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ESCOLA DE DIREITO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

ALEX GOMES DOS SANTOS

ATIVIDADE POLICIAL: Aspectos jurídicos aplicados à Polícia Militar e


humanização do aparato policial

PROFESSORA ORIENTADORA: ÉRICA OLIVEIRA CAVALCANTI


SCHUMACHER

RECIFE/PE
2023.1
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ATIVIDADE POLICIAL: Aspectos jurídicos aplicados à Polícia Militar e


humanização do aparato policial
Alex Gomes dos Santos 1

RESUMO

O artigo científico tem como objetivo geral demonstrar os aspectos jurídicos que estabelecem
os parâmetros para balizar e resguardar as ações realizadas pelo profissional de segurança
pública, em específico, do Policial Militar do Estado de Pernambuco. Aspectos que configuram
a retaguarda jurídica pelo qual o profissional encontrará amparo necessário para sua defesa e
justificação das ações cometidas, quando dentro da legalidade prevista no ordenamento
jurídico. As diversas legislações e ordenamentos presentes na estruturação da Polícia Militar
do Estado de Pernambuco, que definem sua organização e orientam os procedimentos que
devem ser adotados pelo Policial Militar nas diversas situações enfrentadas no seu cotidiano,
constituem ferramentas que proporcionam amparo jurídico ao policial e são de fundamental
importância para o bom desempenho das atribuições profissionais. A pesquisa será realizada
por meio de estudos e pesquisas doutrinárias, artigos científicos, livros relacionados ao tema e
análises dos procedimentos abordados pela Polícia Militar do Estado de Pernambuco no que
tange os aspectos da retaguarda jurídica e da humanização do aparato policial, ambos aplicados
a atividade da Polícia Militar. O estudo de caso justifica-se pelo ponto de vista técnico, no que
tange ao desempenho satisfatório da ação do agente de segurança pública perante a sociedade.
O tema proposto apresenta grande relevância no âmbito social, demonstrando resultados na
metodologia empregada pelo profissional atuante que se baseia na regulamentação atual para
conduzir as suas ações. Evidenciou-se por meio de análise de estatística que o policial que
detém os conhecimentos técnicos dos procedimentos reduz significativamente as chances de
cometer erros de procedimento e por consequência responder processos no futuro.

Palavras-chaves: Retaguarda Jurídica. Direitos Humanos. Polícia Comunitária.

ABSTRACT

The scientific article has as general objective to demonstrate the legal aspects that establish the
parameters to mark and safeguard the actions carried out by the public security professional, in
particular, the Military Police of the State of Pernambuco. Aspects that configure the legal
rearguard by which the professional will find the necessary support for his defense and
justification of the actions committed, when within the legality provided for in the legal system.
The various laws and ordinances present in the structuring of the Military Police of the State of
Pernambuco, which define its organization and guide the procedures that must be adopted by
the Military Police in the various situations faced in their daily lives, constitute tools that
provide legal support to the police and are of fundamental importance for the good performance
of professional attributions. The research will be carried out through studies and doctrinal
research, scientific articles, books related to the theme and analysis of the procedures addressed
by the Military Police of the State of Pernambuco with regard to the aspects of the legal
rearguard and the humanization of the police apparatus, both applied to the activity of the

1
Graduando em Direito pelo Centro Universitário dos Guararapes (UniFG/PE)
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Military Police. The case study is justified by the technical point of view, with regard to the
satisfactory performance of the action of the public security agent before society. The proposed
theme presents great relevance in the social sphere, demonstrating results in the methodology
employed by the active professional that is based on the current regulations to conduct their
actions. It was evidenced through statistical analysis that the police officer who has the technical
knowledge of the procedures significantly reduces the chances of making procedural errors and
consequently responding to processes in the future.

Keywords: Legal Rearguard. Human rights. Community Police.

INTRODUÇÃO

Toda a legislação que envolve o ordenamento jurídico da polícia militar e demais órgãos
de segurança pública compreende o arcabouço da instituição e estabelece normas pelas quais
seus integrantes podem se basear, pautar suas ações dentro da legalidade e assim poder prestar
da melhor maneira possível um serviço de qualidade a sociedade.
No tocante ao cumprimento das normas e regulamentos da instituição, o policial militar
além de servir de forma adequada, garante também a sua retaguarda jurídica, que pode ser
compreendida como a proteção legal que se dá aos agentes públicos que atuam em situações de
risco ou conflito.
A Polícia Militar de Pernambuco (PMPE), que servirá como base para a presente
pesquisa, é uma instituição permanente, subordinada ao Governador do Estado, que tem seu
estatuto regulamentado pela Lei Ordinária 6.783 de 1974. Essa lei dispõe sobre a situação,
obrigações, deveres, direitos e prerrogativas dos policiais militares do Estado de Pernambuco.
O papel da PMPE na segurança pública é garantir a proteção da população por meio do
policiamento ostensivo, uniformizado e visível para inibir a prática de crimes. A PMPE também
contribui para a tranquilidade e segurança pública da cidade do Recife e de todo o Estado de
Pernambuco. Além disso, faz parte de um sistema integrado de segurança pública que envolve
outras instituições públicas e comunitárias, visando assegurar a proteção do indivíduo e da
coletividade e a ampliação da justiça.
A retaguarda jurídica do policial militar em Pernambuco envolve diversas normas e leis
que regulam a atividade policial e garantem a proteção legal dos agentes que atuam em defesa
da ordem pública. Alguns exemplos de normas que constituem a retaguarda jurídica do policial
militar em Pernambuco são:
• O Estatuto dos Policiais Militares do Estado de Pernambuco, Lei nº 6.783/1974, que
dispõe sobre as obrigações, os deveres e os direitos dos policiais militares, bem como
os procedimentos disciplinares e judiciais aplicáveis aos mesmos;
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• A Cartilha da Diretoria de Polícia Judiciária Militar e da Proteção à Mulher Policial,


que orienta sobre os procedimentos de polícia judiciária militar e as medidas de proteção
à mulher policial vítima de violência;
• A Cartilha que orienta os policiais militares sobre os procedimentos legais em caso de
prisão em flagrante ou preventiva, inquérito policial militar, processo penal militar e
habeas corpus.
Essas são algumas normas, dentre várias, que visam assegurar o cumprimento do dever
legal dos policiais militares em Pernambuco, bem como garantir também resguardar os direitos
e garantias fundamentais dos servidores quando em situações de risco ou conflito.
A corregedoria da PMPE é o órgão responsável por fiscalizar e apurar as condutas dos
policiais militares do Estado de Pernambuco, tanto na esfera criminal quanto na administrativa.
Ela faz parte da Secretaria de Defesa Social do Estado de Pernambuco e tem como missão
garantir a legalidade, a hierarquia e a disciplina na corporação.
O Ministério Público desempenha um papel fundamental no sistema de justiça e exerce
importante influência sobre a Polícia Militar. Sua atuação é essencial para promover a
legalidade, a imparcialidade e a justiça no contexto das atividades policiais.
É de suma importância que existam instituições de caráter fiscalizatório e regularizador
que estabeleçam normas e diretrizes para nortear o serviço policial militar. Instituições essas
que sejam investidas de transparência e confiabilidade perante a sociedade, respeito e
imparcialidade ante os profissionais a qual fiscaliza.
Posto isto, o objetivo geral dessa pesquisa consiste em demonstrar os aspectos jurídicos
que fundamentam e amparam a atividade desempenhada pelo Policial Militar do Estado de
Pernambuco. Ao mesmo tempo que os objetivos específicos abordados serão: analisar as
obrigações e deveres do agente de segurança pública perante a sociedade; enfatizar a
humanização do aparato policial dentro do contexto dos direitos humanos e conhecer a
implementação do conceito de polícia comunitária dentro da corporação.
Para alcançar os objetivos dessa pesquisa, serão utilizados artigos publicados como
referência que tratam do assunto abordado e demonstram as normas jurídicas direcionadas à
atividade policial ostensiva. Serão abordadas os direitos e obrigações que o policial possui
diante da situação real. Ademais, com base no ordenamento jurídico brasileiro e legislações
especificas, serão demonstrados quais os meios disponíveis para o que profissional de
segurança, em específico o policial militar, possa realizar suas funções da melhor forma
possível.
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Para o desenvolvimento do presente trabalho, na primeira seção será apresentado um


breve conceito de ordem pública e segurança pública. Serão demonstrados também, os aspectos
jurídicos que estão presentes na Polícia Militar e o que estabelecem as legislações pertinentes
aos policiais militares do Estado de Pernambuco.
Na segunda seção serão analisadas as obrigações e deveres do policial militar, a ética
profissional e o compromisso policial perante a sociedade em que está inserido, e uma breve
passagem acerca da formação do policial militar do Estado de Pernambuco.
Já na terceira seção, serão enfatizados alguns pontos importantes com relação a
humanização do aparato policial, com ênfase no conceito de direitos humanos e também na
implementação da polícia comunitária, expondo a visão que a sociedade atual detém da polícia.
Por fim, os resultados obtidos sugerem que o policial que detém os conhecimentos
técnicos dos procedimentos reduz significativamente as chances de cometer erros de
procedimento e por consequência responder processos no futuro.

1. ORDEM PÚBLICA, SEGURANÇA PÚBLICA E ASPECTOS JURÍDICOS

Cabe-nos inicialmente realizar uma incursão crítica acerca da terminologia de ordem


pública. Tal conceito, utilizado no sistema de justiça criminal brasileiro como justificativa para
a repressão estatal, mais precisamente como valor social a ser protegido através da segregação
provisória, contudo não logra êxito em se auto traduzir. Ou seja, trata-se de um termo aberto,
formado por duas palavras igualmente abstratas e que não dão conta de determinar seu real
significado, que acaba sendo extraído a partir de quem utiliza o termo (ARAÚJO, 2020).
De certa forma, o conceito de ordem pública demonstra ser abstrato e um tanto
indeterminado, pelo fato de o termo “público” ser considerado aquilo que é de todos, portanto
não sendo individual, mas pertencente a uma coletividade. Esse sentido abstrato fica
evidenciado na fala de BARROSO (2001, p. 37, apud ARAÚJO, 2020) quando o mesmo diz o
seguinte:
Por vezes, uma regra conterá termo ou locução de conteúdo indeterminado,
aberto ou flexível, como, por exemplo, ordem pública, justa indenização,
relevante interesse coletivo, melhor interesse do menor. Em hipóteses como
essas, a regra desempenhará papel semelhante ao dos princípios, permitindo
ao intérprete integrar com sua subjetividade o comando normativo e formular
a decisão concreta que melhor irá reger a situação de fato apreciada.
No que concerne à segurança pública, em harmonia com a previsão constitucional, ela
pode ser definida como o conjunto de ações e serviços prestad os pelo Estado e pelas instituições
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públicas para garantir a proteção da vida, da liberdade e do patrimônio das pessoas contra as
ameaças criminais ou de outra natureza (BRASIL, 1988).
De acordo com SOUZA (2009, p. 300), segurança pública pode ser conceituada como:
Um estado que possibilita (viabiliza) o livre exercício dos direitos, liberdades e
garantias consagrados na Constituição e na Lei. A segurança é,
simultaneamente, um bem individual e coletivo, tal como a sociedade pertence
a todos e a cada um.
Segundo podemos extrair também do entendimento de DIAS. (2004, p. 1), o conceito
de ser cidadão consiste em:
Exercer a cidadania, estágio avançado do ser humano capaz e responsável, em
princípio obediente aos parâmetros da ordem natural das coisas: todas as coisas
devem obedecer aos princípios, às regras, às normas, de sua ordem natural.
Capaz de evoluir continuamente ao longo do tempo e espaço, com naturais
limitações e desvios que representam os desafios à inteligência e à produtividade
dos seres humanos.
Conforme estabelece o artigo 144 da Constituição Federal de 1988, a segurança pública
é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos (BRASIL, 1988). Para exercer esse
direito e cumprir essa responsabilidade, existem as forças de segurança, que são os órgãos
públicos encarregados de prevenir, reprimir e investigar os crimes, bem como de manter a paz
e a segurança nas ruas, nas estradas, nas fronteiras e em outros espaços públicos (BRASIL,
1988).
As principais forças de segurança são: a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal,
a Polícia Ferroviária Federal, as Polícias Civis, as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros
Militares (BRASIL, 1988).
Paralelo às garantias que competem ao Estado, o conceito de segurança pública é amplo,
não se limitando à política do combate à criminalidade e nem se restringindo à atividade
policial. A segurança pública enquanto atividade desenvolvida pelo Estado é responsável por
empreender ações de repressão e oferecer estímulos ativos para que os cidadãos possam
conviver, trabalhar, produzir e se divertir, protegendo-os dos riscos a que estão expostos
(SANTOS, 2006).

1.1 Polícia Militar

A Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) surgiu através do Decreto Imperial, datado de


11 de junho de 1825, firmado pelo Imperador D. Pedro I, que criou, na então Província de
Pernambuco, um corpo de Polícia, convindo para a tranquilidade e segurança pública da cidade
do Recife. O Decreto em questão encontra-se atualmente exposto no Salão de Honra do Quartel
do Comando Geral (PMPE, 2023).
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O referido Corpo de Polícia surgiu em decorrência da Confederação do Equador,


movimento republicano revolucionário ocorrido em Pernambuco em 1824, e sufocado pelo
Brigadeiro Lima e Silva, que atingiu as Províncias da Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte,
cujos revolucionários foram derrotados e vários executados, entre eles o pernambucano Frei
Caneca. Esse Corpo de Polícia era composto de um efetivo inicial de 320 homens e constituído
um Estado-Maior, uma Companhia de Cavalaria e duas de Infantaria (PMPE, 2023).
Seu primeiro Quartel era sediado no Pátio do Paraíso, no Recife, onde hoje passa a Av.
Dantas Barreto (uma das principais da região metropolitana atual), e o 1º Comandante-Geral
foi o Tenente Coronel de 1ª Linha do Exército Antônio Maria da Silva Torres, que, inclusive,
tomou parte na repressão aos mártires de 1824. Contudo, há documentação comprobatória da
assunção no cargo de Comandante Geral da Polícia Militar da Província de Pernambuco, em
18 de agosto de 1822, do Capitão José de Barros Falcão de Lacerda, e até referência histórica a
um contrato de Maurício de Nassau com a Companhia das Índias Ocidentais, da existência de
uma Polícia Militar, conforme documento datado de 23 de agosto de 1636 (PMPE, 2023).
Dessa forma, a PMPE teve, durante o transcurso de sua evolução histórica, as seguintes
denominações (PMPE, 2023):
• Corpo de Polícia do Recife (Decreto Imperial de 11 de junho de 1825)
• Corpo de Guardas Municipais Permanentes (Resolução do Governo Regencial)
• Força Policial da Província de Pernambuco (Lei de 1826)
• Guarda Cívica (1890)
• Brigada Policial do Estado de Pernambuco (Decreto-Lei de 13 de dezembro de 1891)
• Corpo Policial de Pernambuco (Lei nº 181, de 8 de junho de 1896)
• Brigada Militar de Pernambuco (Lei nº 473, de 28 de junho de 1900)
• Regimento Policial do Estado de Pernambuco (Lei nº 918, de 2 de junho de 1908)
• Força Pública do Estado de Pernambuco (Lei nº 1165 de 17 de abril de 1913)
• Brigada Militar de Pernambuco (Ato nº 125, de 31 de outubro de 1930)
• Força Policial de Pernambuco (Lei nº 192, de 17 de janeiro de 1936)
• Polícia Militar de Pernambuco (Decreto de 1º de janeiro de 1947)
De acordo com o art. 144, § 5°, da Constituição Federal de 1988, a Polícia Militar tem
como missão primordial “o policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública”
(BRASIL, 1988). Amparada pelo poder de polícia, e pela discricionariedade na atuação de
medidas preventivas contra práticas delituosas (BRASIL, 1988).
Com base no entendimento de SILVA. (2011, p. 79):
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As instituições policiais são normalmente identificadas como responsáveis pela


manutenção da ordem pública, mais especificamente por lidar com situações de
conflito e desobediência à lei. Junto a essa noção, existe a determinação legal de
que, em sociedades democráticas, a polícia precisa zelar pelos direitos
individuais dos cidadãos.
Seguindo a linha desse entendimento, depreende-se que a atividade policial, além de
complexa, exige do profissional um preparo especial para o trato com a sociedade, exigindo ter
conhecimento técnico, caráter, ética e principalmente ter suas ações pautadas e em
conformidade com a lei que o rege.
A ostensividade a que se refere a Constituição Federal, acerca das Polícias Militares
trata-se daquela que é caracterizada pela visibilidade e notoriedade dos policiais militares, que
usam fardas e equipamentos para coibir e reprimir ações criminosas contra a população.
A PMPE é regida por um Estatuto dos Policiais Militares (Lei nº 6.783, de 16 de outubro
de 19740), e que dispõe sobre os direitos, deveres, prerrogativas, responsabilidades,
penalidades e regime disciplinar dos militares estaduais (PERNAMBUCO, 1974).
A instituição possui um Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos (PCCV) para os
servidores públicos integrantes do seu quadro próprio de pessoal permanente (Lei
complementar nº 157, de 29 de dezembro de 2010). Esse plano instituiu o Grupo Ocupacional
Gestão Técnico Administrativa (GOGTA), composto por cargos efetivos de nível auxiliar ou
básico, médio e superior, relacionados às atividades-meio de Estado (PMPE, 2010).
Possui também uma Diretoria de Polícia Judiciária Militar e da Proteção à Mulher
Policial (DPJM), que é responsável por apurar as infrações penais militares praticadas por
policiais militares no exercício da função ou em razão dela, bem como as infrações penais
comuns praticadas contra policiais militares ou seus familiares.
A DPJM tem uma cartilha que orienta os policiais militares sobre os procedimentos
legais em caso de prisão em flagrante ou preventiva, inquérito policial militar, processo penal
militar e habeas corpus.
A Polícia Militar de Pernambuco está submetida a uma série de aspectos jurídicos que
regulam suas atividades. Dentre os principais aspectos, podemos destacar:
• Constituição Federal: A Polícia Militar de Pernambuco, assim como as demais Polícias
Militares do país, é regida pelos preceitos da Constituição Federal. A Constituição
estabelece os direitos fundamentais dos cidadãos e os limites do exercício do poder
estatal, garantindo que as ações da Polícia Militar estejam em conformidade com a lei.
• Legislação estadual: Pernambuco possui leis específicas que regulamentam a
organização e o funcionamento da Polícia Militar no estado. Essas leis estabelecem, por
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exemplo, as atribuições da instituição, o regime disciplinar dos policiais militares, a


estrutura hierárquica e outros aspectos administrativos e operacionais.
• Código Penal e legislação penal: A Polícia Militar de Pernambuco deve atuar em
consonância com o Código Penal e demais leis penais do país. Isso inclui a prevenção,
investigação e repressão de crimes, bem como a preservação da ordem pública.
• Código de Processo Penal: No desempenho de suas atividades de polícia judiciária, a
Polícia Militar de Pernambuco deve seguir as normas e procedimentos estabelecidos no
Código de Processo Penal. Isso envolve a realização de prisões em flagrante delito, a
elaboração de inquéritos policiais e o cumprimento de medidas cautelares determinadas
pela justiça.
• Direitos humanos: A atuação da Polícia Militar de Pernambuco deve respeitar os direitos
humanos, conforme previsto na Constituição Federal e em tratados internacionais dos
quais o Brasil é signatário. Isso implica em evitar o uso excessivo da força, garantir o
tratamento digno de todas as pessoas abordadas e respeitar os princípios da igualdade,
não discriminação e legalidade.
É fundamental que os policiais militares de Pernambuco conheçam e apliquem
corretamente os aspectos jurídicos que regem suas atividades. O cumprimento da legislação e
o respeito aos direitos fundamentais são pilares essenciais para uma atuação ética, responsável
e eficiente da Polícia Militar, contribuindo para a segurança da população e a preservação da
ordem pública.
Esses são alguns dos aspectos jurídicos que compõem a corporação PMPE. No entanto,
é importante tomar conhecimento da existência de vários outros regulamentos que amparam e
estabelecem regras dentro da corporação e tratam de diversos assuntos, tais como, acidente em
serviço; uso de arma de fogo; cargos e funções; estatutos; gratificações, e outros tantos, todos
podendo ser localizados no site oficial da polícia militar do Estado de Pernambuco.

1.1.1 Legislações pertinentes à Polícia Militar do Estado de Pernambuco

A Lei Ordinária nº 6.783, de 16 de outubro de 1974, dispõe sobre o Estatuto dos Policiais
Militares do Estado de Pernambuco e dá outras providências. O estatuto regula a situação,
obrigações, deveres, direitos e prerrogativas dos policiais (PERNAMBUCO, 1974).
Inicialmente, a Lei estabelece as condições em que se encontram os Policiais Militares,
quais sejam na ativa: de carreira; incluídos voluntariamente, durante os prazos a que se obrigam
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a servir; componentes da reserva remunerada, quando convocados; e alunos de órgãos de


formação; ou na inatividade: na reserva remunerada e reformados (PMPE, 1974).
Conforme preconiza o art. 4º da Lei 6.783 de outubro de 1974:
O serviço policial militar consiste no exercício de atividades inerentes à Polícia
Militar e compreende todos os encargos previstos na legislação específica e
relacionados com a manutenção da ordem pública no Estado de Pernambuco.
Com isso entendemos que a atividade policial é função de uma classe específica de
servidor público e consiste apenas àqueles que são considerados policiais militares da ativa.
Temos também no artigo 8º da mesma lei o seguinte texto:
A condição jurídica dos policiais-militares é definida pelos dispositivos
constitucionais que lhes forem aplicáveis, por este Estatuto e pela legislação que
lhes outorgar direitos e prerrogativas e lhes impuser deveres e obrigações
(PMPE, 1974).
Dessa forma pode-se auferir que os direitos e deveres dos policiais militares também
são conferidos por lei específica e própria, da mesma forma como ocorre com o ordenamento
jurídico e as normas internas que estabelecem o funcionamento da instituição.
O artigo 12, § 2º, esclarece acerca do funcionamento orgânico da instituição policial
militar, no que concerne ao bom cumprimento das normas e regulamentos e a disciplina
aplicada aos seus integrantes, podendo ser conferida pelo seguinte texto:
Disciplina é a rigorosa observância e o acatamento integral das leis,
regulamentos, normas e disposições que fundamentam o organismo policial-
militar e coordenam seu funcionamento regular e harmônico, traduzindo-se pelo
perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes
desse organismo (PMPE, 1974).
O Decreto nº 7.811, de 8 de março de 1982, é uma Lei que instituiu o Regulamento
Geral da Polícia Militar de Pernambuco (R/1), que estabelece as normas regulamentares da
Corporação Policial-Militar. Essa Lei foi alterado pelo Decreto nº 17.589, de 16 de junho de
1994, que aprovou o Regulamento, o Organograma e o Quadro das Funções Gratificadas da
Polícia Militar de Pernambuco (PMPE, 1982).
O Decreto nº 17.589, de 16 de junho de 1994 instituído pelo Governador do Estado,
estabelece uma ementa que aprova modificações no Regulamento Geral da Polícia Militar de
Pernambuco e dá outras providências (PMPE, 1994).
Considerando a necessidade de promover a adequação da estrutura organizacional da
Polícia Militar de Pernambuco às diretrizes da Reforma Administrativa, disciplinando-lhe o
funcionamento; e considerando que, para esse fim, faz-se necessário alterar - e assim
aperfeiçoar - as normas regulamentares da Corporação Policial-Militar, instituídas mediante o
Decreto nº 7.811, de 8 de março de 1982 (PMPE, 1994).
Podemos observar no artigo 7º do Decreto 17.589, de 16 de junho de 1994, o que é
preconizado na estrutura das Organizações Militares Estaduais (OME), tendo como base e regra
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de procedimento os regulamentos e regimentos internos, as Normas Gerais de Ação (NGA), as


diretrizes, planos, notas de instrução e/ou de serviços, manuais e ordens emanadas do escalão
superior. As Normas Gerais de Ação serão elaboradas pelas próprias OME e devidamente
aprovadas pelo escalão imediatamente superior, obedecidas as normas específicas sobre
publicação da PMPE (PMPE, 1994).
Segundo o que consta o art. 9º do Decreto nº 17.589, de 16 de junho de 1994, referente
a estruturação da PMPE, temos que a Polícia Militar de Pernambuco é estruturada em órgãos
de Direção, órgãos de Apoio e órgãos de Execução (PMPE, 1994). Podendo ser observados nos
artigos que se seguem:
Art. 10 - Os órgãos de Direção constituem o Comando Geral (Cmdo G) e
realizam o comando e a administração da Polícia Militar (PMPE, 1994).
Art. 11 - Os órgãos de Apoio são responsáveis pelo atendimento das
necessidades materiais e de pessoal da Corporação, executando as atividades
meio, de acordo com a legislação em vigor, regulamentos e outros atos
normativos ou ordenatórios (PMPE, 1994).
Art. 12 - Os órgãos de Execução realizam a atividade-fim, da Corporação
(PMPE, 1994).
Acerca das especialidades das unidades que compõem a Polícia Militar, temos no artigo
26 que as unidades e subunidades operacionais executam os diversos tipos de policiamento
previstos na Lei de Organização Básica da Polícia Militar, com exclusividade de cada um deles
ou caráter misto, integrando frações para os tipos de policiamento que a elas estão afetos, dentro
de cada área de atuação (PMPE, 1974).
Com base nessas informações pode-se inferir que as diversas unidades e subunidade que
compõem a corporação são formadas por ramificações que se articulam entre si para o bom
desempenho das variadas missões. Como as demandas são variadas, a depender da atividade
fim e da necessidade específica do conhecimento técnico para determinada missão, a
corporação é composta por unidades com especialidades diversas, como por exemplo,
policiamento especializado em ações de choque, em rádio patrulhamento, em controle de
distúrbios urbanos e rurais, policiamento montado, policiamento com cães, operações especiais,
negociação com reféns, policiamento ambiental, dentre vários outros que aqui não foram
citados.

2. OBRIGAÇÕES, DEVERES E FORMAÇÃ DO POLICIAL MILITAR

Os policiais militares do Estado de Pernambuco têm como obrigações e deveres, entre


outros, o cumprimento das ordens legais de seus superiores hierárquicos, a manutenção da
ordem pública, a proteção das pessoas e do patrimônio, a prevenção e repressão de crimes, a
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preservação da vida e a integridade física das pessoas, a colaboração com a Justiça e a promoção
da paz social (PMPE, 1974).
De acordo com o que estabelece o artigo 30 da Lei 6.783, de 16 de outubro de 1974, os
deveres policiais-militares emanam de vínculos racionais e morais que ligam o policial militar
à comunidade estadual e à sua segurança, e compreendem, essencialmente (PMPE, 1974):
I - a dedicação integral ao serviço policial-militar e a fidelidade à instituição à
que pertence, mesmo com o sacrifício da própria vida;
II - o culto aos símbolos nacionais;
III - a probidade e a lealdade em todas as circunstâncias;
IV - a disciplina e o respeito à hierarquia;
V - o rigoroso cumprimento das obrigações e ordens; e
VI - a obrigação de tratar o subordinado dignamente e com urb anidade.
A proteção da vida e da integridade física das pessoas é a principal obrigação do policial
militar. Em situações de perigo iminente, o policial deve agir com rapidez e eficiência para
garantir a segurança das pessoas envolvidas. Para isso, é necessário que o policial esteja sempre
preparado e capacitado para enfrentar qualquer situação de risco.
Outra obrigação do policial militar é preservar a ordem pública e garantir a segurança
da população. Através do patrulhamento das ruas, o policial militar tem a responsabilidade de
prevenir e reprimir ações criminosas, garantindo a tranquilidade e o bem-estar social. Essa
tarefa é essencial para que a população se sinta protegida e confiante nas instituições
responsáveis pela segurança pública (PMPE, 1974).
Além disso, o policial militar deve cumprir as leis e regulamentos em vigor, agindo
sempre com ética e respeito aos direitos humanos. É importante que o policial atue de forma
coerente e responsável, evitando qualquer tipo de violência ou abuso de pod er. A conduta ética
e responsável é fundamental para que o policial seja visto como um agente confiável e
respeitado pela população (PMPE, 1974).

2.1 Ética Profissional

Ainda de acordo com o que estabelece o artigo 27 da Lei 6.783, de 16 de outubro de 1974,
o sentimento do dever, o pundonor policial-militar e o decoro da classe impõem, a cada um dos
integrantes da Polícia Militar, conduta moral e profissional irrepreensíveis, com observância de
vários preceitos da ética policial-militar, como por exemplo (PMPE, 1974):
• Amar a verdade e a responsabilidade como fundamento da dignidade pessoal;
• Exercer com autoridade, eficiência e probidade as funções que lhe couberem em
decorrência do cargo;
• Respeitar a dignidade da pessoa humana;
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• Cumprir e fazer cumprir as leis, os regulamentos, as instruções e as ordens das


autoridades competentes;
• Ser justo e imparcial no julgamento dos atos e na apreciação do mérito dos
subordinados;
• Zelar pelo preparo próprio, moral, intelectual, físico e, também, pelo dos subordinados,
tendo em vista o cumprimento da missão comum;
• Empregar todas as suas energias em benefício do serviço;
• Praticar a camaradagem e desenvolver permanentemente o espírito de cooperação; e
• Ser discreto em suas atitudes, maneiras e em sua linguagem escrita e falada.
Estes são apenas alguns dos preceitos éticos aplicados ao Policial Militar, existem outros
tantos que podem ser conferidos em sua integralidade no texto legal que são tão importantes
quantos os citados acima e que norteiam e balizam a conduta e a presteza pelo qual o
profissional deve pautar as suas condutas morais e profissionais.

2.2 Compromisso Policial

Durante a solenidade, os novos policiais realizam o juramento de compromisso, que


consiste em uma promessa solene de cumprir as obrigações e deveres inerentes ao cargo,
sempre agindo com ética, responsabilidade e dedicação. O juramento é considerado um
momento de grande importância para o policial militar, que assume diante de todos um
compromisso de honra e respeito às leis e à sociedade.
O compromisso policial militar do estado de Pernambuco é regulado pela Lei 6.783, de
16 de outubro de 1974, e estabelece no artigo 31º que todo cidadão, após ingressar na Polícia
Militar mediante inclusão, matrícula ou nomeação, prestará compromisso de honra, no qual
afirmará a sua aceitação consciente das obrigações e dos deveres policiais-militares e
manifestará a sua firme disposição de bem cumpri-los (PMPE, 1974).
De acordo com o que estabelece o artigo 32º o compromisso a que se refere o artigo
anterior terá caráter solene e será prestado na presença de tropa, tão logo o policial-militar tenha
adquirido um grau de instrução compatível com o perfeito entendimento de seus deveres como
integrante da Polícia Militar, conforme os seguintes dizeres:
Ao ingressar na Polícia Militar do Estado de Pernambuco, prometo regular a
minha conduta pelos preceitos da moral, cumprir rigorosamente as ordens das
autoridades a que estiver subordinado e dedicar-me inteiramente ao serviço
policial-militar, à manutenção da ordem pública e à segurança da comunidade,
mesmo com o risco da própria vida (PMPE, 1974).
14

Já no que se refere ao compromisso prestado pelo Aspirante-a-Oficial PM o parágrafo


1º do artigo 32º estabelece o será prestado de acordo com o cerimonial constante do
regulamento da Academia de Polícia Militar. Esse compromisso obedecerá aos seguintes
dizeres:
Ao ser declarado Aspirante-a-Oficial da Polícia Militar, assumo o compromisso
de cumprir rigorosamente as ordens das autoridades a que estiver subordinado e
de me dedicar inteiramente ao serviço policial-militar, à manutenção da ordem
pública e à segurança da comunidade, mesmo com o risco da própria vida
(PMPE, 1974).
Ao mesmo tempo que no parágrafo 2º do mesmo artigo estabelece que ao ser promovido
ao primeiro posto, o Oficial PM prestará o compromisso de oficial, em solenidade
especialmente programada, de acordo com os seguintes dizeres:
Perante a Bandeira do Brasil e pela minha honra prometo cumprir os deveres de
oficial da Polícia Militar do Estado de Pernambuco e dedicar-me ao seu serviço
(PMPE, 1974).
As solenidades do policial militar são eventos formais e cerimoniais que têm o propósito
de enaltecer a instituição, homenagear policiais, reconhecer méritos, promover a disciplina e a
coesão interna, além de fortalecer a imagem da Polícia Militar perante a sociedade.
É importante ressaltar que as solenidades do policial militar são momentos de respeito,
disciplina e representam a importância da hierarquia e disciplina militar. Elas reforçam a
identidade institucional, a valorização dos profissionais e a relação entre a Polícia Militar e a
sociedade.

2.3 Formação do Policial Militar em Pernambuco

Criado em 28 de maio de 1974, através da Portaria do Comando Geral nº 27, o Centro


de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP) foi consolidado mais tarde, através do
Decreto nº 6772, de 03 de outubro de 1974, mantendo sua denominação até hoje. Sua história
remonta a história do Ensino na Polícia Militar de Pernambuco quando em 1934 nascia um
órgão na então Brigada Militar e cujas atividades estavam inteiramente voltadas ao preparo
técnico-profissional dos quadros da tropa sob a denominação de Departamento de Ensino.
(CAVALCANTI, 2004, p. 95, apud CORREIA, 2007).
A partir dali, surgiu a primeira Diretriz de Instrução, baixada pelo Comandante Geral,
regulando o ensino e a instrução dos Cursos de Formação de Soldados, Cursos de Candidatos
a Cabos e Cursos de Candidatos a Sargentos. De 1978 a 1985 funcionou em Paudalho e depois
retornou a sua sede originária, às margens da BR 232, em Jaboatão dos Guararapes (CORREIA,
2007).
15

A Escola conta com uma infraestrutura adequada à sua missão, com capacidade de
lotação de quinhentos alunos, dotada de auditório, alojamentos, vinte e cinco salas de aula, um
telecentro, prédio da administração, refeitório, campo de futebol, quadra poliesportiva, cantina,
sala de artes marciais, biblioteca, serviço de orientação educacional, sala de docentes e uma
barbearia (CORREIA, 2007).
No que tange à formação ética do policial militar dentro do Curso de Formação e
Habilitação de Praças (CFHP) da Polícia Militar do Estado de Pernambuco, são ministradas
diversas disciplinas que visam instruir o novo policial com relação a conceitos éticos e morais
sendo de extrema importância para a construção moral do novo profissional e também para o
perfeito conhecimento de dever legal e exercício responsável e eficiente das suas funções
O curso de formação de praças teve seu plano de curso autorizado por intermédio do
Decreto nº 45.378, de 28 de novembro de 2017 e conta atualmente com uma carga horária
total de 1.074 horas-aula, sendo composto por 46 disciplinas, subdivididas em matriz comum
e matriz específica (PMPE, 2017).
Abaixo estão listadas as 46 disciplinas com suas respectivas cargas horárias de acordo
com o Decreto Nº 45.378, de 28 de novembro de 2017 (PMPE, 2017):

Tabela 1: Carga Horária da MATRIZ BÁSICA do CFHP.

MATRIZ BÁSICA CH
Sistema de Segurança Pública 16h
Fundamentos da Gestão Pública 12h
Gestão Integrada e Comunitária 16h
Criminologia a Segurança Pública 24h
Direitos Humanos 30h
Fundamentos Jurídicos da Atividade Policial 30h
Prevenção e Mediação de Conflitos e Práticas Restaurativas 12h
Resolução de Problemas e tomadas de Decisão 12h
Análise e Cenário de Riscos 12h
Gerenciamento Integrado de Crises e Desastres 18h
Relações Interpessoais 12h
Educação Física 1 30h
Educação Física 2 30h
Documentação Técnica 12h
Telecomunicações 12h
Tecnologias e Sistemas Informatizados 12h
Gestão da Informação 12h
Inteligência de Segurança Pública 12h
Estatística e Análise Criminal 18h
Ética e Cidadania 12h
16

Diversidade Étnico-Sociocultural 12h


Identidade e Cultura da Organização Policial 12h
Ordem Unida 30h
Abordagem 60h
Preservação e Valorização da Prova 12h
Atendimento Pré-Hospitalar 24h
Uso Diferenciado da Forca 30h
Defesa Pessoal Policial 30h
Armamento, Munição e Tiro 60h
Técnicas de Imobilizações Policiais e Utilização de Algemas 20h
Fonte: PMPE (2017)

Tabela 2: Carga Horária da MATRIZ ESPECÍFICA do CFHP.

MATRIZ ESPECÍFICA CH
Direito Penal Aplicado a Atividade Policial Militar 30h
Direito Penal Militar 30h
Polícia Judiciária Militar (Escrivão PM) 30h
Comando e Liderança 20h
Comunicação, Mídia e Segurança Pública 12h
Gestão Administrativa 30h
Política Pública de Gestão por Resultados na Segurança 08h
Instrução Geral 20h
Inteligência PM 20h
Ordem Unida II (Comandamento) 20h
Legislação PM 30h
Procedimento Administrativo Disciplinar 30h
Abordagem II (Comandamento) 30h
Policiamento Ostensivo e Preventivo 60h
Ocorrências Policiais Simuladas 20h
Tiro Policial Defensivo 50h
Fonte: PMPE (2017)

Uma das disciplinas que compõe a grade curricular do Curso de Formação de Praças de
Pernambuco e ratifica a preocupação do Estado na formação ética do novo policial militar é
conhecida como (DES) Diversidade Étnico Sociocultural. A disciplina apresenta em seu
conteúdo programático uma visão crítica acerca de temas como relações étnico-raciais,
preconceito e discriminação, racismo, racismo institucional e também a postura do profissional
da Área de Segurança Pública diante dos conflitos relacionados à diversidade.
A formação ética do policial militar é essencial para o fortalecimento da instituição e
para a construção de uma relação de confiança entre a polícia e a sociedade. Ao promover
valores éticos sólidos e capacitar os policiais para tomarem decisões éticas, é possível garantir
uma atuação policial mais responsável, transparente e voltada para o bem-estar da comunidade.
17

3. HUMANIZAÇÃO DO APARATO POLICIAL E DIREITOS HUMANOS

Ao longo da história, temos testemunhado vários episódios de agressividade por parte


das forças policiais em diferentes partes do mundo. Essas condutas agressivas muitas vezes
resultam em violações dos direitos humanos e desconfiança por parte da população. No entanto,
é essencial buscar a fonte histórica que motivou essa conduta agressiva e reconhecer que a
humanização do aparato policial é uma questão fundamental para promover a segurança e a
harmonia nas comunidades e a garantia dos direitos humanos.
O Supremo Tribunal Federal (STF) desempenha um papel importante no controle e na
garantia dos direitos fundamentais no contexto das forças policiais no Brasil. Embora o STF
não tenha autoridade direta sobre as forças policiais estaduais, suas decisões podem influenciar
as práticas e as políticas de segurança pública em todo o país, e dessa forma exerce, mesmo que
de forma indireta uma função de fiscalização regulamentar.
Em 2020, por exemplo, o STF decidiu, por intermédio da Arguição de Descumprimento
de Preceito Fundamental de nº 635 – a ADPF das Favelas Pela Vida – no âmbito da qual foi
proferida – pelo Ministro Edson Fachin no dia 5 de junho de 2020 e confirmada no plenário do
STF no dia 5 de agosto, restringir as operações policiais realizadas no Estado do Rio de Janeiro
a casos “absolutamente excepcionais”, enquanto durar a pandemia do novo coronavírus (STF,
2020).
De acordo com o esclarecimento de Luiz Edson Fachin, Ministro do STF, entendemos
que:
A excepcionalidade [das operações] não é uma invenção do tribunal, não é um
capricho do STF, é uma exigência da obrigação estatal de garantir a vida,
protegendo de agressões arbitrárias. A violência estatal só se justifica quando
visa proteger um bem igual ao que está na iminência de ser gravemente atingido.
Por isso, o uso da força letal é legítimo apenas se tiver exaurido os demais meios
não letais para proteger a vida ameaçada.
Além disso, o STF pode atuar em casos específicos de violações de direitos humanos
envolvendo as forças policiais. Quando há alegações de abusos, tortura, execuções
extrajudiciais ou outras violações graves de direitos humanos por parte da polícia, as vítimas
ou organizações de direitos humanos podem recorrer ao STF em busca de proteção e justiça. O
tribunal pode abrir investigações, determinar a responsabilidade dos envolvidos e, se
necessário, impor medidas corretivas ou punições.
É importante destacar que o STF não atua como instância ordinária para julgar casos
individuais, mas pode ser acionado em situações excepcionais envolvendo violações graves de
18

direitos humanos. O tribunal tem o papel de interpretar a Constituição e garantir sua aplicação,
inclusive nos casos em que ocorram violações por parte de agentes estatais, como as forças
policiais.

3.1 Institucionalização dos Direitos Humanos na Polícia Militar

A discussão sobre direitos humanos no Brasil é fundamental para promover o respeito,


a proteção e a promoção dos direitos fundamentais de todos os indivíduos em território
nacional. O país tem avançado significativamente na legislação e nas políticas de direitos
humanos, porém, ainda enfrenta desafios para garantir a efetivação desses direitos em todas as
esferas da sociedade.
A institucionalização dos direitos humanos na Polícia Militar de Pernambuco é um
processo fundamental para promover uma atuação policial pautada pela legalidade, respeito aos
direitos fundamentais e promoção da cidadania. A garantia dos direitos humanos no âmbito da
polícia é essencial para fortalecer a confiança da população nas instituições de segurança
pública e para prevenir abusos e violações por parte dos agentes.
Diante dessa realidade, pode-se dizer que é inadmissível se pensar, e até mesmo, praticar
segurança pública, no Brasil, um Estado Democrático de Direito, sem fazer referência aos
direitos humanos, uma vez que a polícia existe para defender os direitos das pessoas, definido
por Balestreri (2003, p. 100, apud COUTO, 2017) quando que em uma sociedade democrática,
o policial é instituído para ser o defensor “número um” dos direitos humanos (SCANONI,
2017).
Nesse processo de redemocratização, havia a necessidade de uma adequação das
instituições policiais para essa realidade. Entretanto, para mudar ações, posturas e crenças de
pessoas que fazem parte de uma instituição na qual, historicamente, agia em defesa do Estado
e não da sociedade, era preciso investir em um novo modelo de formação desses profissionais
(COUTO, 2017).
Então as instituições policiais brasileiras tiveram que começar a pensar nessa educação
tomando outros modelos e filosofias de policiamento a partir de estados democráticos do
mundo. Foi quando surgiu no Brasil a filosofia do policiamento comunitário, baseados nos
exemplos de países como Canadá, Estados Unidos, e Japão (COUTO, 2017).
O policiamento comunitário é a filosofia de policiamento que converge com os
princípios dos direitos humanos, pois visa uma interação entre o Estado e a comunidade,
garantindo a essa última uma participação efetiva nas ações de segurança e garantias dos
19

direitos humanos, como afirma Bayley e Skolnick (2001, p. 225, apud COUTO, 2017), implica
que a polícia sirva à comunidade, aprenda com ela e seja responsável por ela [...] a polícia e o
público são coprodutores da prevenção do crime (COUTO, 2017).
Ao adotar a Polícia Comunitária, o país caminha em direção a um modelo de segurança
pública mais participativo, inclusivo e eficiente, onde a colaboração entre polícia e comunidade
é fundamental para a construção de uma sociedade mais segura e justa. É preciso reconhecer a
importância dessa abordagem e continuar a investir em sua implementação, visando
transformar a realidade da segurança pública no Brasil.
É importante destacar que nem todos os agentes policiais são violentos ou abusivos, e
muitos profissionais trabalham dentro dos limites da lei e em conformidade com os direitos
humanos. No entanto, a análise da gênese da violência policial nos ajuda a entender os fatores
estruturais e contextuais que podem contribuir para a sua ocorrência. A busca por soluções
efetivas requer uma abordagem abrangente que inclua o fortalecimento da formação policial, a
promoção da responsabilização por abusos, o combate ao racismo institucional e a
implementação de políticas de segurança pública baseadas nos direitos humanos.

3.2 Visão Social da Polícia Militar

O Doutor em Sociologia pelo PPGS/UFPB, Fábio Gomes de França, em seu artigo: Da


ideologia ao poder: reflexões sobre o paradigma da humanização policial militar no Brasil,
afirma que, durante o período ditatorial ocorrido no Brasil (1964-1985) as Polícias Militares
(PMs) atuaram ao lado das Forças Armadas promovendo um tipo de controle social baseado na
violência contra posicionamentos contrários à “Doutrina de Segurança Nacional”. Uma das
estratégias dessa doutrina ora em curso era a difusão do discurso ideológico de combate ao
“comunismo” e aos subversivos políticos em nome de uma democracia autoritária (FRANÇA,
2017).
Afirma ainda, que a cultura militar do Exército imposta às PMs adentrou o período
democrático pós-regime militar impondo uma atuação nas ruas por parte dos policiais não mais
contra os subversivos políticos, mas contra as consideradas “classes perigosas”. Em geral,
destacam-se os traficantes e consumidores de droga, além dos moradores das periferias urbanas
que convivem com a violência imposta por traficantes e aparatos policiais. Essa nova
perspectiva de combate ao crime encontrou uma vítima comum: geralmente jovens negros,
analfabetos ou semialfabetizados e moradores das periferias, estando ou não envolvidos com o
tráfico, além de serem, na maioria, do sexo masculino (FRANÇA, 2017).
20

Esse tipo de segregação está presente em diversas esferas da sociedade, como no sistema
de justiça criminal, na educação, no mercado de trabalho e na saúde. No entanto quando nos
referimos a instituições de segurança pública podemos dar o nome de racismo institucional.
As práticas institucionais podem resultar em disparidades raciais na aplicação da lei, na
distribuição de recursos, no acesso a oportunidades e na prestação de serviços.
No contexto do sistema de justiça criminal, por exemplo, o racismo institucional se
manifesta por meio do perfilamento racial, onde pessoas negras são mais suspeitas de crimes,
sofrem maior abordagem policial e são mais frequentemente encarceradas em comparação com
pessoas brancas. Essa disparidade reflete um viés racista que permeia as instituições e perpetua
estereótipos e preconceitos.
O racismo institucional, segundo ALMEIDA (2019), é um conceito que busca analisar
as estruturas e práticas das instituições sociais que perpetuam e reproduzem desigualdades
raciais de forma sistemática. Ele vai além das atitudes individuais e se concentra nas formas
pelas quais as instituições, intencionalmente ou não, discriminam pessoas com base em sua
origem étnico-racial.
O autor defende ainda que o racismo institucional, integrado pelo racismo estrutural, se
mantém devido à inércia das instituições em enfrentar as desigualdades raciais e promover
mudanças efetivas (ALMEIDA, 2019). Complementa o pensamento, quando diz:
Assim, a desigualdade racial é uma característica da sociedade não apenas por
causa da ação isolada de grupos ou de indivíduos racistas, mas
fundamentalmente porque as instituições são hegemonizadas por determinados
grupos raciais que utilizam mecanismos institucionais para impor seus interesses
políticos e econômicos (ALMEIDA, 2019).
Para combatê-lo, é necessário reconhecer a existência dessas práticas e implementar
políticas e ações afirmativas que visem à igualdade racial. É preciso promover a diversidade e
a representatividade em todas as esferas da sociedade, além de investir em programas de
conscientização e educação antirracista (ALMEIDA, 2019).
Para abordar esse desafio da imagem negativa de violência que se criou em torno da
polícia, é necessário compreender as raízes do histórico agressivo da instituição. Em alguns
casos, a falta de treinamento adequado, a cultura institucional arraigada e o contexto histórico
em que a corporação estava inserida à época, puderam contribuir para a adoção de práticas
violentas. Além disso, a própria natureza do trabalho policial, muitas vezes envolvendo
situações de conflito e estresse, contribuiu significativamente para desencadear respostas
agressivas por parte dos agentes.
De acordo com o pensamento de BALESTRERI. (2003) o mesmo discorre o seguinte:
Polícia, então, foi uma atividade caracterizada pelos segmentos progressistas da
sociedade, de forma equivocadamente conceitual, como necessariamente afeta à
21

repressão antidemocrática, à truculência, ao conservadorismo. “Direitos


Humanos” como militância, na outra ponta, passaram a ser vistos como
ideologicamente filiados à esquerda, durante toda a vigência da Guerra Fria
(estranhamente, nos países do “socialismo real”, eram vistos como uma arma
retórica e organizacional do capitalismo). No Brasil, em momento posterior da
história, a partir da rearticulação democrática, agregou-se a seus ativistas a pecha
de “defensores de bandidos” e da impunidade .
Continua ainda tecendo acerca do assunto quando trás em uma de suas treze reflexões
sobre polícia e direitos humanos o pensamento de que o policial é, antes de tudo um cidadão, e
na cidadania deve nutrir sua razão de ser. Irmana-se, assim, a todos os membros da comunidade
em direitos e deveres (BALESTRERI, 2003).
Sua condição de cidadania é, portanto, condição primeira, tornando-se bizarra qualquer
reflexão fundada sobre suposta dualidade ou antagonismo entre uma “sociedade civil” e outra
“sociedade policial”. Essa afirmação é plenamente válida mesmo quando se trata da Polícia
Militar, que é um serviço público realizado na perspectiva de uma sociedade única, da qual
todos os segmentos estatais são derivados. Portanto não há, igualmente, uma “sociedade civil”
e outra “sociedade militar” (BALESTRERI, 2003).
Defende ainda o seguinte argumento:
A “lógica” da Guerra Fria, aliada aos “anos de chumbo”, no Brasil, é que se
encarregou de solidificar esses equívocos, tentando transformar a polícia, de um
serviço à cidadania, em ferramenta para enfrentamento do “inimigo interno”.
Mesmo após o encerramento desses anos de paranoia, sequelas ideológicas
persistem indevidamente, obstaculizando, em algumas áreas, a elucidação da
real função policial (BALESTRERI, 2003).
Para promover a humanização do aparato policial, é preciso adotar abordagens
multifacetadas. Uma delas é o investimento em treinamento de qualidade, com ênfase na gestão
de conflitos, comunicação não violenta, respeito aos direitos humanos e técnicas de mediação.
O treinamento também deve abordar questões de diversidade, para evitar preconceitos e
discriminação durante as abordagens policiais.
Segundo BENGOCHEA et al., (2004), a polícia cidadã, sintonizada e apoiada pelos
anseios da comunidade, só terá sucesso se estiver voltada para a recuperação de quem ela
prende, pois, caso contrário, será simplesmente uma polícia formadora de bandido, quer dizer,
ela vai recrutar bandido, e fomentar o senso de marginalização ainda mais. É necessário incluir,
nesta análise, todo o sistema de persecução penal e de política social. Esta é a tarefa que precisa
ser desenvolvida.
O autor afirma ainda, que existe na verdade, um aumento da criminalidade em todo o
mundo, por razões estruturais, assim como há um senso comum pedindo uma polícia repressiva.
A discussão pública e a tendência política brasileira têm apontado como soluções salvadoras o
endurecimento da repressão, especialmente quando ocorrem crimes violentos, que assumem
22

amplos espaços na mídia, influenciando a formação da opinião pública (BENGOCHEA et al.,


2004).
O cidadão faz a seguinte pergunta: qual é o papel da polícia no momento em que estão
em crise o emprego, a família e a escola? Quer dizer, estão em crise as instituições de controle
social informal que funcionavam há 20 anos: será que a polícia hoje só pod e seguir o modelo
de uma polícia, digamos, do tipo tolerância zero? Estaremos condenados a tal? Ou é possível
pensar, em um país como o Brasil, outro tipo de policiamento, outra técnica policial, outro tipo
de trabalho policial? Porque essa é a grande ignorância vigente na sociedade brasileira: o que
significa o trabalho policial? (BENGOCHEA et al., 2004).
Além de todos esses questionamentos levantados pelos autores, é fundamental
estabelecer mecanismos de responsabilização eficazes para os agentes policiais. Isso inclui uma
cultura de transparência, onde as violações sejam investigadas de forma imparcial e as punições
sejam aplicadas de acordo com a gravidade dos atos. A participação da comunidade no processo
de fiscalização e controle também é essencial para fortalecer a confiança na polícia.
Essas práticas e esse “discurso de caráter preventivo” revelam a emergência de políticas
de Segurança Pública que surgiram logo após o final da ditadura militar e que visaram apagar
a imagem negativa herdada pelas instituições PMs. Projetos como o de policiamento
comunitário e a ideia de uma polícia mais humana e cidadã tornaram-se slogans institucionais
em todo o Brasil, a priori, como forma de fazer as PMs caminharem em busca de aceitação
social diante da recente história de autoritarismo e violência (FRANÇA, 2017).
Assim, tivemos o encontro do paradigma de uma polícia mais humanizada com novas
estratégias estatais de combate ao crime, orientadas por recursos tecnológicos e modelos
gerenciais da iniciativa privada (FRANÇA, 2017).
Outra estratégia importante é promover uma maior interação e diálogo entre a polícia e
a comunidade. Isso pode ser alcançado por meio de programas comunitários, parcerias entre a
polícia e organizações locais, eventos de aproximação e criação de espaços de diálogo abertos.
Essas iniciativas ajudam a construir relacionamentos positivos, diminuir a hostilidade e
promover uma visão mais humanizada dos agentes policiais.
Em resumo, a humanização do aparato policial é um desafio complexo, mas crucial para
a construção de uma sociedade mais justa e segura. Isso requer investimento em treinamento,
responsabilização, interação comunitária e repensar as abordagens de segurança pública. Ao
promover uma cultura de respeito aos direitos humanos e um ambiente de diálogo e confiança,
podemos caminhar em direção a uma polícia mais humana e comprometida com o bem-estar
da comunidade que serve.
23

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo dos aspectos jurídicos aplicados à Polícia Militar e a busca pela humanização
do aparato policial têm relevância significativa para universitários, a comunidade acadêmica
jurídica e a sociedade como um todo.
Para os universitários, o conhecimento desses aspectos proporciona uma compreensão
mais aprofundada do papel e dos desafios enfrentados pela Polícia Militar no contexto legal.
Isso permite uma reflexão crítica sobre as questões jurídicas envolvidas, bem como o
desenvolvimento de propostas e soluções para promover uma atuação mais humanizada e
respeitosa por parte das forças policiais.
No âmbito da comunidade acadêmica jurídica, o estudo desses temas contribui para o
avanço do conhecimento jurídico, estimulando debates e pesquisas sobre os direitos humanos,
segurança pública, controle de constitucionalidade e a atuação d as polícias militares. Esse
conhecimento é fundamental para formar profissionais do Direito mais capacitados e
conscientes dos desafios e responsabilidades no campo da segurança e justiça.
Para a sociedade em geral, a compreensão do tema também apresenta impactos
significativos, como por exemplo na vida cotidiana das pessoas e na garantia dos direitos
fundamentais. Uma polícia mais humanizada, que atue em conformidade com a lei e respeite
os direitos humanos, contribui para a promoção da segurança e da confiança nas instituições
públicas. Além disso, uma maior transparência, prestação de contas e participação da
comunidade nas políticas de segurança pública são elementos essenciais para a construção de
uma sociedade mais justa e harmoniosa.
Em suma, este artigo científico teve por objetivo fomentar a discussão acerca dos
assuntos abordados e explorar a humanização do aparato policial, o respeito aos direitos
humanos e a superação do racismo institucional. Através da análise desses temas, pudemos
compreender as bases teóricas e as práticas necessárias para construir uma instituição policial
mais justa, igualitária e comprometida com a garantia dos direitos fundamentais.
A retaguarda jurídica desempenha um papel fundamental na definição de normas e
diretrizes que orientam o trabalho policial, bem como na fiscalização e no controle das ações
das forças de segurança. É essencial que as leis sejam claras, coerentes e em conformidade com
os princípios constitucionais e os tratados internacionais de direitos humanos. Além disso,
mecanismos de responsabilização devem ser estabelecidos para garantir que eventuais abusos
e violações de direitos sejam investigados, julgados e punidos de forma efetiva.
24

É importante ressaltar que a responsabilização deve ser justa, imparcial e baseada em


evidências concretas. Os processos devem seguir os ritos constitucionais, garantindo o direito
de defesa dos policiais acusados. Além disso, é necessário estabelecer salvaguardas para evitar
retaliações contra denunciantes e testemunhas que se manifestem contra o racismo institucional.
Além das medidas punitivas, é essencial implementar políticas preventivas, como
treinamentos regulares sobre igualdade, diversidade e conscientização do preconceito implícito.
Promover uma cultura de respeito, igualdade e prestação de contas dentro da polícia militar é
fundamental para combater o racismo institucional de forma eficaz.
A questão da precariedade da Polícia Militar e o preconceito enraizado em relação aos
suspeitos comuns, especialmente aqueles que são pobres, negros e vivem em favelas, é um
assunto complexo e multifacetado. É importante reconhecer que existem diferentes perspectivas
e experiências em relação a esse tema.
A precariedade da instituição pode estar relacionada a uma série de fatores, como falta
de investimento adequado em treinamento, equipamentos e infraestrutura. Além disso, a própria
estrutura hierárquica e organizacional da instituição pode contribuir para deficiências na
prestação de serviços de segurança pública.
A falta de treinamento adequado, aliada a um ambiente de trabalho estressante e
perigoso, pode levar a comportamentos abusivos, uso excessivo da força e violações dos
direitos humanos. Essas práticas afetam desproporcionalmente pessoas em situação de
vulnerabilidade socioeconômica, como os pobres, negros e residentes de favelas.
Além disso, é inegável que preconceitos e estereótipos raciais permeiam a sociedade
como um todo, inclusive dentro das instituições policiais. Esses preconceitos podem resultar
em abordagens discriminatórias e tratamento diferenciado para pessoas com base em sua
aparência, etnia ou local de moradia. Isso pode levar a um tratamento injusto e desigual no
sistema de justiça criminal.
É importante destacar que nem todos os policiais compactuam com essas práticas
discriminatórias e que existem profissionais comprometidos em promover a segurança pública
de forma justa e imparcial. No entanto, é necessário reconhecer e combater os casos de abuso
policial e preconceito que ocorrem, buscando a responsabilização dos envolvidos e a
implementação de reformas que melhorem a atuação das forças policiais.
A superação desses desafios requer um esforço conjunto da sociedade, governos,
instituições policiais e demais atores envolvidos. É necessário investir em políticas públicas
que promovam a igualdade, o combate ao racismo e a melhoria das condições de trabalho e
25

treinamento dos policiais. Além disso, é importante fomentar o diálogo entre a polícia e as
comunidades, promovendo a construção de relações de confiança e respeito mútuo.
É fundamental que a sociedade como um todo esteja engajada em enfrentar essas
questões, promovendo uma cultura de respeito aos direitos humanos e a busca por uma
segurança pública justa e igualitária para todos.
A humanização do aparato policial é um aspecto crucial para a construção de uma
relação de confiança com a comunidade. Isso implica em uma mudança de cultura e práticas,
priorizando a proteção e o respeito em todas as ações policiais. A promoção da formação
policial em direitos humanos, mediação de conflitos, resolução pacífica de problemas e técnicas
de policiamento comunitário é fundamental para garantir uma atuação policial mais próxima e
colaborativa com a sociedade.
É preciso reconhecer que o racismo institucional persiste nas estruturas e práticas das
instituições policiais. Para superar esse problema, é necessário combater ativamente o racismo
e promover a igualdade racial em todas as esferas da atividade policial. Isso envolve o
estabelecimento de políticas de ação afirmativa, o fortalecimento da diversidade e da
representatividade nas instituições policiais, bem como o treinamento em conscientização racial
e combate ao preconceito.

REFERÊNCIAS

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264 p. (Feminismos Plurais / coordenação de Djamila Ribeiro).

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(campanhanaweb.com.br>. Acesso em 19 mai. 2023.

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26

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2017. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco.

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Books.
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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, a meus pais, Gomes e Marilene (in memoriam), que tanto se
esforçaram para contribuir com a minha formação intelectual e moral, minha amada esposa
Luclécia, meus filhos Pedro e Larissa, e a minha Professora e orientadora Érica.

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