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DIREITO CIVIL APLICADO - REAIS


E PROPRIEDADE INTELECTUAL
Me. Juliana Adono da Silva

INICIAR

introdução
Introdução
Iniciamos esta unidade, destacando que abordaremos temas, como o instituto jurídico da
propriedade, sua noção, classificação e formas de aquisição, bem como a usucapião, seus
elementos, modalidades e aspectos conceituais e normativos da incorporação imobiliária.

O referido conteúdo está inserido na temática dos direitos reais, cuja relevância se dá antes mesmo
do Código Civil de 2002. Como exemplo, o próprio conceito de propriedade é de suma importância
desde o Código Civil de 1916 - ainda que o contexto histórico da época em que foi elaborado fosse

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voltado, predominantemente, para uma perspectiva individualista do direito (antes da


regulamentação dos princípios de democratização e ampliação do reconhecimento dos direitos das
coletividades, institucionalizados com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e,
posteriormente, incorporados ao Código Civil de 2002), uma vez que esta constituía a base da
sociedade.

Hoje, com os processos de redemocratização do Estado e as atuais demandas sociais e privadas, a


legislação civil e suas temáticas devem ser lidas de acordo com o texto constitucional, visto que ele
gerou impactos diretos na institucionalização do novo Código Civil de 2002 e, consequentemente, no
que tange aos direitos reais, gênero que engloba a propriedade e suas formas de aquisição como
espécies.

O estudo do direito privado, portanto, é fundamental para entender as relações jurídicas das
pessoas no que diz respeito aos seus bens e direitos como proprietários, devendo tal estudo ser
realizado com leitura sistemática à legislação civil, que norteia toda a matéria abordada, e à
perspectiva constitucional, em respeito e observância aos princípios da Constituição.

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Propriedade: Noção e
Classificação

A propriedade tem sido objeto de estudo do direito civil em todas as suas fases, seja com o Código
de 1916, ou com o de 2002. Embora o contexto de cada época apresente diferentes aspectos
históricos, econômicos, políticos, sociais e culturais, é importante destacar que a propriedade está
presente na sociedade desde tempos remotos, desde a primeira relação jurídica do homem com a
terra, a qual constitui a primeira atividade que pode correlacionar-se a um bem.

O instituto da propriedade tem grande relevância para o Direito Civil, o que se verifica na própria
forma como a legislação a contempla, ou seja, o Código Civil dedicou um título inteiro (Título III), em
seu Livro III, que trata do Direito das Coisas, especialmente para abordar os direitos do proprietário.

Noção
O conceito de propriedade sempre esteve atrelado ao Direito Civil, tendo os doutrinadores adaptado
suas abordagens de acordo com o contexto de cada época. Contudo, importante frisar que a
mesma, embora esteja vinculada ao Direito Privado, tem previsão constitucional, constituindo um
direito fundamental, portanto, é matéria que deve ser lida em respeito e observância aos princípios
da Constituição brasileira de 1988.

Compreende-se por direito de propriedade o poder que alguém tem sobre determinada coisa. Para
Carlos Roberto Gonçalves (2017), o conceito de propriedade é o mais completo dos direitos
subjetivos, o fio condutor dos direitos reais e o núcleo do direito das coisas.

O Código Civil de 2002 não trouxe de forma direta o conceito de propriedade, mas dedicou um título
inteiro para tratar dos direitos do proprietário, das formas de aquisição da propriedade, sua
classificação, dentre outros aspectos.

Diante disso, faz-se necessário destacar seu conceito de acordo com a abordagem de renomados
doutrinadores do Direito Civil contemporâneo, a saber:

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Direito real por excelência, direito subjetivo padrão, ou ‘direito fundamental’ (Pugliatti,
Natoli, Plainol, Ripert e Boulanger), a propriedade mais se sente do que se define, à luz
dos critérios informativos da civilização romano-cristã. A ideia de ‘meu e teu’, a noção do
assenhoramento dos bens corpóreos e incorpóreos independe do grau de cumprimento
ou do desenvolvimento intelectual. Não é apenas o homem do direito ou o business
man que a percebe. Os menos cultivados, os espíritos mais rudes, e até as crianças têm
dela a noção inata, defendem a relação jurídica dominial, resistem ao desapossamento,
combatem o ladrão. Todos ‘sentem’ o fenômeno da propriedade. [...]. “A propriedade é o
direito de usar, gozar e dispor da coisa, e reivindicá-la de quem injustamente a detenha”
(PEREIRA, 2004, p. 89-90).

[...] o direito que a pessoa física ou jurídica tem, dentro dos limites normativos, de usar,
gozar, dispor de um bem corpóreo ou incorpóreo, bem como de reivindicá-lo de quem
injustamente o detenha (DINIZ, 2002, p. 119).

O Código Civil apresenta em seu art. 1.228 os direitos do proprietário, assinalando que o mesmo
tem a faculdade de “usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que
injustamente a possua ou detenha”. Com isso, o legislador buscou contemplar não apenas os
direitos do proprietário, mas também proteger a propriedade de quaisquer circunstâncias em que
alguém injustamente adquira poderes sobre a coisa (BRASIL, 2002).

No parágrafo 1º do referido dispositivo, o legislador enfatizou, ainda, que o exercício do direito de


propriedade deve se dar de acordo com os seu fins econômicos e sociais, no sentido de que “sejam
preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas
naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como a evitada poluição do
ar e das águas” (BRASIL, 2002).

Além disso, importante destacar que o direito de propriedade não é matéria exclusivamente civilista,
uma vez que também se verifica em âmbito constitucional, em caráter de direito fundamental,
inclusive sendo indissociável de sua função social. Desse modo, a Constituição aborda a propriedade
expressamente em seu texto, merecendo destaque o seguinte dispositivo:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]
XXII - é garantido o direito de propriedade ; XXIII - a propriedade atenderá a sua
função social (BRASIL, 1988, grifo nosso).

Portanto, o direito de propriedade é matéria eminentemente civilista, mas que não se desvincula de
sua perspectiva constitucional, a qual deve ser levada em conta nas possíveis demandas do mundo
jurídico e social, uma vez que também é um direito fundamental da pessoa humana.

Sua proteção jurídica, contudo, está condicionada ao cumprimento de sua função social, a qual diz
respeito ao seu uso de forma racional e adequada, em observância à preservação do meio-
ambiente, às disposições que regulam as relações de trabalho e em favor do bem-estar dos
proprietários e trabalhadores que nela estejam envolvidos.

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Classificação: Propriedade Resolúvel e


Propriedade Fiduciária
Cabe, ainda, destacar as modalidades de propriedade cujos fundamentos jurídicos buscam pela
proteção dos bens reais, tanto para quem supre, quanto para quem recebe. Tais modalidades de
propriedade estão vinculadas à ideia de garantia, e dividem-se em duas: propriedade resolúvel e
propriedade fiduciária.

Propriedade Resolúvel
A propriedade resolúvel é aquela cuja titularidade pode ser revista diante da verificação de uma
condição resolutiva e/ou de um termo resolutivo. Está prevista nos seguintes dispositivos civilistas:

Art. 1.359. Resolvida a propriedade pelo implemento da condição ou pelo advento do


termo, entendem-se também resolvidos os direitos reais concedidos na sua pendência, e
o proprietário, em cujo favor se opera a resolução, pode reivindicar a coisa do poder de
quem a possua ou detenha (BRASIL, 2002).

Art. 1.360. Se a propriedade se resolver por outra causa superveniente, o possuidor, que
a tiver adquirido por título anterior à sua resolução, será considerado proprietário
perfeito, restando à pessoa, em cujo benefício houve a resolução, ação contra aquele
cuja propriedade se resolveu a própria coisa ou o seu valor (BRASIL, 2002).

As propriedades de caráter resolúvel comumente envolvem algumas situações contratuais. O


doutrinador Flávio Tartuce apresenta alguns exemplos da referida modalidade de propriedade em
sua obra intitulada Manual de Direito Civil (2017). A seguir, suas exemplificações e considerações
acerca do instituto da propriedade resolúvel:

[...] repise-se que há propriedade resolúvel na cláusula especial de venda com reserva
de domínio (arts. 521 a 527 do CC). Por esse instituto, na venda de coisa móvel, pode o
vendedor reservar para si a propriedade, até que o preço esteja integralmente pago. A
transferência da propriedade ao comprador somente ocorrerá no momento em que o
preço esteja integralmente pago. Até esse pagamento a propriedade do comprador é
resolúvel. [...] Por fim, quanto às exemplificações, há propriedade resolúvel do donatário
na doação com cláusula de reversão. Nos termos do art. 547 do CC, o doador pode
estipular que os bens doados voltem ao seu patrimônio, se sobreviver ao donatário.
Recebendo o donatário o bem e ocorrendo o seu falecimento, os bens retornarão ao
doador que estiver vivo, o que denota a resolubilidade da propriedade do primeiro
(TARTUCE, 2017, p. 644).

Portanto, nas hipóteses de propriedade resolúvel, ainda que do advento de condição resolutiva, o
proprietário continua a ter seus direitos resguardados como tal, destacando-se os casos que
configuram o art. 1.360 do Código Civil, que abrangem as situações em que a propriedade tenha
sido adquirida por título anterior à resolução (BRASIL, 2002).

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Um exemplo sobre o assunto estudado é a coação física irresistível onde o réu, em face da mesma,
adquire a propriedade da vítima da coação e a revende para um terceiro de boa-fé. Posteriormente,
a vítima ingressa com ação declaratória de nulidade de negócio jurídico para desfazer a compra e
venda celebrada entre o réu e o terceiro. Neste caso, o terceiro terá consolidação de seu direito de
propriedade, e o réu deverá responder em face da vítima, seja para ressarcir o bem ou restituir o
valor do imóvel.

Propriedade fiduciária
A propriedade fiduciária é uma espécie de propriedade resolúvel, pois configura a transferência do
devedor para o credor de determinado bem jurídico. O credor passa a ser considerado titular do
bem jurídico, e o devedor passa a ter a posse direta da coisa.

Sua previsão legal encontra-se nos termos do caput do art. 1.361 do Código Civil em vigor, como se
vê:

Art. 1.361 Considera-se fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel infungível que
o devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor (BRASIL, 2002).

De acordo com os parágrafos 1º e 2º do referido dispositivo, sua constituição se dá mediante


registro do contrato, cuja celebração é realizada por instrumento público ou particular, servindo-lhe
de título, no Registro de Títulos e competente ao licenciamento, realizando a anotação no certificado
de registro. Constituída a propriedade fiduciária, desdobra-se a posse, tornando-se o possuidor
direto da coisa (BRASIL, 2002).

Exemplo: a alienação fiduciária (comum para bens móveis e imóveis), situação em que a propriedade
será do agente financeiro, que pode ser representado por um banco, até que haja integral
adimplemento daquela obrigação/dívida. Enquanto isso o devedor continuará se utilizando daquele
bem jurídico, e havendo o integral pagamento, opera-se a resolução do direito de propriedade que
era do banco em favor do devedor (por isso, fala-se que a propriedade fiduciária é, também,
resolúvel).

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atividade
Atividade
De acordo com o parágrafo 2º do texto constitucional, cumpre-se a função social da propriedade urbana
quando esta respeita e atende às exigências essenciais de ordenação da cidade, expressas no plano diretor.
Quanto à propriedade rural, segundo a Constituição, sua função social é cumprida quando o imóvel atende,
simultaneamente, conforme critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:

a) aproveitamento adequado; utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação


do meio ambiente; observância das disposições que regulam as relações de trabalho; exploração
que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
b) aproveitamento adequado; preservação do meio ambiente; observância das disposições que
regulam as relações de trabalho; exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários.
c) aproveitamento racional; utilização adequada dos recursos naturais disponíveis; observância das
disposições que regulam as relações de trabalho; exploração que favoreça o bem-estar dos
proprietários.
d) aproveitamento racional e adequado; utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e
preservação do meio ambiente; observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
exploração que favoreça o bem-estar dos trabalhadores.
e) aproveitamento racional e adequado; utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e
preservação do meio ambiente; observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

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Aquisição de Propriedade

A legislação civil vigente apresenta duas formas de aquisição de propriedade de acordo com a
modalidade do bem, o qual pode ser móvel ou imóvel. O presente tópico abordará cada uma, bem
como as consequências que delas decorrem.

Aquisição de Propriedade Móvel


As formas de aquisição de propriedade móvel têm previsão legal nos arts. 1.260 a 1.272 do Código
Civil e dividem-se em oito modalidades, a saber:

Usucapião;
Ocupação;
Achado do Tesouro;
Tradição;
Especificação;
Confusão;
Comissão; e
Adjunção.

Neste sentido, a usucapião, de modo geral, diz respeito à propriedade móvel ou imóvel possuída de
forma contínua e incontestável durante três anos, mediante justo título e boa-fé. O seu conceito está
previsto no art. 1.260 da legislação civil vigente (BRASIL, 2002).

A aquisição da propriedade móvel por ocupação se dá por meio de assenhoramento de coisa sem
dono, e está disciplinada no art. 1.263 do atual Código Civil. Por exemplo: se Maria encontra coisa
sem dono, e pega para si, tornando-se proprietária, constitui-se situação de aquisição originária de
bem móvel sob ocupação. Contudo, devemos estar atentos ao fato de que a coisa não deve ter dono
anterior, uma vez que, caso tenha, será coisa perdida, devendo ser restituída (BRASIL, 2002).

O achado de tesouro, por sua vez, nos termos do art. 1.264 do atual Código Civil, configura situação-

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fato de depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não haja memória, sendo dividido
em partes iguais entre o proprietário do prédio e quem encontrar o tesouro de modo casual
(BRASIL, 2002).

Porém, a referida forma de aquisição de bem móvel abrange algumas peculiaridades, que estão
previstas nos arts. 1.265 e 1.266 da legislação civil vigente, a saber:

Art. 1.265. O tesouro pertencerá por inteiro ao proprietário do prédio, se for achado por
ele, ou em pesquisa que ordenou, ou por terceiro não autorizado.
Art. 1.266. Achando-se em terreno aforado, o tesouro será dividido por igual entre o
descobridor e o enfiteuta, ou será deste por inteiro quando ele mesmo seja o
descobridor.

Já a tradição está prevista no art. 1.267, cujo parágrafo único apresenta seu conceito, indicando que
ela ocorre quando “o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório; quando cede ao
adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou quando o
adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico” (BRASIL, 2002).

Ademais, a referida forma de aquisição resguarda algumas particularidades, que se verificam no art.
1.268, em seu caput e nos parágrafos 1º e 2º, como se vê:

Art. 1.268. Feita por quem não seja proprietário, a tradição não aliena a propriedade,
exceto se a coisa, oferecida ao público, em leilão ou estabelecimento comercial, for
transferida em circunstâncias tais que, ao adquirente de boa-fé, como a qualquer
pessoa, o alienante se afigurar dono.
§ 1º Se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir depois a propriedade,
considera-se realizada a transferência desde o momento em que ocorreu a tradição.
§ 2º Não transfere a propriedade a tradição, quando tiver por título um negócio jurídico
nulo (BRASIL, 2002).

Como exemplos, têm-se os casos de compra e venda. Contudo, devemos nos atentar ao fato de que
a simples existência desses contratos não garante a tradição, cuja ocorrência apenas se dará com a
transferência da coisa.

A especificação, por sua vez, nos termos do art. 1.269 do Código Civil, ocorre mediante
transformação definitiva da matéria-prima em espécie nova, por meio do trabalho ou indústria do
especificador. Assim, para que opere a aquisição da propriedade é necessário que a transformação
seja feita pela ação humana, e que impossibilite o retorno à espécie anterior (BRASIL, 2002).

Suas particularidades estão contidas nos arts. 1.270 ( caput e §§s 1º e 2º) e 1.271 da legislação civil,
como se vê:

Art. 1.270. Se toda a matéria for alheia, e não se puder reduzir à forma precedente, será
do especificador de boa-fé a espécie nova.
§ 1º Sendo praticável a redução, ou quando impraticável, se a espécie nova se obteve de
má-fé, pertencerá ao dono da matéria-prima.
§ 2º Em qualquer caso, inclusive o da pintura em relação à tela, da escultura, escritura e
outro qualquer trabalho gráfico em relação à matéria-prima, a espécie nova será do

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especificador, se o seu valor exceder consideravelmente o da matéria-prima.


Art. 1.271. Aos prejudicados, nas hipóteses dos arts. 1.269 e 1.270, se ressarcirá o dano
que sofrerem, menos ao especificador de má-fé, no caso do § 1º do artigo antecedente,
quando irredutível a especificação (BRASIL, 2002).

A confusão, comistão e a adjunção estão previstas na mesma seção do capítulo que cuida da
aquisição de propriedade móvel, especificamente nos arts. 1.272 a 1.274 do Código Civil (BRASIL,
2002).

Cabe destacar as considerações de Flávio Tartuce a respeito das referidas modalidades, a saber:

a) Confusão - mistura entre coisas líquidas (ou mesmo de gases), em que não é possível
a separação. Pode ser definida confusão real, o que é importante para diferenciá-la da
confusão obrigacional, forma de pagamento indireto em que se confundem, na mesma
pessoa, as qualidades de credor e de devedor (arts. 382 a 384 do CC). Exemplos:
misturas de água e vinho; de álcool e gasolina; de nitroglicerina (TNT). b) Comistão -
mistura de coisas sólidas ou secas, não sendo possível a separação. Exemplos: misturas
de areia e cimento ou de cereais de safras diferentes, não sendo possível identificar a
origem. c) Adjunção - justaposição ou sobreposição de uma coisa sobre outra, sendo
impossível a separação. Exemplos: tinta em relação à parede; selo valioso em álbum de
colecionador (TARTUCE, 2017, p. 673).

Além disso, o renomado doutrinador civilista destaca algumas regras a um dos referidos institutos,
quais sejam:

1ª Regra: As coisas pertencentes a diversos donos, confundidas, misturadas ou


adjuntadas sem o consentimento deles, continuam a pertencer-lhes, sendo possível
separá-las sem deterioração (art. 1.272, caput, do CC). Em suma, sendo possível
retornar ao estado anterior (status quo ante), sem que isso desvalorize as coisas
misturadas, esse é o caminho a ser percorrido. [...] 2ª Regra: Não sendo possível a
separação das coisas, ou exigindo dispêndio excessivo, permanece o estado de
indivisão, cabendo a cada um dos donos quinhão proporcional ao valor da coisa com
que entrou para a mistura ou agregado (art. 1.272, § 1º, do CC). Cada um dos
proprietários dos bens móveis terá direito ao valor que corresponder ao seu quinhão.
Como não é possível determinar um quinhão real, procura-se um quinhão ideal. Nesses
casos, se uma das coisas puder ser considerada como principal, o dono desse principal
será o dono do todo, indenizando os demais pelos valores que corresponderem aos
seus quinhões (art. 1.272, § 2º, do CC). Exemplo: havendo mistura de areia com cimento
sendo impossível o retorno ao estado anterior, o dono da parte mais valiosa (do
cimento), considerado como principal, ficará com o todo, devendo indenizar o dono do
acessório (areia). [...] 3ª Regra: Se a confusão, comissão ou adjunção se operou de má-
fé, à outra parte que estiver de boa-fé caberá escolher entre: a) adquirir a propriedade
do todo, pagando o que não for seu, abatida a indenização que lhe for devida, ou b)
renunciar ao que lhe pertencer, caso em que será indenizado de forma integral (art.
1.273 do CC). A norma tem a sua razão de ser, punindo o proprietário que agiu de má-
fé no ato de misturar, o que induz à sua culpa. Por isso é que são colocadas à
disposição do proprietário de boa-fé duas opções, de acordo com a sua livre vontade.
[...] 4ª Regra: “Se da união de matérias de natureza diversa se formar espécie nova, à
confusão, comissão ou adjunção aplicam-se as normas dos arts. 1.272 e 1.273” (art.
1.274 do CC). É o caso que da mistura de minerais surja um novo. Aqui, houve um erro
de digitação na literalidade norma, pois o dispositivo manda aplicar os arts. 1.272 e

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1.273 do CC. Na verdade, como há o surgimento de uma espécie nova, o caso é de


especificação, devendo ser aplicados os arts. 1.270 e 1.271 do CC, segundo a melhor
doutrina (TARTUCE, 2017, p. 673-674).

Nesse sentido, o quadro a seguir reúne os principais aspectos legais e características a respeito dos
institutos jurídicos de aquisição de propriedade móvel:

ACHADO
CONFUSÃO,
USUCAPIÃO OCUPAÇÃO DE TRADIÇÃO ESPECIFICAÇÃO
COMISTÃO E
(art. 1.260) (art. 1.263) TESOURO (art. 1.267) (art. 1.269)
ADJUNÇÃO
(art. 1.264)

Confusão:
mistura
Depósito Transformação
Forma entre coisas
Posse antigo de definitiva da
derivada de líquidas (ou
contínua e Assenhoramento coisas matéria-prima
aquisição da gases) em
incontestável preciosas e em espécie
propriedade que não é
oculto nova
possível a
separação.

Comistão:
Existência de Transformação mistura
Não há
intermediação mediante entre coisas
memórias
3 anos Coisa sem dono pessoal como trabalho ou sólidas em
sobre o
requisito para indústria do que não é
dono
sua aquisição especificador possível a
separação.

Divisão em Adjunção:
Entrega da Transformação
partes justaposição
coisa para o mediante ação
iguais entre ou
adquirente, humana e
Atenção: coisa o sobreposição
Justo título e no intuito de impossibilidade
sem dono versus proprietário de uma coisa
boa-fé transferência de retorno à
coisa perdida do prédio e sobre outra,
da posse ou espécie
pessoa que sendo
da anterior, como
o impossível a
propriedade pré-requisitos
encontrou separação.

Quadro 2.1 - Formas de aquisição de propriedade móvel


Fonte: Elaborado pela autora.

Nos casos de aquisição de bens móveis por aquisição, faz-se necessário distinguir suas modalidades,
que podem ser classificadas de três formas: real, simbólica e ficta. Na primeira, ocorre de fato a
entrega da coisa (por exemplo: Caio se dirige até uma loja para comprar um eletrodoméstico,

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adquirindo a propriedade quando o vendedor entregar, de fato, a coisa para ele). A segunda
modalidade, por sua vez, diz respeito à situação de fato em que a entrega da coisa é representada
por algum ato que simbolize a transferência. Já a terceira modalidade refere-se ao processo de
aquisição que ocorre por presunção.

Aquisição de Propriedade Imóvel


A propriedade admite modos de aquisição de caráter originário e derivado. Na primeira forma,
existe o contato direto da pessoa com a coisa, sem qualquer intermediação pessoal. Já na segunda, a
intermediação é subjetiva. Nesse sentido, Flávio Tartuce elaborou esquema da figura 2.1, para
ilustrar as referidas formas de aquisição da propriedade imóvel:

Figura 2.1 - Formas de aquisição da propriedade imóvel.


Fonte: Tartuce (2017, p. 645).
De acordo com o art. 1.248 do Código Civil vigente, as acessões constituem forma originária de
aquisição da propriedade imóvel, em razão da qual passa a pertencer ao proprietário tudo o que foi
incorporado natural ou artificialmente. Como acessões naturais estão previstas as seguintes
modalidades: formação de ilhas, aluvião, avulsão e abandono do álveo. Já como acessões artificiais,
que decorrem da intervenção humana, a legislação civil atual disciplina as plantações e as
construções (TARTUCE, 2017, p. 645).

Como forma de aquisição originária tem-se, também, a usucapião. Em suma, tal instituto configura-
se por situação de aquisição do domínio, ou até mesmo de outro direito real (caso de usufruto ou da
servidão), pela posse de modo prolongado. Nesse sentido, a lei admite que certa situação de fato
alongada por determinado intervalo de tempo se transforme em uma situação jurídica (a aquisição
originária da propriedade). Está prevista nos arts. 1.238 a 1.244 do Código Civil em vigor (TARTUCE,
2017, p. 652).

A aquisição por registro imobiliário, ou registro do título, como está previsto no art. 1.245 do Código
Civil, ocorre pela transferência entre vivos da propriedade mediante registro de título translativo no
Registro de Imóveis (BRASIL, 2002).

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Tal modalidade guarda algumas peculiaridades, as quais estão expressas na legislação civil vigente,
quais sejam:

Art. 1.245, CC/2002. § 1º Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante


continua a ser havido como dono do imóvel.
§ 2º Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade
de registro, e o respectivo cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono
do imóvel.
Art. 1.246. O registro é eficaz desde o momento em que se apresentar o título ao oficial
do registro, e este o prenotar no protocolo.
Art. 1.247. Se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar
que se retifique ou anule.
Parágrafo único. Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel,
independentemente da boa-fé ou do título adquirente (BRASIL, 2002).

A aquisição de propriedade imóvel por sucessão é matéria de Direito das Sucessões, não cabendo
sua análise pelos Direitos Reais, contudo, destaca-se que tal direito está disposto no art. 1.784 do
diploma civil e diz respeito à situação de fato em que a herança é transmitida desde a abertura da
sucessão, que resulta da morte de alguém (BRASIL, 2002).

saiba mais
Saiba mais
Para compreender de forma mais ampla a diferença entre a
aquisição originária e a aquisição derivada de propriedade,
bem como seus reflexos no Registro de Imóveis, leia o artigo
de autoria do Professor Fábio Pinheiro Gazzi.

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atividade
Atividade
Maria, participando de um sorteio em um programa de TV, é a ganhadora do prêmio, um carro, cuja chave
lhe é entregue pelo apresentador. Assinale a alternativa que apresenta a forma de aquisição de propriedade
que a referida situação apresenta:

a) Tradição real.
b) Tradição ficta.
c) Tradição simbólica.
d) Especificação.
e) Achado do tesouro.

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Usucapião

A Usucapião constitui forma de aquisição de propriedade móvel e imóvel. Sua previsão legal está
contida nos arts. 1.260 a 1.262 do Código Civil de 2002, para tratar da aquisição de bem móvel, e nos
arts. 1.238 a 1.244 no que tange aos bens imóveis. O presente tópico abordará cada uma de suas
modalidades, sob a perspectiva de seus aspectos conceituais e normativos (BRASIL, 2002).

Aquisição de Propriedade Móvel


A usucapião configura forma de aquisição originária de propriedade móvel, uma vez que torna
aquele que usucapiu o único proprietário da coisa desde a sua existência, de maneira que ela tem
que, consequentemente, apagar os eventuais registros de proprietários anteriores.

A usucapião pode ser ordinária ou comum, referindo-se àquela que admite a aquisição da
propriedade móvel a quem possuí-la como sua, de forma contínua e incontestável, por três anos,
com justo título e boa-fé.

De acordo com os arts. 1.260 a 1.262 do Código Civil em vigor, são requisitos para a usucapião de
bem móvel os seguintes elementos:

a) o justo título, que se refere a documento que seria apto à admissão da transmissão da
propriedade de um objeto ao seu adquirente (por exemplo, a posse de um recibo de compra e
venda emitido por alguém que se passava pelo real proprietário de coisa móvel);

b) boa-fé: subjetiva, vinculada ao desconhecimento a respeito da existência de um vício que


impossibilita a aquisição da propriedade;

c) posse contínua e incontestada, cujo exercício se dá de forma ininterrupta e com posse mansa e
pacífica;

d) Posse por três anos, cujo caráter é de ordem objetiva e está relacionado à contagem do tempo (se

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há justo título, este pode ser usado para marcar o início da contagem).

Nesse sentido, reunidos todos os requisitos, a usucapião gerará efeitos erga omnes para esta forma
de aquisição da propriedade, constituindo, destarte, sentença declaratória (BRASIL, 2002).

Aquisição de Propriedade Imóvel


O direito brasileiro apresenta três modalidades de usucapião de bens imóveis, que são:

● Extraordinária;

● Ordinária;

● Especial, também denominada constitucional, que pode ser

❖ Rural, ou pró-labore;

❖ Urbana.

Ademais, existe a usucapião indígena, cuja previsão legal encontra-se na Lei 6.001 do Estatuto do
Índio, bem como a modalidade extrajudicial do instituto jurídico. Com isso, o presente tópico
abordará cada uma das referidas modalidades (BRASIL, 1973).

Usucapião Extraordinária
O doutrinador Carlos Roberto Gonçalves assinala que:

A usucapião extraordinária é disciplinada no art. 1.238 do Código Civil e seus requisitos


são: posse quinze anos (que pode reduzir-se a dez anos se o possuidor houver
estabelecido no imóvel a sua moradia habitual ou nele realizado obras e serviços de
caráter produtivo), exercida com ânimo de dono, de forma contínua, mansa e
pacificamente. Dispensam-se os requisitos do justo título e de boa-fé (GONÇALVES,
2017, p. 277)

Um exemplo prático de tal modalidade é a situação fática em que o proprietário falece e deixa como
único sucessor/herdeiro, uma menina de 10 anos de idade. Além disso, existe terceiro que tem a
posse do imóvel por 10 anos. Com isso, até 16 anos de idade a usucapião não correrá,
posteriormente, sendo contabilizado 5 anos e, o usucapiente esperando por 21 anos, ao total,
poderá adquirir a propriedade.

Usucapião Ordinária
A usucapião ordinária deve observar os seguintes requisitos:

lapso temporal de dez anos;


posse contínua,
mansa e pacífica (não pode ter ações possessórias, diretas ou indiretas);
vontade inicial de ser dono/ânimo de dono; justo título e boa-fé.

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A modalidade ordinária de usucapião é contemplada da seguinte forma pela legislação civil vigente:

Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e


incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos. Parágrafo único.
Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido,
onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada
posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou
realizado investimento de interesse social e econômico (BRASIL, 2002).

saiba mais
Saiba mais
Embora o conteúdo se vincule ao direito material, vale a
pena verificarmos como se formula uma ação de usucapião
ordinário. Para tanto, veja modelo preparado por Erica
Avallone.

ACESSAR

Usucapião Especial (ou constitucional)


A usucapião especial é dividida em duas modalidades: urbana e rural, como já apresentamos.
Abrange três requisitos básicos, que são:

Lapso temporal de cinco anos (não há que se falar em usucapião sem posse, isto é, a ação
é declaratória, uma vez que a posse já foi constituída);
Posse mansa e pacífica (não pode haver ação possessória e/ou de domínio contestando-a);
Vontade de ser dono.

Além disso, por ser uma espécie de usucapião constitucional, encontra fundamento no art. 191 da
Constituição brasileira de 1988 e no art. 1.239 do Código Civil de 2002, abrangendo, portanto,
requisitos próprios, quais sejam:

Limites de metragem (na área urbana - usucapião urbano -, não poderá ultrapassar 250m²;
e na área rural - usucapião rural -, 50 hectares);
O autor não deve ter propriedade em seu nome em território nacional (caso tenha, caberá
improcedência do pedido da ação - para tanto, prova-se mediante perícia de metragem
por parte do Poder Judiciário);
Princípio da função social da propriedade e direito de moradia.

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As provas dessa modalidade de usucapião são orais e documentais. As primeiras se configuram por
provas faladas (réus, autores, etc), as segundas se constituem por tudo o que é palpável
(comprovantes de pagamento, contas de energia, etc). (BRASIL, 1988, 2002)

reflita
Reflita
Um terreno localizado na área rural com 80 metros
pode ser objeto de pedido de Usucapião
constitucional?

Usucapião Indígena
Na prática, esta modalidade não é muito utilizada, contudo, devemos ter ciência de seu conceito.
Está previsto no Estatuto do Índio, em seu art. 33. São necessários os seguintes requisitos (BRASIL,
1973)

Dez anos de posse;


Não pode ser realizado em área/imóvel pública;
Manifestação do MP;
Realizado por pessoa indígena;
É vedada a sua realização em área coletiva/terra indígena demarcada.

Usucapião Extrajudicial
O art. 216-A foi introduzido na Lei dos Registros Públicos (Lei n. 6.015/73) pelo art. 1.071 do novo
Código de Processo Civil de 2015, com previsão e admissão da usucapião em modalidade
extrajudicial, processada de modo direto perante cartório de registro de imóveis da comarca onde
está situado o imóvel objeto da ação (BRASIL, 2015).

O doutrinador Carlos Roberto Gonçalves assinala que o pedido deverá ser formulado pelo
interessado, devidamente representada por advogado, instruído com:

I - ata notarial lavrada pelo tabelião, atestando o tempo de posse do requerente e seus
antecessores, conforme o caso e suas circunstâncias; II - planta e memorial descritivo
assinado por profissional legalmente habilitado, com prova de anotação de
responsabilidade técnica no respectivo conselho de fiscalização profissional, pelos

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titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do


imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes; III - certidões negativas dos
distribuidores da comarca da situação do imóvel e do domicílio do requerente; IV - justo
título ou quaisquer outros documentos que demonstrem a origem da posse,
continuidade, natureza e tempo, tais como o pagamento dos impostos e taxas que
incidirem sobre o imóvel (GONÇALVES, 2017, p. 300).

O reconhecimento extrajudicial da usucapião, portanto, terá efetividade perante o Registro de


Imóveis, mediante apresentação de documentos e uma ata notarial (regulada pelo art. 384 do
Código de Processo Civil, configura-se por documento público que busca pela comprovação de
determinado fato da ciência do tabelião) lavrada pelo tabelião de notas (BRASIL, 2015).

Neste sentido, devemos nos atentar ao fato de que sua utilização é de caráter facultativo, cabendo
ao interessado optar pela ação judicial, independentemente da existência de litígio.

Além disso, a autuação de seu pedido será realizada pelo registrador, com prorrogação do prazo de
prenotação até seu acolhimento ou rejeição. O oficial do registro de imóveis reconhecerá à União, ao
Estado, ao Distrito Federal e ao Município, a fim de que se manifestem, no prazo de quinze dias, a
respeito do pedido, bem como promoverá a publicação de edital em jornal de grande circulação,
onde houver, para conhecimento de terceiros eventualmente interessados, os quais podem
manifestar-se dentro de quinze dias (GONÇALVES, 2017, p. 301).

Estando em ordem a documentação e não existindo impugnação, o registro da aquisição do imóvel


será realizado pelo oficial do registro de imóveis. A rejeição do pedido extrajudicial não impossibilita
o ajuizamento da ação de usucapião. No caso de impugnação ao pedido de reconhecimento
extrajudicial da usucapião, os autos serão remetidos ao juízo competente da comarca da situação do
imóvel pelo oficial do registro de imóveis, cabendo ao requerente a emenda da petição inicial a fim
de adequá-la ao procedimento comum (LRP, art. 216-A) (GONÇALVES, 2017, p. 301).

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atividade
Atividade
O Brasil, como um país de base eminentemente rural e agrícola, tem nesse meio determinadas formas de
usucapião, dentre elas verifica-se a modalidade indígena, cujas características, aspectos legais e regime
jurídico foram abordados ao longo do texto. Diante disso e com base na leitura do tópico específico do
referido instituto jurídico, assinale a alternativa que reúne os seus requisitos:

a) O bem, com extensão de, no máximo, 50 hectares, deve estar situado em área rural; Posse mansa
e pacífica, pelo prazo de 10 anos; A posse deve ser exercida por pessoa indígena
b) O bem, com extensão de, no máximo, 50 hectares, pode estar tanto em área rural como urbana;
Posse mansa e pacífica, pelo prazo de 10 anos; A posse deve ser exercida por pessoa indígena.
c) O bem, com extensão de, no mínimo, 50 hectares, deve estar situado em área rural; Posse mansa
e pacífica, pelo prazo de 10 anos; A posse deve ser exercida por pessoa indígena.
d) O bem, com extensão de, no máximo, 50 hectares, deve estar situado em área rural; Posse mansa
e pacífica, pelo prazo de 20 anos; A posse deve ser exercida por pessoa indígena.
e) O bem, com extensão de, no máximo, 50 hectares, deve estar situado em área rural; Posse mansa
e pacífica, pelo prazo de 10 anos; A posse pode ser exercida por qualquer pessoa, admitindo a lei os
casos de seu exercício por pessoa indígena.

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Incorporação Imobiliária

Quando falamos de incorporação imobiliária no mundo jurídico civilista, estamos nos referindo à
grande quantidade e variedade de grandes empreendimentos existentes no contexto
contemporâneo: shopping centers , hotéis, edifícios residenciais e comerciais, etc. Com isso, o
presente tópico abordará o instituto jurídico da incorporação imobiliária, elucidando suas principais
características e aspectos legais.

Noção
Entende-se por incorporação imobiliária uma atividade empresarial sujeita à regulamentação
jurídica. Segundo o parágrafo único do art. 28, da Lei 4.591/64, configura-se pelo exercício da
atividade com a finalidade de promoção e realização da construção, para alienação total ou parcial,
de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas (BRASIL, 1964).

A incorporação imobiliária caracteriza-se por certa complexidade, uma vez que se constitui de
negócio jurídico envolvendo uma série de contraentes, quais sejam: o incorporador, o proprietário
do bem, o responsável pelo projeto, o agente financeiro, o construtor da obra, o corretor de imóveis
e o adquirente.

Além disso, sua validade está condicionada a determinados requisitos, cada qual constitui uma fase
do processo de incorporação imobiliária, ou seja, um requisito está condicionado ao anterior, como
se vê, na seguinte ordem:

1) autorização para realização do empreendimento expedida pela prefeitura (seu fornecimento se


dá com a apresentação do registro do imóvel com a devida indicação do proprietário, do projeto, da
descrição das unidades habitacionais autônomas e comuns da edificação e das certidões de
ausência de débito tributário ou previdenciário do incorporador);

2) elaboração do contrato.

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Além destes requisitos, o incorporador apenas poderá negociar sobre as unidades autônomas após
ter arquivado, no cartório competente de Registro de Imóveis, os documentos necessários, cuja
previsão legal encontra-se no art. 32 da Lei n. 4.591 de 01/09/1964, como se vê:

Art. 32. O incorporador somente poderá negociar sôbre unidades autônomas após ter
arquivado, no cartório competente de Registro de Imóveis, os seguintes documentos: a)
título de propriedade de terreno, ou de promessa, irrevogável e irretratável, de compra e
venda ou de cessão de direitos ou de permuta do qual conste cláusula de imissão na
posse do imóvel, não haja estipulações impeditivas de sua alienação em frações ideais e
inclua consentimento para demolição e construção, devidamente registrado; b)
certidões negativas de impostos federais, estaduais e municipais, de protesto de títulos
de ações cíveis e criminais e de ônus reais relativante ao imóvel, aos alienantes do
terreno e ao incorporador; c) histórico dos títulos de propriedade do imóvel,
abrangendo os últimos 20 anos, acompanhado de certidão dos respectivos registros; d)
projeto de construção devidamente aprovado pelas autoridades competentes; e) cálculo
das áreas das edificações, discriminando, além da global, a das partes comuns, e
indicando, para cada tipo de unidade a respectiva metragem de área construída; f)
certidão negativa de débito para com a Previdência Social, quando o titular de direitos
sôbre o terreno fôr responsável pela arrecadação das respectivas contribuições; g)
memorial descritivo das especificações da obra projetada, segundo modelo a que se
refere o inciso IV, do art. 53, desta Lei; h) avaliação do custo global da obra, atualizada à
data do arquivamento, calculada de acôrdo com a norma do inciso III, do art. 53 com
base nos custos unitários referidos no art. 54, discriminando-se, também, o custo de
construção de cada unidade, devidamente autenticada pelo profissional responsável
pela obra; i) discriminação das frações ideais de terreno com as unidades autônomas
que a elas corresponderão; j) minuta da futura Convenção de condomínio que regerá a
edificação ou o conjunto de edificações; l) declaração em que se defina a parcela do
preço de que trata o inciso II, do art. 39; m) certidão do instrumento público de
mandato, referido no §1º do artigo 31; n) declaração expressa em que se fixe, se houver,
o prazo de carência (art. 34); o) atestado de idoneidade financeira, fornecido por
estabelecimento de crédito que opere no País há mais de cinco anos; p) declaração,
acompanhada de plantas elucidativas, sôbre o número de veículos que a garagem
comporta e os locais destinados à guarda dos mesmos. (Alínea incluída pela Lei nº
4.864, de 29.11.1965).

Espécies de Contrato
Os contratos mais utilizados em âmbito imobiliário são de duas espécies: promessa de compra e
venda e compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária.

A primeira diz respeito à modalidade em que o incorporador assume o risco da construção, de


modo que determina, desde então, o preço final da unidade, obrigando-se a entregá-la concluída e
averbada junto ao registro geral de imóveis.

Já a segunda refere-se à modalidade em que o devedor, ou seja, o adquirente, faz um pacto de


transferência da propriedade do imóvel ao credor, podendo este ser incorporador ou até mesmo
instituição financeira interveniente, com ênfase em verificar adimplido o parcelamento contraído.

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Regime Jurídico
A incorporação imobiliária está vinculada ao regime de afetação, cuja configuração se dá mediante
situação em que o terreno e as acessões, seus bens e direitos, mantêm-se separados do patrimônio
do incorporador, integrando patrimônio de afetação, visando à consecução da incorporação e à
entrega das unidades aos adquirentes.

Diante disso, o patrimônio oferecerá garantia aos adquirentes das unidades de que não perderão o
bem que estão adquirindo durante a obra, por quaisquer motivos vinculados ao incorporador.

saiba mais
Saiba mais
Para aprofundarmos nosso conhecimento e a
argumentação jurídica diante de demandas que envolvem o
descumprimento da função social de bem público,
recomendamos a leitura do artigo de autoria do jurista
Marcos Alcino de Azevedo Torres, publicado na Revista
Consultor Jurídico.

TORRES, M. A. de A. O descumprimento da função social da


propriedade do bem público. Revista Consultor Jurídico ,
Rio de Janeiro, mai. 2018.

ACESSAR

Tal incorporação, igualmente, fornecerá a garantia aos futuros proprietários das unidades no que
tange às condições técnicas e de idoneidade do incorporador, bem como garantir a legalidade do
projeto.

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atividade
Atividade
De acordo com o abordado ao longo do presente tópico, assinale a alternativa que melhor define o instituto
jurídico da incorporação imobiliária:

a) Exercício da atividade com fins de promoção e realização da construção, para alienação total de
edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.
b) Exercício da atividade com fins de promoção e realização da construção, para alienação parcial,
de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.
c) Exercício da atividade com fins de realização da construção, para alienação total, de edificações
ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.
d) Exercício da atividade com fins de promoção e realização da construção, para alienação total ou
parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.
e) Exercício da atividade com fins de promoção da construção de edificações ou conjunto de
edificações compostas de unidades autônomas.

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indicações
Material
Complementar

LIVRO

Função Social da Propriedade Pública


Sílvio Luís Ferreira da Rocha.

ISBN: 8574206911

Comentário: Para aprofundarmos os estudos sobre a função social da


propriedade no novo Código Civil, a função social da propriedade
urbana e rural, e aspectos específicos da usucapião constitucional e a
função social da propriedade pública, recomenda-se, como bibliografia
complementar a leitura da obra do jurista Sílvio Luís Ferreira da Rocha.

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FILME

A figura do Corretor de Imóveis numa incorporação


imobiliária
Ricardo Gonçalves

Ano: 2019

Comentário: Para aprofundar seus estudos e atuar na área do


mercado imobiliário no que tange ao desenvolvimento de uma
incorporação imobiliária em todas as suas fases, recomenda-se que
assista à palestra ministrada por Ricardo Gonçalves.

TRAILER

conclusão
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conclusão
Conclusão
Nesta unidade, destacamos que é preciso atentar-se ao fato de que, diante das inovações do mundo
jurídico dos Direitos Reais, as relações jurídicas envolvendo sujeitos e bens móveis e imóveis
tornam-se cada vez mais complexas. Contudo, destaca-se que após o advento da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988, os direitos reais, embora pertençam ao ramo das relações
privadas, devem ser lidos sob a observância dos princípios constitucionais aplicáveis, não se
desvinculando do que a Carta Magna estabelece como direitos e deveres.

Assim, foram abordadas as noções e as classificações do instituto jurídico da propriedade, de modo


a elucidar as principais características da propriedade resolúvel e da propriedade fiduciária.

Com isso, foram demonstrados os aspectos conceituais e normativos das formas de aquisição de
propriedade móvel e imóvel, utilizando-se como referencial teórico os principais e mais renomados
juristas da área cível. Neste tópico também foram destacadas as classificações do instituto jurídico
da tradição, uma vez que se divide em 3 (três) modalidades.

A usucapião, como um dos principais institutos jurídicos de Direito Real existentes no Brasil, foi
abordada minuciosamente, mediante a apresentação dos principais aspectos de cada uma de suas
modalidades.

Por fim, foram apresentadas as noções, as espécies de contrato e o procedimento da incorporação


imobiliária, cuja necessidade de explanação se dá em razão do grande número de
empreendimentos desta natureza jurídica no país, o que acarreta, também, significativo número de
demandas judiciais envolvendo tais direitos.

Portanto, com a leitura sistematizada da doutrina, da legislação pertinente e do texto constitucional


vigente, pretende-se proporcionar ao aluno ampla compreensão dos institutos jurídicos abordados
pela presente Unidade em contextualização com a realidade da vida social e do mundo do Direito
Privado.

referências
Referências
Bibliográficas
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BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição Federativa do Brasil . Brasília, DF: Senado Federal,
Centro Gráfico, 1988. 292 p.

BRASIL. Lei nº 10.406/2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União . Brasília, 2002. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm . Acesso em 08 mar. 2019.

DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil Brasileiro : Direito das Coisas. v. 4. São Paulo: Saraiva, 2002.

GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro : Direito das Coisas. 12. ed. v. 5. São Paulo: Saraiva, 2017.

PEREIRA, C. M. da S. Instituições de Direito Civil . 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004.

TARTUCE, F. Manual de Direito Civil : Volume Único, 7. ed. São Paulo: Método, 2017.

IMPRIMIR

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