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Direito Económico
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DA PROPRIEDADE
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DIREITO ECONÓMICO - 2º Ano
Curso de Licenciatura em Direito
Propriedade é comummente qualificada como o direito real máximo. Traduz-se no vínculo
jurídico que sujeita uma coisa ao pleno e exclusivo poder de uma pessoa que fica tendo o direito de
usar, fruir e dispor dela (alienar a título oneroso ou gratuito) dentro dos limites da lei.
Segundo o artigo 1305º do Código Civil, com a epígrafe «conteúdo do direito de propriedade»,
“o proprietário goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso, fruição e disposições das
coisas que lhe pertencem, dentro dos limites da lei e com observância das restrições por ela
impostas”.
1) O direito de a adquirir,
2) O direito de usar e fruir dos bens de que se é proprietário;
3) A liberdade na sua transmissão;
4) O direito de não ser privado dela.
Nem sempre a propriedade foi regrada com a perspectiva de instrumento de bem-estar social.
O novo perfil jurídico da propriedade é de um direito individual de livre fruição, mas condicionado
ao atendimento da função social. Com isso a exploração económica da propriedade passou a ser
fundada por objectivos e princípios específicos regrados pelo Direito e impositivos à ordem
económica e social.
Dentro desta realidade a estrutura social, estatal e económica adoptada pelo país demonstra a
importância do direito de propriedade e a necessidade de sua exploração ser direccionada e
baseada por princípios e objectivos jurídicos de bem-estar e desenvolvimento social.
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A Constituição moçambicana de 2004 no seu artigo 82 nº 1 reconhece e garante o direito de
propriedade.
Ora, o direito de propriedade não é um direito absoluto podendo ser objecto de limitações ou
restrições, as quais se relacionam desde logo, com os princípios de Direito (ex: a função social da
propriedade), com razões de utilidade pública ou com a necessidade de conferir eficácia a outros
princípios ou normas Constitucionais, incluindo os direitos económicos ou sociais e as disposições
da organização económica.
b) No uso e fruição – para além do dever geral de uso relativo aos meios de produção (a
propriedade de meios de produção implica o seu uso), devem considerar-se outras
condicionantes por razões ambientais ou de ordenamento do território (ex: delimitação de
áreas de reserva agrícola, reserva ecológica, planeamento urbano, etc).
c) Na transmissão inter vivos ou mortis causa – é por vezes limitada por direitos a favor de
terceiros, como o direito de preferência atribuído por vezes aos proprietários confinantes.
A actividade económica distribui-se por qualquer destes sectores, tendo como base objectivos
diferenciados.
O Sector Público tem que ser entendido no âmbito das incumbências gerais do Estado em
matéria económica e social e articulado com outras formas de regulação constitucionalmente
previstas.
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Enquadramento jurídico-legal:
O Sector Público é constituído pelos meios de produção cuja titularidade e gestão pertencem ao
Estado ou a outras entidades públicas. A acumulação da propriedade e gestão é condição
necessária, dado que pode haver bens públicos geridos por empresas privadas ou cooperativas e
pode haver intervenção publica na gestão de empresas privadas, embora a título excepcional.
Assim, fazem parte do sector público os meios de produção públicos geridos directamente pela
Administração Pública ou por outras entidades públicas, que poderão assumir a forma de institutos
públicos, empresas públicas ou sociedades de capitais mistos quando maioritariamente
controlados pelo Estado e desde que este tenha também a maioria nos órgãos de gestão.
Através do Sector Público o estado produz ou presta serviços, ora em concorrência com
empresas privadas ou cooperativas, ora em monopólio natural ou legalmente protegido.
O Sector Privado é constituído pelos bens e unidades de produção cuja propriedade ou gestão
pertençam a pessoas singulares ou privadas.
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Estão assim abrangidos todos os meios de produção que sejam propriedade de entidades
privadas, excepto se forem geridos por cooperativas em obediência aos princípios cooperativos.
Pertencem igualmente ao Sector Privado todos os meios de produção que sejam propriedade
pública mas cuja gestão tenha sido, por via contratual ou não, entregue a entidades privadas.
Podem ser bens do domínio público ou de empresas públicas cuja gestão tenha sido concedida a
entidades privadas, ou simplesmente empresas de capital misto em que o estado não tenha
nomeado a maioria dos gestores, tendo a isso direito, além de todas as restantes onde o estado
seja minoritário.
Esta figura refere-se à autogestão das empresas pelos respectivos trabalhadores e é um direito
que parece pressupor a gestão aos trabalhadores e a propriedade a outrem. Considera-se que os
bens podem ser de titularidade de entidades privadas ou públicas, pressupondo-se o assentimento
dos titulares da propriedade ou um motivo legal que confira o direito á autogestão.
Trata-se de estender o sector social às entidades que desenvolvem uma actividade económica
tendo em vista a solidariedade social, e por isso, sem intuito de apropriação lucrativa pública ou
privada, antes dirigida à ajuda mútua.
28. AS COOPERATIVAS
28.1. Noção e espécies
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As Cooperativas são organizações de natureza colectiva que visam a satisfação, sem fins
lucrativos, das necessidades económicas, sociais ou culturais dos seus membros, através da sua
cooperação e entreajuda e na observância dos princípios cooperativos.
Ou seja, a cooperativa é tida como uma associação autónoma de pessoas que se unem livre e
voluntariamente para fazer face as suas necessidades e aspirações económicas, sociais e culturais
comuns, por meio de uma empresa de propriedade conjunta e colectiva e democraticamente
controlada.
São empresas que agem como qualquer uma com vista a obtenção de ganhos de modo a que
possam cumprir com as funções sociais dos seus membros e o bem estar de toda a comunidade.
É nessa dupla vocação onde reside a característica ímpar das cooperativas e que fundamenta
a sua autonomia e uma regulamentação específica e especial.
Cooperativas de Consumo,
Cooperativas de Comercialização,
Cooperativas de Indústria,
Cooperativas Agrícolas,
Cooperativas de Crédito,
Cooperativas de Construção e Habitação,
Cooperativas de Artesanato,
Cooperativas de Pesca,
Cooperativas de Cultura,
Cooperativas de Serviços e Ensino.
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– As Cooperativas servem os seus membros mais eficazmente e dão mais força ao movimento
cooperativo, trabalhando em conjunto, através de estruturas locais, regionais, nacionais e
internacionais;
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A regulação jurídica das Cooperativas encontra-se assente na Lei nº 23/2009, de 8 de
Setembro (Lei Geral das Cooperativas) que revogou a Lei nº 9/79, de 10 de Julho (Lei das
Cooperativas).
O número de membros de uma cooperativa é variável e ilimitado, não podendo ser inferior a 5
membros nas cooperativas de primeiro grau (artigo 11 da Lei nº 23/2009).
As cooperativas deverão possuir uma denominação, a qual deverá ser sempre seguida das
expressões “Cooperativa”, “União de Cooperativas”, “Federação de Cooperativas”, “Confederação
de Cooperativas” e ainda de “responsabilidade limitada” ou “responsabilidade ilimitada”.
De acordo com o artigo 36 da Lei nº 23/2009, os órgãos sociais das cooperativas são:
Assembleia Geral;
Direcção;
Conselho Fiscal ou Fiscal Único.
Os titulares dos órgãos sociais das cooperativas são eleitos de entre os seus membros por um
período previsto nos Estatutos.
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29. A INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA E AS
NACIONALIZAÇÕES
29.1. Noção de nacionalização
O acto de nacionalização é sempre um acto do Estado, no qual este manifesta o seu ius
imperii, que aliás se manifesta também na possibilidade deste dar o destino que lhe aprouver a
esses bens.
No entanto, note-se que o acto de nacionalizar é sempre um acto Estatal. A gestão e detenção
útil dos bens é que poderá levar a formas de estatização ou de propriedade social, ou o seu retorno
propriedade e gestão privadas.
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O ano de 1917 traz elementos a considerar:
A Revolução Soviética;
A Constituição Mexicana
Daqui decorre que a terra é propriedade da Nação (e não do Estado) e que a sua aquisição
privada é sempre limitada pelo interesse colectivo. Esta disposição constitucional esteve na base
da reforma agrária no México nos anos seguintes.
Também nas democracias populares de Leste que, depois da 2ª Guerra Mundial, se inseriram
na órbita Soviética, se generalizaram as nacionalizações, abrangendo a quase totalidade dos
meios de produção.
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Não foi só o pensamento Marxista que defendeu as nacionalizações. Também o pensamento
social-democrata, no final da 2ª Guerra Mundial, defendeu a figura da nacionalização com as
seguintes justificações:
A figura da nacionalização ganha contornos mais claros quando confrontada com outras figuras
que com ela concorrem na constituição da propriedade e/ou gestão pública ou colectiva que,
embora com estruturas semelhantes, têm naturezas diversas e até divergem quanto aos fins.
Esta figura vem prevista no nº 2, do artigo 82 da Constituição de 2004 nos seguintes termos:
“A expropriação só pode ter lugar por causa de necessidade, utilidade ou interesse públicos,
definidos nos termos da lei e dá lugar a justa indemnização.”
Por sua vez, o artigo 1308º do Código Civil, refere-se à expropriação nos seguintes termos:
“Ninguém pode ser privado, no todo ou em parte, do seu direito de propriedade, senão nos
casos fixados na lei.”
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NACIONALIZAÇÃO EXPROPRIAÇÃO
b) Requisição
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A requisição relaciona-se com a possibilidade de a Administração ou as autoridades militares
poderem impor a um particular a obrigação de prestar serviços ou dispor um bem para utilização
temporária.
Segundo o artigo 1308º do Código Civil (Requisições), “só nos casos previstos na lei pode ter
lugar a requisição temporária de coisas do domínio privado”.
Mais adiante, o artigo 1310º do Código Civil (Indemnizações), refere que “havendo
expropriação por utilidade pública ou particular ou requisição de bens, é sempre devida a
indemnização adequada ao proprietário e aos titulares dos outros direitos reais afectados”.
NACIONALIZAÇÃO REQUISIÇÃO
c) A nacionalização tem por objecto uma c) A requisição incide sobre bens móveis ou
unidade produtiva ou bens económicos imóveis.
em sentido restrito (a empresa, quotas,
ramos de actividade, etc. d) A requisição é uma providência urgente
excepcional no interesse público (ex.:
d) A nacionalização é uma providência guerra, calamidade natural, etc).
extraordinária.
c) Confisco
O confisco tem carácter sancionatório, consistindo na perda, a favor do Estado, da totalidade ou
parte do património em virtude do cometimento de actos ilícitos ou criminosos. Sendo uma sanção,
não lhe corresponde nenhuma indemnização.
A nacionalização, por sua vez, sabe-se que não tem carácter de sanção e pressupõe uma
indemnização ao ex-titular do bem, o que não ocorre quando haja confisco.
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correspondia, em última instância, o confisco sobre os meios de produção (artigo 10, nº 3), sobre
a presunção de abandono.
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30. AS PRIVATIZAÇÕES
30.1. Noção de privatização
A privatização designa uma técnica pela qual o Estado reduz ou modifica a sua
intervenção na economia a favor do sector privado, implicando, por isso, a redução do
domínio económico e do sector público.
Entende-se, assim, que nem todas as formas de privatização implicam que o Estado abandone
o financiamento e mesmo o planeamento dos respectivos serviços e que, nalguns casos, não se
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trata de transferência de propriedade ou de gestão públicas mas a de ampliação do papel da
actividade privada ao lado da actividade pública, em concorrência ou conjugação.
30.3. Classificação
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Ainda em 1989, antes portanto da Constituição de 1990 que haveria de consagrar a abertura à
economia de mercado, o Decreto nº 21/89 já pretendia regular o novo fenómeno da alienação de
parte do sector público a favor de privados.
I. Regime Jurídico
Mas, será a Lei nº 15/91, de 3 de Agosto que irá definir, de forma clara, identificando as
modalidades de alienação a título oneroso de empresas, estabelecimentos, instalações, quotas e
outras formas de participação financeira do Estado. De facto, e mais profundamente, esta lei veio
regular o processo de reestruturação empresarial do Estado (artigo 3).
II. Objectivos
b) Financeiros – diminuição dos encargos com o sector público, utilização das receitas das
privatizações para amortização da dívida pública, da dívida do sector empresarial do
Estado;
c) Sociais – intenção de promover uma ampla participação dos trabalhadores das próprias
empresas e dos pequenos subscritores na titularidade do capital das empresas;
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b) OFERTA OU VENDA PÚBLICA DE ACÇÕES - também consagrada no artigo 3º do
Decreto nº 28/91 de 21 de Novembro, com ela se faculta ao pública a possibilidade de
aquisição de acções de determinada sociedade anónima de responsabilidade limitada.
A venda pode ser feita com base na melhor oferta ou preço a fixar, fixando-se
igualmente o limite de acções que um único accionista pode adquirir.
i. Prestem serviço a tempo inteiro há pelo menos 5 anos e sejam por ela
remunerados. Poderão também adquirir os reformados e aposentados da
empresa ou do estabelecimento objecto de alienação.
ii. As acções adquiridas por esta via são intransmissíveis durante um período de 5
anos, dentro do qual estas serão nominativas, exceptuando, obviamente, as
situações jurídicas sucessórias que envolvam transmissibilidade. Em relação aos
gestores, técnicos e trabalhadores da empresa o prazo de intransmissibilidade é
de 3 anos.
V. O Fundo de Privatizações
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O produto gerado pela alienação constituirá receita de um fundo próprio a ser criado pelo
Conselho de Ministros (artigo 25) e essas receitas terão como destino prioritário:
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prosperar e/ou explorar bens do domínio público, a projectar, construir e manter uma obra e/ou
fazer funcionar um serviço.
O concessionário assume o exercício de actividade por sua conta e risco. Determina (sujeita a
um limite máximo contratual) e cobra, como já vimos, valores de taxas ou preços, na quilo que
constitui em princípio um direito seu, mas à autoridade pública reserva-se um poder de controlo.
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