 146).
Emerge uma nova problemática no horizonte da Sociedade Internacional em torno da
regra (ou da exceção) das intervenções. O equilíbrio de poder é um dos conceitos basilares na
ordem internacional, a violação das regras de não-intervenção é condenável, inúmeras vezes,
pela sociedade, sendo, no entanto, aceite como último recuso. Quando se correlacionam a

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proteção dos direitos humanos e os princípios de soberania e a não-intervenção a complexidade


aumenta. “In this system, in which rights and duties applied directly to states and nations, the
notion of human rights and duties has survived but it has gone underground” (Bull, 1995, p.
79). A proteção de carater humano sai debilitada num cenário de intervenções pois o seu peso
em relação à manutenção da ordem internacional é menor, apresentando ser um valor menor.
Bull (1995) considera que a justiça humana evidencia a proteção de bens jurídicos
individuais dos seres humanos e uma intervenção de cariz humanitário significa salvaguardar a
propriedade, a liberdade e a vida de cada um.
Colando em relevo o problema da adaptação das regras operacionais, morais e legais
em momentos mutáveis, Bull (1995) reconhece a ausência de uma autoridade universal de
forma a complementar, extinguir ou reformular as normas. Esta situação dá azo a distorções e
incoerência. Sendo um pratica cimentada na Sociedade Internacional as intervenções
humanitárias estão a anos-luz de atingirem consensualidade. São vários os avanços e recuos
face às regras a seguir nos últimos anos. Mesmo no seio da Escola Inglesa são inúmeras as
discrepâncias quanto à interpretação das questões relativas à ordem internacional, existe uma
mutação entre avaliações favoráveis e contestatórias, bem como cenários de analise mais
consensuais. A Escola Inglesa analisa as intervenções Humanitárias com uma visão societária.
A mesma pode ser interpretada numa linha pluralista ou contemporânea. Sendo que uma outra
interpretação pode ser reconhecida e considerada do agrado de outras teorias das RI, a corrente
das tradições, mais desafiante e ousada pode ser considera mais controversa face às várias
abordagens. Dunne (2013) refere que Bull “He believed that there was a danger that the
enforcement of human rights principles risked undermining international order” (p. 149)

CONCLUSÃO
Os autores da Escola Inglesa reconhecem que o sistema é anarquico, devido a não existir
uma autoridade capital , no entanto consideram ser suscetivel existir um ordenamento, face à
presença de instituições, proteção à propriedade e às leis.
A Escola Inglesa encetou um caminho por forma a observar as Relações Internacionais,
mais coerente com os tumultos de desconfiança em torno do racionalismo e mais próxima à
notoriedade do construtivismo social. A inevitabilidade de eleger uma tradição ou de uma teoria
especifica para entender a realidade e o empenho na procura de uma perspetiva pluralista, foram
indiscutivelmente as maiores contribuições da Escola Inglesa para o estudo das Relações

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Internacionais. A mesma é uma elaboração teórica de traço normativo, pois concede espaço à
mudança no sistema internacional, seja por meios das instituições, da justiça ou da ordem. Os
Estados são soberanos e são parte integrante de uma equação que é o mundo, sendo que este
por sua vez representa a sociedade. Como sabemos, as teorias não são imparciais, no entanto
podemos referir que a Escola Inglesa embora se desmarque dos métodos americanos o seu
núcleo duro vislumbra ainda a Política Internacional como o cenário para a concretização dos
proveitos das grandes potencias. A Escola Inglesa alcançou o seu êxito através de uma
metodologia histórica no estudo da disciplina, detém uma visão centrada na Europa e nos
europeus, defendendo acerrimamente as práticas usadas pela EU em prol da ciência social.
Podemos inegavelmente considerar que o êxito da Escola Inglesa muito se deve ao ter
conseguido iniciar e cimentar a troca de ideias entre as tendências de pensamentos, revelando
eu para se indagar sobre fatos internacionais é imperativo um vasto conhecimento da história,
da cultura e dos valores mesclados e seguidos pelos atores internacionais. A Escola Inglesa
trilhou o seu próprio percurso no alcance de se tornar ela mesma uma tradição. Os autores da
escola inglesa ao declinam os prismas externos do realismo, mostrando a sua obsessão pelo
idealismo ilusório e invocando por mudanças, encontram a possibilidade de conter os
antagonismos por meio de formas intermediarias. Segundo Saraiva (2006) “É esse o espaço
intelectual explorado pela Escola Inglesa […] reside nesse meio termo […] o enfrentamento
das árduas questões conceituais e praticas em torno das quais se debruça o pesquisador das
relações internacionais no mundo atual” (p. 133).
Dunne (2013) refere que “Bull e Wight recognized that a sophisticated analysis of world
politics required a systemic componente […] this vital elemento of the English school`s
theorizatio of word politics to be refined rather than discardedas some have claimed” (p. 144).
Uma das adversidades da Escola Inglesa é o fato de os seus fundamentos teóricos e as
suas investigações filosóficas terem acontecido antes do grande renascimento da teoria política
nas décadas 70 e 80 do seculo XX (Halliday, 2007).

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