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CONRADO PAULINO DA ROSA

MARCO ANTONIO RODRIGUES

INVENTÁRIO
E PARTILHA
TEORIA e PRÁTICA

4ª edição
Revista, atualizada
e ampliada

2022

Rosa-Rodrigues-Inventario e Partilha-4ed.indb 3 23/12/2021 11:23:36


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HERANÇA JACENTE E VACANTE

7.1.  DISPOSIÇÕES GERAIS

Durante a vigência do Código Civil de 1916, de modo quase incom-


preensível, os Estados, o Distrito Federal ou a União eram arrolados na
ordem de vocação hereditária.1 Hodiernamente, nos termos do artigo 1.844
do Código Civil2 o Poder Público não mais ostenta a qualidade de herdeiro
sendo, em verdade, o último vocacionado legal, enquanto mero receptor
dos bens vagos (sucessor legal anômalo ou irregular), na falta de familiares
do hereditando ou de testamento contemplando inteiramente terceiros.3
Conforme Euclides de Oliveira e Sebastião Amorim, entende-se por
herança jacente aquela cujos sucessores ainda não são conhecidos ou que
não foi aceita pelas pessoas com direito à sucessão. A jacência constitui-se
em fase provisória e temporária, de expectativa de surgimento de interes-
sados na herança. Esgotadas as diligências e cumpridas as formalidades
legais sem a habilitação de sucessores, a herança jacente será considerada
vacante, passando ao domínio do Município, do Distrito Federal ou da
União Federal, conforme a localização dos bens.

1. Artigo 1.603 do Código Civil de 1916: A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I – Aos descendentes.
II – Aos ascendentes.
III – Ao cônjuge sobrevivente.
IV – Aos colaterais.
V – Aos Estados, ao Distrito Federal ou a União.
2. Artigo 1.844 do Código Civil: Não sobrevivendo cônjuge, ou companheiro, nem parente
algum sucessível, ou tendo eles renunciado a herança, esta se devolve ao Município ou ao
Distrito Federal, se localizada nas respectivas circunscrições, ou à União, quando situada
em território federal.
3. CARVALHO, Luiz Paulo Vieira de. Direito das sucessões. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 316.

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Distinguem-se, pois, a jacência e a vacância. A primeira é pressuposto


ou fase preliminar do reconhecimento da última, embora não seja essa
uma consequência necessária, já que a herança jacente pode encerrar-se
para dar lugar ao inventário, caso se habilitem sucessores com direito aos
bens arrecadados.4
Dessa forma, nos termos do artigo 1.819 de nossa codificação civil,5
falecendo alguém sem deixar nem testamento, nem herdeiro legítimo no-
toriamente conhecido, os bens da herança, depois de arrecadados, ficarão
sob a guarda e administração de um curador, até a sua entrega ao sucessor
devidamente habilitado ou à declaração de sua vacância.
Esse procedimento, conforme artigo 738 do Código de Processo Civil,6
deverá ser realizado na Comarca de domicílio do de cujus e poderá ser
iniciada pelo magistrado em exceção ao princípio da inércia da jurisdição.7-8

4. OLIVEIRA, Euclides de; AMORIM, Sebastião. Inventário e partilha: teoria e prática. 24. ed.
São Paulo: Saraiva, 2016, p. 195.
5. Artigo 1.819 do Código Civil: Falecendo alguém sem deixar testamento nem herdeiro legítimo
notoriamente conhecido, os bens da herança, depois de arrecadados, ficarão sob a guarda
e administração de um curador, até a sua entrega ao sucessor devidamente habilitado ou
à declaração de sua vacância.
6. Artigo 738 do Código de Processo Civil: Nos casos em que a lei considere jacente a herança,
o juiz em cuja comarca tiver domicílio o falecido procederá imediatamente à arrecadação
dos respectivos bens.
7. Aponta ainda Daniel Amorim Assumpção Neves que “parcela da doutrina aponta para a
legitimidade, além do juiz, do Ministério Público, com fundamento do inegável interesse do
Estado na preservação e defesa dos bens integrantes da herança, da Fazenda Pública, que
poderá receber os bens nos termos da lei, ou de qualquer outro interessado (por exem-
plo, alguém que esteja na posse de bem integrante da herança, mas não seja herdeiro)”.
Na opinião do processualista, entretanto, o Ministério Público não possui legitimidade
para dar início ao processo, porque não tem a função institucional de tutelar interesse
econômico do Estado, devendo participar tão somente como fiscal da ordem jurídica.
(NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo CPC comentado. 2. ed. Salvador: Juspodivm,
2017, p. 1191).
8. RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. HERANÇA JACENTE. LEGITIMIDADE ATIVA DO PRÓ-
PRIO MAGISTRADO. PODERES DE INSTAURAÇÃO E INSTRUÇÃO DO PROCEDIMENTO CONFE-
RIDOS PELA LEI PROCESSUAL. PODER-DEVER DO JUIZ. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE
CONHECIDO E, NESSA EXTENSÃO, PROVIDO. 1. O propósito recursal consiste em definir se a
instauração do procedimento especial de herança jacente por um ente municipal, mas sem
a devida instrução com os documentos indispensáveis, ainda que desatendida a intimação
para emendar a petição inicial, enseja o indeferimento da exordial e, por conseguinte, a
extinção do processo sem resolução do mérito. (...) 3. A herança jacente, prevista nos arts.
738 a 743 do CPC/2015, é um procedimento especial de jurisdição voluntária que consiste,
grosso modo, na arrecadação judicial de bens da pessoa falecida, com declaração, ao final, da
herança vacante, ocasião em que se transfere o acervo hereditário para o domínio público,

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Cap. 7  •  HERANÇA JACENTE E VACANTE 249

As providências iniciais têm por objetivo a arrecadação e a admi-


nistração dos bens, conservando-os até a declaração da vacância ou a
devolução da herança aos herdeiros que se habilitarem.9 Para isso, será
nomeado um curador, nos termos do artigo 739 do CPC10, ofício a ser
exercido pela Defensoria Pública11 ou por alguém de confiança do juiz,
que terá as seguintes obrigações (artigo 739, § 1º, do CPC): (I) representar
a herança em juízo ou fora dele,12 com intervenção do Ministério Público;
(II) ter em boa guarda e conservação os bens arrecadados e promover a
arrecadação de outros porventura existentes; (III) executar as medidas
conservatórias dos direitos da herança; (IV) apresentar mensalmente ao
juiz balancete da receita e da despesa.
Conforme dispõe o artigo 740 do CPC, o juiz ordenará que o oficial de
justiça, acompanhado do escrivão ou do chefe de secretaria e do curador,
arrole os bens do falecido e descreva-os em auto circunstanciado. Caso
não possa estar presente, o magistrado requisitará à autoridade policial que
proceda à arrecadação e ao arrolamento dos bens, com duas testemunhas,
que assistirão às diligências (artigo 740, § 1º, do CPC). Nos termos do §
5º do artigo 740 do diploma processual civil, para a arrecadação de bens
em outra Comarca, o magistrado mandará expedir carta precatória.

salvo se comparecer em juízo quem legitimamente os reclame. 4. Tal procedimento não


se sujeita ao princípio da demanda (inércia da jurisdição), tendo em vista que o CPC/2015
confere legitimidade ao juiz para atuar ativamente, independente de provocação, seja
para a instauração do processo, seja para a sua instrução. Por essa razão, ainda que a parte
autora/requerente não junte todas as provas necessárias à comprovação dos fatos que
legitimem o regular processamento da demanda, deve o juiz, antes de extinguir o feito,
diligenciar minimamente, adotando as providências necessárias e cabíveis, visto que a
atuação inaugural e instrutória da herança jacente, por iniciativa do magistrado, constitui
um poder-dever. 5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido.
(REsp 1812459/ES, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em
09/03/2021, DJe 11/03/2021).
9. CARVALHO, Dimas Messias de. Direito das sucessões: inventário e partilha. 5. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2018, p. 79.
10. Artigo 739 do Código de Processo Civil: A herança jacente ficará sob a guarda, a conservação
e a administração de um curador até a respectiva entrega ao sucessor legalmente habilitado
ou até a declaração de vacância.
11. Artigo 4º da Lei Complementar 80/94: São funções institucionais da Defensoria Pública,
dentre outras: (...)
XVI – exercer a curadoria especial nos casos previstos em lei.
12. Artigo 75 do Código de Processo Civil: Serão representados em juízo, ativa e passivamente:
(...)
VI – a herança jacente ou vacante, por seu curador.

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Durante a arrecadação, o juiz ou a autoridade policial inquirirá os


moradores da casa e da vizinhança sobre a qualificação do falecido, o pa-
radeiro de seus sucessores e a existência de outros bens, lavrando-se essas
informações no auto de inquirição e informação (artigo 740, § 3º, do CPC).
Apesar de a previsão legal não estabelecer essa possibilidade, tendo
em vista a realidade atual, necessariamente, a análise dos aparelhos ele-
trônicos do falecido deverá ser efetivada, tais como, computadores, tablets
e smartphones, com o escopo de esgotar as tentativas de localização de
possíveis herdeiros do falecido.
Os bens sem qualquer valor econômico, apenas com valor sentimental,
tais como os papeis ou cartas, o juiz mandará empacotá-los e lacrá-los para
serem assim entregues aos sucessores do falecido ou queimados quando
os bens forem declarados vacantes (artigo 740, § 3º, do CPC).
Na hipótese de algum interessado reclamar os bens, antes de iniciada
a arrecadação ou estando ela em curso, ela será suspensa13 ou não iniciada,
se não houver oposição motivada do curador, de qualquer interessado, do
Ministério Público ou do representante da Fazenda Pública (artigo 740,
§ 6º, do CPC).
Ultimada a arrecadação, o juiz mandará expedir edital14, com o
“objetivo de gerar publicidade erga omnes da existência da arrecadação,

13. AGRAVO DE INSTRUMENTO –– AÇÃO DE HERANÇA JACENTE – HABILITAÇÃO DE HERDEIRO


– DECISÃO QUE LIMINARMENTE AFASTA A PRETENSÃO, COM BASE EM DECISÃO PROFE-
RIDA EM OUTRO PROCESSO - NECESSIDADE DE SUSPENSÃO DA ARRECADAÇÃO – CPC,
ARTIGO 740, §6º - DECISÃO PARCIALMENTE REFORMADA - O ordenamento jurídico prevê
a suspensão da arrecadação quando um herdeiro comparece perante a herança jacente
e reclama bens da herança – Artigo 740, §6º, do CPC – Necessidade de serem ouvidos os
interessados e realizado o julgamento do pedido de habilitação, que poderá implicar con-
versão da arrecadação em inventário, conforme Artigo 741, §3º, do CPC – Caso concreto
em que havia decisão sobre a suposta invalidade do testamento nos autos do pedido de
alvará judicial – Insuficiência – Necessidade de julgamento do pedido de habilitação, sem
prejuízo da suspensão da arrecadação- DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO. (TJSP;
Agravo de Instrumento 2251656-51.2018.8.26.0000; Relator (a): Alexandre Coelho; Órgão
Julgador: 8ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível- 9ª Vara da Família e Sucessões;
Data do Julgamento: 17/04/2019; Data de Registro: 22/04/2019)
14. Artigo 741 do Código de Processo Civil: Ultimada a arrecadação, o juiz mandará expedir
edital, que será publicado na rede mundial de computadores, no sítio do tribunal a que
estiver vinculado o juízo e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, onde
permanecerá por 3 (três) meses, ou, não havendo sítio, no órgão oficial e na imprensa
da comarca, por 3 (três) vezes com intervalos de 1 (um) mês, para que os sucessores do
falecido venham a habilitar-se no prazo de 6 (seis) meses contado da primeira publicação.

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Cap. 7  •  HERANÇA JACENTE E VACANTE 251

aumentando assim a possibilidade de o cônjuge, companheiro, herdeiros


ou testamenteiro comparecerem a juízo.”15
Verificada a existência de sucessor ou de testamenteiro em lugar
certo, far-se-á a sua citação, sem prejuízo do edital. Nessas hipóteses ou
frente a habilitação de algum herdeiro, a arrecadação converter-se-á em
inventário (artigo 741, §§ 1º e 3º, do CPC).
Os credores do de cujus têm interesse legítimo em comunicar ao juiz
a abertura da sucessão e a se habilitar no inventário.16 A herança jacente
não é obstáculo a que os credores tenham seus créditos reconhecidos e
pagos, no curso do inventário, nos limites das forças da herança. Se estas
forem insuficientes, sendo vários os credores, devem ser observadas as
diretrizes do concurso dos credores, observando a preferência de crédi-
tos privilegiados, como os trabalhistas, alimentares, fiscais, os honorários
advocatícios (Lei n. 8.906/1994, artigo 24).17
Depois de um ano da primeira publicação do edital e não havendo
nem herdeiro habilitado, tampouco habilitação pendente, será a herança
declarada vacante (artigo 1.820 do Código Civil e artigo 743 do CPC).
Não se habilitando até a declaração de vacância, os colaterais ficarão
excluídos da sucessão de modo definitivo, nos termos do parágrafo único

15. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo CPC comentado. 2. ed. Salvador: Juspodivm,
2017, p. 1196.
Além disso, conforme artigo 742 do Código de Processo Civil, o juiz poderá autorizar a
alienação, in verbis:
I – de bens móveis, se forem de conservação difícil ou dispendiosa;
II – de semoventes, quando não empregados na exploração de alguma indústria;
III – de títulos e papéis de crédito, havendo fundado receio de depreciação;
IV – de ações de sociedade quando, reclamada a integralização, não dispuser a herança de
dinheiro para o pagamento;
V – de bens imóveis:
a) se ameaçarem ruína, não convindo a reparação;
b) se estiverem hipotecados e vencer-se a dívida, não havendo dinheiro para o pagamento.
§ 1º Não se procederá, entretanto, à venda se a Fazenda Pública ou o habilitando adiantar
a importância para as despesas.
§ 2º Os bens com valor de afeição, como retratos, objetos de uso pessoal, livros e obras de
arte, só serão alienados depois de declarada a vacância da herança.
16. Artigo 1.821 do Código Civil: É assegurado aos credores o direito de pedir o pagamento
das dívidas reconhecidas, nos limites das forças da herança.
17. LÔBO, Paulo. Direito civil: volume 6: sucessões. 4. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018,
p. 183-184.

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do artigo 1.822 Código Civil. Outrossim, a partir do trânsito em julgado


da sentença que declara a vacância a habilitação do cônjuge, do compa-
nheiro, de outros herdeiros e de eventuais credores, não mais será feita
nos próprios autos, mas sim, em ação própria (artigo 743, § 2º, do CPC).
A atribuição da propriedade definitiva da herança vaga não se verifica
automaticamente com a declaração de vacância, visto que os herdeiros pode-
rão ainda se habilitar a recebê-la no prazo de cinco anos, contados da data
da abertura da sucessão. A sentença que declara a vacância defere os bens
ao Poder Público, todavia não em caráter definitivo, caracterizando-se uma
propriedade resolúvel (artigo 1.359), uma vez que poderá ser resolvida se
aparecer algum sucessor no referido prazo de cinco anos. Há, portanto, dois
requisitos para que os bens da herança passem a ser de propriedade plena e
definitiva do ente público: a) o trânsito em julgado da sentença de vacância;
e b) o decurso do prazo de cinco anos, contados da abertura da sucessão,
ou seja, da data da morte do autor da herança,18 oportunidade em que os
bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal,
se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio
da União quando situados em território federal (artigo 1.822 Código Civil).
Destaca-se que somente no momento do trânsito em julgado da sen-
tença que transforma a herança jacente em vacante é que os bens arrecada-
dos passam à titularidade do Poder Público, sem que haja necessidade de
aceitação, tendo tal decisão natureza constitutiva, com eficácia ex nunc, ou
seja, para frente, e não natureza simplesmente declaratória, como outrora
se afirmava, quando, então, seus efeitos retroagiram à data da abertura da
sucessão (eficácia ex tunc).19 Assim, como o Poder Público somente adquire
a titularidade do patrimônio transmitido pelo falecido após a declaração
judicial de vacância, é possível a usucapião dos bens que o compõem até
que seja proferida a decisão judicial declaratória de herança vacante.20

18. TEPEDINO, Gustavo; BARBOZA, Heloisa Helena; MORAES, Maria Celina Bodin de. Código
Civil interpretado conforme a Constituição da República. vol. IV. Rio de Janeiro: Renovar,
2014, p. 614.
19. CARVALHO, Luiz Paulo Vieira de. Direito das sucessões. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 267.
20. Sobre o tema, ainda, referem os civilistas Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, o
seguinte precedente do Superior Tribunal de Justiça: O bem integrante de herança jacente só é
devolvido ao Estado com a sentença de declaração da vacância, podendo, até ali, ser possuído
ad usucapionem (AgRg no Ag 1212745/RJ, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 19/10/2010, DJe 03/11/2010). FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson.
Curso de direito civil: sucessões. 4. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: Ed. Juspodivm, 2018, p. 287.

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Cap. 7  •  HERANÇA JACENTE E VACANTE 253

Existe uma hipótese de abertura simplificada da vacância, prevista no


artigo 1.823 de nossa codificação civil, quando todos os chamados a suce-
der renunciarem à herança. Nessa situação, considerado que a renúncia é
irretratável,21 não se mostra necessária a declaração de jacência da herança.
O Ente Público recebe de volta os bens da herança vacante, que ori-
ginalmente lhe pertenciam. Não se trata de transmissão por herança e, por
isso mesmo, o Poder Público deixou de figurar na ordem de vocação here-
ditária (artigo 1.829 do Código Civil). Trata-se de devolução da herança sem
herdeiros, por falta de cônjuge, companheiro e qualquer parente sucessível,
ou tendo eles renunciado à herança (artigo 1.844 do Código Civil).22

7.2.  ESQUEMA SOBRE HERANÇA JACENTE E VACANTE

21. Artigo 1.812, Código Civil. São irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da herança.
22. OLIVEIRA, Euclides de; AMORIM, Sebastião. Inventário e partilha: teoria e prática. 24. ed.
São Paulo: Saraiva, 2016, p. 196.

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INVENTÁRIO E PARTILHA:
TEORIA GERAL

9.1.  INVENTÁRIO. CONCEITO E ESPÉCIES

A palavra inventário significa ato ou efeito de inventariar, e é empregada


no sentido de relacionar, registrar, catalogar, descrever, enumerar coisas,
arrolar para fins de partilha. Deriva do latim inventarium, de invenire,
isto é, achar, encontrar.1
O inventário não se presta à transmissão do patrimônio deixado pelo
de cujus. Transmite-se a herança com a morte, não sendo, porém, delimi-
tadas a qualidade e a quantidade de bens que irão compor o quinhão de
cada herdeiro ou a meação do cônjuge sobrevivo. Deverá ter lugar, portanto,
um procedimento em que se apurem, descrevam-se e partilhem-se os bens
componentes dessa universalidade. Para tanto, o direito prevê o procedi-
mento de inventário e partilha disciplinado nos artigos 610 a 673 do CPC2.
O Código de Processo Civil, tendo em vista a (in)capacidade civil dos
herdeiros, bem como o valor do monte a ser partilhado, previu diversas
espécies de inventário, a saber:

a) Inventário extrajudicial: cabível na hipótese em que todos os


herdeiros são capazes e concordem quanto à partilha a ser rea-
lizada. É instrumentalizado através de escritura pública, a qual
constituirá documento hábil para qualquer ato de registro, bem

1. OLIVEIRA, Euclides de; AMORIM, Sebastião. Inventário e partilha: teoria e prática. 24. ed.
São Paulo: Saraiva, 2016, p. 278.
2. CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. Inventário e partilha judicial e extrajudicial. Rio de Janeiro:
Forense, 2018, p. 20.

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como para levantamento de importância depositada em institui-


ções financeiras (artigo 610, § 1º3). Será analisado no próximo
item;
b) Inventário judicial: terá cabimento se houver testamento a ser
cumprido, bem como interessado incapaz (artigo 610 do CPC).
Da mesma forma, caso não haja concordância entre os herdeiros
a respeito da partilha dos bens integrantes do acervo hereditário,
exigir-se-á o processamento do inventário pela via judicial.

O inventário judicial pode se processar pela forma de inventário


litigioso ou de arrolamento, sendo dividido em sumário, cabível quando
os herdeiros optarem pela partilha amigável ou se houver pedido de ad-
judicação por herdeiro único, e em sumaríssimo4 (também chamado de
comum), se o valor do monte não superar mil salários-mínimos (artigo
659 e artigo 664 do CPC5).

3. Artigo 610 do Código de Processo Civil: Havendo testamento ou interessado incapaz, pro-
ceder-se-á ao inventário judicial.
§ 1º Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha poderão ser feitos por
escritura pública, a qual constituirá documento hábil para qualquer ato de registro, bem
como para levantamento de importância depositada em instituições financeiras.
4. Também denominado simples, comum ou simplificado (OLIVEIRA, José Maria Leoni Lopes
de. Direito civil: sucessões. Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 754).
5. Artigo 659 do Código de Processo Civil: A partilha amigável, celebrada entre partes capazes,
nos termos da lei, será homologada de plano pelo juiz, com observância dos arts. 660 a
663.
Artigo 664 do Código de Processo Civil: Quando o valor dos bens do espólio for igual ou
inferior a 1.000 (mil) salários-mínimos, o inventário processar-se-á na forma de arrolamen-
to, cabendo ao inventariante nomeado, independentemente de assinatura de termo de
compromisso, apresentar, com suas declarações, a atribuição de valor aos bens do espólio
e o plano da partilha.

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Cap. 9  •  INVENTÁRIO E PARTILHA: TEORIA GERAL 393

9.2.  INVENTÁRIO NEGATIVO

O inventário negativo ocorre quando é iniciado um processo de


inventário sem que haja bens ou direitos do devedor. Na realidade, na
medida em que o inventário é procedimento para a catalogação de bens
e direitos do falecido, de modo a proceder à sua partilha, a expressão
inventário negativo parece ser contraditória, pois nesse caso não há bens
a inventariar e, consequentemente, a partilhar.
No entanto, não se pode esquecer de que o falecimento de alguém
pode gerar consequências jurídicas para herdeiros, legatários ou mesmo
terceiros credores. Como exemplo, é preciso recordar que, por força do
artigo 1.7926 do Código Civil, os herdeiros respondem pelas dívidas do
espólio nos limites da herança. Por isso, pode algum herdeiro querer
realizar o inventário negativo, de modo a assegurar sua ausência de res-
ponsabilidade, em virtude da ausência de bens e direitos do morto. No
que se refere à competência, deve ser aplicada a regra geral do artigo 487
do CPC, sendo preferencial o foro do domicílio do de cujus.
Outra finalidade para a aplicação do inventário negativo decorre do
interesse do cônjuge supérstite de afastar causa suspensiva em relação a
uma nova relação matrimonial. Isso porque, o artigo 1.523, inciso I de
nossa codificação civil estabelece como como causa suspensiva (também
chamada de impedimento proibitivo) a hipótese de o viúvo ou a viúva que
tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não se fizer inventário dos bens
do casal e der partilha aos herdeiros (artigo 1.523, II CC). A previsão tem
como escopo evitar que a nova união pretendida pelo sobrevivente não
acarrete em prejuízos a prole havida no relacionamento com seu falecido
marido.8 Nessa hipótese, caso haja a união matrimonial, além da imposição

6. Artigo 1.792 do Código Civil: O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da
herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse,
demostrando o valor dos bens herdados.
7. Artigo 48 do Código de Processo Civil: O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é
o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições
de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as
ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro.
Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é competente:
I – o foro de situação dos bens imóveis;
II – havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes;
III – não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio.
8. ROSA, Conrado Paulino da. Curso de direito de família contemporâneo. 5. ed. Salvador:
Juspodivm, 2019, p. 80.

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394 INVENTÁRIO E PARTILHA  •  Conrado Paulino da Rosa  |  Marco Antonio Rodrigues

do regime da separação obrigatória de bens (artigo 1.641, I CC), haverá a


hipoteca legal de seus imóveis em favor dos filhos (artigo 1.489, II CC). A
solução para que isso não ocorra será a realização do inventário negativo.
Note-se que, sendo o inventário extrajudicial preferencial, a Resolução
n. 35/07 do CNJ estabeleceu, em seu artigo 289, que é possível a realiza-
ção de inventário negativo por escritura pública, o que facilita e acelera
o reconhecimento da ausência de patrimônio do falecido, afastando a
responsabilidade dos herdeiros perante credores.

9.3. INVENTÁRIO COMO PROCEDIMENTO ESPECIAL.


A ADAPTAÇÃO DA TUTELA JURISDICIONAL ÀS
NECESSIDADES DO DIREITO DAS SUCESSÕES

A ação de inventário possui natureza de procedimento especial de


conhecimento, constando do Livro I do Código de Processo Civil. Nessa
ambiência, o inventário é um procedimento especial tendente a apurar o
patrimônio transmitido automaticamente, pelo falecido, pagando as dívidas
deixadas, recolhendo o tributo incidente na espécie e, em arremate, pro-
movendo a partilha entre os sucessores. Assim, o procedimento tradicional
de inventário é bifásico e escalonado, apresentando um momento inicial
de inventariança e um outro, superveniente, de partilha10.
Com efeito, com base no artigo 318 do Código de Processo Civil11,
pode-se afirmar que o processo de conhecimento – aquele em que há um
predomínio da atividade cognitiva – divide-se em dois tipos de procedi-
mento: o comum e os especiais. O procedimento comum é aquele previsto
com uma ampla atividade processual, de modo a se permitir às partes, a
partir de uma cognição exauriente, obter uma decisão final que resolva
o conflito entre elas12. Importante destacar que o procedimento comum

9. Artigo 28 da Resolução n. 35 do CNJ: É admissível inventário negativo por escritura pública.


10. FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: sucessões. 4. ed.
Salvador: Ed. Juspodivm, 2018, p. 533.
11. Artigo 318 do Código de Processo Civil: Aplica-se a todas as causas o procedimento comum,
salvo disposição em contrário deste Código ou de lei.
Parágrafo único. O procedimento comum aplica-se subsidiariamente aos demais procedi-
mentos especiais e ao processo de execução.
12. “O procedimento comum é o mais completo e o mais apto à perfeita realização do processo
de conhecimento, pela amplitude com que permite às partes e ao juiz pesquisar a verdade real
e encontrar a justa composição da lide. Está estruturado segundo fases lógicas, que tornam
efetivos os princípios fundamentais do procedimento, como o da iniciativa da parte, o do

Rosa-Rodrigues-Inventario e Partilha-4ed.indb 394 23/12/2021 11:24:29


Cap. 9  •  INVENTÁRIO E PARTILHA: TEORIA GERAL 395

não foi criado pelo CPC tendo em vista as necessidades específicas dos
direitos envolvidos, mas se destina a ser usado em função de conflitos
das mais variadas espécies.
No entanto, muitas vezes o direito em jogo não será tutelado da
melhor forma possível por meio do procedimento comum, dadas as espe-
cificidades do conflito ou da relação jurídica de direito material envolvido.
Assim, os procedimentos especiais exercem importante papel: representam
a adaptação do processo às necessidades do direito material em jogo13.
O processo não representa um fim em si mesmo, mas um instrumento
para a tutela ao direito nele discutido, preordenado a este objetivo14. Da
mesma forma, os procedimentos representam uma adaptabilidade da tutela
jurisdicional às necessidades do direito material.
Uma vez aberta a sucessão de um morto, surgem direitos para os
herdeiros e mesmo para terceiros, como legatários e credores. Assim, o
procedimento de inventário e partilha de bens surge como o mais adequado
à tutela dos direitos de todos os envolvidos, trazendo regras distintas do
procedimento comum, como a necessidade de apresentação das primeiras
declarações, a manifestação das partes, as últimas declarações, a avaliação
dos bens, o cálculo do imposto e a partilha. A utilização do procedimento
comum do artigo 318 e seguintes do CPC por certo não levaria à perfor-
mance mais adequada à tutela dos direitos de todos os envolvidos.

9.4.  JURISDIÇÃO CONTENCIOSA OU VOLUNTÁRIA?

O Poder Judiciário, no exercício da função jurisdicional, atua (i)


solucionando conflitos de interesse e (ii) tutelando interesses privados,
quando assim exigido ou facultado pelo ordenamento jurídico. No primeiro

contraditório e o do convencimento motivado do julgador.” (THEODORO JUNIOR, Humberto.


Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. 59. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 775).
13. Como aponta Fredie Didier Junior: adequa-se o processo ao seu objeto tanto no plano
pré-jurídico, legislativo, abstrato, com a construção de procedimentos compatíveis com o
direito material, como no plano do caso concreto, processual, permitindo-se ao magistrado,
dês que previamente (em homenagem ao princípio da tipicidade), alterar o procedimento
conforme às exigências da causa.” (DIDIER JUNIOR, Fredie. Sobre dois importantes, e es-
quecidos, princípios do processo: adequação e adaptabilidade do procedimento. Disponível
em http://www.abdpc.org.br/abdpc/artigos/fredie%20didier_3_-%20formatado.pdf. Acesso
em 27/02/2019).
14. DINAMARCO, Cândido Rangel; LOPES, Bruno Vasconcellos Carrilho. Teoria geral do novo
processo civil. São Paulo: Malheiros, 2018, p. 20-22.

Rosa-Rodrigues-Inventario e Partilha-4ed.indb 395 23/12/2021 11:24:30


396 INVENTÁRIO E PARTILHA  •  Conrado Paulino da Rosa  |  Marco Antonio Rodrigues

caso, estar-se-á diante da jurisdição contenciosa; no segundo, diante da


jurisdição voluntária.
Durante longo período, houve controvérsia a respeito da jurisdição
voluntária enquanto atividade jurisdicional, especialmente em razão da
definição de Francesco Carnelutti, para quem a lide é indispensável para a
caracterização da jurisdição15. A jurisdição voluntária, sob tal perspectiva,
seria meramente uma atividade administrativa de interesses privados16, a
cargo do Poder Judiciário.
Tal posicionamento não se mostra adequado, na medida em que o
próprio Código de Processo Civil considera a jurisdição voluntária como
espécie de jurisdição, conforme se verifica, por exemplo, no artigo 719 e
seguintes, que tratam dos procedimentos especiais de jurisdição voluntária.
Assim, parece-nos que o Código de Processo Civil adotou claramente uma
opção de os procedimentos de jurisdição voluntária caracterizarem jurisdição.
Ademais, o conflito de interesses não nos parece requisito indispensável
à caracterização da jurisdição, que se presta a tutelar com definitividade
interesses. Na jurisdição voluntária, tal qual na contenciosa, são garantidos
os direitos fundamentais processuais das partes, como se pode observar
do artigo 1º17 do Código de Processo Civil.
Registre-se, ainda, que pode ser até mesmo que um procedimento de
jurisdição voluntária assuma caráter contencioso, caso o conflito surja no
seu curso. Imagine-se um procedimento de retificação de registro de óbito,
para alteração de horário da morte, pois o falecido morreu em acidente de
veículo e o requerente quer fazer constar que o horário do óbito foi posterior
ao do cônjuge do de cujus, também falecido no acidente. Tal procedimento
se inicia meramente como jurisdição voluntária, mas pode passar a ter con-
flito, em razão de parentes do cônjuge do morto questionarem tal alteração,
que fatalmente traria consequências para a sucessão de ambos os cônjuges.
Diante das definições que adotamos acima acerca do que são as
jurisdições contenciosa e voluntária, é preciso analisar se o inventário
configura procedimento especial de jurisdição contenciosa ou voluntária.

15. CARNELUTTI, Francesco. Sistema di diritto processuale civile. Vol. 1. Padova: CEDAM, 1936, p. 40.
16. MARQUES, José Frederico. Ensaio sobre a jurisdição voluntária. Campinas: Millennium,
2000, p. 61.
17. Artigo 1º do Código de Processo Civil: O processo civil será ordenado, disciplinado e inter-
pretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da
República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código.

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Cap. 9  •  INVENTÁRIO E PARTILHA: TEORIA GERAL 397

Na realidade, essa natureza dependerá da espécie de inventário em


jogo. Isso porque, tratando-se de inventário judicial comum, em que, por
força do artigo 610 do Código de Processo Civil, há testamento ou interesse
de incapaz, o procedimento possui natureza de jurisdição contenciosa, pois
a falta de concordância entre os herdeiros ou a existência de testamento
impõe procedimento em que desde logo se franqueia contraditório e
ampla defesa aos herdeiros18. Assim, o inventário tradicional ou comum
trata-se de procedimento de jurisdição contenciosa no qual se reúnem
os elementos relativos à abertura da sucessão em virtude da morte do de
cujus, sua herança, suas dívidas, seus herdeiros e seus legatários, a fim de,
após atender ao pagamento dos débitos exigíveis e resolver as questões
suscitadas de direito ou de fato, ser ultimada a partilha (ou a adjudicação,
em caso de único sucessor), pondo termo à comunhão hereditária.19
Já o inventário por arrolamento sumário, decorrente da partilha
amigável, na forma do artigo 659 do Código de Processo Civil, possui
natureza de jurisdição voluntária. Isso porque se trata de mera exigência
legal de que a partilha seja objeto de controle judicial, sendo desde já
apresentada pelos herdeiros concordes ou pelo inventariante20.
No caso do arrolamento sumário, fica ainda mais evidente sua natu-
reza de jurisdição voluntária, ao se recordar que poderia ser realizado por
meio de escritura pública, o que demonstra que a participação do Poder
Judiciário sequer é requisito intransponível para a eficácia plena da par-
tilha. O tabelião, nesse caso, exerce papel típico de jurisdição voluntária.
Tratando-se de arrolamento sumaríssimo, decorrente do valor dos
bens do espólio igual ou inferior a 1.000 salários mínimos, constante do
artigo 664 do CPC, trata-se de modalidade de inventário em que não
há acordo entre os herdeiros capazes, ou algum dos herdeiros é incapaz.
Nesses casos, o juiz deverá julgar a partilha, o que demonstra seu caráter
de jurisdição contenciosa21.

18. RODRIGUES, Marco Antonio. A Fazenda Pública no processo civil. Rio de Janeiro: GEN,
2016, p. 297-298. Assim também defendemos em: RODRIGUES, Marco Antonio. O papel
das Procuradorias dos Estados nos processos de inventário no novo CPC. In: ARAÚJO, José
Henrique Mouta; CUNHA, Leonardo Carneiro da; RODRIGUES, Marco Antonio. (Org.).
Fazenda Pública. 2ª ed. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 456-457.
19. CARVALHO, Luiz Paulo Vieira de. Direito das sucessões. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 875.
20. RODRIGUES, Marco Antonio. A Fazenda Pública no processo civil. Op. cit., p. 298.
21. No mesmo sentido, CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. Inventário e Partilha Judicial e Extra-
judicial. São Paulo: GEN, 2019, p. 202.

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398 INVENTÁRIO E PARTILHA  •  Conrado Paulino da Rosa  |  Marco Antonio Rodrigues

Também o inventário negativo é espécie de procedimento de juris-


dição voluntária22. Isso porque, como visto, é o inventário negativo mero
procedimento para certificação da inexistência de patrimônio do falecido,
sem que o herdeiro ou herdeiros possuam qualquer tipo de conflito a
ser decidido. Tanto assim, que a Resolução n. 35/07 do CNJ autoriza sua
realização por meio de escritura pública.

9.5. COGNIÇÃO NO INVENTÁRIO E AS QUESTÕES DE ALTA


INDAGAÇÃO

A cognição – atividade judicial de análise de alegações e provas –


se divide nos planos horizontal e vertical23. No plano horizontal, está-se
diante das matérias que podem ser analisadas num processo, a cognição
pode ser plena, quando não há limitação às matérias que podem ser
analisadas, ou parcial/limitada, quando há restrições às questões que
podem ser enfrentadas. Já no plano vertical, verifica-se a profundidade
da análise de alegações e provas, dividindo-se a cognição em exauriente
ou sumária.

22. OLIVEIRA, José Maria Leoni Lopes de. Direito civil: sucessões. Rio de Janeiro: Forense, 2018,
p. 736.
23. “No plano horizontal, a cognição tem por limite os elementos objetivos do processo estu-
dados no capitulo precedente (trinômio: questões processuais, condições da ação e mérito,
inclusive questões de mérito; para alguns: binômio, com exclusão das condições da ação;
Celso Neves: quadrinômio, distinguindo pressuposto dos supostos processuais). Nesse
plano, a cognição pode ser plena ou limitada (ou parcial) segundo a extensão permitida.
No plano vertical, a cognição pode ser classificada, segundo o grau de sua profundidade,
em exauriente (completa) e sumária (incompleta).” (WATANABE, Kazuo. Da cognição no
processo civil. 3. ed. São Paulo: Perfil, 2005, p. 127).

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Cap. 9  •  INVENTÁRIO E PARTILHA: TEORIA GERAL 399

O artigo 61224 do CPC define os limites da cognição no inventário,


ao estabelecer que o juiz decidirá todas as questões de direito desde que
os fatos relevantes estejam provados por documento, só remetendo para
as vias ordinárias as questões que dependerem de outras provas.
Diante desse dispositivo, pode-se afirmar que, no plano horizontal,
a cognição é limitada, pois não podem as partes discutir toda e qualquer
matéria. As questões de direito, por mais difíceis, complexas e intricadas,
podem e devem ser resolvidas de plano, nos próprios autos de inventário.
Até mesmo matéria de fato, quando instruída por documentos inequívocos,
pode ser igualmente dirimida no processo de inventário.25
É natural que no processo de inventário e partilha surjam questões
referentes à definição do acervo hereditário e de sua divisão entre os her-
deiros, bem como de quem são esses herdeiros, cabendo ao juiz decidi-las
para que o resultado desse processo seja atingido. Ocorre, porém, que
nem todas as questões podem ser resolvidas no processo de inventário e
partilha, obrigando-se os interessados a ingressar com um novo processo
para a solução de algumas espécies de questões. No diploma legal revogado
eram chamadas de “questões de alta indagação”, expressão suprimida pelo
Código de Processo Civil26, mas que continua a ser utilizada na prática.

24. Artigo 612 do Código de Processo Civil: O juiz decidirá todas as questões de direito desde
que os fatos relevantes estejam provados por documento, só remetendo para as vias or-
dinárias as questões que dependerem de outras provas.
25. MONTEIRO, Washington de Barros; PINTO, Ana Cristina de Barros Monteiro França. Curso
de direito civil. Vol. VI. 39. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 316. É o caso, por exemplo, da
pretensão de apreciação de pedido de expedição de alvará judicial de escritura de compra
e venda, caso seja comprovado, documentalmente, o negócio jurídico: AGRAVO DE INSTRU-
MENTO – AÇÃO DE INVENTÁRIO – PEDIDO DE EXPEDIÇÃO DE ALVARÁ PARA TRANSFERÊNCIA
DE BENS ALIENADOS PELO DE CUJUS ANTES DE SEU FALECIMENTO – POSSIBILIDADE DE
ANÁLISE PELO JUÍZO DO INVENTÁRIO – ART. 612 CPC – RECURSO CONHECIDO E PROVIDO 1.
Não há impossibilidade de apreciação do pedido de expedição de alvará judicial de escritura
definitiva de compra e venda nos próprios autos do inventário, tendo em vista a dicção do
artigo 612 do Código de Processo Civil. 2. Tratando-se de matéria de direito comprovada
por prova documental, faz-se dispensável a instauração de nova demanda para a apreciação
do pedido.* (TJMS- AI: 14139075220208120000 MS 1413907-52.2020.8.12.0000, Relator:
Fernando Mauro Moreira Marinho, Data de Julgamento: 24/01/2021, 2ª Câmara Cível, Data
de Publicação: 25/01/2021).
26. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo código de processo civil comentado. Salvador:
Juspodivm, 2016, p. 1026. Questões de alta indagação são aquelas em que aparecem ele-
mentos de fato que exigiram prova a ser produzida em processo à parte, com rito próprio.
Questões só de direito são questões puras, em que não se precisa investigar fato ou apurar
provas. A dificuldade de interpretação, ou de aplicação, do texto normativo não constitui

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400 INVENTÁRIO E PARTILHA  •  Conrado Paulino da Rosa  |  Marco Antonio Rodrigues

Como apontado pelo Superior Tribunal de Justiça:


AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. SUCESSÕES.
INVENTÁRIO. PARTILHA. MEEIRA. QUESTÃO DE ALTA INDAGAÇÃO. PRE-
TENSÃO DE ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO ANTERIOR AO ÓBITO.
TRANSFERÊNCIA DE COTAS SOCIETÁRIAS. AÇÃO ANULATÓRIA.
1. Questões de alta indagação são as que demandam a produção de provas que
não estão nos autos do inventário, e, por exigirem ampla cognição para serem
apuradas e solucionadas, devem ser decididas em ação própria, nas vias ordinárias.
(CPC/1973, artigo 984 e CPC/2015, artigo 612). Precedentes.
2. Os sucessores e o meeiro não são terceiros interessados em relação aos negócios
jurídicos celebrados pelo inventariado; recebem eles o patrimônio (ativo e passivo)
nas condições existentes na data do óbito.
3. As cotas societárias transferidas antes da data do óbito não integram o patrimô-
nio a ser partilhado no inventário, sendo irrelevante, em relação aos sucessores do
falecido, a circunstância de o registro do negócio jurídico na junta comercial ter
ocorrido após o óbito. O registro é necessário apenas para a produção de efeitos
da alteração societária em face da própria sociedade e de terceiros.
4. A verificação de existência de eventuais vícios no contrato de compra e venda das
cotas societárias, sob o argumento de que teria a finalidade de beneficiar o filho do
de cujus, deverá ser precedida de ampla instrução probatória, configurando, pois,
questão de alta indagação a ser decidida pelas vias ordinárias, no caso, em ação
que já se encontra em tramitação.
5. Agravo interno provido. Recurso especial parcialmente provido.27

As questões de fato que necessitem de outros meios de prova, que


não o documental, são, portanto, consideradas de alta indagação, e por
isso devem ser analisadas por meio de outra ação, em que haverá pedido
sobre elas e será possível cognição plena e exauriente, levando a uma de-
cisão que tenha aptidão para a formação de coisa julgada material (e.g.,
reconhecimento de união estável ou de vínculo de filiação socioafetivo). O
artigo 612 menciona que tais matérias serão remetidas às “vias ordinárias”,
o que significa dizer que as questões serão objeto de ação própria. Por
exemplo, imagine-se uma discussão sobre a qualidade de herdeiro de um
interessado, que pode demandar até mesmo eventual exame de DNA, ou a
ocorrência de dissolução parcial de sociedade a qual o de cujus integrava28.

questão de alta indagação. (NERY, Rosa Maria de Andrade; JUNIOR, Nelson Nery. Instituições
do direito civil. Vol. VI. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, p. 231).
27. STJ, 4a Turma, Agint no Resp 1359060 / RJ, Relator Min. Lázaro Guimarães, data de julga-
mento: 19/06/2018, data de publicação: 01/08/2018.
28. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO
DA VARA DE SUCESSÕES E JUÍZO DA VARA CÍVEL. INVENTÁRIO. DISSOLUÇÃO PARCIAL DE

Rosa-Rodrigues-Inventario e Partilha-4ed.indb 400 23/12/2021 11:24:30


Cap. 9  •  INVENTÁRIO E PARTILHA: TEORIA GERAL 401

Tal ação própria para a discussão das questões de alta indagação deve-
rá seguir suas regras de competência, não sendo de obrigatória submissão
ao juízo do inventário. Pode ser até mesmo que o juízo do inventário seja
absolutamente incompetente para a questão de alta indagação. É o caso, por
exemplo, de uma discussão sobre apuração de haveres decorrente da disso-
lução parcial de sociedade de que o de cujus era sócio. Trata-se de demanda
de competência do juízo cível ou empresarial, e não do juízo do inventário29.

SOCIEDADES. APURAÇÃO DE HAVERES. ARTS. 984 E 993, PARÁGRAFO ÚNICO, II, DO CPC.
QUESTÕES DE ALTA INDAGAÇÃO. EXTENSA DILAÇÃO PROBATÓRIA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO
DA VARA CÍVEL. RECURSO PROVIDO.
1. “Cabe ao juízo do inventário decidir, nos termos do artigo 984 do CPC, ‘todas as questões
de direito e também as questões de fato, quando este se achar provado por documento, só
remetendo para os meios ordinários as que demandarem alta indagação ou dependerem
de outras provas’, entendidas como de ‘alta indagação’ aquelas questões que não puderem
ser provadas nos autos do inventário” (REsp n. 450.951/DF).
2. Questões de alta indagação, por exigirem extensa dilação probatória, extrapolam a cognição
do juízo do inventário, para onde devem ser remetidos apenas os resultados da apuração
definitiva dos haveres. Interpretação dos arts. 984 e 993, parágrafo único, II, do CPC.
3. É no juízo cível que haverá lugar para a dissolução parcial das sociedades limitadas e conse-
quente apuração de haveres do de cujus, visto que, nessa via ordinária, deve ser esmiuçado,
caso a caso, o alcance dos direitos e obrigações das partes interessadas – os quotistas e as
próprias sociedades limitadas, indiferentes ao desate do processo de inventário.
4. Cabe ao juízo do inventário a atribuição jurisdicional de descrever o saldo advindo com a
liquidação das sociedades comerciais e dar à herança a devida partilha, não comportando
seu limitado procedimento questões mais complexas que não aquelas voltadas para o
levantamento, descrição e liquidação do espólio.
5. Recurso especial provido. (STJ – Acórdão Resp 1459192/Ce, Relator(a): Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, data de julgamento: 23/06/2015, data de publicação: 12/08/2015,
3ª Turma)
29. “PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO
DA VARA DE SUCESSÕES E JUÍZO DA VARA CÍVEL. INVENTÁRIO. DISSOLUÇÃO PARCIAL DE
SOCIEDADES. APURAÇÃO DE HAVERES. ARTS. 984 E 993, PARÁGRAFO ÚNICO, II, DO CPC.
QUESTÕES DE ALTA INDAGAÇÃO. EXTENSA DILAÇÃO PROBATÓRIA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO
DA VARA CÍVEL. RECURSO PROVIDO.
(…) 3. É no juízo cível que haverá lugar para a dissolução parcial das sociedades limitadas
e consequente apuração de haveres do de cujus, visto que, nessa via ordinária, deve ser
esmiuçado, caso a caso, o alcance dos direitos e obrigações das partes interessadas – os
quotistas e as próprias sociedades limitadas, indiferentes ao desate do processo de inventário.
4. Cabe ao juízo do inventário a atribuição jurisdicional de descrever o saldo advindo com a
liquidação das sociedades comerciais e dar à herança a devida partilha, não comportando
seu limitado procedimento questões mais complexas que não aquelas voltadas para o
levantamento, descrição e liquidação do espólio.
5. Recurso especial provido” (STJ – Acórdão Resp 1459192 / Ce, Relator(a): Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, data de julgamento: 23/06/2015, data de publicação: 12/08/2015, 3ª Turma).

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402 INVENTÁRIO E PARTILHA  •  Conrado Paulino da Rosa  |  Marco Antonio Rodrigues

No plano vertical, a cognição no inventário é exauriente, ou seja,


é possível a análise profunda das matérias30. Como acima mencionado,
a cognição é limitada às questões que sejam passíveis de demonstração
por documentos, porém tais matérias serão analisadas com profundidade
pelo juiz.
Importante destacar que a decisão que nega a apreciação de determinada
matéria no inventário, remetendo às vias ordinárias, é pronunciamento que
cuida de questão no curso do processo – sem que a resolva no próprio
inventário –, caracterizando-se como decisão interlocutória, na forma do
artigo 203, § 2º31, do CPC. Assim sendo, caberá agravo de instrumento
em face dela por eventual insatisfeito, na forma do artigo 1015, parágrafo
único, do CPC, conforme será enfrentado no item relativo a recursos.

9.5.1. Cognição no inventário e competência para o


reconhecimento de união estável

O reconhecimento de união estável post mortem do inventariado é


tema que sempre suscita polêmica quanto à sua possibilidade ou não de
reconhecimento nos autos do inventário.
Não raro, diante da divergência entre os herdeiros ou havendo im-
pugnação a respeito do pedido formulado pelo alegado companheiro, se
houver necessidade de produção de prova não documental para comprovação
da relação de companheirismo, será necessário remeter as partes às vias
processuais próprias, diante da limitação de cognição nesse procedimento,
prevista no artigo 612 do CPC.

30. Rafael Lipmann sustenta haver cognição vertical exauriente no caso (Op. cit., p. 1689),
ao passo que Luiz Rodrigues Wambier e Eduardo Talamini apontam se tratar de cognição
sumária (WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil.
12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 330). Luiz Guilherme Marinoni entende
se tratar de cognição plena e exauriente secundum eventum probationis, ou seja, a coisa
julgada só se forma se o conhecimento da questão posta em juízo foi suficientemente
aprofundado pelo órgão jurisdicional (MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz;
MITIDIERO, Daniel. Comentários ao Código de Processo Civil. Op. cit., p. 745).
31. Artigo 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias
e despachos.
§ 1º Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o
pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à
fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução.
§ 2º Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não
se enquadre no § 1º. [...]

Rosa-Rodrigues-Inventario e Partilha-4ed.indb 402 23/12/2021 11:24:30


Parte II – MODELOS 585

1.  ABERTURA DE INVENTÁRIO

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA __ª VARA DE SUCESSÕES DA COMARCA


_________________

______________ (REQUERENTE DO INVENTÁRIO – algum dos legitimados


dos artigos 615 ou 616 do CPC), qualificação, vem, por seu advogado abaixo
assinado (doc. 01 – juntar a procuração), que tem endereço profissional
em ____________, com base no artigo 611 e seguintes do CPC, requerer
a abertura do inventário dos bens deixados por __________ (nome do
falecido), pelos seguintes motivos:
________________ (nome e qualificação do falecido) faleceu em ___ de
___________ de 20___, na cidade de_____________, conforme certidão
de óbito anexa (doc. 02).
O inventariado era casado (ou mantinha união estável, ou era viúvo,
conforme do caso) com _________ (qualificar o cônjuge ou companheiro),
pelo regime_________(indicar o regime de bens) e teve ________ filhos,
sendo _____________ (deve haver a indicação dos nomes e qualificações
dos herdeiros, relatando-se se algum deles é pré-morto, com a juntada da
respectiva certidão de óbito).
____________, filho pré-morto, deixou ____ filhos, que herda-
rão por representação, na forma do artigo 1.851 do CC. São eles:
___________________________ (Deve haver a indicação do nome e da
qualificação dos herdeiros pré-mortos e de suas qualificações). Já o filho
___________ deixou como única herdeira a inventariada (doc. 05).
O inventariado deixou bens a partilhar e testamento (ou não deixou
testamento), conforme comprova a certidão emitida pela CENSEC –
Central Notarial de Serviços Compartilhados (https://censec.org.br).
Requer desde logo a nomeação de ____________ para exercer o cargo
de inventariante, pois se encontra na posse e na administração do espólio
(artigo 617, II, do CPC).
Após a nomeação do inventariante e assinatura do respectivo termo,
requer-se o prosseguimento da demanda judicial, com a apresentação das
“Primeiras Declarações” no prazo legal (artigo 620 do CPC) e o que mais se
fizer necessário até a conclusão do inventário e homologação da partilha,
com a expedição dos respectivos formais.
Por fim, informa a V.Exa. o número da guia de emolumentos judiciais
eletrônica relativa à distribuição deste inventário/requer a juntada da guia
de custas anexa. Tal requerimento pode ser substituído por: requer a V.Exa.

Rosa-Rodrigues-Inventario e Partilha-4ed.indb 585 23/12/2021 11:24:47


586 INVENTÁRIO E PARTILHA  •  Conrado Paulino da Rosa  |  Marco Antonio Rodrigues

a concessão de gratuidade de justiça, por ser o requerente hipossuficiente


economicamente, na forma do artigo 98 do CPC.
Dá-se à causa o valor de R$ _______ (o valor da causa deve corres-
ponder ao valor estimado do monte).
Nestes termos,
Pede deferimento.
______ (Local), ___ de _______ de 20___.

NOME DO ADVOGADO
Número de sua OAB

Documentos a serem juntados:


Doc. 01: Procuração ao advogado
Doc. 02: Certidão de óbito
Outros documentos pertinentes, como eventuais certidões de óbito
de herdeiros pré-mortos, certidão de casamento ou documento referente
à união estável do inventariado e dos herdeiros, a fim de comprovar sua
condição.

Observações:
O requerente da abertura do inventário pode ser qualquer dos legi-
timados constantes dos artigos 615 e 616 do CPC.
O requerimento de nomeação do inventariante é, em regra, de quem
está na posse ou administração do espólio (artigo 615 do CPC), mas
pode ser excepcionalmente relevada essa ordem, diante de circunstâncias
concretas.

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Parte II – MODELOS 587

2.  ARROLAMENTO SUMÁRIO

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA DE SUCESSÕES DA COMARCA


___________________

______________, ______________ e _______________ (NOMES E


QUALIFICAÇÕES DOS HERDEIROS, QUE SÃO CAPAZES E CONCORDES), vêm,
por seu advogado abaixo assinado (Doc. 01), com fulcro no artigo 659 e
seguintes do Código de Processo Civil, requerer o inventário por arrolamento
sumário dos bens deixados por _____________ (NOME E QUALIFICAÇÃO
DO FALECIDO), a seguir expostas:

INVENTARIADO

________________ (NOME DO FALECIDO) faleceu em ________ (data),


na cidade de ________, conforme comprova a certidão de óbito anexa
(doc. 02). era casado (ou mantinha união estável, ou era viúvo, conforme
do caso) com _________ (qualificar o cônjuge ou companheiro), pelo
regime_________(indicar o regime de bens).

HERDEIROS

O inventariado teve ________ filhos: ______________ (NOME E QUA-


LIFICAÇÃO DOS HERDEIROS). Caso tenha havido o falecimento de algum
herdeiro, devem ser indicados o nome e a qualificação dos herdeiros e dos
sucessores também.
Dentre os filhos, indicam de comum acordo o herdeiro ____________
como inventariante, sendo que desde já manifesta concordância com sua
nomeação.
Portanto, são herdeiros do inventariado:
(i)______________________________________________________;
(ii)______________________________________________________;
(iii)____________________ ________________________________; e
(iv)______________________________________________________.

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588 INVENTÁRIO E PARTILHA  •  Conrado Paulino da Rosa  |  Marco Antonio Rodrigues

BENS INVENTARIADOS E ESBOÇO DA PARTILHA


O monte é composto pelos seguintes bens (DEVE HAVER A INDICAÇÃO
DOS BENS E SUA IDENTIFICAÇÃO):
(i)_______________________ Apartamento ___________________;
(ii)______________________ Automóvel _____________________; e
(iii)______________________Aplicação financeira________________.
O total do monte é de R$ _____________ (___________).
Caberão aos herdeiros (devem ser indicadas as frações de cada herdeiro,
assim como os bens e o valor em relação ao monte):

Herdeiro ___________:
(i)_________ (fração) para ________ (Nome do herdeiro), por direito
próprio, equivalente a R$ ___________ (___________ reais); e
(ii)___ ____ para ____________, por direito próprio, equivalente a R$
____________ (______________ reais).

Herdeiro ___________:
(i)_________ (fração) para ________ (Nome do herdeiro), por direito
próprio, equivalente a R$ ___________ (___________ reais); e
(ii)___ ____ para ____________, por direito próprio, equivalente a R$
____________ (______________ reais).

TESTAMENTO
O inventariado não deixou testamento, conforme comprovam as in-
clusas certidões do _______ Distribuidores/ OU: CERTIDÕES DA CENTRAL
DE DISTRIBUIDORES.

***
Diante do exposto, requer seja recebido o presente requerimento e
homologada a partilha acordada entre os herdeiros.
Dá-se à causa o valor de R$________ (o valor da causa é o valor total
indicado para o monte).
Nestes termos,
Pede deferimento.
___________(Local), ___ de ________ de 20___.

NOME DO ADVOGADO
Número de sua OAB

Rosa-Rodrigues-Inventario e Partilha-4ed.indb 588 23/12/2021 11:24:47


Parte II – MODELOS 589

Documentos a serem juntados:


Doc. 01: procuração
Doc. 02: certidão de óbito
Documentos pessoais dos herdeiros, certidão de casamento ou do-
cumento referente à união estável do inventariado e dos herdeiros, a fim
de comprovar sua condição.
Documentos comprobatórios da titularidade dos bens indicados como
pertencentes ao monte a partilhar.

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590 INVENTÁRIO E PARTILHA  •  Conrado Paulino da Rosa  |  Marco Antonio Rodrigues

3.  CUMPRIMENTO DE TESTAMENTO PÚBLICO

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA __ª VARA DE ÓRFÃOS E SUCESSÕES DA


COMARCA __________________

__________________ (NOMES E QUALIFICAÇÕES DOS REQUERENTES


DO CUMPRIMENTO DO TESTAMENTO), vem, por seu advogado abaixo
assinado (doc. 01), que tem endereço profissional em ____________,
apresentar o testamento público de ____________ (NOME E QUALIFI-
CAÇÃO DO FALECIDO), falecido em ___ de ________ de ____, conforme
certidão de óbito anexa (doc. 02), lavrado perante o ___º Serviço Notarial
desta Comarca, no Livro _____, às fls. ___, ato nº ___, de __ de ______
de _____ (doc. 03), para que, ouvido o Ministério Público, V. Exa. mande
registrar, arquivar e cumprir o testamento, na forma dos artigos 736 e
seguintes do CPC.
Requer a V. Exa. se digne determinar a juntada das inclusas certidões
do __________ Ofícios de Distribuidores (doc. 04), a fim de comprovar
que o testador não possuía testamento posterior ao lavrado em ____ de
_________ de ____.
Caso haja acordo entre os herdeiros maiores e capazes: Ademais, diante
da anuência de todos os herdeiros, requer seja autorizada a lavratura de
escritura pública de partilha extrajudicial, evitando-se o desnecessário
processamento de arrolamento judicialmente.
Por fim, informa a V.Exa. o número da guia de emolumentos judiciais
eletrônica relativa à distribuição deste inventário/requer a juntada da guia
de custas anexa. Tal requerimento pode ser substituído por: requer a V.Exa.
a concessão de gratuidade de justiça, por ser o requerente hipossuficiente
economicamente, na forma do artigo 98 do CPC.
Dá-se à causa o valor de R$______ (valor da causa simbólico).
Nestes termos,
Pede deferimento.
______ (Local), ___ de _______ de 20___.

NOME DO ADVOGADO
Número de sua OAB

Rosa-Rodrigues-Inventario e Partilha-4ed.indb 590 23/12/2021 11:24:47

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