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PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA

NO BRASIL

Leonardo de San Leandro1


Renata Minelli da Silva¹
Flávio Brito²

RESUMO

Os Programas de Transferência de Renda são políticas sociais, desenvolvidas pelos


governos, cujo principal objetivo é de fornecer apoio financeiro direto a indivíduos ou
famílias em situação de vulnerabilidade econômica. Considerando a influência do
excesso de desigualdade e exclusão social na criação de núcleos de pobreza e
marginalizados, esses programas desempenham um papel significativo na
redistribuição de recursos para aliviar a tensão provocada pelas desigualdades
econômicas, visando proporcionar um futuro mais seguro e próspero para milhões
de pessoas. A presente pesquisa objetiva analisar como os Programas de
Transferência de Renda podem impactar na redução da pobreza e das
desigualdades socioeconômicas, além de explanar sobre seus desafios e suas
limitações. Neste estudo, foi utilizada a técnica da pesquisa bibliográfica,
examinando fontes teóricas consolidadas em livros, sites e revistas, a fim de
aprofundar o entendimento a respeito do surgimento e do impacto dos Programas de
Transferência de Renda no Brasil, com foco na redução da pobreza e das
desigualdades. Referências como Carneiro (2005), Silva (2007), Engel (2020) e
diversos outros autores foram essenciais para embasar e analisar a temática,
enriquecendo o entendimento da abordagem, envolvendo o contexto numa análise
crítica e reflexiva das fontes, no intuito de levantar discussões sobre o assunto.
Portanto, este estudo entende que os Programas de Transferência de Renda são
parte importante das políticas sociais do país, pois auxiliam na redução da pobreza,
melhoram o acesso a serviços essenciais, promovem a igualdade e são
implementados em resposta a necessidades sociais específicas, podendo variar
amplamente em termos de escala, alcance e complexidade, dependendo das
condições econômicas e políticas de cada região.

Palavras-chave: Políticas Públicas, Políticas Sociais, Proteção Social,


Desenvolvimento humano e social, Políticas de Transferência de Renda.

1 Nome dos acadêmicos


2 Nome do Professor tutor externo
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI - Curso (FLC 9081) – Prática do Módulo VI –
24/10/2023
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1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, os Programas de Transferência de Renda têm se tornado


um tópico central nas discussões sobre políticas sociais e econômicas em todo o
mundo. E, considerando que “a excessiva desigualdade e exclusão social produzem
‘núcleos duros’ de pobreza, [...] apresentando alto grau de vulnerabilidade e
marginalização” (Carneiro, 2005, p. 14), esses programas, em sua maioria,
objetivam fornecer apoio financeiro direto às famílias em situação de vulnerabilidade
econômica, a fim de melhorar seu bem-estar, reduzir a pobreza e promover a
igualdade social.
É através da redistribuição de recursos que esses programas buscam aliviar
as desigualdades econômicas e oferecem meios alternativos de se alcançar um
futuro mais seguro e próspero para milhões de pessoas.
Segundo Carla Bronzo (2009),
Programas centrados no atendimento às famílias têm sido a estratégia
dominante nos sistemas de proteção social em todo o mundo. No Brasil, a
partir dos anos 90, a família tem sido considerada elemento central na
doutrina da proteção integral, norteadora do Estatuto da Criança e do
Adolescente e da Lei Orgânica de Assistência Social, e eixo orientador das
ações da Política Nacional de Assistência Social. (Bronzo, 2009, p. 171)

Logo, entende-se que as políticas sociais de transferência de renda devem


estar integradas à uma estrutura mais ampla, que busca a justiça social, a proteção
integral e o empoderamento de todas as pessoas, independentemente de sua
origem familiar, contribuindo para um sistema de proteção social mais abrangente e
inclusivo, capaz de enfrentar os desafios complexos da pobreza e da desigualdade.
Contudo, a avaliação para a verificação do impacto desses programas é de
extrema relevância, uma vez que a alocação de recursos públicos em políticas de
transferência de renda requer uma compreensão sólida de seus efeitos e resultados,
pois, “as políticas sociais de complementação de renda precisam ser políticas
permanentes, políticas de estado e não de um governo ou partido.” (Machado ,
2021). Só assim, é possível mensurar, verdadeiramente, a eficácia desses
programas na redução da pobreza, além de analisar como eles afetam a educação,
a saúde, o mercado de trabalho, a economia em geral e o bem-estar das famílias
beneficiárias.
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Pensando nisso, este estudo, através de uma análise bibliográfica, tem como
objetivo explanar brevemente sobre o surgimento dos Programas de Transferência
de Renda no Brasil, no intuito de aprofundar a compreensão do impacto dessas
políticas no cenário brasileiro e examinando como elas podem cooperar para a
redução da pobreza e das desigualdades socioeconômicas - levando em conta não
apenas para os resultados imediatos, mas também como esses programas podem
ser válidos para o empoderamento das pessoas ao longo do tempo. Além disso, a
presente pesquisa busca compreender os desafios e as complexidades inerentes à
avaliação do impacto, bem como identificar as melhores práticas e lições aprendidas
com base em experiências e nos contextos regionais do país.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Os Programas de Transferência de Renda são projetos que fornecem


assistência financeira diretamente às famílias carentes, com base na renda per
capita de seus membros, havendo ou não qualquer contribuição prévia. Esses
programas surgiram num período histórico caracterizado pelo aumento significativo
do desemprego, pela prevalência de empregos instáveis e precários, sem a proteção
oferecida pelos benefícios da Previdência Social, o que resultou em um aumento da
pobreza e da desigualdade (Ruschel; Jurunhema; Dutra, 2015).
A Transferência de Renda é uma das iniciativas que a política de
Assistência Social deve garantir. É um direito social que assegura a
sobrevivência de famílias em situação de pobreza, por meio do acesso a
renda, e a promoção da autonomia dessas famílias [...] a política de
Transferência de Renda também é considerada estratégica no
enfrentamento da pobreza e na inclusão social de milhares de famílias [...].
(Brasil, 2018)

Claramente, os Programas de Transferência de Renda nasceram como uma


resposta política e social para lidar com esses desafios, visando fornecer uma rede
de segurança econômica para famílias em situação de vulnerabilidade e atenuar os
efeitos negativos dessas tendências, além de contribuírem para a redução da
desigualdade e a promoção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Desse modo, desempenhando um papel crucial na política de assistência
social, os Programas de Transferência de Renda são instrumentos fundamentais
para garantir a manutenção da sobrevivência e a promoção da autonomia das
famílias em situação de pobreza – como é o caso do Programa Bolsa Família, por
exemplo, que através da Lei nº 14.601/2023, Art. 3º, visa alcançar os seguintes
objetivos:
I - combater a fome, por meio da transferência direta de renda às famílias
beneficiárias; II - contribuir para a interrupção do ciclo de reprodução da
pobreza entre as gerações; e III - promover o desenvolvimento e a proteção
social das famílias, especialmente das crianças, dos adolescentes e dos
jovens em situação de pobreza. (Brasil, 2023)

Trata-se, portanto, de um direito social, assegurado pela legislação, cuja


finalidade é de proporcionar acesso a recursos financeiros, que são essenciais para
atender as necessidades básicas da população (alimentação, moradia, educação e
saúde), sendo estratégia-chave na luta pela erradicação da pobreza e na promoção
da inclusão social de milhares de famílias. E, muito embora a pobreza esteja longe
de ser completamente eliminada, o Poder Público deve trabalhar para desenvolver
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métodos de redução da pobreza e para o desenvolvimento de uma sociedade mais


equitativa. Isso envolve uma implementação de políticas que visam não apenas
amenizar os efeitos da pobreza, mas abordar suas causas subjacentes.

UM BREVE ENFOQUE SOBRE O SURGIMENTO E O CRESCIMENTO DOS


PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NO BRASIL

Como se sabe, os Programas de Transferência de Renda são políticas


públicas que prestam assistência financeira direta a indivíduos ou famílias em
situação de vulnerabilidade econômica, objetivando reduzir a pobreza, promovendo
a inclusão social e auxiliando na garantia do bem-estar das pessoas que vivem em
condições precárias.
Os primeiros passos para a criação e evolução desses programas tiveram
como base o Sistema de Proteção Social no Brasil, desenvolvido na década de
1930. Nesse período, o país estava em transição de um modelo econômico baseado
na exportação de produtos agrícolas para um modelo urbano-industrial, gerando a
necessidade de atender às demandas da crescente classe trabalhadora. A partir
disso, o Sistema de Proteção Social começou a se desenvolver e expandir,
especialmente durante a década de 1970, coincidindo com o período autoritário da
ditadura militar (Silva, 2007).
Nesse contexto, os programas e serviços sociais serviram não apenas para
melhorar as condições de vida das pessoas, mas também foram ferramenta de
poder para o governo autoritário, convertendo-o numa figura mais “amigável” e
“preocupada” com o bem-estar da população, assim, a proteção social passou a
cumprir funções essenciais, como a sustentação da força de trabalho e a legitimação
do regime imposto na época.
[...] somente tinham acesso à Proteção Social aqueles cidadãos que tinham
registro em carteira de trabalho, com profissão e sindicato reconhecidos
pelo “Estado varguista”. Aos trabalhadores que não a tinham, era negado
qualquer tipo de acesso à proteção social, sendo violentamente reprimidos
aqueles que indagavam à ordem vigente. (Jesus; Silva; Boaventura, 2012,
p. 21 apud Dahmer Pereira, 2006, p. 04)

A partir dos anos 80, houve um aumento significativo nos movimentos sociais
que desafiavam o regime autoritário no Brasil, abrindo espaço para o surgimento de
novos outros movimentos, agora, inseridos no contexto de uma sociedade brasileira
que sofria um processo de rearticulação política. Esses movimentos tinham como
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objetivo enfrentar diretamente a repressão estabelecida pelo regime militar, numa


convergência de esforços no âmbito da produção, reprodução e na esfera política e
partidária, majoritariamente voltados para demandas de ampla participação política,
expansão e universalização dos direitos sociais – o que culminou na elaboração da
Constituição Federal de 1988. Um dos marcos importantes alcançados com a
promulgação da Constituição foi a criação da Seguridade Social, incluindo a Política
de Saúde, a Previdência Social e a Política de Assistência Social. Essa inclusão
representou uma conquista significativa no campo da proteção social, além de
reconhecer a Assistência Social como um conceito baseado em direitos, rompendo
com a cultura do favor e conferindo cidadania a todos (Silva, 2007). Sendo esse um
período crucial na transformação da política e da proteção social no Brasil, marcado
por uma maior conscientização sobre os direitos da população e servindo como
mola propulsora para dar início ao desenvolvimento de políticas de redução das
desigualdades sociais no país.
No Brasil, o debate sobre instituição de Programas de Transferência de
Renda começa a fazer parte da agenda pública a partir de 1991, quando foi
apresentado e aprovado, no Senado Federal, o Projeto de Lei n. 80/1991 do
senador petista Eduardo Suplicy, propondo o Programa de Garantia de
Renda Mínima (PGRM). Esse programa destinava-se a beneficiar todos os
brasileiros residentes no país, maiores de 25 anos de idade, com uma renda
que correspondesse a 2,25 salários-mínimos, em valores de 2005. (Silva,
2007, p. 1431)

Durante o segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, foi


criado o Programa Nacional de Renda Mínima, amplamente conhecido como “Bolsa
Escola”, por estar vinculado à educação, tinha o intuito de fortalecer as iniciativas
previamente gerenciadas pelos municípios. Esse programa representava a
participação financeira do governo federal em programas municipais, visando
garantir uma renda mínima, combinada com ações socioeducativas e sem interferir
na diversidade dos programas locais, tendo como principal objetivo a criação de
mecanismos sociais capazes de romper com o ciclo de pobreza e vulnerabilidade
entre as camadas populares (Córdova; Alves, 2019). Além disso, o programa em
questão funcionou como base para programas posteriores de transferência de
renda, desempenhando um papel crucial no enfrentamento ao crescimento da
pobreza e na promoção da inclusão social no Brasil.
A partir disso, importantes desenvolvimentos ocorreram no debate e na
implementação de Programas de Transferência de Renda no Brasil, que foram
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expandidos e aprimorados, adotando abordagens mais inclusivas e medidas para


combater a pobreza e a desigualdade social. No entanto, é importante observar que
o Programa Bolsa Família, lançado no ano de 2003 pelo governo do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, unificou diversos programas já existentes e tornou-se um marco
na política social do país, com “mudanças quantitativas e também qualitativas
direcionadas para a construção de uma Política Pública de Transferência de Renda,
de abrangência nacional” (Silva, 2007, p. 1432) e que oferece assistência financeira
a famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, condicionada ao cumprimento
de requisitos.

Condicionantes e focalização

De modo geral, os Programas de Transferência de Renda têm como objetivo


principal a distribuição de ajuda financeira à população que se encontra em
situações vulneráveis, muitas vezes afetadas diretamente pelos impactos negativos
da globalização e do capitalismo no mundo do trabalho, traduzindo altos índices de
desemprego e na precarização das ocupações. Logo, aqueles com menor
qualificação tem a enfrentar a exclusão do mercado de trabalho com mais
frequência, resultando em dificuldades financeiras e, consequentemente, na vivência
da pobreza – o que acaba tornando essas pessoas dependentes dos Programas de
Transferência de Renda (Córdova; Alves, 2019) e são selecionados com base em
critérios definidos pelas autoridades governamentais, como renda per capita,
tamanho da família ou outras necessidades.
Em sua maioria, os Programas de Transferência de Renda possuem
condicionalidades, o que significa que os beneficiários devem cumprir certos
requisitos para poderem receber os benefícios.
O recebimento das transferências é condicionado a contrapartidas
comportamentais nas áreas de educação e saúde — essencialmente:
frequência à escola, vacinação de crianças e acompanhamento pré e pós-
natal de gestantes e nutrizes —, de acordo com a composição das famílias
beneficiárias. (Medeiros; Britto; Soares, 2007)

Essas condicionalidades objetivam não apenas fornecer assistência financeira


imediata, mas também criar incentivos para que as famílias invistam na educação,
saúde e nutrição de seus membros, envolvendo um longo prazo ao desenvolvimento
humano e à redução da pobreza. Sendo assim, para que haja o direcionamento
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correto desses recursos é necessário que haja o processo de focalização, essencial


e indispensável para a identificação e seleção dos beneficiários.
[...] tradicionalmente, os Programas de Transferência de Renda adotados no
Brasil possuem condicionalidades, ou seja, com critérios que controlam os
beneficiários, sendo também, via de regra, pretendendo focalizar nos mais
pobres entres os pobres. Esses programas, segundo a ótica governamental,
têm por finalidade gerar um alívio da pobreza, um enfrentamento ao
desemprego, e funcionar de forma distributiva, além de se constituir em um
auxílio financeiro como modo de complementar a renda das famílias pobres.
Ressalta-se que tais programas não são concebidos como uma forma de
assegurar uma renda de fato, mas sim como algo complementar a uma
renda, capaz de cobrir as necessidades sociais básicas. (Jesus; Silva;
Boaventura, 2012, p. 79)

Assim, a transferência de renda funciona como o fornecimento direto de


dinheiro a indivíduos ou famílias. No Brasil e em várias iniciativas na América Latina,
esses programas têm como alvo especificamente segmentos de baixa renda da
população e estão sujeitos aos requisitos que os beneficiários devem atender,
principalmente relacionados à educação, saúde e emprego (Silva; Lima, 2010).
Desse modo, a focalização se baseia em critérios específicos, a fim de direcionar os
recursos para as pessoas mais necessitadas, a partir de uma avaliação das
condições socioeconômicas das famílias, para garantir que os recursos sejam
direcionados de forma eficaz, cuja eficácia é medida não apenas com base na
distribuição desses recursos, mas também na capacidade de gerar mudanças
positivas em indicadores sociais e econômicos.
Porém, a sustentabilidade financeira dos Programas de Transferência de
Renda é fundamental para sua continuidade. Para isso, os governos precisam
planejar fontes de financiamento e recomendações que garantam a duração desses
programas, evitando que eles sejam interrompidos ao longo do tempo.
Acredita-se que qualquer estratégia que busque a superação da pobreza
passa necessariamente pelas pessoas, e que para desenvolver estratégias
sustentáveis e efetivas é necessário alterar [...] condições limitadoras,
investir no empoderamento das pessoas, no desenvolvimento de sua
autonomia, competência e capacidade de autodesenvolvimento, visando a
ampliação de sua capacidade de ação. Sem alterar essa dimensão, não é
suficiente alterar condições objetivas, prover bens e serviços, investir em
infraestrutura ou alterar condições macroeconômicas, uma vez que os
resultados não serão efetivos ou sustentáveis no longo prazo. (Ramos,
2008, apud Carneiro, 2005, p. 45)

Portanto, há a necessidade de uma abordagem holística para a superação da


pobreza, na qual as pessoas sejam vistas como agentes de mudança e ativas em
sua própria transformação e no desenvolvimento da sociedade como um todo,
considerando a complexidade e a interconexão de fatores que envolvem as políticas
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sociais, desde a sustentabilidade financeira até o empoderamento das pessoas


beneficiadas - destacando a importância de uma abordagem abrangente e de longo
prazo para a redução da pobreza. Por isso, as políticas de transferência de renda
precisam estar acompanhadas de sistemas de monitoramento e avaliação para
classificar seu desempenho, eficácia e impacto, garantindo que atinjam os objetivos
pretendidos.

Programas de Transferência de Renda no Brasil

Os Programas de Transferência de Renda são avaliados com base no seu


impacto social. Sendo assim, se espera que esses programas apresentem um
potencial significativo para reduzir a pobreza, além de ampliar o acesso à educação
e aos serviços de saúde e outros indicadores de bem-estar, pois eles direcionam
recursos financeiros diretamente para as famílias em situação de vulnerabilidade
econômica.
No entanto, a situação de pobreza pode ser interpretada de inúmeras
maneiras, como a falta de recursos materiais, a impossibilidade de satisfazer
necessidades fundamentais, a dificuldade de acesso a bens e serviços ou a carência
de alimentos para suprir as necessidades nutricionais. E indo além, a pobreza
também pode ser considerada como a incapacidade de satisfação das necessidades
humanas essenciais, como comida, abrigo, roupas, educação, assistência médica,
entre outras. Sendo assim, definir o que constitui uma necessidade básica é
extremamente complexa, uma vez que o que é considerado básico para uma pessoa
pode não ser para outra (Ferreira, 2009).
Com isso, dada a complexidade do conceito de pobreza, é necessário
considerar diferentes perspectivas e abordagens para compreendê-la e combatê-la
de maneira eficaz, levando em conta a necessidade de criar políticas públicas
sociais que não abordem apenas a renda, mas também as demais necessidades
básicas das pessoas em situação de pobreza.
No Brasil não existe uma linha oficial de pobreza, e dessa forma, existem
muitas controvérsias em torno do valor das linhas de indigências e pobreza,
porém, muitos especialistas concordam que se existe uma disponibilidade
de informações sobre a estrutura de consumo das famílias, tais linhas
devem ter como base o consumo observado. Predominam as medidas
absolutas de pobreza e existem diferentes cálculos dessas linhas a partir de
uma cesta básica alimentar que contemple as necessidades de consumo
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calórico mínimo de um indivíduo, variando entre regiões e estados.


(Marinho; Linhares; Campelo, 2011, p. 272)

A ausência de uma linha oficial de pobreza no Brasil é um desafio importante


quando se trata de avaliar e abordar a pobreza no país, pois a definição precisa de
quem se encontra em situação de pobreza é fundamental para o desenvolvimento
de políticas sociais eficazes e alocar recursos de maneira adequada. No entanto, a
controvérsia em torno do valor das linhas de indigência e pobreza é compreensível,
uma vez que diferentes especialistas podem adotar abordagens variadas ao
estabelecerem essas linhas, levando em consideração a realidade econômica e
social de diferentes regiões e grupos populacionais.
O relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO), retratou que o Brasil conseguiu, entre os anos de 2002 a
2013, reduzir em 82% a população de brasileiros considerados em situação
de subalimentação. Esse resultado possibilitou a saída do país do mapa
mundial da fome em 2014. A prevalência de subalimentação foi inferior a
5%, o que indica que a fome não é mais um problema estrutural no Brasil e
sim residual. Dentre as ações relatadas, no relatório da FAO, como medidas
exitosas para o alcance desses resultados, destacou-se o PBF e o
Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), considerados as
intervenções que mais contribuíram para esses avanços. (Sperandio, 2016,
p. 02)

Ainda que a situação das famílias inseridas na linha de pobreza tenha


apresentado significativas melhorias num passado recente [como mostra Sperandio
(2016)], atualmente, a situação no Brasil causa preocupação - considerando que o
país voltou ao Mapa da Fome em 2022. O ministro Wellington Dias atribuiu essa
regressão ao desmonte das políticas sociais dos últimos anos, levando o país a uma
crise de fome e necessidades básicas entre os mais pobres (Brasil, 2023).
Essa situação evidencia a importância dos Programas de Transferência de
Renda e de políticas sociais no combate à fome e à pobreza no Brasil. No entanto, é
necessário assegurar que esses programas sejam bem implementados para que
possam continuar sendo mantidos, objetivando garantir um impacto significativo na
melhoria das condições de vida das populações mais vulneráveis. A interrupção ou a
redução desses programas pode levar a graves retrocessos - como a volta do Brasil
ao Mapa da Fome em 2022, portanto, as políticas de transferência de renda e
programas sociais, que desempenham um papel fundamental na redução da fome e
na promoção do bem-estar das populações mais necessitadas, devem ser
preservados e constantemente inovados, para que sua continuidade e eficácia
possam resgatar e manter os avanços alcançados no passado.
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O Governo Federal, por meio do Ministério do Desenvolvimento e


Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) e mais 23 ministérios
em conjunto preparam o lançamento do plano Brasil sem Fome. A ação foi
construída a partir do aprendizado da trajetória que levou o país a sair do
Mapa da Fome. Programas como o Fome Zero e o Brasil Sem Miséria
inspiraram a aposta na reativação de um repertório de políticas públicas que
fizeram do Brasil uma referência mundial nessas áreas. (Brasil, 2023)

É notável que o Plano Brasil sem Fome tenha sido elaborado a partir das
lições aprendidas com os programas anteriores, pois esses foram fundamentais no
processo que retirou o Brasil “do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas
(ONU) em 2014” (Guedes, 2022), além de tornarem o país uma referência global em
políticas públicas externas - com foco na erradicação da fome e da miséria. Desse
modo, a aposta na reativação de políticas públicas comprovadamente eficazes
reitera o compromisso de enfrentar os desafios atuais, possibilitando garantir que
uma população mais vulnerável tenha acesso à alimentação e às condições básicas
necessárias para uma vida digna através dos Programas de Transferência de
Renda.
Para a senadora Zenaide Maia (Pros-RN), nada é mais preocupante e
urgente do que acabar com a fome de milhões de brasileiros. Na avaliação
dela, o governo federal [2019 – 2022] desmontou um importante arcabouço
de proteção social, tornando necessária a reconstrução das políticas
públicas para essa área. Além de um projeto de geração de emprego e
renda, Zenaide pondera no sentido de que o país precisa de mais
investimento público e de ações para a valorização do salário-mínimo como
formas de diminuir os números da fome no Brasil. (Guedes, 2022)

Dito isso, após as dificuldades enfrentadas nos últimos anos, o atual Governo
Federal implementou o novo Bolsa Família, retirando 18,5 milhões de famílias da
pobreza em junho de 2023. Desde a sua recriação, o programa retirou 43,5 milhões
de pessoas da linha da pobreza, garantindo uma renda per capita acima de R$ 218.
Nesse aspecto, o representante da FAO1, Rafael Zavala, apontou que a fome global
continua sendo um desafio, especialmente devido à pandemia e à desigualdade na
distribuição de alimentos. Ele destacou que, apesar dos desafios, o Brasil, com suas
políticas recentes e de produção alimentar, tem a capacidade de sair novamente do
Mapa da Fome (Brasil, 2023), indicando que há um impacto positivo na redução da
pobreza no Brasil, o que não desmonta o cenário de miséria e desigualdade na

1
A FAO, ou Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, é uma agência
especializada das Nações Unidas, cujo objetivo é de combater a fome, promover a segurança
alimentar e nutricional, além de melhorar as condições de vida das populações rurais em todo o
mundo.
12

distribuição de renda, que continua sendo desafiador e requer constante atenção e


inovação por parte do poder público.
Para Wanda Engel (2020), a situação da pobreza pode ser superada à longo
prazo se o Estado garantir o aumento do capital humano para as novas gerações
das famílias pobres, assegurando que as crianças que nascem nessas famílias
tenham acesso e permanência na escola, que tenham atendimento básico no
sistema de saúde etc. E, se o Estado proporciona isso, o capital humano dessa
família é ampliado e ela poderá ter a chance de sair da pobreza. No entanto, essa
melhora na renda também poderá evoluir em curto prazo se o Estado se empenhar
em desenvolver políticas sociais que atendam individualmente cada membro dessa
família, pois “uma família não se promove sozinha se o seu ambiente todo estiver
em processo de precarização” (Engel, 2020).
As regiões Nordeste e Sudeste do Brasil, por exemplo, abrigam a maioria da
população e ilustram as disparidades de desenvolvimento no país. No Nordeste, em
particular, mais de metade das famílias são beneficiárias do Programa Bolsa
Família, que desempenha um papel significativo no rendimento per capita dessas
famílias. Devido às disparidades sociais e econômicas entre as diferentes regiões do
Brasil, é crucial que os estudos que avaliam o impacto dos programas sociais levem
em consideração seus efeitos em cada região, considerando que, por trás das
médias nacionais, existem grandes diferenças regionais. Logo, é importante que os
resultados dessas avaliações permitam análises diferenciadas e uma melhor
focalização das políticas governamentais (Sperandio, 2016). Pois, sendo o Brasil um
país vasto e diversificado, com distinções significativas em termos de
desenvolvimento econômico, social e de infraestrutura entre suas diversas regiões, é
preciso levar em consideração essas diferenças, avaliando os desafios econômicos
e sociais mais acentuados por regionalidade - incluindo a dependência de
programas sociais.
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3. MATERIAIS E MÉTODOS

Para a elaboração deste estudo, foi utilizada a técnica de pesquisa


bibliográfica, que, segundo Marconi e Lakatos (1992), consiste na verificação de
toda a referência teórica já comprovada e publicada em livros, sites, anais e
periódicos - processo crucial para o pesquisador no momento da investigação e
análise, bem como na utilização das informações já disponíveis.
Diversos artigos e literaturas relacionados ao tema em questão foram
consultados, a fim de fornecer embasamento ao corpo deste trabalho. Entre as
fontes consultadas, destacam-se as produções de autores como Silva (2006),
Sperandio (2016), Marinho et al. (2011), Guedes (2022), Ferreira (2009), Medeiros et
al. (2007), entre outros, que foram de extrema relevância para o detalhamento do
tema abordado nesta pesquisa, dando base e significado para a compreensão do
surgimento dos Programas de Transferência de Renda e como essas políticas
sociais funcionam no Brasil.
Nesse espectro, foi realizada uma análise crítica e reflexiva das fontes
bibliográficas utilizadas nesse embasamento, além do aproveitamento de suas
informações para a construção do conhecimento a respeito da temática, sendo
essencial para compreender a evolução, os impactos e os desdobramentos dos
Programas de Transferência de Renda no contexto brasileiro ao longo do tempo -
dentro das transformações sociais, econômicas e políticas.
A seguir, veremos uma figura retirada do site oficial do Governo Federal, cujo
título da matéria é “Transferência de Renda: Bolsa Família de junho tem maior valor
médio da história: R$ 705,40”. O intuito da imagem é poder visualizar (em valores) a
distribuição dos recursos destinados ao Bolsa Família – programa de maior
referência em políticas de transferência de renda do Brasil.
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Figura 1 – Infográfico: Distribuição dos recursos por UF e por região (junho/2023).

Fonte: https://www.gov.br/secom/pt-br/assuntos/noticias/2023/06/bolsa-familia-de-junho-tem-maior-
valor-medio-da-historia-r-705-40.
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Na imagem, vemos que, mesmo o Bolsa Família sendo distribuído de forma


abrangente por todo o Brasil, é na região Nordeste que se concentra o maior número
de beneficiários, totalizando mais de 9,74 milhões de famílias, onde o investimento
federal supera a casa dos R$ 6,79 bilhões. Em seguida, o Nordeste vem
acompanhado da região Sudeste, que contempla 6,32 milhões de famílias, atingindo
um investimento de aproximadamente R$ 4,42 bilhões. O Norte possui 2,58 milhões
de famílias beneficiárias, cujo investimento atinge o valor de R$ 1,9 bilhão. O Sul
abrange 1,42 milhão de famílias com um investimento de cerca de R$ 1,01 bilhão.
Por fim, o Centro-Oeste beneficia 1,13 milhão de famílias, chegando ao valor de R$
814,92 milhões de investimento federal. Em relação aos estados, São Paulo liderou
com 2,575 milhões de famílias assistidas, recebendo mais de R$ 1,82 bilhão, com
um benefício médio de R$ 707,27. A Bahia segue com 2,569 milhões de famílias,
totalizando um investimento superior a R$ 1,76 bilhão e um benefício médio de R$
688,78. Outros estados com mais de um milhão de famílias beneficiárias incluem Rio
de Janeiro - 1,82 milhão; Pernambuco - 1,67 milhão; Minas Gerais - 1,61 milhão;
Ceará - 1,49 milhão; Pará - 1,35 milhão; Maranhão - 1,23 milhão. (Brasil, 2023)
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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os Programas de Transferência de Renda desempenham um papel


significativo na mitigação da pobreza e na redução das desigualdades
socioeconômicas. Logo, neste estudo, foram analisados alguns desafios
relacionados a essas iniciativas, bem como as implicações para a sociedade no
contexto brasileiro.
Os resultados obtidos por meio desta pesquisa confirmam que os Programas
de Transferência de Renda desempenharam e ainda desempenham um papel
crucial na redução da pobreza extrema e na melhoria das condições de vida de
milhões de brasileiros, auxiliando na redução da desnutrição, além de contribuir para
o acesso a serviços de saúde, educação e moradia, proporcionando um aumento
geral na qualidade de vida dos beneficiários e assumindo um papel importante na
redução das desigualdades sociais e econômicas.
Evidentemente, a redistribuição de renda permite que famílias de baixa renda
possam usufruir de acesso a recursos financeiros que antes estavam fora de seu
alcance, melhorando, assim, as perspectivas de futuras gerações. Porém, é
necessário considerar o ambiente onde vivem essas famílias e suas crianças, para
que as políticas sociais atendam as necessidades de toda a família, promovendo um
ambiente propício ao desenvolvimento infantil e dos demais membros.
No entanto, apesar dos resultados positivos, também foram identificados
desafios e limitações nas políticas de transferência de renda no Brasil, cujo principal
desafio está presente na necessidade de aprimorar a focalização e a eficiência
desses programas, aperfeiçoando a coleta de dados e o acompanhamento dos
beneficiários, a fim de garantir que os recursos sejam direcionados da forma mais
eficaz possível para os grupos mais vulneráveis e de acordo com a realidade de
cada família. Além disso, nota-se que a sustentabilidade financeira desses
programas é uma questão crítica, pois a manutenção de políticas de transferência
de renda, a longo prazo, requer um equilíbrio delicado entre a oferta de benefícios e
a capacidade de financiamento do Estado - o que pode ser afetado por mudanças
na conjuntura econômica e política.
Portanto, à medida em que o país avança, é essencial que o governo, suas
instituições e a sociedade trabalhem em conjunto para desenvolver estratégias
sustentáveis e eficazes, que garantam o acesso igualitário a recursos e
17

oportunidades. A pesquisa realizada neste estudo oferece uma breve explanação


sobre os Programas de Transferência de renda no Brasil e destaca a importância de
continuar aprimorando essas políticas para o benefício de toda a sociedade.
18

5. CONCLUSÃO

Esta foi uma pesquisa compreensiva sobre os Programas de Transferência de


Renda no Brasil, que proporcionou um entendimento mais profundo acerca dos
resultados obtidos e dos desafios enfrentados pelo funcionamento de políticas
sociais, que desempenham um papel inestimável na redução da pobreza extrema e
na melhoria das condições de vida de milhões de brasileiros.
Os resultados analisados revelaram que é possível causar um impacto
positivo na sociedade através dessas políticas, que podem subsidiar na redução da
desnutrição, no acesso ampliado a serviços de saúde e educação, bem como
promover melhorias significativas nas condições de moradia para as famílias
beneficiárias, além de contribuir diretamente para redução das desigualdades
socioeconômicas, permitindo uma redistribuição de renda que proporcione alívio
econômico e perspectiva de um futuro promissor para as camadas mais vulneráveis
da população.
Ainda assim, não se pode ignorar os desafios e limitações enfrentadas por
esses programas, cuja necessidade de melhorar a focalização e a eficiência é
indispensável para garantir a sustentabilidade financeira a longo prazo e melhorar o
monitoramento, bem como a avaliação contínua dessas políticas. Desse modo, é
imperativo que continuemos aprimorando os Programas de Transferência de Renda,
objetivando assegurar que eles permaneçam eficazes e relevantes para a população
assistida.
Por fim, este estudo demonstrou que os Programas de Transferência de
Renda desempenham um papel vital na construção de um Brasil mais justo e
equitativo – ainda que o trabalho esteja longe de ser completo, mas a reflexão
somada à ação são passos necessários para enfrentar os desafios impostos pela
constante evolução da sociedade. Logo, devemos aproveitar as lições aprendidas
para que continuemos a buscar soluções que possam melhorar a vida de todos os
cidadãos, promovendo um futuro mais digno para a população brasileira.
19

6. REFERÊNCIAS

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2018. Disponível em: <https://www.df.gov.br/o-que-e-transferencia-de-renda/>.
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21

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Acesso em: 14 de outubro de 2023.
22

7. CRÔNICAS

7.1 À Sombra da Burocracia

Título da Crônica À Sombra da Burocracia


Nome do acadêmico Renata Minelli da Silva
Curso Ciência Política
Disciplina Seminário Interdisciplinar
Turma FLC 9081
Módulo IV
Data de envio da crônica 27/11/2023
O sol escaldante do Brasil castiga impiedosamente enquanto espero em uma fila
– aparentemente quilométrica e que parece se estender até o infinito - a minha vez
de receber os benefícios de um programa de transferência de renda. A ironia da
situação não me passa despercebida: um país tropical, abençoado por Deus e
bonito por natureza; que parece ter o inverno como estação menos rigorosa, e aqui
estou eu, suando em bicas, na fila de um programa que deveria me proporcionar
alívio financeiro, mas me parece ser uma eterna prova de resistência sob o sol de
32°C.
Nas mídias circulam a notícia de que governo decidiu dar mais um passo em
direção à redução da desigualdade social e elaborar novos programas de
transferência de renda - o que é louvável. Porém, como em toda ação do governo,
parece que as coisas mais difíceis do que deveriam, pois a burocracia envolvida é
mais densa do que um livro de filosofia existencialista, e a espera é tão longa que
você tem tempo de repensar todas as suas escolhas de vida enquanto ler Sartre.
Aguardando a fila, observo a diversidade brasileira: idosos, mães com crianças,
jovens desempregados, pais exaustos com seus boletos infindáveis - todos nós
unidos pelo desejo comum de um auxílio financeiro. Uma senhora idosa na minha
frente carrega uma bolsa que parece ter um fundo sem fim, cheia de documentos, e
a cada vez que o funcionário do governo pede um papel específico, ela o encontra
após uma busca meticulosa. Isso me faz lembrar daquele famoso conto "A Bolsa
Amarela" de Lygia Bojunga, que também parecia ter uma dimensão própria,
também mas funciona como um espaço seguro e pessoal.
Finalmente, é chegada a minha vez. O funcionário atrás do balcão me olha com
uma expressão que parece dizer: "Não estou com vontade de trabalhar hoje!".
Entrego-lhe meus documentos, e ele começa a examiná-los com a mesma
23

velocidade de um caracol atravessando uma estrada. E daí por diante, começa o


interrogatório. Ele quer saber detalhes sobre minha vida, minhas despesas, meu
histórico financeiro e, em dado momento, me pergunto se ele me questionará a
respeito de minha opinião sobre o último capítulo da novela das nove – e eu nem
assisto a novelas. Parece que para receber um auxílio preciso passar por uma
maratona digna da São Silvestre.
Após uma eternidade, sou aprovado e recebo um cartão - que suponho ser a
chave para todos os tesouros do Estado. No entanto, a alegria dura pouco.
Descubro que o cartão só pode ser usado em alguns lugares específicos, e a lista
de estabelecimentos conveniados é tão limitada que parece que estou jogando uma
versão extremamente restrita de um jogo de RPG, onde o objetivo é sobreviver até
o próximo mês, economizando até o último centavo.
Por fim, chego à conclusão de que as políticas de transferência de renda no Brasil
são como um show de stand-up, onde você espera pacientemente na fila, enfrenta
uma série de obstáculos burocráticos e, no final, recebe um prêmio que faz você rir
de desespero – mesmo que a vontade seja de chorar. Mas, apesar de todas as
suas falhas e peculiaridades, esses programas representam um esforço para lidar
com a desigualdade no país. Talvez, num futuro distante ou numa realidade
paralela, a burocracia seja reduzida e as coisas se tornem mais eficientes. Até lá,
continuarei a suar na fila, esperando por um alívio financeiro e rindo das
absurdidades desse sistema. Afinal, o riso é o melhor remédio para sobreviver à
sombra burocracia brasileira.
24

7.2 Desafios e Conquistas na Busca por Equidade Social

Título da Crônica Desafios e Conquistas na Busca por Equidade Social


Nome do acadêmico Leonardo de San Leandro
Curso Ciência Política
Disciplina Seminário Interdisciplinar
Turma FLC9081CPO
Módulo IV
Data de envio da crônica 27/11/2023
As políticas públicas brasileiras que visam a implantação de programas de
transferência de renda, promovem dois objetivos ambicionadamente desejados: a
redução da pobreza e a diminuição da desigualdade de renda no Brasil. A eleição
dos indivíduos (famílias) se enquadra como ponto de partida para o sucesso dos
programas. Estão relacionados diretamente com os objetivos a serem alcançados,
proporcionando a amplitude da repercussão na sociedade do impacto do
injetamento de recursos financeiros distribuídos para incremento da renda das
famílias beneficiárias.
O governo federal, por intermédio dos ministérios que atuam nas áreas
sociais, compreende que a desigualdade de renda está associada diretamente aos
contrates existentes entre as regiões do país. De fato, as mais populosas
concentram, inevitavelmente, o maior número de famílias beneficiárias. O grande
número populacional do nordeste e sudeste brasileiros acabam por atrair o maior
percentual de benefícios entregues. Não há a necessidade de avultado estudo
científico para tal conclusão, já que a lógica matemática explica, com eficiente
clareza, a relação direta entre a demografia meramente quantitativa e o número de
incluídos nos Programas de Transferência de Renda (PTR).
Um curioso contraste existe entre essas duas regiões. O sudeste é a região
mais rica do Brasil e o Nordeste a região de menor Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH), dados do IBGE/2019. Hoje, as duas lideram a distribuição das
famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família (PBF), concentrando mais de 75%
dos recursos, sendo 45,96% para o nordeste e 29,8% para o sudeste, conforme
demonstrativos da Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal.
Discordantes regras de elegibilidade de favorecidos aos benefícios, decorrência da
existência de quatro PTRs até 2002, dificultavam uma análise mais esclarecedora
da eficiência desses programas. Em 2003, com a criação do Programa Bolsa
25

Família (PBF), foi se realizou a unificação dos benefícios até então existentes,
produzindo dados mais confiáveis para uma análise consistente.
Sozinha, a região nordeste detém quase metade das famílias beneficiárias
do PBF, mesmo possuindo menos de 27% do total da população brasileira. Sua
ocupação se inicia ainda no século XVI, por volta de 1530, com a introdução da
cana-de-açúcar. Direcionada à exportação, a cana era produzida por grandes
latifúndios, ocupando extensas faixas de terras próximas ao litoral. Já no século
XIX, e após a crise nos engenhos de açúcar, a recorrente procura europeia por
algodão, devido ao desenvolvimento da indústria têxtil, se voltou para o Brasil,
dessa vez para o interior do nordeste, mantendo a região com predominância na
produção rural e centralizando o poder econômico e político nas mãos das
oligarquias locais, responsáveis pelo histórico subdesenvolvimento da região.
Curiosamente, a região sudeste tem o seu processo de colonização
intensificado mais de cem anos após o nordestino. A descoberta de ouro e pedras
preciosas, no final do século XVII, proporcionou o surgimento de atividades
agrícolas e comerciais que visavam suprir as necessidades dos povoados próximos
às áreas de mineração, e ao longo dos caminhos utilizados para o escoamento da
produção, esses fatores deram grande impulso à colonização de Minas Gerais e
Rio de Janeiro, chegando ao ponto de a Coroa portuguesa transferir a capital da
colônia de Salvador para o Rio, ainda no séc. XVIII.
Já no século XIX, a cultura do café leva grande desenvolvimento econômico
a São Paulo. O grande acúmulo de capital vindo do café, juntamente com a
imigração europeia e asiática, pós abolição da escravidão, criaram o ambiente
social favorável à industrialização no Sudeste. O desenvolvimento econômico e
social nessas duas regiões se desenrolou em meio a fatos históricos distintos. Hoje,
a região sudeste é a mais rica do país e, consequentemente, a mais populosa, fruto
de migrações internas, que movimentaram grandes massas advindas,
principalmente, do Norte e do Nordeste.
É possível constatar que nem os estados mais ricos do Brasil conseguem
adsorver toda a mão de obra disponível em sua região. Um termômetro dessa
conjuntura dramática é o índice nacional de famílias contempladas com o PBF, o
Sudeste ocupa a segunda colocação com quase um terço de todo o programa,
sendo o estado de São Paulo o segundo com mais famílias assistidas, perdendo
26

apenas para o Maranhão. A realidade nos faz constatar que o desenvolvimento


econômico setorizado em regiões específicas do Brasil não é capaz de produzir
crescimento social nacional. Sem crescimento da economia e um consequente
aumento de renda em todas as camadas da sociedade, programas sociais como o
PBF conseguirão retirar milhões de famílias da miséria e da fome, mas essas
famílias dificilmente progredirão rumo a uma autonomia financeira que as possibilite
à libertação do assistencialismo do Estado.

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