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NOTA TÉCNICA 28 – ASSISTÊNCIA SOCIAL

A política de subsistência enfrentou tempos difíceis nos últimos cinco anos.


Após dez anos de intenso processo de organização e expansão, quando foi criado o
Sistema Único de Assistência Social (SUAS), a crise econômica e a política de
ajuste das finanças públicas na região quebraram a trajetória de crescimento dos
gastos do setor público observada em anos anteriores. Esta perturbação teve um
impacto particularmente negativo dado o contexto em que ocorreram tais
constrangimentos de recursos: degradação social e aumento do desemprego,
pobreza e desigualdade socioeconômica, todos fatores que aumentam a procura de
ajuda social. Em 2019, essa tendência geral continuou, mas com algumas
peculiaridades. Neste ano, o governo federal reduziu a importância dos serviços de
assistência social na agenda política, extinguiu a política de transferência de renda e
limitou o acesso ao BPC e fragilizou a previdência social, instituições participantes -
a Comissão Interinstitucional Tripartite (CIT) e o Conselho Nacional de Assistência
Social (CNAS) - que fazem parte do arcabouço criado pela Constituição de 1988
(CF/1988) e fortalecido pelo surgimento do Suas.
É precisamente neste contexto que a política de apoio previdenciário - que, no
entanto, tem institucionalização e capilaridade nacional, quando existem dezenas de
milhares de centros de apoio previdenciário em todos os municípios do país - se
encontra fragilizada, pois a pandemia de Covid-19 descem sobre o Brasil quando a
ajuda está no centro da agenda. Se, por outro lado, a insegurança dos serviços e a
redução da abrangência de benefícios, como o Programa Bolsa Família (PBF) e o
BPC em 2019, foi um obstáculo para garantir a seguridade social aos segmentos
cada vez mais vulneráveis da população. Por outro lado, diante da crise social,
econômica e de saúde, o acúmulo histórico de conhecimentos e competências na
implementação de serviços e benefícios foi essencial para responder rapidamente
às demandas urgentes.
Nesse sentido, destaca-se a instituição do Auxílio Emergencial em 2020, que
é tanto um exemplo da capacidade herdada da história da institucionalização política
quanto das tensões e fragilidades do último período. A assistência utilizou a
expertise anterior da Caixa Econômica Federal (CEF) na área, incluindo a expertise
técnico-operacional obtida por meio do cadastramento da população mais pobre em
programas sociais. No entanto, isto foi implementado sem o envolvimento da Rede
de Apoio ao Rendimento, que historicamente desempenhou e continua a
desempenhar um papel importante na facilitação e apoio ao acesso ao apoio ao
rendimento.
O movimento que aumenta a pobreza e a desigualdade, iniciado em 2015,
continuou nesse período até 2019, quando a situação da política de subsistência era
frágil. O enfraquecimento do apoio ao rendimento como política geral devido ao
aumento da vulnerabilidade social – e, consequentemente, da procura dos seus
serviços e apoios – foi a tendência mais marcante em 2019, sintetizando a complexa
situação observada no início da pandemia. A diminuição do número de beneficiários
do PBF e do BPC destaca-se como prova dessa deficiência; extinção do auxílio-
proteção básica e ampliação do auxílio-proteção especial; e irregularidades no
repasse de recursos federais aos municípios para prestação de serviços
continuados, criando – principalmente a partir de 2017 – um profundo problema
político financeiro sem solução à vista.
Em 2019, a pandemia de Covid-19, além de agravar a situação de pobreza
das populações que vivem neste estado, trouxe novos públicos sem fontes de renda
devido ao isolamento social imposto para conter a propagação do vírus. Nessas
novas situações e crises, novos pagamentos de suporte à vida foram feitos com uma
distribuição de recursos sem precedentes. A expansão foi impulsionada pelo
aumento da cobertura do PBF e, principalmente, pela introdução do Auxílio
Emergencial, importante medida que atingiu populações antes carentes de políticas
de sustentação de renda. Junto ao BPC, buscou-se também um mecanismo para
eliminar a crise entre os mais pobres, adotando iniciativas de grande porte e
promovendo compensações durante a pandemia.
No entanto, iniciativas para ampliar e aumentar a capacidade de inclusão
desses benefícios foram desenhadas na legislação nacional e foram realizadas pelo
executivo. Por sua vez, essa implementação caracterizou-se pelas dificuldades
iniciais do governo federal em garantir que o socorro chegasse aos grupos
populacionais mais vulneráveis e pela falta de regulamentação de partes da
legislação adotada para o BPC.
O impacto da pandemia nas restantes ofertas de apoio ao rendimento
destaca-se pelo aumento da procura quer de serviços quer de apoios e pela
necessidade de adaptação de métodos e rotinas de atendimento para garantir
condições higiênicas adequadas aos utentes. A necessidade do distanciamento
físico tem colocado desafios inéditos às políticas que têm como um dos principais
objetivos o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, o que se reflete na
necessidade de adequação dos serviços de acolhimento para garantir um
atendimento de saúde acolhedor e acolhido, expandindo a oferta para públicos ainda
mais carentes, como os sem-teto, cujo tamanho dobrou nos últimos cinco anos. Uma
quantidade inédita de recursos também foi transferida para financiar esses esforços,
mas seu potencial foi ofuscado pela falta de transferências convencionais de
cofinanciamento federal.
No entanto, a alta demanda do Cras em relação ao fornecimento de
benefícios e subsídios acessórias, como BPC e auxílio emergencial, demonstra a
importância da rede socioassistencial durante a pandemia e aumenta a necessidade
de prestação integral de serviços — mas esse papel nem sempre foi reconhecido
durante o período catastrófico. Também abriu espaço para que a sociedade e o
parlamento reconhecessem a importância das políticas do sistema previdenciário
brasileiro e discutissem a necessidade de garantir recursos regulares e adequados
para que a sociedade de políticas assistenciais cumpra sua principal tarefa
satisfatoriamente Algo essencial, se considerarmos que desde a redemocratização
do país, a assistência social é o eixo do “pedestal” da seguridade social no Brasil,
que é o mais difícil de se firmar no campo da fundamental atividade estatal de
cidadania social.
O cenário dos próximos anos pode ser um teste decisivo para a política.
Segundo o Governo Federal, os recursos previstos para o Ploa 2021 BPC seriam
para 5 milhões de beneficiários. Os recursos do PBF deveriam garantir o pagamento
de R$ 15 milhões às famílias. Em ambos os casos, o serviço público esperado é
ligeiramente superior à cobertura atualmente disponível. Apesar disso, não
conseguirão resistir ao processo de empobrecimento da população, que ameaça
após o fim da crise, nem às consequências de médio e longo prazo da crise sanitária
na economia brasileira. As expectativas para serviços não são menos sombrias, pois
o valor dos serviços oferecidos em 2021 está no menor nível em dez anos. Tal
restrição orçamentária, dado o aumento na demanda de apoio aos meios de
subsistência mencionado acima e o subfinanciamento observado nos últimos anos,
pode levar a uma interrupção sem precedentes dos meios de subsistência.
Nesse sentido, a consolidação de Suas enfrenta grandes gargalos. A falta de
propostas claras do governo federal para um programa de transferência de renda
que pudesse amenizar o debate mais pobre da crise, alimentando o debate sobre o
ajuste fiscal, é sinal de tempos difíceis para a população que teve a capacidade de
geração de renda ameaçada pela crise. A previsão atual é de que, após o fim da
epidemia, a recuperação econômica e social de longo prazo continue sem garantias
de que o sistema previdenciário brasileiro funcionará em sua forma atual.

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