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BENS, POSSE E

PROPRIEDADE
LIVRO II: Dos bens (artigos 79 a 99 CC)
LIVRO III: Do Direito das Coisas
TÍTULO I: Da posse (artigos 1196 a 1224 CC)
TÍTULO II: Dos Direitos Reais (art. 1225 CC, propriedade, a
1368 CC)
DIREITOS REAIS: PROPRIEDADE (ART.
1225 CC)
1-PROPRIEDADE: O conceito de propriedade e a função social

REVISÃO
a) HISTÓRIA
A história da propriedade decorre da análise da organização política.
Antes da época romana
PROPRIEDADE DE BENS MÓVEIS, exclusivamente para objetos de uso
pessoal (peças de vestuário, utensílios de caça e pesca).
IMÓVEIS: pertencia a toda coletividade, todos os membros da tribo, da
família, não havendo o sentido de senhoria.
A cultura do solo e a criação de animais: coletividade
A propriedade coletiva primitiva é a primeira manifestação de sua função
social.
Escassez de produtos naturais: deslocamento da tribo
1-PROPRIEDADE: O conceito de propriedade e a função social

REVISÃO
a) HISTÓRIA
Época romana
LEI DAS XII TÁBUAS: noção de propriedade territorial
Lei das XII Tábuas se constitui em uma série de leis confeccionadas e
inscritas em tábuas de carvalho: consideradas um marco na evolução do
Direito Romano
Registro escrito da letra da lei, o que permitia um cumprimento lógico e
rigoroso das regras estabelecidas. Conquista da sociedade plebeia que não
tinha força para fazer prevalecer os seus direitos e vivia submissa à
interpretação dos costumes e dos preceitos religiosos, feita pelos
magistrados e sacerdotes.
Ano 451 a.C. (primeiras X Tábuas) e 450 a.C (II últimas Tábuas).
1-PROPRIEDADE: O conceito de propriedade e a função social

REVISÃO
a) HISTÓRIA
Época romana
Primeiro período do Direito Romano: o indivíduo recebia uma porção de
terra que devia cultivar, mas, uma vez terminada a colheita, a terra
voltava a ser coletiva.
Passou-se ao costume de conceder sempre a mesma porção de terra
às mesmas pessoas ano após ano. Ali o pater familias instala-se,
constrói sua moradia e vive com sua família e escravos.
Propriedade individual e perpétua.
A Lei das XII Tábuas: noção jurídica do jus utendi, fruendi et abutendi
(Direito de usar, fruir e dispor).
1-PROPRIEDADE: O conceito de propriedade e a função social
a)
REVISÃO
HISTÓRIA
Idade média - século V ao século XV.
Seu início foi marcado pela queda do Império Romano do Ocidente, em 476, e o
fim, pela tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453.
A propriedade perde o caráter unitário e exclusivista.
Os humanistas do século XV e XVI chamavam a Idade Média de Idade das
Trevas. Afirmavam que havia ocorrido na Europa, um retrocesso artístico,
intelectual, filosófico e institucional, em relação à produção da Antiguidade
Clássica.
Direito Canônico: o homem está legitimado a adquirir bens, pois a propriedade
privada é garantia de liberdade individual.
Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino: a propriedade privada é inerente à
própria natureza do homem que, no entanto, deve fazer justo uso dela.
1-PROPRIEDADE: O conceito de propriedade e a função social
a)
REVISÃO
HISTÓRIA
Revolução francesa
A partir do século XVIII, a escola do direito natural passa a reclamar leis
que definam a propriedade. A Revolução Francesa recepciona a ideia
romana.
Revolução Francesa: resultado da crise que a França vivia no final do
século XVIII. A insatisfação popular (com a crise econômica e política
que o país vivia) + interesses da burguesia= implantar no país as ideias
do Iluminismo como forma de combater os privilégios da aristocracia
francesa.
Tentativas de reforma haviam sido propostas, mas não avançaram.
Aristocracia francesa: manter os privilégios.
1-PROPRIEDADE: O conceito de propriedade e a função social
a)
REVISÃO
HISTÓRIA
Revolução francesa – ano 1789
França vivia uma crise econômica grave. Pobreza e a fome levaram a população a
um estado de quase rebelião.
12 de julho de 1789: a população francesa tomou as ruas de Paris.
13 de julho de 1789: criada uma Comuna para governar Paris e uma Guarda
Nacional, espécie de milícia popular.
14 de julho de 1789: a população partiu para tomar armas e pólvora do governo.
Houve o ataque à Bastilha (antiga fortaleza usada para aprisionar opositores dos
reis franceses). Neste dia, houve a Queda da Bastilha: a população francesa
invadiu e tomou o controle da prisão que era o símbolo da opressão absolutista.
Depois disso, a revolução espalhou-se pelo país, alcançando novas cidades e
chegando ao campo.
1-PROPRIEDADE: O conceito de propriedade e a função social
a)
REVISÃO
HISTÓRIA
Revolução francesa – ano 1789
10 anos de instabilidade política e social, mas que trouxe a conquista de muitos
direitos e popularização de ideais (república, separação de poderes, início da
consolidação do capitalismo, igualdade de todos perante a lei etc).
Começa a crescer o apoio a Napoleão Bonaparte, general do exército francês que
liderava as tropas francesas contra as coalizões internacionais. Napoleão organizou
um golpe e tomou o poder em um evento conhecido como Golpe do 18 de
Brumário, que aconteceu em 1799.
Código de Napoleão, art. 544:
“a propriedade é o direito de gozar e dispor das coisas do modo mais absoluto,
desde que não se faça uso proibido pelas leis ou regulamentos”.
Ideia individualista do direito de propriedade
Século XIX: passou-se a buscar um sentido social para a propriedade

REVISÃO
b) DEFINIÇÃO DE PROPRIEDADE
A PROPRIEDADE está inserida no estudo dos DIREITOS REAIS (art. 1225 CC).
Entende-se por direito real a relação jurídica em razão da qual o titular pode retirar
do bem as utilidades que ele é capaz de produzir

E o art. 1228 CC disciplina as faculdades e direitos inerentes à propriedade:


Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o
direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou
detenha.

O direito de propriedade é o direito mais amplo da pessoa em relação à coisa.


Esta fica submetida à senhoria do titular, do dominus, do proprietário.
 Usar (jus utendi): o direito de uso concede ao proprietário utilizar determinado bem de
forma plena, satisfazendo as necessidades do proprietário de todas as formas possíveis
REVISÃO
e dentro dos limites que a lei permitir, aproveitando as funcionalidades que o bem pode
oferecer. Há restrições, por exemplo, no DIREITO DE VIZINHANÇA, na FUNÇÃO
SOCIAL DA PROPRIEDADE.
Para o professor SILVIO DE SALVO VENOSA, a faculdade de usar é colocar a coisa a
serviço do titular sem lhe alterar a substância. O proprietário usa seu imóvel quando nele
habita ou permite que terceiro o faça. Esse uso inclui também a conduta estática de manter
a coisa em seu poder, sem utilização dinâmica. Usa de seu terreno o proprietário que o
mantém cercado sem qualquer utilização. O titular serve-se, de forma geral, da coisa.

 Fruir (jus fruendi): o direito de fruir garante ao proprietário utilizar do bem com a
finalidade de explorá-lo economicamente, percebendo benefícios que a propriedade
possa proporcionar ao titular.
SILVIO DE SALVO VENOSA ensina: gozar do bem significa extrair dele benefícios e
vantagens. Refere-se à percepção de frutos, tanto naturais como civis.
Sílvio de Salvo Venosa, Direito Civil - Direitos Reais - Vol. 4.
 Dispor (jus disponendi): aquele que detém os poderes plenos da propriedade é
garantido o direito de alienar, doar, consumir. É o poder de dispor que manifesta o
REVISÃO
verdadeiro titular do direito de propriedade.
SILVIO DE SALVO VENOSA afirma que a faculdade de dispor envolve o poder de
consumir o bem, alterar-lhe sua substância, aliená-lo ou gravá-lo. É o poder mais
abrangente, pois quem pode dispor da coisa dela também pode usar e gozar. Tal
faculdade caracteriza efetivamente o direito de propriedade, pois o poder de usar e
gozar pode ser atribuído a quem não seja proprietário. O poder de dispor somente o
proprietário o possui. A expressão abutendi do Direito Romano não pode ser
simplesmente entendida como abusar da coisa, que dá ideia de poder ilimitado,
ideia não verdadeira mesmo no direito antigo. Abutendi não possui o sentido nem de
abusar nem de destruir, mas de consumir. Daí por que o termo utilizado na lei,
disposição, é mais adequado. Não se distancia, contudo, do sentido de destruição
da coisa quando o proprietário a aliena, pois o bem desaparece de seu patrimônio.
Sílvio de Salvo Venosa, Direito Civil - Direitos Reais - Vol. 4.
 Reaver (jus reivindicato): o direito de reaver garante ao titular reivindicar o bem
de quem quer que injustamente o detenha, utilizando legitimamente todos os
REVISÃO
meios de defesa. Dessa forma, quando um proprietário for privado do seu bem,
poderá se valer de ação petitória (não confundir com ações possessórias, em
que não se discute propriedade, em tese), de natureza dominial, qual seja, a
AÇÃO REIVINDICATÓRIA, com vista a retomar o bem que se encontre
indevidamente em poder de outrem. O objetivo do autor dessa demanda é que o
possuidor ou detentor restitua o bem com todos os seus acessórios.
A AÇÃO DE IMISSÃO DE POSSE também é ação dominial e garante ao
proprietário que jamais exerceu a posse, postulá-la de quem a injustamente a
detenha.

O direito de propriedade é absoluto? E é o direito real mais amplo, mais extenso


Durante toda a história, o direito de propriedade sempre foi considerado absoluto
(inatingível, sem limitações ou quaisquer restrições ao seu exercício).
REVISÃO
Com o passar dos anos, houve alteração: anseios sociais por uma justa distribuição
de riquezas, o direito de propriedade deixou de ser absoluto para se tornar relativo.

Apesar do direito de propriedade se constituir em direito real, oponível erga omnes


a CF trouxe o instituto da função social da propriedade, que condiciona o
exercício do direito de propriedade ao cumprimento da função social, pois não será
admitida a subutilização dos bens, desvinculada de qualquer compromisso social
e econômico.
Além disso, a possibilidade de penhora do imóvel, a desapropriação, a
usucapião e a busca e apreensão em imóvel são algumas das tantas
modalidades de relativização do direito de propriedade.
Ainda, o interesse coletivo pode triunfar sobre o individual em casos de relevância
artística, cultural ou histórica: tombamento de bem imóvel particular.
Durante toda a história, o direito de propriedade sempre foi considerado absoluto
(inatingível, sem limitações ou quaisquer restrições ao seu exercício).
REVISÃO
Com o passar dos anos, houve alteração: anseios sociais por uma justa distribuição
de riquezas, o direito de propriedade deixou de ser absoluto para se tornar relativo.

Apesar do direito de propriedade se constituir em direito real, oponível erga omnes


a CF trouxe o instituto da função social da propriedade, que condiciona o
exercício do direito de propriedade ao cumprimento da função social, pois não será
admitida a subutilização dos bens, desvinculada de qualquer compromisso social
e econômico.
Além disso, a possibilidade de penhora do imóvel, a desapropriação, a
usucapião e a busca e apreensão em imóvel são algumas das tantas
modalidades de relativização do direito de propriedade.
Ainda, o interesse coletivo pode triunfar sobre o individual em casos de relevância
artística, cultural ou histórica: tombamento de bem imóvel particular.
Mas a propriedade é exercida nos limites de sua utilidade e interesse.

REVISÃO
Art. 1.229 CC: A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo
correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não
podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por
terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse
legítimo em impedi-las.

Se o proprietário do imóvel encontrar uma jazida de esmeraldas ou petróleo


no subsolo do seu imóvel, poderá explorá-los?
Art. 1.230 CC. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais
recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos
REVISÃO
arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais.
Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos
minerais de emprego imediato na construção civil, desde que não submetidos
a transformação industrial, obedecido o disposto em lei especial.
As riquezas do subsolo, entre nós, são objeto de propriedade distinta para efeito de
exploração e aproveitamento industrial de acordo com o ordenamento (arts. 176 e
177 da Constituição).
Art. 176 CF. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os
potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo,
para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida
ao concessionário a propriedade do produto da lavra.
Jazidas, minas e demais recursos minerais, achados arqueológicos, quedas
d’água e outras fontes de energia hidráulica.
Os bens que podem ser objeto do direito de propriedade, pertencentes a pessoa
natural ou jurídica, são divididos em:
I.
REVISÃO
bens materiais ou corpóreos: perceptíveis pelos nossos sentidos. Exs. móveis e
imóveis;
II. bens incorpóreos ou intangíveis: são aqueles abstratos, de visualização ideal, que
não possuem existência física. Exs. uma patente, uma propriedade intelectual ou
artística, crédito, vida, saúde, liberdade etc.
A propriedade pode se classificar em:
III.Propriedade plena ou alodial: o proprietário possui consigo todos os direitos
inerentes à propriedade (usar, gozar, dispor e reaver a coisa);
IV.Propriedade limitada: se contrapõe à propriedade plena. O proprietário não possuir
um ou mais direitos inerentes à propriedade, conforme art. 1.228 CC. Ex. recai sobre
a propriedade algum ônus, como hipoteca ou usufruto ou servidão, ou seja, alguns
dos poderes inerentes a propriedade passam a ser de outrem, provisoriamente ou
em definitivo.
Art. 1.231. A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário.
O direito propriedade é perpétuo: não pode se extinguir pelo não uso.

REVISÃO
A usucapião traduz atitude ativa do usucapiente que adquire a propriedade, não se
destacando a atitude passiva daquele que a perde.
Art. 1.232. Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando
separados, ao seu proprietário, salvo se, por preceito jurídico especial,
couberem a outrem.
O direito aos frutos (civis, industriais e naturais) é modalidade do gozo da coisa (jus
fruendi), estendendo-se a todas as utilidades produzidas por ela. Por essa
disposição legal, são sempre do seu proprietário, mesmo quando separados
(desligados da coisa que o produziu), admitindo-se que outra norma jurídica
especial disponha ao contrário.
Frutos naturais: são aqueles originados pela própria natureza da coisa (leite, a
soja, a laranja); Frutos industriais: são os decorrentes da atividade industrial
humana exemplo: bens manufaturados; Frutos civis: os rendimentos oriundos da
fruição da coisa (aluguel, juros).
c) CONCEITO DE FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE

REVISÃO
A CF já havia tratado do tema em diversos dispositivos:
DIREITOS E GARANTIAS Art. 5º.
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade
ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia
indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição;
DA ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA Art. 170. A ordem econômica,
fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios:
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
c) CONCEITO DE FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE

REVISÃO
POLÍTICA URBANA Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo
Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo
ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-
estar de seus habitantes
§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências
fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
DA POLÍTICA AGRÍCOLA E FUNDIÁRIA E DA REFORMA AGRÁRIA. Art. 186. A função
social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo
critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
c) CONCEITO DE FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE

REVISÃO
O CC tratou expressamente da função social da propriedade, indicando a
finalidade como princípio orientador, inclusive sob o aspecto ambiental:
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o
direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou
detenha.
§ 1º. O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas
finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de
conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas
naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como
evitada a poluição do ar e das águas.
CF inspirada em Leon Duguit: “para quem a propriedade já não é o direito
subjetivo do indivíduo, mas uma função social a ser exercida pelo detentor da
riqueza”
c) CONCEITO DE FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE

REVISÃO
Conforme ensina Orlando Gomes, em lições que devem ser destacadas:
“Pode-se concluir que pela necessidade de abandonar a concepção romana da
propriedade, para compatibilizá-la com as finalidades sociais da sociedade
contemporânea, adotando-se, como preconiza André Piettre, uma concepção
finalista, a cuja luz se definam as funções sociais desse direito. No mundo
moderno, o direito individual sobre as coisas impõe deveres em proveito da
sociedade e até mesmo no interesse de não proprietários. Quando tem por
objeto bens de produção, sua finalidade social determina a modificação conceitual
do próprio direito, que não se confunde com a política de limitações específicas ao
seu uso. A despeito, porém, de ser um conceito geral, sua utilização varia conforme
a vocação social do bem no qual recai o direito – conforme a intensidade do
interesse geral que o delimita e conforme a sua natureza na principal rerum divisio
tradicional. A propriedade deve ser entendida como função social tanto em relação
aos bens imóveis como em relação aos bens móveis” (GOMES, Orlando. Direitos
reais..., 2004, p. 129).
c) CONCEITO DE FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE

REVISÃO
A Encíclica Mater et Magistra do Papa João XXIII, de 1961, ensina que:
a propriedade é um direito natural, mas esse direito deve ser exercido de acordo
com uma função social, não só em proveito do titular, mas também em
benefício da coletividade. Destarte, o Estado não pode se omitir no ordenamento
sociológico da propriedade. Deve fornecer instrumentos jurídicos eficazes para o
proprietário defender o que é seu e que é utilizado em seu proveito, de sua
família e de seu grupo social. Deve, por outro lado, criar instrumentos legais
eficazes e justos para tornar todo e qualquer bem produtivo e útil. Bem não
utilizado ou mal utilizado é constante motivo de inquietação social. A má
utilização da terra e do espaço urbano gera violência. O instituto da
desapropriação para finalidade social deve auxiliar a preencher o desiderato da
justa utilização dos bens.
Baseado nisso, o legislador civil disciplinou no art. 1.228, § 4º, do Código Civil de 2002:

REVISÃO
O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir
em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de
considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou
separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e
econômico relevante.
O dispositivo legal aborda situações objetivas e subjetivas.
Subjetivas:
Extensa área? Urbana ou rural?
Considerável número de pessoas? 5, 10, 50 pessoas?
Conjunto ou separadamente? Se há 100 pessoas e somente 2 realizaram obras relevantes?
Obras e serviços considerados de interesse social e econômico relevante? Exige-se produtividade e
geração de riquezas?
Objetivas:
Posse ininterrupta e de boa fé
Mais de cinco anos (5 anos e 1 dia)
CONCLUSÃO: O CONSTITUINTE E O LEGISLADOR pretendem que a
REVISÃO
propriedade imobiliária seja operativa e eficiente. Nesse caso, o
proprietário estará resguardado.
Mas se houver abandono e desídia, o proprietário não terá favores
legais. A prescrição aquisitiva do possuidor contrapõe-se, como regra
geral, à perda da coisa pelo desuso ou abandono do proprietário. O
instituto da usucapião é veículo perfeito para conciliar o interesse
individual e o interesse coletivo na propriedade. A finalidade da
usucapião é justamente atribuir o bem a quem dele utilmente se serve
para moradia ou exploração econômica. O Estado também poderá
intervir se as riquezas não forem bem utilizadas ou relegadas ao
abandono, redistribuindo-as aos interessados e capazes de fazê-lo.

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