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ÉRICA S. MENDONÇA
VICTOR E. L. RANIERI
ORGANIZADORES
O
presente capítulo trata de temas que são considerados importantes para o
entendimento de bens públicos e privados e dos bens de uso comum no
contexto da conservação da natureza em terras privadas. Para tanto, apresenta
conceitos como: bens públicos, privados e bens de uso comum, função social da
propriedade, instrumentos de comando e controle, instrumentos econômicos.
1
Parte deste capítulo foi publicada originalmente em 2016 na forma de texto de livre docência do segundo
autor, intitulado “Instrumentos de política ambiental aplicados à conservação da natureza em terras
privadas”.
2
Em que pese haver grande debate conceitual no campo da ciência política (FREY,
2000; SOUZA, 2006), neste capítulo usaremos as definições de “política”, “política
pública” e “política ambiental” dadas por Little (2003, p. 17–18). Segundo o autor,
“política” refere-se “às normas técnicas e sociais, estabelecidas por uma coletividade
pública, a serem utilizadas na administração do domínio público”. “Política pública”, por
sua vez, consiste no “conjunto de decisões inter-relacionadas, definido por atores
políticos, que tem por finalidade o ordenamento, a regulação e o controle do bem
público”. Por fim, “políticas ambientais” são “políticas públicas que procuram garantir a
existência de um meio ambiente de boa qualidade para todos os cidadãos do país".
O Código Civil brasileiro especifica, no art. 98, que os bens públicos são os bens
do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos
os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.
3
Cabe observar que o art. 41 do CC lista as pessoas jurídicas de direito público
interno, a saber: a União; os Estados, o Distrito Federal, os Territórios; os Municípios; as
autarquias, inclusive as associações públicas; as demais entidades de caráter público
criadas por lei.
O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito (ex.: o uso de uma praça
pública) ou retribuído ou oneroso (ex.: a cobrança de ingresso para a visitação de um
parque nacional ou a cobrança pelo uso da água), conforme for estabelecido legalmente
pela entidade a cuja administração pertencerem (art. 103 do CC).
Cabe observar que, por ser um bem de uso comum e apresentar oferta limitada,
o acesso ao meio ambiente pode ser regrado e controlado pelo poder público. Como
titular de seu domínio e responsável pela sua gestão, o poder público pode, inclusive,
adotar a cobrança pelo uso dos recursos naturais, dando ao meio ambiente um uso
oneroso (possibilidade constante no art. 103 do CC).
Título II Dos Direitos e Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem XXII – é garantido o direito de
Garantias Fundamentais. distinção de qualquer natureza, propriedade;
garantindo-se aos brasileiros e aos XXIII – a propriedade atenderá à
Capítulo I – Dos Direitos e estrangeiros residentes no País a sua função social;
Deveres individuais e inviolabilidade do direito à vida, à
Coletivos liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
Título VII - Da Ordem Art. 170. A ordem econômica, fundada na II - propriedade privada;
Econômica e Financeira. valorização do trabalho humano e na III - função social da
livre iniciativa, tem por fim assegurar a propriedade;
Capítulo I – Dos Princípios todos, existência digna, conforme os VI - defesa do meio ambiente,
Gerais da Atividade ditames da justiça social, observados os inclusive mediante tratamento
Econômica seguintes princípios: diferenciado conforme o
impacto ambiental dos produtos
e serviços e de seus processos
de elaboração e prestação;
Título VII Da Ordem Art. 182. A política de desenvolvimento § 2º - A propriedade urbana
Econômica e Financeira. urbano, executada pelo Poder Público cumpre sua função social
municipal, conforme diretrizes gerais quando atende às exigências
Capítulo II – Da Política fixadas em lei, tem por objetivo ordenar fundamentais de ordenação da
Urbana o pleno desenvolvimento das funções cidade expressas no plano
sociais da cidade e garantir o bem-estar diretor.
de seus habitantes.
Título VII Da Ordem Art. 184. Compete à União desapropriar
Econômica e Financeira. por interesse social, para fins de reforma
agrária, o imóvel rural que não esteja
Capítulo III – Da Política cumprindo sua função social, mediante
Agrícola e Fundiária e Da prévia e justa indenização em títulos da
Reforma Agrária dívida agrária, com cláusula de
preservação do valor real, resgatáveis no
prazo de até vinte anos, a partir do
segundo ano de sua emissão, e cuja
utilização será definida em lei
Título VII Da Ordem Art. 186. A função social é cumprida I - aproveitamento racional e
Econômica e Financeira. quando a propriedade rural atende, adequado;
simultaneamente, segundo critérios e II - utilização adequada dos
Capítulo III – Da Política graus de exigência estabelecidos em lei, recursos naturais disponíveis e
Agrícola e Fundiária e Da aos seguintes requisitos: preservação do meio ambiente;
Reforma Agrária III - observância das disposições
que regulam as relações de
trabalho;
5
IV - exploração que favoreça o
bem-estar dos proprietários e
dos trabalhadores.
Do ponto de vista constitucional, ao incluir o inciso XXIII no art 5º, o conceito de
propriedade rural, objeto do presente capítulo e do livro, foi modelado e a função social
passou a ser parte integrante desse conceito.
Cabe frisar que o não cumprimento da função social leva à inexistência do direito
à propriedade e, consequentemente, à perda de todas as garantias atinentes a mesma,
constitucionalmente ou infra constitucionalmente estabelecidas. Nesse sentido, Barros
e Oliveira (2007) mencionam que a função social da propriedade rural é uma garantia
dada a toda a sociedade de que a propriedade não irá atender apenas aos interesses do
proprietário, mas passará a vislumbrar, além dos índices de produtividade da terra,
também o respeito ao meio ambiente, às relações do trabalho, à dignidade da pessoa
humana entre outros.
Em uma análise mais abrangente sobre o regramento do uso do solo rural, Campos Jr.
(2004) conclui que o poder público não tem de indenizar a instituição das áreas
destinadas à proteção ambiental nos imóveis privados (como as áreas de preservação
permanente e de reserva legal que serão tratadas com mais profundidade nos capítulos
6 e 7). Isto porque tais espaços protegidos fazem parte da configuração intrínseca do
direito de propriedade ao caracterizarem o aspecto ambiental da função social da
propriedade (não podem, portanto, ser considerados isoladamente, destacados da
propriedade em si). Afinal, o proprietário (pessoa física ou jurídica de direito público ou
privado), como membro integrante da sociedade, se sujeita ao regramento que abrange
o campo dos direitos da coletividade, visando ao bem-estar geral, no âmbito do direito
público.
Afinal, o Código Civil, no art. 1228, estabelece que o proprietário tem a faculdade
de usar, gozar e dispor da coisa (propriedade privada) e o direito de reavê-la do poder
de quem quer que injustamente a possua ou detenha. Porém, o parágrafo 1º esclarece
que o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades
econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o
estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico
e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. Por
fim, o parágrafo 3º menciona que o proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de
desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no
de requisição, em caso de perigo público iminente.
7
O quadro 2.2 apresenta de forma esquemática as possibilidades de classificação
dos bens em função dos graus de exclusividade e rivalidade.
Quadro 2.2: Classificação de bens e serviços em função dos graus de rivalidade e exclusividade. Fonte:
adaptado de Parkin (2009) e Daly e Farley (2011)
8
“não exclusivos”, todos aqueles que não querem ou não podem pagar para ter acesso
não podem ser excluídos dos seus benefícios ou dos seus efeitos nefastos. Esta
impossibilidade de exclusão dos não pagadores pode dar origem ao surgimento de um
fenômeno conhecido como “efeito do carona” (PINDYCK, RUBINFELD, 2006).
Além dos bens privados – excludentes e rivais - e dos bens públicos - não
excludentes e não rivais -, existem outras possibilidades, em especial os monopólios
naturais e os bens comuns ou bens de uso comum.
9
Algumas modalidades de políticas públicas são estabelecidas para aumentar a
disponibilidade de bens públicos e para conciliar a demanda e oferta por recursos
comuns. Assim, os governos tendem a limitar o uso dos recursos comuns a partir de
disciplinamento de acesso a esses recursos ou bens e estabelecendo a manutenção de
qualidade, como os padrões de qualidade ambiental, por exemplo. Em outras palavras,
para a consecução dos objetivos estabelecidos o poder público lança mão de
instrumentos de política ambiental que, como veremos em seguida, podem ser
classificados como instrumentos de comando e controle ou instrumentos econômicos.
10
disciplinamento se dá por meio de normas e sanções aplicadas em caso de não
cumprimento.
Instrumentos Econômicos
Desde a década de 1960, quando a temática ambiental passou a fazer parte da
agenda política de muitos países, os economistas neoclássicos já se consideravam
preparados para enfrentar os problemas decorrentes da poluição e da escassez dos
recursos naturais, tendo a “externalidade” como conceito chave para isso (ALMEIDA,
1998). Segundo a teoria econômica neoclássica, o preço de um bem deve capturar todos
os benefícios e custos de uma transação de mercado e a externalidade, entendida como
uma “falha de mercado”, é “um efeito de propagação associado à produção ou consumo
que se estende a um terceiro, fora do mercado” (THOMAS; CALLAN, 2012, p. 75). Essa
externalidade pode ser negativa, quando gera custos ao terceiro, ou positiva, quando
gera benefícios. Externalidade negativa, portanto, são “custos que circulam
externamente ao mercado e que recaem, não sobre a unidade de produção que o gerou,
mas sobre terceiros” (NUSDEO, 2006, p. 357).
Para que haja uma externalidade negativa (também chamada de custo externo
ou deseconomia externa), devem ser observadas duas condições (ALMEIDA, 1998, p.
27–28): “1) a atividade de um agente (poluidor) causa uma perda de bem-estar para
11
outro; 2) esta perda de bem-estar não é compensada (a vítima não recebe uma quantia
equivalente em valor aos danos sofridos) ”.
12
Uma característica importante que diferencia os instrumentos econômicos dos
instrumentos de comando e controle, e é tida como uma das principais vantagens
daqueles sobre estes, é a flexibilidade ou liberdade dada ao agente degradador para
responder aos estímulos da forma e no tempo que lhe seja economicamente mais
conveniente (SEROA DA MOTTA, 1996; COSTANZA et al., 1997; ALMEIDA, 1998; ENGEL;
PAGIOLA; WUNDER, 2008; JACK; KOUSKY; SIMS, 2008).
Deve ser destacado que o principal objetivo dos instrumentos econômicos não é
gerar receita e cobrir custos, mas induzir uma mudança de comportamento do agente.
Afinal, o simples envolvimento de recursos financeiros não caracteriza o instrumento
como econômico, que deve observar o dinamismo do mercado como a oferta e a
demanda dos serviços e bens. Assim, as multas (como sanções no âmbito dos
instrumentos de comando e controle) envolvem recursos financeiros, mas não se
caracterizam como instrumentos econômicos, pois são medidas coercitivas destinadas
à adoção de condutas mais adequadas (balizadas por limites pré-estabelecidos de
2
As taxas de Pigou são medidas do Estado que influenciam o comportamento de agentes econômicos no
mercado, para corrigir externalidades negativas
3
Baseada no pensamento de Robert Coase, prêmio Nobel de Economia no ano de 1992, e um dos
principais teóricos no campo da economia ambiental.
13
emissão de poluentes, por exemplo), mas não estão vinculadas às condições específicas
locais, como a escassez de um recurso como a água em uma bacia hidrográfica ou a
qualidade do ar em uma cidade. Da mesma maneira, a cobrança de taxas de expediente
para o licenciamento ambiental ou para o processo de avaliação dos Estudos de Impacto
Ambiental não são instrumentos econômicos.
(1) Taxas e tarifas - de forma simplificada, seria o “preço” pago pela poluição
calculado, em teoria, em função dos danos causados pelo agente poluidor (valor
monetário do dano ambiental causado por unidade de poluição emitida). Como
o cálculo da taxa “ótima” é um problema não superado, dadas as dificuldades de
calcular tais danos, os formuladores de políticas e os economistas do mainstream
entendem como aceitável fixar os valores das taxas em patamares suficientes
para o atendimento de objetivos políticos4. São exemplos desse tipo de
instrumento: (a) taxas sobre efluentes (cobrança por unidade de lançamento de
poluentes na água, no solo ou no ar); (b) taxas sobre o usuário (tarifas uniformes
ou diferenciadas pagas em função dos custos de tratamento público ou coletivo
de efluentes); (c) taxas sobre produtos (alteram o preço de produtos que geram
poluição no processo de produção e/ou ao serem consumidos como, por
exemplo, taxas sobre conteúdo de enxofre em combustíveis ou sobre o próprio
combustível); (d) diferenciação de taxas (resulta em preços menores para
produtos menos poluentes e vice-versa e se diferencia das taxas sobre produtos,
pois estas últimas têm como objetivo adicional o aumento de arrecadação,
enquanto que as outras são neutras).
(2) Subsídios - é a denominação dada de forma genérica para diferentes formas de
assistência financeira oferecidas pelo governo aos agentes
poluidores/degradadores para incentivá-los a reduzir os níveis de
poluição/degradação. São tipos de subsídios: (a) subvenções (assistência
financeira não reembolsável a agentes poluidores que se comprometam a adotar
4
Um exemplo disso seria o cálculo das taxas com base no rateio dos custos de obras necessárias para o
melhoramento da qualidade da água uma bacia hidrográfica. Nesse exemplo, os custos de obras de
tratamento de água de abastecimento, de tratamento de efluentes e de despoluição seriam calculados
e divididos entre os agentes poluidores presentes na bacia que pagariam tais custos na forma de taxas,
possibilitando a realização das obras.
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ações para reduzir seus níveis de poluição); (b) empréstimos subsidiados
(empréstimos concedidos a agentes poluidores que adotem ações antipoluição
mediante taxas de juros abaixo das praticadas no mercado); (c) incentivos fiscais
(isenção ou abatimento de impostos para agentes poluidores que implementem
medidas antipoluição).
(3) Licenças comercializáveis - também chamados de “direitos de poluição” ou
“créditos/certificados de redução de emissão” consistem na criação artificial de
um "mercado para poluição" no qual os agentes poluidores podem comprar e
vender cotas de poluição (real ou potencial). Diferentemente das taxas e
subsídios, as licenças comercializáveis são um tipo de instrumento de mercado
que atuam não pela alteração dos preços (custos) de poluição, mas pela
quantidade disponível de cotas para negociação. Seu funcionamento tem início
com a determinação, por parte do governo, de um patamar máximo de poluição
total permitido (para um poluente ou uma região ou um conjunto de empresas).
Esse total máximo é dividido em cotas (direitos/licenças) que são distribuídas ou
leiloadas entre os agentes econômicos envolvidos5. Uma vez distribuídas, as
cotas podem ser comercializadas entre os agentes6.
5
A forma de distribuição das cotas é um dos aspectos mais polêmicos desse instrumento. Ver, por
exemplo, Tietenberg (1990) e Seroa da Motta (1996).
6
O exemplo dado por (ALMEIDA, 1997, p. 8) é o seguinte: “o governo fixa um padrão de toneladas de
dióxido de enxofre por ano, total este que é dividido entre as empresas. Cada poluidor passa a dispor
de uma cota de gás que pode emitir. Se incorpora tecnologias mais ‘limpas’ a ponto de suas emissões
ficarem abaixo da cota, pode vender seus créditos remanescentes para outros poluidores (que
continuam com níveis de poluição acima da cota) ou mesmo para outras empresas que queiram se
estabelecer no mesmo ramo”. Nesse exemplo, cabe às empresas optarem por reduzir a poluição e
vender as cotas ou manter a poluição e comprar cotas. Outro exemplo bastante conhecido desse
mecanismo é o chamado “mercado de carbono”. E, no contexto do tema específico deste livro, o
mercado de Cotas de Reserva Ambiental, que permite a compensação de áreas de reserva legal entre
proprietários de imóveis rurais, se enquadra nesse tipo de instrumento.
15
de muitos países como o Brasil, tornando este incentivo pouco atraente aos
proprietários do ponto de vista econômico (ENVIRONMENTAL LAW INSTITUTE,
2003; SWIFT et al., 2004; PRIA; DIEDERICHSEN; KLEMZ, 2013).
(3) Oferecimento de crédito a taxas de juros reduzidas – quando utilizados para o
financiamento de projetos de manejo florestal sustentável, sistemas
agroflorestais, recuperação de áreas degradadas e exploração extrativista
ecologicamente sustentável (GONZÁLES; BACHA, 2007). No caso brasileiro, um
exemplo é o PRONAF Florestal7.
(4) Pagamento por serviços ambientais (PSA): Utilizado para remunerar
externalidades positivas (ENGEL; PAGIOLA; WUNDER, 2008), com base no
“Princípio do Protetor Recebedor” (GÓMEZ-BAGGETHUN; RUIZ-PEREZ, 2011). A
definição mais amplamente adotada para este instrumento é a de Wunder
(2005), segundo a qual, um PSA é uma transação voluntária em que um serviço
ambiental bem definido (ou um uso da terra que possa assegurar esse serviço) é
adquirido por (pelo menos) um comprador de (pelo menos) um provedor, se e
somente se o provedor garante a provisão do serviço (condicionalidade). Sob a
denominação genérica de PSA, podem estar incluídos esquemas (projetos,
programas etc.) que remuneram proprietários pela conservação de florestas
nativas ou pela sua restauração, pela implantação de sistemas agroflorestais,
pela adoção de práticas conservacionistas em terras agrícolas (práticas de
conservação do solo, por exemplo), entre outras situações (WUNDER; ENGEL;
PAGIOLA, 2008).
7
“O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) destina-se a estimular a
geração de renda e melhorar o uso da mão de obra familiar, por meio do financiamento de atividades e
serviços rurais agropecuários e não agropecuários desenvolvidos em estabelecimento rural ou em áreas
comunitárias próximas.” (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2015)
16
atrativo de serem mais flexíveis e liberais (menos dependentes de intervenção
governamental) (ALMEIDA, 1997).
Além das vantagens mencionadas, outra explicação para o uso extensivo desses
instrumentos (comando e controle) estaria no fato de que os tomadores de decisão já
estão acostumados com a lógica da regulação direta e as próprias empresas por vezes
parecem preferir tais instrumentos, pois acreditam ter maior poder de influenciar as
regulações por meio de acordos e negociações (inclusive ilícitas, como suborno aos
agentes de fiscalização, por exemplo) (ALMEIDA, 1997).
17
Aplicação dos instrumentos de comando e controle e dos instrumentos econômicos
no contexto da política ambiental brasileira
A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), expressa pela Lei Federal nº 6.938
de 1981, como todas as demais Políticas Públicas, tem três compartimentos bem
definidos: (1) os objetivos, que expressam os propósitos para os quais foi criada8; (2) os
instrumentos, que são os meios (ferramentas) de implantá-la e (3) os agentes
institucionais, que definem os atores públicos e privados, as responsabilidades de cada
um e os aspectos institucionais para a implantação da Política9.
Dos treze instrumentos previstos no artigo 9º da PNMA, seis deles são de caráter
notadamente de comando e controle (“o estabelecimento de padrões de qualidade
ambiental”; “o zoneamento ambiental”; “a avaliação de impactos ambientais”; “o
licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras”; “a
criação de espaços territoriais especialmente protegidos” e, por último, “as penalidades
disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à
preservação ou correção da degradação ambiental”) e dois são de caráter econômico
(“os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de
tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental” e os “instrumentos
econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro ambiental e
outros”). Os demais instrumentos estabelecidos na Lei são destinados a garantir a
informação ("o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente"; "o Cadastro
Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental"; "a instituição do
Relatório de Qualidade do Meio Ambiente"; "a garantia da prestação de informações
relativas ao Meio Ambiente" e, por fim, "o Cadastro Técnico Federal de atividades
potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais").
8
No caso brasileiro, a Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo: “a preservação, melhoria e
recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao
desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da
vida humana.” (art. 2º)
9
A PNMA apresenta, no artigo 6º, o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) que disciplina as
ações dos diversos participantes.
18
ambientais no país. Especificamente no campo das políticas destinadas à conservação
em terras privadas, tais instrumentos vêm sendo adotados em diversos contextos, com
especial destaque para os esquemas baseados em pagamento por serviços ambientais
(GUEDES; SEEHUSEN, 2011; SANTOS et al., 2012; PAGIOLA; VON GLEHN; TAFFARELLO,
2013; PRIA; DIEDERICHSEN; KLEMZ, 2013; YOUNG; BAKKER, 2015).
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