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Teoria das Relações Internacionais
Paulo Carapito nº 43739
Segundo Dunne (2013) “…The English school was never very English and is even less
so today…” (p. 133), a Escola Inglesa é assim designada face ao fato de muitos dos seus
defensores iniciais serem de origem britânica, como são os casos de Carr, Sir Herbert
Butterfield,,Wight, Bull (nascido em solo australiano) ou Watson que incrementaram as suas
ideias nas décadas de 1960 e 1970, posteriormente surgem, Andrew Hurrel, Clark,, Dunne entre
outros que sendo também britânicos, mantem a tradição face á origem dos seus pensadores. As
géneses da Escola Inglesa remontam ao início de 1959, ano em que um grupo restrito de
académicos decide indagar sobre questões em voga e fulcrais da teoria internacional. Com
Herbert Butterfield como principal figura, é criado o Comité Britânico da Teoria Politica,
Dunne(2013) sustenta que “Early discussions of the British Committee revolved around
founding issues to do with the nature of IR theory, and the possibilities of establishing order
given the condition of international anarchy” (p. 134). A Escola Inglesa foi preterida em favor
das teorias do poder racional e pela supremacia emergente das escolas teóricas norte
americanas. As contribuições da Escola Inglesa foram colocadas na sombra pelo grande
impacto dado à filosofia e à sociologia no seio dos estudos das RI. O ciclo de reflexões sobre a
teoria inicia-se após uma severa critica de Roy Jones (1981) à corrente da Escola Inglesa,
adjetivando a contribuição da mesma á literatura como estéril, afirmando que os seus teóricos
não passavam de um grupo de autoproclamados ligados á tradição cuja partilha de bases
ontológicas comuns entre eles era inexistente.
O fim do comité acontece em 1985, um ano após a morte de Bull, A teoria era tida como
sendo desconforme face ao aparecimento de novas disciplinas como analise de política externa
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3-Principais Conceitos
Sistema Internacional, Sociedade Internacional e Ordem
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era a investigação de fatos históricos, em valores nacionais e na tomada de decisão dos agentes.
A Escola Inglesa entende a cooperação e o conflito, como acontecimentos comuns dentro do
sistema dependendo das circunstâncias (Linklater & Suganami, 2006).
O britânico Martin Wight foi um dos pioneiros na investigação da génese das relações
internacionais. Segundo Castro (2012), este diplomata e historiador, com base nas perspetivas
de Maquiavel, Hugo Grotius e Kant, defendia a existência de três paradigmas no
comportamento internacional dos Estados: o realismo, o racionalismo e o revolucionarismo.
Wight acreditava que só interpretando e discutindo os três paradigmas como um todo se
conseguiria alcançar a verdade. Moreira (2005) refere que admitindo a relevância da power
politics e o desânimo em prol de obter progressos no âmbito das relações internacionais, Wight
não compreende que a disputa pelo poder debilita o objeto da disciplina, dando-lhe enfase só
quando se pratica um sistema de Estados.
Segundo Wight (1977) quando nos referimos a estados estamos a falar de estados
soberanos, autoridades políticas que não reconhecem nenhum como sendo seu superior. No
entanto sustenta que para serem considerados um sistema é necessário “…mean something
more: note only must each clain Independence of any political superior for itself but each must
recognize the validity of the same claim by all the others” (p. 23). Moreira (2005) considera
que “… neste modelo a luta é estruturada, baseada sobretudo no equilíbrio de poderes, […] de
acordo com a geografia e a força de cada agente, mas também de acordo com um sistema de
normas” (p. 66).
A Escola Inglesa é associada á tradição grotiana, pois para esses pensadores o sistema
internacional é na realidade anárquico. Embora neste sistema nada impeça a existência de
regras/leis de bom convívio entre os agentes estatais, outorgando assim um carater de sociedade
ao anárquico sistema internacional. Ou seja, os pensadores desta escola acreditam que as leis e
as instituições dentro da anarquia internacional proporcionam esse carater de sociedade. Wight
(2002) rebate a ideia dos que sustentam faltar à sociedade internacional muitas formalidades
para ser considerada como tal, enfatizando que nem com essas supostas lacunas preenchidas
pode ser considerada como tal pois “…ela não chega a constituir uma...” (p. 97). Contrapondo
com a ideia de que a existência de relações internacionais é tida como uma anarquia
internacional onde a guerra e o conflito imperam, afirma que “…se a anarquia significa a
ausência de um governo comum […] é precisamente a característica na qual a política
internacional difere da política doméstica” (p. 97).
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Bull(1995) ressalva que “First we have to distinguish a simple balance of power from a
complex one, that is to say a balance a made up of two powers from one consisting of three or
more” (p. 97) Little (2000) salienta que na ótica de Bull a ordem deveria ser exercida pelas
grandes potencias, visto existirem disparidade de poderes entre os atores. Sempre com a ideia
da balança de poder em mente, bem como a do sistema internacional, entendia que que essa
mesma balança carecia de equilíbrio sendo foco gerador de conflitos, em momentos singulares,
mas que não era algo imóvel no tempo. Bull (1995) considerava que um simples equilíbrio de
poder requer necessariamente igualdade ou paridade de poder, um complexo equilíbrio de poder
não, alertando que “The distinction between the general balance and local balances should not
be confused with that betweenthe dominant balance and subordinate balences” (p. 98)
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Para Saraiva (2006) Bull foi o mais apreensivo pensador da Escola Inglesa face á
galvanização ideológica da sociedade internacional pós 1945, consciente que “A anarquia é
produto tanto da ideologia como do sistema de Estados sem soberania” (Halliday, 2007, p. 146),
a sua noção de sociedade anárquica oscila entre a compreensão grociana da sociedade
internacional e as perspetivas normativas de Wight.
4-Caso Estudo
Dentro da Sociedade de Estados, os principais responsáveis para efetivar as regras são
os próprios Estados, visto não existir um governo central, nem um nível de cumplicidade entre
eles que proporcione a execução dessas normas em termos de grupos politicamente capazes.
Os Estados concordam em respeitar o princípio da soberania e da autodeterminação. No entanto
agem por meio de ações efetivas com as quais demonstram se acatam ou não determinadas
normas, ocorrendo inúmeras vezes adulteração de fatos em favor de interesses de outros Estados
(Bull, 1995). Por norma, as intervenções humanitárias são tidas como viáveis para os chefes de
Estado quando ocorrem graves crises humanitárias. Alguns são mais inclinados que outros,
propensão essa que está inerente aos seus interesses. A não-intervenção e o princípio de
soberania são as normas mais alegadas nessa oposição.
Moreira (2005) destaca que a insuficiência dos Estados soberanos clássicos, as
inevitáveis interdependências e os apelos às supranacionalidades, não fazem desaparecer as
bases da exigência da igualdade dos povos, da sua autodeterminação (independentemente da
época) ou dos direitos do Homem assegurados (independentemente da organização política).
De igual modo temos que ter presente, que “Há Estados em que não é possível articular qualquer
forma de governança e estabilidade, gerando […] anarquia […] maciças violações de direitos
civis e liberdades individuais” (Castro, 2012, p. 119).
As normas mais frequentemente discutidas no que concerne às intervenções
humanitárias são as decorrentes dos princípios da soberania e da não-intervenção, de um
lado, e de proteção dos direitos humanos, de outro. A Escola Inglesa encara as intervenções
humanitárias de forma desafiadora, pois nos seus trabalhos realçam os inúmeros aspetos
corelacionados às regras da Sociedade Internacional, discutindo-os entre os seus teóricos e nem
sempre de forma consensual.
A nova conjetura surgida no pós-Guerra Fria, veio a injungir uma ação intervencionista
no âmbito de diminuir o sofrimento humano em situações de emergência. Ora estas ações
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Rodrigues (2000) apresenta-nos como exemplo os EUA, que para colocarem as práticas
estabelecidas em 1990, passaram a recorrer à ONU por forma a obterem autorização dentro do
Conselho de Segurança com base no cap. VII da carta da ONU. Sendo que existe quase sempre
uma tentativa de aliciamento multilateral quando o interesse em intervir se encontra presente.
Neste sentido apraze-me dizer que, a título de exemplo, as intervenções levadas a cabo no
Iraque “Operação Libertar o Iraque” e no Kosovo “Operação Força Aliada” (na qual estive
fisicamente presente) foram ambas encetadas sem a aprovação do conselho de segurança da
ONU.
O poder é tido como ponto essencial em situações em que as normas e os direitos
internacionais sejam violados. Bull (1995) salienta que as intervenções são um ponto de colisão
entre as imposições de direito internacional e o equilíbrio de poder. Quando se analisam
questões sobre o equilíbrio de poder, constata-se que uma intervenção nos assuntos internos
pode surgir em prol da inevitabilidade de uma grande potência instituir influência ou oferecer
oposição à tentativa de expansão da esfera de influência de outra grande potência.
“The extension of international law from the exclusive rights of sovereign states towards
recognizing the rights of all individuals by virtue of their common humanity marks a significant
normative Shift in the character of world politics” (Dunne, 2013, p. 146).
Emerge uma nova problemática no horizonte da Sociedade Internacional em torno da
regra (ou da exceção) das intervenções. O equilíbrio de poder é um dos conceitos basilares na
ordem internacional, a violação das regras de não-intervenção é condenável, inúmeras vezes,
pela sociedade, sendo, no entanto, aceite como último recuso. Quando se correlacionam a
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CONCLUSÃO
Os autores da Escola Inglesa reconhecem que o sistema é anarquico, devido a não existir
uma autoridade capital , no entanto consideram ser suscetivel existir um ordenamento, face à
presença de instituições, proteção à propriedade e às leis.
A Escola Inglesa encetou um caminho por forma a observar as Relações Internacionais,
mais coerente com os tumultos de desconfiança em torno do racionalismo e mais próxima à
notoriedade do construtivismo social. A inevitabilidade de eleger uma tradição ou de uma teoria
especifica para entender a realidade e o empenho na procura de uma perspetiva pluralista, foram
indiscutivelmente as maiores contribuições da Escola Inglesa para o estudo das Relações
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Internacionais. A mesma é uma elaboração teórica de traço normativo, pois concede espaço à
mudança no sistema internacional, seja por meios das instituições, da justiça ou da ordem. Os
Estados são soberanos e são parte integrante de uma equação que é o mundo, sendo que este
por sua vez representa a sociedade. Como sabemos, as teorias não são imparciais, no entanto
podemos referir que a Escola Inglesa embora se desmarque dos métodos americanos o seu
núcleo duro vislumbra ainda a Política Internacional como o cenário para a concretização dos
proveitos das grandes potencias. A Escola Inglesa alcançou o seu êxito através de uma
metodologia histórica no estudo da disciplina, detém uma visão centrada na Europa e nos
europeus, defendendo acerrimamente as práticas usadas pela EU em prol da ciência social.
Podemos inegavelmente considerar que o êxito da Escola Inglesa muito se deve ao ter
conseguido iniciar e cimentar a troca de ideias entre as tendências de pensamentos, revelando
eu para se indagar sobre fatos internacionais é imperativo um vasto conhecimento da história,
da cultura e dos valores mesclados e seguidos pelos atores internacionais. A Escola Inglesa
trilhou o seu próprio percurso no alcance de se tornar ela mesma uma tradição. Os autores da
escola inglesa ao declinam os prismas externos do realismo, mostrando a sua obsessão pelo
idealismo ilusório e invocando por mudanças, encontram a possibilidade de conter os
antagonismos por meio de formas intermediarias. Segundo Saraiva (2006) “É esse o espaço
intelectual explorado pela Escola Inglesa […] reside nesse meio termo […] o enfrentamento
das árduas questões conceituais e praticas em torno das quais se debruça o pesquisador das
relações internacionais no mundo atual” (p. 133).
Dunne (2013) refere que “Bull e Wight recognized that a sophisticated analysis of world
politics required a systemic componente […] this vital elemento of the English school`s
theorizatio of word politics to be refined rather than discardedas some have claimed” (p. 144).
Uma das adversidades da Escola Inglesa é o fato de os seus fundamentos teóricos e as
suas investigações filosóficas terem acontecido antes do grande renascimento da teoria política
nas décadas 70 e 80 do seculo XX (Halliday, 2007).
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