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O DIREITO CONSTITUCIONAL À MORADIA E A AS AÇÕES DE


REINTEGRAÇÃO DE POSSE

THE CONSTITUTIONAL RIGHT TO HOUSING AND ACTIONS OF


REINTEGRATION OF POSSESSION

Renata Iara Barbosa Marinho1

Resumo: Objetiva-se, através do presente artigo científico, tratar acerca do direito


constitucional à moradia e, concomitantemente, do direito à propriedade,
consubstanciado na utilização da ação de reintegração de posse. Trata-se, sobretudo,
de uma relação de conflito entre tais direitos fundamentais. É cediço que muitos
cidadãos não possuem condições financeiras para adquirirem um imóvel e, dessa
forma, valem-se de atos de ocupação de terras e propriedades privadas. Nesse esteio,
observa-se de um lado os atos de ocupação por parte daqueles que possuem o direito
a uma moradia digna e, do outro lado, aqueles que são os proprietários de tais terras
invadidas, que possuem direito de serem reintegrados à posse. Em decorrência da
temática realçada, tem-se que o julgador deverá realizar uma ponderação de valores,
direitos e princípios, para que se tenha uma decisão equânime. Da mesma forma, faz-
se precípuo considerar a denominada “função defensiva dos direitos fundamentais”,
olhando-se para a parte mais vulnerável da situação jurídica vivenciada. Ademais,
caso se constate que a propriedade em discussão não cumpre com a função social,
que se mostra improdutiva, deverá ser destinada para aqueles que possam fazer bom
uso da mesma. Com relação à metodologia, tem-se que o presente artigo foi realizado
por meio da pesquisa bibliográfica, doutrinária e jurisprudencial, haja vista tratar-se de
um tema puramente teórico.

Palavras-chave: Direito à moradia. Direito à propriedade. Ação de reintegração de


posse. Esbulho. Função social da propriedade.

Abstract: The aim of this scientific article is to address the constitutional right to
housing and, concomitantly, the right to property, embodied in the use of the
repossession action. It is, above all, a relationship of conflict between these
fundamental rights. It is certain that many citizens do not have the financial conditions
to acquire a property and, therefore, they resort to acts of occupation of land and
private properties. In this framework, one can observe, on the one hand, the acts of
occupation by those who have the right to decent housing and, on the other hand,
those who are the owners of such invaded lands, who have the right to be
repossessed. As a result of the highlighted theme, the judge must carry out a weighting

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Acadêmica do curso de Direito do Centro Universitário UNA- Campus Bom Despacho/MG.
renatakakabarbosa@gmail.com. Artigo apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso
de Graduação em Direito do Centro Universitário UNA. 2021. Orientador: Prof. Gilberto de Andrade
Pinto. Mestre em Teoria do Direito, professor universitário e advogado.
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of values, rights and principles, so that an equitable decision can be made. Likewise,
it is essential to consider the so-called “defensive function of fundamental rights”,
looking at the most vulnerable part of the legal situation experienced. Furthermore, if
it is found that the property under discussion does not fulfill its social function, which
proves to be unproductive, it should be destined for those who can make good use of
it. Regarding the methodology, this article was carried out through bibliographical,
doctrinal and jurisprudential research, given that it is a purely theoretical theme.

Keywords: Right to housing. Right to ownership. Repossession action. Scouring.


Social function of property.

1 INTRODUÇÃO

É cediço que o direito à moradia se constitui como um direito fundamental a


todos os cidadãos e, concomitantemente, tem-se também o direito à propriedade,
consubstanciado na utilização da ação de reintegração de posse. Trata-se, sobretudo,
de uma relação de conflito entre tais direitos fundamentais.
Desta forma, trata-se no presente artigo científico, acerca da prevalência do
direito à moradia ou do direito à propriedade, quando estiverem sob a mesma
perspectiva de análise.
Para alcançar tal intento, tem-se que o mencionado artigo aborda sobre o
direito à moradia e o direito à propriedade, ressaltando conceitos e elementos
pertinentes.
Posteriormente, há uma análise sobre a diferença entre posse e propriedade,
sobre elementos relativos à função social da propriedade.
Ademais, ressalta-se sobre as espécies de ações possessórias, enfatizando
acerca da denominada “ação de reintegração de posse” e também sobre a usucapião.
Além dos elementos suscitados, aborda-se no tópico principal sobre o direito
constitucional à moradia e também sobre o direito à propriedade, consubstanciado
nas ações de reintegração de posse. Neste esteio, apresentam-se posicionamentos
doutrinários e jurisprudenciais acerca da temática realçada. Com relação à
metodologia, tem-se que o presente artigo foi realizado por meio da pesquisa
bibliográfica, doutrinária e jurisprudencial, haja vista tratar-se de um tema puramente
teórico.

2 DIREITO À MORADIA E O DIREITO À PROPRIEDADE

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 6º, consagra o direito à moradia


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como direito social, através da Emenda Constitucional nº. 26, de 2000. Neste esteio,
consoante Gilmar Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco (2012), a Carta
Constitucional estabelece como direitos sociais a educação, saúde, alimentação, o
trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, previdência social, proteção à maternidade
e à infância, e a assistência aos desamparados.
Assim dispõe o art. 6º da Constituição Federal: “São direitos sociais a
educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social,
a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição” (BRASIL, 1988).
Desta forma, o direito à moradia é um direito social, e como tal, integra às
liberdades públicas (direitos individuais), sendo assim, são direitos subjetivos. Assim,
“não são meros poderes de agir, como ocorre nas liberdades públicas, mas sim
poderes de exigir constituindo, assim, verdadeiros direitos de crédito” (OLIVEIRA;
FERREIRA, 2014).
Destaca-se, ademais, que o direito à moradia estabelece a competência
comum entre os entes da Federação com vistas à promoção de programas de
construção de moradias e de melhorias das condições de habitação e de saneamento
da população (FERNANDES, 2011).
Nas palavras do autor supramencionado:

Isso significa que todos têm direito à uma residência – não importando a
forma física que assuma (se uma casa, um apartamento, etc.), para nela
habitar. Não pode ser confundido com o “direito à casa própria “, mas apenas
a garantia de um teto capaz de abrigar o indivíduo sozinho ou com sua família.
Para muitos autores, todavia, fica claro que tal direito deve ser lido à luz dos
parâmetros fixados pela dignidade humana, sendo implícito, em seu espectro,
que tal edificação tenha dimensões adequadas para abrigo do indivíduo e
familiares, bem como proporcione as mesmas condições de higiene,
privacidade e conforto mínimos (FERNANDES, 2011, p. 491).

Neste contexto, observa-se que a diretriz preconizada no art. 23, inciso IX, da
CF/88, não pode ser considerada “uma pauta retórica, antes é um dever constitucional
atribuível a todos os entes federados” (RANGEL; SILVA, 2011).
Em tom supletivo, compreende-se que, ao tratar do direito à moradia, parte da
ideia de dignidade da pessoa humana prevista no art. 1.º, III, direito à intimidade e à
privacidade e de ser a casa asilo inviolável, previstos no art. 5.º, X e XI,
respectivamente. Portanto, não existe dúvida ao assegurar o direito à moradia, a
Constituição busca consagrar não apenas a habitação em si, mas também, que seja
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digna e adequada, sendo por este motivo, atribuição de todos os entes da federação
o combate da pobreza e da marginalização, conforme prevê o art. 23, X, com objetivo
precípuo de integrar socialmente aos menos favorecidos (LENZA, 2018).
Observa-se também que há uma proteção do bem de família, conforme a Lei
n. 8.009/90, que encontrou fundamento no art. 6.º da Constituição Federal. “Entre as
ressalvas da referida lei, ou seja, não proteção mesmo em se tratando do único bem
imóvel, está a figura do fiador em contrato de aluguel (art. 3.º, VII)” (LENZA, 2018, p.
1184).
Sobre o bem de família, Gilmar Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco
dissertam:

Submetida a questão ao Plenário, o Tribunal entendeu que a garantia da


impenhorabilidade do bem de família não assumia caráter absoluto,
assentando que “não repugna à ordem constitucional que o direito social de
moradia — o qual, é bom observar, não se confunde, necessariamente, com
direito à propriedade imobiliária ou direito de ser proprietário de imóvel —
pode, sem prejuízo doutras alternativas conformadoras, reputar-se, em certo
sentido, implementado por norma jurídica que estimule ou favoreça o
incremento da oferta de imóveis para fins de locação habitacional, mediante
previsão de reforço das garantias contratuais dos locadores (MENDES;
BRANCO, 2012, p. 514).

O direito à moradia também foi tratado no rol de direitos humanos, e foi inserido
no rol garantidor destes direitos a partir da Declaração Universal dos Direitos
Humanos de 1948, o que inovou, trazendo uma dimensão de direitos sociais de forma
inovada, visto que estabelece a valorização e a promoção de uma vida de qualidade
e com dignidade, para todas as gerações.
Segundo a Defensoria Pública do Estado de São Paulo (2012, p. 03): “A
moradia deve resguardar o bem estar e a saúde do indivíduo, com infraestrutura
básica, além de estar em local que permita acesso ao emprego, serviços de saúde,
educação e outros serviços de assistência social.”
Nesse contexto, complementa Fachin:

A Constituição brasileira de 1988, conectada com a base de valores da


Declaração Universal, assegura, entre outros, os seguintes direitos
fundamentais sociais: a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade, a proteção à
infância e a assistência aos desamparados (art. 6.º). Tais direitos estão
vinculados ao princípio da igualdade (FACHIN, 2012, p. 347).

Um aspecto importante acerca do direito à moradia é a regularização fundiária,


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assim esclarecida pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo:

As ocupações irregulares são fruto do processo de urbanização acelerado e


desordenado que tem marcado o crescimento das grandes cidades nas
últimas décadas. Geralmente, as ocupações irregulares estão associadas à
população de baixa renda que ficou excluída, por negligência do Estado em
viabilizar o acesso à terra. A regularização fundiária é a forma de transformar
uma moradia irregular em regular, garantindo-se segurança na posse, além
de ser o primeiro passo para permitir que a área seja integrada à cidade, o
que possibilita a reivindicação de melhorias sociais para a área
(DEFENSORIA PÚBLICA DE SÃO PAULO, 2012, p. 05).

O direito à moradia, não é apenas o direito a uma casa própria, mesmo que
este seja o principal elemento que efetive este direito. É muito mais complexo, pois
mesmo que exista a habitação, pode não existir qualidade de vida, condições
apropriadas de higiene e conforto, e que naquele ambiente, seja favorável à
preservação da intimidade de cada pessoa integrante da família, bem como a
privacidade da família como um todo.
Diante disto, a Constituição Federal estabeleceu inúmeras garantias, no que se
refere ao direito de moradia. Desta maneira, o legislador infraconstitucional criou leis
para tentar dirimir o problema das invasões indiscriminadas em propriedades alheias,
bem como do grande número de famílias que não têm onde morar.

2.1 O DIREITO À PROPRIEDADE

De acordo com Bernardo Gonçalves Fernandes (2011), para muitos autores, a


propriedade possui mais elementos de ordem política que necessariamente jurídica,
por este motivo, por muito tempo, foi considerado um dos mais importantes direitos
naturais, assegurado nas declarações de direitos da época do surgimento do
constitucionalismo.
No mesmo contexto avençado, aduz Fachin:

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, publicada na França em


1789, assegurava o direito de propriedade como “um direito inviolável e
sagrado” (art. 16). Desde então, as Constituições dos países ocidentais
passaram a assegurar este direito (FACHIN, 2012, p. 284).

No sentido apresentado, Rangel e Silva (2011) discorrem que:

O direito de propriedade se orienta pelos princípios constitucionais da


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dignidade da pessoa humana, solidariedade social, da igualdade e da função


social da propriedade. Tais princípios, que ocupam o topo da pirâmide
normativa, dão sustentáculo aos direitos fundamentais instituídos pela
Constituição Federal de 1988 (RANGEL; SILVA, 2011, p. 247).

Destaca-se que a Constituição de 1988 disciplinou no art. 5º e em outros


capítulos disposições acerca do direito de propriedade. No âmbito do art. 5º, o tema é
tratado em sentido amplo, nos incisos XXII a XXXI, que contemplam o direito de
sucessão, o direito autoral e o direito de propriedade imaterial, dentre outros
(MENDES, BRANCO, 2012).
Ademais, tem-se a lição de Bernardo Gonçalves Fernandes:

A atual proteção à propriedade (art. 5º, XXII, e art. 170, II, da CR/88) é
abrangente, incluindo o patrimônio e sob esse título os direitos reais, os
direitos pessoais e as propriedades literárias e artísticas, as invenções e as
descobertas.[954] Mas, a noção de patrimônio inclui ainda o conjunto, não
apenas de direitos, mas ainda de obrigações de um indivíduo. Coligado
também ao direito de propriedade está a proteção constitucional à herança
(art. 5º, XXX, da CR/88) (FERNANDES, 2011, p. 320).

Nesse contexto, vislumbra-se que as tendências socializantes, trouxeram uma


alteração na feição do instituto, o que levantou a tese de que a propriedade seria um
direito provisório que se diluiria à coletivização das massas (FERNANDES, 2011).
Consoante tal afirmação, Rangel e Silva (2011) corroboram: “o conceito do
direito de propriedade evoluiu a ponto de ser tratado em caráter transdisciplinar, eis
que encontra guarida e fundamento tanto no Direito privado quanto no Direito público.”
Desta forma, a propriedade não tem apenas o caráter privado e exclusivo, sendo
relativizado, em benefício da função social.
No aspecto realçado, abstrai-se que não se trata de um direito absoluto, haja
vista que o direito à propriedade poderá ser relativizado:

Esse direito não é absoluto, visto que a propriedade poderá ser


desapropriada por necessidade ou utilidade pública e, desde que esteja
cumprindo a sua função social, será paga justa e prévia indenização em
dinheiro (art. 5.º, XXIV). Por outro lado, caso a propriedade não estejam
atendendo a sua função social, poderá haver a chamada desapropriação-
sanção pelo Município com pagamentos em títulos da dívida pública (art. 182,
§ 4.º, III) ou com títulos da dívida agrária, pela União Federal, para fins de
reforma agrária (art. 184), não abrangendo, nesta última hipótese de
desapropriação para fins de reforma agrária, a pequena e média propriedade
rural, assim definida em lei, e não tendo o seu proprietário outra, e a
propriedade produtiva (art. 185, 1 e II) (LENZA, 2018, p. 1096).
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Neste esteio, tem-se que a propriedade é urbana ou rural: “a distinção entre


uma e outra leva em consideração as circunstâncias fáticas e as disposições legais.”
(FACHIN, 2012, p. 285).
Com relação às circunstâncias fáticas, em caso de não cumprimento da função
social, terá a denominada “desapropriação- sanção”:

A chamada desapropriação-sanção, conforme pelo Município com


pagamentos em títulos da dívida pública (art. 182, § 4.º, III) ou com títulos da
dívida agrária, pela União Federal, para fins de reforma agrária (art. 184), não
abrangendo, nesta última hipótese de desapropriação para fins de reforma
agrária, a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, e não
tendo o seu proprietário outra, e a propriedade produtiva (art. 185, 1 e II).
(LENZA, 2018, p. 1096).

No entendimento de Vicente de Paulo e Marcelo Alexandrino:

A propriedade privada é tratada como princípio da ordem econômica,


significando que é admitida a apropriação privada dos meios de produção, ou
seja, que o Brasil obrigatoriamente é um Estado capitalista. A propriedade,
entretanto, deve atender a sua função social. Essas regras, de forma
genérica, encontram-se no art. 5. °, incisos XXII e XXIII, como direitos e
garantias fundamentais (PAULO; ALEXANDRINO, 2011, p. 926, grifos dos
autores).

Pelo exposto, pode-se entender que sobre o direito de propriedade não existe
força absoluta, visto que o art. 5º, XXIII, da Constituição lhe retira a noção
individualista típica do século XVIII. Desta forma, a propriedade não pode ser
entendida como um direito absoluto, visto que, caso não seja respeitada a sua função
social, serão tomadas as medidas restritivas previstas em nosso ordenamento jurídico
(FERNANDES, 2011).
Neste sentido, expõe Cynthia Siqueira de Rezende Souza:

Por muito tempo teve-se a noção de propriedade absoluta, hoje com a


concepção do Estado do Bem Estar Social, a função social da propriedade
ganhou forma consistente. Como fonte de deveres fundamentais, dá-se a
propriedade a função de acolher a determinação constitucional de que ela
atenderá as suas funções sociais, conforme o art. 5°, XXIII da CRFB/1988. A
propriedade está vinculada a atender sua função social e seu uso deve servir,
por igual, ao bem estar da coletividade, uma vez que se trata de garantia
fundamental, portanto de aplicação imediata no sistema constitucional
vigente nos pais (SOUZA, 2012).

Portanto, a propriedade deve oferecer uma maior utilidade à coletividade.


Sendo assim, caso o proprietário, não proporcione à sua propriedade, a destinação
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social que atenda aos interesses públicos, poderá incorrer na perda da sua
propriedade.

2.2 POSSE E PROPRIEDADE- DISTINÇÕES EXISTENTES

Dentre os aspectos mais discutidos no âmbito do Direito Civil, encontram-se o


instituto da posse e da propriedade. Nesse esteio, algumas teorias são apresentadas,
objetivando maior compreensão acerca de tais direitos e garantias. Consoante a teoria
de Savigny, uma teoria subjetiva, faz-se necessário que o indivíduo seja possuidor da
coisa, ou seja, detenha o denominado “corpus”, além do “animus” de possuir a coisa
como se fosse sua. Portanto, compreende-se que não basta que o indivíduo tenha a
coisa para que se fale em posse.
De outro modo, encontra-se a teoria de Ihering, uma teoria objetiva, onde fala-
se em posse nos casos em que o indivíduo apenas tenha a coisa junto de si, ignorando
questões de interesse de possuir ou não, haja vista que, diante da posse do corpus,
o “animus” (intenção) já se encontraria presente. Desse modo, para o jurista, a posse
se constitui como um direito real, haja vista que a conduta demonstrada pelo indivíduo
já pode ser traduzida como se o mesmo fosse o verdadeiro dono da coisa. Acerca do
assunto em questão, pondera Gomes:

A posse é um direito exercido tal como direito de propriedade, ou qualquer


outro direito real, consequentemente, sem exigência de animus domini, de
modo incidência abrange várias espécies de pessoas, dentre as quais cita o
usufrutuário, o locatário, o transportador, o mandatário, o depositário, o
administrador, o testamenteiro e tantos outros que utilizam coisa alheia por
força de um direito ou obrigação (GOMES, 2017, p. 29).

Nota-se que o ordenamento jurídico acolheu a teoria objetiva, no art. 1.196 do


Código Civil Brasileiro, que “considera-se possuidor todo aquele que tem o exercício,
pleno ou não, de um dos poderes inerentes à propriedade (usar, gozar, dispor e
reivindicar) (TARTUCE; SARTORI, 2014).
Destarte, a posse é configurada quando o possuidor exterioriza um dos poderes
inerentes ao de proprietário, isto é, age como se fosse dono.
Nesse contexto, Gonçalves (2019) exemplifica uma situação típica e habitual,
de um indivíduo que se instala em um imóvel, mantendo-se ali de forma mansa e
pacifica, por mais de ano e dia, causa uma situação possessória, da qual garante o
direito à proteção jurídica. Na percepção do autor, a proteção da posse se dá para
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evitar a violência e assegurar a paz social, visto que a situação fática se delineia como
situação de direito.
Em caráter supletivo, deduz-se que “em razão de ter sido acolhida a teoria
objetiva, é possível que várias pessoas, sob títulos diversos, exerçam a posse sobre
um mesmo bem. Afirma-se, então, que a posse pode ser desdobrada em posse direta
e posse indireta.” (TARTUCE; SARTORI, 2014).
Será direta se for exercida por quem estiver com a coisa em seu poder. E
indireta quando quem exercer um dos poderes inerentes à propriedade, não estiver
com a coisa em seu poder. Desse modo, o proprietário que aluga o seu bem, transfere
a posse direta ao locatário, mas conserva para si a posse indireta, visto que pode
dispor da mesma ou reivindicá-la.
Seguindo este raciocínio, observa-se as lições de Coelho:

Posse é o exercício de fato de um ou mais poderes característicos do direito


de propriedade. Essa noção deriva do conceito de possuidor, com o qual o
Código Civil inaugura o Livro III da Parte Especial, atinente ao direito das
coisas (art. 1.196). Quem titula a posse de algum bem age, assim, tal como
o seu proprietário. O possuidor pode ser, e muitas vezes é, também o titular
do direito de propriedade. Mas, mesmo não sendo o proprietário, o possuidor
tem certos direitos tutelados pela ordem jurídica. Aliás, ele está protegido, em
alguns casos, até mesmo contra o proprietário (COELHO, 2020, p. 157).

Ao contrário da posse, o conceito de propriedade é mais abrangente, garantido


no art. 5.º, XXII, da Constituição Federal, regulamentado pelo art. 1.228, caput, do
Código Civil, que prevê o direito de usar, gozar e dispor da coisa, bem como o direito
de reavê-la do poder de quem injustamente a possua ou detenha, inerente ao
proprietário.
Nesse prumo, preleciona Coelho acerca das diferenciações precípuas entre os
mencionados institutos:

Posse e propriedade são conceitos jurídicos distintos, com os quais o


profissional do direito logo se habitua a lidar: o locatário tem a posse do bem
locado, mas não a propriedade; o proprietário pode estar ou não na posse da
coisa; quem possui não é necessariamente o dono — são assertivas
familiares aos estudantes e profissionais da área (COELHO,2020, p. 159).

Diante disto, Tartuce e Sartori complementam:

São atributos da propriedade:


– o direito de gozar, fruir – jus fruendi
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– o direito de reivindicar – rei vindicatio


– o direito de usar – jus utendi
– o direito de dispor – jus abutendi (TARTUCE; SARTORI, 2014).

Segundo Gonçalves (2019), o Código Civil não conceitua a propriedade, mas


apenas enuncia os poderes inerentes ao proprietário. Desta forma, deve ser analisada
a situação fática concreta que se apresenta, para saber se o caso é de possuidor, ou
de proprietário. Entretanto, independente da situação, tanto um, quanto o outro,
possuem o direito de proteger a sua posse de quem injustamente a detenha, nos
termos do art. 1228 do Código Civil.

2.3 A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE

Ao consagrar no art. 5.º, XXII, a garantia institucional do direito de propriedade,


o texto prevê, no inciso seguinte, que a propriedade atenderá a sua função social.
Dessa forma, tem-se que “a Constituição estabelece cláusulas restritivas expressas
para o direito de propriedade no caso de imóveis urbanos e rurais que não estiverem
cumprindo sua função social.” (NOVELINO, 2013).
Dentro desta ótica, aduz-se que a função social da propriedade é elemento que
integra ao conceito de propriedade, sendo um objeto constitutivo do mesmo, cujo qual
não se confunde com os elementos que limitam o direito de propriedade. Ademais,
“não poderá ser juridicamente considerado proprietário aquele que não der ao bem
uma destinação compatível e harmoniosa com o interesse público.” (FERNANDES,
2011, p. 321).
A vinculação da função social da propriedade ganha maior evidência quando
estabelece a conformação ou limitação do direito. Nessa linha, tem-se que o princípio
constitucional da função social da propriedade, disciplinado nos arts. 5º, XXIII, e 170,
inciso III da Constituição Federal de 1988, passa a ser considerado como um princípio
garantidor, com natureza de norma cogente, vinculante (cumprimento obrigatório),
visto que, caso não seja obedecido o referido preceito, será cabível sanção (MENDES;
BRANCO, 2012).
Segundo o entendimento de Novelino (2013), o direito de propriedade se
restringe pelo princípio da função social da propriedade, previsto no art. 5.º, XXIII, do
qual a Constituição prevê no Título VII, da “ordem econômica e financeira”.
Na legislação civil pátria, a disposição acerca da função social da propriedade
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encontra-se no exposto no art. 1.228, nos §§ 1º e 2º:

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e


o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou
detenha.
§ 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as
suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados,
de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as
belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico,
bem como evitada a poluição do ar e das águas. (grifo nosso).
§ 2o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer
comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar
outrem (BRASIL, 2002, grifo nosso).

Em relação ao tema em comento, Júnior reforça com a seguinte lição:

No caso da propriedade rural, a função social é cumprida quando ela


atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência
estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I) aproveitamento racional e
adequado; II) utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e
preservação do meio ambiente; III) observância das disposições que regulam
as relações de trabalho; e IV) exploração que favoreça o bem-estar dos
proprietários e dos trabalhadores (CF, art. 186).
A função social da propriedade urbana é cumprida quando esta atende às
exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor
(CF, art. 182, § 2.º). Instrumento básico da política de desenvolvimento e de
expansão urbana, o plano diretor é obrigatório para cidades com mais de 20
mil habitantes (CF, art. 182, § 1.º) (JÚNIOR, 2017).

Observa-se, desse modo, que o princípio da função social da propriedade


possui duas faces:

Uma primeira, de direito fundamental, visto que se insere no rol dos direitos
fundamentais, na companhia inseparável do direito de propriedade (art. 5º,
XXII e XXIII); a segunda, de princípio norteador da atividade econômica, pois
esse princípio, além de trazer em si um cunho social, também apresenta
repercussão econômica (RANGEL; SILVA, 2011).

Urge destacar que, apesar da previsão constitucional, é necessário verificar


cada caso concreto, para determinar se a propriedade cumpre ou não a sua função
social. Pois, segundo Novelino (2013), quando há o descumprimento da função social,
certas medidas restritivas do direito de propriedade, serão adotadas, entretanto, as
intervenções devem ser constitucionalmente justificadas.
Desta maneira, entende-se que o direito de propriedade sofre diversas
restrições: “A Constituição Federal permite a restrição da propriedade nas hipóteses
de desapropriação, requisição e expropriação” (FACHIN, 2012, p. 287).
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Em tom supletivo, aborda o autor supramencionado:

A norma constitucional prevê que “a lei estabelecerá o procedimento para


desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social,
mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos
previstos nesta Constituição” (art. 5.º, inciso XXIV) (FACHIN, 2012, p. 287).

Diante disso, caso a função social da propriedade não seja atendida, o Poder
Público tomará medidas com o intuito de garantir a necessidade, utilidade pública e o
interesse social, o que será revertido para a coletividade, principalmente aqueles que
não possuem moradia.
A lei que trata da desapropriação por interesse social, traz o seguinte:

Art. 1º A desapropriação por interesse social será decretada para promover


a justa distribuição da propriedade ou condicionar o seu uso ao bem estar
social, na forma do art. 147 da Constituição Federal (BRASIL, 1962).

Segundo Cynthia Siqueira de Rezende Souza:

Se tratarmos dos direitos fundamentais da propriedade, da mesma forma a


ela estão atribuídos deveres a serem atendidos. A constituição enumera
alguns deveres estabelecidos à propriedade, tendo como adequada a
utilização dos bens, quando feito em proveito da coletividade. O art. 182, § 2º
da Magna Carta dispõe que a propriedade urbana cumpre sua função social
quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade,
expressas no plano diretor, sendo que uma lei específica poderá exigir do
proprietário de terreno não edificado, subutilizado ou não utilizado, incluído
em área abrangida pelo plano diretor, que promova seu adequado
aproveitamento, sob pena de aplicação sucessiva de três sanções previstas
no seu § 4º. No art. 187, dispõe-se que a função social é cumprida quando a
propriedade rural atende simultaneamente, segundo critérios e graus de
exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do
meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - Exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores (SOUZA, 2012).

É evidente que o objetivo da Constituição é assegurar que as propriedades


atendam ao interesse social, assim, a Lei n.º 4.132/62, que trata da desapropriação
por interesse social, traz em seu art. 2º., inciso V, que o imóvel desapropriado, poderá
ser utilizado para a construção de casa populares, o que demonstra a preocupação
do legislador para com as pessoas que não possuem moradia (BRASIL, 1962).
É necessário salientar, quanto aos aspectos sucessórios: “A Constituição de
13

1988 no mesmo sentido das anteriores, assegura o direito à herança (art. 5.º, inciso
XXX). Os bens que pertenciam à pessoa falecida serão transferidos para os herdeiros
e na forma estabelecida em lei” (FACHIN, 2012, p. 291).
Destarte, caso a propriedade pertença a pessoa já falecida, caberá aos seus
herdeiros dar a destinação ao bem de acordo com os preceitos constitucionais, em
que se destaca a função social da propriedade (FACHIN, 2012).
Portanto, para realizar uma efetiva justiça social, que atenda aos princípios
basilares da nossa Constituição Federal, é mister que exista um planejamento urbano
que englobe de forma primordial a função social da cidade e da propriedade, para que
assim, seja possível o desenvolvimento saudável e com a estrutura suficiente para
proporcionar a qualidade de vida de toda a coletividade, principalmente, os mais
carentes.

3 A REINTEGRAÇÃO DE POSSE

Compreende-se, segundo Gonçalves (2019), que existem três espécies de


ações possessórias, quais sejam, a manutenção de posse, a reintegração de posse e
interdito proibitório.
Cabe a análise de cada situação e acerca do grau de ofensa ao direito
possessório do autor da ação, para a escolha da demanda correta. Segundo Coelho
(2012, p. 164): “A manutenção de posse coíbe a turbação; a reintegração de posse, o
esbulho; e o interdito proibitório, a ameaça (CC, art. 1.210; CPC, arts. 926 e 932).”
Segundo os ensinamentos de Gonçalves (2019), para a propositura dos
interditos, exige-se a condição de possuidor, o que não é assegurado ao detentor.
Mesmo que seja proprietário ou titular de outro direito real, se não demonstrar a posse,
terá de valer-se da via petitória e não da possessória, salvo se tratar de sucessor de
que detinha a posse e foi molestado.
Nesse contexto, complementa o autor supramencionado:

Possuidores diretos e indiretos têm ação possessória contra terceiros, e


também um contra o outro (v. n. 10, retro). Havendo posse escalonada ou em
níveis (locador, locatário, sublocatário), em que há um possuidor direto e mais
de um possuidor indireto, é preciso verificar qual das posses foi ofendida na
ação movida entre eles. Entretanto, contra terceiros, há legitimação
concorrente dos possuidores de diferentes níveis, podendo instaurar-se
litisconsórcio não obrigatório (GONÇALVES, 2019, p. 189).
14

Na legislação civil, a disposição que trata dos aspectos materiais das ações
possessórias, encontra-se no art. 1.210, nos §§ 1º e 2º:

Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de


turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver
justo receio de ser molestado.
§ 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por
sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço,
não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
§ 2o Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de
propriedade, ou de outro direito sobre a coisa (BRASIL, 2002).

Em relação aos aspectos processuais relativos as ações possessórias, como


regra geral, têm-se a disposição dos artigos 560, 561 e 567 do novo Código de
Processo Civil:

Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação
e reintegrado em caso de esbulho.

Art. 561. Incumbe ao autor provar:


I - a sua posse;
II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III - a data da turbação ou do esbulho;
IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a
perda da posse, na ação de reintegração.

Art. 567. O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser
molestado na posse poderá requerer ao juiz que o segure da turbação ou
esbulho iminente, mediante mandado proibitório em que se comine ao réu
determinada pena pecuniária caso transgrida o preceito (BRASIL, 2015).

Segundo a Defensoria Pública do Estado de São Paulo (2012), apesar da


existência e aplicabilidade das ações reivindicatórias da propriedade, independente
de regularização da posse, ninguém pode ser retirado de sua casa, sem o direito de
se defender.
Diante disso, tem-se que na remoção/reintegração de posse, são direitos das
pessoas que enfrentam tal situação:

Em qualquer hipótese, quando a remoção/reintegração for necessária, seja


por força de ordem judicial, seja para evitar risco à vida e à saúde das
pessoas, ela não pode ser feita com uso de força física ou violência e
deve ser precedida de notificação por escrito, com prazo razoável para
desocupação.
Além disso, aquele que promove a desocupação deve garantir os meios para
que essa ocorra, isto é, responsabilizar-se pela “mudança” da família
(fornecer caminhão e levar os móveis para o lugar que essa determinar).
É também possível pleitear, junto ao Poder Público, a inclusão em algum
programa habitacional (que pode variar desde uma unidade habitacional
15

quitada até um programa de financiamento público, dependendo da


situação) (DEFENSORIA PÚBLICA DE SÃO PAULO, 2012, p.06, grifos do
autor).

Nas hipóteses em que o risco de invasão é iminente, que se caracteriza pela


ameaça, movimentação suspeita, ou invasão preparada, cabe a Ação de Interdito
Proibitório, com Pedido de Liminar, nos termos do art. 1.210 do Código Civil e arts.
932 e 933 do Código de Processo Civil.
Conforme o entendimento de Coelho (2012, p. 166): “Nas ações possessórias
(manutenção de posse, reintegração de posse ou interdito proibitório), não se discute
o domínio da coisa disputada, mas unicamente a justiça ou tempo da posse titulada
pelos litigantes.”
Portanto, se entre um dos demandantes há a posse justa, ele tem direito de ser
mantido ou reintegrado nela ou obter o interdito proibitório. No caso de configuração
de duas posses injustas, a mais antiga receberá a proteção judicial.
No âmbito da ação de reintegração de posse, compreende-se que tal ato se
trata de uma ação possessória, aplicável em casos de esbulho. Desse modo, observa-
se que o esbulho será identificado quando o possuidor se encontrar privado de sua
posse, de forma injusta. Ademais, a mencionada ação visa coibir a mais rígida das
agressões, haja vista que se caracteriza por um ato de violência, precariedade ou
clandestinidade. Por conseguinte, a ação de reintegração de posse busca, sobretudo
a recuperação do bem. Consoante Gomes, “a pretensão do possuidor esbulhado pode
dirigir-se contra o autor do esbulho ou contra terceiro que recebeu a coisa sabendo
que era esbulhada” (GOMES, 2001, p. 91).
No âmbito legal, vislumbra-se que o autor, em situação de turbação ou esbulho,
deverá comprovar os requisitos presentes no artigo 561 do Código Civil Brasileiro,
para fins de tramitação da ação possessória (BRASIL, 2002).
Segundo Gonçalves (2019), o ato de esbulho poderá ser total ou parcial. Dessa
forma, se alguém esbulhar o imóvel de outrem, ocupando 6.000 m2, de um imóvel cuja
área total é de 12.000 m2, o dono do imóvel deverá propor uma ação de reintegração
parcial da posse, haja vista que deverá exercer sua condição de possuidor apenas de
uma parcela do imóvel.
O doutrinador mencionado (GONÇALVES, 2019) complementa que o esbulho
nem sempre ocorrerá por intermédio de atos de violência, mas também de modo
clandestino, como por exemplo quando alguém, dotado de má-fé, altera os limites de
16

uma propriedade, para que suas terras sejam gradativamente aumentadas. Da


mesma forma, o esbulho também poderá ocorrer pela precariedade, ou seja, quando
se estabelece um contrato de locação de um veículo e, ao fim do contrato, o locatário
se recusa a devolver o referido veículo.

3.1 A AÇÃO DE USUCAPIÃO

De acordo com Gonçalves (2019), a usucapião, também denominada de


prescrição aquisitiva, é disciplinada no Código Civil, nos arts. 205 e 206. O tempo é
caractere elementar em ambas e influi na aquisição e na extinção de direitos. Na
primeira, tratada no direito das coisas, é uma forma originária de aquisição da
propriedade e de outros direitos reais suscetíveis de exercício continuado, como a
servidão e o usufruto. A usucapião se caracteriza pela posse prolongada no tempo,
acompanhada de outros requisitos legais.
Em relação à prescrição aquisitiva, tratada na Parte Geral do Código: “é a perda
da pretensão e, por conseguinte, da ação atribuída a um direito, e de toda a sua
capacidade defensiva, em consequência do não uso dela durante determinado espaço
de tempo” (GONÇALVES, 2019, p. 134).
Segundo a Defensoria Pública do Estado de São Paulo (2012, p. 07):
“Usucapião é uma forma de regularizar a situação de quem tem posse de uma área
particular, na cidade ou no campo, e não tem o título de propriedade deste terreno.”
Ademais, observa-se os requisitos necessários à caracterização da usucapião:

• Possuir o imóvel com a intenção de ser dono, ou seja, ocupar com a certeza
de que aquele imóvel lhe pertence. Por isso, não é possível usucapir imóvel
emprestado, por exemplo.
• Possuir o imóvel de forma contínua, sem interrupção. Isto é, é necessário
ocupar o imóvel todo o período, não sendo possível abandoná-lo e depois de
algum tempo voltar a morar nele. Caso isso aconteça, o tempo exigido pela
lei começará a ser contado da data do retorno ao imóvel.
• Que não tenha havido nenhum questionamento sobre a sua posse do imóvel
(carta do fórum, notificação do proprietário).
• Tempo de posse: o tempo de posse exigido depende para cada tipo de
usucapião (DEFENSORIA PÚBLICA DE SÃO PAULO, 2012, p. 07).

Em relação à propriedade imóvel, também se observa as seguintes


modalidades de usucapião:

a) usucapião ordinária (art. 1.242 do CC); b) usucapião extraordinária (art.


17

1.238 do CC); c) usucapião especial rural (art. 1.239 do CC, já prevista


anteriormente na Constituição Federal); e d) usucapião especial urbana (art.
1.240 do CC, do mesmo modo constante do Texto Maior), o que inclui a
usucapião especial urbana por abandono do lar, introduzida pela recente Lei
12.424/2011. Além dessas formas de usucapião, serão analisadas a
usucapião indígena (Lei 6.001/1973 – Estatuto do Índio), usucapião coletiva
(Lei 10.257/2001 – Estatuto da Cidade) e a usucapião administrativa (Lei
11.977/2009) (DEFENSORIA PÚBLICA DE SÃO PAULO, 2012, p. 07).

Frisa-se as lições do professor Fábio Ulhoa Coelho:

Em todas as espécies de usucapião, há três elementos comuns à posse:


continuidade, inexistência de oposição e a intenção de dono do possuidor.
São os elementos que, aliados aos requisitos próprios de cada espécie
(subitem 3.1.2), caracterizam a posse que dá ensejo à aquisição do imóvel
por usucapião; a chamada posse ad usucapionem (COELHO, 2012, p. 169).

Diante disto, são esses elementos que justificam as finalidades da usucapião.


Segundo o autor, a finalidade do instituto, é confirmar uma situação fática existente
há tempo. Caso a posse não seja contínua, e em algum tempo deixou de ser exercida,
ou se existe quem se oponha, então a justa consolidação da usucapião, carecerá.
Segundo Fachin, o direito da usucapião urbano é uma garantia constitucional:

Neste sentido, aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e
cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural (art.
183) (FACHIN, 2012, p. 292).

De acordo com o autor supramencionado, existe também a usucapião rural e


esta poderá ser adquirida, nos termos da norma constitucional, da seguinte maneira:

Aquele que não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como
seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, localizada em
zona rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu
trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a
propriedade (art. 191) (FACHIN, 2012, p. 293).

Portanto, Fachin (2012) considera que, diante do ordenamento jurídico, o


instituto da usucapião se faz necessário, haja vista que aqueles que não possuem
nenhum imóvel e fazem jus a tal direito (em decorrência do cumprimento dos
requisitos presentes na lei), poderão obter uma posse regularizada, com a declaração
judicial de propriedade do bem, atendendo, mais uma vez, ao princípio da função
social da propriedade.
18

4 O DIREITO CONSTITUCIONAL À MORADIA E A REINTEGRAÇÃO DE POSSE

Conforme visto, tem-se que o direito constitucional à moradia encontra-se


previsto no artigo 6º da Magna Carta de 1988, traduzindo-se como um direito
fundamental a todos os cidadãos.
Nesse prumo, observa-se que é necessário que o Estado venha a garantir e
proporcionar uma moradia digna a todos que necessitarem, em consonância com o
princípio da dignidade humana, também presente na Magna Carta de 1988 (artigo 1º,
inciso III). Acerca de tal questão, preceitua Lenza:

[…] partindo da ideia de dignidade da pessoa humana (art. 1º, III) direito à
intimidade e à privacidade (art. 5º, X) e de ser a casa asilo inviolável (art. 5º,
XI), não há dúvida de que o direito à moradia busca consagrar o direito à
habitação digna e adequada, tanto é assim que o art. 23, X, estabelece ser
atribuição de todos os entes federativos combater as causas da pobreza e os
fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores
desfavorecidos (LENZA, 2018, p. 201).

Em tom supletivo, Bonavides (2009) complementa que o direito à moradia se


constitui como direito de segunda geração, subsidiado não apenas pelo princípio da
dignidade humana, mas também pelo princípio da igualdade:

São os direitos sociais, culturais e econômicos bem como os direitos


coletivos ou de coletividade, introduzidos no constitucionalismo das distintas
formas de Estado Social, depois que germinaram por obra da ideologia e da
reflexão antiliberal do século XX. Nasceram abraçados ao princípio da
igualdade, do qual não se podem separar, pois fazê-lo equivaleria
a desmembrá-los da razão de ser que os ampara e estimula (BONAVIDES,
2009, p. 564).

Vislumbra-se, ademais, que apesar de ser da competência da União, estados,


Distrito Federal e dos municípios, a promoção de políticas públicas em prol de
moradias e melhorias na condição de vida dos cidadãos, o combate à pobreza e as
demais mazelas sociais ainda se constitui como um grande desafio. Dessa forma,
preceitua Sarlet (2014) que, embora tais questões mostrem-se complexas, tem-se que
as mesmas devem ser abordadas, tanto no plano social quanto jurídico:

Em que medida o direito à moradia se traduz em direito subjetivo à


construção, pelo Poder Público, de uma moradia digna (ainda que não na
condição de propriedade), ou, em caráter alternativo, em direito (exigível) de
fornecimento de recursos para tanto ou para, por exemplo, obras que
assegurem à moradia sua condição de habitalidade, sem prejuízo de todo um
leque de aspectos a serem explorados na seara do direito à moradia na
19

perspectiva de sua função de direito a prestações, é seguramente algo longe


de estar bem sedimentado na doutrina e na jurisprudência (SARLET, 2014,
p. 606).

É cediço que muitos cidadãos não possuem condições financeiras para


adquirirem um imóvel e, dessa forma, valem-se de atos de ocupação de terras e
propriedades privadas. No aspecto tratado, observa-se de um lado os atos de
ocupação por parte daqueles que possuem o direito a uma moradia digna e, do outro
lado, aqueles que são os proprietários de tais terras invadidas, que possuem direito
de serem reintegrados à posse (SARLET, 2014).
Dessa forma, tem-se como um ponto comum que pessoas desprovidas de
moradias adequadas, promovam atos de violência (esbulho possessório), com o
intuito de estabelecerem moradia no referido imóvel. Tal ato recorrente, conduz ao
entendimento de que as invasões se encontram ligadas a uma falha governamental,
ou seja, em um despreparo do Estado para oferecer moradia digna aos cidadãos:

Aqueles que não possuem uma habitação adequada buscam-na por meio de
invasões a propriedades alheias com objetivo de pressionar os poderes
públicos para que os terrenos invadidos sejam repassados para a construção
de moradias para pessoas de baixa renda e atentá-los para a difícil situação
em que vivem, ante a insuficiência de políticas públicas e as obrigações
atribuídas ao Estado brasileiro para consolidar a proteção ao direito à
moradia, como o dever de assegurar a dignidade da pessoa humana - por ser
um Estado Democrático de Direito - e de executar as obrigações que lhe são
devidas pelos tratados internacionais dos quais faz parte (NEVES, 2016, p.
14).

Desse modo, conforme Oliveira (2020), observa-se que a violência contra a


posse ou propriedade de alguém, encontra-se ligada a algum direito
constitucionalmente garantido que não é concedido pelo ente público. Trata-se,
sobretudo, de uma grave falha ainda presente no Estado Democrático de Direito, ou
seja, ausência de cumprimento dos direitos sociais e garantias previstas no texto
constitucional.
Segundo Oliveira (2020) é inegável que no Brasil houve uma grande evolução
em relação ao direito de moradia digna, haja vista que o país possui programas de
habitação social. Contudo, tal tipo de política pública não se mostra suficiente, haja
vista o quadro social vivenciado:

Não se pode negar que houve verdadeira evolução quanto ao fomento de


moradia digna aos cidadãos brasileiros, tendo em vista que o Brasil tem sim
um programa de habitação social. Ocorre que, este tipo de política pública
20

não vem dando vasão a demanda gigantesca por moradia, prova disso são
os exemplos aqui relatados, nos quais milhares de famílias viram-se
obrigadas a invadir propriedades alheias na tentativa de ter onde morar, sem
mencionar o número de pessoas que vivem em condição de rua.
Portanto, conclui-se que, de fato, a não efetividade do direito social e
constitucional à moradia leva, por muitas vezes, a prática de atos violentos
contra os legítimos possuidores, desembocando na imensa demanda judicial
de ações de reintegração de posse (OLIVEIRA, 2020).

No mesmo sentido, Bercovici (2003) preleciona que o direito à propriedade (que


enseja na proposição de ações de reintegração de posse) só é garantido até que se
cumpra com a essência do princípio da dignidade humana. A partir disso, a
propriedade deverá cumprir com a sua função social, sendo abarcada e considerada
pela lei constitucional até tal limite:

O texto constitucional só garante a propriedade como direito fundamental no


limite de direito garantidor da dignidade da pessoa humana. Nas demais
situações, a propriedade deve cumprir sua função social, considerando-se o
direito de propriedade como um direito que deve ser garantido apenas
enquanto cumprir sua função social, nos termos da constituição da república
(BERCOVICI, 2003, p. 76).

No âmbito jurisprudencial também se vislumbra um conflito existente entre a


predominância do direito à moradia ou da proposição de ação de reintegração de
posse, para aqueles que tiveram o direito de posse violado. Nesse contexto, tem-se
uma decisão proferida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, onde teve-se a
suspensão de uma ação de reintegração de posse de um terreno, haja vista que tal
decisão violaria o direito à moradia de mais de cem pessoas e, dentre elas, o direito
de várias crianças de terem um teto para viverem.
Destarte, a desembargadora da 20ª Câmara de Direito Privado do TJSP
ponderou acerca do conflito existente entre o direito à moradia e o direito à
propriedade, mantendo-se os ocupantes no referido terreno. Ressaltou também que
toda e qualquer ação precipitada poderia acarretar em atos violentos:

Na decisão que suspendeu a reintegração de posse, a desembargadora


Maria Lúcia Pizzotti, da 20ª Câmara de Direito Privado do TJ-SP, reconheceu
o conflito de princípios constitucionais entre a propriedade privada e os
direitos fundamentais ameaçados pelo cumprimento da ordem judicial. ‘Não
se pode falar em desalojamento prematuro ou surpresa da decisão judicial,
considerando que a matéria está em discussão há mais de sete anos; no
entanto, a medida pode se tornar excessivamente gravosa e, até mesmo,
violenta — considerando o número de ocupantes e, principalmente, de
crianças no local’ (CONJUR, 2012).
21

Da mesma forma, reforçando o direito à moradia, tem-se que a Defensoria


Pública redigiu um recurso destinado ao TJSP, apontando que as famílias se
encontram em uma área de interesse social, reconhecida pelo Poder Público e,
passível para construção de moradias populares:

Em recurso dirigido ao TJ-SP, além de apontar para a possibilidade de breve


remoção e atendimento habitacional às famílias, a Defensoria argumentou
também que a comunidade está inserida em uma área de Zeis (Zona Especial
de Interesse Social), reconhecida pelo Poder Público, por lei, como prioritária
para realização de regularização fundiária e urbanística, e construção de
moradia popular.
Loureiro também argumenta que a moradia é um direito constitucional
fundamental, uma das vertentes da dignidade humana, pressuposto de
subsistência do indivíduo. Caso fosse efetivada a reintegração, as famílias
seriam desamparadas e teriam seus direitos sociais — como saúde,
educação, trabalho, segurança, e outros —colocados em risco (CONJUR,
2012).

Sob um posicionamento semelhante ao adotado pelo TJSP, tem-se que a 19ª


Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul também julgou um agravo
de instrumento, interposto por agricultores que visavam a suspensão de uma medida
liminar que os obrigava a desocupar um imóvel produtivo que os mesmos se
instalaram. Nesse contexto, observa-se que o relator deferiu a liminar em prol dos
agricultores, contudo, utilizou-se de uma ponderação de direitos e garantias
fundamentais. Trata-se, sobretudo, do direito à moradia de cerca de 600 famílias.
Compreende-se, na temática realçada, que, diante da prevalência do direito à
moradia ou do direito à propriedade, deverá o julgador realizar uma ponderação de
valores, direitos e princípios, para que se tenha uma decisão equânime. Da mesma
forma, faz-se precípuo considerar a denominada “função defensiva dos direitos
fundamentais”, olhando-se para a parte mais vulnerável da situação jurídica
vivenciada:

No âmbito da assim denominada dimensão negativa ou daquilo que também


tem sido chamado de uma função defensiva dos direitos fundamentais,
verifica-se que a moradia, como bem jurídico fundamental, encontra-se, em
princípio, protegida contra toda e qualquer sorte de ingerências indevidas. O
Estado, assim como os particulares, tem o dever jurídico de respeitar e de
não afetar a moradia das pessoas, de tal sorte que toda e qualquer moradia
que corresponda a uma violação do direito à moradia passível, em princípio,
de ser impugnada em juízo, seja na esfera do controle difuso e incidental,
seja no meio do controle abstrato e concentrado de constitucionalidade, ou
mesmo por intermédio de instrumentos processuais específicos
disponibilizados pela ordem jurídica. É também precisamente esta dimensão-
a função defensiva do direito à moradia – a que se referem as diretrizes
22

internacionais acima mencionadas, quando utilizam os termos “respeitar” e


“proteger”, embora a proteção também envolva ações concretas (normativas
e fáticas) de tutela da moradia contra ingerências oriundas do Estado ou de
particulares, tudo a reforçar íntima conexão entre a dimensão negativa e
positiva dos direitos fundamentais (SARLET, 2014, p.59).

Da mesma maneira, aduz Lenza (2018) que, para fins de solucionar tal impasse
em casos de ocupação, faz-se necessário, além da ponderação de direitos, que o
julgador analise a finalidade do imóvel, ou seja, de que forma ele será mais bem
utilizado. Trata-se, nesse prumo, de um conflito de direitos em âmbito constitucional.
Ademais, acrescenta o referido autor (LENZA, 2018) que uma propriedade,
quando cumpre com toda a função social, assegura a existência da justiça social, em
consonância com os valores e preceitos jurídicos. Nesse sentido, observa-se que uma
propriedade sem cumprir com tais elementos devem ser destinada à ocupação
daqueles que dela necessitam. Em outras palavras, garante-se a destinação de uma
propriedade improdutiva para aqueles que irão fazer um bom uso da mesma.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo como subsídio toda a pesquisa científica realizada, é possível considerar


que o direito à moradia se constitui como uma garantia fundamental a todos os
cidadãos. Por conseguinte, observa-se que, para fins de concretização do
mencionado direito, faz-se necessário que o Estado implemente políticas públicas ou
projetos, em prol de uma moradia digna para todos que necessitarem, em
consonância com o princípio da dignidade humana e também com o princípio da
igualdade.
Contudo, do mesmo modo que a Magna Carta de 1988 preceitua acerca do
direito de moradia, também se trata do direito à propriedade e, concomitantemente,
vislumbra-se que as leis vigentes apresentam mecanismos jurídicos em prol da defesa
do direito de propriedade. Dentre tais mecanismos, tratou-se sobre a ação de
reintegração de posse.
Sendo assim, observa-se que todo aquele que tiver o direito de propriedade
violado, poderá intentar uma ação em prol da preservação da propriedade. Com
relação à reintegração de posse, observa-se que a mesma é destinada aos casos
onde houver atos de violência (esbulho possessório).
Logo, observa-se que as invasões de terras alheias, as ocupações clandestinas
23

ocorrem, sobretudo, pelo fato de o ente estatal não garantir condições de vida digna
aos cidadãos. Destarte, vislumbra-se que milhares de famílias se encontram
desamparadas e sem qualquer perspectiva de melhoria de vida. Trata-se, sobretudo,
de uma grave falha ainda presente no Estado Democrático de Direito, ou seja,
ausência de cumprimento dos direitos sociais e garantias previstas no texto
constitucional.
Ao adentrar na esfera jurídica, observa-se a existência de milhares de ações
possessórias e, dentre tais ações, compreende -se que o magistrado, ao julgar tais
questões, deverá se valer de uma ponderação de direitos e princípios fundamentais.
Em outras palavras, analisa-se a prevalência do direito à moradia ou de ações em
defesa da posse e propriedade. Aduz-se, no mesmo sentido, que o julgador deverá
analisar cada caso de maneira individual, levando-se em consideração todos os
elementos precípuos.
Dentre tais elementos, tratou-se acerca da função social da propriedade. Dessa
forma, coaduna-se com o pensamento da doutrina majoritária. De outra forma, pode-
se dizer que, em casos onde a propriedade se mostrar improdutiva, sem cumprir com
a sua função social, compreende-se que essa deverá destinar-se à moradia daqueles
que necessitam, em consonância com os direitos sociais previstos na Magna Carta
de 1988.

REFERÊNCIAS

BERCOVICI, Gilberto. O direito de propriedade na Constituição de 1988: algumas


considerações críticas. Cadernos de Direito (UNIMEP), Piracicaba, SP, v. 3, n. 5, p.
67-77, 2003.

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 24. ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2009.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil:


promulgada em 5 de outubro de 1988. Brasília: Senado Federal, 2014. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 30
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BRASIL. Lei nº. 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em: http://
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 22 ago. 2021.

BRASIL. Lei nº. 4.132 de 10 de setembro de 1962. Desapropriação por interesse


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24

Acesso em: 15 ago. 2021.

BRASIL. Lei nº 13.105 de 16 de março de 2015.


Código de Processo Civil. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm > Acesso em:
15 ago. 2021.

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil – Direito das Coisas. 4. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012.

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