Você está na página 1de 58

1

3 INTRODUÇÃO
5 UNIDADE 1 – Direito Imobiliário
5 1.1 Conceitos básicos

6 1.2 Posse, detenção e propriedade

12 1.3 Da evolução ao patrimônio de afetação

16 UNIDADE 2 – Direitos Fundamentais do Consumidor


20 UNIDADE 3 – Código de Defesa do Consumidor e Direito Imobiliário
20 3.1 A importância do CDC

SUMÁRIO
21 3.2 Princípios da vulnerabilidade, hipossuficiência, ônus da prova e boa-fé objetiva

23 3.3 Princípios da transparência, confiança e equidade

24 3.4 Práticas comerciais reguladas pelo CDC

24 3.4.1 Oferta e publicidade

32 3.4.2 Práticas comerciais abusivas

33 3.5 Contratos e responsabilidades

37 3.5.1 Responsabilidade do incorporador/construtor pelo vício e fato do produto/serviço

39 3.6 Órgãos fiscalizadores


44 UNIDADE 4 – Legislação Imobiliária
44 4.1 Referente a profissão de Corretores de Imóveis

44 4.2 Relacionada ao mercado imobiliário

44 4.3 Relativa ao crédito imobiliário

46 REFERÊNCIAS
49 ANEXOS
3

INTRODUÇÃO

Evidentemente que não poderíamos 2) Deixamos bem claro que esta compo-
deixar de falar da legislação voltada ao sição não se trata de um artigo original 1,
mercado imobiliário, embora ao longo de pelo contrário, é uma compilação do pensa-
todo curso, as inúmeras leis, seus artigos mento de vários estudiosos que têm muito
e parágrafos se fazem presentes. a contribuir para a ampliação dos nossos
conhecimentos. Também reforçamos que
Assim também detalhes do Código de
existem autores considerados clássicos
Defesa do Consumidor se fazem presen-
que não podem ser deixados de lado, ape-
tes nos conteúdos estudados a partir des-
sar de parecer (pela data da publicação)
te momento.
que seus escritos estão ultrapassados,
De todo modo, iniciaremos o estudo afinal de contas, uma obra clássica é aque-
apresentando alguns conceitos pertinen- la capaz de comunicar-se com o presente,
tes ao Direito Imobiliário como a posse, mesmo que seu passado datável esteja se-
detenção e propriedade, bem como a evo- parado pela cronologia que lhe é exterior
lução do chamado “patrimônio de afeta- por milênios de distância.
ção”.
3) Em se tratando de Jurisprudência, en-
Que fique claro a importância de um re- tendida como “Interpretação reiterada que
lacionamento justo e transparente para os tribunais dão à lei, nos casos concretos
com os clientes, pois estes ao mesmo submetidos ao seu julgamento” (FERREI-
tempo que podem fazer a propaganda RA, 2005) 2, algumas delas poderão cons-
mais positiva do negócio, podem também tar em nota de rodapé ou em anexo, a tí-
contribuir para que a empresa seja vista tulo apenas de exemplo e enriquecimento.
com desconfiança pelo mercado.
4) Por uma questão ética, a empresa/
Desejamos boa leitura e bons estudos, instituto não defende posições ideológico-
mas antes algumas observações se fazem -partidária, priorizando o estímulo ao co-
necessárias: nhecimento e ao pensamento crítico.

1) Ao final do módulo, encontram-se 5) Sabemos que a escrita acadêmica


muitas referências utilizadas efetivamen- tem como premissa ser científica, ou seja,
te e outras somente consultadas, princi- baseada em normas e padrões da acade-
palmente artigos retirados da World Wide mia, portanto, pedimos licença para fugir
Web (www), conhecida popularmente um pouco às regras com o objetivo de nos
como Internet, que devido ao acesso facili- aproximarmos de vocês e para que os te-
tado na atualidade e até mesmo democrá- mas abordados cheguem de maneira clara
tico, ajudam sobremaneira para enriqueci- e objetiva, mas não menos científicos.
mentos, para sanar questionamentos que
por ventura surjam ao longo da leitura e, 1  Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado
em revista, anais de congresso ou similares.
mais, para manterem-se atualizados.
2  FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Novo Dicionário Eletrô-
nico Aurélio. Versão 5.0. Editora Positivo, 2005.
4

Por fim:

6) Deixaremos em nota de rodapé, sem-


pre que necessário, o link para consulta de
documentos e legislação pertinente ao as-
sunto, visto que esta última está em cons-
tante atualização. Caso esteja com mate-
rial digital, basta dar um Ctrl + clique que
chegará ao documento original e ali encon-
trará possíveis leis complementares e/ou
outras informações atualizadas. Caso es-
teja com material impresso e tendo acesso
à Internet, basta digitar o link e chegará ao
mesmo local.
5

UNIDADE 1 – Direito Imobiliário

O estudo do direito imobiliário é fun- que podem estar em comércio, já que são
damental e requer conhecimento e com- suscetíveis de valor econômico, patrimo-
petência para refletir, analisar e aplicar nial ou, ainda, pecuniário.
conceitos teóricos, portanto, faremos um
A princípio, todas as coisas úteis podem
breve aporte sobre esses conceitos que
ser objeto de apropriação, diante do inte-
formam a estrutura para o entendimento
resse econômico que elas despertam. Ex-
e aplicabilidade nas questões pertinentes
cluem-se, todavia, os bens sem valoração
ao ramo dos negócios imobiliários.
econômica, a exemplo da água do mar, o ar
que se respira, luz do sol, entre outros.
1.1 Conceitos básicos
O Direito Imobiliário é um ramo multi- As coisas podem ser apropriadas de-
disciplinar que envolve questões urbanís- vido a uma relação jurídica contratual
ticas, ambientais, registrais, contratuais, (exemplo básico: ‘A’ vende a ‘B’ e ‘B’ se tor-
obrigacionais, trabalhistas e tributárias. na dono da coisa e ‘A’ do dinheiro) ou pela
Diz-se também ser ramo do direito priva- captura (ocupação, onde não há relação
do que se destina a disciplinar vários as- com pessoas, ex.: pegar uma concha na
pectos da vida privada, tais como, a posse, praia, pescar um peixe).
as várias formas de aquisição e perda da
A aquisição decorrente de contrato se
propriedade, o condomínio, o aluguel, a
diz derivada, porque a coisa já pertenceu
compra e venda, a troca, a doação, a ces-
a outrem; a aquisição havida da ocupação
são de direitos, a usucapião3 , os financia-
se diz originária porque a coisa nunca teve
mentos da casa própria, as incorporações
dono (res nullius – coisa de ninguém), ou
imobiliárias, o direito de preferência do
já teve dono um dia e não tem mais (res
inquilino, o direito de construir, o direito
derelicta – equivale ao abandono ou re-
de vizinhança, o registro de imóveis, den-
núncia). Assim, as coisas apropriáveis são
tre muitos outros institutos jurídicos con-
objeto de propriedade, que é o mais amplo
cernentes ao bem imóvel (SILVA JUNIOR,
direito real.
2012).
Vale distinguir:
Direitos Reais ou direito das coisas é o
sub-ramo do direito civil, cujas regras cui- propriedade e domínio – pois existe
dam do poder dos homens sobre as coisas pequena diferença entre eles. Em senti-
apropriáveis. do amplo, o termo propriedade pode ser
entendido como sinônimo de domínio.
O objeto dos direitos reais são as coisas
Todavia, no sentido restrito da palavra, o
apropriáveis, as quais podem ser objeto
termo propriedade serve tanto para fazer
de propriedade, isto é, aquelas coisas que
referência às coisas corpóreas (materiais)
são suscetíveis de alienação, portanto, as
como às incorpóreas (imateriais). Assim,
3- Substantivo feminino – do latim usucapione. Modo de adqui- não se mostra correto falar em domínio
rir propriedade móvel ou imóvel pela posse pacífica e ininter-
rupta da coisa durante certo tempo. intelectual do autor, mas em propriedade
6

intelectual do autor; ao passo que o termo 1.2 Posse, detenção e pro-


domínio é utilizado para designar, tão so-
mente as coisas corpóreas; priedade
A palavra posse deriva do latim possessio
coisa e bem – pois, o termo bem é es- que provém de potis, prefixo potestas, que
pécie do de coisa. Assim, em sentido am-
significa poder; e sessio, sufixo da mesma
plo ambos são sinônimos, mas, em senti-
origem de sedere, que quer dizer, estar fir-
do restrito, o termo coisa é utilizado para
me, assentado. Indica, portanto, um poder
fazer referência tanto a bens apropriá-
que se prende a uma coisa.
veis, como aos inapropriáveis, enquanto
que o termo bem serve tão só para as coi- A posse, portanto, não se confunde com
sas apropriáveis, ou seja, aquilo suscetí- a propriedade. Esta é fundada em uma rela-
vel de economicidade, patrimonialidade, ção de direito, enquanto aquela é fundada
pecúnia (estar in comércio) (SILVA JUNIOR, em uma relação de fato.
2012).
Justificativas para estudarmos a
Como características dos direitos posse:
reais temos:
1 – a posse é a exteriorização da proprie-
a) sequela – é o poder que tem o titu- dade, que é o principal direito real; existe
lar do direito real de reivindicação do bem uma presunção de que o possuidor é o pro-
(Artigo 1.228 do Código Civil de 2002). É prietário da coisa. A aparência é a de que o
o direito de reaver a coisa de quem quer possuidor é o dono, embora possa não ser;
que injustamente a possua ou detenha.
2 – a posse precisa ser estudada e pro-
Vem do verbo “seguir”. Dá-se quando o ti-
tegida para evitar violência e manter a paz
tular do direito real persegue a coisa para
social; assim, se o indivíduo não defende
recuperá-la, não importando com quem a
seus bens através do desforço imediato,
coisa esteja. É uma característica funda-
instituto este legitimado pelo ordenamen-
mental dos direitos reais, pois, não existe
to jurídico pátrio, previsto no parágrafo 1º
nos direitos obrigacionais (creditícios ou
do Artigo 1.210 do CC/02, e perde a posse
creditórios), razão pela qual os direitos re-
deles, esse indivíduo não pode usar a força
ais são mais fortes e poderosos do que os
para recuperá-los, precisa pedir à Justiça.
direitos pessoais;
Você continua proprietário dos seus bens,
b) preferência – interessa aos direi- mas, para recuperar a posse da coisa esbu-
tos reais de garantia (penhor, hipoteca lhada só através do Estado-Juiz, para evitar
e alienação fiduciária), contidos respec- violência;
tivamente nos Artigos 1.419 e 1.422 do
3 – a posse existe no mundo antes da
Código Civil de 2002 e Lei nº 9.514, de 20
propriedade, afinal a posse é um fato que
de novembro de 1997, que instituiu o con-
está na natureza, enquanto a propriedade é
trato de alienação fiduciária de bem imó-
um direito criado pela sociedade; os homens
vel. Já as garantias pessoais como fiador e
primitivos tinham a posse dos seus bens, a
aval não dão preferência de crédito numa
propriedade só surgiu com a organização da
eventual execução.
sociedade e o desenvolvimento do direito.
7

A propriedade prevalece sobre a posse interno/subjetivo, é a vontade de ser dono


(Súmula 487 do STF: será deferida a posse daquela coisa possuída, é a vontade de ter
a quem evidentemente tiver o domínio, se aquela coisa como sua. Assim, para este
com base neste for disputada). jurista, o locatário, o usufrutuário, o como-
datário não teriam posse, pois sabem que
Detenção é estado de fato que não cor-
não são donos. Tais pessoas teriam apenas
responde a nenhum direito (Artigo 1.198 do
detenção, não poderiam sequer se proteger
CC/02).
como autoriza o Artigo 1.210 e seu parágra-
Silva Junior (2012), de maneira bem di- fo 1º (ex.: o inquilino não poderia defender
dática, exemplifica o estado da detenção a casa onde mora contra um ladrão, pois o
assim: inquilino seria mero detentor). Savigny er-
rou ao valorizar demais o animus. Para ele,
O motorista de ônibus; o motorista
posse é o poder que tem a pessoa de dispor
particular em relação ao carro do pa-
fisicamente de uma coisa (corpus) com a in-
trão; o bibliotecário em relação aos
tenção de tê-la para si (animus).
livros; o caseiro do sítio ou da casa de
praia, etc. Tais pessoas não têm posse, b) Teoria Objetiva – Ihering
mas, mera detenção, por isso jamais
Rudolf von Ihering criticou Savigny e pro-
podem adquirir a propriedade pela
pôs que se o proprietário tem a posse, não
usucapião dos bens que ocupam, pois
há necessidade de distinção entre elas. Po-
só a posse prolongada enseja a usu-
rém, o proprietário pode transferir sua pos-
capião, a detenção prolongada não
se a terceiros para um melhor uso econômi-
enseja nenhum direito. O detentor é
co (ex.: uma pessoa que herda uma fazenda
o fâmulo, ou seja, aquele que possui a
e por não saber administrá-la, decide então
coisa em nome do verdadeiro possui-
alugá-la/arrendá-la ou emprestá-la a um
dor, obedecendo a ordens dele.
agricultor/empresário). Assim, a posse se
Então, pode-se concluir que a posse é fragmenta em posse indireta (do proprietá-
menos do que a propriedade, e a detenção é rio) e posse direta (do locatário/arrendatá-
menos do que a posse, pois existe um esta- rio ou comodatário). Ambos os possuidores
do de fato inferior à posse que é a detenção. têm direito a exercer a proteção possessó-
ria do que autoriza o Artigo 1.210, do CC/02.
Dois juristas alemães fizeram estudos
profundos sobre a posse que merecem nos- Nosso Código Civil adotou a Teoria Objeti-
so conhecimento: va de Ihering, como se vê dos Artigos 1.196
e 1.197, ambos do CC/02.
a) Teoria Subjetiva – Savigny
Ihering veio depois de Savigny e pôde
Friedrich Carl von Savigny, em 1803, ela-
aperfeiçoar a Teoria Subjetiva. Na prática,
borou um tratado afirmando que a posse
a diferença entre as teorias é porque para
seria a soma de dois elementos: o “corpus” e
Ihering, o proprietário e o possuidor direto
o “animus”. O corpus é o elemento material,
podem defender a posse, já que o proprie-
é o poder físico da pessoa sobre a coisa, é o
tário permanece possuidor indireto (ex.: o
elemento externo/objetivo, é a ocupação da
MST invade uma fazenda alugada, então
coisa pela pessoa; já o animus é o elemento
8

tanto o proprietário como o arrendatário que é a posse exercida por duas ou mais
podem defender as terras e/ou acionar a pessoas, como o condomínio é a proprieda-
Justiça). de exercida por duas ou mais pessoas (Art.
1.199 do CC/02). A composse pode ser tanto
Não obstante o indivíduo deva reunir
na posse direta como na indireta (ex.: dois
os dois elementos (objetivo = corpus, e o
irmãos herdam um apartamento e alugam
subjetivo = animus), para ter posse, para a
a um casal, hipótese em que os irmãos con-
teoria objetiva idealizada por Ihering, pos-
dôminos terão composse indireta e o casal a
suidor é aquele que exerce sobre a coisa
composse direta).
uma das faculdades da propriedade, isto é,
possuidor é aquele que usa, goza, ou dispõe Uma vez que nosso legislador adotou
da coisa. Em outras palavras, o possuidor é a teoria objetiva da posse de Ihering, po-
aquele que tem o “corpus”, pois, presume- demos inferir então que possuidor é todo
-se que tem também o “animus”, cabendo, aquele que ocupa a coisa, seja ou não dono
então, ao seu contestante comprovar que dessa coisa (Artigo 1.196 do CC/02), sal-
aquele indivíduo não tem o elemento subje- vo os casos de detenção já vistos (Artigo
tivo - “animus”. 1.198 de CC/02). Sabemos também que o
proprietário, mesmo que deixe de ocupar a
Ihering desprezou o animus e deu im-
coisa, mesmo que perca o contato físico so-
portância à fragmentação do corpus para
bre a coisa, continua por uma ficção jurídica
uma melhor exploração econômica da coisa.
seu possuidor indireto, podendo proteger a
Nesse sentido, posse para Ihering é a rela-
coisa contra agressões de terceiros (Artigo
ção de fato entre pessoa e coisa para fim de
1.197 do CC/02).
sua utilização econômica, seja para si, seja
cedendo-a para outrem. Quanto aos poderes inerentes à pro-
priedade (referidos no art. 1.196), eles são
A posse pode ser classificada em objetiva
três: o uso; a fruição (ou gozo); e, a dispo-
e subjetiva. No primeiro caso, esta classifi-
sição, conforme artigo 1.228 do CC/02. En-
cação leva em conta elementos externos,
tão, todo aquele que usa, frui ou dispõe de
visíveis, e divide a posse em justa e injusta.
um bem é seu possuidor (Artigo 1.196 do
A posse injusta é a violenta, clandestina ou
CC/02). É por isso que a propriedade é co-
precária, a posse justa é o contrário (Artigo
nhecida como um direito complexo, porque
1.200 do CC/02).
é a soma de três atributos/poderes/facul-
A classificação subjetiva leva em conta a dades.
condição psicológica do possuidor, ou seja,
Para adquirir a posse de um bem, basta
elementos internos/íntimos do possuidor, e
usar, fruir ou dispor desse bem. Pode ter
divide a posse em de boa-fé e de má-fé. A
apenas um, dois ou os três poderes ineren-
posse é de boa-fé quando o possuidor tem
tes à propriedade que será possuidor da coi-
a convicção de que sua posse não prejudica
sa (Artigo 1.204 do CC/02: “em nome pró-
ninguém (Artigo 1.201 do CC/02). A posse é
prio” para diferenciar a posse da detenção
de má-fé quando o possuidor sabe que tem
do 1.198 do CC/02). É por isso que pode ha-
vício.
ver dois possuidores (o direto e o indireto),
Ainda precisamos definir a ‘composse’ pois a posse pertence a quem tem o exercí-
9

cio de algum dos três poderes inerentes ao a propriedade é a soma de três faculdades e
domínio (SILVA JUNIOR, 2012). mais esse direito de reaver de terceiros.

Perde-se a posse quando a pessoa dei- Expliquemos essas três faculdades e


xa de exercer sobre a coisa qualquer dos esse direito de reaver:
três poderes inerentes ao domínio, confor-
me Artigos 1.223, 1.224, 1.196 e 1.204, do uso – é o jus utendi, ou seja, o proprie-
CC/02. tário pode usar a coisa, pode ocupá-la para
o fim a que se destina. Exemplos – morar
Chegamos à ‘propriedade’! O mais impor- numa casa; usar um carro para trabalho/la-
tante e complexo direito real. É o único di- zer. O uso pode ser também negativo, como
reito real sobre a coisa própria, pois os de- deixar um relógio guardado;
mais direitos reais do art. 1.225 4 do CC/02
são direitos reais sobre coisas alheias. fruição (ou gozo) – jus fruendi; o pro-
prietário pode também explorar a coisa
Nosso ordenamento protege a proprie- economicamente, auferindo seus benefí-
dade a nível constitucional (Artigo 5º, XXII e cios e vantagens. Exemplos – vender os fru-
170, II, da Constituição Federal de 1988). tos das árvores do quintal; ficar com as crias
dos animais da fazenda; alugar o imóvel;
A propriedade é mais difícil de ser per-
cebida do que a posse, pois a posse está no disposição – jus disponiendi; é o poder
mundo da natureza, enquanto a proprieda- de abusar da coisa, de modificá-la, reformá-
de está no mundo jurídico. -la, vendê-la, consumi-la, e até destruí-la. A
disposição é o poder mais abrangente.
O Código Civil, em seu Artigo 1.228, con-
ceitua o direito de propriedade como: o di- Além de ser a soma dessas três faculda-
reito de usar, gozar e dispor da coisa, bem des, a propriedade produz um efeito, que é
como de reavê-la do poder de quem quer justamente o direito de reaver a coisa (parte
que injustamente a possua ou detenha. final do Artigo 1.228 do CC/02), o que pode
acontecer por meio da ação reivindicatória.
Então, a propriedade é o poder de usar,
Esta é a ação do proprietário sem posse e
fruir (gozar) e dispor de um bem (três fa-
contra o possuidor sem título. Essa ação
culdades/atributos/poderes do domínio) e
serve ao dono contra o possuidor injusto,
mais o direito de reaver essa coisa do poder
contra o possuidor de má-fé ou contra o de-
de quem injustamente a ocupe.
tentor.
Pelo conceito legal de propriedade, per-
Ação reivindicatória é diferente de ação
cebe-se porque se trata de um direito com-
possessória! Esta última é a ação do pos-
plexo. A complexidade é justamente porque
suidor contra o invasor, que inclusive pode
ser o proprietário (exemplos: locador quer
4- De acordo com o Artigo 1.225, do Código Civil de 2002, são
direitos reais: I - a propriedade; II - a superfície; III - as servidões; entrar a qualquer hora na casa do inquilino,
IV - o usufruto; V - o uso; VI - a habitação; VII - o direito do promi- alegando ser o dono; não pode. Mas o pro-
tente comprador do imóvel; VIII - o penhor; IX - a hipoteca; X - a
anticrese; XI - a concessão de uso especial para fins de moradia prietário que aluga uma fazenda também
(Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007); XII - a concessão de direi-
to real de uso (Redação dada pela Medida Provisória nº 759. de pode usar a possessória se o MST ameaça
2016); e XIII - a laje (Incluído pela Medida Provisória nº 759. de invadir e o arrendatário não toma providên-
2016).
10

cias, afinal o proprietário tem posse indire- do dono, mas sim pelo uso de terceiros.
ta). A vantagem da possessória é a possibi-
De acordo com o Artigo 1.231 do CC/02,
lidade de concessão de liminar “initio litis”
o proprietário pode proibir que terceiros se
específica pelo Juiz. Na reivindicatória não
sirvam do seu bem; a presunção é a de que
cabe liminar específica, e sim a genérica,
cada bem só tem um dono exclusivo, mas
através da antecipação de tutela, instituto
nosso ordenamento admite o condomínio.
previsto no Arts. 300 a 304 do Código de
Processo Civil, CPC/2015. A propriedade se contrai e se dilata, é
elástica como uma sanfona; por exemplo,
Esse direito de reaver é consequência da
tenho uma fazenda e cedo em usufruto
sequela, aquela característica dos direitos
para José; eu perco as faculdades de uso e
reais, e que permite que o titular do direito
de fruição, minha propriedade antes plena
real o exerça contra qualquer pessoa.
(completa) vai diminuir para apenas dispo-
Embora o proprietário possa dispor, abu- sição e posse indireta; mas ao término do
sar da coisa (jus abutendi), pode vendê-la, usufruto, minha propriedade se dilata e tor-
reformá-la e até destruí-la, essa caracterís- na-se plena novamente.
tica da propriedade ser um direito absoluto
Quanto ao objeto da propriedade, é toda
já não é mais pleno, pois o direito moderno
coisa corpórea, móvel ou imóvel. Admite-se
exige que a coisa cumpra uma função social,
propriedade de coisas incorpóreas como o
exige um desenvolvimento sustentável do
direito autoral e o fundo de comércio.
produzir, evitando poluir (Art. 5º, XXIII da
CF/88 c/c, e § 1º do Artigo 1.228 do CC/02). São espécies de propriedade:
Respeitar a função social é um limite ao a) plena ou ilimitada – quando as três
direito de propriedade – com efeito, quan- faculdades do domínio (uso, fruição e dispo-
do uma propriedade não cumpre sua fun- sição) estão concentradas nas mãos do pro-
ção social, o Estado a desapropria não para prietário e não existe nenhuma restrição.
si (o que seria comunismo ou socialismo), Artigo 1.231 do CC/02;
mas para outros particulares que possam
melhor utilizá-la. Isso só comprova que nos- b) limitada – subdivide-se em 1) res-
so direito valoriza a propriedade privada. É trita – quando a propriedade está gravada
absoluto também porque se exerce contra com um ônus real, como a hipoteca, penhor,
todos, é direito erga omnes; (todos vocês entre outros, ou quando o proprietário, por
têm que respeitar minha propriedade sobre exemplo, cedeu a coisa em usufruto para
meus bens e vice-versa). outrem e ficou apenas com a disposição e
posse indireta do bem; 2) resolúvel – pro-
Os direitos de crédito prescrevem, mas priedade resolúvel é aquela que está su-
a propriedade dura para sempre, ou seja, bordinada a um termo ou condição resolu-
característica de perpetuidade – passa in- tórios, ou seja, pode ser resolvida (extinta),
clusive para os filhos através do direito das e só se tornará plena após certo tempo ou
sucessões. Quanto mais o dono usa a coisa, certa condição. Na hipótese de retrovenda,
mais o direito de propriedade se fortalece. por exemplo, o comprador do imóvel tem a
A propriedade não se extingue pelo não uso propriedade resolúvel, ou seja, a sua pro-
11

priedade vigorará até o advento do termo da inscrição do contrato no cartório de re-


final previsto na avença, conforme prevê o gistro do lugar do imóvel. Existem cartórios
Artigo 505 do CC/02. de notas (onde se faz escritura pública, tes-
tamento, reconhecimento de firma, cópia
A aquisição da propriedade pode ser ori-
autenticada) e cartórios de registro de imó-
ginária ou derivada; é originária quando a
veis em cada cidade. Cada imóvel (casa, ter-
propriedade é adquirida sem vínculo com
reno, apartamento) tem um número (matrí-
o dono anterior, de modo que o proprie-
cula) próprio e está devidamente registrado
tário sempre vai adquirir propriedade ple-
no cartório de imóveis do seu bairro (se a ci-
na, sem nenhuma restrição, sem nenhum
dade for pequena só tem um). O cartório de
ônus (exemplos: acessão prevista no Art.
imóveis tem a função pública de organizar
1.248 do CC/02, usucapião e ocupação); a
os registros de propriedade e verificar a re-
aquisição é derivada quando decorre do
gularidade tributária dos imóveis, pois não
relacionamento entre pessoas (exemplos:
se podem registrar imóveis com dívidas de
contrato registrado para imóveis, sucessão
tributos. A função é pública, mas a atividade
hereditária), e o novo dono vai adquirir nas
é privada, sendo fiscalizada pelo Poder Judi-
mesmas condições do anterior (exemplos:
ciário.
se compra uma casa com hipoteca, vai res-
ponder perante o credor hipotecário; se A lei nº 6.015/73 5 dispõe sobre os re-
herda um apartamento com servidão de gistros públicos. Quando você compra/
vista, vai se beneficiar da vantagem). doa/troca um imóvel você precisa cele-
brar o contrato através de escritura pú-
São três modalidades previstas no capí-
blica (Arts. 108 e 215 do CC/02, salvo se o
tulo II, do título III, do livro III, da parte espe-
valor do imóvel não ultrapassar o valor de
cial do Código Civil de 2002 para aquisição
30 salários mínimos, caso em que autoriza
da propriedade imóvel:
a escritura particular) e depois inscrever
a) Pela usucapião – a palavra é femini- essa escritura no cartório do lugar do imó-
na porque vem do latim “usus” + “capere”, vel. Só o contrato/entrega das chaves/
ou seja, é a captação/tomada/aquisição pagamento do preço não basta, é preciso
pelo uso. Essa é a modalidade originária de também fazer o registro tendo em vista
aquisição da propriedade pela posse pro- a importância da propriedade imóvel na
longada e demais requisitos legais. Não só a nossa vida. O registro confirma o contra-
propriedade se adquire pela usucapião, mas to e dá publicidade ao negócio e seguran-
outros direitos reais como superfície, usu- ça na circulação dos imóveis. A escritura
fruto e servidão predial também. A usuca- pode ser feita em qualquer cartório de
pião exige posse prolongada (elemento ob- notas do país, mas o registro só pode ser
jetivo) com a vontade de ser dono (animus feito no cartório do lugar do imóvel, que
domini - elemento subjetivo). é um só (Art. 1.245 e seus parágrafos do
CC/02).
b) Pelo Registro do Título – antigamen-
te chamava-se de transcrição; é aquisição O título translativo a que se refere o
derivada. O registro é o modo mais comum
de aquisição de imóveis. Conceito: trata-se 5- Atualizada a partir da republicação vide Lei nº 10.150, de
2000.
12

§ 1º em geral é o contrato. O registro de c) Pela Acessão – é aquisição originária.


imóveis em nosso país não é perfeito, afi- Adquire-se por acessão tudo aquilo que
nal, o Brasil é um país jovem e continental, adere (soma) ao solo e não pode ser retira-
e muitos terrenos ainda não têm registro, do sem danificação. Através da acessão a
mas o ideal é que cada imóvel tenha sua coisa imóvel vai aumentar por alguma das
matrícula com suas dimensões, sua histó- cinco hipóteses do Art. 1.248 do CC/02. As
ria, seus eventuais ônus reais (ex: hipote- quatro primeiras são acessões naturais e
ca, servidão, superfície, usufruto, entre a quinta é acessão humana ou industrial/
outros) e o nome de seus proprietários. artificial (SILVA JUNIOR, 2012).
No cartório de imóveis se registra não só
a propriedade, mas qualquer direito real 1.3 Da evolução ao patrimô-
(exemplos: hipoteca, servidão, superfí-
cie, usufruto, entre outros). Antes do re-
nio de afetação
gistro do contrato não há direito real, não A evolução do mercado imobiliário foi
há propriedade, não há sequela ainda em ocorrendo de forma significativa e paula-
favor do comprador (§ 1º do Art. 1.245 do tina, e para dar maior segurança aos em-
CC/02), mas apenas direito pessoal (obri- preendimentos surgiu, no ano de 2001
gacional). (“MP do Bem”, nº 2.221, de 04.09.2001),
a alternativa do patrimônio de afetação
São características do registro: fé pú- nas incorporações imobiliárias, que, em
blica (presume-se que o registro exprima 2004, foi transformada na Lei nº 10.931,
a verdade; o cartório deve ser bem orga- e esta legislação introduziu diversos dis-
nizado e os livros bem cuidados, cabendo positivos na Lei das Incorporações imobi-
ao Juiz fiscalizar o serviço; os livros são liárias (Lei nº 4.591, de 16 de dezembro
acessíveis a qualquer pessoa, Art. 1.246 de 1964), acrescentando os artigos 31-A
do CC/02); possibilidade de retificação (se a 31-F.
o registro está errado, o Juiz pode deter-
minar sua correção, Art. 1.247 do CC/02); O patrimônio de afetação vem se so-
obrigatoriedade (o registro é obrigatório mar ao rol de medidas adotadas para di-
no cartório de imóveis do lugar do imóvel: namizar o mercado imobiliário no Brasil.
§ 1º do Art. 1.245 do CC/02) e continuida- Este mecanismo tem o condão de aumen-
de (o registro obedece a uma sequência tar a segurança jurídica do adquirente de
lógica, sem omissão, de modo que não se imóvel na planta e disciplinar as relações
pode registrar em nome do comprador se imobiliárias, com a finalidade de aumen-
o vendedor que consta no contrato não é tar a transparência das incorporações, a
o dono que consta no registro; muita gen- credibilidade dos empreendimentos e a
te desconhece a importância do registro, segurança jurídica das partes (TUTIKIAN;
ou então para não pagar as custas, só BRUSTOLIN, 2011).
celebra o contrato de compra e venda; aí Todas as alterações verificadas até o
fica transmitindo posse de um para outro; momento da eclosão do patrimônio de
quando finalmente alguém resolve regis- afetação visavam a garantir os agentes
trar, não encontra mais o dono, aí o jeito é financeiros, aumentando as garantias em
partir para a usucapião). relação ao mutuário pela alienação fidu-
13

ciária e a adoção de um sistema de amor- O efeito principal do patrimônio de afe-


tização mais rigoroso. Faltava, então, um tação é que, em eventual falência da in-
instituto que protegesse o adquirente corporadora, não prejudicará a edificação
final, ou seja, quem compra o imóvel na afetada na qual está o imóvel adquirido
planta e que faz pagamentos à incorpora- pelo consumidor, ou seja, estes bens não
dora antes da entrega e registro do imó- entram na massa falida e os adquirentes
vel em seu nome. Foi então que surgiu o têm a possibilidade de assumir o empre-
patrimônio de afetação – e foi justamente endimento e escolher, dentre as alternati-
após o impacto da comoção social causa- vas legais, a mais viável para a finalização
da pelo caso Encol6. do negócio. Uma vez ocorrida a falência ou
insolvência civil do incorporador, é realiza-
Não há dúvidas que o patrimônio de
da a assembleia geral entre os adquiren-
afetação traz segurança para o adquiren-
tes para deliberar quanto à continuidade
te e também para o financiador do empre-
da obra ou sua liquidação.
endimento. Isso porque o patrimônio de
afetação é o mecanismo legal pelo qual se Decidindo-se pela continuidade da
materializa a segregação patrimonial de obra, a comissão de representantes fica
uma incorporação imobiliária como alter- investida de mandato para firmar com os
nativa à constituição de uma empresa es- adquirentes o contrato definitivo. A co-
pecífica, dos demais ativos e passivos da missão de representantes passa a ser
incorporadora. Com isto se objetiva pro- o representante legal do patrimônio de
teger as outras partes envolvidas em um afetação, praticando os atos necessários
projeto imobiliário: os promitentes com- para a conclusão do empreendimento e
pradores e o financiador. transmissão definitiva da propriedade aos
adquirentes. O mandato outorgado esta-
A segregação patrimonial, realizada
belece legalmente as obrigações legais de
pela instituição do patrimônio de afeta-
quem age por mandato na administração
ção, é tida como uma medida relevante
de recursos de terceiros.
para evitar o que o mercado apelidou de
“bicicleta”, o ciclo vicioso de uma incorpo- Decidindo-se pela não continuidade da
radora canalizar recursos de um empre- obra, a assembleia geral poderá deliberar
endimento para cobrir outro anterior e, pela venda. O resultado líquido, depois de
assim, sucessivamente, até que a velo- quitadas todas as obrigações do patrimô-
cidade de lançamentos não supra mais a nio de afetação, será distribuído de forma
necessidade de alocação nos empreendi- proporcional aos recursos que comprova-
mentos anteriores, culminando com a in- damente cada um tenha aportado. Após a
suficiência de recursos para o andamento divisão, restando ainda valores não reem-
das obras. bolsados, os adquirentes serão credores
privilegiados, respondendo subsidiaria-
mente os bens pessoais do incorporador.
6- Em linhas bem gerais, sem entrar no mérito de julgamento
das causas, a Encol, que na década de 1990, chegou a ser uma Não se pode olvidar que apartam-se
das maiores construtoras brasileiras, entrou em decadência
em 1999 e deixou um rastro de mais ou menos 700 obras aban- tudo: o terreno e as acessões objeto da
donadas pelo país, bem como 42 mil mutuários esperando seu
imóvel. incorporação imobiliária, bem como os
14

demais bens e direitos desta que ficam utilizado como deveria. E um dos princi-
vinculados à execução da incorporação e pais motivos para tal é a sua facultativida-
à entrega das unidades imobiliárias aos de. É justamente aqui que a lei deixa uma
respectivos adquirentes. Dessa forma, lacuna para a evolução do sistema. Pela
este conjunto de bens, direitos e obriga- importância destacada do patrimônio de
ções não se comunica com os demais da afetação, este tem de caminhar para a sua
incorporadora, sendo excluídos da massa obrigatoriedade. Pelas características da
geral em caso de falência desta, conforme atividade, que capta recursos de terceiros
escreve Chalhub (2001, p. 123): com a finalidade de realizar a obra previa-
mente determinada, é natural que haja
[...] os bens afetados ficam excluí-
regulamentação mais rígida, como ocorre
dos de excussão por parte dos credo-
nos fundos de investimentos financeiros.
res gerais do sujeito, ou seja, dos cre-
dores não vinculados ao patrimônio Como já dito, por enquanto, a consti-
separado; ressalva-se, obviamente, tuição do patrimônio de afetação na in-
a possibilidade de anulação do ato corporação imobiliária possui um caráter
de constituição do patrimônio sepa- opcional: é feito ou não a critério da incor-
rado, ou a eventualidade de declara- poradora. A previsão legal é que o regime
ção de sua ineficácia, nas hipóteses de afetação não é obrigatório, estando a
em que se configure fraude contra critério do incorporador a sua instituição.
credores ou fraudes de execução. O legislador, ao tornar facultativa sua ins-
tituição, perdeu uma grande chance de
Veja-se que estas questões trazem
dar uma regulamentação altamente ade-
uma maior segurança e transparência
rente a esta atividade que vende projetos
para o setor, possibilitando que os ad-
que irão se materializar no futuro, estan-
quirentes não sejam tão prejudicados em
do o comprador, durante o período de edi-
acontecendo algum problema com a in-
ficação, sujeito a flutuações de mercado
corporadora. Enfim, este mercado é mui-
que já não ficam mais restritas a um país
to importante para o desenvolvimento da
ou a uma determinada atividade econômi-
nação, e o patrimônio de afetação acaba
ca. O que aparenta ser sólido hoje, rapida-
sendo um eficaz instrumento de defesa
mente pode se deteriorar em face da con-
da economia popular.
juntura global, cujo exemplo presente é a
Entende-se, portanto, que a afe- grave crise mundial que, motivada por um
tação é instrumento de proteção problema imobiliário nos Estados Unidos,
da economia popular, visando, pois, logo se propagou e atingiu todas as eco-
a garantir que as receitas de cada nomias mundiais (TUTIKIAN; BRUSTOLIN,
incorporação, sejam aplicadas na 2011).
realização do respectivo empreen-
Ademais, a constituição do patrimônio
dimento, impedindo o desvio de re-
de afetação é extremamente simples –
cursos (TRISTÃO, 2008, p. 18).
basta a averbação de um requerimento
Apesar do patrimônio de afetação ser avulso ou no próprio memorial de incorpo-
um valioso mecanismo, ele ainda não é ração no Registro de Imóveis.
15

Outrossim, a incorporadora tem bene- Dessa forma, não há dúvidas do bene-


fícios fiscais em optando pela afetação fício que o patrimônio de afetação trouxe,
patrimonial. Quando da edição de Lei nº ou poderá trazer, ao mercado imobiliário.
10.931/04, para quem optasse pelo re- No entanto, para poder operar na sua ple-
gime especial tributário do patrimônio nitude, é preciso que se evolua mais um
de afetação, teria um imposto único com passo para que ele seja implementado de
alíquota de 7% sobre o valor total das re- forma obrigatória. Mas, ainda assim, resta
ceitas auferidas. Este percentual para as patente que o patrimônio de afetação foi
empresas que declaram pelo lucro real po- uma das principais evoluções ocorridas,
deria ser vantajoso ou não, dependendo até então, no mercado imobiliário (TUTI-
de sua margem de rentabilidade. Para as KIAN; BRUSTOLIN, 2011).
empresas que declaram pelo lucro presu-
mido, o imposto a ser pago por este sem-
pre era menor do que pelo regime especial
de tributação.

Como estímulo adicional à adoção do


patrimônio de afetação, foi publicada a
Lei nº 12.024/09, que baixou de 7% para
6% a alíquota única para cada incorpora-
ção submetida ao regime especial de tri-
butação. E reduziu ainda mais a alíquota
das incorporadoras que participarem do
Programa Minha Casa, Minha Vida. Com
essas alterações, as empresas tributadas
com base no lucro presumido passam a ter
vantagens tributárias efetivas ao aderi-
rem ao regime especial tributário. Quanto
às que declaram pelo lucro real a relação
ficou melhor, podendo haver economia
tributária ainda maior.

Destaca-se que o regime especial tri-


butário é opcional, nada impedindo que
a incorporadora opte pelo patrimônio de
afetação, mas prefira continuar arcando
com sua responsabilidade fiscal da forma
costumeira. Caso não pretenda alterar sua
matriz tributária, basta não fazer a opção
pelo regime especial tributário na Receita
Federal, não tendo nenhum prejuízo pelo
fato de ter constituído o patrimônio de
afetação.
16
UNIDADE 2 – Direitos Fundamentais
do Consumidor
O Direito do Consumidor, nos moldes pulsionaram o crescimento das relações
da atual concepção, é obra relativamen- comerciais de um modo geral e, mais es-
te recente na doutrina e na legislação. pecificamente, das relações de consumo
Tem seu surgimento como ramo do Direi- (HOLTHAUSEN, 2006).
to, principalmente, na metade do Século
Para Faria (1996), a proteção do consu-
XX. Porém, indiretamente, encontram-se
midor ganha relevância com o advento do
contornos deste segmento presente, de
fenômeno denominado de globalização,
forma esparsa, em normas das mais di-
que consiste na mundialização da econo-
versas, em várias jurisprudências e, acima
mia, mediante a internacionalização dos
de tudo, nos costumes dos mais variados
mercados de insumo, consumo e financei-
países. Contudo, não era concebido como
ro, rompendo com as fronteiras geográ-
uma categoria jurídica distinta e, também,
ficas e limitando crescentemente a exe-
não recebia a denominação que hoje apre-
cução das políticas cambial, monetária e
senta (PEDRON; CAFFARATE, 2000).
tributária dos Estados nacionais.
Sempre houve e sempre haverá pesso-
Enfim, o tema foi amadurecido no Bra-
as que se sobrepõem às relações jurídicas.
sil e a CF/88 tratou diretamente da tutela
O poder é uma constante na vida dos se-
efetiva do consumidor, elevando a direi-
res racionais e irracionais. O ser humano
to fundamental a defesa do consumidor
possui capacidade de auto-organizar-se e
(art. 5°, XXXII, CF); dispondo sobre a com-
evoluir. Consumir, para o homem, é sobre-
petência concorrente da União, Estados
viver, o que o faz necessitar de alimentos,
e Distrito Federal para legislar acerca da
água, ar, remédios, roupas, conhecimen-
responsabilidade por danos causados ao
to, entre outros. Com o passar dos anos,
consumidor (art. 24, VIII, CF); inseriu a ma-
as necessidades primitivas e instintivas
téria em nível de princípio de Ordem Eco-
foram evoluindo. O próprio homem, em
nômica (art. 170, V, CF); e criou um prin-
função da inteligência que possui, come-
cípio informativo de responsabilidade do
çou a perceber o potencial das relações
Poder Público (art. 150, § 5°, CF), no qual
interpessoais e mercantis (HOLTHAUSEN,
“a lei determinará medidas para que os
2006).
consumidores sejam esclarecidos acerca
Com o surgimento e desenvolvimento dos impostos que incidam sobre merca-
das indústrias, do comércio, enfim, dos dorias e serviços”.
mecanismos do capitalismo, houve uma
Para efetivar a proteção e defesa do
crescente modificação nas relações ju-
consumidor, o artigo 48, do Ato das Dispo-
rídicas. Meios de comunicação de mas-
sições Constitucionais Transitórias, esta-
sa, grandes conglomerados econômicos,
beleceu um prazo para ser elaborado um
urbanização, produção e consumo em
conjunto de normas, reunidas em forma
massa, globalização, publicidade, entre
de um código, que seria o instrumento de
outros, foram alguns dos fatores que im-
defesa do consumidor.
17

A finalidade do Código de Defesa do a) direito à segurança – outorga ga-


Consumidor (CDC, Lei nº 8.078, de 11 de rantia contra produtos ou serviços que
setembro de 1990) é, sem dúvida, aten- possam ser nocivos à vida, à saúde e à se-
der os mais vulneráveis, isto é, o consumi- gurança;
dor, já agora uma pessoa e não mais aque-
le sujeito anônimo.
b) direito à escolha – assegura ao con-
sumidor opção entre vários produtos e
Quanto à definição de direito do consu- serviços com qualidade satisfatória e pre-
midor, enquanto conjunto de normas ju- ços competitivos;
rídicas, dentro do direito objetivo é ramo
jurídico, é bem interessante notar-se que
c) direito à informação – o consumi-
dor deve conhecer os dados indispensá-
não se encontra essa definição na dou-
veis sobre produtos ou serviços para atu-
trina pátria e raramente na estrangeira,
ar no mercado de consumo e decidir com
porém a definição do sujeito consumidor,
consciência;
essa parece que toma o lugar e a impor-
tância daquela. Compreensível essa in- d) direito a ser ouvido – o consumidor
versão, pois que a figura do consumidor, deve ser participante da política de defe-
sendo a razão de ser, dada sua insufici- sa respectiva, sendo ouvido e tendo as-
ência generalizada, desse microssistema sento nos organismos de planejamento e
jurídico preenche mais o campo de visão execução das políticas econômicas e nos
do analista que a definição da matéria que órgãos colegiados de defesa;
envolve esse sujeito. Contudo, tem-se de-
finido direito do consumidor como: ramo e) direito à indenização – é indispen-
jurídico que regulamenta (aqui é a Cons- sável buscar-se a reparação financeira por
tituição Federal que regula) as relações danos causados por produtos ou serviços;
jurídicas de consumo, entendidas essas f) direito à educação para o consumo
como vinculum iuris estabelecido entre – o consumidor deve ser educado formal e
fornecedor e consumidor e cujo objeto é informalmente para exercitar consciente-
necessariamente um produto ou um ser- mente sua função no mercado, restabe-
viço. lecendo-se, por esse meio, na medida do
possível, o equilíbrio que deve haver nas
Também podemos definir Direito do
relações de consumo;
Consumidor como um ramo do direito que
pretende prevenir, tanto quanto possí- g) direito a um meio ambiente sau-
vel antes de punir, conflitos de consumo, dável – à medida que o equilíbrio eco-
efetivando assim a defesa do consumidor, lógico reflete na melhoria da qualidade
conforme prometido na Carta Magna. de vida do consumidor, de nada adianta-
ria cuidar dele isoladamente enquanto o
São direitos fundamentais e universais
ambiente que o cerca se deteriora e traz
do consumidor, reconhecidos pela Organi-
efeitos ainda mais nocivos à sua saúde.
zação das Nações Unidas (ONU), por meio
da Resolução nº 32/248, de 10 de abril de Assim sendo, tendo os direitos básicos
1985, e também pela IOCU, hoje Interna- do consumidor, universalmente reconhe-
tional Consumers: cidos, verifica-se que o legislador brasilei-
18

ro cuidou de adotá-los e transplantá-los 2º, parágrafo único).


para o Código do Consumidor, com peque-
Pela definição legal, portanto, consu-
nas modificações ou ampliações. Desse
midor há de ser:
modo, observa-se certa simetria entre os
direitos enumerados pelo organismo in- a) Pessoa física ou jurídica, não impor-
ternacional e aqueles assegurados pelo tando os aspectos de renda e capacidade
legislador pátrio no art. 6º, I a X, do CDC. financeira. Em princípio, toda e qualquer
São simétricos, por exemplo, os incisos I, pessoa física ou jurídica pode ser havida
II, III 7 , VI e VII; configuram ampliação os por consumidora. Por equiparação é in-
incisos IV, V, VIII e X; foi vetado o inciso cluída também a coletividade, grupos de
IX, que assegurava o direito a ser ouvi- pessoas, por exemplo, a família (determi-
do, e não contemplado na nova legislação náveis) e os usuários dos serviços bancá-
o direito a um meio ambiente saudável. rios (indetermináveis).
Não obstante esses reparos, é positiva a
Cumpre observar, no particular, que há
enumeração de tais direitos, posto que a
quem entenda que “consumidor só pode
lei é dirigida aos operadores do Direito em
ser a pessoa física, ou seja, individual”
geral, mas deve ser acessível, também, e
(BENJAMIN, 1988, p. 72).
principalmente, às partes envolvidas, o
fornecedor e o consumidor, não neces- Mas já há jurisprudência afirmando que
sariamente versadas no estudo das leis. “pessoa jurídica, quando destinatária fi-
A legislação bem explícita e ordenada de nal, é considerada consumidora” (TARS, 9ª
forma didática servirá, sem dúvida, para Câm, Civ., AI 196.008.379, reI. Juiz Tanger
que se chegue a um maior grau de escla- Jardim,j. 2-4-1996, v. U., RDC, v. 20, p. 171).
recimento e conscientização dos partíci-
pes da relação de consumo, o que poderá b) Que adquire (compra diretamente)
redundar numa redução de conflitos (AL- ou que, mesmo não tendo adquirido, utili-
MEIDA, 2015). za (usa, em proveito próprio ou de outrem)
produto ou serviço, entendendo-se por
Só para finalizar: quem são então con- produto “qualquer bem, móvel ou imóvel,
sumidor/fornecedor? material ou imaterial” (CDC, art. 3º, § 1º) e
por serviço qualquer atividade fornecida a
Hoje, no Brasil, já existe uma concei-
terceiros, mediante remuneração, desde
tuação legal do consumidor, que foi dada
que não seja de natureza trabalhista (CDC,
pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei
art. 3º, § 2º).
nº 8.078/90). Diz o art. 2º que “consumi-
dor é toda pessoa física ou jurídica que ad- c) Como destinatário final, ou seja, para
quire ou utiliza produto ou serviço como uso próprio, privado, individual, familiar
destinatário final”, incluindo-se, também, ou doméstico, e até para terceiros, desde
por equiparação, “a coletividade de pes- que o repasse não se dê por revenda. Não
soas, ainda que indetermináveis, que haja se incluíram na definição legal, portan-
intervindo nas relações de consumo” (art. to, o intermediário é aquele que compra
com o objetivo de revender após monta-
7- Alterado pela Lei nº 12.741, de 2012 (http://www.planalto. gem, beneficiamento ou industrialização.
gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12741.htm#art3).
19

A operação de consumo deve encerrar-se atividade fornecida no mercado de con-


no consumidor, que utiliza ou permite que sumo, mediante remuneração, inclusive
seja utilizado o bem ou serviço adquirido, as de natureza bancária, financeira, de
sem revenda. crédito e securitária, salvo as decorrentes
das relações de caráter trabalhista (art.
Segundo Smanio (2007), fornecedor
3º, § 2º, do CDC).
é aquele responsável pela colocação de
produtos e serviços à disposição do con-
sumidor, com a característica da habitua-
lidade. E pessoa física é qualquer um que
a título singular, mediante desempenho
de atividade mercantil ou civil, de forma
habitual, ofereça no mercado produtos ou
serviços. E pessoa jurídica, em associação
mercantil ou civil e de forma habitual.

O fornecedor pode ser o próprio Poder


Público, por si, ou por suas empresas que
desenvolvam atividades de serviços pú-
blicos. Os serviços públicos também estão
abrangidos pelo Código do Consumidor.

No CDC (Código de Defesa do Consumi-


dor), art. 3º, consta como definição legal
para fornecedor:

toda pessoa física ou jurídica,


pública ou privada, nacional ou es-
trangeira, bem como os entes des-
personalizados, que desenvolvem
atividades de produção, montagem,
criação, construção, transformação,
importação, exportação, distribui-
ção ou comercialização de produtos
ou prestação de serviços.

Para evitar interpretações contraditó-


rias, o legislador preferiu definir produto
como sendo qualquer bem, móvel ou imó-
vel, material ou imaterial, objeto da rela-
ção de consumo. Bens econômicos, sus-
cetíveis de apropriação, que podem ser
duráveis, não duráveis, de conveniência,
de uso especial, entre outros (art. 3º, § 1º,
do CDC) e serviço como sendo qualquer
20
UNIDADE 3 – Código de Defesa do
Consumidor e Direito Imobiliário
Antes de falarmos sobre o Código de dam sobre mercadorias e serviços”.
Defesa do Consumidor propriamente dito,
Art. 170: “A ordem econômica, funda-
vale lembrar sempre que o consumidor do
da na valorização do trabalho humano e
século XXI está cercado de direitos e pro-
na livre iniciativa, tem por fim assegurar
teção por todos os lados, portanto, é um
a todos existência digna, conforme os di-
alerta quando das relações comerciais,
tames da justiça social, observados os se-
inclusive aquelas praticadas pelas empre-
guintes princípios: (...) V – defesa do con-
sas do ramo imobiliário.
sumidor”.
Foi inspirada nas Constituições portu-
Art. 48 (Ato das Disposições Constitu-
guesa e espanhola que a nossa Constitui-
cionais Transitórias - ADCT): “O Congresso
ção Federal de 1988 estabeleceu normas
Nacional, dentro de cento e vinte dias da
de proteção ao consumidor. O constituin-
promulgação da Constituição, elaborará
te, sabiamente, pensou e se preocupou
Código de Defesa do Consumidor”.
em inserir, em nossa Carta Magna, obriga-
ção inerente ao Estado em promover a de- Pela Lei nº 12.291/10, torna-se obriga-
fesa do polo consumidor, no qual se pre- tória a manutenção de exemplar do CDC
tendeu zelar, principalmente, o interesse nos estabelecimentos comerciais e de
público consumerista. Vamos considerar prestação de serviços.
alguns dos dispositivos legais contidos na
Como se pode observar, o constituinte
CF/88:
preocupou-se em inserir, no rol dos direi-
Art. 5º, XXXII: “O Estado promoverá, na tos fundamentais, a defesa do consumi-
forma da lei, a defesa do consumidor”. dor. Somando isso à previsão do art. 170
da CF, vê-se elevada a defesa do consumi-
Art. 24: “Compete à União, aos Estados
dor como princípio de ordem econômica,
e ao Distrito Federal legislar concorren-
na qual se tenta legitimar todas as formas
temente sobre: (...) VII – responsabilidade
de intervenção do Estado para se apli-
por dano ao meio ambiente, ao consumi-
car a plena defesa do consumidor (REUL,
dor, a bens e direitos de valor artístico, es-
2009).
tético, histórico, turístico e paisagístico”.

Art. 129: “São funções institucionais 3.1 A importância do CDC


do Ministério Público: (...) III – promover o O microssistema do consumidor regu-
inquérito civil e a ação civil pública, para lado pelo CDC foi criado especificamente
a proteção do patrimônio público e social, para regular a relação de consumo, signi-
do meio ambiente e de outros interesses ficando dizer que suas disposições só se
difusos e coletivos”. aplicam às relações de consumo, excluídas
Art. 150, § 5º: “A lei determinará medi- quaisquer outras que contrariarem seus
das para que os consumidores sejam es- dispositivos. Como asseveram Marques et
clarecidos acerca dos impostos que inci- al (2002, p. 220) “[...] constitui o CDC ver-
21

dadeiramente uma lei de função social, lei mática, pois compete ao Estado a obriga-
de ordem pública econômica, de origem ção de promover a sua aplicação.
claramente constitucional”.
O CDC apresenta os princípios basilares
Por se tratar de um subsistema, o CDC é próprios, que unidos aos demais princí-
multidisciplinar e traz em seu bojo normas pios constitucionais, formam uma rede
de tutela de direito material de ordem civil para plena defesa e proteção aos direitos
e penal, processual civil e penal e, ainda, consumeristas. É na Política Nacional de
normas de direito administrativo. Assim, Relações de Consumo (art. 4º do CDC) que
ele tem possibilidade de regular por com- encontramos os princípios e objetivos que
pleto todos os aspectos jurídicos das re- devem nortear o setor.
lações jurídicas de consumo, objetivando
a aplicação de qualquer outra legislação 3.2 Princípios da vulnera-
que lhe for contrária.
bilidade, hipossuficiência,
Embora contenha normas de vários ra-
mos do direito, ele não é completo e, por
ônus da prova e boa-fé ob-
vezes, necessita ser complementado por jetiva
regras contidas em normas do sistema. Conforme ensina Silva (2004), pressu-
Em muitos casos, o microssistema valer- põe o Código Consumerista a vulnerabili-
-se-á de normas do Código Civil, do Código dade do consumidor partindo da premissa
de processo Civil e mesmo de leis extrava- de que este é a parte mais frágil (jurídica
gantes. Ele é, no dizer de Andrade (2006), e tecnicamente falando) na relação tida
poiético e, por isso, admite a aplicação como de consumo, devendo o CDC estabe-
de elementos de outros sistemas, entre- lecer (com a aplicação de direitos e vanta-
tanto, isso só será possível quando ele gens) a igualdade entre as partes.
não contiver norma regulando a hipóte-
se concreta, pois se houver norma espe- Segundo Almeida (2015), para que os
cífica, não se aplica elemento exterior ao consumidores possam chegar à igualdade
microssistema, salvo disposição expressa real, devem ser tratados de forma desi-
em contrário. gual pelo CDC e pela legislação em geral.
Nos termos do art. 5º da Constituição Fe-
O CDC possui o intuito de regular as deral, todos são iguais perante a lei, en-
relações jurídicas de consumo, ou seja, tendendo-se daí que devem os desiguais
aquelas que envolvem o consumidor (polo ser tratados desigualmente na exata me-
ativo), o fornecedor (polo passivo), produ- dida de suas desigualdades. Sendo assim,
tos e serviços disponibilizados no merca- conforme Almeida (2015), desdobram-se
do (objeto) e a aquisição destes pelo con- dois subprincípios:
sumidor destinatário final (finalidade).
primeiro, o de elaboração das normas
A Constituição brasileira considerou jurídicas, a significar que as novas leis a
como fundamental o direito do consumi- serem editadas no setor deverão man-
dor. Tal prerrogativa concedeu ao CDC o ter ou ampliar o conteúdo protetivo, ten-
status de norma constitucional progra- do por fundamento teleológico o direito
22

constitucionalmente previsto de defesa reitos, inclusive com a inversão do ônus


do consumidor (CF, art. 5º, XXXII); da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a
segundo, o do sancionamento e in-
alegação ou quando for ele hipossuficien-
terpretação das cláusulas e das normas
te, segundo as regras ordinárias da expe-
jurídicas, por força do qual se objetiva al-
riência.
cançar a situação mais favorável para o
consumidor, que em razão do cunho pro- Reafirmando: estes dois princípios são
tetivo da legislação, quer pela aceitação caracterizados por natureza de direito
de sua inexperiência e vulnerabilidade, de processual porque só incidirão na relação
modo a alcançar efetividade da tutela. de consumo quando a mesma for objeto
de uma ação.
O CDC pressupõe a vulnerabilidade do
consumidor partindo do princípio de que [...] hipossuficiência é um critério
nas relações de consumo existe uma de- processual consagrado no art. 6º, in-
sigualdade fática entre fornecedor e con- ciso VIII, do CDC, o qual busca estabe-
sumidor, razão pela qual, ao estabelecer lecer um paradigma para o reconhe-
vantagens e direitos ao consumidor, ten- cimento de eventual desigualdade
ta igualar sua posição jurídica na relação no seio do processo (BONATTO; MO-
contratual. RAES, 1998, p. 80).

Existem outros princípios também ado- Para Almeida (2015), pela situação de
tados pelo CDC, mas que são caracteriza- hipossuficiência do consumidor, este, via
dos por natureza de direito processual, de regra, enfrentava dificuldades em re-
pois só incidirão na relação de consumo alizar a prova de suas alegações contra o
quando a mesma for objeto de uma ação. fornecedor, por ser ele o controlador dos
São eles o princípio da hipossuficiência e o meios de produção, com acesso sobre os
da inversão do ônus da prova. elementos de provas que interessam à
demanda. Assim, a regra do art. 373, I, do
Intimamente ligados, o princípio da hi-
CPC, representava obstáculo à pretensão
possuficiência e o princípio do ônus da
do consumidor, reduzindo-lhe a chance de
prova se complementam, em razão de que
vitória e premiando o fornecedor com ir-
a hipossuficiência do consumidor pressu-
responsabilidade civil.
põe a falta de condições técnicas ou eco-
nômicas de fazer a prova do seu direito e, A cláusula geral da boa-fé é o princí-
em decorrência, tem-se assegurada a in- pio basilar que orienta a atividade inter-
versão do ônus da prova, que garante ao pretativa do CDC e dos contratos por ele
consumidor que a produção da prova seja regulados, já que nos contratos de longa
realizada pelo fornecedor, conforme dis- duração, a abusividade mostra-se após o
posto no art. 6º, VIII do CDC. ajuste inicial, no decorrer da prestação do
serviço. As disposições tendentes a violar
Art. 6º. São direitos básicos do consu-
a boa-fé são dotadas de nulidade, trazida
midor:
tanto pelo art. 4º, III, como também pelo
VIII – a facilitação da defesa de seus di- art. 51, inc. IV, ambos do CDC (PALUDO,
23

2005). comportem segundo a boa-fé, porquanto


dispõe ser objetivo fundamental da Repú-
A doutrina procura distinguir a boa-fé
blica a construção de uma sociedade justa
subjetiva da boa-fé objetiva. Enquanto a
e solidária (art. 3º, I).
primeira se refere à consciência ou con-
vicção de prática de um ato conforme ao Segundo Marques (2002, p. 671), pode-
direito, a boa-fé objetiva se refere a uma -se “afirmar genericamente que a boa-fé
regra de conduta que impõe às partes de- é o princípio máximo orientador do CDC
terminado comportamento: [...]”.

Acontece que a boa-fé objetiva,


fundada nos ideais de honestidade
3.3 Princípios da transpa-
e lealdade, tem sido entendida como rência, confiança e equida-
regra de conduta para os contratan-
tes, que devem respeitar a confiança
de
e os interesses recíprocos, ou seja, Segundo o Art. 4º do CDC, a Política Na-
tem sido compreendida como dever cional das Relações de Consumo tem por
de agir segundo determinados pa- objetivo o atendimento das necessidades
drões, socialmente recomendados, dos consumidores, o respeito à sua dig-
de correção, lisura e honestidade nidade, saúde e segurança, a proteção
(SILVA, 2003, p. 71). de seus interesses econômicos, a melho-
ria da sua qualidade de vida, bem como a
Assevera ainda o mesmo autor que isso transparência e harmonia das relações de
a diferencia de boa-fé subjetiva, o estado consumo, atendidos os seguintes princí-
psicológico da pessoa, sua intenção, sua pios.
convicção de estar agindo de modo que
outrem não seja lesado na relação jurídica. Baseando-se nesse princípio, o consu-
midor tornou-se detentor do direito sub-
Portanto, a boa-fé como padrão jetivo de informação e o fornecedor sujei-
de conduta serve para coordenar o to de um dever de informação.
comportamento das partes, que, no
contrato, devem observar os deve- O princípio da transparência gera para o
res anexos de lealdade, cooperação fornecedor o dever de esclarecer ao con-
e informação, não mais podendo in- sumidor as características e o conteúdo do
vocar a boa-fé subjetiva para eximi- contrato (art. 6º, inc. III 8 do CDC), cabendo
rem-se ou absterem-se da prática ao fornecedor transmitir ao consumidor
do ato que a situação exija ou repila todas as informações indispensáveis so-
(SILVA, 2003, p. 72). bre os produtos ou serviços colocados no
mercado.
O princípio da boa-fé objetiva foi impli-
citamente reconhecido pela Constituição É o princípio da confiança, instituído
Federal no seu art. 3º, inc. I. pelo CDC, para garantir ao consumidor a
adequação do produto e do serviço, para
Aliás, a Constituição Federal legitima
a exigência do CDC de que as partes se 8- Alterado pela Lei nº 12.741, de 2012 (http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12741.htm#art3).
24

evitar riscos e prejuízos oriundos dos pro- vés de benefícios reservados pelo CDC. A
dutos e serviços, para assegurar o res- consecução do contrato deve ser presidi-
sarcimento do consumidor, em caso de da pela boa-fé objetiva. Não bastam cláu-
insolvência, de abuso, desvio da pessoa sulas com prestações equivalentes se,
jurídica – fornecedora, para regular tam- durante a execução do contrato, uma das
bém alguns aspectos da inexecução con- partes adotar procedimentos aparente-
tratual do próprio consumidor (MARQUES, mente lícitos, mas que causam lesão.
2002).
O art. 4º do CDC prevê também que
Para haver a confiança recíproca en- deve haver equilíbrio entre direitos e de-
tre os contratantes, mais uma vez se faz veres dos contratantes. Busca-se a justi-
necessário também a presença da boa-fé ça contratual, o preço justo, por isso, são
objetiva, consagrado como dito, no art. 4º, vedadas as cláusulas abusivas, bem como
inc. III. aquelas que proporcionam vantagem
exagerada para o fornecedor ou oneram
Exige o CDC a boa-fé dos contra-
excessivamente o consumidor.
tantes porque pressupõe o contrato
não como síntese de interesses con- O art. 51, IV, considera abusiva a cláu-
trapostos ou pretensões antagôni- sula incompatível com a boa-fé ou a equi-
cas, mas como instrumento de coo- dade.
peração entre as partes, que devem
Institui o CDC normas imperativas, as
comportar-se com lealdade e hones-
quais proíbem a utilização de qualquer
tidade, de maneira que não frustrem
cláusula abusiva, definidas como as que
mutuamente as legítimas expectati-
assegurem vantagens unilaterais ou exa-
vas criadas ao redor do negócio jurí-
geradas para o fornecedor de bens e ser-
dico (SILVA, 2003, p. 71).
viços, ou que sejam incompatíveis com a
Assim, a boa-fé significa a transparên- boa-fé e a equidade (MARQUES, 2002).
cia obrigatória em relação aos contra-
O princípio da equidade tem por função
tantes, um respeito obrigatório aos inte-
básica a promoção do equilíbrio na relação
resses do outro contratante, uma ação
contratual, dispondo não só das atribui-
positiva do parceiro contratual mais forte
ções, mas também das funções de partes
com relação ao parceiro contratual mais
envolvidas no processo de fornecimento
fraco, permitindo as condições necessá-
e no processo de consumo, assegurando
rias para a formação de uma vontade li-
o desenvolvimento do negócio, promo-
berta e racional.
vendo o combate à prática considerada
As partes devem agir com sincerida- abusiva, situação comprometedora das
de, veracidade, sem objetivar somente o relações de consumo.
lucro fácil com a consequente imposição
de prejuízos ao outro. Dessa forma, esse 3.4 Práticas comerciais re-
princípio não alcança apenas o fornece-
dor, abrangendo também o consumidor,
guladas pelo CDC
vedando-lhe vantagem desmedida atra-
3.4.1 Oferta e publicidade
25

De acordo com o art. 31 do CDC, temos nicação, com relação a produtos e


que a oferta e apresentação de produtos serviços que alcance o consumidor,
ou serviços devem assegurar informações é oferta. Oferta, assim, é toda pro-
corretas, claras, precisas, ostensivas e em posta, policitação, promessa de for-
língua portuguesa sobre suas caracterís- necimento de produto ou serviço
ticas, qualidades, quantidade, composi- mediante apresentação/exposição
ção, preço, garantia, prazos de validade (vitrine, por exemplo), informação
e origem, entre outros dados, bem como (orçamento, apreçamento) ou pu-
sobre os riscos que apresentam à saúde e blicidade (anúncio em qualquer dos
segurança dos consumidores. meios de comunicação). Tem a oferta
por finalidade alcançar o consumidor
Sendo a oferta o momento anteceden-
como provável cliente (NASCIMENTO,
te da conclusão do ato de consumo, deve
1991, p. 36).
ser precisa e transparente o suficiente
para que o consumidor, devidamente in- A oferta é um tipo/espécie do gênero
formado, possa exercer o seu direito de li- de declaração unilateral e receptícia de
vre escolha. Assim, as informações devem vontade. Receptícia, porque carece ser
ser verdadeiras e corretas, guardando veiculada, exposta, ou seja, chegar ao
correlação fática com as características conhecimento de, pelo menos, um ou de
do produto ou serviço, redigidas em lin- indeterminado número de consumidores
guagem clara, lançadas em lugar e forma (coletividade, público em geral, mercado
visíveis. consumidor). Unilateral, porque na essên-
cia jurídica, a oferta é estruturalmente
Essas informações podem se dar por
uma só vontade, a do ofertante (solicitan-
qualquer forma de veiculação; se median-
te/proponente) (AMARAL, 2010).
te publicidade, deve seguir a regulamen-
tação dos arts. 36 a 38 do CDC. Vale dizer, uma só vontade, mas que vai
em busca de sua destinação que é encon-
Em caso de oferta por telefone ou re-
trar-se com a outra vontade, a do consu-
embolso postal há um requisito extra:
midor-aceitante, quando, então, a oferta
para possibilitar a responsabilização, o
se aperfeiçoa e alcança sua finalidade: o
nome do fabricante e seu endereço deve-
negócio jurídico de consumo, já agora bi-
rão constar obrigatoriamente na embala-
lateral – vontade do ofertante e vontade
gem, na publicidade e nos impressos utili-
do aceitante.
zados na transação comercial (art. 339).
A oferta é feita sempre pelo fornece-
Seguindo o mesmo entendimen-
dor, interessado na apresentação, lança-
to, mas com outras palavras, toda
mento, divulgação ou venda de produto
informação ou publicidade, sufi-
ou serviço. Além de responsável pela ofer-
cientemente precisa, veiculada por
ta que fizer diretamente, o fornecedor é
qualquer forma ou meio de comu-
solidariamente responsável por aquela
feita por seus empregados, agentes e re-
9- Além disso, é proibida a publicidade de bens e serviços por
telefone, quando a chamada for onerosa ao consumidor que presentantes, inclusive autônomos, que
a origina (art. 33, parágrafo único, CDC, incluído pela Lei nº
11.800, de 2008). em nome dele atuarem (art. 34 do CDC)
26

(ALMEIDA, 2015). ta os “requisitos essenciais” – como vem


inovar nosso atual Código Civil, em seu
No âmbito do direito do consumidor,
art. 429 – para a finalização do contrato e,
a oferta é regida pelo indeclinável prin-
por isso, exatamente por isso, a oferta as-
cípio da vinculação, ou seja, o ofertante
sim exteriorizada não tem os elementos
se obriga por tudo que ofertar, anunciar,
constitutivos mínimos para uma vincula-
informar; é a ética popular do “prometeu
ção obrigacional (AMARAL, 2010).
tem de cumprir”. No regime do CDC toda
oferta gera, pois, um vínculo do fornece- Assim, há de se entender bem essa
dor – ofertante com o consumidor – acei- cláusula (oferta suficientemente precisa)
tante (consumidor efetivo ou potencial/ que não significa uma licença para que o
equiparado). Já no regime civil, nem toda ofertante possa usar da intransparência,
veiculação/anúncio de produto ou serviço de falsidade, da indução a erro (arts. 36
vincula seu veiculador, sendo, no mais das e 37 do CDC) no marketing de atração do
vezes, considerado um simples convite à consumidor. É que aqui, também, persiste
oferta (uma mera pré-oferta). a vedação geral, nas relações de consumo,
do dolus bonus (oferta inocente), ou seja,
A oferta, pelo CDC, tem a amplitude da
o artifício da inverdade, ou do exagero
possibilidade de conclusão do negócio de
para atrair o cliente.
consumo, pelo Código Civil tem abrangên-
cia bem reduzida. Porém, para a oferta Amaral (2010, p. 169) arrisca dizer que
(pelo CDC) obrigar quem a faz, é indispen- “tal vedação, com o novo Código Civil,
sável que dois pré-requisitos sejam aten- também está presente nas relações civis,
didos: aquelas não de consumo”.

a) só existirá vinculação se houver ex- Em suma, a oferta, além desses dois


posição, veiculação, ou seja, se a oferta pré-requisitos (veiculada/tornada públi-
chegar ao conhecimento do consumidor, ca por qualquer meio e suficientemente
porque oferta que não sai do âmbito sub- precisa), obriga o fornecedor-ofertante e
jetivo do ofertante é vontade apenas in- integrará o negócio jurídico que vier a ser
terna, não declarada; concluído a partir dela. Eis a plena eficácia
jurídica do princípio da vinculação da ofer-
b) a oferta (informação, publicidade ...)
ta.
há de ser suficientemente precisa.
Vale repetir, a oferta que não apresen-
Ora, sendo a oferta pressuposto ne-
tar aqueles dois pré-requisitos poderá
cessário da formação do negócio jurídico
não obrigar o seu ofertante por insufici-
bilateral de consumo (vontade/ofertante
ência de elementos constitutivos (ou de
versus vontade/aceitante-consumidor)
destinatário/receptor) da obrigação con-
só pode mesmo ser vinculativo o que pu-
tratual daí derivada, contudo, tal conduta
der ser, objetiva e utilmente, exigível na
(oferta, publicidade lesiva ao consumidor)
conclusão do negócio jurídico de consu-
poderá tipificar até mesmo crime contra
mo. Essa precisão suficiente só pode ser
as relações de consumo (arts. 66, 67 e 68
entendida como um atributo objetivo ne-
do CDC).
gativo da oferta, eis que ela não apresen-
27

Guarde... c) rescindir o contrato mediante a res-


tituição da quantia eventualmente an-
São efeitos, no plano da eficácia ju- tecipada, monetariamente atualizada, e
rídica, da oferta para o fornecedor-o- composição de perdas e danos que podem
fertante: ser materiais (emergentes e lucros ces-
santes) e morais.
a) A oferta passa a integrar o negócio
jurídico/contrato. Ainda resta deixar claro que, pelo Có-
b) A oferta obriga ao cumprimento. digo Civil atual, pode-se dizer que a for-
mação dos contratos civis (não de con-
c) A oferta pode se dar por qualquer sumo) se dá pela proposta e pela oferta.
meio ou forma:
Sendo proposta a comunicação dirigida a
c.1) por apresentação/exposição um destinatário determinado, objetivan-
(vitrine, mostruário, gôndolas, entre do uma contratação específica (convite à
outros); contratação), enquanto a oferta é dirigida
c.2) por informação (orçamentos, ao público em geral, mas se contiver os
apreçamentos, pedido, entre ou- requisitos essenciais do contrato, vale-
tros); rá como proposta, isso é, obrigará como
a proposta. A oferta no Código Civil é de-
c.3) por publicidade (anúncios em claração revogável e no CDC é irrevogável
qualquer meio de comunicação, en- (AMARAL, 2010).
cartes, folhetos, mala direta, entre
outros). Com relação à oferta de componentes e
peças de reposição, cumpre destacar que
A oferta pelo CDC deve: a oferta está limitada aos fabricantes e
a) ser correta; importadores (e não aos fornecedores em
geral) e alcança apenas produtos indus-
b) ser clara; trializados e compostos em peças, mas
c) ser precisa; não alcança serviço nem produtos brutos
d) ser ostensiva; ou singulares, não compostos de peças e
componentes. Já a prestação de assistên-
e) ser em língua portuguesa. cia técnica, como serviço, é devida tam-
Os fornecedores-ofertantes respon- bém pelo distribuidor, enquanto não ces-
dem, solidariamente, com seus empre- sar a fabricação da importação do produto
gados, agentes e representantes, até (ALMEIDA, 2015).
mesmo autônomos, que em nome dele Os fornecedores-fabricantes e impor-
atuaram. O consumidor pode exigir, alter- tadores deverão assegurar a oferta de
nativamente: componentes e peças de reposição en-
a) o cumprimento forçado; quanto não cessar a fabricação do produ-
to. Cessada a produção ou importação, a
b) outro produto ou prestação de ser- oferta deverá ser mantida por período ra-
viço equivalente, pagando ou recebendo zoável de tempo na forma da lei (AMARAL,
a diferença; 2010).
28

Da publicidade conhecer uma marca, incitar o público a


comprar um produto, utilizar um serviço; é
O CDC, no art. 6º, IV, assegura como um anúncio, encarte.
direito básico do consumidor
Enfim, os especialistas definem a pu-
a proteção contra publicidade en- blicidade como uma atividade profissional
ganosa e abusiva, métodos comer- dedicada à difusão pública de ideias asso-
ciais coercitivos ou desleais, bem ciadas a empresas, produtos ou serviços.
como contra práticas abusivas ou im- Já propaganda é um modo específico de se
postas no fornecimento de produtos apresentar uma informação com o objeti-
e serviços. vo de servir a uma agenda; é ação siste-
Mais adiante, já no art. 37, a Lei nº mática, exercida sobre a opinião pública,
8.078/90 vem proibir toda publicidade en- para difundir uma doutrina, uma ideia, um
ganosa e abusiva. E no § 2º desse mesmo produto, um sistema de serviços, um es-
artigo, o CDC estampa algumas situações petáculo, entre outros; é material ou tra-
meramente exemplificativas da publicida- balho empregado com esse fim; ou ainda,
de abusiva: peça, anúncio produzido para esse fim.

§ 2º É abusiva, dentre outras, a publi- O termo publicidade refere-se exclusi-


cidade discriminatória de qualquer natu- vamente à propaganda de cunho comer-
reza, a que incite à violência, explore o cial; é uma comunicação de caráter per-
medo ou a superstição, se aproveite da suasivo que visa a defender os interesses
deficiência de julgamento e experiência econômicos de uma indústria ou empresa.
da criança, desrespeite valores ambien- Já a propaganda tem um significado mais
tais, ou que seja capaz de induzir o consu- amplo, pois refere-se a qualquer tipo de
midor a se comportar de forma prejudicial comunicação tendenciosa (as campanhas
ou perigosa à sua saúde ou segurança. eleitorais são um exemplo, no campo dos
interesses políticos). Assim, o âmbito da
Neste subtema do direito do consumi- propaganda envolve e contém a publici-
dor, a publicidade, não se pode esquecer dade. Em suma, publicidade é um esfor-
o Código Brasileiro de Autorregulamen- ço de persuasão, evidentemente com a
tação Publicitária do Conselho Nacional finalidade de vendas, às vezes com arte
de Autorregulamentação Publicitária e às vezes nem tanto, mas sempre visan-
(CONAR) que estabelece, em seu art. 19, do, desde a causa até o efeito, uma venda
caput, que “toda atividade publicitária imediata e/ou mediata (AMARAL, 2010).
deve caracterizar-se pelo respeito à digni-
dade da pessoa humana, à intimidade, ao A publicidade ou propaganda parece
interesse social, às instituições e símbo- mesmo tão antiga quanto a mercancia.
los nacionais, às autoridades constituídas Com efeito, uma tabuleta em argila, en-
e ao núcleo familiar”. contrada por arqueólogos e contendo ins-
crições babilônicas, anunciando a venda
Os dicionários registram que publicida- de gado e alimentos, demonstra que já
de é a qualidade, ou atributo do que é pú- se utilizava de algum tipo de publicidade
blico; é a atividade que tem por fim fazer na Antiguidade. Mas é só após a Revolu-
29

ção Francesa (1789), com suas radicais difusa, como tudo mais em nosso mundo
transformações no mundo ocidental, que contemporâneo. Advirta-se que a publi-
a publicidade inicia o curso de seu estágio cidade, contudo não se confunde com a
atual e, desde a expansão econômica do oferta, aquela, amiúde, é apenas veículo
século XIX, a propaganda só vem crescen- dessa (da oferta); todavia, quando isso se
do de importância. verifica, o conteúdo da mensagem publici-
tária tem o mesmo efeito jurídico de uma
Antes da Revolução Industrial, o fenô-
declaração unilateral de vontade, vale di-
meno concorrencial não se fazia sentir
zer, cria a obrigação, o vínculo jurídico do
nos mercados, em nível, por exemplo, da
cumprimento do ofertado.
disputa das mercadorias de artesãos (típi-
ca da economia medieval), todavia, com a No contexto das práticas comerciais,
produção em escala e a estandardização publicidade é uma forma de veiculação da
dos produtos e mais ainda com o surgi- oferta, sujeitando-se, como tal, aos mes-
mento dos grandes monopólios, tudo se mos requisitos e regime de responsabi-
modifica e a publicidade se torna persua- lização (arts. 30, 35, 36, 37 e 38 do CDC).
siva e menos informativa. Define-a o Código Brasileiro de Autorre-
gulamentação Publicitária como “toda ati-
O conceito (a imagem mental) de ofer-
vidade destinada a estimular o consumo
ta, modernamente está muito associado
de bens e serviços, bem como promover
ao conceito de publicidade. É que a marca
instituições, conceitos e ideias” (art. 8º).
característica do mundo moderno (e mais
Na mesma linha, é conceituada pelo De-
ainda do pós-moderno), a produção em
creto nº 57.690/66 como “qualquer forma
escala crescente, exigia uma oferta tam-
remunerada de difusão de ideias, merca-
bém em escala. É assim que a atividade
dorias, produtos ou serviços por parte de
publicitária passa a ser crescentemente o
um anunciante identificado” (art. 2º).
meio utilizado por ofertantes de produtos
e serviços em geral que, agora, deman- Duval (1975, p. 1) ressalta com suporte
dam destinatários difusos, coletividade, na doutrina de Roger Mauduit, a distinção
enfim o mercado consumidor (AMARAL, fundamental entre propaganda e publici-
2010). dade, nestes termos:

Com efeito, aquela velha e tradicional Tecnicamente, os dois conceitos


oferta (ou proposta), aquela carta ou men- diferem: enquanto a publicidade re-
sagem cujo destinatário é uma pessoa presenta uma atividade comercial
predeterminada, já agora, em nosso mun- típica, de mediação entre o produtor
do da produção em massa e do consumo e o consumidor, no sentido de apro-
também em massa, essa mesma oferta já ximá-los, já a propaganda significa o
é voltada a um número indeterminado de emprego de meios tendentes a mo-
pessoas, ao público em geral; é a policita- dificar a opinião alheia, num sentido
ção à coletividade. É, enfim, proposta (de político, religioso ou artístico.
contratação) ao mercado consumidor.
A verdade, porém, é que a publicidade
A oferta, também, passa de individual a deixou de ter papel meramente informa-
30

tivo para influir na vida do cidadão de ma- cla, mas sempre revestida de novos
neira tão profunda a ponto de mudar-lhe recursos propiciados pela chamada
hábitos e ditar-lhe comportamento (AL- criatividade, (...) a publicidade comer-
MEIDA, 2015). cial passa habilmente da informação
à sugestão e desta à captação, isto
Trata-se – é bem de ver – de instrumen-
é, eliminação no consumidor de sua
to poderosíssimo de influência do consu-
capacidade crítica ou censura ao que
midor nas relações do consumo, atuando
lhe é proposto (anunciado), o que im-
nas fases de convencimento e de decisão
porta numa violação ao princípio da
de consumir. Assinalando ser esse fato
liberdade de pensamento. E ao fim
consequência da “cultura de massas” em
de tantas e marteladas repetições,
que vivemos, instalada pela exploração
incapaz de distinguir a sugestão do
dos meios de comunicação, Comparato
erro, o público consumidor apresen-
(1988, p. 40) traça o quadro dramático,
ta-se condicionado à mensagem, isto
porém real, a que se vê submetido o con-
é, fica com o produto anunciado para
sumidor sob o influxo da publicidade co-
liberar-se de sua promoção, rejeitan-
mercial. Assim:
do, assim, qualquer outra informa-
O consumidor, vítima de sua pró- ção ou crítica, para só se decidir pela
pria incapacidade crítica ou susceti- que ficou condicionado. Nesta fase,
bilidade emocional, dócil objeto da a pior comunicação publicitária é a
exploração de uma publicidade ob- da chamada publicidade subliminar,
sessora e obsidional, passa a respon- de que se aproxima a publicidade re-
der ao reflexo condicionado da pala- dacional (...) Claro que o processo de
vra mágica, sem resistência. Compra condicionamento é psicológico, mas
um objeto ou paga por um serviço, o de sua imposição está na função
não porque a sua marca atesta a moderna da publicidade.
boa qualidade, mas simplesmente
A verdade é que antigamente importa-
porque ela evoca todo um reino de
va era saber o que a opinião pública que-
fantasias ou devaneio de atração
ria, mas hoje, importa decidir o que ela
irresistível. Nessas condições, a dis-
deve querer.
tância que separa esse pobre Babbit
do cão de Pavlov torna-se assusta- O quadro assim exposto revela aquilo
doramente reduzida. que é conhecido de todos nós: o consumi-
dor é induzido a consumir, bombardeado
Para Duval (1975, p. 152),
pela publicidade massiva que o cerca em
esse fenômeno é um fato notó- todos os lugares e momentos de seu dia
rio que a mensagem publicitária vai, a dia. Como autômato, responde a esses
hoje, além da mera informação. Em estímulos, sem discernir corretamente.
uma primeira etapa, ela informa, na Age pela emoção, embotado em seu juízo
segunda, sugestiona, e, na terceira, crítico. E, se tudo isso ocorre em relação
ela capta em definitivo o consumi- à publicidade normal sobre o homem mé-
dor. De tanto insistir na mesma te- dio, pode-se imaginar os efeitos nefastos
31

e devastadores da publicidade enganosa dos nessa publicidade) como decorrência


ou abusiva e daquela incidente sobre pes- direta do superprincípio da boa-fé e o da
soas em formação, como crianças e ado- transparência, que por sua vez regem su-
lescentes (ALMEIDA, 2015). periormente todo o universo normativo
consumerista.
A publicidade que antes era mero ins-
trumento de venda e assim, tida e havida, A publicidade enganosa pode ser: co-
como juridicamente neutra, com o CDC missiva (por ato concreto/positivo, por
assumiu novos contornos, notadamente exemplo: fazer afirmação falsa); ou omis-
quanto à responsabilidade profissional siva (omissão/deixar de informar dado ou
(social e legal). O CDC regrou a publicida- risco ao consumidor).
de, nas relações de consumo, a partir dos
Visa a manter corretamente informado
seguintes princípios:
o consumidor, para assegurar-lhe a esco-
1. Princípio da identificação da publi- lha livre e consciente.
cidade (art. 36, caput) – a regra básica é
3. Princípio da não abusividade (art.
que se evite a publicidade oculta e subli-
31, c/c o art. 37, § 2º) – visa banir a pu-
minar. A peça publicitária precisa garantir
blicidade abusiva dirigida ao consumidor.
ao consumidor a clara percepção de que a
Toda publicidade é abusiva quando ofen-
comunicação que o alcança é uma publici-
siva dos valores éticos e sociais da pessoa
dade (e não uma divulgação de pesquisa,
humana, da família, que incita a violên-
ou de estatística, por exemplo).
cia, a discriminação, que explora o medo/
Assim, proibida está tanto a chamada superstição, que corrompe a integridade
publicidade subliminar, ou seja, a veicu- infantil e os valores ambientais, que ame-
lada de uma maneira que atinge, tão so- aça a saúde e a segurança.
mente, o inconsciente do destinatário,
Esse princípio sempre esteve implícito
quanto a publicidade clandestina ou si-
na mais rudimentar noção de boa-fé e éti-
mulada, que, às vezes, assume a configu-
ca em geral, mas só agora ganha eficácia
ração externa de “informes econômicos”,
social e crescente efetividade.
“relatos científicos” ou, simplesmente, de
notícia jornalística aparentemente desin- A violação desse princípio-mor do con-
teressada, quando, na verdade, intencio- sumerismo pátrio transgride simultanea-
nam a divulgação de produtos e serviços. mente um e outro princípio, mas agora de
Coincide com a seção 6 do Código de Au- importância de viga-mestra de todo nos-
torregulação Publicitária; so Estado Democrático de Direito: o valor
fundante da dignidade da pessoa humana
2. Princípio da veracidade (art. 31, c/c
(art. 1º, III, de nossa Carta Magna).
o art. 37, §§ 1º e 3º) – veda a publicidade
enganosa (mentirosa/falsa, fraudulenta, 4. Princípio da transparência da fun-
omissa, indutora de erro); a verdade é cri- damentação (art. 36, parágrafo único) – o
tério máximo na publicidade destinada ao fornecedor (especialmente o anunciante/
consumidor. Trata-se de dever legal im- publicitário) deve manter em seu poder os
posto aos publicitários (e demais envolvi- dados fáticos, técnicos e científicos que
32

respaldam a veracidade e a boa-fé da pu- ou publicidade) deve ser suficientemente


blicidade, eis que esse ônus probatório é precisa, ou seja, “o simples exagero (puf-
sempre do fornecedor-anunciante (e dos fing 10) não obriga”.
demais envolvidos nessa cadeia de comu-
Demais disso, esse princípio, também,
nicação com o consumidor-alvo).
gera a responsabilidade civil objetiva me-
Essa inversão sequer carece de ato for- diante a inversão automática do ônus da
mal, ou seja, de declaração ou decretação prova.
dessa inversão (art. 6º, VIII, direito básico
6. Princípio da inversão do ônus da
da inversão, automática ou declarada, do
prova (art. 38, do CDC) – pela regra ge-
ônus da prova). Além dessa inversão auto-
ral, quem alega prova (art. 373, I, do CPC),
mática, a responsabilidade civil do anun-
contudo, dada a fragilidade e a vulnera-
ciante é sempre objetiva.
bilidade do consumidor, tal regra, senão
5. Princípio da obrigatoriedade do fechava o acesso à justiça, dificultava so-
cumprimento (arts. 30 e 35) – no direi- bremaneira. Daí essa diretiva básica pre-
to do consumidor, a informação (qual- vista no art. 38 do CDC, que é uma especi-
quer comunicação objetivando um ato de ficação da inversão sediada no art. 6º, III11
consumo) assume dupla função: é dever (direito básico, mas genérico e facultativo
básico do fornecedor (art. 8º), perante e que exige ato judicial concessivo) volta-
os consumidores (dever de informar, de da para o âmbito da publicidade consume-
transparência, de lealdade, comporta- rista.
mento universal que o CDC erige como
Com efeito, é direito básico, mas nesta
dever jurídico) e também é uma obrigação
norma (art. 38) da inversão tem natureza
pré-contratual (art. 30) porque vincula
específica e exclusiva incidência sobre a
quem a promove e integra o contrato que
boa-fé e a transparência (veracidade e
dela derivar, eis que funcionalmente tem
correção) da publicidade. Aqui, a inversão
valor jurídico de oferta.
do ônus probatório é obrigatória (não é
A informação e a publicidade (conteúdo faculdade ou mero poder do juiz) e auto-
e meio para alcançar o público), direta e in- mática (dispensa ato formal), ao contrário
dividual, midiática e difusa, sempre trará, daquela cuja sede é o art. 6º, VIII (AMA-
enquanto eficácia jurídica (efeitos jurídi- RAL, 2010; ALMEIDA, 2015; BENJAMIN et
cos), a obrigação de ser garantida e de in- al., 2016; BULGARELLI, 1985).
tegrar o contrato, ou seja, todo marketing
em geral sempre há de vincular tanto na
oferta, quanto na publicidade, porém dois
3.4.2 Práticas comerciais
pressupostos hão de se apresentar para abusivas
que este princípio possa incidir:
10- Puffing é o exagero publicitário, tal como “é o melhor”, “o
a) a informação e a publicidade só vin- mais saboroso”, “o mais bonito”. A técnica do teaser tenta pro-
culam/obrigam se houver exposição/ co- vocar a curiosidade apresentando o produto aos poucos, por
vezes nem mesmo indicando quem é o anunciante (BENJAMIN
nhecimento público; et al., 2016).
11- Alterado pela Lei nº 12.741, de 2012 (http://www.planalto.
b) para obrigar a oferta (informação gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12741.htm#art3).
33

Práticas comerciais abusivas são as contratual; ou pós-contratuais, caso se


condições irregulares de negociação nas manifestem após a contratação.
relações de consumo que ferem a boa-
-fé, os bons costumes, a ordem pública e 3.5 Contratos e responsabi-
a ordem jurídica. Essas condições têm que
estar ligadas ao bem-estar do consumi-
lidades
dor final. É o abuso contra o consumidor. No sistema legal do Código Civil, o con-
Assim, estão excluídas as práticas de con- trato é considerado negócio jurídico bila-
corrência desleal, porque são entre forne- teral, uma vez que tem a finalidade de ad-
cedor e fornecedor (SMANIO, 2007). quirir, resguardar, transferir, modificar ou
extinguir direitos.
De acordo com Nascimento (1991, p.
38), práticas abusivas “são práticas co- Os contratos regidos pelas relações de
merciais, nas relações de consumo, que consumo têm peculiaridades que lhe são
ultrapassam a regularidade do exercício próprias, estas, nada mais que de direito,
de comércio e das relações entre fornece- pois se estamos tratando de uma situação
dor e consumidor”. diferenciada com pessoas diferentes, de-
ve-se tentar equiparar as partes.
Além de encontrarmos no Direito do
Consumidor as práticas comerciais lícitas Construtor é quem constrói ou reforma
e legítimas, temos também, as práticas imóveis, e incorporador é o empreende-
abusivas, ilícitas e ilegítimas. São as práti- dor que incorpora uma construção a um
cas abusivas, atividades mercantis, estra- terreno, em geral edifícios divididos em
tégias, ou ações dos fornecedores (fabri- unidades autônomas. Trata-se de duas
cante, importador, vendedor, prestador, figuras distintas e, muito embora em al-
anunciante, publicitário, entre outros) guns casos o incorporador seja também
que buscam o lucro em face do consumi- o construtor, o mais comum é a atuação
dor e por meio do ato de consumo, enfim, distinta de cada qual em suas respectivas
são as chamadas técnicas de marketing áreas. A responsabilidade do construtor e
que violam as leis protetivas do consumi- do incorporador é pela segurança da cons-
dor. trução, seja por defeito aparente, seja por
defeito oculto, se ligadas à segurança da
Tendo em vista o momento em que se construção do imóvel. É importante sa-
manifestam no processo econômico, po- lientar que o construtor só responde pela
dem ser chamadas: se no momento da construção, e o incorporador responde
produção, práticas abusivas produtivas; por todo o empreendimento, do projeto
se após, para garantir a circulação dos até a sua execução final.
produtos e serviços até o destinatário fi-
nal, práticas abusivas comerciais. No Código Civil, a matéria é tratada no
contrato de empreitada, que envolve a
Tendo em vista o aspecto jurídico con- construção de imóvel com ou sem o forne-
tratual, podem ser: contratuais, se no in- cimento de materiais. O art. 618 desse di-
terior do próprio contrato; pré-contratu- ploma estabelece prazo de cinco anos de
ais, quando atuam na fase do ajustamento garantia de solidez e segurança da obra,
34

em se tratando de empreitada de mão de de produto ou serviço. Cambler (2008, p.


obra e materiais, fixando o prazo de deca- 336) aponta a relação de consumo na in-
dência em cento e oitenta dias a contar da corporação imobiliária:
data do conhecimento do defeito.
A relação jurídica incorporativa
O CDC não regulamentou em espécie o confunde-se com a relação jurídica
contrato de empreitada, tendo somente de consumo toda a vez que o incor-
fixado a responsabilidade do construtor porador, no exercício de sua ativida-
e do incorporador pelo fato do produto, de de produção – promover e realizar
de forma que, em se tratando de relação a construção de edificações ou con-
de consumo, não se aplicam as regras do junto de edificações compostas de
contrato de empreitada que estiverem unidades autônomas –, oferece (nos
em contradição com as ditadas pelo CDC, termos do art. 30 do CDC, a oferta,
mormente se forem estas mais favoráveis desde que suficientemente precisa,
ao consumidor (ANDRADE, 2006). obriga o incorporador, integrando o
contrato que vier a ser celebrado) no
Decorrendo a incorporação da ativida-
mercado seu produto – bem imóvel e
de de fornecedor de produtos ou serviços,
material – e o aliena ao interessado
exercida pelo incorporador, tem incidência
em adquirir, como destinatário final,
o Código de Defesa do Consumidor, que se
o produto incorporável – frações ide-
constitui de um sistema transcendente de
ais de terreno vinculadas a unidades
normas aplicável a todos os contratos em
autônomas, a serem construídas ou
que existem relações de consumo.
em construção, sob regime condomi-
O Código de Defesa do Consumidor, nial.
como microssistema jurídico cujo alcan-
No caso dos conteúdos voltados para
ce se estende a todo o direito contratual,
negócios imobiliários, tomando como
teve reflexos também nos negócios de in-
exemplo a atividade de construção e ven-
corporação imobiliária. Sendo os contra-
da das unidades imobiliárias, as quais se
tos, de regra, por adesão (posicionando o
destinam para consumidores finais, estes
adquirente como hipossuficiente), confi-
passam a usá-las para moradia ou para ou-
gurando-se a figura do incorporador como
tro uso pessoal. Está, pois, submetida ao
fornecedor de bens e serviços, e a do ad-
âmbito do artigo 3° da Lei nº 8.078/1990,
quirente como consumidor, tratando-se o
a incorporação, aplicando-se as regras so-
bem imóvel de bem de consumo, perfei-
bre o fato do produto ou do serviço (art.
tamente possível a responsabilização da
12), e sobre os vícios ou defeitos de qua-
empresa incorporadora por acidente de
lidade (arts. 18 e 20), não divergindo a
consumo ou vício do produto.
disciplina sobre a incidência das mesmas
Realmente, passou a constituir princí- regras à atividade do dono da obra e do
pio de direito o reconhecimento de rela- construtor. Ademais, há a presunção da
ção consumerista sempre que de um lado vulnerabilidade do destinatário final, já
é colocada a figura do consumidor (desti- que exposto às práticas comerciais do for-
natário final), e de outro há o fornecedor necedor, que detém o poder ou monopólio
35

fático dos produtos e, ainda, geralmente, No caso de reconhecer-se a relação,


pela falta de conhecimentos técnicos so- prescreve, v.g., em cinco anos a preten-
bre o produto adquirido ou serviço con- são à reparação dos danos que a unidade
tratado; e de conhecimentos jurídicos, de causar tanto ao adquirente como a tercei-
contabilidade ou de economia específicos ros, contados da data do efetivo conheci-
(RIZZARDO, 2012). mento do dano e de sua autoria (art. 27 do
CDC).
A classe de consumidores não se res-
tringe à pessoa física ou natural, abran- Se o vício do produto for de fácil cons-
gendo, também, entes coletivos. Entram, tatação, o prazo para propositura da com-
segundo a Lei nº 8.078, na figura as co- petente ação caduca em trinta dias, em se
letividades de pessoas (art. 2°, parágrafo tratando de bens e serviços não duráveis;
único), as vítimas de eventos de práticas e prescreverá em noventa dias, se envol-
abusivas pelo fato do produto ou serviço vidos bens e serviços duráveis. Se o vício
(art. 17) e as pessoas determináveis ou for oculto, ou seja, sua ocorrência não
não, desde que expostas às práticas esta- for verificável de imediato, o prazo é de
belecidas pelo Código de Defesa do Con- noventa dias contados do conhecimento
sumidor (art. 29). do vício (art. 26). Como vício do produto,
tem-se o defeito que compromete a pres-
Não se enquadra na abrangência da re-
tabilidade e/ou servibilidade do bem imó-
lação de consumo se contratada a cons-
vel ofertado, estabelecendo uma relação
trução para um destinatário intermedi-
de desconformidade entre a prestação
ário, que, em etapa seguinte, procede à
(construção e entrega da unidade) e con-
alienação das unidades.
traprestação (pagamento do preço esti-
Contratando a construção de unidades, pulado). Assim, por exemplo, problemas
através de um sistema de pagamento em com a qualidade da pintura, revestimentos
que o incorporador faz a venda e se com- e funcionamento das instalações hidráuli-
promete em entregar as unidades, e mes- cas, que diminuem o valor patrimonial do
mo quando assume a obrigação da cons- bem. O defeito pode ser também de quan-
trução por empreitada ou administração, tidade, se o imóvel apresenta dimensão
decorre a assunção de um dever de fazer, mais de 5% inferior ao anunciado.
que se materializa na prestação de ser-
Diferentemente, fato do produto é o
viço. Aí é certa a incidência, como faz ver
defeito de qualidade ou quantidade que,
o seguinte aresto, do STJ: o contrato de
além de comprometer a prestabilidade e a
incorporação, no que tem de específico,
servibilidade do produto, coloca em risco,
é regido pela lei que lhe é própria (Lei nº
de alguma forma, a segurança e a inco-
4.591/1964), mas sobre ele também in-
lumidade do consumidor ou de terceiros.
cide o Código de Defesa do Consumidor,
São os chamados acidentes de consumo
que introduziu no sistema civil princípios
(RIZZARDO, 2012).
gerais que realçam a justiça contratual, a
equivalência das prestações e o princípio Todavia, se os vícios forem de segu-
da boa-fé objetiva. rança e solidez, em face do artigo 618 do
Código Civil vigente, que estipula prazo de
36

cento e oitenta dias, após o aparecimen- se aceita a compra; que deem ao incorpo-
to do vício ou defeito, para a propositura rador a escolha do índice de correção mo-
da ação objetivando o ressarcimento ou netária, dentre os vários existentes; que
abatimento proporcional do preço, tem- transfiram a responsabilidade a terceiros
-se entendido que, por se tratar de norma em havendo prejuízos; que estabeleçam
mais benéfica ao consumidor, que a apli- obrigações iníquas, abusivas; ou cláusulas
cação deve ser da regra do mencionado que coloquem o consumidor em desvan-
artigo 618. tagem exagerada, ou que sejam incompa-
tíveis com a boa-fé ou a equidade.
Não revela significação o fato da ante-
rioridade da Lei nº 4.591/1964 em relação Muito menos se permitem condições
à Lei nº 8.078, posto que, sendo esta úl- que invertam o ônus da prova, que de-
tima de natureza complementar (arts. 5°, terminem a utilização compulsória de ar-
XXXII, e 170, V, da CF) a ditames constitu- bitragem, que imponham representante
cionais, atinge todos os diplomas que in- para concluir ou realizar outro negócio ju-
tegram o sistema jurídico brasileiro. rídico, que deixem ao fornecedor a opção
de concluir ou não o contrato, que auto-
Nesta ótica, e na linha acima, sobressa-
rizem ao fornecedor a variação de preço,
em os princípios sobre a oferta, devendo
que concedem ao fornecedor a liberdade
ser dirigida ao público através de infor-
em cancelar unilateralmente o contrato,
mações claras e corretas, não enganosas
que obriguem o consumidor a ressarcir
ou que induzam os interessados em erro.
os custos de cobrança, que atribuem ao
Não se permitem, pois, a teor dos artigos
fornecedor o direito de modificar unila-
51, 52, § 1° 12 , e 53 da Lei nº 8.078, cláu-
teralmente o conteúdo ou a qualidade do
sulas de decaimento, com a perda total
contrato, que possibilitem a renúncia do
das prestações em caso de mora; ou que
direito de indenização, e outras previs-
estipulem multa superior a dois por cento;
tas em vários dispositivos da Lei nº 8.078,
cláusulas resolutórias não alternativas; ou
como as do artigo 39, que discriminam as
que exoneram ou atenuam a responsabi-
práticas abusivas.
lidade do incorporador/construtor por ví-
cios de qualquer natureza dos produtos e Sobre a perda das prestações pagas,
serviços fornecidos ou prestados; que dei- decidiu o STJ:
xam ao incorporador a opção de concluir
Incorporação. Resolução do contrato.
ou não o negócio; que impliquem renúncia
Cláusula de decaimento. Restituição. Có-
ou disposição de direitos; que acarretam
digo de Defesa do Consumidor. Não tem
a perda das prestações pagas em caso
validade a cláusula pela qual os promissá-
de desistência do negócio, e que retirem
rios compradores perdem a totalidade das
do adquirente a opção de reembolso das
prestações pagas durante a execução do
quantias já pagas; que subtraiam do con-
contrato de incorporação. Recurso conhe-
sumidor a opção de reembolso da quantia
cido e provido em parte para determinar a
já paga se permitida a carência para decidir
restituição de 90% do valor pago.

12- Redação dada pela Lei nº 9.298, de 1º de agosto de 1996 Vasto é o campo que abre caminhos
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9298.htm#art1).
37

para a responsabilidade, tornando-se co- Este vai além do produto ou do serviço,


mum quando os danos decorrem do fato de modo a atingir o consumidor de forma
do produto e do serviço, verificados nos mais ampla.
prejuízos causados pelas unidades em si,
Quanto à responsabilidade por vício do
e acentuando-se com os vícios de quali-
produto, esta existe quando ocorre um
dade causados pela baixa qualidade dos
problema (oculto ou aparente) no bem de
produtos empregados nas construções,
consumo que o torne impróprio para o uso
ou pela errônea escolha dos materiais, ou
ou lhe diminua o valor.
pela deficiente e inapropriada técnica uti-
lizada pelos que fazem a obra. Realmente, Nestes casos, não há repercussões fora
o vício do produto ou do serviço advém da do produto, não se podendo falar em res-
falta de qualidade, dos materiais impró- ponsabilização por danos além do valor da
prios, da ausência de cuidados, da omissão coisa (TARTUCE; NEVES, 2016). A respon-
de regras técnicas, do uso de ingredientes sabilidade pelo vício do produto é exclusi-
de péssima categoria (RIZZARDO, 2012). vamente voltada ao aspecto patrimonial.

O caput do artigo 18 do Código de De-


3.5.1 Responsabilidade do fesa do Consumidor prevê solidariedade
incorporador/construtor de fornecedores de produtos de consumo
duráveis e não duráveis por vícios de qua-
pelo vício e fato do produ- lidade e quantidade.
to/serviço
A regra geral, na lei de proteção, é a
Visto em outro momento do curso as
responsabilidade solidária de todos os
responsabilidades do corretor chegou o
fornecedores, abrangendo, portanto, não
momento de falarmos do incorporador.
apenas o vendedor ou comerciante, que
Sanseverino (2010) também trata da manteve contato direto com o consumi-
distinção entre vício e defeito. Diz ele que dor, mas este e os demais fornecedores
enquanto os defeitos são falhas do produ- em cadeia: fabricante, produtor, constru-
to ou do serviço que afetam a segurança tor, importador e incorporador (ALMEIDA,
legitimamente esperada pelo consumidor, 2015).
causando-lhe danos pessoais ou patrimo-
Nesse sentido, há solidariedade entre
niais, os vícios são falhas, ocultas ou apa-
todos os envolvidos pelo fornecimento do
rentes, que afetam, via de regra, apenas
produto. Isso significa que essa solidarie-
o próprio produto ou serviço, tornando-os
dade se estende a qualquer fornecedor,
inadequados ao uso a que se destinam por
inclusive ao fornecedor intermediário que
não apresentarem a qualidade ou quanti-
tenha participado da circulação do bem.
dade esperada pelo consumidor, inclusive
por deficiência de informação. Diferente do vício do produto, no fato
do produto, as consequências causadas
Dessa forma, o vício pertence ao pró-
transcendem ao produto, atingindo a pes-
prio produto ou serviço. O defeito tem
soa física e/ou patrimônio do consumidor,
ligação com o vício, mas o dano causado
causando o chamado acidente de consu-
ao consumidor é muito mais devastador.
38

mo. consumo (BRITO, 2002).

No fato do produto, estão presentes O artigo 3º do CDC, de fato, inclui dentre


outras consequências além do dano in- as relações de consumo, a atividade do in-
trínseco do produto em si, danos atingin- corporador, que tem responsabilidade de
do a pessoa física do consumidor. Esses seus atos frente ao consumidor sempre
danos geram a responsabilidade objetiva que configurada a vulnerabilidade deste
direta e imediata do fabricante, do cons- face àquele.
trutor, do produtor e o incorporador e a
Da mesma forma, a Lei nº 4.591/64, em
responsabilidade subsidiária do comer-
seu art. 31, § 3º, também prevê a respon-
ciante ou de quem o substitua (TARTUCE;
sabilidade civil do incorporador. Assegura
NEVES, 2016).
que toda e qualquer incorporação, inde-
O vício do produto invariavelmente de- pendentemente da forma por que seja
corre de uma relação contratual. Já o fato constituída, terá um ou mais incorporado-
do produto, em alguns casos, se caracte- res solidariamente responsáveis, ou seja,
riza fora do âmbito contratual. Isso ocorre de qualquer maneira, independente da
quando a vítima de acidente de consumo existência de um ou mais incorporadores
não tem qualquer relação com o fornece- no empreendimento, sua responsabilida-
dor, equiparada ao consumidor padrão ou de será sempre solidária.
standard, conforme o artigo 17 do Códi-
Ademais, o artigo 32 da mesma Lei im-
go de Defesa do Consumidor (MARQUES,
puta ao incorporador a responsabilidade
2009).
por todas as peças do Memorial de Incor-
Um exemplo prático desse tipo de con- poração, como o projeto de construção,
sumidor seria a queda de um edifício que o orçamento da construção e o memo-
atingisse um terceiro passando coinci- rial descritivo das especificações da obra
dentemente ao lado da tragédia, causan- (CHALHUB, 2010).
do a este um acidente de consumo (BAR-
O inciso II do art. 43 da Lei de incorpo-
RETO, 2012).
rações imobiliárias, por sua vez, determi-
É lógico que o incorporador, ao final da na que o incorporador deve responder ci-
obra, tem a obrigação de fornecer o imóvel vilmente pela execução da incorporação,
em perfeitas condições de uso ao merca- devendo indenizar os adquirentes dos
do consumidor. Uma vez que o incorpora- prejuízos advindos do fato de não se con-
dor realiza a produção do projeto, planeja cluir a edificação ou de se retardar injusti-
a montagem, cria o produto imobiliário, ficadamente a conclusão das obras.
promove a transformação do bem imóvel
Além disso, a Lei nº 4.591/64 estabele-
de modo a torná-lo atrativo à comerciali-
ce ainda, em seu art. 31, que a “iniciativa
zação, é potencial prestador de serviços,
e a responsabilidade das incorporações
enfim, pratica quase todas as atividades
imobiliárias caberão ao incorporador”.
que podem ser observadas no artigo em
referência, deve ser considerado como De fato, o incorporador, como impul-
fornecedor, existindo a relação jurídica de sionador do empreendimento imobiliário,
39

atrai para si a responsabilidade pelos da- sionador do empreendimento imobiliário,


nos resultantes de má execução ou mes- é o principal garantidor da obra, responsá-
mo inexecução do contrato. vel pela solidez e segurança da edificação.

Assim, nota-se que o incorporador será Quanto à responsabilidade solidária


sempre responsabilizado pelos defeitos entre incorporador e construtor, recente
na obra, desde que tais vícios ou fatos, julgado do Superior Tribunal de Justiça, em
por óbvio, decorram de seus atos e não do acórdão de 06/03/2012, afirma que o in-
próprio adquirente. corporador é o principal garantidor do em-
preendimento no seu todo, devendo ser
Tal responsabilização é tratada tanto
solidariamente responsável com outros
no CDC quanto na Lei nº 4.591/64, e in-
envolvidos nas diversas etapas da incor-
depende do fato de o incorporador ter
poração.
terceirizado o processo de construção ou
não. A Lei nº 4.591/64 não trata especifica-
mente da responsabilidade da imobiliária,
A responsabilidade do construtor nos
mas afirma que o alienante dos imóveis
casos de vício e fato do produto é direta e
sujeitos à atividade de incorporação imo-
está prevista no Código Civil (art. 618), no
biliária responderá como incorporador
CDC (artigos 12 e 18) e também na Lei nº
pelos danos causados ao adquirente, con-
4.591/63 (art. 44, § 1º). Ressalta-se que,
forme art. 29, parágrafo único.
apesar de semelhantes, a responsabilida-
de do construtor é diferente da responsa- Além disso, a lei de incorporações imo-
bilidade do incorporador. biliárias prevê outra hipótese de respon-
sabilização do alienante, que é o caso em
É evidente que tal diferenciação se dá
que se inicia a venda das unidades imobili-
apenas quando o incorporador e o cons-
árias antes da conclusão das obras. Nesse
trutor não se confundem, pois, conforme
caso, entendeu o legislador que o alienan-
já demonstrado, há a possibilidade de que
te será elevado à condição de incorpora-
o incorporador seja o próprio executor da
dor, absorvendo suas responsabilidades
obra, sem terceirizar o serviço.
(art. 30, Lei nº 4.591/64).
O construtor (ou empreiteiro) terceiri-
Quanto ao Código de Defesa do Consu-
zado é aquele que por meio de contrato
midor, a responsabilidade da imobiliária
de empreitada obriga-se a executar obra
no vício e no fato do produto é expressa,
determinada, mediante preço e prazo de-
embora não trate da solidariedade do co-
terminados, de acordo com as regras es-
merciante em caso de fato do produto.
tabelecidas nos artigos 610 a 626 do Có-
digo Civil.
3.6 Órgãos fiscalizadores
Assim, quando figurados em duas pes- Existem muitos órgãos destinados à
soas distintas, é evidente que a responsa- defesa do consumidor, como veremos
bilidade do construtor abarca menos cir- abaixo.
cunstâncias que a do incorporador, tendo
em vista que este, na condição de impul-
40

CONs) consubstancia-se basicamente


em, atuando de forma coletiva, informar
Conselho Nacional de e orientar o consumidor acerca de seus
direitos nas áreas de alimentação, saúde
Defesa do Consumidor – (medicamentos e planos de assistência
CNDC médica), propaganda e publicidade, ele-
trodomésticos e produtos para o lar, con-
Criado em 24 de julho de 1985, através
tratos, planos de saúde e previdência pri-
do Decreto nº 91.469 com a finalidade
vada, dentre outros (ZAMPIERI, 2010).
de Assessorar o presidente da república
na formulação e condução de uma Políti- Entretanto, pelo fato de serem órgãos
ca Nacional de Defesa do Consumidor, foi meramente administrativos, os PROCONs
extinto pelo art. 27, § 1º, b, item 2, da Lei não possuem poder legal no sentido de
nº 8.028, de 12 de abril de 1990. Em seu obrigar um fornecedor a efetuar indeniza-
lugar, montou-se, então, uma estrutura ção, seja por danos morais, seja por lucros
deveras enxuta, com a criação do Depar- cessantes. Para estes casos, o consumi-
tamento de Proteção e Defesa do Consu- dor que entender ter sido lesado deverá
midor (DPDC), subordinado à Secretaria buscar os serviços judiciários de um Juiza-
Nacional de Direito Econômico (atual Se- do Especial Cível.
cretaria de Direito Econômico), do Minis-
Igualmente, não possuem os PROCONs
tério da Justiça, reduzindo significativa-
competência para tratar de relações de
mente o espaço público que o Conselho
trabalho, bem como de locações, casos
possuía, excluindo seu controle social,
estes que deverão ser solucionados nos
num claro retrocesso (ZAMPIERI, 2010).
canais adequados, ou seja, Justiça do Tra-
Sistema Nacional de Defesa do Consu- balho e Justiça Comum, respectivamente.
midor – SNDC
Exemplo típico é a Fundação de Prote-
Criado pela Lei nº 8.078/90 (Código de ção e Defesa do Consumidor – PROCON – do
Defesa do Consumidor) em seu TÍTULO IV Estado de São Paulo, que tem por objetivo
- Do Sistema Nacional de Defesa do Con- elaborar e executar a política de proteção
sumidor, por seus arts. 105 e 106, o Sis- e defesa dos consumidores do Estado de
tema Nacional de Defesa do Consumidor São Paulo. Para tanto, conta com o apoio
– SNDC – é integrado por órgãos federais, de um grupo técnico multidisciplinar que
estaduais, do Distrito Federal e munici- desenvolve atividades nas mais diversas
pais, além de entidades privadas de defe- áreas de atuação, tais como:
sa do consumidor.
educação para o consumo;

PROCONs – Estaduais e recebimento e processamento de re-


clamações administrativas, individuais e
Municipais coletivas, contra fornecedores de bens ou
serviços;
A função precípua dos órgãos públicos
denominados Coordenadorias Municipais orientação aos consumidores e for-
de Política e Defesa do Consumidor (PRO- necedores acerca de seus direitos e obri-
41

gações nas relações de consumo; interesse do consumidor, resguardado o


fiscalização do mercado consumidor segredo industrial e assegurem a aplicação
para fazer cumprir as determinações da das sanções administrativas, sem prejuízo
legislação de defesa do consumidor; das de natureza civil, penal e das definidas
em normas específicas como: multa; apre-
acompanhamento e propositura de
ensão do produto; inutilização do produto;
ações judiciais coletivas;
cassação do registro do produto junto ao
estudos e acompanhamento de legis-
órgão competente; proibição de fabricação
lação nacional e internacional, bem como do produto; suspensão de fornecimento de
de decisões judiciais referentes aos direi- produtos ou serviço; suspensão temporária
tos do consumidor; de atividade; revogação de concessão ou
pesquisas qualitativas e quantitati- permissão de uso; cassação de licença do
vas na área de defesa do consumidor; estabelecimento ou de atividade; interdi-
suporte técnico para a implantação ção, total ou parcial, de estabelecimento, de
de PROCON Municipais Conveniados; obra ou de atividade; intervenção adminis-
intercâmbio técnico com entidades trativa e imposição de contrapropaganda.
oficiais, organizações privadas, e outros
órgãos envolvidos com a defesa do con- Ministérios Públicos
sumidor, inclusive internacionais; O Ministério Público13 é, de acordo com
disponibilização de uma Ouvidoria sua competência constitucional, o respon-
para o recebimento, encaminhamento de sável pela fiscalização das Políticas Nacio-
críticas, sugestões ou elogios feitos pelos nais de Consumo e, dentre suas atribuições,
cidadãos quanto aos serviços prestados ainda atua na fiscalização da aplicação da lei
pela Fundação PROCON, com o objetivo de e na proteção e defesa do consumidor, ins-
melhoria continua desses serviços. taurando inquéritos e propondo ações cole-
tivas na defesa dosa interesses dos consu-
Criada pela Lei nº 9.192, de 23 de novem-
midores, atuando em prol da coletividade.
bro de 1995, e Decreto nº 41.170, de 23 de
setembro de 1996, a Fundação PROCON-SP
é uma instituição vinculada à Secretaria da
Defensorias Públicas
Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado A defensoria pública é órgão estadual,
de São Paulo e tem personalidade jurídica também atrelado ao Judiciário, que visa dar
de direito público, com autonomia técnica, assistência ao consumidor desassistido, ou
administrativa e financeira. seja, aquele que não pode pagar um advo-
gado particular ou tem condição de arcar
São, como indicam os nomes, órgãos es-
com o pagamento das custas processuais,
taduais e municipais de proteção e defesa
do consumidor, criados especificamen- 13- Constitucionalmente, o Ministério Público tem assegurada
te para fiscalizar o cumprimento da Lei nº autonomia funcional e administrativa. E esta autonomia não é
apenas de índole funcional, financeira e administrativa, vez que
8.078/90, CDC, expedindo notificações aos não se vincula a nenhum dos poderes da República. Como en-
sina Quiroga Lavié, quando se fala em um órgão independente
fornecedores de bens e prestadores de ser- com autonomia funcional e financeira, afirma-se que o Minis-
viços para que, sob pena de desobediência, tério Público é um órgão extrapoder, ou seja, não depende de
nenhum dos poderes de Estado, não podendo nenhum de seus
prestem informações sobre questões de membros receber instruções vinculantes de nenhuma autorida-
de pública.
42

passíveis de recolhimento para acesso ao de qualquer outro procedimento que expo-


Judiciário. nha o consumidor a ridículo ou interfira em
seu trabalho, lazer e descanso;
É ainda o responsável pela promoção de
acordos e conciliações em ações promovi- impedir ou dificultar o acesso do con-
das pelos consumidores a quem dá assis- sumidor sobre suas informações junto aos
tência, assim, sua atuação tem foco no con- bancos de dados, cadastros, fichas ou re-
sumidor individual e não na coletividade. gistros e deixar de entregar ao consumidor
o termo de garantia da mercadoria adquiri-
Decons da, entre outros.

São as Delegacias de Defesa do Consu-


midor, cuja competência é exclusiva para
Juizados Especiais
a apuração de denúncias e condução de Órgão do Poder Judiciário criado para fa-
processos relativos aos crimes praticados cultar acesso à Justiça ao cidadão de baixa
contra o consumidor que são aqueles pre- renda ou com causas de pequeno valor eco-
vistos nos artigos 61 e seguintes da Lei nº nômico e baixa complexidade.
8.078/90 e que incluem, entre outros:
O consumidor tem acesso à Justiça sem
omissão de dizeres ou sinais ostensi- a necessidade da presença de um advoga-
vos sobre a periculosidade do produto, de do e sem o recolhimento de custos judiciais
suas embalagens, seus invólucros ou reci- para casos cujo valor econômico não supere
pientes, ainda que se descubra sua pericu- os vinte salários mínimos e com a presença
losidade após o lançamento no mercado; de advogado naquelas em que o valor per-
maneça entre vinte e quarenta salários mí-
execução de serviços de alta periculo-
nimos.
sidade, contrariando as determinações das
autoridades competentes; Trata-se de Justiça especializada, de pro-
cedimento mais célere, menos burocrático
fazer afirmações enganosas ou omitir
e totalmente gratuito em seu primeiro grau
informações relevantes sobre a natureza,
de jurisdição, havendo, para o consumidor
característica, qualidade, quantidade, se-
que não disponha do benefício da gratuida-
gurança, desempenho, durabilidade, preço
de de justiça, a necessidade de recolhimen-
ou garantia de produtos ou serviços;
to de custas para a oposição de recursos.
fazer ou promover publicidade que se
sabe ou deveria saber enganosa, abusiva Instituto Brasileiro de
ou capaz de induzir o consumidor a erro de
forma prejudicial à sua saúde ou segurança;
Defesa do Consumidor –
empregar na reparação de produtos,
IDEC
peças ou componentes usados sem a auto- É uma das mais conhecidas Associações
rização do consumidor; de Defesa do Consumidor. Fundada em
1987, é independente de empresas, gover-
utilizar-se, para a cobrança de dívidas
no ou partidos políticos, obtendo recursos
de ameaça, coação, constrangimento, afir-
financeiros através das contribuições reco-
mações falsas, incorretas ou enganosas ou
43

lhidas por seus associados. dos produtos industriais produzidos pela in-
dústria brasileira.
Visa promover a educação, a conscienti-
zação, a defesa dos direitos do consumidor e O INMETRO visa proteger as políticas
a ética nas relações de consumo, objetivan- nacionais de metrologia e qualidade, ob-
do o equilíbrio e a justiça entre fornecedor servando normas técnicas legais quanto a
e consumidor, bem como o aprimoramento unidades de medida, métodos de medição,
e a implementação da legislação aplicável, a entre outros, inserindo o país no contexto
repressão ao abuso do poderio econômico e internacional de padronização de forneci-
a melhoria da qualidade de produtos e ser- mento e protegendo o consumidor brasilei-
viços. ro no sentido de garantir a efetividade qua-
litativa e quantitativa do fornecimento de
A entidade promove cursos, palestras,
bens manufaturados. É órgão auxiliar e de
treinamento, fóruns, debates e ainda au-
apoio ao consumidor.
xilia o consumidor tirando suas dúvidas,
orientando, dando dicas e defendendo seus
interesses em ações judiciais.
Agências Regulatórias e
de Fiscalização
Fórum Nacional das Há ainda as agências regulatórias e de
Entidades Civis de Defesa fiscalização que devem atuar como órgãos
de apoio ao consumidor no que tange à
do Consumidor – FNECDC fiscalização dos principais fornecedores
Criado em 1997, visa fortalecer o movi- de serviços. Dentre elas, temos:
mento dos consumidores, objetivando ser
Agência Nacional de Telecomunica-
espaço de articulação, troca de informa-
ções – ANATEL;
ções e apoio em ações conjuntas entre enti-
dades civis do setor e o consumidor. Agência Nacional de Petróleo – ANP;
Agência Nacional da Energia Elétrica
Trata-se de entidade que objetiva mais
– ANEEL;
a orientação e um trabalho preventivo de
Agência Nacional de Saúde Suple-
conscientização dos consumidores.
mentar – ANS;
Instituto Nacional de Agência Nacional de Vigilância Sani-
tária – ANVISA;
Metrologia, Qualidade e Agência Nacional de Águas – ANA;
Tecnologia – INMETRO Agência Nacional dos Transportes
Terrestres – ANTT;
Trata-se de uma autarquia federal criada
com o objetivo de disciplinar, do ponto de Agência Nacional de Aviação Civil –
vista qualitativo, a produção e a comercia- ANAC (CARAFIZI, 2012).
lização de bens manufaturados, estabele-
cendo normas e procedimentos técnicos e
administrativos que promovam a melhoria
e regulamentem a verificação da qualidade
44

UNIDADE 4 – Legislação Imobiliária

4.1 Referente a profissão de providências.

Corretores de Imóveis Lei nº 8.078/1990 – dispõe sobre


proteção do consumidor, e dá outras pro-
Lei nº 4.116/1962 – revogada pela lei vidências.
6.530 - dispõe sobre a regulamentação do
exercício da profissão de corretor de imó- Lei nº 8.245/1991 – dispõe sobre as
veis. locações dos imóveis urbanos e os proce-
dimentos a elas pertinentes.
Lei nº 6.530/1978 – dá nova regula-
mentação à profissão de corretor de imó- Lei nº 9.256/1996 – altera o caput do
veis, disciplina o funcionamento de seus art. 53 e o § 3º do art. 63 da Lei nº 8.245,
órgãos de fiscalização, e dá outras provi- de 18 de outubro de 1991, que dispõe so-
dências. bre as locações dos imóveis urbanos e os
procedimentos a elas pertinentes.
Lei nº 10.795/2003 – altera os arts.
11 e 16 da lei nº 6.530, de 12 de maio de Lei no 10.931/2004 – dispõe sobre o
1978, para dispor sobre a eleição dos patrimônio de afetação de incorporações
conselheiros nos conselhos regionais de imobiliárias, Letra de Crédito Imobiliário,
corretores de imóveis e fixar valores má- Cédula de Crédito Imobiliário, Cédula de
ximos para as anuidades devidas pelos Crédito Bancário, e dá outras providên-
corretores a essas entidades, e dá outras cias.
providências. Lei nº 12.112/2009 – altera a Lei no
Lei nº 13.097/2015 – altera o art. 6 8.245, de 18 de outubro de 1991, para
da lei nº 6.530, de 12 de maio de 1978, e aperfeiçoar as regras e procedimentos
dá outras providências. sobre locação de imóvel urbano.

Dec. nº 81.871/1978 – regulamenta Lei nº 12.744/2012 – altera o art. 4o


a lei 6.530, de 12 de maio de 1978, que e acrescenta art. 54-A à Lei no 8.245, de
dá nova regulamentação à profissão de 18 de outubro de 1991, que “dispõe so-
corretor de imóveis, disciplina o funciona- bre as locações dos imóveis urbanos e os
mento de seus órgãos de fiscalização, e dá procedimentos a elas pertinentes”, para
outras providências. dispor sobre a locação nos contratos de
construção ajustada.
4.2 Relacionada ao merca- Lembramos que as leis estão sempre
do imobiliário em atualização, portanto, sugerimos con-
sultas regulares em sítios oficiais para a
Lei nº 4.591/1964 – dispõe sobre o
manutenção de sua atualização.
condomínio em edificações e as incorpo-
rações imobiliárias.
4.3 Relativa ao crédito imo-
Lei nº 6.766/1979 – dispõe sobre o
parcelamento do solo urbano, e dá outras biliário
45

Lei nº 4.380/1964 – institui a corre- Lei nº 11.977/2009 – dispõe sobre o


ção monetária nos contratos imobiliários Programa Minha Casa, Minha Vida – PM-
de interesse social, o sistema financeiro CMV – e a regularização fundiária de as-
para aquisição da casa própria, cria o Ban- sentamentos localizados em áreas urba-
co Nacional da Habitação (BNH), e Socie- nas.
dades de Crédito Imobiliário, as Letras
Imobiliárias, o Serviço Federal de Habita-
ção e Urbanismo, e dá outras providên-
cias.
Lei nº 5.741/1971 – dispõe sobre a
proteção do financiamento de bens imó-
veis vinculados ao Sistema Financeiro da
Habitação.
Lei nº 8.004/1990 – dispõe sobre a
transferência de financiamento no âmbi-
to do Sistema Financeiro da Habitação, e
dá outras providências.
Lei nº 8.036/1990 – dispõe sobre o
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, e
dá outras providências.
Lei nº 8.100/1990 – dispõe sobre o
reajuste das prestações pactuadas nos
contratos de financiamento firmados no
âmbito do Sistema Financeiro da Habita-
ção, vinculados ao Plano de Equivalência
Salarial, e dá outras providências.
Lei nº 8.692/1993 – define planos
de reajustamento dos encargos mensais
e dos saldos devedores nos contratos de
financiamentos habitacionais no âmbito
do Sistema Financeiro da Habitação, e dá
outras providências.
Lei nº 10.150/2000 – dispõe sobre
a novação de dívidas e responsabilidade
do Fundo de Compensação de Variações
Salariais – FCVS –, altera o Decreto nº
2.406, de 05.01.88, e as Leis nº 8.004, nº
8.100 e nº 8.692, de 14.03.90, 05.12.90
e 28.07.93, respectivamente, e dá outras
providências.
46

REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS BÁSICAS BONATTO, Cláudio; MORAES, Paulo Va-


lério Dal Pai. Questões Controvertidas no
AMARAL, Luiz Otavio de Oliveira. Teoria Código de Defesa do Consumidor: princi-
Geral do Direito do Consumidor. São Paulo: piologia, conceitos, contratos atuais. 5 ed.
Editora Revista dos Tribunais, 2010. rev. atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do
SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Advogado, 2009.
Responsabilidade civil no Código do Con- BRASIL, R. F. Função Social da Pro-
sumidor e a defesa do fornecedor. 3 ed. priedade. Uma Relevância Sócio Jurídica
São Paulo: Saraiva, 2010. (2005). Disponível em: <http://www.di-
TARTUCE, Flávio; NEVES, Daniel Amo- reitonet.com.br/artigos/exibir/2181/Fun-
rim Assumpção. Manual de direito do con- cao-social-da-propriedade-uma-relevan-
sumidor: direito material e processual. 5 cia-socio-juridica>
ed. São Paulo: Método, 2016. BRASIL. Agências reguladoras e tutela
dos consumidores. Série Pensando o Di-
REFERÊNCIAS reito. N. 21, 2010. Brasília: Ministério da
COMPLEMENTARES Justiça, 2010.

ALMEIDA, João Batista de. Manual de BRASIL. Constituição da República Fe-


Direito do Consumidor. 6 ed. São Paulo: derativa do Brasil/1988.
Saraiva, 2015. BRASIL. Decreto de 28 de setembro de
ANDRADE, Ronaldo Alves de. Curso de 1995. Cria a Comissão Nacional Perma-
Direito do Consumidor. Barueri: Manole, nente de Defesa do Consumidor, e dá ou-
2006. tras providências. Disponível em: <http://
www.presidencia.gov.br/> Acesso em: 26
BARRETO, Tainah Ramos. Incorporação jul. 2009.
imobiliária e o código de defesa do consu-
midor: a responsabilidade do fornecedor BRASIL. Lei n. 12.291 de 20 de julho de
pelo vício e fato do produto. Brasília: Uni- 2010, torna obrigatória a manutenção de
CEUB, 2012. exemplar do CDC nos estabelecimentos
comerciais e de prestação de serviços.
BENJAMIN, Antônio Herman de Vascon- Disponível em: http://www.planalto.gov.
cellos; MARQUES, Claudia Lima; BESSA, br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/
Leonardo Roscoe. Manual de Direito do L12291.htm
Consumidor. 7 ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2016. BRASIL. Lei n. 8.078 de 11 de setembro
de 1990. Dispõe sobre a proteção do con-
BENJAMIN, Antônio Herman de Vascon- sumidor e dá outras providências. Dispo-
cellos. O conceito jurídico do consumidor. nível em: http://www.planalto.gov.br/cci-
RT. São Paulo, v. 628, fev. 1988. vil_03/Leis/L8078compilado.htm
47

BRITO, Rodrigo Azevedo Toscano de. ponível em: http://www.crecisp.gov.


Incorporação imobiliária à luz do CDC. São br/servicos/servicos.asp?acao=glossa-
Paulo: Saraiva, 2002. rio&letra=Z

BULGARELLI, Waldírio. Publicidade en- FRANCO, Wanildo José Nobre. A posse


ganosa - aspectos da regulamentação le- e a propriedade (2006). Disponível em:
gal. Revista de Direito Mercantil, ano 24 http://www.boletimjuridico.com.br/dou-
(nova série), n. 58, abr.jun/1985. trina/texto.asp?id=1024

CAMBLER, Everardo Augusto. Publici- GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasilei-


dade: lançamento e venda de unidades de ro: direito das coisas. São Paulo: Saraiva,
edificações sem registro de incorporação. 2009.
Contratos de incorporação imobiliária.
HOLTHAUSEN, Fábio Zabot. Inversão
Lei n. 4.591/64. Rio de Janeiro, Forense,
do ônus da prova nas relações de consu-
2008.
mo: momento processual. Tubarão: Ed.
CARAFIZI, Valéria. Sou consumidor, Unisul, 2006.
fui prejudicado. A quais órgãos recorrer?
JORGE, H. H. Q. P. A Evolução Histórica
(2012). Disponível em: http://www.indike.
da Propriedade no Brasil sob a ótica do
com.br/dicas/2012/08/sou consumidor-
Direito Constitucional (2010). Disponível
-fui-prejudicado-a-quais-orgaos-devo-
em: <http://www.clubjus.com.br/?arti-
-recorrer/
gos&ver=2.28259>.
CHALHUB, Melhim Namem. Da incorpo-
MARQUES, Claudia Lima et al. Contratos
ração imobiliária. 3 ed. Rio de Janeiro: Re-
no Código de Defesa do Consumidor. 4 ed.
novar, 2010.
São Paulo: RT, 2002.
CHALHUB, Melhim Namem. Trust: pers-
MARQUES, Claudia Lima. In: SANTANA,
pectivas do Direito Contemporâneo a
Héctor Valverde. Dano moral no direito do
Transmissão da Propriedade para Admi-
consumidor. São Paulo: Revista dos Tribu-
nistração de investimentos e garantias.
nais, 2009.
Rio de Janeiro: Renovar, 2001.
NASCIMENTO, Tupinambá M. C. do. Co-
COMPARATO, Fábio Konder. Proteção
mentários ao Código de Defesa do Consu-
do consumidor: importante capítulo do
midor. Rio de Janeiro: Aide, 1991.
direito econômico. In: Defesa do consumi-
dor – textos básicos. 2 ed. Brasília: CNDC/ NONES, Nelson. Direito de propriedade
MJ, 1988. e função social: evolução histórico-jurídi-
ca. Revista Jurídica. V. 13, n. 25, 2009.
DUVAL, Hermano. A publicidade e a lei.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1975. PALUDO, Daniela Maria. Princípios ado-
tados pelo código de defesa do consumi-
FARIA, José Eduardo. Direito e globali-
dor (2005). Disponível em: http://www.
zação econômica: implicações e perspec-
univates.br/files/files/univates/gradu-
tivas. São Paulo: Malheiros, 1996.
acao/direito/PRINCIPIOS_ADOTADOS_
FOLHA DE SÃO PAULO - CRECI/SP. Dis- PELO_CODIGO_DO_CONSUMIDOR.pdf
48

PEDRON, Flávio Barbosa Quinaud; CAF- SMANIO, Gianpaolo Poggio. Interesses


FARATE, Viviane Machado. Evolução his- difusos e coletivos. 8 ed. v. 15. São Paulo:
tórica do Direito do Consumidor. Jus Navi- Atlas, 2007.
gandi, Teresina, ano 5, n. 41, 1 maio 2000
TRISTÃO, Ivan Martins. Aspectos Gerais
. Disponível em: <http://jus.com.br/revis-
da Incorporação Imobiliária no Novo Regi-
ta/texto/687
me do Patrimônio de Afetação e os Títulos
REUL, Rodrigo Araújo. A defesa do Decorrentes das Operações Imobiliárias.
consumidor e a falta de legislação espe- In: MARQUES FILHO, Vicente de Paula; DI-
cífica para a regulação do comércio ele- NIZ, Marcelo de Lima Castro (Org.). Incor-
trônico no Brasil (2009). Revista Direito poração Imobiliária & Patrimônio de Afe-
e liberdade, v.9, n.2 Disponível em: http:// tação. 1a ed. 4ª Tiragem. Curitiba: Juruá
www.esmarn.tjrn.jus.br/revistas/index. Editora, 2008.
php/revista_direito_e_liberdade/article/
TUTIKIAN, Claudia Fonseca; BRUSTO-
view/120
LIN, João Carlos. Mercado imobiliário: sua
RIOS, Arthur. Manual de Direito Imobili- evolução até a eclosão do patrimônio de
ário. 4 ed. Curitiba: Juruá, 2010. afetação. In: TUTIKIAN, Claudia Fonseca
(coord.). Moderno Direito Imobiliário, No-
RIZZARDO, Arnaldo. Condomínio Edilí-
tarial e Registral. São Paulo: Quartier La-
cio e Incorporação Imobiliária. 2 ed. Rio de
tin, 2011.
Janeiro: Forense, 2012.
ZAMPIERI, José Francisco. A defesa das
SANTANA, Héctor Valverde. In: MA-
relações de consumo: teorias, experiên-
QUES, Claudia Lima. Dano moral no direito
cias e o papel do ministério público fede-
do consumidor. São Paulo: Revista dos Tri-
ral. Porto Alegre: UFRGS, 2010.
bunais, 2009.

SILVA JUNIOR, João José da. Mini curso:


O Laudêmio e sua juridicidade. ENTIDADE
PROMOTORA: TV JUSTIÇA – STF. PROGA-
MA SABER DIREITO AULA Fevereiro/2012.
Disponível em: http://www.stf.jus.br/re-
positorio/cms/portalTvJustica/portalTv-
JusticaNoticia/anexo/Joao_Jose_da_Sil-
va_Junior.pdf

SILVA, Jorge Alberto Quadros de Carva-


lho. Cláusulas abusivas no Código de De-
fesa do Consumidor. São Paulo: Saraiva,
2004.

SILVA, Jorge Alberto Quadros de Carva-


lho. Código de Defesa do Consumidor Ano-
tado e legislação complementar. 3 ed. São
Paulo: Saraiva, 2003.
49

ANEXOS

GLOSSÁRIO ção.

Ação de despejo: pedido à Justiça feito Aluguel por temporada: aluguel de


por um proprietário, locador ou compra- imóvel com prazo máximo de 90 dias. A
dor de um imóvel para obrigar o inquilino lei nº 8.245, de 1991, admite a cobrança
a desocupá-lo. adiantada do valor acertado em contrato
escrito.
Ação revisional: pedido que tramita
na Justiça para que o valor do aluguel seja Amortização: pagamento periódico
igualado ao valor de mercado, para cima realizado para abater (reduzir) uma dívida.
ou para baixo. A revisão do aluguel não Nos financiamentos em geral, a amortiza-
pode ser pedida quando já existe um pra- ção é feita por uma das parcelas que com-
zo acertado de desocupação do imóvel. põem as prestações.

Agente fiduciário: criado pela lei nº Amortização extraordinária: paga-


6.404/76 (a “Lei das S/A”), é qualquer mento extraordinário (antes do prazo pre-
empresa credenciada pelo Banco Central visto) que deve corresponder a pelo me-
para, entre outras funções, promover a nos 10% do valor do saldo devedor.
execução extrajudicial de empréstimos Apólice: documento emitido pela com-
hipotecários vinculados ao SFH. panhia de seguro com os dados da cober-
Agente financeiro: instituição pública tura de risco do segurado.
ou privada que faz parte do Sistema Fi- Área comum: área de um condomínio
nanceiro Nacional. Sua função é coletar, que pode ser utilizada por todos os mora-
intermediar e aplicar recursos financeiros dores, como os corredores, o saguão, o sa-
seus ou de outros, com autorização do lão de festas e os locais de lazer. Também
Banco Central do Brasil. chamada área de uso comum.
Alienação fiduciária: ato de transfe- Área privativa: área de um imóvel so-
rência de um bem móvel ou imóvel do de- bre a qual o proprietário tem domínio to-
vedor para o credor, em garantia do paga- tal, delimitada pela superfície externa das
mento da dívida. O devedor detém a posse paredes.
direta do bem, para seu uso, e o credor de-
tém a posse indireta do bem, que fica em Área urbana: região de um município
seu domínio. Depois de quitar o emprés- que conta com melhoramentos mantidos
timo, o comprador adquire a propriedade pela prefeitura.
definitiva do bem. Área útil: soma das áreas internas de
Aluguel: cessão ou empréstimo de um cada cômodo do imóvel, de parede a pa-
bem em troca do pagamento de uma taxa rede, sem contar sua espessura. Antiga-
periódica por extensão, chamada pelo mente tinha o sugestivo nome “área de
mesmo nome, aluguel. O mesmo que loca- vassoura”.
50

Arrendamento mercantil: aluguel de dada em 1861 pelo imperador d. Pedro 2º,


um bem móvel ou imóvel (veículo, máqui- a Caixa, além de banco comercial, é a ins-
na, casa, apartamento) mediante o paga- tituição que mais financia a construção e
mento de contraprestações periódicas e compra de imóveis. Ela também adminis-
com a opção de compra ao final. tra, desde 1990, o Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço (FGTS) e patrocina o es-
Ata: registro das discussões e decisões porte e a cultura.
tomadas por uma assembleia, como a de
condomínio. Capital: soma de dinheiro que faz par-
te dos bens de uma pessoa ou uma em-
Averbação: anotação feita pelo Car- presa, e também a quantia de dinheiro fi-
tório de Registro de Imóveis de qualquer
nanciada a alguém.
alteração que diga respeito ao proprietá-
rio (chamada subjetiva) ou ao imóvel (ob- Capitalização de juros: acréscimo dos
jetiva), como a mudança no estado civil do juros cobrados ao capital inicial e ao saldo
dono ou no nome da rua do imóvel. devedor, provocando o cálculo de juro so-
bre juro, chamado juro composto ou capi-
Banco Central do Brasil (BC ou Ba-
talizado.
cen): autarquia federal criada em 1964
que formula, executa e acompanha a po- Carta de crédito: documento que con-
lítica monetária, emite o dinheiro brasilei- cede a alguém o empréstimo de certa
ro, organiza e disciplina o Sistema Finan- quantia. Costuma valer por 30 dias, às ve-
ceiro Nacional e fiscaliza as atividades do zes prorrogáveis.
Sistema Financeiro da Habitação (SFH).
Carteira Hipotecária (CH): linha de
Banco Nacional de Habitação (BNH): crédito habitacional criada pelo presiden-
órgão, extinto em 1986, responsável pela te Getúlio Vargas em 1936, hoje possui
fiscalização das atividades do Sistema Fi- regras de financiamento, prazo de paga-
nanceiro da Habitação (SFH) e substituído mento e taxas de juros definidas pelas
nessa função pelo Banco Central. instituições financeiras.
Benfeitorias: obras ou reparos realiza- Cartório de Registro de Imóveis: ór-
dos num imóvel para melhorar seu estado, gão onde são cadastrados todos os imó-
embelezá-lo ou solucionar um problema. veis de determinada região. Lá se encon-
tram as informações a respeito de cada
BNH: sigla de Banco Nacional de Habi-
imóvel sua matrícula, sua localização, seu
tação.
dono, sua situação jurídica, seu histórico,
Cadastro: documento com informa- todas as modificações por que passou.
ções sobre a idoneidade do inquilino ob-
Cartório de Títulos e Notas: entidade
tidas de serviços de proteção do crédito,
privada com reconhecimento público que
como o Serasa, o Cadastro de Proteção ao
guarda títulos e documentos, faz regis-
Inquilinato e cartórios de protesto de títu-
tros públicos e lavra (redige) contratos.
los.
Caução: garantia dada com títulos ou
Caixa Econômica Federal (CEF): fun-
coisas de valor (inclusive dinheiro) de que
51

determinada dívida contratual será paga maneira usual de se referir à taxa ou en-
(financiamento imobiliário, aluguel, entre cargo de condomínio. A taxa de condomí-
outros). nio resulta do rateio das despesas comuns
uma divisão de acordo com as proporções,
Certidão: documento expedido por um
ou cota, de cada imóvel, como a água e a
cartório que garante ser correto determi-
energia elétrica utilizadas nas áreas co-
nado registro, como o de um imóvel. As
muns, o salário dos funcionários e a ma-
certidões podem ser pedidas por qualquer
nutenção de elevadores.
pessoa, mediante o pagamento de uma
taxa. Contrato: acordo feito por escrito en-
tre pessoas, entre empresas ou entre em-
Certidão negativa: documento que
presas e pessoas. Cada lado se obriga a
comprova a existência ou não de ação ci-
cumprir o que está escrito no documento.
vil, criminal ou federal contra uma pessoa.
Um contrato entre partes adquire força de
Comissão: honorários (remuneração lei, a não ser que contrarie uma lei maior.
em dinheiro) pagos a imobiliária ou corre-
Contrato de adesão: documento im-
tor de imóveis por serviços de negociação
presso com normas (necessariamente em
e negócios de compra e venda ou adminis-
linguagem fácil e letras legíveis) que deve
tração.
ser assinado pela pessoa interessada em
Comprometimento de renda: per- aderir a um negócio ou iniciativa estabe-
centual máximo de sua renda que o pre- lecidos, como um consórcio, por exemplo.
tendente a um financiamento pode com-
Contrato de locação: contrato ver-
prometer mensalmente na prestação.
bal ou escrito, com prazo determinado ou
Compromisso de compra e venda: não, entre o locador e o locatário, que em
é o contrato entre duas partes em que o troca da cessão se compromete a pagar a
vendedor se compromete a vender seu taxa de aluguel acertada e cumprir outras
bem (imóvel ou móvel) e o comprador se determinações. Também chamado con-
compromete a comprá-lo nas condições trato de locação ou locatício.
acertadas. É também chamado contrato
Contrato de mútuo: o mesmo que mú-
de compra e venda ou promessa de com-
tuo.
pra e venda.
Cooperativa: sociedade com pelo me-
Comprovação de renda: exigência da
nos 20 membros que colaboram por um
instituição financeira de que o preten-
objetivo comum – serviço, produção, pou-
dente a financiamento comprove com do-
pança. As cooperativas habitacionais são
cumentos (contracheque, carteira de tra-
formadas para construir casas para os co-
balho, declaração do Imposto de Renda)
operados, que contribuem com cotas-par-
que ganha o suficiente para arcar com as
tes.
prestações.
CREA: Conselho Regional de Engenha-
Condomínio: edifício ou conjunto de
ria, Arquitetura e Agronomia.
casas que forma um todo e divide as des-
pesas comuns. Condomínio é também a CRECI: Conselho Regional de Correto-
52

res de Imóveis. contrato, como o de compra e venda, es-


crito por um tabelião ou oficial público e
Crédito habitacional: empréstimo
testemunhado por duas pessoas. O mes-
concedido pelas instituições financeiras
mo que instrumento público.
para comprar, construir, reformar ou fi-
nanciar casa própria. Execução: cumprimento de penalida-
des e sanções ou cobrança do que está
Credor: aquele que concede a alguém
previsto em contrato.
um crédito, um empréstimo.
Execução extrajudicial: processo de
Dação: entregar ao credor uma coisa
aplicação das penalidades previstas em
em pagamento de outra, como um imóvel
contratos sem recorrer à Justiça. A exe-
em lugar de dinheiro, para saldar uma dí-
cução fica sob a responsabilidade de um
vida.
agente fiduciário.
Denúncia vazia: rompimento de um
Execução judicial: processo que tra-
contrato de locação feito pelo locador e
mita na Justiça para aplicação das penali-
despejo do inquilino sem necessidade de
dades previstas em contratos.
apresentar motivos para retomar o imóvel
alugado. Aplica-se a contratos residen- FCVS (Fundo de Compensação das
ciais de 30 meses já vencidos ou descum- Variações Salariais): fundo que pagava
pridos e também a locações que tenham o saldo residual de contratos imobiliários
mais de cinco anos consecutivos. Obriga o assinados até 1993.
inquilino a desocupar o imóvel em até 30
FGTS (Fundo de Garantia do Tempo
dias.
de Serviço): conta de poupança aberta
DFI: sigla de seguro de Danos Físicos ao pelo empregador em nome do emprega-
Imóvel. do. Todo mês, o empregador deposita nela
8% do salário de seu funcionário. Essa
Direito de preferência: direito conce- conta rende 3% ao ano, mais a variação
dido por lei ao inquilino de que seja ofere-
mensal da TR. O saldo poderá ser resga-
cida primeiro a ele a compra do imóvel que
tado pelo empregado se for demitido ou
ocupa.
quiser financiar a casa própria pelo SFH.
Dívida: quantia que uma pessoa deve Fiador: pessoa que assume as obriga-
devolver a outra ou a uma instituição. Nos
ções (aluguéis, taxas, multas e correção)
contratos de financiamento imobiliário, a
de outro, quando este deixa de cumpri-
dívida atualizada chama-se saldo devedor.
-las.
Encargo mensal: o que é obrigatório Financiamento imobiliário: emprés-
pagar mensalmente. Nos financiamen-
timo concedido por instituições financei-
tos imobiliários, o encargo é a parcela de
ras para custear a construção, a reforma
amortização e os juros mensais pagos nas
ou a compra de um imóvel.
prestações somados às parcelas dos se-
guros MIP e DFI. Habite-se: autorização dada pela pre-
feitura para que se possa ocupar e utilizar
Escritura: documento autêntico de um
53

um imóvel recém-construído ou reforma- dos.


do. A autorização só é emitida depois de
Indexação: ajuste de um valor de acor-
o imóvel ter sido vistoriado por fiscais de
do com certo índice econômico – porcen-
obras (que comparam a construção com o
tagem que se aplica periodicamente ao
projeto aprovado) e de serviços públicos
valor para corrigir a moeda, garantindo
(corpo de bombeiros, companhias de luz,
seu poder aquisitivo.
gás, água e esgotos).
Juro: taxa percentual que é cobrada
Hipoteca: colocação de bens imóveis
periodicamente sobre um valor e consti-
e móveis (como aviões e navios) como ga-
tui o lucro do capital empregado (como em
rantia de pagamento de uma dívida. O de-
empréstimos) ou é paga sobre um valor
vedor detém a propriedade e a posse do
depositado (como em investimentos ban-
imóvel, que poderá ser tomado pelo cre-
cários).
dor por meio de execução judicial ou exe-
cução extrajudicial. Juro composto: juro acrescentado a
uma parcela que já contém outros juros,
Imposto de transmissão: chamado
determinando novo patamar para o cál-
em uns municípios de Imposto de Trans-
culo da parcela seguinte. Os juros com-
missão de Bens Imóveis e em outros de
postos ou capitalizados são usados em
Imposto de Transmissão Intervivos, é uma
praticamente todos os empréstimos, fi-
taxa proporcional ao valor de um imóvel
nanciamentos e compras a prazo.
ou direitos reais sobre bens imóveis, co-
brada pela prefeitura toda vez que há al- Juro simples: juro que é aplicado in-
teração na propriedade. tegralmente a uma quantia devida em
determinado tempo. Veja taxa nominal e
IPTU: com nomes diferentes conforme
taxa efetiva.
o município do país, Imposto Predial e Ter-
ritorial Urbano, Imposto sobre a Proprie- Juro de mora: juro cobrado como mul-
dade Predial e Territorial Urbana e outras ta por causa da mora (demora, atraso) no
variações , é uma taxa baseada no valor pagamento de uma dívida. São cobrados
venal do imóvel cobrada dos proprietários por dia de retardamento, às vezes inde-
pela prefeitura. pendentemente da aplicação de outro
percentual fixo de multa. Por exemplo:
Inadimplência ou inadimplemento:
10% após o vencimento mais juro de mora
descumprimento de uma obrigação, como
de 0,3% ao dia.
o pagamento de dívidas e prestações imo-
biliárias. Laudêmio: pagamento que o proprie-
tário de um imóvel à venda deve fazer ao
Incorporador(a): pessoa/empresa
proprietário com direito real. É feito, por
que contrata a construção de imóveis
exemplo, na venda de imóveis que origi-
(apartamentos ou casas) em sistema de
nariamente pertencem à União, como to-
condomínio e os vende em prestações an-
dos os que se localizam na orla marítima.
tes mesmo de estarem prontos, compro-
metendo-se por contrato a entregá-los Lei do Inquilinato: nome popular da lei
dentro de prazo e condições determina- que regula as locações urbanas. A lei em
54

vigor é a nº 8.245, de 1991. Mútuo: Contrato de reciprocidade pelo


qual o proprietário (mutuante) transfere
Liquidação antecipada: pagamento
um bem fungível a outro (mutuário), que
total de uma dívida antes do prazo fixado
deve restituir o que foi emprestado em
em contrato.
gênero, qualidade e quantidade. Os con-
Locação imobiliária: o mesmo que tratos de financiamento imobiliário são
aluguel. um exemplo de mútuo.

Locador: proprietário de um imóvel ou Ordem de despejo: mandado da Jus-


seu representante que aluga um imóvel a tiça que obriga o inquilino a desocupar o
outra pessoa, o locatário. Locador é sinô- imóvel em determinado prazo.
nimo de senhorio.
PCR (Plano de Comprometimento de
Locatário: pessoa que aluga um imó- Renda): plano utilizado em financiamen-
vel e paga o aluguel e outras taxas. Tam- tos imobiliários que limita, no máximo,
bém chamado de inquilino. a 30% o emprego da renda familiar nas
prestações.
Matrícula do imóvel: número de regis-
tro do imóvel no cartório, o mesmo desde PES/CP (Plano de Equivalência Sala-
sua construção. rial por Categoria Profissional): plano
que estabelecia o reajuste de prestações
Metro quadrado: principal unidade de financiamentos imobiliários do SFH de
(m2) de medida de área (superfície) e uni- acordo com o reajuste salarial concedido
dade-padrão do Sistema Internacional de à categoria profissional do mutuário. Foi
Unidades. adotado de 1984 a 1993.
MIP: o mesmo que seguro de morte e Prestação: pagamento a prazo para
invalidez permanente. liquidar uma dívida. É também a própria
Mora: demora, atraso, retardamen- quantia em dinheiro paga periodicamen-
to na execução de uma obrigação. Quem te. No caso dos financiamentos imobiliá-
não efetua um pagamento na data marca- rios, as prestações são compostas de uma
da está em mora. Também está em mora parcela de amortização e outra de juros,
quem se recusa a receber um pagamento mais as parcelas do seguro pessoal e do
no prazo e da maneira estipulada. imóvel.

Multa: penalidade imposta aos que não Procuração: documento registrado


cumprem leis, regulamentos, contratos. em cartório pelo qual uma pessoa conce-
de a outra o poder de agir em seu nome
Mutuante: pessoa ou instituição que em determinadas situações, como admi-
assina um mútuo emprestando a outra nistrar um imóvel ou cobrar aluguéis.
um bem fungível (que pode ser substitu-
ído por outro da mesma espécie e quanti- Proponente: pessoa que apresenta na
dade), como dinheiro, por exemplo. instituição financeira um pedido para ob-
ter financiamento.
Mutuário: aquele que recebe um bem
fungível num contrato de mútuo. Quitação: o ato de quitar, pagar inte-
55

gralmente, uma dívida. É também a de- a mais e deve receber a quantia de volta.
claração de que a dívida foi inteiramente Se positivo, o mutuário pagou a menos
paga (recibo de pagamento, termo de qui- (por erros de cálculo) e ainda deve ao cre-
tação). dor.

Quórum: número mínimo de pessoas SAM (Sistema de Amortização Misto):


necessário para realizar uma assembleia modo de cálculo de prestações de finan-
deliberativa, como numa assembleia de ciamentos que utiliza a média aritmética
condôminos. da prestação calculada pela Tabela Price e
pelo Sistema de Amortização Constante.
Reajuste: aplicação de juro e correção
monetária ao saldo devedor e ao encargo Securitização: conversão de emprés-
mensal, de acordo com o índice estipulado timos bancários e outros ativos em títu-
em contrato. los (securities, em inglês) para vendê-los
a investidores. A instituição que fez o
Recebível: certificados de recebíveis
empréstimo vende-o a uma empresa se-
imobiliários. Securitização.
curitizadora. Com lastro nesse crédito, a
Rescisão: rompimento ou anulação de securitizadora emite “certificados de re-
um contrato. cebíveis imobiliários”, ou simplesmente
recebíveis, postos à venda para investi-
Reserva de propriedade: direito dado dores. A securitização do crédito imobi-
ao vendedor, em compromissos de com-
liário pode ser feita quando a instituição
pra e venda, de se manter proprietário do
financeira o concedeu de acordo com a lei
bem que está sendo vendido, até que o
nº 9.514, que criou o Sistema de Financia-
comprador cumpra as obrigações previs-
mento Imobiliário (SFI).
tas no contrato.
Seguro de danos físicos ao imóvel
Revisional: o mesmo que ação revisio- (DFI): apólice obrigatória, junto com a
nal. de morte e invalidez permanente (MIP),
SAC: sigla de Sistema de Amortização quando se contrai financiamento com
Constante. uma instituição financeira. O DFI, que co-
bre danos causados por incêndio, inunda-
SACRE: sigla de Sistema de Amortiza- ção, entre outros, é pago em parcelas ao
ção Crescente. longo de todo o financiamento.
Saldo devedor: o que resta pagar de Seguro de morte e invalidez perma-
uma dívida. Nos financiamentos imobiliá- nente (MIP): apólice obrigatória, como a
rios, é reajustado mensalmente de acordo de danos físicos ao imóvel (DFI), ao se con-
com o índice e a taxa de juro estipulados trair financiamento com uma instituição
em contrato. financeira. Se duas pessoas contraíram
Saldo residual: é o que resta a mais ou um financiamento imobiliário e uma delas
a menos de uma dívida quando vencido o morre, a companhia seguradora paga o
prazo contratado. Se o saldo é negativo saldo devedor proporcionalmente.
(por exemplo, -R$ 847), o mutuário pagou Seguro-fiança: seguro que substitui o
56

fiador nos contratos de locação e garante Sistema Financeiro Nacional: con-


o pagamento do aluguel e dos encargos. junto formado pelo Conselho Monetário
Nacional (CMN), pelo Banco Central do
SFH: sigla de Sistema Financeiro da Ha-
Brasil, pelo Banco Nacional de Desenvol-
bitação.
vimento Econômico e Social (BNDES), pelo
SFI: sigla de Sistema Financeiro Imobi- Banco do Brasil e pelas instituições finan-
liário. ceiras públicas e privadas.

Sinal: quantia ou valor que o compra- Sistema Francês de Amortização: o


dor entrega ao vendedor para assegurar mesmo que Tabela Price.
a conclusão do negócio e com a função de
Tabela Price (TP): método de cálcu-
primeira parcela. Sinônimo de entrada e
lo das prestações de financiamentos que
arras.
tem, como os outros sistemas, duas par-
Sistema de Amortização Constante celas: uma de amortização e outra de ju-
(SAC): método de pagamento de uma dí- ros. Ao longo do prazo de financiamento, a
vida em que a parcela de amortização (um primeira aumenta, e a segunda decresce.
dos componentes da prestação) é cons- A Tabela Price é também chamada Siste-
tante e a parcela de juros, que incide so- ma Francês de Amortização.
bre o saldo devedor, é decrescente ao lon-
go do prazo de financiamento.
Taxa efetiva: é a taxa resultante da
aplicação periódica do juro previsto na
Sistema de Amortização Crescente taxa nominal. Por exemplo, a uma taxa
(SACRE): método de cálculo e reajuste de nominal de 12% ao ano, a taxa efetiva
prestações de financiamento, o SACRE é será de 1% ao mês. Como a aplicação des-
muito parecido com o Sistema de Amor- se percentual é feita mês a mês, juro so-
tização Constante. A diferença está no bre juro, a taxa total, no final de um ano,
modo de aplicar a taxa referencial (TR) à não será mais os 12% contratados, e sim
fórmula que define a prestação, provo- 12,68%.
cando a variação da amortização.
Taxa nominal: é a taxa de juro firmada
Sistema de Financiamento Imobiliá- em contrato que se acrescentará às pres-
rio (SFI): criado em 1997 pela lei nº 9.514 tações. Nos contratos de financiamento
(20/11/1997) como alternativa ao Siste- imobiliário pelo SFH, por exemplo, a taxa
ma Financeiro da Habitação e à Carteira nominal máxima é de 12%. Veja taxa efe-
Hipotecária, o sistema autoriza a securiti- tiva.
zação dos créditos imobiliários e introduz
a alienação fiduciária no mercado imobili- Terreno: área onde serão construídas
ário. edificações ou que servirá para a agricul-
tura ou a pecuária. É um bem imóvel, como
Sistema Financeiro da Habitação as casas e os apartamentos.
(SFH): sistema criado em 21/08/1964
pela lei nº 4.320, a fim de captar recur- TP: sigla de Tabela Price.
sos para a área habitacional e financiar a TR: taxa referencial, definida todo mês
construção e a compra da casa própria. pelo Banco Central de acordo com a remu-
57

neração média das aplicações bancárias. É servicos.asp?acao=glossario&letra=Z


a referência para reajustes da caderneta
de poupança e de diversos tipos de con-
trato e dívida, inclusive financiamentos
imobiliários.

Transmissão: cada uma das transfe-


rências de propriedade, de direitos ou de
obrigações entre pessoas ou por herança.

Usucapião: aquisição de um imóvel por


se estar de posse dele de dez a 20 anos,
em diferentes situações legais.

Usufruto: direito dado a uma pessoa


de usar um bem que não é seu e usufruir
os frutos (aquilo que esse bem produz).
Caso se trate de imóvel, o usufruto deve
ser inscrito no Cartório de Registro de
Imóveis.

Valor de mercado: valor de compra e


venda que um imóvel atinge na prática e
que é atribuído por especialistas no setor.

Valor venal: valor atribuído pela pre-


feitura a cada imóvel, levando em conta
sua metragem, localização, destinação e
características. Literalmente, valor venal
significa valor de venda.

Vintenária: é a certidão emitida pelo


Cartório de Registro de Imóveis contendo
o histórico do imóvel nos 20 anos anterio-
res.

Zoneamento: divisão de um município


em zonas com características urbanísticas
(destinação, tipo de construção e de ativi-
dade) específicas: residencial, comercial,
mista (comercial e residencial), industrial,
área de preservação cultural, de preser-
vação de mananciais, entre outras.

Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO - CRECI/SP.


Disponível em: http://www.crecisp.gov.br/servicos/
58

Você também pode gostar