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1. INTRODUÇÃO
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2. CONCEITO
A noção de função social da propriedade é uma cizânia entre autores, alguns
estabelecem que uma ligação entre proteção da propriedade individual e utilização da
propriedade de acordo com as expectativas da sociedade.
Cumpre citar a definição objetiva de função social da propriedade: trata-se de
concepção de função, atribuída ao bem, que impõe a adoção, partindo do Estado, de
medidas fundamentadas no bem comum, através da intervenção de natureza econômica,
tendo em vista a necessidade de gerir a situação jurídica, individual, de exercício do
direito de propriedade.
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3- ANTECEDENTES
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“1º - A fim de se realizar a socialização da terra, é abolida a propriedade
privada da terra; todas as terras passam a ser propriedade nacional e são
entregues aos trabalhadores sem qualquer espécie de indenização, na base
de uma repartição igualitária em usufruto.
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4. RECEPÇÃO CONCEITUAL NO BRASIL
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Do prisma constitucional positivo, foi a Constituição de 1934 a que
social ou comum, ainda que sem mencionar explicitamente o princípio da função social
propriedade como passível de ser atingido pelo jus imperium do Estado no que se refere
II – a propriedade produtiva.
Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará
normas para o cumprimento dos requisitos relativos a sua função social.
· Lei nº 8629, de 25.2.1993, que dispõe sobre a regulamentação dos
dispositivos constitucionais relativos à reforma agrária, previstos no
Capítulo III, Título VII, da Constituição Federal.
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Porém, podemos observar algumas exceções na jurisprudência:
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fundiária das várias regiões do País, visando à provisão de elementos que informem a
orientação da política agrícola a ser promovida pelos órgãos competentes. O conceito de
imóvel rural do art. 4º, I, do Estatuto da Terra, contempla a unidade da exploração
econômica do prédio rústico, distanciando-se da noção de propriedade rural. Precedente
(MS n. 24.488, Relator o Ministro Eros Grau, 26.129, Rel. Min. Eros Grau, julgamento
em 14-6-07, DJ de 24-8-07.)
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de propriedade, que somente o conservará integralmente se mantiver a função social do
mesmo.
Essa concepção de propriedade pela Constituição Federal se harmoniza com o
entendimento de que a função social da propriedade é uma condicionante essencial ao
exercício desse direito, não sendo, portanto, tutelada juridicamente a propriedade que
não atenda essa função finalística. O direito à propriedade convive inseparavelmente, no
atual sistema constitucional brasileiro, com o exercício da função social desse mesmo
direito. É lógico, portanto, concluir que a função social não é uma limitação do uso da
propriedade, mas um elemento essencial, interno, que compõe a definição da
propriedade. Só se legitima no ordenamento jurídico brasileiro a propriedade que
cumpre a função social. A propriedade que descumpre a função social não pode ser
objeto de proteção jurídica. Sobre esse entendimento, o Supremo Tribunal Federal se
pronunciou no sentido de que:
“O direito de propriedade não se reveste de caráter absoluto, eis que, sobre ele,
pesa grave hipoteca social, a significar que, descumprida a função social que
lhe é inerente (CF, art. 5º, XXIII), legitimar-se-á a intervenção estatal na esfera
dominial privada, observados, contudo, para esse efeito, os limites, as formas e
os procedimentos fixados na própria Constituição da República.
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Nesse sentido, é correto afirmar que uma vez improdutiva uma propriedade, deve a
mesma ser desapropriada pelo poder-dever do estado, buscando a reforma agrário; fato
contrário a propriedade produtiva que dá destinação à terra. Tal decorre da função social
da propriedade rural, condicionante imposta pela Constituição Federal de 1988, como
limite ao exercício do direito da propriedade enquanto direito fundamental, insertos em
seu artigo 185.
Da análise do dispositivo legal, depreende-se que é remetida a lei como
instrumento adequado para fixar os requisitos do exato cumprimento da função social.
Nesse mesmo sentido, o legislador constitucional continua no artigo 186 dispondo que
“A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente,
segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei”, estipulando requisitos
como o aproveitamento racional e adequado da propriedade, a utilização adequada dos
recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente, a observância das
disposições que regulam as relações de trabalho, e a exploração que favoreça o bem-
estar dos proprietários e dos trabalhadores.
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8 - JURISPRUDÊNCIA
PRECEDENTE I:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ARTIGO 535, II, DO CPC.
VIOLAÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE SOCIAL PARA
FINS DE REFORMA AGRÁRIA. ÁREA QUILOMBOLA. DESVIO DE FINALIDADE. NÃO
VERIFICAÇÃO. LEGITIMIDADE DO INCRA.
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PRECEDENTE II:
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO. INTERESSE SOCIAL. REFORMA
AGRÁRIA. IMÓVEL RURAL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA.
ÁREA REGISTRADA MAIOR QUE A LEVANTADA PELO INCRA. COBERTURA FLORÍSTICA.
AUSÊNCIA DE EXPLORAÇÃO ECONÔMICA. INDENIZAÇÃO. CÁLCULO SEPARADO DA
TERRA NUA. SITUAÇÃO PECULIAR. TDA'S. CORREÇÃO MONETÁRIA.
JUROS MORATÓRIOS. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
- Considerando que todas as questões jurídicas ventiladas na apelação foram enfrentadas
pelo Tribunal de origem, fica afastada a alegada violação do art. 535 do Código de
Processo Civil.
- Conforme precedentes desta Segunda Turma, quando a área contida no registro
imobiliário for menor que aquela efetivamente levantada, deve essa última ser
considerada para efeito da indenização.
Entretanto a importância relativa à área que superar a do registro deverá permanecer
depositada judicialmente até que seja promovida a necessária retificação formal do
título de propriedade, ressalvado o meu entendimento pessoal.
- Na linha da jurisprudência firmada na Primeira Seção desta Corte, não é permitido que
se fixem, separadamente, as indenizações para a terra nua e para a cobertura florestal
quando, como no caso em debate, nenhuma atividade intensiva relacionada à floresta é
exercida pelo expropriado no respectivo imóvel. Na hipótese, apesar de indicados
valores separados, tais indenizações foram fixadas sem considerar a potencialidade
econômica da cobertura vegetal, não tendo o somatório de ambas ultrapassado o valor
de mercado do imóvel desapropriado, o que afasta a possibilidade de enriquecimento
indevido.
- A simples ausência de exploração econômica da área desapropriada ou de parte dela
não impede a incidência dos juros compensatórios, devendo-se ressaltar a ausência, no
caso concreto, de qualquer informação precisa no sentido de que o imóvel expropriado,
irremediavelmente, não possa ser objeto de nenhuma exploração econômica, atual ou
futura, em decorrência de limitações legais ou da situação geográfica ou topográfica.
Repetitivo.
- Sendo o valor integral da indenização arbitrada na sentença superior à importância
total ofertada pelo Incra na inicial da desapropriação, apresenta-se correta a fixação da
verba honorária, em desfavor do autor, em 5% sobre a diferença corrigida entre a oferta
e o preço final da indenização.
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Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido para determinar que
permaneça depositado judicialmente o valor relativo à área que exceder a medida
constante do registro imobiliário.
(REsp 1252371/RN, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 01/12/2011, DJe
07/12/2011)
PRECEDENTE III:
ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL.
DESAPROPRIAÇÃO PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA. JUROS COMPENSATÓRIOS.
BASE DE CÁLCULO. OMISSÃO. TEMPUS REGIT ACTUM. OBSERVÂNCIA.
1. Em suas razões de recorrente especial, o INCRA formula tese de aplicação do
princípio do tempus regit actum, no sentido de que, no período de vigência da Medida
Provisória nº 1.577/97 até 2001, a base de cálculo para incidência dos juros
compensatórios seria a diferença eventualmente apurada entre o preço ofertado em juízo
e o valor da condenação. Entendo assistir razão ao INCRA.
2. O enunciado sumular n. 408/STJ, assim preceitua: Nas ações de desapropriação, os
juros compensatórios incidentes após a Medida Provisória n. 1.577, de 11/6/1997,
devem ser fixados em 6% ao ano até 13/09/2001, e, a partir de então, em 12% ao ano,
na forma da súmula n. 618 do Supremo Tribunal Federal.
3. Analisando, portanto, as disposições do referido enunciado sumular, tem-se o
seguinte, quanto à base de cálculo: Antes da Medida Provisória 1.577 de 11.6.1997:
base de cálculo corresponderia ao valor da indenização fixada em sentença, tendo como
termo a quo a imissão provisória da posse do imóvel.
Após 11.6.1997, a MP 1.577 acrescenta o art. 15-A no Decreto-lei 3.365/41, em que a
base de cálculo corresponderia ao valor ofertado pela Administração menos o valor
fixado judicialmente pelo comando sentencial.
A partir de 13.9.2001, considerando a liminar concedida na Ação Direta de
Inconstitucionalidade n. 2.332 que declarou inconstitucional o art. 15-A do Decreto-lei,
suspendendo-se a expressão "até 6%" (interpretação conforme a Constituição), a base de
cálculo para incidência dos juros compensatórios deve ser a diferença entre os 80% do
valor ofertado e o valor fixado na sentença.
4. Portanto, no período compreendido entre a Medida Provisória 1.577/97 e a decisão
liminar proferida na ADIn 2.332/2001, a base de cálculo para incidência dos juros
compensatórios deverá corresponder ao valor ofertado pela Administração, menos o
valor fixado pela sentença, em observância ao princípio do tempus regit actum.
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5. Embargos de declaração acolhidos, para esclarecer que no período compreendido
entre a Medida Provisória 1.577/97 e a decisão liminar proferida na ADIn 2.332/2001, a
base de cálculo para incidência dos juros compensatórios deverá corresponder ao valor
ofertado pela Administração, menos o valor fixado pela sentença.
(EDcl no REsp 1215458/AL, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
03/11/2011, DJe 11/11/2011)
PRECEDENTE IV:
"É possível decretar-se a desapropriação-sanção, mesmo que se trate de pequena ou de média
propriedade rural, se resultar comprovado que o proprietário afetado pelo ato presidencial
também possui outra propriedade imobiliária rural. Não incidência, em tal situação, da cláusula
constitucional de inexpropriabilidade (CF, art. 185, I, in fine), porque descaracterizada,
documentalmente (certidão do registro imobiliário), na espécie, a condição de uni titularidade
dominial da impetrante. A questão do conflito entre o conteúdo da declaração expropriatória e o
teor do registro imobiliário: quod non est in tabula, non est in mundo (CC/1916, art. 859;
CC/2002, art. 1.245, §§ 1º e 2º, e art. 1.247). Eficácia do registro imobiliário: subsistência (LRP,
art. 252). Irrelevância, no entanto, na espécie, do exame da alegada divergência, considerada a
existência, no caso, de outra propriedade imobiliária rural em nome da impetrante." (MS 24.595,
Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 20-9-06, DJ de 9-2-07)
PRECEDENTE V:
"A saisine torna múltipla apenas a titularidade do imóvel rural, que permanece uma única
propriedade até que sobrevenha a partilha (art. 1.791 e parágrafo único do vigente Código
Civil). A finalidade do art. 46, § 6º, do Estatuto da Terra (Lei n. 4.504/64) é instrumentar o
cálculo do coeficiente de progressividade do Imposto Territorial Rural-ITR. O preceito não deve
ser usado como parâmetro de dimensionamento de imóveis rurais destinados à reforma agrária,
matéria afeta à Lei n. 8.629/93. A existência de condomínio sobre o imóvel rural não impede a
desapropriação-sanção do art. 184 da Constituição do Brasil, cujo alvo é o imóvel rural que não
esteja cumprindo sua função social. Precedente (MS n. 24.503, Relator o Ministro Marco
Aurélio, DJDJ de 3-6-2005). O registro público prevalece nos estritos termos de seu conteúdo,
revestido de presunção iuris tantum. Não se pode tomar cada parte ideal do condomínio,
averbada no registro imobiliário de forma abstrata, como propriedade distinta, para fins de
reforma agrária. Precedentes (MS n. 22.591, Relator o Ministro Moreira Alves, DJ de 14-11-
2003 e MS n. 21.919, Relator o Ministro Celso de Mello, DJ de 6-6-97).” (MS 24.573, Rel. p/ o
ac. Min. Eros Grau, julgamento em 12-6-06, DJ de 15-12-06). No mesmo sentido: MS de 5-9-
2003). O cadastro efetivado pelo SNCR-INCRA possui caráter declaratório e tem por
finalidade: i) o levantamento de dados necessários à aplicação dos critérios de lançamentos
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fiscais atribuídos ao INCRA e à concessão das isenções a eles relativas, previstas na
Constituição e na legislação específica; e ii) o levantamento sistemático dos imóveis rurais, para
conhecimento das condições vigentes na estrutura fundiária das várias regiões do País, visando
à provisão de elementos que informem a orientação da política agrícola a ser promovida pelos
órgãos competentes. O conceito de imóvel rural do art. 4º, I, do Estatuto da Terra, contempla a
unidade da exploração econômica do prédio rústico, distanciando-se da noção de propriedade
rural. Precedente
(MS n. 24.488, Relator o Ministro Eros Grau, 26.129, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 14-6-07, DJ de 24-8-07).
9- CONCLUSÃO
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social da propriedade, depende indubitavelmente a atuação do jurista, qualquer que seja
a atividade a ser desenvolvida.
ANEXO I
TITULO 8º
casos, em que terá logar esta unica excepção, e dará as regras para se determinar a
indemnisação.
( DE 24 DE FEVEREIRO DE 1891)
SEÇÃO II
Declaração de Direitos
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Art 72 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros
prévia.
CAPÍTULO II
TíTULO IV
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possibilite a todos existência digna. Dentro desses limites, é garantida a
liberdade econômica.”
por interesse social no seu Art. 141, § 16, e, no Art. 147, prever a “justa distribuição da
terra, com igual oportunidade para todos” em clara referência à reforma agrária, senão
vejamos:
CAPíTULO II
TíTULO V
inserida explicitamante através do Estatuto da Terra, Lei nº 4.504/64, que, em seu Art.
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“Art. 2° É assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da
terra, condicionada pela sua função social, na forma prevista nesta Lei.”
TÍTULO II
Da Declaração de Direitos
CAPÍTULO IV
por necessidade ou utilidade pública ou por interesse social, mediante prévia e justa
TÍTULO III
Art 157 - A ordem econômica tem por fim realizar a justiça social, com base nos
seguintes princípios:
....
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Em relação à Emenda Constitucional de 1969, a única inovação foi a faculdade do expropriado
aceitar o pagamento em título especiais de dívida pública em caso de desapropriação rural, Art.
161:
TÍTULO II
DA DECLARAÇÃO DE DIREITOS
CAPÍTULO IV
Art. 160. A ordem econômica e social tem por fim realizar o desenvolvimento
nacional e a justiça social, com base nos seguintes princípios:
.....
que a lei estabelecer, em títulos especiais da dívida pública, com cláusula de exata
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assegurada a sua aceitação, a qualquer tempo, como meio de pagamento até
terras públicas.”
Atualmente, a Carta da República de 1988, em seu Art. 5º, XXIII, estabelece a função
social da propriedade como direito fundamental coletivo, e no Art. 170, III, como
...
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ANEXO IV
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