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Vitória Melita de Saxe-Coburgo-Gota

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Vitória Feodorovna

Grã-Duquesa Consorte da Rússia


Reinado 8 de outubro de 1905
a 15 de março de 1917 (monarquia abolida)
Grã-Duquesa Consorte de Hesse e Reno
9 de abril de 1894
Reinado
a 21 de dezembro de 1901
Predecessora Alice do Reino Unido
Sucessora Leonor de Solms-Hohensolms
 
Nascimento 25 de novembro de 1876
  Palácio de San Anton, Attard, Malta
Morte 2 de março de 1936 (59 anos)
  Amorbach, Alemanha
Palácio Rosenau, Coburgo (até 7 de março de 1995)
Sepultado em Mausoléu dos Grão-Duques, Fortaleza de São Pedro e São Paulo, São Petersburgo,
Rússia
Nome completo  
Vitória Melita (Nome de batismo)
Vitória Feodorovna (Nome cristão-ortodoxo)
Ernesto Luís, Grão-Duque de Hesse (1894-1901) (divórcio)
Maridos
Cyrill Vladimirovich da Rússia (1905–1936)
Isabel de Hesse e Reno
Maria Kirillovna da Rússia
Descendência
Kira Kyrillovna da Rússia
Vladimir Kirillovich da Rússia
Saxe-Coburgo-Gota (nascimento)
Casa Hesse-Darmestádio (casamento)
Holsácia-Gottorp-Romanov (casamento)
Pai Alfredo, Duque de Saxe-Coburgo-Gota
Mãe Maria Alexandrovna da Rússia
Anglicana (até 1907)
Religião
Igreja Ortodoxa Russa

Brasão
Vitória Feodorovna (Attard, 25 de novembro de 1876 - Amorbach, 2 de março de 1936) foi a terceira
criança e segunda filha de Alfredo, Duque de Saxe-Coburgo-Gota e da grã-duquesa Maria
Alexandrovna da Rússia, tendo sido neta da rainha Vitória do Reino Unido e do imperador Alexandre
II da Rússia.
Nascida Vitória Melita, uma princesa britânica, viveu alguns dos seus primeiros anos na ilha de Malta,
onde seu pai servia como oficial da Marinha Real. Em 1889, a família mudou-se para Coburgo, onde
Alfredo tornou-se duque reinante em 1893. Durante sua adolescência, Vitória apaixonou-se por um
primo do lado materno, o grão-duque Cyrill Vladimirovich da Rússia, mas eles não podiam se casar
porque a religião cristã ortodoxa proibia o casamento entre primos de primeiro grau. Assim, curvando-
se à pressão da família e aos desejos da rainha Vitória, a princesa acabou por se casar em 1894 com um
primo do lado paterno, o grão-duque Ernesto Luís de Hesse. O casamento foi um fracasso e Vitória
escandalizou as famílias reais europeias ao se divorciar, em 1901. A única filha do casal morreu de
febre tifoide, em 1903.
Vitória casou-se com Cyrill Vladimirovich em 1905. Entretanto, como o consórcio não teve a
aprovação do czar Nicolau II, este despojou o grão-duque de todos os seus títulos e honrarias e baniu o
casal da corte russa. Vitória e Cyrill estabeleceram-se em Paris, onde nasceram suas duas filhas e onde
viveram até 1909, quando receberam autorização para retornar à Rússia. Em 1910, após sua conversão
à fé ortodoxa, passou a chamar-se Vitória Feodorovna. Com a queda da monarquia russa, em 1917, a
família fugiu para a Finlândia, onde a grã-duquesa deu à luz seu único filho varão. No exílio, eles
viveram por alguns anos na Alemanha, mudando-se para Saint-Briac no final dos anos 20. Foi lá que,
em 1926, com o apoio de Vitória, Cyrill autoproclamou-se czar exilado. A grã-duquesa morreu em
virtude de um acidente vascular cerebral, enquanto visitava sua filha Maria em Amorbach.

Biografia
Primeiros anos
Vitória nasceu em 25 de novembro de 1876 no Palácio de San Anton, em Malta, daí o seu segundo
nome, Melita.[1] Seu pai, que servia na ilha como oficial da Marinha Real, era o príncipe Alfredo,
Duque de Edimburgo, filho da rainha Vitória do Reino Unido e do príncipe Alberto de Saxe-Coburgo-
Gota. Sua mãe era a grã-duquesa Maria Alexandrovna da Rússia, filha do imperador Alexandre II da
Rússia e de Maria de Hesse-Darmestádio. Como neta da monarca britânica, ela recebeu o tratamento de
"Sua Alteza Real, a Princesa Vitória de Edimburgo", mas entre a família era chamada de Ducky
("patinha") e ocupava, ao nascer, o 10º lugar na linha de sucessão ao trono britânico. A princesa foi
batizada em 1 de janeiro de 1877, no Palácio de San Anton, pelo capelão da Marinha Real. Entre seus
padrinhos estava sua avó materna, representada no ato por um procurador.[2]
A duquesa de Edimburgo com seus filhos. Da esquerda para a direita: Alexandra, Maria Alexandrovna,
Beatriz, Maria, Alfredo e Vitória Melita.
Após o termo do serviço em Malta, o duque e sua família retornaram para a Inglaterra, dividindo seu
tempo entre Eastwell Park, sua casa de campo em Kent, e a Clarence House, sua residência londrina,
em frente ao Palácio de Buckingham. Eastwell – uma propriedade com mais de 10 mil hectares,
próximo a Ashford – com sua floresta e parque, era a residência favorita das crianças.[3] No entanto, o
casamento dos duques de Edimburgo foi infeliz. Alfredo era taciturno, infiel, propenso à bebida e
emocionalmente distante de sua família. Já a mãe de Vitória era independente e culta. Embora fosse
rígida e pouco afeita ao sentimentalismo, a duquesa foi uma mãe dedicada e teve grande importância na
vida dos filhos.[4]
Quando criança, a princesa Vitória tinha um temperamento difícil. Ela era tímida, pensativa e sensível.
Segundo sua irmã, a rainha Maria da Romênia, "essa criança passional foi muitas vezes
incompreendida".[5] A princesa tinha talento para o desenho e a pintura e aprendeu a tocar piano.[6]
Embora contrastassem tanto na aparência quanto na personalidade,[nota 1] Vitória e Maria tiveram um
relacionamento muito estreito ao longo de suas vidas.[5][8][7]
Em janeiro de 1886, pouco depois de Vitória completar nove anos, a família voltou a residir em Malta,
onde o duque de Edimburgo fora nomeado comandante-em-chefe da esquadra naval do Mediterrâneo.
[9]

O duque de Saxe-Coburgo-Gota e sua família no Palácio Rosenau, em Coburgo. Da esquerda para a


direita: princesa Beatriz, Alfredo e Maria Alexandrovna, a duquesa-viúva Alexandrina, princesa
Vitória, princesa Alexandra e princesa Maria
Vida em Coburgo
Uma vez que era filho do príncipe Alberto de Saxe-Coburgo-Gota, o pai de Vitória também estava na
linha de sucessão ao trono do ducado de Saxe-Coburgo-Gota. Alfredo tornou-se o herdeiro presuntivo
quando seu irmão mais velho, o príncipe de Gales (mais tarde Eduardo VII), renunciou aos seus
direitos sucessórios. Em 1889, a família mudou-se para Coburgo. Maria Alexandrovna, que nutria
sentimentos pró-alemães, começou imediatamente a tentar germanizar suas filhas, contratando uma
nova governanta, vestindo as princesas com roupas simples e consagrando-as à Igreja Luterana alemã,
apesar de estas terem sido criadas no seio da Igreja Anglicana.[10] Como as crianças se rebelassem,
algumas das restrições impostas foram suavizadas.[11]
De acordo com um observador, a jovem Vitória era uma "garota alta e morena, com olhos violeta... a
confiança de uma Imperatriz e a impulsividade de um moleque".[12] A princesa tinha "muito pouco
queixo para ser convencionalmente bonita", na opinião de um de seus biógrafos, mas "tinha uma boa
figura, profundos olhos azuis e pele morena".[13] Em 1891, Vitória viajou com a mãe para os funerais
da grã-duquesa Alexandra Georgievna, esposa de seu tio, o grão-duque Paulo Alexandrovich da Rússia.
Lá, a princesa conheceu o grão-duque Cyrill Vladimirovich, seu primo em primeiro grau. Embora os
dois se sentissem profundamente atraídos um pelo outro, a mãe de Vitória relutava em permitir um
casamento, porque a Igreja Ortodoxa Russa proibia a união entre primos de primeiro grau. Além disso,
Maria Alexandrovna duvidava da moralidade dos homens Romanov. Quando as princesas adolescentes
se impressionaram com a beleza de seus primos, sua mãe advertiu-as de que os grão-duques russos não
eram bons maridos.[14]
Pouco depois do casamento da princesa Maria com o príncipe Fernando da Romênia, os pais de Vitória
começaram a procurar um marido adequado para ela. Sua visita à avó, no Castelo de Balmoral, no
outono de 1891, coincidiu com a visita de seu primo, o príncipe Ernesto Luís, herdeiro do trono do
Grão-ducado de Hesse. A rainha Vitória notou a grande afinidade que existia entre os netos – eles
inclusive faziam aniversário no mesmo dia – e entusiasmou-se com a ideia de um casamento.[15] No
entanto, os príncipes relutavam. Vitória reencontrou Cyrill em São Petesburgo e ambos se
apaixonaram.[16]
Grã-duquesa de Hesse

Vitória e Ernesto no dia de seu casamento


Posteriormente, Vitória e Ernesto cederam à pressão das suas famílias e acabaram por se casar em 9 de
abril de 1894 no Palácio de Ehrenburg, em Coburgo. O casamento foi um grande evento que contou
com a presença de grande parte das famílias reais europeias – incluindo a rainha Vitória, a imperatriz-
viúva da Alemanha, o kaiser Guilherme II e o príncipe de Gales. Vitória recebeu o título de Grã-
duquesa de Hesse e do Reno.[17] A ocasião ganhou maior significado por ter sido o palco do pedido de
casamento do futuro czar Nicolau II a Alix, irmã mais nova de Ernesto.[18]
Vitória e Ernesto tiveram dois filhos juntos, uma filha, a princesa Isabel de Hesse (que foi apelidada de
Ella), nascida a 11 de março de 1895, e um natimorto que não recebeu nome, nascido a 25 de maio de
1900.[19]
O casamento de Vitória e Ernesto foi infeliz. Vitória se desesperava com a falta de atenção do marido,
enquanto este se dedicava inteiramente à sua filha, que adorava. Isabel, que se parecia fisicamente com
a mãe, preferia a companhia do pai à de Vitória.[20] Ambos gostavam de se divertir juntos e davam
frequentemente festas em sua casa para os seus amigos mais jovens. Sua regra era que todas as pessoas
com mais de 30 anos eram “velhas e excluídas”.[21] Nestas festas, a formalidade era dispensada, os
convidados eram tratados por seus apelidos e encorajados a fazer o que quisessem. Vitória e Ernesto
mantinham no seu círculo de amigos artistas progressistas e intelectuais, assim como todos os que
gostassem de se divertir. O primo de Vitória, o príncipe Nicolau da Grécia e Dinamarca, recordava uma
dessas ocasiões como “a mais alegre e divertida festa em que já estive na vida”.[22]
Contudo, Vitória não tinha nenhum entusiasmo em exercer suas funções públicas. Ela evitava
responder a cartas, cancelava visitas a antigos conhecidos cuja companhia não lhe agradasse e só
conversava com quem a distraía durante os eventos oficiais, ignorando pessoas de maior posição que
considerasse aborrecidas.[23] A desatenção de Vitória para com os seus deveres oficiais provocava
acesas discussões com Ernesto. O jovem casal tinha violentos atritos que, muitas vezes, terminavam em
agressões físicas. Com seu gênio volátil, Vitória gritava, atirava bandejas de chá, atirava objetos de
porcelana contra a parede e tudo o que tivesse à mão contra Ernesto durante essas “batalhas”.[23] Só o
que aliviava sua tensão era o amor pelos cavalos, quando dava longos passeios a galope montada em
Bogdan, um cavalo bastante indócil.[24] Quando esteve na Rússia para a coroação de Nicolau II, a
afeição por Cyrill renovou-se. Ela gostava de flertar com ele nos bailes e festas que marcaram o evento.
[25]

Divórcio

Vitória e sua filha, a princesa Isabel de Hesse, que morreu de febre tifoide aos oito anos de idade.
O casamento com Ernesto sofreu um duro golpe em 1897, quando Vitória, regressando de uma visita à
sua irmã, a rainha Maria da Romênia, teria surpreendido seu marido na cama com um criado. Embora
não tenha feito qualquer acusação pública, disse a uma sobrinha que "nenhum rapaz estava a salvo,
desde o cocheiro ao ajudante de cozinha. Ele dormia abertamente com todos."[26][27] A rainha Vitória
ficou desapontada quando soube por seu encarregado de negócios, sir George Buchanan, dos
problemas vividos pelo casal, mas recusou-se a considerar uma permissão para um divórcio por causa
da pequena Ella.[28]
Os esforços para salvar o casamento falharam e, com a morte da rainha Vitória, em janeiro de 1901, a
oposição ao divórcio terminou.[29] O Supremo Tribunal de Hesse dissolveu a união a 21 de dezembro
de 1901. Ernesto, que a princípio havia resistido à ideia do divórcio, aceitou o fato de que essa era a
única solução possível. “Agora que estou mais calmo, vejo a impossibilidade absoluta de continuar a
viver uma vida que a estava matando e deixando-me quase louco,” escreveu Ernesto numa carta à sua
irmã mais velha, a princesa Vitória. “Manter o pensamento positivo e um sorriso quando a ruína nos
olha mesmo nos olhos e a miséria nos parte o coração em pedaços é uma luta inútil. Só tentei pelo
bem dela. Se não a amasse tanto, já teria desistido há muito tempo.”[30] Sua irmã respondeu-lhe, mais
tarde, que não estava tão surpresa com o divórcio quanto Ernesto. “Apesar de ambos terem feito o seu
melhor para garantir o êxito no casamento, ele foi um fracasso,” escreveu ela. “Suas personalidades e
temperamentos eram muito pouco adequados um para o outro e já havia notado como estavam cada
vez mais afastados.”[30] O divórcio do Grão-duque reinante de Hesse causou escândalo nos círculos
reais da Europa. O czar Nicolau II escreveu à sua mãe, dizendo que “até a morte teria sido melhor do
que a desgraça de um divórcio.”[31]
Da esquerda para a direita (sentados): princesa Irene de Hesse, grã-duquesa Isabel Feodorovna, Vitória
Melita e grão-duque Sérgio Alexandrovich. Em pé: czarevich Nicolau Alexandrovich, czarevna
Alexandra Feodorovna, princesa Vitória de Hesse e grão-duque Ernesto Luís de Hesse. Foto tirada em
Darmestádio, em abril de 1894.
Depois do divórcio, Vitória foi viver com a sua mãe em Coburgo e em sua casa na Riviera Francesa.
Ela e Ernesto partilhavam a guarda de Isabel, que passava seis meses com cada progenitor. Isabel
culpava a mãe pelo divórcio e esta teve uma grande dificuldade para restaurar a relação com a filha.
Ernesto escreveu em suas memórias que Isabel se escondeu sob o sofá, chorando, antes de uma das
visitas à sua mãe. O pai tentou convencê-la de que Vitória também a amava, mas Isabel respondeu:
“mamãe diz que me ama, mas você me ama.” Ernesto permaneceu calado e não corrigiu a opinião da
criança.[20] Isabel morreu de febre tifoide em 1903, aos oito anos de idade, durante uma visita ao czar
Nicolau II e sua família em seu pavilhão de caça polonês. O médico aconselhou a família do czar a
avisar a mãe da criança sobre a doença, mas a czarina atrasou o envio do telegrama. Vitória recebeu a
notícia da morte da filha quando se preparava para ir à Polônia para assisti-la.[32] Nos funerais de
Isabel, Vitória retirou a banda da Ordem de Hesse de seu vestido e colocou-a sobre o caixão, como um
último gesto de “ruptura definitiva com sua antiga casa.”[33] Tal atitude foi criticada pelo conde
Bernhard von Bülow, que a considerou melodramática e de mau gosto.[33]
Semanas após os funerais, Vitória ficou furiosa com a recusa de Nicolau II em permitir o casamento de
sua irmã mais nova, a princesa Beatriz, com o seu primo, o grão-duque Miguel Alexandrovich da
Rússia. Xenia Alexandrovna, irmã do czar, escreveu em seu diário no dia 21 de dezembro de 1903 que
havia recebido uma carta “terrível” de Vitória, na qual ela a acusava de ter se comportado de modo
“horrível e desonrado” e, segundo a grã-duquesa, assegurava falsamente que Beatriz jamais havia tido
esperanças de casar com Miguel. Beatriz chorou, perdeu peso e adoeceu a ponto de precisar ser enviada
em viagem ao Egito para se recuperar.[34]

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