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DIREITOS REAIS
Introdução
A propriedade é um direito real complexo, que envolve o domínio sobre
as coisas que compõem o patrimônio de um sujeito. Contudo, essas
relações de domínio não autorizam o proprietário a realizar qualquer
ação com o objeto de sua propriedade.
Neste capítulo, você vai ler sobre as limitações às quais se sujeita o
direito de propriedade, assim como suas finalidades. Para tal, você vai
identificar os sujeitos relacionados ao direito de propriedade e realizar
uma descrição adequada de seu objeto.
1 Sujeitos da propriedade
A propriedade pode ser titularizada por pessoas naturais ou pessoas jurídicas,
de direito público ou privado, assim como por entes despersonalizados. Dessa
forma, não há questionamentos relevantes sobre quem pode ser proprietário,
pois as relações de domínio sobre coisas são essenciais para a dinamização
das relações sociais. Conforme Orlando Gomes (2012, p. 106):
ato jurídico que lhe serve de causa. Diversas restrições levantam-se não só
quanto à própria faculdade de adquirir, mas, também, quanto à espécie do
fato jurídico que fundamenta o modo de aquisição. Certas pessoas não podem
adquirir bens de outras. A propriedade de determinados bens é defesa a certas
pessoas. Na realização de alguns negócios jurídicos, que se requerem como
titulos adquirendi da propriedade, exige-se capacidade especial ou legitimação.
Teresa recebe um bem imóvel como herança de seu pai. Contudo, este, em testa-
mento, gravou esse bem com uma cláusula de inalienabilidade. Dessa forma, Teresa
é proprietária do bem e pode exercer todas as faculdades inerentes a esse domínio,
mas não pode alienar o bem a terceiros. Quaisquer negócios jurídicos que ela tente
realizar para vender esse bem serão considerados nulos.
Assim, todos têm o potencial para ocupar a posição de sujeito ativo do direito
de propriedade; contudo, há restrições constitucionais que limitam a aquisição
da propriedade rural por estrangeiros, explicitadas no art. 190 da Constituição
Federal: “Art. 190 A lei regulará e limitará a aquisição ou arrendamento de
propriedade rural por pessoa física ou jurídica estrangeira e estabelecerá os
casos em que dependerão de autorização do Congresso Nacional” (BRASIL,
1988, documento on-line).
A intenção do constituinte, nessa situação, foi resguardar a propriedade
das terras rurais nacionais para que estas sejam exploradas, de preferência,
por brasileiros. A regulamentação desse dispositivo ocorre na Lei nº. 5.709,
de 7 de outubro de 1971, que limita a aquisição de propriedade rural por es-
trangeiros. Em seu art. 3º, o limite de área para pessoas naturais estrangeiras
fica estabelecido em até 50 módulos de exploração indefinida, seja essa área
contínua ou descontínua (BRASIL, 1971).
No tocante às pessoas jurídicas estrangeiras, o art. 5º autoriza aquisições
desde que os imóveis se destinem à implantação de projetos agrícolas, pecu-
ários, industriais ou de colonização, de acordo com os objetivos estatutários
das referidas pessoas jurídicas, condicionados à aprovação pelo Ministério
da Agricultura.
Seja o proprietário estrangeiro pessoa natural ou jurídica, a extensão da
área rural adquirida não pode ser superior a 25% da superfície do município
onde se situa o imóvel, conforme o art. 12 da mesma lei — a intenção do
Tópicos fundamentais de propriedade 3
Pessoa natural
Pessoa jurídica de direito público
Sujeito ativo
Pessoa jurídica de direito privado
Entes despersonalizados
2 Objeto da propriedade
O objeto da propriedade é tradicionalmente abrangente, de maneira a compre-
ender tudo aquilo que possa estabelecer uma relação jurídica amparada em
domínio. Dessa maneira, os bens móveis, imóveis e semoventes são facilmente
reconhecidos como coisas passíveis de assenhoramento. Contudo, Rizzardo
(2016, p. 173) aponta uma tentativa de identificação do objeto da propriedade
com o potencial de exploração econômica das coisas:
Entretanto, o conteúdo dos direitos autorais não está limitado aos seus
elementos econômicos — seus caracteres extrapatrimoniais são essenciais
para sua caracterização.
Não há dúvida de que a evolução dos tempos e das formas de subsistência foi
criando novos valores ou padrões econômicos. Atualmente, têm relevância
o fundo de comércio, a clientela, o nome comercial, as patentes de invenção,
as marcas industriais, os desenhos, os modelos fotográficos, inclusive os
espaços aéreos, em que as municipalidades firmam determinados critérios e
valores para conceder alvará de autorização para construções, a partir de certa
altura em zonas especiais das cidades. [...] Trata-se de propriedade imaterial
ou incorpórea, que alargou o conceito tradicional de propriedade, fundado
na divisão romana das coisas mancipi e nec mancipi.
De toda sorte, anote-se que tal ideia sempre foi refutada por parte considerável
da doutrina nacional e estrangeira. Cite-se, no Brasil, Silmara Juny de Abreu
Chinellato, para quem a propriedade somente recairia sobre bens corpóreos.
Vejamos as suas lições: “a natureza jurídica híbrida, com predominância
de direitos da personalidade, do direito de autor como direito especial, suis
generis, terá como consequência não serem aplicáveis regras da propriedade
quando a ele se referirem, nas múltiplas considerações das relações jurídicas”
(p. 99). Entre os aspectos por ela destacados, demonstrando uma diferença
de tratamento dos direitos de autor, mencionem-se: “a) distinção entre corpo
mecânico e corpo místico, sendo apenas o primeiro suscetível de propriedade
e posse; b) aquisição da titularidade do direito de autor; c) prazo de duração
limitado para direitos patrimoniais e ilimitado para direitos morais; d) não
cabe usucapião quanto a nenhum dos direitos morais, aplicando-se, em tese
ao corpo mecânico; e) perda do direito patrimonial depois de certo prazo,
quando a obra cai em domínio público; f) inalienabilidade de direitos morais;
g) ubiquidade da criação intelectual; h) diferente tratamento no regime de
bens no casamento, entre a propriedade e o direito de autor.
Isso não significa dizer que as relações jurídicas estabelecidas em razão de bens
incorpóreos não tenham relevância para o Direito — ao contrário, estas merecem
atenção do Direito Empresarial (quanto à propriedade intelectual) e dos direitos
da personalidade (quanto aos aspectos extrapatrimoniais dos direitos autorais).
6 Tópicos fundamentais de propriedade
Cláudia realiza uma reforma de ampliação em sua sala e abre uma grande janela para
circulação de ar. Todavia, essa janela se encontra a menos de 1,5m da janela do quarto
de sua vizinha Cleide. Assim, ao realizar essa reforma, Cláudia acaba ferindo dispositivo
de direito de vizinhança, de acordo com o art. 1.301 do Código Civil. Assim, Cleide pode
requerer judicialmente o fechamento dessa janela, na forma do art. 1.302 do Código Civil.
Foi, entretanto, a doutrina social da Igreja católica que mais propugnou para
as finalidades sociais da propriedade, o que transparece em várias encíclicas
papais. Na encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, ensinava-se: “Os que
têm recebido de Deus maior abundância de bens, sejam corporais ou externos,
sejam internos ou espirituais, os receberam para que com eles atendam a sua
própria perfeição e, ao mesmo tempo, como ministros da Divina Providência,
ao proveito dos demais”. Na encíclica Mater et Magistra, o Papa João XXIII,
que praticamente revolucionou a doutrina social da Igreja, transmitiu as se-
guintes orientações: “[...] O direito à propriedade privada é intrinsecamente
inerente à função social”. Mais adiante: “[...] O sagrado Evangelho sanciona,
sem dúvida, o direito à propriedade privada dos bens, porém, ao mesmo
tempo, apresenta, com frequência, Jesus Cristo ordenando aos ricos que
transformem em bens espirituais os bens materiais que possuem, e os
deem aos necessitados”. Igualmente a encíclica Populorum Progressio, do
mesmo Papa, contém valiosos ensinamentos, no mesmo sentido: “Se alguém
tem bens deste mundo, e vendo um irmão em necessidade e não o atende,
como é possível que ele resida no amor de Deus?”.
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