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PROGRAMA CRIANÇA FELIZ: A PRIMEIRA INFÂNCIA NA ASSISTÊNCIA

SOCIAL UM MODELO REDUCIONISTA

Ana Claudia Do Prado Lima1

Resumo: O artigo apresentado é resultado de uma pesquisa em andamento, considerando o processo de


identificação da primeira infância como temática importante na agenda governamental, o objetivo deste artigo é
refletir o Programa Criança Feliz e sua implementação com as políticas sociais observando as ações
governamentais e da sociedade em torno da criança. Tendo como princípio a pesquisa documental, o
procedimento metodológico utilizado para escrita deste artigo é a análise de políticas e documentos do Programa
Criança Feliz, e dos que foram subsidiário ao programa. Percebendo que o Estado historicamente tratou a criança
como instrumento, é preciso pesquisas para desnudar as concepções e ideais que rondam a criança e suas
infâncias. Tendo como questionamento qual o propósito do Programa Criança Feliz em relação ao direito da
criança e às políticas sociais?

Palavras-chave: Programa Criança Feliz; Políticas Sociais; Políticas para primeira infância.

INTRODUÇÃO
Após a Segunda Guerra Mundial a criação do fundo das Nações Unidas para a
infância em 1946 (Unicef) se deu diante de um movimento internacional em defesa dos
direitos das crianças, tendo como base a Convenção dos Direitos da Criança, conhecido como
a Declaração de Genebra dos Direitos da Criança, datado do ano de 1959, esta declaração é
adotada pela Liga das Nações, que foi uma organização internacional de 1919, construída
pelos países vencedores da primeira guerra mundial, tendo sua última reunião no ano de 1946.
Neste percurso a Organização Intergovernamental (ONU) no ano de 1945 substitui a
Liga das Nações após o fim da segunda guerra mundial, trazendo na agenda a importância dos
cuidados ás crianças, sendo recomendado através do Conselho Econômico e Social a adesão
da declaração de Genebra. As crianças como sujeitos de direitos são evidenciadas
internacionalmente no ano de 1948 com a declaração universal dos direitos humanos
proclamada pela assembleia geral das nações.

1Mestranda, pela Universidade Univille, Universidade da região de Joinville. E-mail:


anaclaudiapradolima@hotmail.com

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No Brasil décadas antes da Constituição Federal de 1988, o desenvolvimento das
crianças na política brasileira esteve atrelado ao cuidado, ligado ao assistencialismo de
crianças e adolescentes abandonados, que necessitavam de reparos, o que se evidencia com o
Serviço de Assistência ao Menor (SAM), criado no ano de 1941, e quase três décadas depois
da SAM, no ano de 1969 em São José na Costa Rica as crianças são também alvo de
preocupação em escala internacional, através da Conferência Especializada Interamericana
sobre Direitos Humanos, que em seu artigo 19,  Direitos da criança, estabelece que “Toda
criança tem direito às medidas de proteção que a sua condição de menor requer por parte da
sua família, da sociedade e do Estado”. (OEA, 1969).
O intuito deste artigo não é a história da criança e da infância, mas é importante
situar que o lugar que a criança ocupa hoje na sociedade foi alcançado através de movimentos
sociais, por vezes pautados nos movimentos médicos higienistas e movimentos religiosos
atrelados as forças armadas.
Nos séculos XVIII e XIX as crianças ocuparam o imaginário social de diferentes
formas, desde criança estorvo, personificação do mal e até como possíveis soldados, que para
isso necessitariam da caridade e assistência da sociedade, a criança como cidadã e a infância
como categoria importante no desenvolvimento, são temas recentes na sociedade, que ainda
estão em constante transformação buscando atingir a legitimidade, um exemplo é o extinto
Código de Menores também chamado de Código Mello Matos, Decreto nº 17.947/27 -A. do
ano de 1941, foi uma das primeiras legislações voltadas às crianças no Brasil, que na época
eram chamados de menores.
Ainda no mesmo ano com o Decreto Lei nº 3.799 é criado o serviço de assistência
ao menor, similar a uma penitenciária, e por estar subordinado ao Ministério da Justiça,
demonstrava um viés preventivo de combate à criminalidade, evidenciando a concepção de
criança que precisa ser recuperada da marginalidade e moralizada, estabelecendo uma política
pautada na correção, no assistencialismo e repressão.
Ainda no âmbito do assistencialismo, temos no ano de 1942 a legião Brasileira de
Assistência (LBA), dirigido pela primeira dama Darcy Vargas, estreando o primeiro damismo
no Brasil, e algumas décadas depois em 1964 a Política Nacional do Bem Estar do menor
(PNBEM) que é implementada pela FUNABEM- Fundação Nacional do Bem Estar do menor,
remetendo a reformulação do Código de Menores 38 anos depois de sua criação, no ano de
1979, que introduz o termo "menor em situação irregular".

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Percebe-se com o Código de Menores que o direito da criança só tinha visibilidade
quando esta era dita em risco ou situação de doença social. E com o regime militar o
assistencialismo repressor entra em ascensão passando a considerar os menores de marginais
a carentes, que necessitam de políticas sociais compensatórias, ainda atrelado ao período dos
anos 30, ao qual o conceito de periculosidade é ligado aos menores, este se acopla ao conceito
de "privação" que o estado deveria sofrer. Vergara (1992).
Tendo como divergência dos anos 30 apenas as políticas compensatórias, evidente
ainda é o autoritarismo e centralização na construção da assistência á infância, a criança vai a
passos lentos tendo maior visibilidade, e em 1988 com a Constituição Federal é proposto à
criança a proteção integral, rompendo com a situação irregular trazida pelo código de
menores.

A Doutrina da Proteção Integral reconhece que todas as crianças e


adolescentes são detentores de todos os direitos que tem os adultos e que
sejam aplicáveis á sua idade, além dos direitos especiais que decorrem,
precisamente, da especial condição de pessoas em desenvolvimento.
(JÚNIOR, 2007, p.4).

Os diferentes momentos históricos trazidos até aqui em relação à criança mostra a


evolução das políticas dirigidas para primeira infância, e no Brasil nos anos 30 até 1964
percebe-se um momento correcional e repressivo, direcionado às crianças, e na ditadura em
1964 até meados de 1988 a criança tem as políticas e programas cunhados em um viés
assistencialista e repressor, e somente a partir de 1988 a garantia de direitos entra no
imaginário social e se torna lei com a Constituição Federal.
No Brasil o grande Marco de conquistas de direitos humanos sociais infantis se
evidencia tardiamente com a Constituição Federal, que traz em seu Art. 227 providencias em
relação à criança:

 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988).

Passado alguns anos a promulgação da Constituição Federal que dá visibilidade aos


direitos da criança e do adolescente, proporciona nos anos 90 a criação do
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente, e também a criação da Lei

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Orgânica de assistência social - LOAS em 1993, e a LDB - Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional no ano de 1996, também no ano de 1990 se dá a Convenção sobre os
Direitos da Criança (CDC) adotada pela Assembleia Geral da ONU em 20 de novembro de
1989, entrando em vigor no dia 2 de setembro de 1990. A CDC é o instrumento de direitos
humano mais aceito na história por 196 países.
Nos anos 90 após vários movimentos de luta para reconhecer a criança e o
adolescente como sujeitos de direitos, é promulgada a Lei Nº 8. 609 o Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA), que propõe políticas de atendimento ao adolescente infrator com
medidas diretamente relacionadas à Constituição Federal, ele também estabeleceu a criança
até doze anos de idade incompletos e adolescente entre 12 e 18 anos, as medidas do ECA são
protetivas no intuito de salvaguardar as crianças, adolescentes e suas famílias na garantia de
seus direitos e deveres, tendo o Conselho Tutelar atuando na aplicabilidade das medidas
previstas pelo ECA.
A LOAS promulgada em 7 de Dezembro de 1993 trata da organização da assistência
social para garantir uma seguridade social não contributiva, buscando alocar os sujeitos no
mercado de trabalho, auxiliando na habilitação e reabilitação de pessoas com necessidades
especiais, as integrando a vida comunitária. No ano de 1996 é aprovada a Lei Nº 9.394 (LDB)
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que regulamenta todos os níveis da educação.
O percurso traçado até agora mostra que a garantia dos direitos das crianças e,
sobretudo no Brasil, tem como predomínio a filantropia até meados do século XX, tendo
ainda na década de 30 uma ampliação das visões higienistas ensaiando políticas de estado
para infância, o que se evidenciou com o Código de Menores e Serviço de Assistência ao
Menor (SAM), políticas ainda voltadas para crianças chamadas de menor em situação
irregular.
Após a ditadura militar a retomada democrática possibilitou a eclosão de
movimentos sociais e lutas da sociedade civil organizada, no intuito de garantir os direitos das
crianças e adolescentes, surgindo diante deste cenário a Comissão Nacional Criança e
Constituinte (CNCC), com o objetivo de encaminhar propostas de políticas públicas para a
promoção e proteção dos direitos das crianças para a Assembleia Nacional Constituinte
(ANC), diante disso percebe-se a perspectiva da criança como sujeito de direitos pairando o
campo normativo, o qual é consolidado com a Constituição Federal de 1988, que reafirma
com o ECA sua concepção de proteção integral á criança, tomando o lugar da
concepção de cuidado e proteção apenas para menores em situação irregular.

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Também no ano de 1998 acontece o Primer Estúdio Internacional Comparativo (PEIC), com
13 países latino-americanos, inclusive o Brasil, o que fortaleceu a importância dos cuidados
na primeira infância para melhores resultados das políticas educacionais.

Trata-se do primeiro estudo internacional sobre resultados da escola na


América Latina a utilizar testes e questionários comuns em vários países. O
estudo do PEIC envolveu (a) mais de 50.000 alunos da 3ª e 4ª séries para as
habilidades de linguagem e matemática e (b) a aplicação de questionários
para alunos, pais, professores e administradores escolares. Os dados
incluíram consideráveis informações sobre os resultados da primeira
infância, como as práticas domésticas dos pais e se a criança frequentava
creche ou não. Este estudo comparativo é um dos primeiros a avaliar a
importância destes fatores. O estudo multinacional foi financiado pelo Banco
Interamericano de Desenvolvimento; Convênio Andrés Bello; Ford
Foundation; UNESCO (United Nations Educational, Scientific, and Cultural
Organization). (YOUNG, 2010, p.89).

As ações da sociedade e do governo se reestruturam e possibilitam a implementação


de políticas públicas voltadas para a primeira infância, o que pode ser observado por Egas
(2016):

Na última década, a introdução de políticas de superação das desigualdades


sociais beneficiaram, sobretudo as crianças na primeira infância, sendo
possível observar melhoria dos indicadores de saúde física de crianças
beneficiadas pelo Bolsa Família, em relação à estatura e a mortalidade
infantil. Além disso, a redução nas taxas de extrema pobreza é mais
acentuada para crianças na primeira infância. A melhora nos indicadores de
saúde física e de pobreza colocou o Brasil em outro patamar quando se trata
de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento da primeira infância.
Superado o desafio da sobrevivência, agora é hora de voltar à atenção para
outras dimensões da promoção de direitos e proteção contra a violência
(EGAS, 2016, p. 261).

Mesmo com o progresso no atendimento as crianças, é importante estar atento para o


fato de que a legitimação dos direitos da criança, adotados nas normativas internacionais e
também nas legislações nacionais, ainda não são direitos garantidos e efetivados a todas as
crianças, tendo muitos desses direitos ainda subjetivos, como o acesso à educação infantil. E
no âmbito da criança sujeito de direitos, destaca-se a Rede Nacional Primeira Infância
(RNPI), que iniciou as atividades no ano de 2007 e elaborou o Plano Nacional pela Primeira
Infância, aprovado pelo CONANDA - Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente, criado no ano de 1991.

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A RNPI também foi aderida pela secretaria de direitos humanos da presidência,
como um plano integral, o qual trata de todos os direitos da primeira infância com metas até
2022, e o Plano Nacional pela Primeira Infância lançado no ano de 2010 alavanca no país os
cuidados com a primeira infância, tratando do desenvolvimento na primeira infância
cientificamente. E a partir do ano seguinte, 2011, muitas medidas são aprovadas, e vão
impactar na construção de determinada concepção do atendimento a primeira infância, como
exemplo a Portaria Ministerial nº 1.459, Estratégia Rede Cegonha, visando proporcionar as
mulheres, “saúde qualidade de vida e bem estar, da gestação até os dois primeiros anos de
vida”. (BRASIL, 2011ª).
No ano de 2012 a Lei nº 12.722 prevê alterações no programa Bolsa Família, o quê
repercute também na primeira infância sobre tudo no âmbito da educação, com o apoio
financeiro da União para ampliação da oferta da Educação Infantil e de benefícios financeiros
para a superação da extrema pobreza, sendo estes cumulativos as crianças de zero a seis anos.
Dois anos depois em 2014, a Portaria Interministerial nº 2 de 16 de Setembro de 2014, dispõe
apoio financeiro suplementar da Lei nº 12.722 de 2012, que em seu art 1º dispõe:

Esta Portaria dispõe sobre a forma, o acompanhamento e a implementação


da transferência obrigatória de recursos aos Municípios e ao Distrito Federal
a título de apoio financeiro suplementar à manutenção e desenvolvimento da
educação infantil, para o atendimento em creches de crianças de zero a
quarenta e oito meses informadas no Censo Escolar da Educação Básica,
cujas famílias sejam beneficiárias do Programa Bolsa Família, de que trata o
art. 4º da Lei nº 12.722, de 2012.

No mesmo ano de 2014, a resolução SEB/MEC nº 1 de 2014 defini as despesas


permitidas com recursos repassados para apoio financeiro a manutenção e ao
desenvolvimento da educação infantil de 0 a 48 meses, e no ano de 2015 é estabelecido os
procedimentos operacionais para transferência obrigatória de recursos financeiros aos
municípios e Distrito Federal, para manutenção e desenvolvimento da Educação Infantil de
crianças de 0 a 48 meses, cadastradas no censo escolar, cujas famílias são beneficiárias do
programa Bolsa Família, estes procedimentos são autorizados pela resolução CD/FNDE/MEC
n. 19 de 2015, que também estabeleceu os procedimentos operacionais do programa Brasil
Carinhoso, programa do governo federal, que fomentou no país o desenvolvimento da
primeira infância.
Ainda no ano de 2014, na 15ª reunião da comissão especial da
primeira infância tem o projeto de lei 6.998/2013 aprovado, deliberando a

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proposta da lei de instituição de uma política integrada para primeira infância, separado do
Estatuto da Criança e do Adolescente, e no ano de 2016 este projeto de lei é aprovado,
originando a lei número 13.257 no dia 8 de março de 2016 o Marco legal da primeira infância.
Diante do exposto, este artigo discorre a seguir do Marco legal da primeira Infância e
do Programa Criança Feliz analisando sua implementação no ano de 2016 considerando o
contexto político refletindo com as políticas sociais.

PROGRAMA CRIANÇA FELIZ E O ASSISTENCIALISMO NA PRIMEIRA


INFÂNCIA

Pensando Com Didonet (2012), é importante refletir que o Marco legal da primeira
infância, regulamentado pela lei nº 13.257 de 2016, “estabelece os princípios e diretrizes para
a formulação e a implementação de políticas públicas para a primeira infância, em atenção à
especificidade e à relevância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento infantil e no
desenvolvimento humano”. (BRASIL, 2016a). O Marco legal da primeira infância em seu
artigo 2º considera primeira infância o período que abrange os primeiros seis anos completos
ou setenta e dois meses de vida da criança. (BRASIL, 2016a).
Desde os anos 2000 o Brasil conta com mobilizações sociais para que a primeira
infância seja uma pauta constante na agenda governamental, e teve apoio da Rede Nacional
Primeira Infância e da Frente Parlamentar da Primeira Infância, neste âmbito é importante
ressaltar que o projeto de lei que originou o Marco legal da primeira infância tem origem no
plano de ação de um grupo de parlamentares, participantes do curso de liderança executiva em
desenvolvimento na primeira infância, organizado pelo Núcleo Ciência pela Primeira
Infância, e evidencia que o projeto de lei nº 6.998/2013 proposto pelo Osmar Terra, cria a
política nacional integrada para primeira infância que se tornou o Marco legal da primeira
infância.
Também nos anos 2000 o extinto Comitê de Desenvolvimento Integral da Primeira
Infância (CODIPI), criados sobre os ideais de Osmar terra, deu origem a Rede Nacional
Primeira Infância (RNPI), Osmar Terra em 2011 criou a Frente Parlamentar da Primeira
Infância, que realizou em Harvard o programa de liderança executiva em primeira infância
nos anos 2012 a 2014, em parceria com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV),
grupo INSPER, e Universidade de São Paulo, que integrarão o Núcleo Ciência
pela Primeira Infância.

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No ano de 2014 a Comissão Especial da Primeira Infância é criada, constituída por
membros que participaram do programa de liderança executiva em desenvolvimento da
primeira infância, que visou qualificar os deputados em desenvolvimento infantil, os
colocando a parte da importância de ter estratégias e investimentos nos primeiros anos de
vida, diante disso a comissão promove o II Seminário Internacional Marco legal da Primeira
Infância no mesmo ano, tendo como um dos muitos objetivos colher análises e sugestões para
aprimorar o projeto de lei nº 6.988/2013. A Comissão especial aprovou muitos outros
seminários e audiências públicas, tendo como destaque a segunda audiência que contou com
representantes da FMCSV, Instituto Alana, Unicef, do Doutor Cesar Victora, Rede Nacional
Primeira Infância, e Sociedade Brasileira de Pediatria, tendo como convidado apenas um
representante do CONANDA.
É evidente com as informações trazidas até aqui a formulação de políticas públicas
baseadas em evidências científicas, o que traz como foco principal a participação dos pais no
desenvolvimento das crianças, e também a importância dos primeiros 1.000 dias no
desenvolvimento infantil, especialmente na primeira infância, reforçando as políticas públicas
em consonância com as metas para o desenvolvimento sustentável, estabelecido no período de
2015 a 2030, o qual conta com 17 objetivos.
As Metas para o Desenvolvimento Sustentável no seu objetivo 4.2 diz que “Até
2030, garantir que todas as meninas e meninos tenham acesso a um desenvolvimento de
qualidade na primeira infância, cuidados e educação pré-escolar, de modo que eles estejam
prontos para o ensino primário” com isso percebe-se uma visão reducionista da educação na
primeira infância, sendo apenas como um preparo para educação primária, o que corrobora
com a hipótese de concepção de criança apenas como investimento e responsabilização das
famílias pelo sucesso do desenvolvimento das crianças, deslocando a criança como sujeito de
direitos, para sujeito oportuno de investimentos.
É importante destacar também, no percurso da defesa dos direitos das crianças a
Conferencia de Jomtien de 1990 que fornece definições e novas abordagens sobre as
necessidades básicas de aprendizagem, tendo em vista “[...] estabelecer compromissos
mundiais para garantir a todas as pessoas os conhecimentos básicos necessários a uma vida
digna, visando uma sociedade mais humana e mais justa”. (MENEZES, 2001). Com este
feito, os países que participaram da Conferencia, construíram planos decenais no intuito de
atingir os objetivos propostos pela conferencia de Jomtien, no Brasil o Plano
decenal construído, Educação para todos resultou do período de 1993 a 2013.

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O Fórum Mundial sobre Educação em Dakar no ano de 2000, marco importante na
história por ter como principal objetivo universalizar a educação para todos, com prazo até o
ano de 2015 e para atingir os seis objetivos trazidos pelo fórum, teve a UNESCO como
responsável pela coordenação e monitoramento. Estes e outros eventos repercutiram
fortemente na construção das políticas públicas para primeira infância, o que nos leva a
importância de conhecer as Metas do Milênio de 2000 a 2015 que foi sucedida por uma
agenda universal, contendo metas para o desenvolvimento que demonstre a presença da
primeira infância nas agendas governamentais e este conta com 17 metas, na pós-agenda de
desenvolvimento sustentável do período de 2015 a 2030, e contou com 194 governos, tendo
apoio do sistema das Nações Unidas que se comprometeram com as metas.
No Brasil para que ocorresse a aplicação dos ideais da convenção internacional dos
Direitos da Criança, diversas medidas legislativas aconteceram, e temos no Brasil o Marco
legal da primeira infância que se fundamenta na convenção internacional dos Direitos da
Criança, e nos objetivos do desenvolvimento sustentável, é pautado em evidências científicas
para fundamentar as políticas na primeira infância, e percebe-se que para justificar o modelo
de políticas públicas adotadas através do Marco Legal da Primeira Infância, se utiliza de
pesquisas com base na neurociência.

Em fins de março de 2015, uma equipe de neurocientistas dirigida por


Kimberly Noble, da Universidade de Columbia, Nova Iorque e Elizabeth
Sowel do Hospital de Los Angeles, California, investigaram os fundamentos
biológicos do impacto da pobreza e do status socioeconômico vinculado ao
comportamento e às habilidades cognitivas dos seres humanos. Ao analisar
as imagens dos cérebros de 1.099 crianças, adolescentes e adultos de várias
cidades dos Estados Unidos, seus resultados indicaram que o estresse da
pobreza pode lesionar os cérebros das crianças cujos pais têm rendimentos
inferiores a US$ 25.000 anuais. Elas apresentam até 6% menos de superfície
cerebral que as crianças cujos pais ganham mais de US$ 150.000/ano.
(BRASIL, 2016ª).

A citação acima é do documento “Primeira Infância Avanços do Marco Legal da


Primeira Infância”, que integra a série Cadernos de Trabalhos e Debates, do Centro de
Estudos e Debates Estratégicos da Câmara dos Deputados, e teve como relator Osmar Terra.
Refletindo toda a trajetória em volto da criança na sociedade ao depararmos com a citação
acima se percebe que a pobreza toma o lugar biológico, ratificando que a pobreza é culpa do
mau desenvolvimento de crianças, e que este ocorre pela falta de interação e
cuidado dos pais e responsáveis.

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Não obstante, a responsabilidade pelo fracasso no desenvolvimento das crianças
recai ainda mais para as mães, que ao mesmo tempo em que as responsabiliza as penaliza por
não amamentar e não dar atenção integral de qualidade, e concomitantemente reverte trazendo
que a pobreza extrema é a causa do mau desenvolvimento, e não que o mau desenvolvimento
ocorre devido à pobreza, e que milhares de crianças estão sujeitas, esta inversão desconsidera
o que estrutura a base da pobreza no País, isenta o governo da responsabilidade de reverter à
pobreza para que as famílias tenham condições de atenção integral e adequada ás crianças, o
que permitiria melhor desenvolvimento na primeira infância.

Os distintos graus de desnutrição, especialmente de crianças que nascem e


crescem em ambientes de pobreza e extrema pobreza, podem ser revertidos
com uma nutrição adequada durante a gravidez e os dois primeiros anos de
vida, a fim de obter o desenvolvimento normal do cérebro. As práticas
apropriadas de amamentação materna também podem contribuir para o
desenvolvimento emocional e cognitivo saudável da criança. As pesquisas têm
demonstrado que existe efeito sinérgico entre os cuidados de saúde, a nutrição
e a educação se são oferecidos de maneira oportuna e adequada desde a
gestação; e que o padrão de crescimento, determinado geneticamente, pode ser
modificado por fatores exógenos, por exemplo, a nutrição. (BRASIL, 2016ª).

O ano de 2015 teve os índices de pobreza aumentados, devido retrocesso do Estado


diante de sua responsabilidade com políticas públicas diante das crises econômicas, em
seguida o golpe de Estado por parlamentares conservadores o que levou a América Latina ao
momento de crise aumentando as desigualdades. Neste cenário também ocorre pela UNESCO
o Fórum Mundial sobre a educação o qual aprova a Declaração de Incheon que é associada
aos objetivos desenvolvimento sustentável (ODS), que contou com a participação de mais de
1.600 pessoas de 160 países, 120 ministros, líderes e membros de delegações, chefes de
agências e funcionários de organizações multilaterais e bilaterais, bem como representantes da
sociedade civil, da profissão docente, dos jovens e do setor privado, sendo organizada pela
UNESCO, juntamente com UNICEF, Banco Mundial, FNUAP, PNUD, ONU Mulheres e
ACNUR, o Fórum Mundial de Educação em compromisso com a Agenda Educação 2030, e
neste contexto no ano de 2015 é aprovado o Programa Criança Feliz.
Ao compreender que as ações do Programa Criança Feliz atuam no escopo das
políticas de assistência social, muitas entidades e espaços vinculados a essas políticas foram
contrárias à implementação do PCF, esses movimentos contrários refletiram nos espaços de
deliberação e pactuação das políticas de assistência social como, por exemplo,
a SNAS, o CNAS, e a Comissão Intergestores Tripartite (CIT), que passaram a

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estabelecer normativas e resoluções no que concerne a entrega da política de assistência social
ao programa criança feliz.
O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), com a Resolução CNAS n.
19/2016, de 24 de Novembro de 2016, propos que a devolutiva da política de assistência
social ao Programa Criança Feliz acontecesse com a criação do programa Primeira Infância
no SUAS, programa específico pautado pela Política Nacional Assistência Social (PNAS),
para fortalecer e potencializar os serviços socioassistenciais já existentes sob a
responsabilidade da Secretaria Nacional Assistencia Social (SNAS).
Instituir o Primeira Infância no SUAS evidencia-se como resistência do CNAS á
implementação do PCF, e nos anos de 2017 e 2018 a coordenação do PCF sob a
responsabilidade do Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) reduz a SNAS com a
criação da Secretaria Nacional de Promoção do Desenvolvimento Humano (SNPDH) que
passa a ser responsavel pela gestão das ações do Programa Criança Feliz em detrimento a
Secretaria Nacional Assistencia Social (SNAS), e com a Portaria MDS/SNPDH n. 05/2018,
de 19 de março de 2018, passa a responsabilizar a SNPDH também quanto aos períodos de
adesão.

Ao mesmo tempo, essa é a primeira portaria na qual os dois programas


aparecem como que sinônimos, indicando assim que o PCF
verdadeiramente, se restringe a apenas às ações desenvolvidas no âmbito da
política de assistência social e o Programa Primeira Infância no SUAS foi
utilizado como uma roupagem para a operacionalização do primeiro.
(PEREIRA, 2019, p. 125).

Percebe-se uma busca do governo federal por implementar o Programa Criança


Feliz, mesmo encontrando enfrentamentos resistências e rejeições por parte das políticas de
assistência social, esse esforço do governo em executar o PCF, mostra desconsideração com
os órgãos das políticas de assistência sociais, especialmente o CNAS, o que leva a refletir e
destacar o conteúdo do PCF através da perspectiva de gerenciamento das infâncias e famílias
empobrecidas, tendo em seu conteúdo oculto uma gestão de controle dos modos de ser e de
viver das crianças e suas famílias pobres, pautado em estratégias de gerenciamento através da
parentalidade e da visita domiciliar integral (VDI) para condução na aquisição do capital
humano. Diante disso, observa-se o modelo de cima para baixo da implementação de uma
política pública, que a partir dos instrumentos utilizados traduz a concepção de Estado e o seu
papel diante das políticas de assistência social.

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Uma vez que o PCF se dá no corpo das políticas sociais e ao não buscar a cooperação
entre os envolvidos na implementação do programa desvalorizando a decisão dos demais
servidores das políticas sociais quanto à implementação, fica evidente um modelo top down
(de cima para baixo) de implementação de políticas públicas, que por ter como principal meio
as visitas domiciliares, atuando na primeira infância e adentrando em suas casas, deve ser
colocado em questão o que se pretende com este programa em relação aos direitos sociais das
crianças.
As políticas públicas de assistência social são vistas apenas como urgência, uma
forma focal para amenizar as dificuldades de inserção no mundo do trabalho, as políticas de
assistência social além de legitimadas precisam adentrar no imaginário social e nos discursos
como direito e proteção social. E refletindo o programa criança feliz na assistência social,
percebe-se que este programa contribui no retorno à lógica higienista, caritativa, e
filantrópica, pois mostra a preocupação com as crianças na primeira infância e suas famílias
pautadas na teoria do capital humano, corroborando com a política de austeridade em
andamento no país, a qual dissemina uma ideia de política social assistencialista.
As concepções deturpadas em relação às políticas de assistência social é campo fértil
para programas como o PCF, ancorados em evidências científicas, e na economia, por meio
de VDIs e do treinamento da parentalidade, adentram no lar das famílias vulneráveis. E
paradoxalmente o PCF assim como o imaginário social acerca da assistência social entende
por proteção social apenas quando “[...] a doença do corpo é palco de atenção quando for
necessário que o corpo fique em pé, ganhe sua vida e a dos seus, com o próprio suor. A
concepção de liberdade e autonomia individual é referida ao” virar-se por si mesmo" sem”
depender" de ninguém." (SPOSATI, 2007, p. 442).
Essa concepção vê a proteção pública como fragilidade que impede o
desenvolvimento pessoal, e consequentemente a busca pelo capital humano. Em meio às
tentativas do avanço das políticas de assistência social como responsabilidade do Estado e
direito dos sujeitos no fortalecimento da cidadania, para além da lógica da benemerência e da
caridade, indo além da ideia socorrista, as políticas de assistencia social vinham sendo
monitoradas e agenciadas pela sociedade, através dos conselhos municipais, estaduais, e
nacionais da assistência social, regidos pela lei orgânica de assistência social LOAS, lei
federal 8.742 de 7 de Dezembro de 1993. Porém ao longo desse texto observou as sucessivas
tentativas do programa criança feliz em balizar as normativas do CNAS e da

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CIT em relação ao monitoramento e gerenciamento do PCF pelas políticas de assistência
social.
Diante do exposto, percebe-se a proteção social desconectada das condições de vida
e dos direitos humanos, migrando as políticas e programas de assistência social do direito e da
dignidade humana, a culpa e responsabilidade pelo aumento da pobreza, o que é evidenciado
com a política de austeridade que vê as políticas de assistência social dispendiosa ao Estado,
impedindo o crescimento e desenvolvimento pessoal. No campo ideológico a utilização de
políticas e programas de assistência social é visto como vergonhoso, pois retrata a
incapacidade individual de crescimento do cidadão.
Neste Cenário o governo federal insiste em implementar o programa criança feliz na
maioria dos municípios do país, publicando e alterando diversas normativas para que o
programa se alastre nas famílias e infâncias pobres, o que é um retrocesso sabendo que o PCF
vem a reforçar a visão assistencialista e de educabilidade das famílias no que concernem os
direitos da criança, e essas concepções arraigadas ao higienismo, e no primeiro damismo são
acentuadas com um avanço conservador que dificulta a efetivação da cidadania, pois é
pautado na moral e na teoria do capital humano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse artigo no intuito de compreender os caminhos que o programa criança feliz está
trilhando, trouxe um panorama das políticas na primeira infância para mostrar que a primeira
infância como pauta na agenda governamental se mostra como um investimento em
detrimento do direito da criança como cidadã, percebendo o trajeto da primeira infância
atrelado ao processo econômico.
Em diversos momentos da história da criança é observada a isenção da obrigação do
Estado para com ela passando sua tutela a diferentes instituições, e a educação das famílias
por meio das visitas domiciliares integrais são ações utilizada em muitos programas
destinados às crianças pobres da América Latina, porém analisar o programa criança feliz em
relação às políticas de assistência social mostrou diversas lacunas, e diante do agravamento da
retração de políticas sociais no cenário atual, demonstra que muitos acontecimentos que
antecederam a implementação do programa criança feliz, fazem parte da rede de relações que
envolvem a construção de políticas públicas para a primeira infância.
Em 2016 com o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, Michel
Temer lança o plano “A ponte para o futuro”, que já estava em divulgação

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antes do afastamento da ex-presidenta, e diante disso surge o programa criança feliz, esses
acontecimentos marcam o avanço de políticas conservadoras com a desculpa de superar a
crise que o país está enfrentando, responsabilizando gastos excessivos com as políticas
sociais, diante disso percebe-se o retorno a conceitos já combatidos, como da assistência
social arraigada ao clientelismo à caridade e a filantropia. Demonstrando que a pobreza tem
causas individuais, que para superá-la basta educar os sujeitos em uma lógica higienista e
familista para construção de um capital humano.
Tendo a constituição federal de 1988 como marco nas políticas sociais na garantia
dos direitos universais é necessário se questionar o que torna a sociedade campo fértil para
reestabelecer ondas conservadoras na condução da sociedade por parte do Estado? Ficando
em alerta ao fato de que, com o retrocesso no repasse de verbas, especialmente ao SUAS e aos
seus programas e a sobreposição do PCF a programas já existentes, e ainda com pouco acesso
de vagas nos centros de educação infantil, qual a finalidade do programa criança feliz nesse
contexto? São muitas lacunas para serem preenchidas, mas todas elas possuem algo em
comum que é a subversão do direito e da condição de cidadania que é garantida pela
Constituição Federal, mas não legitimada, ocorrendo à negação do direito social, exatamente
o que acontece com o direito das crianças pequenas de zero a três anos referente ao acesso à
educação infantil, direito este que consta na LDB e na Constituição Federal, que por ser
subjetivo é retirado sempre que a sociedade civil descansa.
Todo este movimento relatado tem como mediador o aparelho estatal, com recorte
neoliberal desde a década de 30, se intensificando nos anos 90 e nas últimas décadas
demonstra influência das alianças da nova direita, de cunho conservador o Estado assume e
coordena a construção de políticas para atender as prerrogativas do mercado, como se estas
fossem as leis que regem a vida de toda a sociedade.
Por fim é importante um alerta, refletindo as características do programa criança feliz
que contribui ao retrocesso das políticas sociais, com prevalência ao atendimento da primeira
infância por meio do clientelismo. As ações do programa pautadas no desenvolvimento das
crianças desde a sua gestação até os 6 anos é ancorada em evidências científicas da
neurociência para justificar a necessidade da busca de um capital humano, também com a
visão do futuro e das famílias em risco social direciona os sujeitos à expropriação de maior
força do trabalho ao sucateamento das políticas já existentes reduzindo e cortando gastos com
a coisa pública, eliminando direitos dos sujeitos e deveres do Estado,
construindo um ideal mistificador para reerguer o país, transformando as

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políticas sociais em mercadoria, para valorizar a economia faz com que as políticas sociais
sejam instrumento inerente à dinâmica do modo de produção capitalista, passando uma visão
a essas famílias em vulnerabilidade de que para sair da pobreza basta trabalhar investir em si
mesmo e produzir adequadamente, ou seja, precisa merecer não ser pobre.
Longe de concluir, este artigo quer indagar, perguntar e refletir, no intuito de ser
critico em relação às visões e ações em torno das crianças, é importante refletir as políticas
sociais, os programas e os processos que elevam ou silenciam a primeira infância, sendo
primordial para compreender o projeto de sociedade em andamento.
Ciente de que o Estado historicamente tratou a criança como instrumento, é preciso
pesquisas para desnudar as concepções e ideais que rondam a criança e suas infâncias,
pesquisas que considerem todos os ambitos da sociedade, pois a cultura, a economia, a
política e a educação estão ligados e determinam o processo hegemônico dominante, por
tanto, ter consciência deste processo possibilita lutar para que a assistência social e a
preocupação com a primeira infância se torne um direito legitimado e constituinte da
cidadania.

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