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1. INTRODUÇÃO

Com a evolução do Estado do absolutismo monárquico para um modelo Liberal


- iluminista e posteriormente para um modelo de Estado Social, o conhecimento
formulou-se a partir de bases científicas.
Estrutura econômica foi influenciada com os efeitos da Revolução Industrial e
atualmente vislumbra-se um avanço da tecnologia. A ciência do Direito, não ficou à
espreita dessas transformações que ocorreram no seu seio, se não homogeneamente,
certamente em toda sua extensão. O Direito Agrário, como ramificação do Direito
também não ficou à deriva nesse processo, se compôs como campo de atuação num
conjunto de matérias que compõe o sistema jurídico.
Nos contratos agrários, a legislação específica trouxe para sua disciplina as mais
recentes conquistas da dogmática jurídica que procuraram tornar ainda mais eficazes e
eficientes os mecanismos fomentados pelas políticas estatais, colocando-os em
conformidade na busca dos objetivos colimados pelo conjunto da sociedade fazendo luz
nesse contexto, a função social da propriedade como princípio que emana em qualquer
espécie de negócios jurídicos cujo conteúdo verse sobre propriedade e posse de bens. O
Direito Agrário é o ramo do Direito onde os negócios jurídicos que dele se originam,
apresentam-se como um dos mais sensíveis nas modificações sócio-político-jurídicas.
Diante do exposto, faz-se mister, em qualquer estudo que aborde o direito
agrário, a abordagem a cerca da função social da propriedade que é a face mais
proeminente das novas concepções político-jurídicas. A função social da propriedade,
princípio que hoje se encontra dentre as normas constitucionais sujeitas a uma rigidez
de nível máximo, é instituto jurídico que alicerça os contratos agrários. Apresentaremos
um esboço da função social da propriedade dando especial enfoque à irradiação de sua
influência à luz da Constituição Federal.

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2. CONCEITO 
A noção de função social da propriedade é uma cizânia entre autores, alguns
estabelecem que uma ligação entre proteção da propriedade individual e utilização da
propriedade de acordo com as expectativas da sociedade.
Cumpre citar a definição objetiva de função social da propriedade: trata-se de
concepção de função, atribuída ao bem, que impõe a adoção, partindo do Estado, de
medidas fundamentadas no bem comum, através da intervenção de natureza econômica,
tendo em vista a necessidade de gerir a situação jurídica, individual, de exercício do
direito de propriedade.

Para estudar a função social da propriedade torna-se necessário conceituar os


institutos da desapropriação, reforma agrária e interesse social. A desapropriação é a
atuação da vontade do Estado, consistente na retirada de bem de um patrimônio, em
atendimento do interesse publico, mediante indenização.

Constata-se no conceito acima, que o integra a finalidade, que é a satisfação do


interesse público, compreendido como o fundamento deste instituto. É a necessidade do
bem para a realização do interesse público que leva o Estado a retirar esse bem de um
patrimônio particular, obrigando-se a indenizar. O interesse público, na fórmula
constitucional, desdobra-se em necessidade pública, utilidade pública e interesse social.

Tratando-se de interesse social vinculado à função social da propriedade


imobiliária rural, que envolve o aproveitamento racional e adequado, conforme se
depreende do art. 186, inciso I, da Constituição brasileira, dispositivo constitucional que
indica a expressão interesse social compreende sanção pelo exercício do direito de
propriedade em desconformidade com o socialmente almejado ou de maneira, objetiva
condicionar o exercício da propriedade a sua função social, assim, poder-se-ia dizer que
o interesse social, nos termos constitucionais desses mandamentos citados, significa
cumprimento da função social.

A legislação brasileira indica os casos da necessidade e utilização com relação


ao interesse social, enumerados, em especial, pela Lei 4.132/62, que dispõe os casos de
desapropriação por interesse social e pela Lei 4.504/64, Estatuto da Terra.

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3- ANTECEDENTES 

A função social da propriedade,como doutrina, tem sua origem nos escritos


de São Tomás de Aquino, para o qual o conceito de propriedade privada era visto em
três planos distintos na ordem de valores:

1) O homem, que em razão de sua natureza específica, animal e racional,


tem um direito natural ao apossamento dos bens materiais.

2) A apropriação dos bens, qual gera, em última instância, no direito de


propriedade propriamente dito.

3) No condicionamento da propriedade ao momento histórico de cada povo,


desde que não se chegue ao extremo de negá-la.

A doutrina da "função social da propriedade" tem como finalidade dar


sentido mais amplo ao conceito econômico de propriedade, encarando-a como uma
riqueza que se destina à produção de bens que satisfaçam as necessidades sociais,
transcendendo a noção de instrumento de satisfação unicamente das necessidades do
titular desse direito.

Nas Revoluções Liberiais, especialmente na Revolução Francesa, houve o


estabelecimento da função social como parâmetro de fruição do direito de propriedade,
chegando, inclusive, a Declaração dos Direitos do Homem, a inovar a ordem jurídica
com o surgimento do princípio da desapropriação por utilidade pública, a qual foi
depois inserida na Constituição de 1791 e no Código Civil de Napoleão Bonaparte.

Vale ressaltar, também, a inegável carga de influência da sociolgia na


formulação do coneceito da função social da propriedade. Augusto Comte, antes dos
juristas franceses que melhor sustentaram essa teoria, defendeu a função social da
propriedade, ao condenar os abusos do sistema capitalista de propriedade e ao mesmo
tempo as doutrinas socialistas consideradas por ele como utopias ou extravagâncias.

A origem constitucional da função social da propriedade data da


Constituição do México de 1917. Em seu Capítulo II, afirma a mesma:

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“1º - A fim de se realizar a socialização da terra, é abolida a propriedade
privada da terra; todas as terras passam a ser propriedade nacional e são
entregues aos trabalhadores sem qualquer espécie de indenização, na base
de uma repartição igualitária em usufruto.

2º As florestas, o subsolo e as águas que tenham importância nacional,


todo o gado e todas as alfaias, assim como todos os domínios e todas as
empresas agrícolas-modelos passam a ser propriedade nacional.”

Em um segundo momento de constitucionalização desse princípio, a


Constituição de Weimar, Alemanha, de 1919, em seu Art. 153, alínea II, traduziu a
função social da propriedade através de uma fórmula célebre : “a propriedade obriga”.
Diz o citado texto:

“Art. 153. A propriedade é garantida pela Constituição. Seu conteúdo e seus


limites resultam das disposições legais. (...) A propriedade obriga. Seu uso deve,
ademais, servir ao bem comum.”

Em um plano mais contemporâneo à nossa época, a Declaração Universal


dos Direitos do Homem, aprovada a 10 de dezembro de 1948, por iniciativa da ONU,
estabelece em seu artigo XVII:

“1 - Toda a pessoa tem direito à propriedade, individual e coletivamente.

2 -  Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.”

Percebe-se com uma leitura atenta que a preocupação do enunciado da


Declaração Universal dos Direitos do Homem se referia, principalmente, ao acesso à
propriedade. Por outro lado, a Constituição de Weimar afirma que a propriedade obriga,
sem definição exata da extensão dessa obrigação, além de não se referir ao acesso. Essa
indefinição quanto à função social da propriedade foi apontada pelo Pacto Internacional
sobre Direitos Econômicos Sociais e Culturais, em 1966. Afinal, tanto poderia
representar o próprio acesso ao bem, como também significar o fundamento para
regulamentação de exercício do direito de propriedade. Tal indefinição foi sanada em
julho 1976, com a Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos, que
publicou ato normativo internacional afirmando que a função social da propriedade
estaá fundamentada nos dois critérios descritos anteriormente: inicialmente seria
regulamentação de uso, cujo objeto estaria, também, no acesso à propriedade como
resultado da regulamentação.

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4. RECEPÇÃO CONCEITUAL NO BRASIL 

Muito embora o direito à propriedade privada já fosse tema debatido pelo


ordenamento, o tema, especialmente no que tange à Função Social da Propriedade
ganhou relevância com o advento da Constituição de 1934, que, cujo direito à
propriedade não poderia ser exercido contra o interesse social ou coletivo. Princípios
tais que foram mantidos nas Constituições de 1937 e de 1942.
Posteriormente o tema foi ganhando mais peso. De forma mais objetiva, já na
Constituição de 1946, o uso da propriedade obrigatoriamente, estava condicionado ao
bem-estar social, preconizando, em seus artigos 141, §16, e 147, que se promovesse a
justa distribuição da propriedade, com igual oportunidade para todos.
No ano de 1962, foi editada a Lei nº 4.132, que, ainda que timidamente, passou a
regular a desapropriação por interesse social.
Com a Constituição Federal de 1967 e a Emenda Constitucional nº. 1 o direito à
propriedade finalmente foi dotado de uma Função Social, propriamente dita.
Preocupação esta, ensejada pela festejada Lei 4.504, de 30.11.64 – o Estatuto da Terra,
primeira legislação latino-americana a tratar sobre reforma agrária, bem como, a definir
a função social da propriedade, estabelecendo, inclusive, os seus requisitos essenciais.
Contudo, foi com o nascimento da Constituição Federal de 1988, conhecida também
como, Constituição Cidadã, que o Direito à Propriedade e a sua Função Social
ganharam peso.
Ladeado às garantias e direitos fundamentais à vida, à liberdade, à igualdade e à
segurança, o direito à propriedade emerge no seio da Constituição Federal de 1988
como direito e garantia fundamental ao cidadão. Inserto em diversos dispositivos da Lei
Maior, constitui, outrossim, um dos princípios da ordem econômica e financeira, cuja
finalidade é assegurar uma existência digna a todos (CF/88 – ART. 5, XXII, XLI, E
ART. 170, II).
Adiante, em seu Art. 5º. inciso XXIII, da Carta Magna, determina que, a
propriedade atenderá a sua função social, seja ela rural ou urbana, a propriedade deverá
cumprir sua função social. Desta forma, ainda tendo ganhado contorno de direito
fundamental, o seu exercício não é absoluto. Uma das balisas que a Carta Magna
instituiu, decorre justamente, da sobredita função social da propriedade, princípio de
ordem pública que subsume o exercício deste direito à defesa ao meio ambiente e do
bem estar comum da sociedade, como instrumento de pacificação social.

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Do prisma constitucional positivo, foi a Constituição de 1934 a que

primeiro referiu-se ao exercício do direito de propriedade subordinado ao interesse

social ou comum, ainda que sem mencionar explicitamente o princípio da função social

da propriedade. Essa Constituição também inovou na temática constitucional ao instituir

um título destinado à ordem econômica e social, no qual se afirmava que “A ordem

econômica deve ser organizada conforme os princípios da Justiça e as necessidades da

vida nacional”. As Constituições de 1824 e de 1891 apenas referiam-se ao direito de

propriedade como passível de ser atingido pelo jus imperium do Estado no que se refere

à possibilidade de desapropriação sem condicioná-lo, contudo, à satisfação de fins

sociais. Vejamos os textos constitucionais pertinentes em ANEXO I

5- PRINCÍPIO NO ART 186 CF/88

Em se tratando de pequenas e médias propriedades rurais, é importante ressaltar que nos


termos da Lei 8629/93 e do artigo 185 da Constituição Federal, estas não podem ser
objeto de reforma agrária, se o proprietário não for titular de outra propriedade.

Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária:


I – a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu
proprietário não possua outra;
 · Lei nº 8629, de 25.2.1993, que dispõe sobre a regulamentação dos
dispositivos constitucionais relativos à reforma agrária, previstos no
Capítulo III, Título VII, da Constituição Federal.

II – a propriedade produtiva.
Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará
normas para o cumprimento dos requisitos relativos a sua função social.
 · Lei nº 8629, de 25.2.1993, que dispõe sobre a regulamentação dos
dispositivos constitucionais relativos à reforma agrária, previstos no
Capítulo III, Título VII, da Constituição Federal.

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Porém, podemos observar algumas exceções na jurisprudência:

"É possível decretar-se a desapropriação-sanção, mesmo que se trate de pequena ou de


média propriedade rural, se resultar comprovado que o proprietário afetado pelo ato
presidencial também possui outra propriedade imobiliária rural. Não incidência, em tal
situação, da cláusula constitucional de inexpropriabilidade (CF, art. 185, I, in fine),
porque descaracterizada, documentalmente (certidão do registro imobiliário), na
espécie, a condição de uni titularidade dominial da impetrante. A questão do conflito
entre o conteúdo da declaração expropriatória e o teor do registro imobiliário: quod non
est in tabula, non est in mundo (CC/1916, art. 859; CC/2002, art. 1.245, §§ 1º e 2º, e art.
1.247). Eficácia do registro imobiliário: subsistência (LRP, art. 252). Irrelevância, no
entanto, na espécie, do exame da alegada divergência, considerada a existência, no caso,
de outra propriedade imobiliária rural em nome da impetrante." (MS 24.595, Rel. Min.
Celso de Mello, julgamento em 20-9-06, DJ de 9-2-07)
"A saisine torna múltipla apenas a titularidade do imóvel rural, que permanece uma
única propriedade até que sobrevenha a partilha (art. 1.791 e parágrafo único do vigente
Código Civil). A finalidade do art. 46, § 6º, do Estatuto da Terra (Lei n. 4.504/64) é
instrumentar o cálculo do coeficiente de progressividade do Imposto Territorial Rural-
ITR. O preceito não deve ser usado como parâmetro de dimensionamento de imóveis
rurais destinados à reforma agrária, matéria afeta à Lei n. 8.629/93. A existência de
condomínio sobre o imóvel rural não impede a desapropriação-sanção do art. 184 da
Constituição do Brasil, cujo alvo é o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função
social. Precedente (MS n. 24.503, Relator o Ministro Marco Aurélio, DJDJ de 3-6-
2005). O registro público prevalece nos estritos termos de seu conteúdo, revestido de
presunção iuris tantum. Não se pode tomar cada parte ideal do condomínio, averbada no
registro imobiliário de forma abstrata, como propriedade distinta, para fins de reforma
agrária. Precedentes (MS n. 22.591, Relator o Ministro Moreira Alves, DJ de 14-11-
2003 e MS n. 21.919, Relator o Ministro Celso de Mello, DJ de 6-6-97).” (MS 24.573,
Rel. p/ o ac. Min. Eros Grau, julgamento em 12-6-06, DJ de 15-12-06). No mesmo
sentido: MS de 5-9-2003). O cadastro efetivado pelo SNCR-INCRA possui caráter
declaratório e tem por finalidade: i) o levantamento de dados necessários à aplicação
dos critérios de lançamentos fiscais atribuídos ao INCRA e à concessão das isenções a
eles relativas, previstas na Constituição e na legislação específica; e ii) o levantamento
sistemático dos imóveis rurais, para conhecimento das condições vigentes na estrutura

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fundiária das várias regiões do País, visando à provisão de elementos que informem a
orientação da política agrícola a ser promovida pelos órgãos competentes. O conceito de
imóvel rural do art. 4º, I, do Estatuto da Terra, contempla a unidade da exploração
econômica do prédio rústico, distanciando-se da noção de propriedade rural. Precedente
(MS n. 24.488, Relator o Ministro Eros Grau, 26.129, Rel. Min. Eros Grau, julgamento
em 14-6-07, DJ de 24-8-07.)

 6- A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE PRODUTIVA: ABORDAGEM


CIVILISTA VERSUS CONSTITUCIONAL

Uma questão que se levanta na análise da função social da propriedade é a da


sua natureza jurídica, se limitação ou elemento essencial do direito de propriedade. Há
entendimento doutrinário divergente sobre esse questionamento. A importância dessa
questão reside no fato de se atribuir ou não ao direito de propriedade uma condicionante
essencial ao seu exercício que se parametrize por interesses não privatísticos, mas
coletivos ou sociais.
Passemos à análise do ordenamento jurídico para construção de uma concepção
sobre isso.
Segundo o Art. 1.228 do Código Civil de 2002:
“O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito
de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.”
Dito de forma parafraseada com o artigo, “é o direito de usar, gozar e dispor
da coisa da maneira mais completa possível, e o direito de reavê-la do poder de quem
quer que injustamente a possua ou a detenha.”
Não se menciona no sub sistema jurídico civil a função social no rol de
elementos constitutivos do direito de propriedade. Contudo, há uma permeabilidade de
todo sistema jurídico às normas constitucionais, sendo, por isso, necessário para
compreensão e aplicação de qualquer enunciado de valor normativo a compatibilização
ou harmonização dessa norma em específico com o conteúdo constitucional.
Já mencionamos que a Lei Fundamental em vigor adotou a função social da
propriedade e ao reconhecer essa função, a Constituição não denega o direito exclusivo
o dono sobre a coisa, mas exige que o uso desta seja condicionado ao bem-estar
coletivo. A utilização em prol do social passa a ser uma obrigação do titular do direito

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de propriedade, que somente o conservará integralmente se mantiver a função social do
mesmo.
Essa concepção de propriedade pela Constituição Federal se harmoniza com o
entendimento de que a função social da propriedade é uma condicionante essencial ao
exercício desse direito, não sendo, portanto, tutelada juridicamente a propriedade que
não atenda essa função finalística. O direito à propriedade convive inseparavelmente, no
atual sistema constitucional brasileiro, com o exercício da função social desse mesmo
direito. É lógico, portanto, concluir que a função social não é uma limitação do uso da
propriedade, mas um elemento essencial, interno, que compõe a definição da
propriedade. Só se legitima no ordenamento jurídico brasileiro a propriedade que
cumpre a função social. A propriedade que descumpre a função social não pode ser
objeto de proteção jurídica. Sobre esse entendimento, o Supremo Tribunal Federal se
pronunciou no sentido de que:
“O direito de propriedade não se reveste de caráter absoluto, eis que, sobre ele,
pesa grave hipoteca social, a significar que, descumprida a função social que
lhe é inerente (CF, art. 5º, XXIII), legitimar-se-á a intervenção estatal na esfera
dominial privada, observados, contudo, para esse efeito, os limites, as formas e
os procedimentos fixados na própria Constituição da República.

....

Incumbe, ao proprietário da terra, o dever jurídico-social de cultivá-la e de


explorá-la adequadamente, sob pena de incidir nas disposições constitucionais e
legais que sancionam os senhores de imóveis ociosos, não cultivados e/ou
improdutivos, pois só se tem por atendida a função social que condiciona o
exercício do direito de propriedade, quando o titular do domínio cumprir a
obrigação (1) de favorecer o bem-estar dos que na terra labutam; (2) de manter
níveis satisfatórios de produtividade; (3) de assegurar a conservação dos
recursos naturais; e (4) de observar as disposições legais que regulam as justas
relações de trabalho entre os que possuem o domínio e aqueles que cultivam a
propriedade.”
(INFORMATIVO Nº 301, Invasão de Terras, Reforma Agrária e Movimentos
Sociais Organizados (Transcrições), ADI – 2213)

7 - A QUESTÃO DA REFORMA AGRÁRIA À LUZ DO PRINCÍPIO DA P.P.


 
A reforma agrária visa promover a distribuição de terras rurais, a fim de dá
função social as que se concentram na mão de poucos proprietários, formando
latifúndios, ou seja, grande partes de terras, das quais a maioria não é cultivada.

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Nesse sentido, é correto afirmar que uma vez improdutiva uma propriedade, deve a
mesma ser desapropriada pelo poder-dever do estado, buscando a reforma agrário; fato
contrário a propriedade produtiva que dá destinação à terra. Tal decorre da função social
da propriedade rural, condicionante imposta pela Constituição Federal de 1988, como
limite ao exercício do direito da propriedade enquanto direito fundamental, insertos em
seu artigo 185.
Da análise do dispositivo legal, depreende-se que é remetida a lei como
instrumento adequado para fixar os requisitos do exato cumprimento da função social.
Nesse mesmo sentido, o legislador constitucional continua no artigo 186 dispondo que
“A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente,
segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei”, estipulando requisitos
como o aproveitamento racional e adequado da propriedade, a utilização adequada dos
recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente, a observância das
disposições que regulam as relações de trabalho, e a exploração que favoreça o bem-
estar dos proprietários e dos trabalhadores.

Tal dispositivo legal é, na concepção da doutrina majoritária, taxativo, e não meramente


enunciativo ou exemplificativo. Ademais, nota-se que o conceito de propriedade
produtiva funcional do Texto Constitucional é antagônico ao de função anti-social da
propriedade. Ou seja, o tratamento jurídico dispensado ao domínio das terras agrícolas
repousa sobre o binômio propriedade produtiva- função social da propriedade.

A lei confere tratamento especial de um regime mais benéfico às propriedades


produtivas do que para aquelas tidas por não satisfatoriamente produtivas. No entanto,
exige-se das propriedades produtivas que cumpram sua função social.

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8 - JURISPRUDÊNCIA 

PRECEDENTE I:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ARTIGO 535, II, DO CPC.
VIOLAÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE SOCIAL PARA
FINS DE REFORMA AGRÁRIA. ÁREA QUILOMBOLA. DESVIO DE FINALIDADE. NÃO
VERIFICAÇÃO. LEGITIMIDADE DO INCRA.

1. Inicialmente, no tocante à alegada violação do disposto no artigo 535, II, do CPC, É


de se destacar que os órgãos julgadores não estão obrigados a examinar todas as teses
levantadas pelo jurisdicionado durante um processo judicial, bastando que as decisões
proferidas estejam devida e coerentemente fundamentadas, em obediência ao que
determina o art. 93, inc. IX, da Constituição da República vigente.
Isto não caracteriza ofensa ao art. 535 do CPC. Neste sentido, existem diversos
precedentes desta Corte 2. As hipóteses previstas pelo art. 5º, do Dec-lei 3.365/41, para
a desapropriação por utilidade pública, conforme a dicção da letra "q" ("os demais casos
previstos por leis especiais"), são taxativas.
Inexiste previsão de desapropriação por utilidade pública para a destinação de terras aos
chamados Kalungas.
3. O imóvel não vai servir à Administração Pública e, sim, ao interesse da coletividade.
Logo, a desapropriação em tela caracteriza-se como sendo de interesse social, cabível
apenas a desapropriação prevista no art. 184 da CF/88.
4. Nos termos do artigo 13 do Decreto 4.887/03, compete ao INCRA a desapropriação
de imóveis rurais que estejam dentro de áreas tituladas de domínio dos quilombolas e
não tiveram os títulos invalidados por nulidades, prescrição ou comisso, como se mostra
o caso em análise.
5. Recurso especial provido com a determinação de retorno dos autos à origem.
(REsp 1046178/GO, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/12/2010, DJe
14/02/2011)

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PRECEDENTE II:
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO. INTERESSE SOCIAL. REFORMA
AGRÁRIA. IMÓVEL RURAL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA.
ÁREA REGISTRADA MAIOR QUE A LEVANTADA PELO INCRA. COBERTURA FLORÍSTICA.
AUSÊNCIA DE EXPLORAÇÃO ECONÔMICA. INDENIZAÇÃO. CÁLCULO SEPARADO DA
TERRA NUA. SITUAÇÃO PECULIAR. TDA'S. CORREÇÃO MONETÁRIA.
JUROS MORATÓRIOS. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
- Considerando que todas as questões jurídicas ventiladas na apelação foram enfrentadas
pelo Tribunal de origem, fica afastada a alegada violação do art. 535 do Código de
Processo Civil.
- Conforme precedentes desta Segunda Turma, quando a área contida no registro
imobiliário for menor que aquela efetivamente levantada, deve essa última ser
considerada para efeito da indenização.
Entretanto a importância relativa à área que superar a do registro deverá permanecer
depositada judicialmente até que seja promovida a necessária retificação formal do
título de propriedade, ressalvado o meu entendimento pessoal.
- Na linha da jurisprudência firmada na Primeira Seção desta Corte, não é permitido que
se fixem, separadamente, as indenizações para a terra nua e para a cobertura florestal
quando, como no caso em debate, nenhuma atividade intensiva relacionada à floresta é
exercida pelo expropriado no respectivo imóvel. Na hipótese, apesar de indicados
valores separados, tais indenizações foram fixadas sem considerar a potencialidade
econômica da cobertura vegetal, não tendo o somatório de ambas ultrapassado o valor
de mercado do imóvel desapropriado, o que afasta a possibilidade de enriquecimento
indevido.
- A simples ausência de exploração econômica da área desapropriada ou de parte dela
não impede a incidência dos juros compensatórios, devendo-se ressaltar a ausência, no
caso concreto, de qualquer informação precisa no sentido de que o imóvel expropriado,
irremediavelmente, não possa ser objeto de nenhuma exploração econômica, atual ou
futura, em decorrência de limitações legais ou da situação geográfica ou topográfica.
Repetitivo.
- Sendo o valor integral da indenização arbitrada na sentença superior à importância
total ofertada pelo Incra na inicial da desapropriação, apresenta-se correta a fixação da
verba honorária, em desfavor do autor, em 5% sobre a diferença corrigida entre a oferta
e o preço final da indenização.

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Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido para determinar que
permaneça depositado judicialmente o valor relativo à área que exceder a medida
constante do registro imobiliário.
(REsp 1252371/RN, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 01/12/2011, DJe
07/12/2011)

PRECEDENTE III:
ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL.
DESAPROPRIAÇÃO PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA. JUROS COMPENSATÓRIOS.
BASE DE CÁLCULO. OMISSÃO. TEMPUS REGIT ACTUM. OBSERVÂNCIA.
1. Em suas razões de recorrente especial, o INCRA formula tese de aplicação do
princípio do tempus regit actum, no sentido de que, no período de vigência da Medida
Provisória nº 1.577/97 até 2001, a base de cálculo para incidência dos juros
compensatórios seria a diferença eventualmente apurada entre o preço ofertado em juízo
e o valor da condenação. Entendo assistir razão ao INCRA.
2. O enunciado sumular n. 408/STJ, assim preceitua: Nas ações de desapropriação, os
juros compensatórios incidentes após a Medida Provisória n. 1.577, de 11/6/1997,
devem ser fixados em 6% ao ano até 13/09/2001, e, a partir de então, em 12% ao ano,
na forma da súmula n. 618 do Supremo Tribunal Federal.
3. Analisando, portanto, as disposições do referido enunciado sumular, tem-se o
seguinte, quanto à base de cálculo: Antes da Medida Provisória 1.577 de 11.6.1997:
base de cálculo corresponderia ao valor da indenização fixada em sentença, tendo como
termo a quo a imissão provisória da posse do imóvel.
Após 11.6.1997, a MP 1.577 acrescenta o art. 15-A no Decreto-lei 3.365/41, em que a
base de cálculo corresponderia ao valor ofertado pela Administração menos o valor
fixado judicialmente pelo comando sentencial.
A partir de 13.9.2001, considerando a liminar concedida na Ação Direta de
Inconstitucionalidade n. 2.332 que declarou inconstitucional o art. 15-A do Decreto-lei,
suspendendo-se a expressão "até 6%" (interpretação conforme a Constituição), a base de
cálculo para incidência dos juros compensatórios deve ser a diferença entre os 80% do
valor ofertado e o valor fixado na sentença.
4. Portanto, no período compreendido entre a Medida Provisória 1.577/97 e a decisão
liminar proferida na ADIn 2.332/2001, a base de cálculo para incidência dos juros
compensatórios deverá corresponder ao valor ofertado pela Administração, menos o
valor fixado pela sentença, em observância ao princípio do tempus regit actum.

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5. Embargos de declaração acolhidos, para esclarecer que no período compreendido
entre a Medida Provisória 1.577/97 e a decisão liminar proferida na ADIn 2.332/2001, a
base de cálculo para incidência dos juros compensatórios deverá corresponder ao valor
ofertado pela Administração, menos o valor fixado pela sentença.
(EDcl no REsp 1215458/AL, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
03/11/2011, DJe 11/11/2011)

PRECEDENTE IV:
"É possível decretar-se a desapropriação-sanção, mesmo que se trate de pequena ou de média
propriedade rural, se resultar comprovado que o proprietário afetado pelo ato presidencial
também possui outra propriedade imobiliária rural. Não incidência, em tal situação, da cláusula
constitucional de inexpropriabilidade (CF, art. 185, I, in fine), porque descaracterizada,
documentalmente (certidão do registro imobiliário), na espécie, a condição de uni titularidade
dominial da impetrante. A questão do conflito entre o conteúdo da declaração expropriatória e o
teor do registro imobiliário: quod non est in tabula, non est in mundo (CC/1916, art. 859;
CC/2002, art. 1.245, §§ 1º e 2º, e art. 1.247). Eficácia do registro imobiliário: subsistência (LRP,
art. 252). Irrelevância, no entanto, na espécie, do exame da alegada divergência, considerada a
existência, no caso, de outra propriedade imobiliária rural em nome da impetrante." (MS 24.595,
Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 20-9-06, DJ de 9-2-07)

PRECEDENTE V:
"A saisine torna múltipla apenas a titularidade do imóvel rural, que permanece uma única
propriedade até que sobrevenha a partilha (art. 1.791 e parágrafo único do vigente Código
Civil). A finalidade do art. 46, § 6º, do Estatuto da Terra (Lei n. 4.504/64) é instrumentar o
cálculo do coeficiente de progressividade do Imposto Territorial Rural-ITR. O preceito não deve
ser usado como parâmetro de dimensionamento de imóveis rurais destinados à reforma agrária,
matéria afeta à Lei n. 8.629/93. A existência de condomínio sobre o imóvel rural não impede a
desapropriação-sanção do art. 184 da Constituição do Brasil, cujo alvo é o imóvel rural que não
esteja cumprindo sua função social. Precedente (MS n. 24.503, Relator o Ministro Marco
Aurélio, DJDJ de 3-6-2005). O registro público prevalece nos estritos termos de seu conteúdo,
revestido de presunção iuris tantum. Não se pode tomar cada parte ideal do condomínio,
averbada no registro imobiliário de forma abstrata, como propriedade distinta, para fins de
reforma agrária. Precedentes (MS n. 22.591, Relator o Ministro Moreira Alves, DJ de 14-11-
2003 e MS n. 21.919, Relator o Ministro Celso de Mello, DJ de 6-6-97).” (MS 24.573, Rel. p/ o
ac. Min. Eros Grau, julgamento em 12-6-06, DJ de 15-12-06). No mesmo sentido: MS de 5-9-
2003). O cadastro efetivado pelo SNCR-INCRA possui caráter declaratório e tem por
finalidade: i) o levantamento de dados necessários à aplicação dos critérios de lançamentos

17
fiscais atribuídos ao INCRA e à concessão das isenções a eles relativas, previstas na
Constituição e na legislação específica; e ii) o levantamento sistemático dos imóveis rurais, para
conhecimento das condições vigentes na estrutura fundiária das várias regiões do País, visando
à provisão de elementos que informem a orientação da política agrícola a ser promovida pelos
órgãos competentes. O conceito de imóvel rural do art. 4º, I, do Estatuto da Terra, contempla a
unidade da exploração econômica do prédio rústico, distanciando-se da noção de propriedade
rural. Precedente
(MS n. 24.488, Relator o Ministro Eros Grau, 26.129, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 14-6-07, DJ de 24-8-07).

9- CONCLUSÃO

A Constituição Federal de 1988 determina expressamente no artigo 185 e


seguintes, alguns bens que não podem ser desapropriados para fins de reforma agrária.
Ela torna insuscetível a esse tipo de desapropriação, essas espécies de imóveis, desde
que incidente o elemento subjetivo, que consiste em não possuir, o titular da
propriedade, outro prédio rural.

A propriedade produtiva é assim considerada, por todo o contexto da


Constituição Federal de 1988, quando cumpre a função social da propriedade. Assim
compreendido o artigo 185, e seus incisos, que elenca a exclusão da possibilidade de
desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária do imóvel rural que
estiver cumprindo as dimensões econômicas, social e ecológica, enquanto que o
parágrafo único, do aludido artigo da Constituição brasileira traz como garantia especial
a propriedade produtiva.

Neste diapasão, verificamos que a função social da propriedade é um princípio


solidamente assentado sobre uma base doutrinária e legislativa, tendo sido erigido em
princípio constitucional como se pode atestar em várias passagens de nossa constituição.
Como a propriedade é um instituto de vasta aplicação jurídica o princípio da função
social, inserindo-se no conteúdo da propriedade, irradia efeitos por igual extensão,
atuando, porém mais intensamente em algumas áreas capitais.
O jurista moderno não pode se alhear a esse novo enfoque que se dá ao instituto
da propriedade, mormente o agrarista, tanto mais quando vivemos sérios problemas de
distribuição de terras e graves tensões no campo. Da correta compreensão da função

18
social da propriedade, depende indubitavelmente a atuação do jurista, qualquer que seja
a atividade a ser desenvolvida.
ANEXO I

“CONSTITUICÃO POLITICA DO IMPERIO DO BRAZIL

(DE 25 DE MARÇO DE 1824)

TITULO 8º

Das Disposições Geraes, e Garantias dos Direitos Civis, e Politicos

dos Cidadãos Brazileiros.

    Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos

Cidadãos Brazileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a

propriedade, é garantida pela Constituição do Imperio, pela maneira seguinte.

 XXII. E'garantido o Direito de Propriedade em toda a sua plenitude.

Se o bem publico legalmente verificado exigir o uso, e emprego da Propriedade do

Cidadão, será elle préviamente indemnisado do valor della. A Lei marcará os

casos, em que terá logar esta unica excepção, e dará as regras para se determinar a

indemnisação.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL

( DE 24 DE FEVEREIRO DE 1891)

SEÇÃO II

Declaração de Direitos

19
      Art 72 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros

residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à

segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: 

§ 17 - O direito de propriedade mantém-se em toda a sua plenitude,

salva a desapropriação por necessidade ou utilidade pública, mediante indenização

prévia. 

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL


(DE 16 DE JULHO DE 1934)

CAPÍTULO II

Dos Direitos e das Garantias Individuais

        Art 113 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros


residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à
subsistência, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: 

 17) É garantido o direito de propriedade, que não poderá ser

exercido contra o interesse social ou coletivo, na forma que a lei determinar.

A desapropriação por necessidade ou utilidade pública far-se-á nos termos

da lei, mediante prévia e justa indenização. Em caso de perigo iminente,

como guerra ou comoção intestina, poderão as autoridades competentes

usar da propriedade particular até onde o bem público o exija, ressalvado o

direito à indenização ulterior. 

TíTULO IV

Da Ordem Econômica e Social

        Art 115 - A ordem econômica deve ser organizada conforme os


princípios da Justiça e as necessidades da vida nacional, de modo que

20
possibilite a todos existência digna. Dentro desses limites, é garantida a
liberdade econômica.” 

A Constituição de 1946 foi a primeira a mencionar a possibilidade de desapropriação

por interesse social no seu Art. 141, § 16, e, no Art. 147, prever a “justa distribuição da

terra, com igual oportunidade para todos” em clara referência à reforma agrária, senão

vejamos:

“CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL

(DE 18 DE SETEMBRO DE 1946)

CAPíTULO II

Dos Direitos e das Garantias individuais

  Art 141 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros


residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à
liberdade, a segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: 

 § 16 - É garantido o direito de propriedade, salvo o caso de


desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse
social, mediante prévia e justa indenização em dinheiro. Em caso de
perigo iminente, como guerra ou comoção intestina, as autoridades
competentes poderão usar da propriedade particular, se assim o exigir o
bem público, ficando, todavia, assegurado o direito a indenização
ulterior. 

TíTULO V

Da Ordem Econômica e Social

 Art 147 - O uso da propriedade será condicionado ao bem-estar


social. A lei poderá, com observância do disposto no art. 141, § 16,
promover a justa distribuição da propriedade, com igual oportunidade
para todos.”

No sistema jurídico brasileiro infraconstitucional, a função social da propriedade foi

inserida explicitamante através do Estatuto da Terra, Lei nº 4.504/64, que, em seu Art.

2º, consolidou que:

21
“Art. 2° É assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da

terra, condicionada pela sua função social, na forma prevista nesta Lei.”

Seguindo a esteira do Estatuto da Terra, a Constituição de 1967 foi a primeira a


mencionar explicitamente a função social da propriedade como princípio da ordem
econômica e social, em seus Art. 150, § 22, e 157, III:

“CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1967

TÍTULO II

Da Declaração de Direitos

CAPÍTULO IV

Dos Direitos e Garantias Individuais

 Art 150 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros

residentes no Pais a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à

segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 

§ 22 - É garantido o direito de propriedade, salvo o caso de desapropriação

por necessidade ou utilidade pública ou por interesse social, mediante prévia e justa

indenização em dinheiro, ressalvado o disposto no art. 157, § 1º. Em caso de perigo

público iminente, as autoridades competentes poderão usar da propriedade particular,

assegurada ao proprietário indenização ulterior.

TÍTULO III

Da Ordem Econômica e Social

Art 157 - A ordem econômica tem por fim realizar a justiça social, com base nos
seguintes princípios:

....

        III - função social da propriedade;”

22
Em relação à Emenda Constitucional de 1969, a única inovação foi a faculdade do expropriado

aceitar o pagamento em título especiais de dívida pública em caso de desapropriação rural, Art.

161:

“EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 1, DE 17 DE OUTUBRO DE 1969

 TÍTULO II

DA DECLARAÇÃO DE DIREITOS

CAPÍTULO IV

DOS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS

    Art. 153. A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no


País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança e à
propriedade, nos têrmos seguintes:

§ 22. É assegurado o direito de propriedade, salvo o caso de

desapropriação por necessidade ou utilidade pública ou interêsse social, mediante prévia

e justa indenização em dinheiro, ressalvado o disposto no artigo 161, facultando-se ao

expropriado aceitar o pagamento em título de dívida pública, com cláusula de exata

correção monetária. Em caso de perigo público iminente, as autoridades competentes

poderão usar da propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior.

 Art. 160. A ordem econômica e social tem por fim realizar o desenvolvimento
nacional e a justiça social, com base nos seguintes princípios:

.....

    III - função social da propriedade;”

 Art. 161. A União poderá promover a desapropriação da propriedade

territorial rural, mediante pagamento de justa indenização, fixada segundo os critérios

que a lei estabelecer, em títulos especiais da dívida pública, com cláusula de exata

correção monetária, resgatáveis no prazo de vinte anos, em parcelas anuais sucessivas,

23
assegurada a sua aceitação, a qualquer tempo, como meio de pagamento até

cinqüenta por cento do impôsto territorial rural e como pagamento do preço de

terras públicas.”

Atualmente, a Carta da República de 1988, em seu Art. 5º, XXIII, estabelece a função

social da propriedade como direito fundamental coletivo, e no Art. 170, III, como

princípio da ordem econômica e financeira.

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à

segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho


humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:

...

III - função social da propriedade;”

24
ANEXO IV

25

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