A política de subsistência enfrentou tempos difíceis nos últimos cinco anos.
Após dez anos de intenso processo de organização e expansão, quando foi criado o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), a crise econômica e a política de ajuste das finanças públicas na região quebraram a trajetória de crescimento dos gastos do setor público observada em anos anteriores. Esta perturbação teve um impacto particularmente negativo dado o contexto em que ocorreram tais constrangimentos de recursos: degradação social e aumento do desemprego, pobreza e desigualdade socioeconômica, todos fatores que aumentam a procura de ajuda social. Em 2019, essa tendência geral continuou, mas com algumas peculiaridades. Neste ano, o governo federal reduziu a importância dos serviços de assistência social na agenda política, extinguiu a política de transferência de renda e limitou o acesso ao BPC e fragilizou a previdência social, instituições participantes - a Comissão Interinstitucional Tripartite (CIT) e o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) - que fazem parte do arcabouço criado pela Constituição de 1988 (CF/1988) e fortalecido pelo surgimento do Suas. É precisamente neste contexto que a política de apoio previdenciário - que, no entanto, tem institucionalização e capilaridade nacional, quando existem dezenas de milhares de centros de apoio previdenciário em todos os municípios do país - se encontra fragilizada, pois a pandemia de Covid-19 descem sobre o Brasil quando a ajuda está no centro da agenda. Se, por outro lado, a insegurança dos serviços e a redução da abrangência de benefícios, como o Programa Bolsa Família (PBF) e o BPC em 2019, foi um obstáculo para garantir a seguridade social aos segmentos cada vez mais vulneráveis da população. Por outro lado, diante da crise social, econômica e de saúde, o acúmulo histórico de conhecimentos e competências na implementação de serviços e benefícios foi essencial para responder rapidamente às demandas urgentes. Nesse sentido, destaca-se a instituição do Auxílio Emergencial em 2020, que é tanto um exemplo da capacidade herdada da história da institucionalização política quanto das tensões e fragilidades do último período. A assistência utilizou a expertise anterior da Caixa Econômica Federal (CEF) na área, incluindo a expertise técnico-operacional obtida por meio do cadastramento da população mais pobre em programas sociais. No entanto, isto foi implementado sem o envolvimento da Rede de Apoio ao Rendimento, que historicamente desempenhou e continua a desempenhar um papel importante na facilitação e apoio ao acesso ao apoio ao rendimento. O movimento que aumenta a pobreza e a desigualdade, iniciado em 2015, continuou nesse período até 2019, quando a situação da política de subsistência era frágil. O enfraquecimento do apoio ao rendimento como política geral devido ao aumento da vulnerabilidade social – e, consequentemente, da procura dos seus serviços e apoios – foi a tendência mais marcante em 2019, sintetizando a complexa situação observada no início da pandemia. A diminuição do número de beneficiários do PBF e do BPC destaca-se como prova dessa deficiência; extinção do auxílio- proteção básica e ampliação do auxílio-proteção especial; e irregularidades no repasse de recursos federais aos municípios para prestação de serviços continuados, criando – principalmente a partir de 2017 – um profundo problema político financeiro sem solução à vista. Em 2019, a pandemia de Covid-19, além de agravar a situação de pobreza das populações que vivem neste estado, trouxe novos públicos sem fontes de renda devido ao isolamento social imposto para conter a propagação do vírus. Nessas novas situações e crises, novos pagamentos de suporte à vida foram feitos com uma distribuição de recursos sem precedentes. A expansão foi impulsionada pelo aumento da cobertura do PBF e, principalmente, pela introdução do Auxílio Emergencial, importante medida que atingiu populações antes carentes de políticas de sustentação de renda. Junto ao BPC, buscou-se também um mecanismo para eliminar a crise entre os mais pobres, adotando iniciativas de grande porte e promovendo compensações durante a pandemia. No entanto, iniciativas para ampliar e aumentar a capacidade de inclusão desses benefícios foram desenhadas na legislação nacional e foram realizadas pelo executivo. Por sua vez, essa implementação caracterizou-se pelas dificuldades iniciais do governo federal em garantir que o socorro chegasse aos grupos populacionais mais vulneráveis e pela falta de regulamentação de partes da legislação adotada para o BPC. O impacto da pandemia nas restantes ofertas de apoio ao rendimento destaca-se pelo aumento da procura quer de serviços quer de apoios e pela necessidade de adaptação de métodos e rotinas de atendimento para garantir condições higiênicas adequadas aos utentes. A necessidade do distanciamento físico tem colocado desafios inéditos às políticas que têm como um dos principais objetivos o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, o que se reflete na necessidade de adequação dos serviços de acolhimento para garantir um atendimento de saúde acolhedor e acolhido, expandindo a oferta para públicos ainda mais carentes, como os sem-teto, cujo tamanho dobrou nos últimos cinco anos. Uma quantidade inédita de recursos também foi transferida para financiar esses esforços, mas seu potencial foi ofuscado pela falta de transferências convencionais de cofinanciamento federal. No entanto, a alta demanda do Cras em relação ao fornecimento de benefícios e subsídios acessórias, como BPC e auxílio emergencial, demonstra a importância da rede socioassistencial durante a pandemia e aumenta a necessidade de prestação integral de serviços — mas esse papel nem sempre foi reconhecido durante o período catastrófico. Também abriu espaço para que a sociedade e o parlamento reconhecessem a importância das políticas do sistema previdenciário brasileiro e discutissem a necessidade de garantir recursos regulares e adequados para que a sociedade de políticas assistenciais cumpra sua principal tarefa satisfatoriamente Algo essencial, se considerarmos que desde a redemocratização do país, a assistência social é o eixo do “pedestal” da seguridade social no Brasil, que é o mais difícil de se firmar no campo da fundamental atividade estatal de cidadania social. O cenário dos próximos anos pode ser um teste decisivo para a política. Segundo o Governo Federal, os recursos previstos para o Ploa 2021 BPC seriam para 5 milhões de beneficiários. Os recursos do PBF deveriam garantir o pagamento de R$ 15 milhões às famílias. Em ambos os casos, o serviço público esperado é ligeiramente superior à cobertura atualmente disponível. Apesar disso, não conseguirão resistir ao processo de empobrecimento da população, que ameaça após o fim da crise, nem às consequências de médio e longo prazo da crise sanitária na economia brasileira. As expectativas para serviços não são menos sombrias, pois o valor dos serviços oferecidos em 2021 está no menor nível em dez anos. Tal restrição orçamentária, dado o aumento na demanda de apoio aos meios de subsistência mencionado acima e o subfinanciamento observado nos últimos anos, pode levar a uma interrupção sem precedentes dos meios de subsistência. Nesse sentido, a consolidação de Suas enfrenta grandes gargalos. A falta de propostas claras do governo federal para um programa de transferência de renda que pudesse amenizar o debate mais pobre da crise, alimentando o debate sobre o ajuste fiscal, é sinal de tempos difíceis para a população que teve a capacidade de geração de renda ameaçada pela crise. A previsão atual é de que, após o fim da epidemia, a recuperação econômica e social de longo prazo continue sem garantias de que o sistema previdenciário brasileiro funcionará em sua forma atual.
O Acesso à Educação das Pessoas com Deficiência: uma análise da exclusão das crianças e adolescentes beneficiários do Benefício de Prestação Continuada (BPC)