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CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA

PORTARIA Nº 2.861 DO DIA 13/09/2004

MATERIAL DIDÁTICO

DIREITO DE PROPRIEDADE

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SUMÁRIO
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................... 3
UNIDADE 2 – IMPORTÂNCIA E FUNDAMENTOS JURÍDICOS DA PROPRIEDADE
.................................................................................................................................... 5
2.1 LIMITAÇÕES AO DIREITO DE PROPRIEDADE .............................................................. 8
2.2 A PROPRIEDADE AO LONGO DOS TEMPOS ................................................................ 9
2.3 A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE..................................................................... 12
2.4 O DIREITO À HABITAÇÃO COMO DIREITO FUNDAMENTAL DO SER HUMANO CUMPRINDO
SUA FUNÇÃO SOCIAL ................................................................................................. 20

UNIDADE 3 – AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE ..................................................... 24


3.1 AQUISIÇÃO A TÍTULO SINGULAR E A TÍTULO UNIVERSAL ........................................... 25
3.2 TRANSCRIÇÃO .................................................................................................... 25
3.3 ACESSÃO ........................................................................................................... 26
3.4 DA USUCAPIÃO ................................................................................................... 30
UNIDADE 4 – DA PERDA DA PROPRIEDADE ....................................................... 35
4.1 ALIENAÇÃO ........................................................................................................ 36
4.2 RENÚNCIA.......................................................................................................... 37
4.3 ABANDONO ........................................................................................................ 38
4.4 DESAPROPRIAÇÃO .............................................................................................. 39
UNIDADE 5 – DA PROTEÇÃO DA PROPRIEDADE ............................................... 40
5.1. AÇÃO REIVINDICATÓRIA ...................................................................................... 42
5.2. AÇÃO DEMARCATÓRIA ........................................................................................ 43
UNIDADE 6 – GARANTIA CONSTITUCIONAL DA PROPRIEDADE E HIPÓTESES
DE DESAPROPRIAÇÃO .......................................................................................... 45
6.1 DESAPROPRIAÇÃO DE PROPRIEDADE QUE CUMPRE A FUNÇÃO SOCIAL ..................... 46
6.2 DESAPROPRIAÇÃO DE PROPRIEDADE QUE NÃO CUMPRE A FUNÇÃO SOCIAL .............. 46
6.3 DESAPROPRIAÇÃO DE PROPRIEDADE NOCIVA ........................................................ 46
UNIDADE 7 – ESPÉCIES DE DESAPROPRIAÇÃO ................................................ 48
UNIDADE 8 – OUTROS TIPOS DE DESAPROPRIAÇÃO ....................................... 57
8.1 DESAPROPRIAÇÃO JUDICIAL ................................................................................ 57
8.2 DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA ................................................................................ 59
8.3 DESAPROPRIAÇÕES QUE ADMITEM INDENIZAÇÃO – URBANÍSTICA E RURAL ............... 61
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 65
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UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO

Nosso embasamento teórico para o estudo da propriedade, esse instituto


jurídico de origem romana, está na Constituição Federal de 1988, ao dispor no art. 5º
o seguinte:

Todos são iguais perante a Lei, sem distinção de qualquer natureza,


garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedade nos termos
seguintes:

[...]

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela pode penetrar, sem


consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

[...]

XXII - é garantido o direito de propriedade;

Os Incisos XXIII, XXIV, XXV, XXVI, XXX, XXXI, também fazem referências à
propriedade imobiliária.

Igualmente os artigos 182 e 183, da Constituição Federal, regulamentados


pela Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2.001, tratou-se da Política Urbana, enquanto
que os artigos 184 a 191 referem-se à Política Agrícola e Fundiária e De Reforma
Agrária.

A Constituição Federal garante a todo cidadão o direito de propriedade,


tornando-a inviolável, de modo que alguém só poderá entrar com a autorização do
morador. Essa inviolabilidade de domicílio é a maneira imediata de garantir ao
cidadão a segurança pessoal e o próprio direito de propriedade.

O Estado respeita o direito de propriedade do particular, não só garantindo


esse direito quando chamado a intervir, através dos órgãos judiciários, diante de
uma violação do próprio particular, mas também pagando uma indenização justa em
caso de desapropriação, adquirindo o domínio apenas por exceção. É o
“reconhecimento de que as pessoas, assim como têm o direito de liberdade,
4

associação ou de defesa, têm o direito de ter coisas de significado econômico”


(HUBER, 2012).

A propriedade referida é com relação aos bens imóveis, pois são esses que
estão sujeitos ao registro especial junto ao Cartório de Registro de Imóveis. O imóvel
por sua natureza, conforme classificação dos artigos 1.228 a 1.232 do Código Civil
em vigência (Lei nº 10.406/02), em seu título III – Da Propriedade, compreende:

o solo com sua superfície, os seus acessórios e adjacências naturais,


compreendendo as árvores e frutos pendentes, o espaço aéreo e o subsolo;
tudo quanto o homem incorporar permanentemente ao solo, como a
semente lançada à terra, os edifícios e construções, de modo que se não
possa retirar sem destruição, modificação, fratura ou dano; tudo quanto no
imóvel o proprietário mantiver intencionalmente empregado em sua
exploração industrial, aformoseamento ou comodidade.

Depreende-se da breve apresentação acima que falaremos do Direito de


Propriedade, assunto amplo, um tanto filosófico, marcado por princípios como sua
função social, possível de ser desapropriado também em função de necessidade e
interesses coletivos.

Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha como


premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um
pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados
cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar,
deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores,
incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma
redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas
opiniões pessoais.

Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se


outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas, mas que, de todo modo,
podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos
estudos.
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UNIDADE 2 – IMPORTÂNCIA E FUNDAMENTOS JURÍDICOS


DA PROPRIEDADE

O direito de propriedade é sem dúvida alguma o mais importante de todos os


direitos subjetivos materiais.

Há unanimidade dos civilistas no sentido de que o direito de propriedade,


como direito real, por excelência, constitui o cerne do direito das coisas,
representando a propriedade, a espinha dorsal do direito privado. Realmente, dentro
do sistema permanente de apropriação de riquezas em que vivemos, inevitáveis os
conflitos de interesses entre as pessoas, envolvendo disputas sobre bens,
reclamando sua disciplinação pelo ordenamento jurídico (HARADA, 2005).

O direito de propriedade, em sentido amplo, recai tanto sobre coisas


corpóreas como sobre as incorpóreas. Quando incide exclusivamente sobre coisas
corpóreas, recebe a designação de domínio.

Nem todos os Códigos seguem o exemplo do Código Napoleônico, definindo


o direito de propriedade1, tanto que KIYOSHI HARADA (2005) nos instiga a definir
propriedade estudando seus caracteres e elementos constitutivos, tomando por base
o civilista WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO.

Pode-se dizer, em primeiro lugar, que o direito de propriedade é absoluto, à


medida que oponível erga omnes, e apresenta caráter de plenitude. O proprietário
dispõe da coisa como bem lhe aprouver, sujeitando-se, apenas, a determinadas
limitações impostas no interesse da coletividade, ou decorrentes da coexistência do
direito de propriedade dos demais indivíduos.

O segundo atributo desse direito é o da exclusividade, que, aliás, decorre do


primeiro. Não pode a mesma coisa pertencer com exclusividade e simultaneamente
a duas ou mais pessoas. O art. 1.231 do Código Civil agasalha esse caráter
exclusivo ao prescrever que “a propriedade presume-se exclusiva e ilimitada até
prova em contrário”.

Dos dois atributos acima decorre o terceiro: a irrevogabilidade. Assim, uma


vez adquirida a propriedade, de regra, não pode ser perdida senão pela vontade do

1
Pelo Código Napoleônico, o direito de propriedade "é o direito de gozar e de dispor das coisas da
maneira mais absoluta, desde que não se faça uso proibido pelas leis e regulamentos".
6

proprietário. A propriedade tem, pois, um sentido perpétuo, subsistindo


independentemente de exercício, enquanto não sobrevier causa legal extintiva. Com
a morte do proprietário transfere-se a propriedade a seus sucessores.

Vejamos agora os elementos constitutivos da propriedade, que estão


contidos na regra do art. 1.228 do Código Civil, que assim prescreve: “O proprietário
tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de
quem quer que injustamente a possua ou detenha”.

O direito de usar, gozar e dispor dos bens corresponde aos atributos da


propriedade romana: jus utendi, fruendi et abutendi.

O jus utendi implica a possibilidade de usar a coisa segundo a vontade


exclusiva do proprietário, o que afasta a idêntica faculdade em relação a estranhos.

O jus fruendi consiste no poder de colher os frutos naturais ou civis da coisa.

O jus abutendi corresponde ao abusus do romano, não no sentido


antissocial, comparável ao ato ilícito, mas no sentido de dispor da coisa, alienando-a
ou consumindo-a. Aliás, a ideia de uso antissocial do domínio é simplesmente
incogitável nos dias atuais.

Para tornar efetivo o direito de usar, gozar e dispor da coisa, a lei assegura a
seu proprietário o direito de reivindicá-la das mãos de quem quer que injustamente a
detenha.

Quanto aos fundamentos, temos algumas teorias que procuram esclarecer a


natureza do direito de propriedade, bem como a legitimidade desse direito.

WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO (2009) fez um resumo da matéria


seguindo os estudos de Planiol e Ahrens:

a) Teoria de ocupação:

É a mais antiga, e sustenta que a ocupação seria o fundamento do direito de


propriedade. Entretanto, sendo a ocupação apenas um modo de adquirir a
propriedade, obviamente não basta para justificar o direito de propriedade; aquisição
de direito pressupõe logicamente a preexistência desse direito capaz de ser
adquirido. A própria realidade na esfera internacional desmente a teoria. Ninguém
7

ignora o fenômeno da expulsão e aniquilamento do povo indígena, primitivo


ocupante da terra.

b) Teoria da lei:

É a defendida, entre outros, por Montesquieu, para quem a propriedade é


concessão do direito positivo. É falha a teoria à medida que se funda na vontade
humana. Assim como o legislador a instituiu poderia também suprimi-la. Daí a
necessidade de colocar a propriedade acima da lei.

c) Teoria de especificação:

É a formulada pelos economistas, que afirmam que só o trabalho, criador


único de bens, constitui título legítimo para a propriedade. Segundo Planiol, é falsa
essa teoria, porque o trabalho deve ter por recompensa o salário e não a própria
coisa por ele produzida. Conteria o germe da negação do direito de propriedade.

d) Teoria da natureza humana:

Essa teoria, que desfrutou e continua desfrutando grande prestígio entre os


estudiosos, é a sustentada pela doutrina da Igreja Católica2, segundo a qual a
propriedade é inerente à própria natureza do homem; ela representa a condição de
existência e de liberdade da criatura humana, constitui a garantia e expressão da
individualidade humana, pressuposto e instrumento de desenvolvimento intelectual e
moral do homem.

A verdade é que o direito de propriedade fundamenta-se na lei que o


consagra. Entre nós, ele sempre teve fundamento na Lei Maior, porque convencido
o legislador constituinte de sua legitimidade e de sua conveniência, por representar
uma necessidade (HARADA, 2005).

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Pio XI, na Encíclica Quadragesimo Anno, afirma que o “direito de possuir bens individualmente não
provem da lei dos homens, mas da natureza; a autoridade pública não pode aboli-lo, porém, somente
regular o seu uso e acomodá-lo ao bem do homem”.
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2.1 Limitações ao direito de propriedade

O direito de propriedade reveste-se das características de absolutismo, de


exclusividade e de irrevogabilidade, sendo certo que os dois primeiros caracteres
estão contidos na norma do art. 1.231 do Código Civil, que declara que “a
propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário”.

Todavia, é fora de dúvida que o domínio vem sofrendo limitações ao longo


dos tempos, de conformidade com a nova ordem social que está surgindo na
sociedade moderna, na qual a intervenção do poder público faz-se cada vez mais
necessária para restringir a liberdade individual e subordinar o direito de propriedade
às exigências do bem comum.

Assim é que ao lado das restrições voluntárias (usufruto, servidões,


cláusulas de inalienabilidade e impenhorabilidade, etc.) existem inúmeras limitações
que decorrem da própria natureza das coisas, ou que são impostas por lei.

As limitações que decorrem da natureza do direito, como ensina SILVIO


RODRIGUES (1979), explicam-se através do recurso à noção de abuso de direito. O
proprietário, no uso de seu direito, não pode ultrapassar determinados lindes sob
pena de cometer abusos e o ato deixar de ser lícito (art. 188, n. 1, in fine, do CC).

Por ora citaremos algumas das limitações de ordem legal, sendo elas
numerosíssimas, podendo ser ainda tanto encontradas no direito privado quanto no
direito público.

No direito privado encontramos aquelas concernentes ao direito de


vizinhança, reguladas pelo Código Civil. Há também as limitações de direito público
(urbanísticas e administrativas), tais como: as referentes à proteção do patrimônio
histórico e artístico, nas três esferas governamentais (União, Estados e Municípios);
aquelas estatuídas nos Códigos de Minas, de Caça, de Pesca e Florestal; as
previstas nas leis de uso e ocupação do solo urbano e urbanizável, procurando
conciliar o direito de propriedade com o interesse maior da coletividade,
principalmente nas megalópoles; as voltadas para a proteção da ecologia e
preservação ambiental; aquelas de natureza militar, que vão desde as restrições a
transações imobiliárias nas faixas de fronteiras com outros países até a requisição
de móveis e imóveis necessários às forças armadas e à defesa passiva da
população (HARADA, 2005).
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Enfim, existem, ainda, inúmeras limitações objetivando a proteção da


lavoura, do comércio, da indústria, sem contar aquelas capituladas nas leis penais e
eleitorais.

Pode-se dizer, sinteticamente, que as restrições à liberdade do proprietário


de dispor da coisa de maneira que melhor lhe aprouver atingem o caráter absoluto
da propriedade; as servidões e outras formas de uso de propriedade alheia limitam
seu caráter exclusivo; as desapropriações, bem como as nacionalizações de bens
estrangeiros, afetam o caráter da irrevogabilidade ou o caráter perpétuo da
propriedade (HARADA, 2005).

2.2 A propriedade ao longo dos tempos

Vale a pena iniciarmos nossa evolução da propriedade ao longo dos tempos


como uma fala do jurista MIGUEL REALE, que supervisionou a comissão
elaboradora do Código Civil de 2002. Sobre a propriedade ele afirma que:

A propriedade não é apenas uma disposição individual e singular de um


indivíduo, mas é, ao contrário, algo que implica sempre a correlação de duas
pessoas entre si, em função da necessidade social em geral, e é a razão pela qual,
no projeto do Código Civil, aparece um novo conceito de posse. Se os senhores
estudarem todos os Códigos, todos eles sem exceção, o alemão, o italiano, o
francês, os senhores encontrarão apenas uma noção de posse: posse é a projeção
do domínio, posse é o direito de detenção da coisa em razão do domínio que se
possui, da legitimidade do domínio, e isso não há dúvida nenhuma, o núcleo da
posse, a ideia de posse, é direito, é uma detenção da coisa.

Porém, é mister olhar as coisas com um pouco mais de atenção. Quando se


toma posse de um terreno abandonado há muito tempo, e na maior da boa-fé nele
se constrói uma casa para a morada da família, ou para a alimentação de seus
filhos, para criar a sua horta, para ter o seu alimento, nós dizemos que há uma nova
forma de posse, a posse pro labore, a posse trabalho. E entendendo assim, nós
introduzimos no projeto do código o conceito de posse trabalho, com repercussão
fundamental em vários aspectos e momentos.

(...) o usucapião, por sua vez, é a aquisição da coisa pela sua utilização
mansa e pacífica durante um certo tempo. Pois bem, em razão da diferença da
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posse trabalho, o projeto reduz pela metade o tempo necessário para que se dê
usucapião. Uma coisa é ocupar a terra com o meu dinheiro, com a minha
capacidade dominadora, e então obedeço o tempo de 20 anos. Mas se eu fiz, ao
contrário, no exercício de uma posse de trabalho, o usucapião se opera pela metade
do tempo. Estão vendo, portanto, que este código está cheio de inspiração ética.

Pois bem, desde tempos remotos, a propriedade tem sido alvo de atenção
entre filósofos, economistas, juristas e estudiosos do tema, que têm em comum o
objetivo de determinar sua origem, evolução, regime, função social e função
individual. O certo é que a necessidade de demarcação de uma área acontecia
quando havia reivindicação sobre essa área; e o Direito de Propriedade é o mais
importante de todos os Direitos Subjetivos.

A aquisição de bens sempre teve importância para o homem, ao atestar sua


segurança.

CARLOS ALBERTO BITTAR (1991, p. 55) leciona que:

Destinado a possibilitar a existência e a subsistência da pessoa na vida


terrena e a respectiva perpetuação no tempo, através de sua descendência,
o direito em questão tem suas raízes na Antiguidade, a partir da
constatação de que ao homem era possível a submissão a seus interesses
de coisas corpóreas suscetíveis de apropriação individual e de que a
identificação da pessoa consigo mesma e com o cumprimento de seus
desígnios somente seriam alcançados mediante a obtenção e a
preservação de espaço e de bens próprios, postos a seu serviço.

CÉSAR FIÚZA (2007, p. 749) também refere que o instituto jurídico da


propriedade se origina do Direito Romano, que o descrevia como ius utendi, fruendi
et abutendi – direito de usar, fruir e dispor. Em Roma, a propriedade só poderia ser
adquirida por cidadão romano. Com a evolução do tempo, a propriedade veio a
favorecer o expansionismo romano. “Passou-se a admiti-la fora dos muros da
cidade. Mais adiante, foi estendido o direito a todos os habitantes do Império,
independentemente de sua origem”.
11

Os elementos constitutivos da propriedade se caracterizam por:

• ius utendi – direito de usar – compreende o direito que o titular tem de ter e
usar a coisa, respeitando as limitações legais;

• ius fruendi – direito de gozar – consiste em fazer prosperar a coisa, em


auferir-lhe os produtos;

• ius abutendi – direito de dispor – consiste no direito de dispor da coisa.

O conceito de propriedade privada foi desenvolvido entre os romanos e foi


chamado de dominium. Esse conceito foi aplicado aos escravos e aos imóveis e
deveria atender aos seguintes critérios para ser categorizado como dominium: estar
dentro da legalidade, ser absoluto, permanente e exclusivo.

LUIZ EDSON FACHIN (1981, p. 16) ensina que

a conceituação do Direito de Propriedade constitui tema que trespassa o


universo estrito do Direito Positivado, não conseguindo, pela sua natureza,
minimizar-se diante de situações metajurídicas substanciais. Isto se revela
na apreciação do elemento histórico e na constatação de que o conceito
não existe isolado de um sistema.

Para CÉSAR FIÚZA (2001, p. 757), a propriedade pode ser definida como

a situação jurídica consistente em uma relação dinâmica entre uma pessoa,


o dono, e a coletividade, em virtude da qual são assegurados àquele os
direitos exclusivos de usar, fruir, dispor e reivindicar um bem, respeitados os
direitos da coletividade.

J. M. OTHON SIDOU (1991) conceitua propriedade como “direito de usar,


gozar e dispor das coisas dentro da sua função social, desde que se não faça delas
uso proibido por lei, e de reavê-las de quem injustamente as possua”. O aludido
autor nos ensina ainda que a propriedade se traduz no “direito que a pessoa física
ou jurídica tem, dentro dos limites normativos, de usar, gozar e dispor de um bem,
corpóreo ou incorpóreo, bem como de reivindicar de quem injustamente o detenha”
(SIDOU, 1991, p. 642).

Há disciplinas diversas para a propriedade, segundo a sua potencialidade


quanto à destinação econômica. O art. 185 da Constituição Federal estabelece
serem inexpropriáveis, para fins de reforma agrária:
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I - A pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que


seu proprietário não possua outra.

II - A propriedade produtiva (CHINELATO; HIRONAKA, 2003, p. 92).

Para RUBENS LIMONGI FRANÇA (1998, p. 436),

propriedade é o direito, excludente de outrem, que, dentro dos limites do


interesse público e social, submete juridicamente a coisa corpórea, em
todas as suas relações, ao poder da vontade do sujeito, mesmo quando,
injustamente, esteja sob a detenção física de outrem.

O Direito de Propriedade é visto pela maioria dos estudiosos como um


direito do homem, tal qual o direito à vida e à liberdade. O Direito de Propriedade,
assim como outros Direitos Privados, deve ser visto sob o prisma de sua função
social, descrita em consonância com a Constituição Federal, que dispõe em seu art.
5º, XXII, XXIII (citados na introdução deste módulo) e foco do próximo tópico.

Antes, porém, nessa perspectiva, vale o comentário de CAIO MÁRIO DA


SILVA PEREIRA (2001, p. 79) que diz que a propriedade

cada vez mais perde o caráter excessivamente individualista que reinava


absoluto. Cada vez mais se acentuará a sua função social, marcando a
tendência crescente de subordinar o seu uso a parâmetros condizentes com
o respeito aos direitos alheios e às limitações em benefício da coletividade.

2.3 A função social da propriedade

O conceito de função social é, efetivamente, muito difícil de ser enunciado


com precisão, dada a sua conotação abstrata. Mas dúvida não resta de que ela é
ideia inarredavelmente instalada bem no âmago do conceito de direito de
propriedade, vinculando-o, em definitivo, ao destino previsto por aquela
funcionalidade (CHINELATO; HIRONAKA, 2003, p. 94).

Para CÉSAR FIÚZA (2007, p. 760):

a propriedade deve ser entendida; (...) vinculada a sua função social,


embora a ideia em si não seja nova. Se um indivíduo pode dizer-se dono de
algo, é porque os outros indivíduos não o são. A propriedade existe em
função das outras pessoas. Ninguém é dono de nada, a não ser que viva
em sociedade. E é a essa sociedade que se deve render tributos. Destarte,
os direitos inerentes à propriedade não podem ser exercidos em detrimento
da sociedade, contra as aspirações sociais. Com isso, limitou-se o gozo
absoluto da pessoa sobre a coisa, que não só fica impedida de usá-la em
13

malefício dos demais, como fica obrigada a usá-la de acordo com as


demandas do grupo social.

A função social da propriedade é tema bastante discutido e consagrado na


Constituição de 1967, por causa do Estatuto da Terra, onde foi atrelado ao bem-
estar coletivo: a Constituição de 1967 e a sua emenda de 1969 consagraram o
princípio da função social da propriedade, de forma mais ampla, provavelmente
porque já se encontrava promulgado o Estatuto da Terra (1964) que estabeleceu
que “à propriedade privada da terra cabe intrinsecamente uma função social e seu
uso é condicionado ao bem-estar coletivo, previsto na Constituição Federal e
caracterizado nesta lei (art. 12)”. Assegurou o estatuto da terra, ainda, o acesso à
propriedade da terra, condicionada pela sua função social (art. 2º) e determinou as
sanções (art. 13) impostas à observância do ordenamento constitucional e da lei
ordinária”. (CHINELATO; HIRONAKA, 2003, p. 91)

No Código Civil, especificamente no art. 1.228, está disciplinado que o


“proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la
de quem quer que a possua ou detenha”.

Para ÁLVARO MANOEL ROSINDO BOURGUIGNON (2007),

uma das mais significativas alterações promovidas pelo novo Código Civil
no âmbito do direito da propriedade refere-se à forma de aquisição
estabelecida nos §§ 4° e 5° do art. 1.228, que não encontra paradigma na
legislação pátria anterior. Cuida-se de modalidade aquisitiva absolutamente
sui generis, pela qual certo número de pessoas (possuidores), preenchendo
os requisitos da lei, passa a ter “direito de adquirir” imóvel alheio mediante
pagamento de justa indenização, sempre sob a necessária e imprescindível
intervenção judicial.

§ 4° O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel


reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais
de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem
realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz
de interesse social e econômico relevante.

§ 5° No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização


devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro
do imóvel em nome dos possuidores.
14

JOSÉ AFONSO DA SILVA (2006) entende que

a função social da propriedade não se confunde com os sistemas de


limitação da propriedade. Estes dizem respeito ao exercício do direito, ao
proprietário; aquela, à estrutura do direito mesmo, à propriedade.

ROGÉRIO CESTA LEAL (1998, p. 117) concorda que a função social da


propriedade não deve ser entendida como uma limitação, mas, sim, “um princípio
informativo do direito de propriedade que depende de melhor e constante
explicitação (ampliativa e não limitativa) pelo legislador ordinário”.

JOSÉ AFONSO DA SILVA (2006, p. 121) afirma que a função social


introduziu, na esfera interna do direito de propriedade, um interesse que pode não
coincidir com o do proprietário e que, em todo caso, é estranho ao mesmo, constitui
um princípio ordenador da propriedade privada e fundamento da atribuição desse
direito, de seu reconhecimento e da sua garantia mesma, incidindo sobre seu
próprio conteúdo.

Com essa concepção é que o intérprete tem que compreender as normas


constitucionais que fundamentam o regime jurídico da propriedade: sua garantia
enquanto atende à sua função social, implicando uma transformação destinada a
incidir, seja sobre o fundamento mesmo da atribuição dos poderes ao proprietário,
seja, mais concretamente, sobre o modo em que o conteúdo do direito vem
positivamente determinado; assim é que a função social mesma acaba por
posicionar-se como elemento qualificante da situação jurídica considerada,
manifestando-se, conforme as hipóteses, seja como condição de exercício de
faculdades atribuídas, seja como obrigação de exercitar determinadas faculdades de
acordo com modalidades preestabelecidas. Enfim, a função social manifesta-se na
própria configuração estrutural do direito de propriedade, pondo-se concretamente
como elemento qualificante na predeterminação dos modos de aquisição, gozo e
utilização dos bens (SILVA, 2006, p. 121).

Ao longo da evolução dos conceitos e do próprio Direito, a propriedade veio


se constituindo elemento imprescindível para o modo de produção capitalista,
representado pela conjugação entre o capital, isto é, a propriedade do empresário ou
industrial, e a força física dos trabalhadores, que por sua vez trabalham na
15

expectativa de amealhar bens, ou seja, constituir seu próprio patrimônio, sua


propriedade.

Como consequência, a própria produção científica, durante anos, deu ênfase


ao aspecto individual da propriedade, como instituto eminentemente de direito
privado, cuja disciplina era regida principalmente pelo Código Civil de 1916, o qual
conferia ao proprietário o poder de uso ilimitado e incondicionado sobre seus bens.
Isto é, a propriedade servia apenas ao dono, e não tinha qualquer função
instrumental na lida dos interesses públicos.

Com o advento da noção de função social da propriedade, o pensamento


que girava em torno do instituto paulatinamente se modificou. Por influência, já no
século XX, do jurista Léon Duguit, a noção de função social, antes concebida por
Augusto Comte, foi incorporada ao conceito de direito de propriedade. A partir de
então, a noção do instituto passou a abranger a sua flexibilização, nos casos em que
o bem não fosse utilizado de forma a atender, concomitantemente aos interesses do
proprietário, os interesses coletivos (EVANGELISTA, 2013).

A propriedade que não cumpre sua função social perde seu caráter de
intangível. Melhor dizendo, o ordenamento jurídico não aceita como legítima a
propriedade que não cumpre sua função social e, assim, o Estado se vê munido dos
fundamentos para a imposição do uso adequado, ou de outra destinação que
implique na perda da propriedade.

Sejamos sucintos: a concepção de função social nasceu da noção de que,


enquanto vivente em sociedade, o homem deve empregar esforços no sentido de
dar sua contribuição ao bem-estar da coletividade em detrimento dos interesses
unicamente individuais. Neste contexto, erige-se a teoria da função social, segundo
a qual “todo indivíduo tem o dever social de desempenhar determinada atividade, de
desenvolver da melhor forma possível sua individualidade física, moral e intelectual,
para com isso cumprir sua função social da melhor maneira” (FIGUEIREDO, 2008, p.
83).

O transporte da teoria da função social para o âmbito do direito de


propriedade evoca o dever atribuído ao proprietário de fazer uso de seus bens de
forma a cumprir uma função social, ou seja, de forma que o exercício do direito de
16

propriedade obedeça aos parâmetros legais e morais estabelecidos, no intuito de


contribuir para o interesse coletivo.

Além do art. 5º, encontramos nos artigos 170, 182, 184, 186, a função social
da propriedade, in verbis:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:

XXIII - a propriedade atenderá a sua função social.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e


na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos a existência digna,
conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

II - propriedade privada;

III - função social da propriedade.

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder


Público Municipal, conforme diretrizes fixadas em lei, tem por objetivo
ordenar o plano de desenvolvimento das funções sociais da cidade e
garantir o bem-estar de seus habitantes.

§ 2º A propriedade urbana cumpre a sua função social quando atende às


exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano
diretor.

§3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa


indenização em dinheiro.

§ 4º É facultado ao Poder Público Municipal, mediante lei específica para


área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do
proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que
promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:

III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de


emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate
de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o
valor real da indenização e os juros legais.

Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de
reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social,
mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com
cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte
17

anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será


definida em lei.

Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,


simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em
lei, aos seguintes requisitos:

I - aproveitamento racional e adequado;

II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do


meio ambiente;

III - observância das disposições que regulam as relações do trabalho;

IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos


trabalhadores.

A Carta Política de 1988, para efeito de execução da política de


desenvolvimento urbano, confere ao Município a incumbência de definir a função
social da propriedade urbana, como se depreende do art. 182 e seu § 2º.

A propriedade cumpre a função social quando atende as exigências


fundamentais de ordenação da cidade expressas no Plano Diretor, impositivo para
cidades com mais de vinte mil habitantes (§ 1º do art. 182).

A Constituição possibilita flexibilizar a definição de função social da


propriedade urbana, que pode variar de um Município para outro, ou até mesmo de
uma zona para outra zona do mesmo Município, tudo dependendo dos problemas e
necessidades de cada comuna ou de cada zona de uso, que irão influir na
elaboração do respectivo Plano Diretor, instrumento básico da política de
desenvolvimento e de expansão urbana.

A propriedade rural, por sua vez, cumpre a função social quando preenche
os requisitos dos incisos I a IV do art. 186 da CF, submetidos estes aos critérios e
graus estabelecidos em lei. A Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, em seu art.
9º, fixa esses critérios e graus completando a definição constitucional. Essa
definição é igualmente flexível, à medida que o conceito de propriedade produtiva,
que a integra, varia no tempo em função do progresso científico e tecnológico da
agricultura e do desenvolvimento regional (art. 11).
18

Do exposto, é possível concluir que a Constituição Federal inscreveu o


princípio da função social para a propriedade em geral; inscreveu a propriedade
privada e sua função social como um dos princípios da ordem econômica, fundada
na valorização do trabalho e na livre iniciativa, com o fito de assegurar a todos a
existência digna, conforme os ditames da justiça social e definiu o conteúdo desse
princípio em relação às propriedades urbana e rural.

Sendo a função social matéria de ordem constitucional como atestado


anteriormente, com efeito, vejamos sua importância enquanto princípio da ordem
econômica, da política urbana, da política agrícola e fundiária.

a) Função social da propriedade como princípio da ordem econômica:

Segundo o artigo 170, da Constituição Federal, a ordem econômica encontra


fundamento na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, e tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados, dentre outros princípios, o da propriedade privada e o da função social
da propriedade.

A propriedade, na condição de direito fundamental, está elencada como


princípio da ordem constitucional econômica, tendo em vista estar fortemente
relacionada à satisfação das necessidades humanas primárias. Com efeito,
conforme leciona EDSON LUIZ PETERS (2009), o direito de propriedade é condição
sem a qual não se garante o direito maior à vida. Neste diapasão, se a finalidade da
ordem econômica consiste em assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da justiça social, não se pode olvidar a propriedade, que garanta ao
indivíduo o poder de uso e gozo sobre os bens de produção e consumo.

b) Função social da propriedade como princípio da política urbana:

O regime da política constitucional urbana decorre da associação entre os


artigos 182 e 21, XX, ambos da Constituição Federal. Com base nos citados
dispositivos, a política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público
municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei federal, in casu, a Lei nº
19

10.257/00 (Estatuto da Cidade), tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento


das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.

Evidencia-se no ordenamento constitucional os princípios da função social e


da dignidade da pessoa humana, este sob a forma de bem-estar dos habitantes das
cidades. Transportando para o âmbito da propriedade privada urbana, e tendo em
mente a função social no sentido de dever genérico de colaboração para a
consecução do interesse coletivo, pode-se facilmente relacionar a função social da
propriedade urbana como instrumento para o alcance do objetivo traduzido na
garantia do bem-estar dos habitantes (EVANGELISTA, 2013).

Assim, observa-se que a propriedade privada urbana resta igualmente


vinculada à sua função social. Com efeito, o artigo 182, § 2º, da CF, impõe
expressamente o atendimento da função social da propriedade, sob os parâmetros a
serem fixados pelos planos diretores dos centros urbanos.

O não atendimento da função social sujeita ao proprietário sanções de


caráter restritivo, como o parcelamento compulsório, edificação compulsória ou o
imposto predial territorial urbano progressivo no tempo (artigo 183, I e II, da CF); ou
até mesmo punições que importem na perda da titularidade sobre o bem, mediante
indenização paga com títulos da dívida pública, como é o caso da desapropriação-
sanção (artigo 183, III, da CF).

c) Função social da propriedade como princípio da política agrícola e


fundiária:

O texto constitucional consagra expressamente a função social da


propriedade rural, quando, em seu artigo 186, dispõe:

Artigo186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,


simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em
lei, aos seguintes requisitos:

I – aproveitamento racional e adequado;

II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do


meio ambiente;

III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho;


20

IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos


trabalhadores.

O exercício da propriedade rural resta, portanto, condicionado ao


cumprimento da função social que, in casu, manifesta-se no efetivo aproveitamento.
Entretanto, o mero aproveitamento não basta por si só, mas necessita ser exercido
de forma proveitosa ao interesse público (EVANGELISTA, 2013).

Em última análise, o descumprimento da função social da propriedade rural


tem como consequências a desapropriação-sanção prevista no artigo 184 da
Constituição Federal, realizada para fins de interesse público (reforma agrária),
mediante o pagamento de indenização em títulos da dívida agrária, resgatáveis em
até 20 anos.

2.4 O Direito à habitação como direito fundamental do ser humano cumprindo


sua função social

O direito à habitação é reconhecido como um direito humano na Declaração


Universal dos Direitos do Homem:

Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e
à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação,
ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos
serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na
doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou outros casos de perda de
meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade
(ONU, 1948, art. 25, nº 1).

Segundo WASHINGTON CARLOS DE ALMEIDA (2013), o direito à


habitação engloba não somente o direito a um teto, mas se amplia à concepção de
ter acesso a uma habitação provida de infraestrutura. É um Direito concernente às
necessidades primárias do ser humano, pois é fundamental para uma vida com
dignidade.

O direito à habitação, como ressaltam vários instrumentos internacionais,


não se restringe apenas à presença de um abrigo, ou um teto, mas engloba uma
concepção mais ampla. Este direito se estende a todos e, assim, toda a sociedade e
cada um de seus membros têm de ter acesso a uma habitação provida de
21

infraestrutura básica e outras facilidades, ou seja, acesso a uma habitação


adequada (DIREITO À HABITAÇÃO, 2012).

O direito à habitação assume grande importância em legislações nacionais e


estrangeiras. Esse direito está estampado nos mais importantes instrumentos de
defesa dos direitos humanos. São muitos os órgãos que tratam desse assunto em
seus dispositivos:

Declaração Universal dos Direitos Humanos;

o Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais;

Convenção sobre todas as Formas de Discriminação Racial;

Convenção sobre os Direitos da Criança;

Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a


Mulher;

Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos; e,

Protocolo Adicional à Convenção Americana de Direitos Humanos - Protocolo


de San Salvador (DIREITO À HABITAÇÃO, 2012).

A moradia e a sua garantia constituem uma busca do ser humano. Trata-se


de um direito social, e nossas principais legislações mostram preocupação no
cumprimento da propriedade como função social (ALMEIDA, 2013).

O Direito da Habitação e o Direito à Habitação constituem direitos com


objetivos diferentes. O Direito à Habitação trata dos direitos sociais e o Direito da
Habitação trata do direito a um espaço de proteção.

Direito à Habitação enquadra-se no rol dos direitos econômicos e sociais.


Esses direitos caracterizam-se, geralmente, por exigirem dos Estados maior atuação
para que sejam implementados. Eles exigem um maior gasto de recursos para que
existam na prática e saiam da teoria. Embora haja uma maior dificuldade em cobrar
sua eficácia, os direitos econômicos, sociais não devem ser deixados em segundo
plano, pois, como apregoa a Declaração Universal dos Direitos Humanos, os
Direitos Humanos são interdependentes e indivisíveis. Isto implica dizer que os
direitos civis e políticos não sobrevivem sem os direitos econômicos, sociais e
culturais e vice-versa (DIREITO À HABITAÇÃO, 2012).
22

A Constituição Federal inclui a “moradia” no elenco dos direitos sociais


primordiais ao homem: “São direitos sociais: a educação, a saúde, o trabalho, a
moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.

A moradia foi inserida na Constituição por meio de uma emenda que teve
como escopo o tema amplamente discutido na Segunda Conferência das Nações
Unidas sobre os Assentamentos Humanos – Habitat II, realizado em Istambul em
1996. Essa conferência teve o objetivo de discutir como e onde moram os habitantes
da Terra (DIREITO À HABITAÇÃO, 2012).

O compromisso de aceitar de forma progressiva que se torne realidade o


direito à moradia para todos foi firmado pelo Brasil e diversas outras nações.
Programas especiais, objetivando examinar as soluções utilizadas para melhorar a
qualidade de vida em centros urbanos, tendo como critérios eficiência na reabilitação
de áreas degeneradas, uso de desenvolvimento sustentado e grau de inovação,
foram selecionados pela organização do evento. Afirmou-se, nesta conferência, que
uma moradia adequada requer mais que um teto sobre a cabeça dos indivíduos.
Uma moradia adequada também significa privacidade adequada, espaço adequado,
acesso físico, segurança adequada, estabilidade e durabilidade estrutural,
iluminação, aquecimento e ventilação adequados, infraestrutura básica adequada,
como abastecimento de água e facilidades sanitárias e de coleta de lixo; qualidade
ambiental saudável e adequada; localização adequada e acessível em relação ao
trabalho e facilidades básicas, tudo em um custo razoável. A adequação deveria ser
determinada de forma conjunta com as pessoas interessadas, tendo em vista um
desenvolvimento gradual. A concepção de adequação varia entre os diversos
países, dependendo de fatores culturais, sociais, ambientais e econômicos
(DIREITO À HABITAÇÃO, 2012).

A partir da década de 1930, houve significativa mudança na política


habitacional, assinalada pelo deslocamento de grande parte da população rural para
os grandes centros urbanos. A moradia adequada passou a exigir medidas por parte
do governo.

Sob a ótica dos Direitos Fundamentais, a inclusão do Direito Moradia entre


os Direitos Sociais “permitirá ao intérprete, nas questões da proteção à moradia,
23

tratar do tema revestido da ótica constitucional, valorado pelo artigo 6º. (ARAÚJO;
NUNES JÚNIOR, 2002, p. 172).

Esse direito, atualmente assegurado como Direito Social, veio consolidar a


preocupação do Estado com a pessoa humana. Conforme INGO WOLFGANG
SARLET (2001, p. 66):

consagrando expressamente, no título dos princípios fundamentais, a


dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do nosso Estado
democrático (e social) de Direito (art. 1º, inciso III, da CF), o nosso
Constituinte de 1988 – a exemplo do que ocorreu, entre outros países, na
Alemanha –, além de ter tomado uma decisão fundamental a respeito do
sentido, da finalidade e da justificação do exercício do poder estatal e do
próprio Estado, reconheceu categoricamente que é o Estado que existe em
função da pessoa humana, e não o contrário, já que o ser humano constitui
a finalidade precípua, e não meio da atividade estatal.

Até mesmo o direito de propriedade – inclusive e especialmente tendo


presente o seu conteúdo social consagrado no constitucionalismo pátrio – se
constitui em dimensões inerentes à dignidade da pessoa, considerando que a falta
de uma moradia decente ou mesmo de um espaço físico adequado para o exercício
da atividade profissional evidentemente acaba, em muitos casos, comprometendo
gravemente – senão definitivamente – os pressupostos básicos para uma vida com
dignidade (SARLET, 2001, p. 90-1).

A moradia constitui uma das formas do cumprimento da função social da


propriedade por meio da ocupação do solo e da criação de mecanismos que
protegem o direito à habitação. O grande problema habitacional enfrentado no Brasil
e a inserção no texto constitucional do direito à moradia são fatores determinantes
para uma ação progressiva do Estado (ALMEIDA, 2013).

A produção social do direito à moradia, regra e não exceção nas cidades


brasileiras, logrou seu reconhecimento pelo Direito Positivo, tirando da “ilegalidade”
a maior parte da população brasileira que vive em territórios informais, à margem da
lei. A condição econômica, que determina a informalidade do uso e ocupação do
solo pela população de menor renda, de “problema de polícia” foi elevada a
fundamento das políticas públicas urbanas. Neste sentido, a ação estatal, seja o
exercício da função administrativa, legislativa ou judicial para as favelas, e todos os
assentamentos informais de baixa renda, deve ser revista, dirimindo qualquer
conflito entre a lei e o direito à moradia, em favor deste (CARDOSO, 2010, p. 100).
24

UNIDADE 3 – AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE

Para que ocorra a aquisição da propriedade há modos originários e modos


derivados. Vejamos:

a) Aquisição originária da propriedade imobiliária: considera-se modo de


aquisição originário como sendo a ocupação, a usucapião e a acessão. A aquisição
originária ocorre quando não se considera qualquer relação entre o domínio atual e
o anterior, como ocorre com a acessão e a usucapião (ALMEIDA, 2013).

b) Aquisição derivada da propriedade imobiliária: é a sucessão por herança,


a transcrição ou a tradição. A aquisição derivada ocorre quando há a transmissão do
domínio, seguido de registro de título de transferência (ALMEIDA, 2013).

A distinção entre modos originários e derivados funda-se na existência ou


inexistência da relação entre precedente e consequente sujeito de direito. Sempre
que há, o modo é derivado. Caso contrário, originário. Tanto na ocupação como na
usucapião e na acessão natural, inexiste a relação. Por isso, dizem-se modos
originários. Outros entendem, porém, que o modo de adquirir é originário quando o
domínio surge pela primeira vez na pessoa do adquirente. Conforme esse conceito,
somente a ocupação seria modo originário de aquisição. Tanto na usucapião como
na acessão natural, embora inexista relação entre o adquirente e o antigo dono da
coisa, aquele não é o primeiro proprietário, o domínio não surge nele pela primeira
vez (GOMES, 2001, p. 137).

De acordo com ORLANDO GOMES (2001, p. 134), a aquisição da

propriedade requer modus acquisicionis, segundo a tradição romana,


seguida por muitas legislações e adotada pela nossa. Outras, porém,
atribuem ao titulus adquirendi o efeito direto e imediato de transmitir a
propriedade, não exigindo que se complete com um modo de aquisição.

O atual Código Civil não descreveu os modos de aquisição da propriedade


imóvel, mas disciplinou no Capítulo 2 - “Da aquisição da Propriedade Imóvel” – a
usucapião, a aquisição pelo registro do título e a acessão.

Os modos de aquisição classificam-se segundo diversos critérios, levando


em consideração a distinção dos bens, a causa da aquisição e o objeto. As coisas
25

imóveis adquirem-se por transcrição, sucessão, usucapião e acessão (GOMES,


2001, p. 136).

3.1 Aquisição a título singular e a título universal

A aquisição a título singular se opera quando se tem por objeto um ou vários


bens individualizados, já a aquisição a título universal ocorre quando a transmissão
da propriedade recai num patrimônio (ALMEIDA, 2013).

Na aquisição a título universal, o adquirente sucede em todos os Direitos


Reais e Processuais do transmitente, e nas obrigações dele para com terceiros,
visto que o sucessor continua a pessoa de quem o adquirente recebe a coisa; na
aquisição a título singular, o adquirente sucede nos direitos, mas não se torna
responsável pelas obrigações contraídas pelo alienante (GOMES, 2001, p. 138).

O art. 1.207 do Código Civil diz: “O sucessor universal continua de direito a


posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do
antecessor, para os efeitos legais”.

3.2 Transcrição

O registro faz parte da aquisição derivada e é o modo mais comum de


aquisição de imóveis. Cada imóvel registrado é objeto de matrícula individual e
descreve a situação jurídica do imóvel, assegurando o Direito de Propriedade. A
finalidade do registro é escriturar os atos translativos da propriedade imóvel
(ALMEIDA, 2013).

Para ORLANDO GOMES (2001, p. 140) o registro público proporciona mais


segurança à circulação da riqueza imobiliária, pois:

Sem transcrição, não se adquire intervivos a propriedade de bem imóvel. É


seu principal modo de aquisição. Não basta o título translativo. Preciso é
que seja registrado. Do contrário, não opera a transferência, a que,
simplesmente, serve de causa. Assim é nos sistemas jurídicos, como o
nosso, que não reconhecem força translativa aos contratos. Neles, o
negócio jurídico, que tenha a função econômica de transferir o domínio,
produz, tão somente, a obrigação de transferi-lo (...) Para que a
transferência se verifique, isto é, para que o comprador se torne o dono da
coisa comprada, é preciso que o título seja registrado no Ofício de Imóveis.

Atualmente, a Lei nº 6.015/1973, que disciplina sobre os registros públicos,


já sofreu algumas alterações e, dentre elas, distingue-se a matrícula.
26

3.3 Acessão

A acessão faz parte da aquisição originária e diz respeito a tudo o que adere
ao solo e não pode ser retirado sem danificação.

A acessão é o aumento do volume ou do valor do objeto da propriedade,


devido a forças externas. Numa palavra, é a acessão contínua, pela qual uma coisa
se une ou se incorpora a outra por ação humana ou causa natural. O proprietário da
coisa principal adquire a propriedade da coisa acessória, que se lhe uniu ou
incorporou. Há, enfim, como nota Barassi, uma alteração quantitativa ou qualitativa
da coisa. A acessão discreta, isto é, o aumento da coisa de dentro para fora, não é
acessão propriamente dita. Suas consequências se acham subordinadas, por
entendimento pacífico, ao princípio de que acessorium cedit principali (GOMES,
2001, p. 149).

A acessão pode ser:

a) Natural: quando depende da natureza. Ocorre quando advém de incidente


natural sem que haja intervenção humana. Por exemplo: formação de ilhas, aluvião,
avulsão e abandono de álveo.

b) Artificial: decorre da atividade do homem. Ocorre em decorrência do


resultado do trabalho do homem. Por exemplo: plantações e construções de obras.

O art. 1.248 do Código Civil esclarece que a acessão pode se dar:

I - por formação de ilhas;

II - por aluvião;

III - por avulsão;

IV - por abandono de álveo;

V - por plantações ou construções.

A acessão tem como fundamento o princípio de que o acessório segue o


principal, e sua natureza jurídica está fundamentada em quatro teorias:

i) a que a considera um modo de aquisição da propriedade;

ii) a que a entende como uma das faculdades inerentes ao domínio;

iii) a que diferencia a acessão contínua da acessão discreta;


27

iv) a que a define como uma extensão da propriedade (GOMES, 2001, p.


150-151).

Aluvião

A Enciclopédia Saraiva do Direito, coordenada por RUBENS LIMONGI


FRANÇA (1977), apresenta a definição de aluvião como a forma de:

Aquisição da propriedade imóvel, por acessão. Acréscimo sucessivo e


insensível de materiais (depósitos e aterros naturais) nas margens dos rios.
A aluvião pertence ao proprietário do terreno marginal. Quando a formação
se der em frente a prédios de proprietários diferentes, dividir-se-á entre eles,
na proporção da testada de cada um sobre a antiga margem (FRANÇA,
1977, v. 6, p. 273).

Para haver aluvião, o incremento deve se realizar imperceptivelmente, sem


que se possa saber a quem pertencem as terras trazidas pela corrente, sem que se
possa determinar o lugar de onde se desprenderam. Nisso se distingue,
precisamente, da avulsão que é uma porção de terra destacada por força natural
violenta, deslocada de uma só vez. Na aluvião, o acréscimo há de ser sucessivo,
lento, paulatino, imperceptível (GOMES, 2001, p. 154).

A acessão por aluvião está expressa no art. 1.250 do Código Civil:

Art. 1.250. Os acréscimos formados, sucessiva e imperceptivelmente, por


depósitos e aterros naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das
águas destas, pertencem aos donos dos terrenos marginais, sem indenização.

É o acréscimo lento formado nas margens dos rios, que importa em


aquisição para o proprietário do imóvel, segundo o princípio do “o acessório segue o
principal”, trata-se no caso de aluvião decorrente de fato natural (AQUINO, 2011).

O Código Civil, conforme o parágrafo único do art. 1.250, também tratou de


disciplinar a aluvião que se dá em torno de prédios:

Parágrafo único. – O terreno aluvial, que se formar em frente de prédios de


proprietários diferentes, dividir-se-á entre eles, na proporção da testada de cada um
sobre a antiga margem.

A aluvião constitui-se de: depósitos recentes de sedimento inconsolidado


que se formam ao longo das margens dos rios e nas desembocaduras dos cursos
d'água com alguma massa de água parada (lago, laguna ou mar). O acúmulo de
28

aluvião nas margens dos cursos d'água dá origem às várzeas, locais


tradicionalmente procurados para agricultura, pois aliam fertilidade à presença
d'água (Dicionário livre de geociências).

ORLANDO GOMES (2001, p. 154) leciona que há duas espécies de aluvião:


a própria (acréscimo que se forma pelos depósitos ou aterros naturais nos terrenos
marginais do rio) e a imprópria (acréscimo que se forma quando parte do álveo se
descobre em razão do afastamento das águas).

Avulsão:

O Código Civil, no art. 1.251, reconhece a acessão por avulsão quando: “por
força natural violenta, uma porção de terra se destacar de um prédio e se juntar a
outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar o dono do
primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém houver reclamado”.

Parágrafo único. Recusando-se ao pagamento de indenização, o dono do


prédio a que se juntou a porção de terra deverá aquiescer a que se remova a parte
acrescida.

É desmembramento súbito por força da corrente de água, que desfigura o


imóvel tornando-o total ou parcialmente impróprio para o uso. Neste caso o dono
poderá reclamar indenização, no prazo decadencial de um ano, não havendo a
possibilidade de remoção (AQUINO, 2011).

O Diferencial da acessão por avulsão está na indenização ao primeiro


proprietário para aquisição do acréscimo no período de um ano, ou sem indenização
se após o prazo ninguém houver reclamado. Entretanto, o primeiro proprietário não
é obrigado a aceitar a indenização, podendo optar pela remoção da parte acrescida
a terreno de outrem (FERREIRA, 2012).

Álveo abandonado:

Trata o álveo abandonado de leito do rio, superfície em que as águas fluem


sem transbordar.

- Abandonado: superfície que as águas do rio deixaram pela mudança de


seu curso. Pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens.

- Particular: rio de propriedade privada ou de águas comuns.


29

- Público: rio pertencente ao domínio de pessoa jurídica de direito público.


Pode ser de uso comum ou dominical, conforme a propriedade das águas
(FRANÇA, 1977, v. 6, p. 274).

De acordo com LEONARDO GOMES DE AQUINO (2011), não se pode


confundir o álveo abandonado, em que o rio seca, com a aluvião imprópria, em que
parte do álveo descobre-se em razão de um desvio no curso das águas. Deve
originar-se de forças naturais, pois, se oriundo de motivo de utilidade pública passa
a pertencer a posse do álveo abandonado à pessoa de Direito Público que houver
desapropriado, indenizando-se aquele que perdeu suas terras, nos moldes de uma
desapropriação indireta, no entanto, por se tratar de um acontecimento natural, os
donos dos terrenos por onde o rio inaugurar novo curso não terão direito a
indenização.

Semeadura:

Para os romanos existiam três formas de acessão artificial: pela semeadura,


pela plantação e pela edificação, e estas três formas se transportaram para o Direito
Moderno (GOMES, 2001, p. 158).

LEONARDO GOMES DE AQUINO (2011) esclarece que a distinção entre


acessões artificiais e benfeitorias, reside no fato de que as acessões artificiais são
obras que criam uma coisa nova e que se aderem à propriedade anteriormente
existente e as benfeitorias são as despesas feitas com a coisa, ou obras feitas na
coisa, com o fito de conservá-la, melhorá-la ou embelezá-la.

A acessão artificial é a aquisição de uma coisa nova pelo proprietário dela.


Não constitui uma acessão a conservação de plantações já existentes, pela
substituição de algumas plantas mortas. Esse caso é uma benfeitoria, por não haver
nenhuma alteração na substância e na destinação da coisa. Se fizermos um pomar
em terreno alheio, onde nada havia anteriormente, teremos uma acessão por
plantação, que se caracteriza pela circunstância de produzir uma mudança, ainda
que vantajosa, no destino econômico do imóvel, alterando sua substância. Além
disso, na acessão, a boa-fé é elemento imprescindível para que haja indenização;
na benfeitoria ela é irrelevante, quando se trata de benfeitoria necessária. Na
benfeitoria há, até certo ponto, uma característica de gestão de negócio, onde se faz
30

presente o princípio da solidariedade humana e do não locupletamento. Na acessão,


o possuidor visa o seu próprio interesse, sem se preocupar com o do proprietário.

O art. 1.219, do CC, admite a retenção para as benfeitorias necessárias ou


úteis, tendo por fundamento a posse jurídica. Nada há em nosso sistema jurídico
que permita o direito de retenção por acessão, em razão de ressarcimento
(AQUINO, 2011).

3.4 Da usucapião

O instituto da propriedade remonta desde quando a propriedade era vista

como um poder absoluto de alguém sobre uma coisa específica, ou seja,


era considerada como um direito absoluto, perpétuo, oponível erga omnes e
exclusivo de seu titular, que poderia dela dispor com toda plenitude. Essa
concepção evoluiu em conjunto com a sociedade, que resgata cada vez
mais a compreensão da propriedade voltada ao interesse coletivo, dotando-
a de um intrínseco papel social, mitigando, assim, seu caráter absoluto e
passando por um processo histórico de relativização (BRAGA, 2009, p. 5).

A usucapião é definida pelo ordenamento jurídico como a aquisição da


propriedade pelo decurso prolongado do tempo. A definição histórica da usucapião é
delineada por Modestino. Ele a faz nos seguintes termos: “Usucapio est adjectio
dominii per continuationem possessionis temporis lege definiti”, ou seja, “A
usucapião é o modo de aquisição da propriedade sobre uma coisa pela sua posse
prolongada por certo tempo, nas condições estabelecidas pela lei” (ALMEIDA,
2013).

Existe na doutrina uma divergência a respeito do termo usucapião, se


pertence ao gênero masculino ou feminino. O Código Civil de 1916 utilizou o termo
no masculino. O termo no feminino é utilizado pelo Código Civil de 2002, pelo
Estatuto da Cidade, pela Lei nº 6.969/1981 e são vários os estudiosos que se
referem a usucapião no feminino (ALMEIDA, 2013).

Uma das justificativas para utilizar o termo no feminino é baseada na


fundamentação de que o termo é proveniente da palavra capionis, feminina no latim.
Na verdade, tanto a utilização do gênero masculino como do feminino estão
corretas, uma vez que o teor do assunto não sofre modificação.
31

A expressão usucapião deriva do latim usucapio, de usucapere, ou seja,


tomar (capere) ou adquirir algo pelo uso. Pode ser usada no gênero masculino,
como o faz o Código Civil de 1916, ou no gênero feminino (fiel à origem latina do
termo) como no Código Civil de 2002, sendo autorizadas as duas formas no
vernáculo.

Segundo RENATO AFONSO GONÇALVES (2003), a usucapião é um


instituto antiquíssimo, anterior à Lei das 12 Tábuas (450 a.C.), que já apontava a
posse durante determinado tempo como requisito indispensável. O Direito romano
aprimorou a usucapião (nas fases pré-clássica, clássica e pós-clássica), fundando
seus elementos caracterizadores que vigoram até os dias atuais. Essa é a lição do
ministro José Carlos Moreira Alves em seu Direito Romano, 11 ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1999, vol. 1, p. 311 a 316.

A usucapião pertence à categoria da aquisição originária. Trata-se da


aquisição do domínio da coisa pela posse prolongada. A maioria dos estudiosos
classificam a usucapião como forma de aquisição da propriedade, uma aquisição
originária, já que o adquirente não sucede juridicamente o proprietário, sendo uma
outra relação jurídica, independente de qualquer vínculo com seu antecessor.

Para MARIA HELENA DINIZ (2002, v.4, p. 143), o usucapião é o modo de


aquisição da propriedade e de outros Direitos Reais (usufruto, uso, habitação,
enfiteuse, servidões prediais) pela posse prolongada da coisa com a observância
dos requisitos legais. É uma aquisição do domínio pela posse prolongada, como
prefere dizer Clóvis Beviláqua.

Na usucapião, o antigo proprietário perde a posse, passando a mesma a ser


direito do usucapiente. O objetivo da usucapião é manifestar o domínio do possuidor
sobre o bem por ter decorrido o lapso temporal exigido para cada espécie de
usucapião.

A usucapião se justifica por dois fatores: pelo abandono da coisa pelo dono
e pela posse prolongada no tempo pelo usucapiente. No entanto, para justificar a
usucapião, existe a necessidade do bem-estar sendo utilizado pelo usucapiente de
maneira a atender às necessidades sociais, cumprindo a função social da
propriedade (ALMEIDA, 2013).
32

Na usucapião, a efetividade da posse constitui uma exigência empregada


em todos os seus tipos, sendo que é conduzido à usucapião a posse exercida com
animus domini:

o animus domini importa, enfim, em agir o possuidor como proprietário


zeloso, usufruindo de todas as utilidades que a coisa é capaz de
proporcionar, e imprimindo-lhe um sentido proveitoso para si e para o meio
social. Exerce ele o poder de fato sobre a coisa, excluindo dela o verdadeiro
proprietário, e, mesmo sabendo quem ele seja, não pode praticar atos que
importem em reconhecimento do domínio alheio (NADER, 1998, p. 16).

THEODORO JÚNIOR (2002, v. 3, p. 163) afirma que para haver posse de


boa-fé é preciso que o possuidor ignore o direito de terceiro sobre a coisa, de sorte
que sua conduta e sua consciência sejam as de verdadeiro e legítimo proprietário.
Já o animus domini acha-se ligado à vontade de agir como proprietário, pouco
importando a forma legítima ou não com que a conduta teve origem.

No Brasil, a Constituição de 1934 foi a primeira a reconhecer a usucapião


em seu texto. Seu art. 125 proclamava:

Art. 125 - Todo brasileiro que, não sendo proprietário rural ou urbano,
ocupar, por dez anos contínuos, sem oposição nem reconhecimento de domínio
alheio, um trecho de terra de até dez hectares, tornando-o produtivo por seu trabalho
e tendo nele a sua morada, adquirirá o domínio do solo, mediante sentença
declaratória devidamente transcrita.

Atualmente, a legislação reconhece várias modalidades de usucapião em


seus vários dispositivos, a saber:

Usucapião extraordinária – Código Civil (art. 1.238): aquele que, por quinze
anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-
lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer
ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o
registro no Cartório de Registro de Imóveis - Parágrafo único. O prazo
estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver
estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou
serviços de caráter produtivo;
33

Usucapião ordinária – Código Civil (art. 1.242): adquire também a


propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo
título e boa-fé, o possuir por dez anos. Parágrafo único. Será de cinco anos o
prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente,
com base no registro constante do respectivo cartório, cancelado
posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua
moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico;

Usucapião especial urbana – Código Civil (art. 1.240): aquele que possuir,
como sua, área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por
cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia
ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de
outro imóvel urbano ou rural. Constituição Federal (art. 183): aquele que
possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros
quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a
para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não
seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Estatuto da Cidade (art. 9º):
aquele que possuir como sua área ou edificação urbana de até duzentos e
cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
Parágrafo 1º: o título de domínio será conferido ao homem ou à mulher, ou a
ambos, independentemente do estado civil. Parágrafo 2º: o direito de que
trata este artigo não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
Parágrafo 3º: para os efeitos deste artigo, o herdeiro legítimo continua, de
pleno direito, a posse de seu antecessor, desde que já resida no imóvel por
ocasião da abertura da sucessão;

Usucapião coletiva – Estatuto da Cidade (art. 10 e s.): as áreas urbanas com


mais de duzentos e cinquenta metros quadrados, ocupadas por população de
baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada
possuidïr, são susceptíveis de serem usucapidas coletivamente, desde que
os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural;
34

Usucapião especial de imóvel rural – Código Civil (art. 1.239): aquele que,
não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco
anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a
cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família,
tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Constituição Federal
(art. 191): aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano,
possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra,
em zona rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por
seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a
propriedade;

Usucapião sobre coisa móvel – Código Civil (arts. 1.260 a 1.262): Art.
1.260: aquele que possuir coisa móvel como sua, contínua e
incontestadamente durante três anos, com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á
a propriedade; art. 1.261: se a posse da coisa móvel se prolongar por cinco
anos, produzirá usucapião, independentemente de título ou boa-fé; Art. 1.262:
aplica-se à usucapião das coisas móveis o disposto nos arts. 1.243 e 1.244;

Usucapião sobre servidões – Código Civil (art. 1.379): o exercício


incontestado e contínuo de uma servidão aparente, por dez anos, nos termos
do art. 1.242, autoriza o interessado a registrá-la em seu nome no Registro de
Imóveis, valendo-lhe como título a sentença que julgar consumado a
usucapião - Parágrafo único: se o possuidor não tiver título, o prazo da
usucapião será de vinte anos;

Usucapião especial indígena – Estatuto do Índio (art. 33): o índio integrado


ou não, que ocupe como próprio, por dez anos consecutivos, trechos de
terras inferior a cinquenta hectares, adquirir-lhe-á propriedade plena
(ALMEIDA, 2013).
35

UNIDADE 4 – DA PERDA DA PROPRIEDADE

A propriedade é extinta quando o seu objeto perde os atributos fundamentais


ou o valor econômico,

se confunde com outro, ou fica em lugar de onde não pode ser retirado.
Nestes casos, o perecimento resulta de fato involuntário de um
acontecimento natural, como o raio, o incêndio, o terremoto. Mas pode ser
consequência de ato da vontade do próprio titular do direito como no caso
de destruição (GOMES, 2001, p. 184).

O art. Art. 1.275 determina que além das causas consideradas neste Código,
perde-se a propriedade:

I - por alienação;

II - pela renúncia;

III - por abandono;

IV - por perecimento da coisa;

V - por desapropriação.

MARIA HELENA DINIZ (1998, v. 3, p. 567) define a perda da propriedade


imobiliária como meio legal que afasta alguém de seu patrimônio Imobiliário. Os
modos terminativos da propriedade imóvel, previstos em lei, são: alienação,
renúncia, abandono, perecimento do imóvel, desapropriação por necessidade,
utilidade pública ou interesse social, direito de requisição da propriedade particular,
usucapião, acessão, dissolução de casamento sob regime de comunhão universal
de bens, sentença transitada em julgado, que atribui a um dos litigantes a
propriedade imóvel, numa ação de reivindicação, implemento de condição resolutiva
e confisco de propriedade que contém cultura ilegal de plantas psicotrópicas.

O abandono, a renúncia e a alienação constituem modos voluntários da


perda da propriedade.

O abandono se dá quando o proprietário se desfaz da coisa por não querer


continuar sendo o dono; na renúncia o proprietário declara o propósito de se
36

desfazer do bem e na alienação o proprietário transmite a outrem seu direito sobre o


bem.

Vejamos em detalhes algumas destas causas:

4.1 Alienação

A alienação constitui uma maneira de perda da propriedade na qual, por livre


vontade, o titular transfere seu direito a outra pessoa. Esta transmissão pode se dar
a título gratuito (doação) ou oneroso (dação em pagamento, troca ou compra e
venda).

Como diz JOSÉ EDUARDO LOUREIRO (2001, p. 89), a dinâmica da vida


econômica moderna caminhou para a criação de novos Direitos Reais. É o caso da
chamada propriedade fiduciária, trazendo-se para o sistema financeiro a propriedade
como garantia.

MARIA HELENA DINIZ (1998, v.1, p. 164) define alienação como: “Ato de
alienar, ou seja, transferir gratuita ou onerosamente a outrem um direito ou a
propriedade de uma coisa, que, então, passará a integrar o patrimônio alheio”.

A Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997, que dispõe sobre o Sistema de


Financiamento Imobiliário, institui a alienação fiduciária de coisa imóvel, proclama
em seu art. 22: “A alienação fiduciária regulada por esta Lei é o negócio jurídico pelo
qual o devedor, ou fiduciante, com o escopo de garantia, contrata a transferência ao
credor, ou fiduciário, da propriedade resolúvel de coisa imóvel”. O art. 24 da mesma
Lei estipula o conteúdo do negócio fiduciário:

Art. 24. O contrato que serve de título ao negócio fiduciário conterá:

I - o valor do principal da dívida;

II - o prazo e as condições de reposição do empréstimo ou do crédito do


fiduciário;

III - a taxa de juros e os encargos incidentes;

IV - a cláusula de constituição da propriedade fiduciária, com a descrição do


imóvel objeto da alienação fiduciária e a indicação do título e modo de aquisição;

V - a cláusula assegurando ao fiduciante, enquanto adimplente, a livre


utilização, por sua conta e risco, do imóvel objeto da alienação fiduciária;
37

VI - a indicação, para efeito de venda em público leilão, do valor do imóvel e


dos critérios para a respectiva revisão;

VII - a cláusula dispondo sobre os procedimentos de que trata o art. 27.

A Lei nº 9.514 estipula que na alienação fiduciária, o fiduciário não tem o


poder de usar e gozar, ficando a posse direta com o fiduciante. Nem tem o poder de
dispor.

O fiduciário pode ceder o seu crédito, livre de fazê-lo sem qualquer


impedimento. A garantia acompanhará a cessão. Mas dispor da propriedade
fiduciária sem ceder o crédito não lhe é permitido (LOUREIRO, 2001, p. 91).

O Código Civil disciplina a propriedade fiduciária nos art. 1.361 a 1.368. Art.
1.361 ao proferir que considera-se fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel
infungível que o devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor.

4.2 Renúncia

A renúncia se dá quando o proprietário de um imóvel abre mão do direito


sobre a coisa em favor de terceiro.

Renúncia da Propriedade. Ato unilateral pelo qual o proprietário declara,


expressamente, o seu intuito de desistir de seu direito sobre a coisa, em
favor de terceira pessoa, que não precisa manifestar sua contestação
(DINIZ, 1998, v. 4, p. 137).

A renúncia acarretará a perda do Direito em razão de ato unilateral. Pela


declaração de vontade do proprietário, o mesmo deixa de exercer seu direito.

O parágrafo único do art. 1.275 do Código Civil dispõe que: “Nos casos dos
incisos I e II, os efeitos da perda da propriedade imóvel serão subordinados ao
registro do título transmissivo ou do ato renunciativo no Registro de Imóveis”. Os
incisos I e II são referentes a alienação e renúncia.

De acordo com esse parágrafo, o ato de renúncia só terá validade se


transcrito em Registro de Imóveis. O Código Civil declara que a escritura pública é
fundamental para a validade dos negócios jurídicos. O art. 108 do Código estipula
que os bens imóveis com valor superior a trinta vezes o salário mínimo devem ser
registrados por escritura pública: Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a
38

escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à


constituição, transferência, modificação ou renúncia de Direitos Reais sobre imóveis
de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.

4.3 Abandono

Para que haja abandono é necessário que o dono do imóvel se desfaça


voluntariamente do domínio da coisa. Abandonar a coisa não implica renúncia de
direitos. O abandono se presume quando o proprietário não assume a propriedade,
bem como as obrigações fiscais decorrentes dela.

O Código Civil assim declara:

Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de


não mais o conservar em seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de
outrem, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à
propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas respectivas
circunscrições.

§ 1º O imóvel situado na zona rural, abandonado nas mesmas


circunstâncias, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois,
à propriedade da União, onde quer que ele se localize.

§ 2° Presumir-se-á de modo absoluto a intenção a que se refere este artigo,


quando, cessados os atos de posse, deixar o proprietário de satisfazer os ônus
fiscais.

Note-se que o § 2º deste artigo, diz respeito ao ato de presumir o abandono


de um imóvel, e o art. 1.276 estipula o prazo para que se configure o abandono,
passando os bens para o Poder Público (ALMEIDA, 2013).

MARIA HELENA DINIZ (1998, v.1, p. 5) assim leciona a respeito de

abandono da posse e de abandono da propriedade imobiliária:

Abandono da posse. Ocorre quando o possuidor, intencionalmente, se


afasta do bem com o escopo de se privar de sua disponibilidade física e de
não mais exercer sobre ele quaisquer atos possessórios, por exemplo,
quando alguém atira na rua um bem que lhe pertence com o propósito de se
desfazer dele. Todavia, nem sempre o abandono da posse acarreta
abandono de propriedade, por exemplo, se jogar objeto no quintal da
própria residência ou se atirar coisas ao mar para salvar navio de naufrágio,
pois nestas hipóteses, não há intenção de não mais desejar os bens como
39

seus, de maneira que o dono das referidas coisas tem o direito de recuperá-
las (...).
Abandono de propriedade imobiliária. Ato unilateral em que o titular do
domínio se desfaz, voluntariamente, do seu imóvel, porque não quer mais
continuar sendo, por várias razões, seu dono. É necessário, para que haja
derrelição, intenção abdicativa, pois simples descuido não a caracteriza (...).

ORLANDO GOMES (2001, p. 185) ensina que o abandono não é forma de


“extinção subjetiva do Direito de Propriedade, porque nenhum vínculo jurídico se
estabelece entre o proprietário, que assim perde o domínio, e aquele que adquire a
res derelicta pela ocupação”.

4.4 Desapropriação

Na lição de KYOSHI HARADA (2006), o Direito de Propriedade constitui o


mais importante de todos os Direitos Subjetivos Materiais (...) constitui o cerne do
Direito das Coisas, representando a propriedade a espinha dorsal do Direito Privado,
tanto por isso dedicamos algumas unidades específicas para discorrer sobre a
desapropriação.
40

UNIDADE 5 – DA PROTEÇÃO DA PROPRIEDADE

No entendimento de ORLANDO GOMES (2001, p. 255), o Direito de


Propriedade sempre contou com medidas defensivas que se caracterizam pela
energia e prontidão. O sistema atual de proteção acha-se bem organizado em todas
as legislações, abrangendo medidas de Direito Penal e Administrativo e as que, na
esfera do Direito Privado, correspondem à pretensões reconhecidas aos que sofrem
lesão no seu Direito.

A propriedade constitui um direito irrestrito e a sua proteção se dá por meio


de determinadas ações. O Direito de Propriedade conta com o amparo legal da
Constituição que declara em seu art. 170, inciso II:

Art. 170. A ordem econômica fundada na valorização do trabalho humano e


na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

(...)

II - propriedade privada;

Cabe salientar que os mecanismos de proteção ao Direito de Propriedade,


na esfera civil e processual, são classificados em gerais e específicos. Os gerais são
constituídos de certos remédios e autodefesa para a proteção dos direitos
individuais, tal como o mandado de segurança, e os meios específicos são as
“ações correspondentes às pretensões derivadas da propriedade em razão de ter
sido turbada” (GOMES, 2001, p. 255).

Essas duas modalidades gerais e específicas são, segundo o mesmo autor,


a que compete ao proprietário totalmente privado de seu bem; e a que compete ao
proprietário que conserva o bem, mas é turbado no seu direito.

A proteção da propriedade se dá através da ação reivindicatória, que tem


como finalidade recuperar a coisa de quem quer que injustamente a possua, como
bem declara o art. 1.228 do Código Civil: “O proprietário tem a faculdade de usar,
gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que
injustamente a possua ou detenha”.
41

A ação reivindicatória tinha dupla função: a de reconhecer o domínio e a de


sua restituição, acrescentando que:

a ação reivindicatória competia então ao proprietário, que não possuía,


contra o terceiro possuidor, quer esse exercesse uma posse com animus de
dispor como dono, isto é, o verdadeiro possuidor, quer, como se admitiu
mais tarde, se tratasse de um simples detentor (HAENDCHEN;
LETTERIELLO, 1985 apud MARTINS, 2008, p. 42).

A ação demarcatória também constitui uma forma de proteção da


propriedade, e de acordo com a doutrina de RENATO DURO DIAS (2005), tanto a
ação demarcatória como a reivindicatória podem ser utilizadas para que o
proprietário de um terreno consiga recuperar o trecho do terreno ocupado
indevidamente pelo confinante. A diferença entre as duas está em que, na
reivindicatória, já se conhece exatamente a linha divisória e a pretensão é de
recuperar uma porção certa, além da dita linha; enquanto que, na demarcatória,
primeiro se investiga e define a linha de separação, para que, por via de
consequência, se obtenha os terrenos eventualmente ocupados pelo vizinho além
das divisas regulares.

Nas palavras de SÍLVIO DE SALVO VENOSA (2012), a propriedade


constitui um direito fundamental e é protegida constitucionalmente; por essa razão
seu ordenamento possui meios específicos de tutela que se desenvolvem tanto
perante pessoas de Direito Público como perante pessoas de Direito Privado.

O mandado de segurança é ação utilizada com frequência para defender


situações concretas de ofensa à propriedade praticada por autoridade pública
quando incabível a possessória. Ausentes os pressupostos do mandado de
segurança, aquele que tem seu direito de propriedade ameaçado, atingido ou
violado também poderá mover contra o Estado as mesmas ações que tem contra
outro qualquer ofensor de seu direito. Em relação à Administração, há todo um
arcabouço legislativo para compor e proteger o Direito de Propriedade, dentro dos
limites impostos pela lei, matéria que pertence ao estudo do Direito Público, pois
muito de sua proteção decorre da atividade administrativa típica.
42

5.1. Ação reivindicatória

Este tipo de ação só deverá ser utilizado quando estiver em disputa o Direito
de Propriedade.

A ação reivindicatória para SERPA LOPES (s.d. apud HAENDCHEN;


LETTERIELLO, 1985) tinha dupla função: a de reconhecer o domínio e a de sua
restituição, acrescentando que a ação reivindicatória competia então ao proprietário,
que não possuía, contra o terceiro possuidor, quer esse exercesse uma posse com
animus de dispor como dono, isto é, o verdadeiro possuidor, quer, como se admitiu
mais tarde, se tratasse de um simples detentor.

Para os autores acima, essas linhas mestras ainda hoje são identificada no
direito positivo brasileiro, (...) pois, também aqui, admite-se a reivindicatória contra
aquele que não possui, mas que se intitula possuidor, assim se defendendo no
processo, como também contra o que dolosamente deixou de possuir para levar a
engano o autor da demanda.

Na ação reivindicatória, aquele que é titular quer reaver o bem em poder do


detentor injusto. A faculdade do titular em reaver a coisa se dá por meio da ação de
reivindicação.

O fundamento da ação reivindicatória é o direito de sequela, esse poder de


seguir a coisa onde quer que esteja, que é um dos atributos dos Direitos Reais.
Objetiva-se no direito de propriedade pela faculdade de recuperá-la:

1º) Quando o possuidor não proprietário contesta a propriedade do


proprietário não possuidor, julgando-se proprietário do bem.

2º) Quando o possuidor não proprietário, embora não conteste a propriedade


do dono do bem, o retém sem título, ou causa.

A primeira hipótese é a mais comum. Configura o conflito entre a


propriedade e a posse, entre a realidade e a aparência (GOMES, 2001, p. 256).

A mais importante ação de proteção da propriedade é a ação de


reivindicação. Esta ação constitui um “direito elementar e fundamental do
proprietário a sequela; ir buscar a coisa onde se encontra e em poder de quem se
encontra”. Deflui daí a faculdade de o proprietário recuperar a coisa. Escuda-se no
Direito de Propriedade para reivindicar a coisa do possuidor não proprietário, que a
43

detém indevidamente. É ação real que compete ao titular do domínio para retomar a
coisa do poder de terceiro detentor ou possuidor indevido.

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e


o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha
(antigo art. 554). Possuir injustamente é ter o bem sem o direito de possuir (ius
possidendi) (VENOSA, 2012).

Na ação reivindicatória, o réu tem que comprovar que a coisa reivindicada


lhe pertence. Se a coisa já foi usucapida pelo possuidor, a ação reivindicatória não
pode ser utilizada pelo antigo proprietário.

5.2. Ação demarcatória

A ação demarcatória contém dispositivos legais tanto na legislação


processual como no Direito Material. O ato de demarcar implica a delimitação entre
dois terrenos, assinalando-a, em seguida, com elementos materiais sobre o solo. A
demarcação encontra-se disposta nos arts. 1.297 e 1.298 do Código Civil: Art. 1.297.
O proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou tapar de qualquer modo o seu
prédio, urbano ou rural, e pode constranger o seu confinante a proceder com ele à
demarcação entre os dois prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar marcos
destruídos ou arruinados, repartindo-se proporcionalmente entre os interessados as
respectivas despesas.

§ 1º Os intervalos, muros, cercas e os tapumes divisórios, tais como sebes


vivas, cercas de arame ou de madeira, valas ou banquetas, presumem-se, até prova
em contrário, pertencer a ambos os proprietários confinantes, sendo estes
obrigados, de conformidade com os costumes da localidade, a concorrer, em partes
iguais, para as despesas de sua construção e conservação.

§2º As sebes vivas, as árvores, ou plantas quaisquer, que servem de marco


divisório, só podem ser cortadas, ou arrancadas, de comum acordo entre
proprietários.

§3º A construção de tapumes especiais para impedir a passagem de animais


de pequeno porte, ou para outro fim, pode ser exigida de quem provocou a
necessidade deles, pelo proprietário, que não está obrigado a concorrer para as
despesas.
44

Art. 1.298. Sendo confusos os limites, em falta de outro meio, se


determinarão de conformidade com a posse justa; e, não se achando ela provada, o
terreno contestado se dividirá por partes iguais entre os prédios, ou, não sendo
possível a divisão cômoda, se adjudicará a um deles, mediante indenização ao
outro.

A ação de demarcação estabelece os limites divisórios dos terrenos. Se


tratar de ação de divisão, a ação de demarcação vai estabelecer a área e os limites
entre os terrenos divididos. O objetivo é pôr fim a qualquer disputa relativa aos
limites entre prédios confinantes. Essa ação pode ser simples ou qualificada, isto é,
pode ser apenas uma ação de demarcação e também ação de demarcação e
divisão (ALMEIDA, 2013).
45

UNIDADE 6 – GARANTIA CONSTITUCIONAL DA


PROPRIEDADE E HIPÓTESES DE DESAPROPRIAÇÃO

Já vimos que a garantia da propriedade na Carta Política de 1988 se


encontra insculpida nos: art. 5º, XXII, XXIII, XXIV, XXV, art. 182, §2º, §4º, III, art.
184, art. 243.

A Carta Magna vigente, assim como as anteriores, não permite a abolição do


direito de propriedade, embora impondo ao proprietário restrições ao direito de uso,
mediante ocupação temporária, em casos de perigo público iminente e retirando seu
caráter perpétuo através de desapropriação, nas hipóteses em que menciona.

O exame crítico dos textos constitucionais permite vislumbrar claramente


três diferentes hipóteses de desapropriações permitidas: 1) a desapropriação de
propriedade que cumpre a função social; 2) a desapropriação de propriedade que
não cumpre a função social, distinguindo as propriedades urbanas das rurais; e, 3) a
desapropriação de propriedade nociva à coletividade.

A desapropriação é uma atribuição do Estado para limitar o Direito de


Propriedade dos particulares. As condições estabelecidas para a desapropriação
acontecem em virtude de utilidade pública ou interesse social (ALMEIDA, 2013).

A ação de desapropriação é o procedimento pelo qual o Poder público


despoja, compulsoriamente, alguém de uma propriedade móvel ou imóvel, sob a
alegação de necessidade e utilidades públicas ou interesse social, adquirindo-a
mediante justa e prévia indenização, que será paga em dinheiro ou, se o
expropriado concordar, em títulos de dívida pública com cláusula de exata correção
monetária. É ressalvado à União o direito de desapropriar imóvel rural que não
esteja cumprindo sua função social, objetivar a realização da justiça social através
da reforma agrária, pagando ao proprietário uma indenização justa e prévia em
títulos de dívida agrária com cláusula de preservação do valor real, para evitar
enriquecimento ilícito do Estado (...) (DINIZ, 1998, v. 1, p. 44).
46

6.1 Desapropriação de propriedade que cumpre a função social

O inciso XXIV do art. 5º da CF refere-se à desapropriação de propriedade


que cumpre a função social e somente pode ocorrer por necessidade ou utilidade
pública, ou por interesse social. Os casos de necessidade ou utilidade pública estão
enumerados no Decreto-lei nº 3.365, de 21-6-1941, que continua sendo o estatuto
básico das desapropriações. As hipóteses de interesse social estão elencadas na
Lei nº 4.132, de 10-12-1962. O procedimento a que se refere o texto constitucional é
aquele previsto no Decreto-lei nº 3.365/41, com a aplicação subsidiária do Código de
Processo Civil (HARADA, 2005).

Essas desapropriações exigem a justa e prévia indenização em dinheiro


mesmo naquelas hipóteses do art. 2º da Lei nº 4.132/62, fundadas na necessidade
de condicionar o uso da propriedade ao bem-estar social.

6.2 Desapropriação de propriedade que não cumpre a função social

Na hipótese de desapropriação de propriedade que não cumpre a função


social, a indenização respectiva não é paga em dinheiro, mas em títulos da dívida
pública.

Se o imóvel for urbano, pode ser desapropriado pelo Município com


pagamento mediante títulos da dívida pública, com prazo de resgate de 10 (dez)
anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da
indenização e os juros legais (art. 182, § 4º, III, da CF). Essa desapropriação
restringe-se às áreas incluídas no Plano Diretor da cidade, que deverá dizer quando,
onde e como a propriedade urbana cumpre a sua função social (§ 2º do art. 182 da
CF). Tratando-se de propriedade rural, a União poderá desapropriá-la por interesse
social, para fins de reforma agrária, mediante prévia e justa indenização em títulos
da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo
de 20 (vinte) anos, com exceção das benfeitorias úteis e necessárias, que serão
indenizadas em dinheiro (art. 184 e § 1º da CF). A propriedade produtiva é
insuscetível de desapropriação (art. 185, II, da CF) (HARADA, 2005).

6.3 Desapropriação de propriedade nociva

Finalmente, a Carta Política de 1988 introduziu uma inovação prevendo a


hipótese de desapropriação de glebas de terras onde forem localizadas culturas
47

ilegais de plantas psicotrópicas, as quais serão destinadas ao assentamento de


colonos, para o cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos, sem qualquer
indenização ao proprietário (art. 243). Ao contrário de outras hipóteses, esta é uma
desapropriação compulsória a cargo da União (HARADA, 2005).
48

UNIDADE 7 – ESPÉCIES DE DESAPROPRIAÇÃO

Para HELY LOPES MEIRELLES (1994),

desapropriação ou expropriação é a transferência compulsória da


propriedade particular para o Poder Público ou seus delegados, por
necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante prévia e
justa indenização e, ainda, por desatendimento a normas do Plano Diretor
(desapropriação sanção, art. 182, § 4º, III, da CF), neste caso com
pagamento em títulos da dívida pública municipal, aprovados pelo Senado
Federal.

ODETE MEDAUAR (1996) conceitua a desapropriação “como figura jurídica


pela qual o poder público, necessitando de um bem para fins de interesse público,
retira-o do patrimônio do proprietário, mediante prévia e justa indenização”.

Na lição de JOSÉ CRETELLA JÚNIOR (2002), a desapropriação é

o ato pelo qual o Estado, necessitando de um bem particular, para fins de


interesse público, obriga o proprietário a transferir-lhe a propriedade desse
bem, mediante prévia e justa indenização.

Finalmente, MASSAMI UYEDA (1988, p. 17), após confrontar as


conceituações dadas por autores nacionais e alienígenas sustenta que latíssimo
sensu a desapropriação pode ser conceituada “como complexo procedimento de
direito público, mediante o qual o Estado se assenhoreia de bem móvel ou imóvel,
fundado em interesse público, indenizado o proprietário”.

O exame dos conceitos acima permite identificar traços comuns, tais como o
caráter de direito público, em que o gênero interesse público constitui-se no
fundamento da desapropriação, na perda compulsória da propriedade e na justa
indenização. No confronto de interesses público e privado, prevalece o primeiro. É o
princípio da supremacia do interesse público. O aspecto da perda da propriedade
diferencia a desapropriação das limitações ao uso de propriedades, estabelecidas
por normas de direito civil (direito de vizinhança) ou por normas de direito público
(urbanísticas e administrativas), bem como das requisições de móveis ou imóveis
necessários às forças armadas e à defesa passiva da população. A desapropriação
atinge, pois, o caráter perpétuo do direito de propriedade, que fica substituído pela
49

justa indenização, salvo no caso de desapropriação de gleba nociva em que não


haverá indenização de espécie alguma (HARADA, 2005).

De fato, a Carta Magna:

prevê a desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse


social, mediante pagamento prévio da justa indenização em dinheiro,
conforme art. 5º, inciso XXIV;

faculta a desapropriação por contrariedade ao Plano Diretor da cidade,


mediante pagamento do valor real da indenização em títulos da dívida pública
municipal, segundo o art. 182, § 4º, inciso III;

permite a desapropriação, por interesse social para fins de reforma agrária, de


imóvel rural que não esteja cumprindo a função social da propriedade,
mediante pagamento da justa indenização em títulos da dívida agrária,
conforme prescrito no art. 184; finalmente,

impõe à União o dever de expropriar glebas onde forem encontradas culturas


ilegais de plantas psicotrópicas, sem qualquer indenização.

O exame crítico dos textos constitucionais permite vislumbrar de maneira


cristalina três diferentes hipóteses de desapropriações permitidas: a de propriedade
que cumpre a função social, a de propriedade que não cumpre a função social,
distinguindo a urbana da rural, e a de propriedade nociva à coletividade.

No entendimento de KIYOSHI HARADA (2005, p. 34), a conceituação


clássica já não corresponde à realidade de nossos dias. O pagamento prévio da
justa indenização, em dinheiro ou em títulos, deixou de ser requisito constitucional
para todas as hipóteses de desapropriação.

O mesmo autor conceitua então a desapropriação como sendo:

um instituto de direito público consistente na retirada da propriedade privada


pelo Poder Público ou seu delegado, por necessidade ou utilidade pública,
ou interesse social, mediante o pagamento prévio da justa indenização em
dinheiro (art. 5º, XXIV, da CF), por interesse social para fins de reforma
agrária (art. 184 da CF), por contrariedade ao Plano Diretor da cidade (art.
182, § 4º, 11I, da CF), mediante prévio pagamento do justo preço em títulos
da dívida pública, com cláusula de preservação de seu valor real, e por uso
nocivo da propriedade, hipótese em que não haverá indenização de
qualquer espécie (art. 243 da CF).
50

O interesse público (como gênero) e a necessidade pública, a utilidade


pública, o interesse social, o interesse social para fins de reforma agrária, o
interesse social para o desenvolvimento da política urbana e o interesse social para
erradicação de propriedade nociva (enquanto espécies) são a mola propulsora da
desapropriação.

Além das espécies citadas temos a chamada desapropriação urbanística,


isto é, aquela que se faz em relação à área incluída no Plano Diretor, para fins de
ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e assegurar o bem-
estar de seus habitantes.

A dicotomia prevista no art. 590 do Código Civil de 1916 – necessidade


pública e utilidade pública – desapareceu com o advento do Decreto-lei nº 3.365, de
21-7-1941, o qual fundiu, em seu art. 5º, as duas espécies sob a denominação de
utilidade pública. Esse diploma legal continua sendo o estatuto básico das
desapropriações.

Prescreve o art. 5º do Decreto-lei nº 3.365/41:

Consideram-se casos de utilidade pública:

a) a seguridade nacional;

b) a defesa do Estado;

c) o socorro público em caso de calamidade;

d) a salubridade pública;

e) a criação e melhoramento de centros de população, seu abastecimento


regular de meios de subsistência;

f) o aproveitamento industrial das minas e das jazidas minerais;

g) a assistência pública, as obras de higiene e decoração, casas de saúde,


clínicas, estações de clima e fontes medicinais;

h) a exploração e a conservação dos serviços públicos;

i) a abertura, conservação e melhoramento de vias e logradouros públicos; a


execução de planos de urbanização; o loteamento de terrenos, edificados ou não,
para sua melhor utilização econômica, higiênica ou estética; a construção ou
ampliação de distritos industriais (com redação determinada pela Lei nº 6602/78);
51

j) o funcionamento dos meios de transporte coletivo;

l) a preservação e conservação dos monumentos históricos e artísticos,


isolados ou integrados em conjuntos urbanos ou rurais, bem como as medidas
necessárias a manter-lhes e realçar-lhes os aspectos mais valiosos ou
característicos e, ainda, a proteção de paisagens e locais particularmente dotados
pela natureza;

m) a preservação e a conservação adequada de arquivos, documentos e


outros bens móveis de valor histórico ou artístico;

n) a construção de edifícios públicos, monumentos comemorativos e


cemitérios;

o) a criação de estádios, aeródromos ou campos de pouso para aeronaves;

p) a reedição ou divulgação de obra ou invento de natureza científica,


artística ou literária;

q) os demais casos previstos por leis especiais.

§ 1º A construção ou ampliação de distritos industriais, de que trata a alínea


‘i’ do caput deste artigo, inclui o loteamento das áreas necessárias à instalação de
indústrias e atividades correlatas, bem como a revenda ou lotação dos respectivos
lotes a empresas previamente qualificadas (acrescentado pela Lei nº 6602/78);

§2º A efetivação da desapropriação para fins de criação ou ampliação de


distritos industriais depende de aprovação, prévia e expressa, pelo Poder Público
competente, do respectivo projeto de implantação (acrescentado pela Lei nº
6602/78).

Ainda que desaparecendo a dicotomia, é possível vislumbrar casos de


necessidade pública no elenco do art. 5º, como ocorre nos quatro primeiros incisos,
como bem explica KIYOSHI HARADA (2005, p. 36-7).

Como se sabe, a necessidade pública, em matéria de desapropriação, surge


quando o poder público defronta-se com um problema urgente e inadiável, só
removível mediante a transferência do bem particular a seu domínio. Às vezes,
sobrevém a necessidade pública de desapropriar como consequência da
desapropriação por utilidade pública, como é comum acontecer, por exemplo, na
abertura de longas avenidas, que impõem, muitas vezes, a execução de taludes em
52

vários de seus trechos. Os prédios que ficarem localizados no topo desses taludes
devem ser desapropriados para a segurança de seus moradores e a dos
transeuntes da nova avenida. Emerge aí a premente necessidade de preservar a
segurança e a integridade física dos moradores e dos transeuntes, hipótese em que
a desapropriação pode atingir apenas as benfeitorias.

Já a utilidade pública aparece quando a incorporação da propriedade


privada ao domínio estatal atende ao interesse coletivo que, encampado pelo poder
político, converte-se em interesse público a ser satisfeito pelo regime da despesa
pública. Na realidade, necessidade pública e utilidade pública são espécies de que é
gênero o interesse público. Todavia, a lei específica considera como sendo de
utilidade pública todas as hipóteses elencadas no art. 5º, que é taxativo,
comportando, no entanto, outras previsões por leis especiais, conforme
expressamente ressalvado na letra ‘q’.

O que se pode afirmar é que a desapropriação só é possível diante de


expressa previsão legal de utilidade pública. Contudo, decretada a desapropriação
com fundamento em certo item do art. 5º, ela subsistirá, não ensejando retrocessão,
se o bem expropriado vier a ser destinado a uma finalidade diversa, que tenha
fundamento em outro inciso legal. Quanto a isso não há divergência doutrinária ou
jurisprudencial. É o caso, por exemplo, de imóvel desapropriado com fundamento na
letra ‘m’, para construção de cemitério e que, mais tarde, veio a ser destinado à
construção de estádio (letra n).

Dispõe da Lei nº 4.132, de 10-9-62, em seu art. 1º, a desapropriação por


interesse social que será decretada para promover a justa distribuição da
propriedade ou condicionar o seu uso ao bem-estar social na forma do art. 147 da
Constituição Federal.

Os casos de interesse social estão elencados no art. 2º dessa lei. São eles:

I - O aproveitamento de todo bem improdutivo ou explorado sem


correspondência com as necessidades de habitação, trabalho e consumo dos
centros de população a que deve ou possa suprir por seu destino econômico.

II - A instalação ou a intensificação das culturas nas áreas em cuja


exploração não se obedeça a plano de zoneamento agrícola (VETADO).
53

III - O estabelecimento e a manutenção de colônias ou cooperativas de


povoamento e trabalho agrícola.

IV - A manutenção de posseiros em terrenos urbanos onde, com a tolerância


expressa ou tácita do proprietário, tenham construído sua habitação, formando
núcleos residenciais de mais de 10 (dez) famílias.

V - A construção de casas populares.

VI - As terras e águas suscetíveis de valorização extraordinária, pela


conclusão de obras e serviços públicos, notadamente de saneamento, portos,
transporte, eletrificação, armazenamento de água e irrigação, no caso em que não
sejam ditas áreas socialmente aproveitadas.

VII - A proteção do solo e a preservação de cursos e mananciais de água e


de reservas florestais.

VIII - A utilização de áreas, locais ou bens que, por suas características,


sejam apropriados ao desenvolvimento de atividades turísticas (acrescentado pelo
art. 31 da Lei nº 6513/77).

§ 1º O disposto no item I deste artigo só se aplicará nos casos de bens


retirados de produção ou tratando-se de imóveis rurais cuja produção, por
ineficientemente explorados, seja inferior à média da região, atendidas as condições
naturais do seu solo e sua situação em relação aos mercados.

§ 2º As necessidades de habitação, trabalho e consumo serão apuradas


anualmente segundo a conjuntura e condições econômicas locais, cabendo o seu
estudo e verificação às autoridades encarregadas de velar pelo bem-estar e pelo
abastecimento das respectivas populações.

Como se vê, embora o art. 1º da lei prescreva que a desapropriação será


“decretada para promover a justa distribuição da propriedade ou condicionar o seu
uso ao bem-estar social”, nem todos os incisos do art. 2º relacionam-se com
propriedades que não estão cumprindo a função social. São os casos, por exemplo,
dos incisos III, V, VI, que nada têm que ver com disfunção social da propriedade.
Outrossim, a hipótese do inciso I, que cuida de desapropriação de bem improdutivo
ou explorado sem correspondência com as necessidades de habitação, trabalho e
54

consumo, está absorvida pela desapropriação por interesse social para fins de
reforma agrária (HARADA, 2005).

Os casos mais comuns de desapropriação por interesse social são os dos


incisos IV e V. Na hipótese do inciso IV, normalmente, ela é decretada para impedir
a reintegração de posse por parte do proprietário do imóvel, com o que traria graves
problemas sociais. Daí por que a lei exige como requisito para desapropriar a
existência de núcleos residenciais de mais de 10 (dez) famílias.

KIYOSHI HARADA (2005) lembra que todas as desapropriações decretadas


com base nesse inciso legal, durante mais de duas décadas em que integrou o
Departamento de Desapropriações da Prefeitura de São Paulo, tiveram por
motivação a necessidade de impedir o cumprimento do mandado de reintegração de
posse pelo proprietário da gleba invadida, evitando que fiquem ao relento dezenas
de famílias.

As desapropriações pelo inciso V intensificam-se em períodos de governos


comprometidos com a melhoria de condições de vida dos hipossuficientes. Às
vezes, ocorre desapropriação-meio para viabilizar a desapropriação-fim, por
utilidade pública. Em outras palavras, a desapropriação por utilidade pública, para
execução de obras ao longo de um córrego, por exemplo, pode implicar remoção de
centenas de famílias humildes, que esgota a capacidade do serviço de assistência
social da entidade expropriante, ensejando prévia construção de casas populares,
hipótese em que se fará a desapropriação por interesse social.

O prazo para desapropriar é de 2 (dois) anos a contar da declaração de


interesse social (art. 3º).

O art. 4º determina a venda ou locação dos bens expropriados a quem


estiver em condições de dar-lhes destinação social prevista. É claro que no caso de
desapropriação para manutenção de posseiros em terrenos urbanos (inciso IV)
descabe falar-se em venda ou locação.

Desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária é espécie


prevista no art. 184 da CF e só pode atingir o imóvel rural que não esteja cumprindo
a função social e a justa indenização é paga em títulos da dívida agrária, resgatáveis
em até 20 anos, com exceção das benfeitorias úteis e necessárias, que serão
indenizadas em dinheiro.
55

Estão excluídas da desapropriação a pequena e média propriedade rural,


assim definidas em lei, desde que seu proprietário não possua outra, bem como a
propriedade produtiva (art. 185 da CF). O art. 186 da CF já traçou os critérios
objetivos para a definição da função social da propriedade rural, como vimos,
deixando para o legislador ordinário sua melhor explicitação.

A Constituição Federal de 1988 inseriu, no Título VII, o Capítulo II, que cuida
da Política Urbana (arts. 182 e 183), a desapropriação urbanística por
descumprimento da função social.

Passou ao Município a tarefa de elaborar e executar a política de


desenvolvimento urbano, fixando, desde logo, o objetivo de ordenar o crescimento
pleno das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes (art.
182, caput). Na verdade, são dois objetivos: um objetivo-meio e outro objetivo-fim.
Elegeu o Plano Diretor, também conhecido como Plano Integrado, que é impositivo
para as cidades com mais de 20 mil habitantes, como instrumento básico para a
consecução desse objetivo (§ 1º). Prescreveu que a propriedade urbana cumpre a
função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade
expressas no Plano Diretor (§ 2º). Com isso permitiu a flexibilização do conceito de
função social da propriedade urbana de conformidade com as peculiaridades e
necessidades de cada comuna, segundo o que for estabelecido na lei do Plano
Diretor de cada Município.

Finalmente, a Constituição Federal confere aos Municípios os instrumentos


de execução da política urbana para as áreas incluídas no Plano Diretor da cidade,
conforme prescrição do § 4º do art. 182:

É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área


incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo
urbano não edificado, subutilizado ou não-utilizado, que promova seu adequado
aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:

I - parcelamento ou edificação compulsórios;

II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no


tempo;

III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de


emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até
56

dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da


indenização e os juros legais.

Como se vê, a desapropriação surge como último recurso de que pode


lançar mão a Municipalidade para ordenar as funções sociais da cidade e garantir o
bem-estar coletivo.

É nesse contexto que surge essa modalidade inovadora de desapropriação


urbanística, restrita à área incluída no Plano Diretor (HARADA, 2005).
57

UNIDADE 8 – OUTROS TIPOS DE DESAPROPRIAÇÃO

8.1 Desapropriação judicial

Apesar da unidade do Poder Judiciário, este se compõe de vários órgãos,


entre os quais os Tribunais Regionais Federais e os Juízes Federais e os Tribunais
e Juízes dos Estados, encimados pelo Supremo Tribunal Federal.

Aos juízes federais compete processar e julgar as causas em que a União,


entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de
autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de
trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho (art. 109, I, da CF).

Logo, as expropriatórias promovidas pela União, suas autarquias e


empresas públicas devem ser propostas perante a Justiça Federal, assim como
quando essas entidades forem interessadas, nos termos da disposição
constitucional supramencionada.

KIYOSHI HARADA (2005) toma como exemplo, desapropriações movidas


pela municipalidade de São Paulo que no passado atingiam imóveis abrangidos pelo
extinto aldeamento indígena de São Miguel. Era de praxe a expedição de ofício ao
Serviço de Patrimônio da União noticiando o evento. Era o bastante para que a
União, através de Procurador da República, atravessasse uma petição nos autos da
expropriatória solicitando o desaforamento do feito, sem se posicionar como
assistente ou oponente. Normalmente, os juízes estaduais atendiam a esse pedido
resultando na interposição de agravos de instrumento tanto pelo expropriante, como
também pelo expropriado.

Ora, se que determina a competência da Justiça Federal é o fato de a União


estar presente nos autos como autora, ré, assistente ou oponente. Se se entende
que o imóvel lhe pertence, embora nas últimas décadas não tenha sido encontrado
índio de qualquer tribo naquele quadrilátero, deveria a União ingressar com oposição
para justificar a remessa dos autos à Justiça Federal. Aliás, restou definitivamente
assentada pelo Colendo STF a tese de que a simples manifestação de interesse na
causa feita pela União, sem a assunção precisa da posição de autora, ou ré, ou
assistente, ou oponente, não desloca a competência para a Justiça Federal.
58

Entretanto, em relação à Petrobrás, basta que o Procurador da República


(Advogado da União) subscreva a inicial para fixar a competência da Justiça
Federal, porque o interesse jurídico da União decorre de monopólio constitucional de
conhecimento de todos.

As concessionárias de energia elétrica, em razão da legitimidade da


intervenção da União (Poder Público concedente) proclamada pelo extinto TFR
(Súmula nº 62), pelo STJ (Súmula nº 61) e pelo STF (Súmula nº 218), têm
assegurado a competência da Justiça Federal. Entretanto, se a intervenção da
União ocorrer na fase de liquidação do julgado, não desloca a competência para a
Justiça Federal.

O empenho feito por essas concessionárias em torno da tese, que restou


vitoriosa na jurisprudência, justifica-se pelo fato de que as desapropriações por elas
promovidas costumam abarcar extensas áreas intermunicipais e, às vezes,
interestaduais, pelo que imprescindível, para a eficiente atuação do órgão judiciário,
que este tenha a mais ampla jurisdição territorial.

As desapropriações feitas pelo Estado ou Município e pelas respectivas


autarquias e empresas públicas dependem do que dispuser a Lei de Organização
Judiciária de cada Estado. Na capital do estado de São Paulo, essas
desapropriações são ajuizadas perante as 12 Varas da Fazenda Pública. A
competência para julgar os recursos é do Tribunal de Justiça, por sua Secção de
Direito Público. Na Justiça Federal, neste Estado, o órgão colegiado de segunda
instância é o Tribunal Regional Federal da 3ª Região.

É oportuno lembrar que o art. 12 da lei específica de desapropriação comete


o conhecimento da ação de desapropriação apenas aos juízes que tiverem a
garantia de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos,
certamente, para assegurar a mais completa liberdade judicante em nome da
soberania do Judiciário, bem como para conferir ao expropriado a garantia da justa
indenização pela perda compulsória de sua propriedade, decorrente da declaração
expropriatória emitida pela Chefia do Executivo, no uso de suas atribuições legais
(HARADA, 2005, p. 97).
59

8.2 Desapropriação indireta

Desapropriação indireta é toda intervenção do estado na propriedade que


venha a impossibilitar o uso e gozo de um bem, retirando-lhe o conteúdo econômico.
Esta desapropriação indireta pode vir “disfarçada” na forma de uma limitação, uma
servidão, etc., não importa qual dos nomes afigure no ato estatal; lhe importa a
essência (RAMOS, 2007).

É certo que nestes casos, essa desapropriação visa a instituição de melhoria


da qualidade de vida da coletividade – preceito insculpido várias vezes na
Constituição Federal (art. 3º, 5º, 225º, dentre outros) – a que se obriga, inclusive, a
ação do Estado (art. 225, caput). Entretanto, esta mesma norma constitucional
garante ao cidadão o direito à propriedade e da reparação dos danos decorrentes da
atividade estatal. Não há conflito jurídico: desapropria-se a área para instituir um
benefício coletivo (área de preservação ambiental permanente), indenizando-se o
atual proprietário. O que não pode o poder público é fazer com que um particular
custeie, isoladamente, a instituição de um benefício coletivo, com o detrimento de
seu patrimônio – que lhe é garantido pela ordem constitucional.

A desapropriação indireta é um instituto não regulado por lei, mas que é uma
realidade no Direito Brasileiro, evidenciada por inúmeras decisões das diversas
instâncias, explicado com propriedade por KIYOSHI HARADA (2005, p. 187): a
desapropriação indireta não chega a ser um instituto de direito por ser um
instrumento processual para forçar o poder público a indenizar o ato ilícito,
representado pelo desapossamento da propriedade particular, sem o devido
processo legal, que é a desapropriação.

A desapropriação é um procedimento formal que tem seus pressupostos


estabelecidos na Constituição Federal Brasileira e legislação ordinária, estando
então totalmente disciplinado em lei. Entretanto, as disposições legais referentes à
desapropriação são postas de lado, em determinados casos à margem pelo Poder
Público.

Portanto, a desapropriação indireta, em virtude de circunstâncias


excepcionais que ensejam a situação, é “processada de maneira diversa”. A
ocupação do imóvel pela Administração dá-se sem existência do ato declaratório de
60

utilidade pública, e principalmente sem o pagamento da justa e prévia indenização,


sendo esta a diferença entre a desapropriação direta e a indireta.

E como já foi dito, o poder público exerce supremacia sobre o direito


individual, sendo conferido ao estado o domínio eminente sobre todos os bens
existentes em seu território, objetivando sempre o direito da coletividade. Mas em
contrapartida, não pode o poder público exercer esse direito de tal forma que o
particular fique totalmente prejudicado (RAMOS, 2007).

A Constituição de 1988, consagrou a propriedade como um dos direitos e


garantias fundamentais, determinando a legalidade do procedimento expropriatório
uma vez respeitados os requisitos e pressupostos legais.

A respeito da desapropriação indireta, CELSO RIBEIRO BASTOS (1994)


define como o apossamento irregular do bem imóvel particular pelo Poder Público,
uma vez que não obedeceu ao procedimento previsto pela lei. Esta desapropriação
pode ser impedida por meio de ação possessória, sob a alegação de esbulho.
Entretanto a partir do momento em que a Administração Pública der destinação ao
imóvel, este passa a integrar o patrimônio público, tornando-se insuscetível de
reintegração.

Nada mais é que o esbulho da propriedade particular e como tal não


apresenta apoio na lei. É uma situação de fato que vai se generalizando a cada dia.
Esbulho caracteriza-se pela ocupação de bem alheio, principalmente imóvel, sem o
prévio decreto expropriatório e as demais formalidades exigidas por lei (RAMOS,
2007).

Enfim, a desapropriação indireta é tida como imprópria, em razão de que


toda desapropriação deve ser precedida da declaração expropriatória regular, na
qual se aponte o bem a ser desapropriado, especificando a sua destinação pública
ou de interesse social. Dessa forma, não pode haver desapropriação de fato, ou
indireta.

Contudo, persistindo na doutrina majoritária a ideia do sacrifício de um


interesse (privado) em benefício de outro (público), superior, portanto, o interesse
público pode e deve ser entendido como a “soma” do interesse individual com o
interesse coletivo, evitando-se ao máximo o sacrifício de qualquer um deles. Deve-
se excluir da noção de desapropriação indireta o elemento intencional, afastando-se
61

dela a ideia de uma invasão consciente da propriedade particular, ainda que para a
construção de uma obra pública (RAMOS, 2007).

A desapropriação tácita é uma forma de desapropriação assemelhada à


desapropriação indireta. Decorrente do apossamento, da ocupação ou da destruição
da propriedade particular. A indenização então será feita por via administrativa ou
judicial, porém após o apossamento.

Em relação ao que dispõe o art. 5º, XXV da CF, que autoriza a autoridade
competente, em caso de iminente perigo público a utilizar de propriedade particular,
assegurando ao proprietário a indenização ulterior em caso de dano. Ou seja,
consiste apenas na ocupação e a possível indenização caso ocorra dano.

Desapropriação condicional, modalidade da desapropriação direta, é uma


ocupação temporária, enquanto perdurar o interesse público, justificando-se nos
tempos de intranquilidade social ou período economicamente perturbado.

Exemplificando em relação à desapropriação condicional: se o Estado


necessita, por exemplo, de construir uma estrada de ferro ou de rolagem, mas fica
na dúvida quanto à porção de terreno que deve desapropriar. Recorrerá ao instituto
da desapropriação condicional, decidindo-se, depois pela solução mais conveniente,
a qual decorre do relatório apresentado pela comissão de avaliação que fixará a
indenização (RAMOS, 2007).

8.3 Desapropriações que admitem indenização – urbanística e rural

De acordo com o professor CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO


(2001), há dois tipos de desapropriação no direito brasileiro que admitem
indenização: a desapropriação urbanística e a desapropriação rural.

A desapropriação de imóvel urbano está fundamentada no Art. 182, § 4º, III


da Lei Maior. O legislador constituinte conferiu ao Município o poder sobre a política
de desenvolvimento urbano. Neste caso, a competência para desapropriar é do
Município. Entretanto, o Poder Municipal está subordinado à Lei Federal, ainda
gozando do poder de regulamentar acerca da área incluída no plano diretor. Este é
aprovado na Câmara Municipal, e é obrigatório para cidades com mais de 20 mil
habitantes. O plano diretor é instrumento básico da política de desenvolvimento e de
62

expansão urbana e, por conta da previsão constitucional, a propriedade atenderá à


sua função social a partir do momento em que atender às exigências municipais.

A desapropriação rural está prevista no Art. 184 da Constituição Federal de


1988, e é assim denominada por incidir sobre imóveis rurais para fins de reforma
agrária. É uma modalidade específica de desapropriação, de competência exclusiva
da União, que visa atender o interesse social. Nos dizeres de ALEXANDRE DE
MORAES (2003), a reforma agrária é compreendida como “o conjunto de notas e
planejamentos estatais mediante intervenção do Estado na economia agrícola com a
finalidade de promover a repartição da propriedade e renda fundiária”. Da mesma
forma que a desapropriação rural em si compete à União, também sobre ela
compete à União legislar, tal como previsto no Art. 22, II da Lei Fundamental. Foi,
então, editada a Lei nº 8.629/93, que regula a desapropriação para fins de reforma
agrária.

São requisitos exigidos para a reforma agrária:

que o imóvel não esteja cumprindo sua função social;

prévia e justa indenização em dinheiro ou títulos da dívida agrária;

indenização em dinheiro das benfeitorias úteis e necessárias;

edição de decreto que declare o imóvel de interesse social e autorize a União


a propor ação de desapropriação.

Há isenção de impostos sobre a transferência do imóvel desapropriado.

A propriedade rural cumpre sua função social quando preenche os seguintes


requisitos:

a) Aproveitamento racional e adequado.

b) Utilização adequada dos recursos naturais disponíveis.

c) Preservação do meio ambiente.

d) Relações de trabalho de acordo com a lei.

e) Exploração da propriedade de forma que promova o bem-estar dos


proprietários e dos trabalhadores.

O Art. 185 da Magna Carta determina que a pequena e média propriedade


rural (assim definida pela lei), bem como a propriedade produtiva, são insuscetíveis
63

de desapropriação, garantindo a lei tratamento especial à propriedade produtiva e


fixando normas para o cumprimento de sua função social.

Há, ainda, a desapropriação confiscatória, fundamentada no Art. 243 da Lei


Fundamental. Este tipo de desapropriação não confere ao proprietário o direito à
indenização. Mediante decisão judicial e garantido o direito ao devido processo
legal, todo e qualquer terreno próprio para cultura, situado em qualquer ponto do
país e independente de seu valor e extensão, onde estiverem localizadas culturas
ilegais de plantas psicotrópicas, será objeto de desapropriação sem prévio aviso ou
justa indenização, como anteriormente mencionado (já vimos a respeito). Os
terrenos desta forma desapropriados servirão ao assentamento de colonos para o
cultivo de alimentos e medicamentos. Esta medida constitucional tem dupla função,
pois combate o tráfico de entorpecentes e garante o aproveitamento das glebas para
fins de reforma agrária. Frise-se que a desapropriação confiscatória não se
confunde, apesar da natureza punitiva, com a ação penal, podendo ser decidida em
ação própria no juízo cível (COELHO, 2011).

O procedimento expropriatório engloba duas etapas: a fase declaratória e a


executória. A primeira etapa, a declaratória, é a etapa na qual o Poder Público
manifesta a sua intenção de adquirir compulsoriamente um determinado bem.
Apesar de ser um ato de natureza administrativa, tanto o Poder Executivo como o
Poder Legislativo são legítimos para manifestar a intenção. São competentes para
tal:

- a União;

- os Estados;

- os Municípios e o Distrito Federal;

- o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), investido de


tal poder pelo Decreto-Lei nº 512 de 21 de março de 1969.

O objetivo de tal declaração é submeter o bem à força expropriatória do


Estado. Entretanto, como a simples declaração não transfere a propriedade do
futuro bem expropriado ao Estado, o proprietário do bem mantém o direito de ainda
gozar, usar e dispor do bem.
64

As benfeitorias necessárias são sempre indenizáveis, mesmo depois de


declarada a utilidade pública do bem. As voluptuárias não são indenizáveis,
enquanto as úteis o são, desde que autorizadas pelo órgão competente.

A fase executória pode ser judicial ou extrajudicial. Será extrajudicial quando


houver acordo entre o proprietário e o Poder Público. Quando feita a propositura da
ação de expropriação, a manifestação judicial poderá ser homologatória ou
contenciosa. Será homologatória quando, através da via judicial, houver acordo
entre as partes. O juiz apenas homologa o acordo. Quando o proprietário e o
expropriante não chegam a um acordo em relação ao quantum da indenização, este
deverá ser fixado pelo juiz após arbitramento. É na fase executória que o Poder
Público passa a agir efetivamente, a fim de transferir a titularidade do bem
expropriado, uma vez que na desapropriação não há uma limitação do direito de
propriedade, mas sim a perda da propriedade (COELHO, 2011).

Em suma, a desapropriação é um instituto de direito público, estando pois,


adstrita a essa ordem positiva e principiológica. Sendo assim, objetivando cumprir
um fim de utilidade pública, em sentido amplo, o Estado está autorizado a adquirir
irresistivelmente um bem de seu titular, seguindo necessariamente determinado
procedimento e mediante prévia e justa indenização.
65

REFERÊNCIAS

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70

ANEXO

LEGISLAÇÃO APLICÁVEL À DESAPROPRIAÇÃO


Decreto-lei nº 3365 de 21 de junho de 1941 – dispõe sobre a desapropriação por
utilidade pública.

Lei nº 4132 de 10 de setembro de 1962 – define os casos de desapropriação por


interesse social e dispõe sobre a sua aplicação.

Decreto-lei nº 1075 de 22 de janeiro de 1970 – regula a imissão de posse, initio litis,


em imóveis residenciais urbanos.

Lei nº 8257 de 26 de novembro de 1991 – dispõe sobre a expropriação das glebas


nas quais se localizam culturas ilegais de plantas psicotrópicas e dá outras
providências.

Lei nº 8629 de 25 de fevereiro de 1993 – dispõe sobre a regulamentação dos


dispositivos constitucionais relativos à reforma agrária, previstos no Capítulo III,
Título VII, da Constituição Federal.

Lei Complementar nº 76 de 06 de julho de 1993 – dispõe sobre o procedimento


contraditório especial, de rito sumário, para o processo de desapropriação de imóvel
rural, por interesse social, para fins de reforma agrária, com as modificações
introduzidas pela Lei complementar nº 88, de 23 de dezembro de 1996.

Medida Provisória nº 2183-56, de 24 de agosto de 2001 – acresce e altera


dispositivos do Decreto-lei nº 3365, de 21 de junho de 1941, das Leis nº 4504, de 30
de novembro de 1964, 8.177 de 1º de março de 1991, e 8.629, de 25 de fevereiro de
1993, e dá outras providências.

Decreto nº 2250, de 11 de junho de 1997 – dispõe sobre a vistoria de imóvel rural


destinado à reforma agrária e dá outras providências.

Lei nº 6969, de 10 de dezembro de 1991 – dispõe sobre a aquisição, por usucapião


especial, de imóveis rurais, altera a redação do § 2º do art. 589 do Código Civil e dá
outras providências.

Medida provisória nº 2220, de 04 de setembro de 2001 – dispõe sobre a concessão


de uso especial de que trata o § 1º do art. 183 da Constituição, cria o Conselho
Nacional de Desenvolvimento Urbano – CNDU e dá outras providências.

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