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PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: UM ESTUDO DE CASO NA CIDADE

DE QUIXADÁ

Antônia Mayara da Silva Bow-ltaif1

RESUMO

Este trabalho apresenta uma pesquisa sobre o programa Bolsa Família, que é um programa de transferência de
renda, que está destinado as famílias que vivem em situação de pobreza e extrema pobreza. O programa Bolsa
Família integra a outros programas remanescentes como: auxílio-gás, bolsa escola, cartão alimentação, bolsa
alimentação e PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil). Tendo como principal objetivo analisar se
esse programa está beneficiando as famílias mais carentes da população de Quixadá e tendo como objetivos
específicos avaliar o que mudou nas famílias que recebem o benefício, se essa ajuda do governo está atendendo
pelo menos as necessidades básicas dessas famílias e fazer um levantamento geral sobre o programa. A
metodologia utilizada nesse artigo foi através de entrevistas, questionários, pesquisa de campo e levantamento
bibliográfico. O estudo constatou que o programa Bolsa Família está beneficiando milhares de famílias na cidade
de Quixadá, proporcionando a essas pessoas várias oportunidades, melhorando as suas condições de vida,
principalmente no que se refere às questões de segurança alimentar e nutricional desses indivíduos, contribuindo
para diminuir a fome e a miséria, tem contribuído também para o aumento da freqüência escolar e para a redução
do trabalho infantil.

PALAVRAS-CHAVE: Políticas públicas. Família.

1. INTRODUÇÃO

O programa Bolsa Família integra o Fome zero, que visa assegurar o direito humano à
alimentação adequada. O programa tem como dois objetivos básicos: combater a miséria e a
exclusão social, e promover a emancipação das famílias mais pobres. O Bolsa Família tem
como característica central de procurar associar a transferência do benefício financeiro ao
acesso a direitos sociais básicos, como saúde, alimentação, educação e assistência básica à
população.
O presente trabalho tem como objetivo apresentar os dados de um estudo sobre o
Programa Bolsa Família. O estudo teve por objetivo geral analisar se o programa está
realmente beneficiando as famílias mais carentes da população de Quixadá. Os objetivos
específicos foram avaliar o que mudou nas famílias que recebem o benefício, se essa ajuda do
governo está atendendo pelo menos as necessidades básicas dessas famílias e realizar um
levantamento geral sobre o programa. Esta avaliação do programa inclui verificar se esse
benefício está diretamente destinado para as pessoas que vivem em situação de pobreza e

1
Estudante do Curso de Economia Doméstica da Universidade Federal do Ceará
E-mail: may_bowltaifgt@hotmail.com

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extrema pobreza, identificar a destinação dada ao dinheiro recebido pelas famílias,
especificando suas principais prioridades de gastos. Pretende-se investigar também se as
pessoas estão satisfeitas com o programa, através do levantamento de pontos positivos e
negativos do programa. O artigo apresenta uma revisão teórica sobre o programa, os
resultados e discussão dos dados do estudo, bem como o que se conseguiu apreender sobre o
programa com as considerações finais.

2. REVISÃO DE LITERATURA

O Bolsa Família é um programa federal de transferência direta de renda destinado as


famílias em situação de pobreza (renda mensal por pessoa de R$ 60,00 a R$ 120,00) e
extrema pobreza (com renda mensal de até R$ 60,00). Uma das novidades do programa em
relação a iniciativas similares anteriores foi à unificação de todos os benefícios sociais do
governo federal (Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Cartão Alimentação e Auxilio Gás) em
um único programa. O objetivo dessa unificação foi garantir maior agilidade na liberação do
dinheiro, reduzir a burocracia e melhorar o controle dos recursos.
Em discurso proferido no lançamento do Bolsa Família, no dia 20 de outubro de 2003,
a secretaria-executiva do programa, Ana Fonseca, destacou que a criação desta nova política
só era possível graças á experiência acumulada ao longo da história em torno de programas de
transferência de renda. Ela lembrou o projeto do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), de 1991,
para instituição de um programa de renda mínima. Segundo Fonseca, aí estaria “a origem de
tantos programas espalhados pelos estados, municípios e pelo Distrito Federal”. Outros nomes
foram lembrados, então como formadores desta experiência acumulada: “desde o lançamento
dos primeiros programas, em 1995, no Distrito Federal”, como o governador Cristovam
Buarque, José Roberto Magalhães Teixeira e Antônio Palocci. Ou seja, o Bolsa Família não é
uma criação que partiu do zero.
Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse, em janeiro de 2003,
encontrou um sistema de programas sociais de transferência de renda espalhado por vários
ministérios, com diferentes listas de beneficiários e critérios para recebimentos de benefícios.
Esse sistema “espalhado” foi submetido a um processo de unificação, decisão que exigiu,
entre outras coisas, o recadastramento e a unificação dessas listas e a redefinição de critérios.
Nascia o programa Bolsa Família, que se integra com o programa Fome Zero. Embora, no
início, o fome Zero tenha obtido maior repercussão na mídia e no próprio discurso
governamental, foi o Bolsa Família que se consolidou como o programa social por excelência

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do governo Lula. Com ele ocorreram a integração e a consolidação de programas de
transferência de renda anteriores, com o aumento do valor dos benefícios.
Inaugurou-se, assim, uma nova agenda social no Brasil com a unificação, a
racionalização e a ampliação de quatro programas sociais já existentes. Em 2003, o mais
importante deles o Bolsa Escola beneficiava cerca de cinco milhões de famílias, com
transferência de renda de até R$ 45,00 por família. Hoje, o Bolsa Família beneficia cerca de
11,1 milhões de famílias, com transferência de renda de até R$ 172,00 por família.
O programa é gerido pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate á fome
(MDS) em parceria com os estados e municípios. As prefeituras são responsáveis pelo
cadastramento das famílias e pela atualização da base de dados do Cadastramento Único.
Os benefícios do programa são divididos de acordo com a renda mensal da família e a
quantidade de filhos:
- Básico: no valor de R$58, 00, concedido as famílias com renda mensal de até
R$60,00 por pessoa independentemente da composição familiar;
- Variável: no valor de R$15, 00, para cada criança ou adolescente de até quinze anos,
no limite financeiro de até R$54, 00, equivalente a três filhos por família.
- Benefício variável para jovem: no valor de R$ 30,00 por adolescente, concedido às
famílias pobres e extremamente pobres, que possuam em sua composição adolescentes de
dezesseis e dezessete anos.
As famílias em situação de extrema pobreza poderão acumular o benefício básico, o
variável, até o máximo de três benefícios por família e o variável para jovem, até o máximo
de dois benefícios por família, totalizando R$ 172,00 por mês.
As famílias têm que atender algumas condições para receber o benefício. As mesmas
devem participar de ações no acompanhamento de saúde e do estado nutricional dos filhos,
matricular e acompanhar a freqüência escolar das crianças no ensino fundamental e participar
de ações de educação alimentar. Com base nas informações do Cadastro Único elaborado
pelas prefeituras, o MDS seleciona as famílias a serem beneficiadas. O controle social sobre o
programa é exercido mediante a constituição de Comissões Municipais intersetoriais e
paritárias. A Caixa Econômica Federal (CEF) é o agente operador do cadastro e do pagamento
dos beneficiários.
As exigências para que as famílias recebem o benefício são: para as famílias que tem
crianças de até sete anos, os responsáveis devem levar as crianças para vacinar, pesar, medir e
ser examinado periodicamente. Para as gestante e mães que amamentam: participar do pré-
natal, ter acompanhamento após o parto e participar de atividades educativas sobre

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aleitamento materno. Para famílias com pessoas entre seis e quinze anos: garantir a freqüência
mínina de 85% das aulas a cada mês e informar ao gestor do programa que houve mudança de
escola.
Desde 2004, o ministério implantou procedimentos para identificação de duplicidades
e medidas de controle com o objetivo de evitar os pagamentos irregulares. Segundo o MDS,
esses procedimentos levaram o cancelamento de 562.351 beneficiários do Bolsa Família até
junho de 2006, em função de duplicidades, mudança na situação socioeconômica das famílias
e saídas voluntárias.
Existe outro tipo de exigência para assegurar a continuidade do benefício. Se deixar de
cumprir as exigências nas áreas de educação, saúde, e de manter o cadastro atualizado na
Secretaria de Assistência Social, a família pode perder o benefício instituído pelo programa.
Após um processo de recadastramento feito entre beneficiários em todo país, o governo
federal cortou o Bolsa Família para 562.351 famílias em todos os estados. Nos casos em que
ocorre o bloqueio, ainda é possível a retomada do beneficio. A exclusão pode ser revertida se
ocorreu algum erro no repasse de informações.
Abrir janelas de oportunidades para a população pobre é uma boa síntese do espírito
do programa. O Bolsa Família é apontado como o maior da nova geração de programas
sociais da América Latina, baseado no princípio da “transferência condicional de dinheiro”
(CCT, sigla em inglês para Condicional Cash Transfer).
A condicionalidade do programa e refere às contrapartidas exigidas nas áreas de
educação e saúde principalmente. Comparada com a maioria dos programas de assistência
social, a transferência condicional de dinheiro está muito mais próxima da população pobre
por não se limitar ao sistema formal de empregos, que exclui a imensa maioria dos mais
pobres, conforme avaliou Kathy Lindent, do Banco Mundial. O custo desse tipo de programa
destacou ainda a The Economist, é relativamente modesto:

“O bolsa Família do Brasil custa ao governo federal 0,36% do PIB, muito menos do
que o sistema de previdência social. A transferência não se limita a dar dinheiro para
os pobres, mas também serve como incentivo ao uso dos serviços governamentais”.

3. METODOLOGIA

A metodologia utilizada nesse artigo foi desenvolvida a partir de entrevistas,


observações, aplicações de questionários e coleta de dados. As atividades feitas foram

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divididas em etapas, de acordo com os meios de informação disponíveis e a busca da
coerência durante a análise do artigo, quais sejam:
- Fazer o reconhecimento e delimitação da área, conhecer e delimitar a área
proporcionando o contato direto com a realidade em análise.
- Revisar o levantamento bibliográfico que é de extrema relevância na tentativa de
alcançar o referencial teórico que proporciona a análise detalhada do objeto rumo à
compreensão espaço – temporal do mesmo.
- Entrevistar as pessoas que recebem o benefício, o que elas fazem com esse dinheiro e
se as mesmas estão satisfeitas com o programa.
- Fazer uma avaliação dos serviços prestados pelo programa é interessante saber quais
são os serviços ofertados pelo programa, se ele oferece oportunidades, investimentos para a
população.
- Aplicar questionários, criar questões que proporciona dados sobre opiniões dos
questionados a cerca das relações estabelecidas dentro do contexto em que vivem.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

As entrevistas foram feitas no bairro Campo Novo aonde há grande índice de famílias
que recebem o benefício do programa Bolsa Família, onde foram entrevistadas 25 famílias.
O bairro onde foi realizada a pesquisa está situado na periferia da cidade de Quixadá,
vale ressaltar que antes esse bairro tinha um elevado índice de violência, mas atualmente essa
situação está melhorando devido à construção de uma escola no local. Nesse bairro a
população disponibiliza de alguns serviços públicos: saneamento básico, escola pública, posto
de saúde, delegacia, igreja, hospital e pracinha.
A maioria das entrevistadas tinha entre 30 e 40 anos e já tinham um número
considerável de filhos. A maioria dessas mulheres morava com seus maridos e poucas eram
separadas.
O nível de escolaridade das entrevistadas era na maioria pessoas que não tinha
terminaram o ensino fundamental.
As entrevistadas eram todas donas de casa que não possuíam renda, exerciam somente
serviços domésticos e que dependiam de seus maridos ou da ajuda dos seus familiares. Os
maridos das entrevistadas trabalhavam na informalidade, exercendo trabalhos na agricultura,
extração de madeira, servente ou fazendo carvão, que recebem menos de um salário mínimo.

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Pelos dados obtidos percebe que das 25 famílias entrevistadas a maioria tinham de um
a três filhos, sendo que essas mães disseram que não pretendiam ter mais filhos. No local
também foram encontradas famílias numerosas, que possuíam de oito a dez filhos.
Percebe-se que a maioria das famílias entrevistadas residia em casas onde moravam de
cinco a seis pessoas.
O valor do benefício varia de família para família, onde se encontrou famílias que
recebem entre 36,00 a 120,00.
O dinheiro recebido pelas famílias na maioria das vezes é destinado à alimentação,
como também no vestuário, lazer, na compra de medicamentos e móveis.
Com as entrevistas, foi constatado que quando as famílias recebem o dinheiro do
Bolsa Família, o mesmo se destina ao pagamento de dívidas em mercearias, na compra de
mercadorias referentes à alimentação, do mês anterior, onde logo essas pessoas fazem outras
compras para serem pagas com o recebimento do benefício no mês seguinte.
Entre os entrevistados, a maioria deles não recebia outra ajuda do governo, e na
minoria as famílias que recebiam outros benefícios eram dos seguintes programas: auxílio-
doença, pró-jovem e PETI.
Quando foi perguntado às famílias se elas queriam que aumentassem o valor do
benefício, a maioria respondeu que sim, elas gostariam que isso acontecesse e outra parte
respondeu que não, mas se o governo decidisse aumentar o valor era uma boa, mas estava
bom o valor que elas recebiam.
Quanto ao nível de satisfação do programa metade dos entrevistados disseram
satisfeitos com o benefício, pois se não fosse essa pequena ajuda eles não teriam de onde tirar
dinheiro para sustentar a família.
Uma visita feita ao Colégio José Bonifácio que fica no mesmo bairro a diretora Vilma
Monte, disse que com o programa foi percebido um aumento significativo na presença dos
alunos. Existe um sistema de acompanhamento que registra a freqüência individual de cada
beneficiário na escola, com nome, número de identificação social, código da escola, marcação
da freqüência no mês. As crianças também estavam adquirindo o fardamento e o material
escolar, embora o índice de aprendizagem continuasse muito baixo, onde se pode concluir que
as crianças iam para o colégio mais pelo fato de recebem o benefício do que pela
aprendizagem.

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5 CONCLUSÃO

Com base no que foi estudado, pelo levantamento bibliográfico, e no estudo de campo
feito na cidade de Quixadá conclui-se que o programa Bolsa Família está beneficiando
milhares de famílias, dando a essas pessoas várias oportunidades, na melhoria de suas
condições de vida, principalmente no que se refere às questões de segurança alimentar e
nutricional desses indivíduos.
Uma avaliação geral dos dados obtidos observa-se que 95 % das mulheres não
pretendem ter mais, 80% das pessoas entrevistadas recebem o Bolsa Família desde a sua
criação, 98% das famílias quando recebem o benefício utilizam na compra de alimentos, 72%
das famílias acha satisfatória a quantia que recebem para suprir as necessidades básicas. Com
esses resultados pode-se afirmar que o Bolsa Família é um programa que tem uma avaliação
positiva para a maioria da população da cidade de Quixadá.
O programa também apresentou resultados positivos no acompanhamento da
freqüência escolar e na redução do trabalho infantil, pois as crianças passam mais tempo nas
escolas, fazendo atividades extracurriculares, com a ampliação do acesso ao ensino.

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