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DIREITO CIVIL

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Sumário
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ....................................................................................... 2
1.1. Teoria do Patrimônio Mínimo .................................................................................. 2
2. CLASSIFICAÇÃO DOS BENS...................................................................................... 2
2.1. Quanto à Tangibilidade ........................................................................................... 3
2.1.1. Bens Corpóreos ............................................................................................... 3
2.1.2. Bens Incorpóreos ............................................................................................. 3
2.2. Quanto à Mobilidade ............................................................................................... 3
2.2.1. Bens Imóveis.................................................................................................... 3
2.2.2. Bens Móveis..................................................................................................... 5
2.2.3. Semoventes ..................................................................................................... 5
2.3. Quanto à Fungibilidade ........................................................................................... 6
2.3.1. Bens fungíveis.................................................................................................. 6
2.3.2. Bens Infungíveis............................................................................................... 6
2.4. Quanto à Consuntibilidade...................................................................................... 6
2.4.1. Bens Consumíveis ........................................................................................... 6
2.4.2. Bens Inconsumíveis ......................................................................................... 7
2.5. Quanto à Divisibilidade ........................................................................................... 8
2.5.1. Bens Divisíveis ................................................................................................. 8
2.5.2. Bens Indivisíveis .............................................................................................. 8
2.6. Quanto à Individualidade ........................................................................................ 9
2.6.1. Bens singulares................................................................................................ 9
2.6.2. Bens Coletivos ................................................................................................. 9
2.7. Quando à Dependência em Relação a Outro Bem ............................................... 11
2.7.1. Bens Principais .............................................................................................. 11
2.7.2. Bens Acessórios ............................................................................................ 11
2.8. Quanto ao Titular do Domínio ............................................................................... 14
2.8.1. Bens Particulares ........................................................................................... 14
2.8.2. Bens Públicos ................................................................................................ 14
3. DO BEM DE FAMÍLIA................................................................................................. 16
3.1. Conceito................................................................................................................ 16
3.2. Bem de família voluntário ou convencional........................................................... 16
3.3. Bem de Família Legal ........................................................................................... 19
4. BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................... 23

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DOS BENS

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Inicialmente necessário fazer a distinção entre coisa e bem.

Nas palavras de SÍLVIO RODRIGUES, coisa é gênero e bem é espécie.

“Coisa é tudo que existe objetivamente, com exclusão do homem”, ao passo que “bens
são as coisas que, por serem úteis e raras, são suscetíveis de apropriação e contém valor
econômico.

Para simplificar, podemos resumir que:

COISA: Tudo que não é humano.


BEM: Coisa com interesse econômico e/ou jurídico.

1.1. Teoria do Patrimônio Mínimo

Teoria desenvolvida pelo Ministro LUIZ EDSON FACHIN, onde deve-se assegurar à
pessoa um mínimo de direitos patrimoniais para que viva com dignidade.

Tal teoria coloca a pessoa no centro do direito privado, em detrimento do patrimônio,


a chamada despatrimonialização do Direito Civil.

Um exemplo está no art. 548 do CC, pelo qual é nula a doação de todos os bens, sem
a reserva do mínimo para a sobrevivência do doador (nulidade da doação universal).

Art. 548. É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente
para a subsistência do doador.

2. CLASSIFICAÇÃO DOS BENS

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2.1. Quanto à Tangibilidade

Trata dos bens corpóreos (materiais ou tangíveis) e os bens incorpóreos (imateriais


ou intangíveis).

2.1.1. Bens Corpóreos

São aqueles que tem existência material, perceptível aos sentidos, que podem ser
tocados, como os bens móveis (livros, joias, etc.) e bens imóveis (terrenos, etc.).

Somente os bens corpóreos podem ser objeto de contrato de compra e venda e


adquiridos por usucapião.

2.1.2. Bens Incorpóreos

São os bens abstratos, que não podem ser tocados pela pessoa humana, tendo
apenas existência jurídica, como por exemplo os direitos sobre o produto do intelecto, com
valor econômico.

São transferidos mediante contrato de cessão e não podem ser objeto de tradição,
uma vez que essa presume a entrega da coisa.

2.2. Quanto à Mobilidade

Cuida do bem em sua concepção naturalística.

2.2.1. Bens Imóveis

Os bens imóveis não podem ser transportados de um lugar para o outro sem alteração
de sua substância. Anote-se que a aquisição de bem imóvel só se opera se ao título
aquisitivo se seguir o registro.

Anote-se que o marido ou a mulher só pode alienar ou gravar de ônus real os bens
imóveis com autorização do outro, salvo se casados sob o regime de separação absoluta
de bens. (art. 1.647, I, CC/02)

Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648 , nenhum dos cônjuges pode, sem
autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta:

I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;

A doutrina classifica os bens imóveis da seguinte forma:

a) Imóveis por sua própria natureza


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São os bens formados pelo solo e tudo que lhe incorporar de forma natural. (art. 79,
CC/02) Abrange o solo com sua superfície, o subsolo e o espaço aéreo.

Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou
artificialmente.

O que lhe for incorporado será classificado como imóvel por acessão, como por
exemplo, uma árvore que cresce naturalmente.

b) Imóveis por acessão física, industrial ou artificial

Tudo quanto for incorporado ao solo pelo homem de forma permanente, como por
exemplo, a semente lançada na terra, os edifícios e construções, de forma que não possam
ser retirados sem destruição ou dano.

Os móveis incorporados ao imóvel de forma permanente adquirem natureza


imobiliária de forma que mesmo se retirados provisoriamente forem reempregados ou
removidas para outro local não perdem essa qualidade. (art. 81, CC/02)

Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:

I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem


removidas para outro local;

II - os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se


reempregarem.

c) Imóveis por acessão intelectual

São os bens intencionalmente incorporados ao imóvel para exploração industrial,


aformoseamento ou comodidade.

Como exemplo podemos citar os aparelhos de ar condicionado, escadas de


emergência e os maquinários agrícolas.

Esses bens podem, a qualquer momento, ser mobilizados.

d) Imóveis por determinação legal

Neste caso prevalece a vontade do legislador que visando a segurança jurídica optou
por dar a esses bens a natureza imobiliária.

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Assim, por força de lei consideram-se bens imóveis os direitos reais sobre imóveis e
as ações que os asseguram bem como os direitos à sucessão aberta, nos termos do art.
80, I e II do CC/02.

Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:

I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;

II - o direito à sucessão aberta.

2.2.2. Bens Móveis

Bens móveis são aqueles passiveis de deslocamento sem perda de suas


características.

a) Móveis por sua própria natureza

São os bens que podem ser transportados de um local para outro, mediante o
emprego de força alheia, sem a deterioração de sua substância.

Como exemplo podemos citar os objetos pessoais, como livros, bolsas, carteiras, etc.

b) Móveis por antecipação

São os bens que mesmo incorporados ao solo, são destinados a serem destacados e
convertidos em móveis, como por exemplo as árvores destinadas ao corte.

c) Móveis por determinação legal

São os bens considerados móveis por determinação legal.

Nos termos do art. 83, CC/02 são bens móveis as energias com valor econômico, os
direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes, os direitos pessoais
patrimoniais e suas ações.

Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:

I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;

II - o direito à sucessão aberta.

2.2.3. Semoventes

Enquadrados na noção de bens móveis, semoventes são os bens suscetíveis de


movimento próprio, a exemplo de um animal de tração. (art. 82, CC/02)
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Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por
força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.

Sua disciplina segue as determinações os bens móveis por sua própria natureza,
aplicando-se as mesmas regras.

ATENÇÃO: Os navios e aeronaves são bens móveis especiais ou sui generis. Apesar
de serem móveis pela natureza ou essência, são tratados pela lei como imóveis,
necessitando de registro especial e admitindo hipoteca.

2.3. Quanto à Fungibilidade

Regra geral, a fungibilidade decorre da natureza do bem, porém a vontade das partes
poderá um bem fungível em infungível.

A fungibilização do bem também pode decorrer de seu valor histórico.

2.3.1. Bens fungíveis

São os bens que podem ser substituídos por outro da mesma espécie, qualidade e
quantidade.

Todos os bens imóveis são personalizados, eis que possuem registro, daí serem
infungíveis. Já os bens móveis são, na maior parte das vezes, bens fungíveis. O empréstimo
de bens fungíveis é o mútuo, caso do empréstimo de dinheiro.

2.3.2. Bens Infungíveis

São aqueles que possuem natureza insubstituível, a exemplo de uma obra de arte.

Os bens imóveis são sempre infungíveis.

Como bens móveis infungíveis podem se citados as obras de arte únicas e os animais
de raça identificáveis. Os automóveis também são bens móveis infungíveis por serem bens
complexos e terem número de identificação (chassi). No caso de empréstimo de bens
infungíveis há contrato de comodato.

2.4. Quanto à Consuntibilidade

2.4.1. Bens Consumíveis

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São os bens móveis cujo uso importa imediata destruição de sua própria substância,
bem como aqueles destinados à alienação.

Os bens destinados à venda são, por força de lei, considerados consumíveis. (art. 86,
CC/02)

Art. 86. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da
própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação.

Anote-se que um bem consumível pode ser, por vontade das partes, ser considerado
inconsumível, como por exemplo uma rara garrafa de licor, apenas exposta à apreciação
pública.

2.4.2. Bens Inconsumíveis

São os que suportam uso continuado, sem prejuízo de seu perecimento progressivo
e natural, a exemplo de um automóvel.

ATENÇÃO: O Código de Defesa do Consumidor, no seu art. 26, traz classificação


muito próxima da relacionada com a consuntibilidade física ou fática. Pela Lei 8.078/1990,
os produtos ou bens podem ser classificados em duráveis e não duráveis. Os bens duráveis
são aqueles que não desaparecem facilmente com o consumo, enquanto os não duráveis
não têm permanência com o uso. Os prazos para reclamação de vícios decorrentes de tais
produtos são de 90 e 30 dias, respectivamente, contados da tradição ou entrega efetiva da
coisa (quando o vício for aparente) e do conhecimento do problema (quando o vício for
oculto).

Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca
em:

I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;

II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.

§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto


ou do término da execução dos serviços.

§ 2° Obstam a decadência:

I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor


de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser
transmitida de forma inequívoca;

II - (Vetado).

III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.

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2.5. Quanto à Divisibilidade

2.5.1. Bens Divisíveis

São aqueles que podem ser repartidos em porções distintas, formando cada uma
delas um todo perfeito, sem alterar sua substância, diminuição considerável de seu valor o
prejuízo para o uso a que se destinam. (art. 87, CC/02)

Art. 87. Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua
substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam.

Como exemplo podemos citar uma saca de cereais, que podem ser divididas sem
qualquer destruição.

Atenção ao fato de que a qualquer momento, os bens naturalmente divisíveis podem


se tornar indivisíveis por vontade das partes ou imposição legal, nos termos do art. 88 do
CC/02.

Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por


determinação da lei ou por vontade das partes.

2.5.2. Bens Indivisíveis

Bens indivisíveis, por outro lado, são os que não podem ser partilhados, pois deixariam
de formar um todo perfeito, acarretando a desvalorização ou perda das suas qualidades
essenciais.

A indivisibilidade pode decorrer da natureza do bem, de imposição legal ou da vontade


das partes. Vejamos:

a) Bens indivisíveis por sua própria natureza

É o caso de uma casa térrea, bem móvel cuja divisão gera diminuição de seu valo, ou
de um animal, impossível de ser fracionado.

b) Bens indivisíveis por determinação legal

Um módulo rural, uma servidão ou uma herança, esta última indivisível até a partilha,
por força do princípio da saisine, nos termos dos art. 1.784 e 1.791, parágrafo único do
CC/02.

Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros
legítimos e testamentários.

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Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os herdeiros.

Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à propriedade e posse da
herança, será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio.

c) Bens Indivisíveis por vontade das partes

As partes convencionam o caráter indivisível do bem, como no caso de uma obrigação


em dinheiro que deva ser satisfeita por vários devedores, estipulou-se a indivisibilidade do
pagamento.

2.6. Quanto à Individualidade

2.6.1. Bens singulares

São os bens que são considerados de modo individual, independentemente dos


demais, mesmo que reunidos, apresentando uma unidade autônoma e assim, distinta de
quaisquer outras.

Por exemplo citamos um cavalo, uma casa, um carro, um livro, etc.

Podem ser classificados em bens singulares simples ou compostos:

a) Bens singulares simples

São aqueles em que suas partes componentes estão ligadas naturalmente (uma
árvore, um cavalo)

b) Bens singulares compostos

Já os compostos, a unidade do bem decorre de ação humana. São vários objetos


independentes que se unem em um só todo, sem que desapareça a condição jurídica de
cada uma das partes.

Como exemplo citamos os materiais de construção. Uma porta ou uma janela, embora
estejam ligados à edificação de uma casa, continuarão assim a ser chamados. Quando
vendemos a casa é obvio que está subentendido que a porta e a janela.

2.6.2. Bens Coletivos

Bens coletivos são aqueles que sendo constituídos por várias coisas singulares, são
considerados em conjunto, formando um todo homogêneo, passando a ter individualidade
própria, distinta da dos seus objetos componentes.

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a) Universalidade de fato

Trata-se do conjunto de bens singulares, corpóreos e homogêneos, ligados pela


vontade humana e com utilização unitária ou homogênea, sendo possível que tais bens
sejam objeto de relações jurídicas próprias. (art. 90, CC/02)

Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que,


pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária.

Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de
relações jurídicas próprias.

b) Universalidade de direito

É uma ficção legal composta pelo conjunto de bens singulares, tangíveis ou não, com
o intuito de produzir certo efeitos.

Há um complexo de relações jurídicas de uma pessoa, dotaras de valor econômico.


(art. 91, CC/02)

Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma


pessoa, dotadas de valor econômico.

São exemplos o patrimônio, a herança de determinada pessoa, o espólio, a massa


falida, etc.

Duas observações IMPORTANTES:

• Na universalidade de fato, a destinação é dada pela vontade do homem, ao


passo que na universalidade de direito, é a lei que dá a destinação;
• Nas coisas coletivas, se houver o desaparecimento de todos os indivíduos,
menos um, ter-se-á a extinção da coletividade, mas não o direito sobre o que
sobrou.

c) Classificação do Estabelecimento Comercial

O estabelecimento comercial é um conjunto de bens corpóreos e/ou incorpóreos,


organizados para exercício de atividade profissional, por empresário ou sociedade
empresária, visando obter lucros. (art. 1.142. CC/02)

Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para


exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.

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Como esse conjunto de bens é ligado pela vontade humana, o estabelecimento
comercial é exemplo de universalidade de fato, pois sua unidade decorre de ação humana
e não da vontade da lei.

2.7. Quando à Dependência em Relação a Outro Bem

2.7.1. Bens Principais

São os bens que existem de forma autônoma e independente, de forma concreta ou


abstrata. Sua função ou finalidade não depende de qualquer outro objeto, como por
exemplo o solo, um crédito, uma joia. (art. 92, CC/02)

Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório,
aquele cuja existência supõe a do principal.

2.7.2. Bens Acessórios

São os bens cuja existência ou finalidade dependem de outro bem, denominado


principal.

Como exemplo, podemos citar o fruto em relação à árvore e a árvore em relação ao


solo.

Princípio da gravitação jurídica

É um princípio geral do Direito Civil:

O bem acessório segue o principal, salvo disposição especial em contrário


acessorium sequeatur principale

Esta regra é implícita no ordenamento civil, porém a doutrina, de forma unânime


considera que ainda prevalece em nosso direito.

Assim, quem for proprietário do bem principal, em regra, também o será do bem
acessório.

Anote-se que a natureza do bem principal também será a do bem acessório, como no
caso do solo, bem imóvel, dá esta mesma natureza à uma árvore nele plantada.

Abaixo passaremos à CLASSIFICAÇÃO DOS BENS ACESSÓRIOS:

a) Frutos

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São bens acessórios que tem sua origem no bem principal, mantendo-se a integridade
deste, sem diminuir sua substância ou quantidade.

i) Quanto à origem os frutos podem ser:

• Frutos naturais: decorrentes da essência da coisa principal, como os frutos de


uma árvore;
• Frutos industriais: decorrem da atividade humana, como um material
produzido em uma árvore;
• Frutos civis: decorrentes de uma relação jurídica ou econômica, também
chamados de rendimentos, como no caso do aluguel de um imóvel, de juros de
capital ou dividendos de ações.

ii) Quanto ao estado em que se encontrarem

• Frutos pendentes: São que que estão ligados à coisa principal, porém não
colhidos, como as frutas ainda presas à árvore;
• Frutos percebidos: São os já colhidos e separados do principal, como a fruta
colhida da árvore;
• Frutos estantes: são os frutos colhidos e armazenados, como as frutas
colhidas as árvore e colocadas em caixas em um armazém;
• Frutos percipiendos: Os que já deveriam ter sido colhidos, mas não o foram,
como uma fruta madura, não colhida e que está apodrecendo;
• Frutos consumidos: Os colhidos que já não existem mais, como a fruta
colhida e vendida a terceiros.

b) Produtos

São chamados de produtos as utilidades que são retiradas da coisa, alterando sua
substância, com diminuição de sua quantidade até seu esgotamento, não se reproduzindo.

É o caso das pedras de uma pedreira, do carvão mineral, lençol petrolífero, etc.

Atentem-se ao fato de que mesmo não separados do bem principal, tanto os frutos
quanto os produtos podem ser negociados, nos termos do art. 95 do CC/02.

Art. 95. Apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos podem
ser objeto de negócio jurídico.

Desta forma é possível a venda de uma saca de café, mesmo não colhida bem como
de certa quantidade de pedras ainda não retiradas da pedreira.

c) Pertenças

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São os bens destinados a servir a outro bem principal, por vontade ou trabalho
intelectual do proprietário. (art. 93, CC/02)

Art. 93. São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam,
de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro.

Assim, são pertenças todos os bens móveis que o proprietário, intencionalmente,


empregar na exploração industrial de um imóvel, no seu aformoseamento ou comodidade.

As pertenças podem ser essenciais ou não essenciais. A pertença essencial segue o


bem principal por vontade do proprietário da coisa principal, o que não ocorre com as não
essenciais.

Desta forma, não se aplica a primeira parte do art. 94, CC/02, pois a pertença
essencial seguirá o principal, conforme o princípio da gravitação jurídica.

Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as
pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das
circunstâncias do caso.

Não sendo essencial, a pertença não acompanha o principal nos termos da primeira
parte do artigo.

Como exemplo temos um piano, onde fazendo parte de um conservatório e sendo


este vendido, espera-se que acompanhe o principal, sendo pertença essencial, ao passo
que sendo móvel de uma residência, sendo esta vendida, se aplica a primeira parte do art.
94, sendo pertença não essencial.

d) Partes integrantes

São partes integrantes os bens acessórios que se unem ao bem principal, formando
com este um todo independente. As partes integrantes são desprovidas de existência
material própria, mesmo mantendo sua integridade. Como exemplo temos a lâmpada em
relação ao lustre.

Pertença Parte Integrante


Não constitui parte integrante do bem Unidos ao principal formam um todo
principal, não afetando sua estrutura se independente e retirados não tem a mesma
retirados. funcionalidade se não ligados ao principal.
Ex: Portas e janelas em relação a uma Ex: Um ar-condicionado em relação à casa.
casa.

e) Benfeitorias

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São os bens acessórios introduzidos em um bem móvel ou imóvel, visando a sua
conservação ou melhora da sua utilidade. Enquanto os frutos e produtos decorrem do bem
principal, as benfeitorias são nele introduzidas. (art. 96, CC/02)

Art. 96. As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias.

§ 1º São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual
do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor.

§ 2º São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem.

§ 3º São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore.

• Benfeitorias necessárias: São essenciais ao bem, tendo por finalidade a


conservação ou evitar sua deterioração, a exemplo da reforma do telhado de
uma casa;
• Benfeitorias úteis: aumentam ou facilitam o uso da coisa, como a instalação
de grade na janela de uma casa;
• Benfeitorias voluptuárias: são as benfeitorias empreendidas para mero
deleite ou prazer, sem aumento da utilidade da coisa, como a decoração de um
jardim.

2.8. Quanto ao Titular do Domínio

2.8.1. Bens Particulares

São definidos por exclusão, assim aqueles que não pertencem ao domínio público são
considerados bens particulares. (art. 98, CC/02)

Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas
de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a
que pertencerem.

Pertencem às pessoas físicas e jurídicas de direito privado e atendem aos interesses


de seus proprietários

2.8.2. Bens Públicos

São os que pertencem a uma entidade de direito público interno, como no caso da
União, Estados, Distrito Federal, Municípios, entre outros.

Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas
de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a
que pertencerem.

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Segundo o Enunciado 287 da IV JDC os bens pertencentes à pessoa jurídica de direito
privado que esteja afetado à prestação de serviço público pode ser considerado bem
público.

“O critério da classificação de bens indicado no art. 98 do Código Civil não exaure a


enumeração dos bens públicos, podendo ainda ser classificado como tal o bem
pertencente à pessoa jurídica de direito privado que esteja afetado à prestação de
serviços públicos”.

Nos termos do art. 99, CC/02, os bens públicos podem ser assim classificados:

Art. 99. São bens públicos:

I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças;

II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou


estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive
os de suas autarquias;

III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito


público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.

• Bens de uso geral ou comum do povo: São os bens destinados ao uso do


público em geral, dispensando permissão especial de uso. Se o Estado regular
sua utilização onerosa, o bem não perde a característica de bem de uso
comum. Como exemplo temos as ruas, praças, jardins, estradas, rios, mares,
etc;
• Bens de uso especial: Edifícios e terrenos utilizados pelo Estado na execução
do serviço público especial. Esta destinação especial chama-se afetação.
Trata-se dos prédios e repartições públicas;
• Bens dominicais ou dominiais: São os bens públicos, móveis ou imóveis, não
afetados à utilização direta e imediata do povo, constituindo o patrimônio
disponível e alienável da pessoa jurídica de direito público, como por exemplo
os terrenos de marinha, as terras devolutas, as estradas de ferro, as ilhas
formadas em rios navegáveis, os sítios arqueológicos, as jazidas de minerais
com interesse público, o mar territorial, etc.

A Constituição Federal, em seu art. 20, elenca os bens da União, ao passo que os
bens de domínio dos Estados estão previstos no art. 26. Por exclusão, o que não estiver na
esfera federal ou estadual comporá o patrimônio público do município.

Por fim, cabe ressaltar que o Código Civil em seu art. 102, proíbe a usucapião de bens
públicos.

Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião.


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3. DO BEM DE FAMÍLIA

3.1. Conceito

Bem de família é o imóvel utilizado como residência da entidade familiar, decorrente


de casamento, união estável, entidade monoparental, ou entidade de outra origem,
protegido por previsão legal específica.

Nos termos da súmula 364 do STJ, considera-se bem de família o imóvel onde reside
pessoa solteira, separada ou viúva.

Súmula 364 do STJ – conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange


também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.

Duas são as formas de bem de família previstas no ordenamento jurídico brasileiro: o


bem de família voluntário ou convencional e o bem de família legal.

3.2. Bem de família voluntário ou convencional

bem de família convencional ou voluntário pode ser instituído pelos cônjuges, pela
entidade familiar ou por terceiro, mediante escritura pública ou testamento, não podendo
ultrapassar essa reserva um terço do patrimônio líquido das pessoas que fazem a
instituição. Este limite visa proteger eventuais credores. (art. 1.711, CC/02)

Art. 1.711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pública ou


testamento, destinar parte de seu patrimônio para instituir bem de família, desde que
não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição,
mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida em
lei especial.

Parágrafo único. O terceiro poderá igualmente instituir bem de família por testamento
ou doação, dependendo a eficácia do ato da aceitação expressa de ambos os
cônjuges beneficiados ou da entidade familiar beneficiada.

Ainda pelo que consta da parte final desse dispositivo, o bem de família convencional
não revogou o bem de família legal, coexistindo ambos em nosso ordenamento jurídico. No
caso de instituição por terceiro, devem os cônjuges aceitar expressamente o benefício.

Nos termos do art. 1.712 do CC/02, para ser abarcado pela proteção legal, o bem
deve ser imóvel residencial, rural ou urbano, incluindo os bens acessórios, inclusive as
pertenças. Também são protegidos os valores mobiliários cuja renda seja revertida na
conservação do imóvel e no sustento da família.

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Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com
suas pertenças e acessórios, destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar,
e poderá abranger valores mobiliários, cuja renda será aplicada na conservação do
imóvel e no sustento da família.

Constituindo novidade, pelo art. 1.713 do CC os valores mobiliários não poderão


exceder o valor do prédio instituído, diante da sua flagrante natureza acessória.

Art. 1.713. Os valores mobiliários, destinados aos fins previstos no artigo


antecedente, não poderão exceder o valor do prédio instituído em bem de família, à
época de sua instituição.

§ 1º Deverão os valores mobiliários ser devidamente individualizados no instrumento


de instituição do bem de família.

§ 2º Se se tratar de títulos nominativos, a sua instituição como bem de família deverá


constar dos respectivos livros de registro.

§ 3º O instituidor poderá determinar que a administração dos valores mobiliários seja


confiada a instituição financeira, bem como disciplinar a forma de pagamento da
respectiva renda aos beneficiários, caso em que a responsabilidade dos
administradores obedecerá às regras do contrato de depósito.

A instituição do bem de família convencional deve ser efetuada por escrito e registrada
no Cartório de Registro de Imóveis do local em que o mesmo está situado, sendo
imprescindível a escritura pública ou testamento, não importando o valor do imóvel. (art.
1.714, CC/02)

Art. 1.714. O bem de família, quer instituído pelos cônjuges ou por terceiro, constitui-
se pelo registro de seu título no Registro de Imóveis.

Com a instituição do bem de família convencional ou voluntário, o prédio se torna


inalienável e impenhorável, permanecendo isento de execuções por dívidas posteriores à
instituição. Entretanto, tal proteção não prevalecerá nos casos de dívidas com as seguintes
origens. (art. 1.715, CC/02)

• dívidas anteriores à sua constituição, de qualquer natureza;


• dívidas posteriores, relacionadas com tributos relativos ao prédio, caso do IPTU
(obrigações propter rem ou ambulatórias);
• despesas de condomínio (outra típica obrigação propter rem ou ambulatória),
mesmo posteriores à instituição.

Art. 1.715. O bem de família é isento de execução por dívidas posteriores à sua
instituição, salvo as que provierem de tributos relativos ao prédio, ou de despesas de
condomínio.

Parágrafo único. No caso de execução pelas dívidas referidas neste artigo, o saldo
existente será aplicado em outro prédio, como bem de família, ou em títulos da dívida
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pública, para sustento familiar, salvo se motivos relevantes aconselharem outra
solução, a critério do juiz.

A inalienabilidade, como regra geral, está prevista no art. 1.717 do CC, sendo somente
possível a alienação do referido bem mediante consentimento dos interessados (membros
da entidade familiar), e de seus representantes, ouvido o Ministério Público. Como fica claro
pelo dispositivo, a possibilidade de alienação depende de autorização judicial, sendo
relevantes os motivos para tanto.

Art. 1.717. O prédio e os valores mobiliários, constituídos como bem da família, não
podem ter destino diverso do previsto no art. 1.712 ou serem alienados sem o
consentimento dos interessados e seus representantes legais, ouvido o Ministério
Público.

Nos termos do art. 1.719 do CC, poderá o juiz, comprovada a impossibilidade de


manutenção do bem de família convencional, extingui-lo ou autorizar sua sub-rogação real,
mediante requerimento do interessado, sempre ouvidos o instituidor e o Ministério Público.

Art. 1.719. Comprovada a impossibilidade da manutenção do bem de família nas


condições em que foi instituído, poderá o juiz, a requerimento dos interessados,
extingui-lo ou autorizar a sub-rogação dos bens que o constituem em outros, ouvidos
o instituidor e o Ministério Público.

A Administração do bem de família convencional cabe a ambos os cônjuges,


resolvendo o juiz em caso de divergência. Com o falecimento dos cônjuges, a administração
passará ao filho mais velho, se maior, caso contrário, ao tutor. (art. 1.720, CC/02)

Art. 1.720. Salvo disposição em contrário do ato de instituição, a administração do


bem de família compete a ambos os cônjuges, resolvendo o juiz em caso de
divergência.

Parágrafo único. Com o falecimento de ambos os cônjuges, a administração passará


ao filho mais velho, se for maior, e, do contrário, a seu tutor.

A instituição dura até que ambos os cônjuges faleçam, sendo que, se restarem filhos
menores de 18 anos, mesmo falecendo os pais, a instituição perdura até que todos os filhos
atinjam a maioridade (art. 1.716 do CC)

Art. 1.716. A isenção de que trata o artigo antecedente durará enquanto viver um dos
cônjuges, ou, na falta destes, até que os filhos completem a maioridade.

Anote-se que o fim da sociedade conjugal não extingue o bem de família convencional.

Dissolvida a sociedade conjugal por morte de um dos cônjuges, o sobrevivente poderá


pedir a extinção da proteção, se for o único bem do casal.

Art. 1.721. A dissolução da sociedade conjugal não extingue o bem de família.


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Parágrafo único. Dissolvida a sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges, o
sobrevivente poderá pedir a extinção do bem de família, se for o único bem do casal.

Por fim, enuncia o art. 1.722 do CC que se extingue o bem de família convencional
com a morte de ambos os cônjuges e a maioridade dos filhos, desde que não sujeitos à
curatela.

Art. 1.722. Extingue-se, igualmente, o bem de família com a morte de ambos os


cônjuges e a maioridade dos filhos, desde que não sujeitos a curatela.

3.3. Bem de Família Legal

O art. 1º da lei 8.009/90 disciplina as regras do bem de família legal, tratando-se de


norma de ordem pública que protege a família e a pessoa humana.

Art. 1º - O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável


e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou
de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus
proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.

A Lei 8.009/1990 tem eficácia retroativa, atingindo as penhoras constituídas antes da


sua entrada em vigor. Trata-se do que denominamos retroatividade motivada ou justificada,
em prol das normas de ordem pública. Sendo norma de ordem pública no campo
processual, a impenhorabilidade do bem de família legal pode ser conhecida de ofício pelo
juiz.

Tal entendimento foi sumulado pelo STJ:

Sumula 205 do STJ: A lei 8.009/90 aplica-se a penhora realizada antes de sua
vigência.

Em regra, a impenhorabilidade somente pode ser reconhecida se o imóvel for utilizado


para residência ou moradia permanente da entidade familiar, não sendo admitida a tese do
simples domicílio (art. 5.º, caput, da Lei 8.009/1990).

Art. 5º Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, considera-se


residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia
permanente.

O Superior Tribunal de Justiça, contudo, entende que, no caso de locação do bem,


utilizada a renda do imóvel para a mantença da entidade familiar ou para locação de outro
imóvel, a proteção permanece, o que pode ser concebido como um bem de família
indireto.

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Súmula 486 do STJ: É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja
locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a
subsistência ou a moradia da sua família.

O mesmo se entente para o caso de único imóvel do devedor que esteja em usufruto,
para destino de moradia de sua mãe, pessoa idosa.

Informativo n. 543 do STJ: “constitui bem de família, insuscetível de penhora, o único


imóvel residencial do devedor em que resida seu familiar, ainda que o proprietário nele
não habite”. [...] “deve ser dada a maior amplitude possível à proteção consignada na
lei que dispõe sobre o bem de família (Lei 8.009/1990), que decorre do direito
constitucional à moradia estabelecido no caput do art. 6.º da CF, para concluir que a
ocupação do imóvel por qualquer integrante da entidade familiar não descaracteriza a
natureza jurídica do bem de família” (STJ, EREsp 1.216.187/SC, Rel. Min. Arnaldo
Esteves Lima, j. 14.05.2014).

Caso a pessoa não tenha imóvel próprio, a impenhorabilidade recai sobre os bens
móveis quitados que guarnecem a residência. (Lei 8.009/90, art. 1º, parágrafo único)

Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam


a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os
equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa,
desde que quitados.

Atenção ao fato de que os veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos


podem ser penhorado, estando excluídos da regra da impenhorabilidade. (art. 2º)

No caso de imóvel locado, nos termos do parágrafo único do art. 2º, são
impenhoráveis os bens móveis quitados que guarnecem a casa.

Art. 2º Excluem-se da impenhorabilidade os veículos de transporte, obras de arte e


adornos suntuosos.

Parágrafo único. No caso de imóvel locado, a impenhorabilidade aplica-se aos bens


móveis quitados que guarneçam a residência e que sejam de propriedade do
locatário, observado o disposto neste artigo.

As exceções à impenhorabilidade vêm descritas no art. 3º:

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal,


previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:

I - em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas


contribuições previdenciárias; (Revogado pela Lei Complementar nº
150, de 2015)

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II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à
aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do
respectivo contrato;

III -- pelo credor de pensão alimentícia;

III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem, do seu
coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou conjugal, observadas as
hipóteses em que ambos responderão pela dívida; (Redação dada pela Lei
nº 13.144 de 2015)

IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas


em função do imóvel familiar;

V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal
ou pela entidade familiar;

VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal
condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.

VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de


locação. (Incluído pela Lei nº 8.245, de 1991)

VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação;


e (Redação dada pela Medida Provisória nº 871, de 2019)

VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de


locação. (Incluído pela Lei nº 8.245, de 1991)

VIII - para cobrança de crédito constituído pela Procuradoria-Geral Federal em


decorrência de benefício previdenciário ou assistencial recebido indevidamente por
dolo, fraude ou coação, inclusive por terceiro que sabia ou deveria saber da origem
ilícita dos recursos. (Incluído pela Medida Provisória nº 871, de 2019)

Com relação ao inciso III, que trata do credor de pensão alimentícia, cabe ressaltar o
seguinte:

Regra geral, o devedor de pensão alimentícia poderá ter o bem de família penhorado
para quitar a dívida alimentar.

Entretanto, sendo o devedor casado ou vivendo em união estável e o cônjuge também


sendo proprietário do bem de família, deverá ser respeitada a parte do imóvel que pertence
a esse cônjuge ou companheiro.

Atenção à Sumula 134 do STJ com a tese que este cônjuge ou companheiro pode
opor embargos de terceiro para defender sua meação.

Súmula 134-STJ: Embora intimado da penhora em imóvel do casal, o cônjuge do


executado pode opor embargos de terceiro para defesa de sua meação.

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Por fim, não se aplica a ressalva acima explicada se o casal (ambos os cônjuges ou
companheiros) for devedor da pensão alimentícia. Neste caso, o imóvel será penhorado e
poderá ser inteiramente utilizado para pagar o débito.

Já o inciso IV trata da exceção com relação à cobrança de impostos, taxas e


contribuições do imóvel familiar.

É pacífico nos Tribunais superiores que não se trata apenas de impostos e taxas
devidos ao Estado, mas também inclui as dívidas decorrentes da taxa de condomínio, uma
vez que se trata de obrigações propter rem.

É possível a penhora de bem de família quando a dívida é oriunda de cobrança de


taxas e despesas condominiais com base no art. 3º, IV, da Lei nº 8.009/90. STJ. 2ª
Seção. AR 5.931/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 09/05/2018.

No caos de execução de hipoteca sobre o imóvel dado em garantia pelo casal ou pela
família, inciso V do art. 3º, o STJ só mantém a exceção à impenhorabilidade caso o imóvel
tenha efetivamente oferecido como hipoteca para garantia do casal ou da entidade familiar,
não abarcando a exceção caso o imóvel tenha sido dado em garantia de dívida que
beneficiou um terceiro.

Assim, em regra, é possível a penhora do imóvel que tiver sido oferecido como
garantia real pelo casal ou pela entidade familiar. O STJ, contudo, ao interpretar esse
inciso, faz a seguinte observação: a penhora do bem de família somente será admitida
se o imóvel foi dado em garantia de uma dívida que beneficiou o casal ou entidade
familiar. Desse modo, a exceção prevista no art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90 não se aplica
aos casos em que a hipoteca é dada como garantia de empréstimo contraído em favor
de terceiro, somente quando garante empréstimo tomado diretamente em favor do
próprio devedor. STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl no AREsp 665.233/SC, Rel. Min.
Maria Isabel Gallotti, julgado em 06/02/2018.

Atenção ao fato de que a ausência de registro da hipoteca não afasta a exceção à


regra de impenhorabilidade, segundo o STJ:

A ausência de registro da hipoteca NÃO afasta a exceção à regra de


impenhorabilidade prevista no art. 3º, V, da Lei n. 8.009/90; portanto, não gera a
nulidade da penhora incidente sobre o bem de família ofertado pelos proprietários
como garantia de contrato de compra e venda por eles descumprido.
(REsp 1455554/RN, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 14/06/2016, DJe 16/06/2016)

Por fim, nas obrigações decorrentes de fiança concedida em contrato de locação de


imóvel urbano (inciso VII), o STF entendeu pela constitucionalidade do dispositivo, porque

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lei do bem de família claramente prevê a possibilidade de penhora do imóvel de residência
do fiador. Assim o fiador sabe que pode perder o bem de família.

Súmula 549 STJ: É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de


contrato de locação.

Por outro lado, não é possível afastar a regra da impenhorabilidade se se tratar de


aluguel de imóvel para fins comerciais, pois nas palavras do Min. Marco Aurélio “não se
pode potencializar a livre iniciativa em detrimento de um direito fundamental que é o direito
à moradia, tendo em vista que o afastamento da penhora visa a beneficiar a família”.

Portanto, para as provas deve-se ter em mente:

• Se o imóvel for RESIDENCIAL, o bem de família do fiador pode ser penhorado


(inc. VII art. 3º da Lei 8.009/90 e súmula 549 do STJ);
• Se o imóvel for COMERCIAL, não se aplica o entendimento retro, portanto, não
é possível penhorar bem de família do fiador (STF, 1ª t., RE 605709/SP)

4. BIBLIOGRAFIA
- Manual de Direito Civil – Volume Único, PABLO STOLZE GAGLIANO. 5ª Edição – 2018.
- Manual de Direito Civil – Volume Único, FLÁVIO TARTUCE. 8ª Edição – 2018.
- Legislação Comentada – Eduardo Belisário.
- Informativos Dizer o Direito.

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