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MENDES, G. F.; BRANCO, P. G. CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL. 9ª ED.

SÃO PAULO: SARAIVA, 2014.


DIREITOS FUNDAMENTAIS
No tocante aos direitos e garantias individuais, mudanças que minimizem a sua
proteção, ainda que topicamente, não são admissíveis. p. 128.
Como as cláusulas pétreas servem para preservar os princípios fundamentais que
animaram o trabalho do constituinte originário e como este, expressamente, em título
específico da Constituição, declinou tais princípios fundamentais, situando os direitos
sociais como centrais para a sua ideia de Estado democrático, os direitos sociais não
podem deixar de serem consideradas cláusulas pétreas. p. 129.
Lembre-se que elas se fundamentam na superioridade do poder constituinte originário
sobre o de reforma. Por isso, aquele pode limitar o conteúdo das deliberações deste.
Não faz sentido, porém, que o poder constituinte de reforma limite-se a sai próprio. p.
130.
Correm paralelos no tempo o reconhecimento da Constituição como norma suprema
do ordenamento jurídico e a percepção de que os valores mais caros da existência
humana merecem estar resguardados em documento jurídica com força vinculativa
máxima, indene às maiorias ocasionais formadas na efervescência de momentos
adversos ao respeito devido ao homem. p. 135.
Esse objetivo há de erigir-se como o pilar ético-jurídico-político da própria
compreensão da Constituição. O domínio das considerações técnicas que os direitos
fundamentais suscitam, por isso, é indispensável para a interpretação constitucional.
p. 135.
O cristianismo marca impulso relevante para o acolhimento da ideia de uma dignidade
única do homem, a ensejar uma proteção especial. O ensinamento de que o homem é
criado à imagem e semelhança de Deus e a ideia de que Deus assumiu a condição
humana para redimi-la imprimem à natureza humana alto valor intrínseco, que deve
nortear a elaboração do próprio direito positivo. p. 136.
A sedimentação dos direitos fundamentais como normas obrigatórias é resultado de
maturação histórica, o que também permite compreender que os direitos fundamentais
não sejam sempre os mesmos em todas as épocas, não correspondendo, além disso,
invariavelmente, na sua formulação, a imperativos de coerência lógica. p. 136.
A Constituição brasileira de 1988 atribuiu significado ímpar aos direitos fundamentais.
Já a colocação do catálogo dos direitos fundamentais no início do texto constitucional
denota a intenção do constituinte de emprestar-lhes significado especial. A amplitude
conferida ao texto, que se desdobra em setenta e oito incisos e quatro parágrafos (art.
5º), reforça a impressão sobre a posição de destaque que o constituinte quis outorgar
a esses direitos. A ideia de que os direitos fundamentais devem ter eficácia imediata
(art. 5º, parágrafo 1º) ressalta a vinculação direta dos órgãos estatais a esses direitos
e o seu dever de guardar-lhes estrita observância. p. 631.
Notem-se, nesse sentido, as contribuições de Stephen Holmes e Cass Sunstein para o
reconhecimento de que todas as dimensões dos direitos fundamentais têm custos
públicos, dando significativo relevo ao tema da “reserva do possível”, especialmente
ao evidenciar a “escassez dos recursos” e a necessidade de se fazerem escolhas
alocativas. Concluem que, a partir da perspectiva das finanças públicas, “levar a sério
os direitos significa levar a sério a escassez”. p. 628.
A dependência de recursos econômicos para a efetivação dos direitos de caráter
social leva parte da doutrina a defender que as normas que consagram tais direitos
assumem a feição de normas programáticas, dependentes, portanto, da formulação de
políticas públicas para se tornarem exigíveis. p. 628.
Em relação aos direitos sociais, é preciso levar em consideração que a prestação
devida pelo Estado varia de acordo com a necessidade específica de cada cidadã.
Enquanto o Estado tem que dispor de um valor determinado para arcar com o aparato
capaz de garantir a liberdade dos cidadãos universalmente, no caso de um direito
social como a saúde, por outro lado, deve dispor de valores variáveis em função das
necessidades individuais de cada cidadão. Gastar mais recursos com uns do que com
outros envolve, portanto, a adoção de critérios distributivos para esses recursos. p.
628.
Por outro lado, defensores da atuação do Poder Judiciário na concretização dos
direitos sociais, em especial do direito à saúde ou a à educação, argumentam que tais
direitos são indispensáveis para a realização da dignidade da pessoa humana. Assim,
ao menos o “mínimo existencial” de cada um dos direitos, exigência lógica do princípio
da dignidade da pessoa humana, não poderia deixar de ser objeto de apreciação
judicial. p. 629.

DIREITO ÀS PRESTAÇÕES POSITIVAS


A moderna dogmática dos direitos fundamentais discute a possibilidade de o Estado
vir a ser obrigado a criar os pressupostos fáticos necessários ao exercício efetivo dos
direitos constitucionalmente assegurados e sobre a possibilidade de eventual titular do
direito dispor de pretensão a prestações por parte do Estado. p. 635
Os direitos a prestações encontraram uma receptividade sem precedentes no
constitucionalismo pátrio, resultando, inclusive, na abertura de um capítulo
especialmente dedicado aos direitos sociais no catálogo dos direitos e garantias
fundamentais. Além disso, verifica-se que mesmo em outras partes do texto
constitucional encontra-se uma variada gama de direitos a prestações. p. 636

AMARAL, G. DIREITO, ESCASSEZ E ESCOLHA. RIO DE JANEIRO: RENOVAR,


2001.
Nessa linha de análise, argumenta-se que o Poder Judiciário, o qual estaria
vocacionado a concretizar a justiça do caso concreto (microjustiça), muitas vezes não
teria condições de, ao examinar determinada pretensão a pretensão de um direito
social, analisar as consequências globais da destinação de recursos públicos em
benefício da parte com invariável prejuízo para o todo. p. 38.

BUNN, M. L.; ZANON JUNIOR, O. L. APONTAMENTOS PRELIMINARES SOBRE O


USO PREDATÓRIO DA JURISDIÇÃO. REVISTA DIREITO E LIBERDADE, NATAL,
V. 18, n. 1, p. 247-268, jan./abr. 2016. Quadrimestral.
É preciso efetuar uma distinção inicial entre, de um lado, o excesso de litigiosidade,
que consubstancia categoria referente a uma anormalidade precipuamente
quantitativa, porquanto refere um exagerado acionamento das vias jurisdicionais, e, de
outro, o uso predatório da jurisdição, o qual diz respeito a um abuso no direito de
acesso ao sistema judicial, em razão de determinadas peculiaridades específicas (a
ser justamento investigadas quanto ao contexto brasileiro). p. 252

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