Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. A Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social e o Sistema Único
de Segurança Pública. 3. Controle de políticas públicas. 4. Eficiência da atividade policial. 4.1. Dever de
eficiência. 4.2. Direito fundamental à boa administração dos serviços policiais. 5. A atuação controladora
do Ministério Público. 6. Conclusão. 7. Referências.
RESUMO: Este artigo busca analisar os principais aspectos da Lei nº 13.675/2018, que instituiu a Política
Nacional de Segurança Pública e Defesa Social e o Sistema Único de Segurança Pública, com a finalidade
de cumprir o comando de eficiência contido no art. 144, §7º, da Constituição da República e o papel do
Ministério Público como instituição responsável pelo controle externo da atividade policial, inclusive na
fiscalização da boa administração dos serviços policiais.
PALAVRAS-CHAVE: Políticas Públicas. Segurança pública. Sistema único. Atividade policial. Eficiência.
Boa administração. Controle. Ministério Público.
ABSTRACT: This article aims to analyze the main aspects of Law nº 13.675/2018, which established the
National Public Security and Social Defense Policy and the Unified Public Security System, in order to accomplish
the efficiency command contained in art. 144, §7 of the Constitution of the Federative Republic of Brazil, and
the role of the Public Prosecution as an institution responsible for the external control over police activities,
including the supervision of good administration of police services.
KEYWORDS: Public policy. Public security. Unified system. Police activities. Efficiency. Good administration.
Control. Public Prosecution.
1. INTRODUÇÃO
A Constituição de 1988 inovou ao dispor sobre a segurança pública, num capítulo inserido
no título que trata da defesa do Estado e das instituições democráticas (art. 144). Disse que se trata
de um dever estatal e um direito e responsabilidade de todos e a que se destina: a preservação da
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Também enumerou os órgãos que
devem executá-la (polícias e corpos de bombeiros) e as competências básicas deles, determinando
ainda que a lei disciplinasse a sua organização e o seu funcionamento, de maneira a garantir a
eficiência de suas atividades, citando uma norma-princípio de eficiência das atividades de segurança
pública. A lei referida no §7º do art. 144 da Constituição Federal (CF) é a recente Lei nº 13.675, de 11
de junho de 2018, que dispõe sobre a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela
segurança pública, cria a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS) e institui o
Sistema Único de Segurança Pública (SUSP).
Cuida-se de um importante instrumento normativo que visa a disciplinar a atuação dos entes
federativos na prestação de serviços de segurança pública, cujos órgãos devem atuar conjuntamente
e de forma coordenada, sistêmica e integrada. Numa lei clara e objetiva, é definida a PNSPDS, que
enumera os princípios, as diretrizes, os objetivos e as estratégias, além dos meios e instrumentos
134
para a sua implementação. Criou-se ainda o SUSP, trazendo para a área de segurança pública a ideia
2 HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
3 Nova denominação da pasta que resulta da fusão dos antigos Ministérios da Justiça e Extraordinário da Segurança Pública, nos termos do art. 37
da Medida Provisória nº 870, de 1º de janeiro de 2019.
4 Art. 22. A União instituirá Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social, destinado a articular as ações do poder público, com a finalidade
de:
I - promover a melhora da qualidade da gestão das políticas sobre segurança pública e defesa social;
II - contribuir para a organização dos Conselhos de Segurança Pública e Defesa Social;
III - assegurar a produção de conhecimento no tema, a definição de metas e a avaliação dos resultados das políticas de segurança pública e
defesa social;
IV - priorizar ações preventivas e fiscalizatórias de segurança interna nas divisas, fronteiras, portos e aeroportos.
§ 1º As políticas públicas de segurança não se restringem aos integrantes do SUSP, pois devem considerar um contexto social amplo, com
abrangência de outras áreas do serviço público, como educação, saúde, lazer e cultura, respeitadas as atribuições e as finalidades de cada área
do serviço público.
§ 2º O Plano de que trata o caput deste artigo terá duração de 10 (dez) anos a contar de sua publicação.
§ 3º As ações de prevenção à criminalidade devem ser consideradas prioritárias na elaboração do Plano de que trata o caput deste artigo.
§ 4º A União, por intermédio do Ministério Extraordinário da Segurança Pública, deverá elaborar os objetivos, as ações estratégicas, as metas, as
prioridades, os indicadores e as formas de financiamento e gestão das Políticas de Segurança Pública e Defesa Social.
§ 5º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão, com base no Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social,
elaborar e implantar seus planos correspondentes em até 2 (dois) anos a partir da publicação do documento nacional, sob pena
de não poderem receber recursos da União para a execução de programas ou ações de segurança pública e defesa social.
§ 6º O poder público deverá dar ampla divulgação ao conteúdo das Políticas e dos Planos de segurança pública e defesa social. 135
Embora já existisse a previsão legal de cooperação federativa no âmbito da segurança pública
5 Dispõe sobre a cooperação federativa no âmbito da segurança pública, prevê a possibilidade de convênios da União com os Estados e o Distrito
Federal para a execução de operações conjuntas, transferência de recursos e desenvolvimento de atividades de capacitação e qualificação de
profissionais. Essa lei permite que o governo federal coloque à disposição dos demais entes federados, sem ônus, em caráter emergencial e
provisório, servidores federais, ocupantes de cargos congêneres e de formação técnica compatível. Por outro lado, dispõe sobre o acionamento
da Força Nacional de Segurança Pública, constituída de militares e servidores civis dos entes federados que celebrarem convênio, caso em
que esses servidores estaduais recebem um auxílio financeiro, custeado pelo Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP). Na prática, o que
ocorre é que, para receber recursos federais, os Estados disponibilizam os seus policiais civis e militares mais bem treinados para a FNSP, que são
deslocados temporariamente para outros Estados, desfalcando as atividades de policiamento dos Estados de origem.
6 Art. 11. O Ministério Extraordinário da Segurança Pública fixará, anualmente, metas de excelência no âmbito das respectivas competências,
visando à prevenção e à repressão das infrações penais e administrativas e à prevenção dos desastres, e utilizará indicadores públicos que
demonstrem de forma objetiva os resultados pretendidos.
[...]
Art. 13. O Ministério Extraordinário da Segurança Pública, responsável pela gestão do Susp, deverá orientar e acompanhar as atividades dos
órgãos integrados ao Sistema, além de promover as seguintes ações:
I - apoiar os programas de aparelhamento e modernização dos órgãos de segurança pública e defesa social do País;
II - implementar, manter e expandir, observadas as restrições previstas em lei quanto a sigilo, o Sistema Nacional de Informações e de Gestão de
Segurança Pública e Defesa Social;
III - efetivar o intercâmbio de experiências técnicas e operacionais entre os órgãos policiais federais, estaduais, distrital e as guardas municipais;
IV - valorizar a autonomia técnica, científica e funcional dos institutos oficiais de criminalística, medicina legal e identificação, garantindo-lhes
condições plenas para o exercício de suas funções;
V - promover a qualificação profissional dos integrantes da segurança pública e defesa social, especialmente nas dimensões operacional, ética
e técnico-científica;
VI - realizar estudos e pesquisas nacionais e consolidar dados e informações estatísticas sobre criminalidade e vitimização;
VII - coordenar as atividades de inteligência da segurança pública e defesa social integradas ao SISBIN;
VIII - desenvolver a doutrina de inteligência policial.
Art. 14. É de responsabilidade do Ministério Extraordinário da Segurança Pública:
I - disponibilizar sistema padronizado, informatizado e seguro que permita o intercâmbio de informações entre os integrantes do SUSP;
II - apoiar e avaliar periodicamente a infraestrutura tecnológica e a segurança dos processos, das redes e dos sistemas;
III - estabelecer cronograma para adequação dos integrantes do SUSP às normas e aos procedimentos de funcionamento do Sistema. 136
cumprimento de penas. Também deve legislar sobre normas gerais de organização, efetivos, material
14 A Lei nº 13.502, de 1º de novembro de 2017, previa, nos seus arts. 40-B e 58-B, VI, a existência do Conselho Nacional de Segurança Pública
(CONASP), vinculado ao Ministério da Segurança Pública, contudo, a referida lei foi revogada pela Medida Provisória nº 870, de 1º de janeiro de
2019.
15 Art. 20. Serão criados Conselhos de Segurança Pública e Defesa Social, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
mediante proposta dos chefes dos Poderes Executivos, encaminhadas aos respectivos Poderes Legislativos.
[...]
§ 3º Os Conselhos de Segurança Pública e Defesa Social exercerão o acompanhamento das instituições referidas no § 2º do art. 9º desta Lei e
poderão recomendar providências legais às autoridades competentes.
§ 4º O acompanhamento de que trata o § 3º deste artigo considerará, entre outros, os seguintes aspectos:
I - as condições de trabalho, a valorização e o respeito pela integridade física e moral dos seus integrantes;
II - o atingimento das metas previstas nesta Lei;
III - o resultado célere na apuração das denúncias em tramitação nas respectivas corregedorias;
IV - o grau de confiabilidade e aceitabilidade do órgão pela população por ele atendida.
§ 5º Caberá aos Conselhos propor diretrizes para as políticas públicas de segurança pública e defesa social, com vistas à prevenção e à repressão
da violência e da criminalidade.
16 BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Perfil dos estados e dos municípios brasileiros: 2014/IBGE, Coordenação de Populações
e Indicadores Sociais. Rio de Janeiro: IBGE, 2015. 140
É ainda relevante destacar que, no âmbito do SUSP, foi instituído o Sistema Integrado de
17 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. 2ª ed. 4ª tir. São Paulo: Malheiros, 2015, p. 460. 141
O acompanhamento e o controle das políticas de segurança pública se mostram ainda mais
18 ÁVILA, Thiago André Pierobom. O controle pelo Ministério Público das políticas de segurança pública. In: Conselho Nacional do Ministério
Público. O Ministério Público e o controle externo da atividade policial: Dados 2016. Conselho Nacional do Ministério Público. Brasília: CNMP,
2017, p. 27.
19 CARVALHO, Sabrina Nasser de. Processos coletivos e políticas públicas: mecanismos para a garantia de uma prestação jurisdicional democrática.
São Paulo: Contracorrente, 2016, p. 73-74. 142
orçamentário-financeiro), jurisdicional (para sanar omissões ou ilegalidades)20, social e do Ministério
20 O Supremo Tribunal Federal fixou o entendimento no sentido de que é função institucional do Poder Judiciário determinar a implantação de
políticas públicas quando os órgãos estatais competentes, por descumprirem os encargos político-jurídicos que sobre eles incidem, vierem a
comprometer, com tal comportamento, a eficácia e a integridade de direitos individuais e/ou coletivos impregnados de estatura constitucional,
ainda que derivados de cláusulas revestidas de conteúdo programático (RE 367.432/PR-AgR, 2ª Turma, relator Min. Eros Grau, DJe de 14/05/2010).
Especificamente em relação às políticas públicas de segurança, o STF já decidiu: “O direito a segurança é prerrogativa constitucional indisponível,
garantido mediante a implementação de políticas públicas, impondo ao Estado a obrigação de criar condições objetivas que possibilitem o
efetivo acesso a tal serviço. É possível ao Poder Judiciário determinar a implementação pelo Estado, quando inadimplente, de políticas públicas
constitucionalmente previstas, sem que haja ingerência em questão que envolve o poder discricionário do Poder Executivo” (Ag. Reg. Recurso
Extraordinário nº 559.646, Rel. Min. Ellen Gracie, 07/06/2011). Outros precedentes: RE 628.159-AgR/MA, Rel. Min. Rosa Weber; RE 768.825-AgR/BA,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski; RE 741.577/RN, Rel. Min. Celso de Mello.
21 ÁVILA, Op. Cit., p. 25-29.
22 A Recomendação nº 35, de 7 de janeiro de 2019, expedida pelo Corregedor Nacional de Justiça (CNJ), orienta a todos os magistrados brasileiros,
exceto aos ministros do Supremo Tribunal Federal, que se abstenham de exercer funções, ainda que de caráter honorífico, consultivo e sem
remuneração, em conselhos, comitês, comissões ou assemelhados, de natureza política ou de gestão administrativa de serviços vinculados a
Poder ou órgãos estranhos ao Poder Judiciário, inclusive em Conselhos de Segurança Pública.
23 ADPF 388, Rel. Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 09/03/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-159 DIVULG 29-07-2016 PUBLIC 01-
08-2016. 143
também vedada a participação em Conselho Superior de Polícia24. Na condição de mero observador,
24 AI 768852 AgR, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 14/06/2011, DJe-159 DIVULG 18-08-2011 PUBLIC 19-08-2011 EMENT
VOL-02569-04 PP-00652. No mesmo sentido: RE 1103425 AgR/PR; RE 1111698 AgR/PR; RE 1057757 AgR/PR; RE 937336 AgR/PR; RE 951589 AgR/
PR; ARE 938053 AgR/PR.
25 O primeiro registro da positivação desse valor em relação à atividade administrativa foi no Decreto-lei nº 200/1967, que dispõe sobre a
organização da Administração Federal.
26 Apud CAMPOS, Eduardo Luiz Cavalcanti. O princípio da eficiência no processo civil brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 12-13.
27 Apud CAMPOS, Op. Cit., p. 13. 144
pertinentes. Apesar da imprecisão semântica do termo eficiência, que é polissêmico, ele possui
34 ISMAIL FILHO, Salomão. A importância da atuação preventiva do Ministério Público ombudsman em prol da boa administração, no combate à
improbidade administrativa. Revista do Conselho Nacional do Ministério Público. Brasília. CNMP, n. 5, 2015, p. 106 e 109.
35 Art. 34. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão instituir órgãos de ouvidoria dotados de autonomia e independência no
exercício de suas atribuições.
Parágrafo único. À ouvidoria competirá o recebimento e tratamento de representações, elogios e sugestões de qualquer pessoa sobre as ações
e atividades dos profissionais e membros integrantes do SUSP, devendo encaminhá-los ao órgão com atribuição para as providências legais e
a resposta ao requerente. 147
Por outro lado, o Ministério Público, como instituição incumbida da defesa da ordem jurídica
5. CONCLUSÃO
O modelo de segurança pública adotado no Brasil tem se mostrado incapaz de controlar
adequadamente a criminalidade. Os órgãos encarregados constitucionalmente de prestar os serviços
de segurança pública, sobretudo as polícias estaduais, padecem de graves problemas estruturais e
de gestão, que são determinantes da qualidade do trabalho realizado. Existe uma relação direta, de
causa e efeito, entre as políticas de segurança pública, a gestão das instituições policiais e o resultado
obtido com a atividade policial.
36 Art. 11. O Ministério Extraordinário da Segurança Pública fixará, anualmente, metas de excelência no âmbito das respectivas competências,
visando à prevenção e à repressão das infrações penais e administrativas e à prevenção dos desastres, e utilizará indicadores públicos que
demonstrem de forma objetiva os resultados pretendidos.
Art. 12. A aferição anual de metas deverá observar os seguintes parâmetros:
I - as atividades de polícia judiciária e de apuração das infrações penais serão aferidas, entre outros fatores, pelos índices de elucidação dos delitos,
a partir dos registros de ocorrências policiais, especialmente os de crimes dolosos com resultado em morte e de roubo, pela identificação, prisão
dos autores e cumprimento de mandados de prisão de condenados a crimes com penas de reclusão, e pela recuperação do produto de crime
em determinada circunscrição;
II - as atividades periciais serão aferidas mediante critérios técnicos emitidos pelo órgão responsável pela coordenação das perícias oficiais,
considerando os laudos periciais e o resultado na produção qualificada das provas relevantes à instrução criminal;
III - as atividades de polícia ostensiva e de preservação da ordem pública serão aferidas, entre outros fatores, pela maior ou menor incidência de
infrações penais e administrativas em determinada área, seguindo os parâmetros do Sinesp;
IV - as atividades dos corpos de bombeiros militares serão aferidas, entre outros fatores, pelas ações de prevenção, preparação para emergências
e desastres, índices de tempo de resposta aos desastres e de recuperação de locais atingidos, considerando-se áreas determinadas;
V - a eficiência do sistema prisional será aferida com base nos seguintes fatores, entre outros:
a) o número de vagas ofertadas no sistema;
b) a relação existente entre o número de presos e a quantidade de vagas ofertadas;
c) o índice de reiteração criminal dos egressos;
d) a quantidade de presos condenados atendidos de acordo com os parâmetros estabelecidos pelos incisos do caput deste artigo, com
observância de critérios objetivos e transparentes.
§ 1º A aferição considerará aspectos relativos à estrutura de trabalho físico e de equipamentos, bem como de efetivo.
§ 2º A aferição de que trata o inciso I do caput deste artigo deverá distinguir as autorias definidas em razão de prisão em flagrante das autorias
resultantes de diligências investigatórias. 148
O controle externo da atividade policial, atribuído ao Ministério Público, tradicionalmente tem
149
6. REFERÊNCIAS
150